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Denise Mora

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DENISE MORA

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Denise cresceu e viveu grande parte da vida em Caieiras, SP. Muito apaixonada por bichos, decidiu em 2003 fazer faculdade de biologia. Durante esse tempo continuou a trabalhar como atendente em uma loja de vídeo locadora. A rotina era exaustiva. Ela pegava três horas de condução para ir trabalhar e mais três horas para voltar e ainda dedicava tempo aos estudos. Após quatro longos anos, Denise se formou em 2007 aos 27 anos. Entretanto, por morar em São Paulo as oportunidades na área de biologia eram poucas e ela continuou trabalhando em comercio. Em 2010 Denise decidiu que estava mais do que na hora de fazer um estágio na área dela e foi no período de férias em abril que conseguiu um estágio de um mês na base do projeto Tamar em Ubatuba. Apesar de poucos dias foi ali que ela descobriu o amor pelas tartarugas. “Minha mãe e irmã foram me visitar durante esses dias e me falaram que nunca me viram tão feliz na vida”. A história de Denise é um pouco diferente das demais, além de ser de São Paulo, a bióloga não tinha contato direto com as tartarugas. Em certo dia alguns pescadores pegaram algumas tartarugas por incidente e constataram a equipe do projeto. Assim que Denise avistou as tartarugas o coração dela se derramou em lagrimas. “O meu supervisor estava perto e eu não queria chorar. Ele me viu e disse que é assim que se descobria um verdadeiro apaixonado por tartarugas, quando a pessoa se emociona ao vê-las”. Após o termino do estágio voltou para a rotina corrida da cidade grande e para o emprego. Ficou cerca de dois anos

tentando e enviando currículos para as bases do Tamar espalhadas por todo o Brasil. Denise fez amigos durante o período de estagio que manteve contato mesmo após o termino. Uma dessas amigas foi selecionada para a base de Praia do Forte e começou a indicar Denise para as vagas que estavam disponíveis. Em janeiro de 2012 chegaram a entrar em contato com ela para uma vaga de atendente, porém não era o que Denise queria e ela recusou. Em agosto do mesmo ano surgiu uma vaga de trainee de campo e Denise não precisou pensar duas vezes, aceitou na hora. “Eu nem parei para pensar, afinal sempre morei com a minha mãe e era a filha mais velha. Eu larguei tudo e fui”. A vaga que havia surgido era para a temporada de 2012/2013 e assim Denise fez tudo o que sempre quis. Acompanhou desovas, viu filhotes, marcou ninhos, tartarugou pelas noites. Como nem tudo são flores as primeiras dificuldades surgiram. No momento de contratação perguntaram a Denise se ela tinha experiência em dirigir e ela respondeu que sim, porém não era verdade. Os funcionários do Tamar precisam dirigir por horas, por estradas irregulares, pela areia e Denise foi se desesperando por medo de acabar prejudicando os colegas. Quando estava a ponto de desistir, a chefe dela na época pediu mais um tempo para que alguém a ensinasse a dirigir por esses lugares. Após alguns sufocos, aulas com os colegas e embreagens afundadas, Denise finalmente aprendeu a dirigir. Depois do fim da temporada Denise não sabia o que seria da vida dela, afinal não havia sido contratada, pois não

havia nenhuma vaga de biólogo em aberto. Ela retornou a São Paulo e depois de um mês entraram em contato para que ela ajudasse em uma pesquisa de coleta de tecidos, já que em Praia do Forte há um banco nacional de pesquisas. Denise ficou cerca de dois meses apenas trabalhando nessa área. Denise retornou novamente a São Paulo e depois de algum tempo a chamaram para a temporada de 2013/2014. Chegando no fim dessa temporada, a chefe de Denise estava gravida e precisaria se afastar. Assim surgiu uma vaga de bióloga de campo fixa e ela aproveitou a chance, sendo assim contratada. Em 2015 novos desafios surgiram. Arthur estava a caminho. Em 2016 o bebe chegou e mudou completamente a vida de Denise, teve que se descobrir mãe. Logo ela precisou retornar ao trabalho, teve que conciliar a maternidade, o trabalho exaustivo de tartarugar e lidar com a ansiedade e medos do primeiro filho. Um ano depois, sua antiga chefe estava esperando o segundo filho e desistiu do cargo, o que proporcionou a chance de Denise de se tornar executora da base de praia do Forte. “Eu fui a pessoa certa na hora certa, passam muitas pessoas por aqui e acabam não tendo tantas oportunidades e eu consegui”. A função exige que Denise planeje e coordene, treine e participe, junto com a equipe de campo, das atividades de proteção, manejo e pesquisa das tartarugas marinhas, planejar e promover ações educação e sensibilização ambiental, elaboração e acompanhamento de orçamento, relatórios, escalas, planilhas. “É satisfatório falar que sou a executora da principal base, do principal projeto de

conservação marinha do Brasil”. O pai de Arthur é músico e quando perguntam ao filhinho o que os pais fazem, o pequeno responde “papai é cantor, mamãe salva tartarugas”. Denise se emociona ao repetir as falas do filho. Denise ainda ressalta que as tartarugas mudaram totalmente a vida dela. “Elas já fizeram muito mais pra mim... Me fizeram uma mulher mais forte, menos medrosa...que superou e supera muita coisa inspirada na força e na determinação delas... Hoje tenho meu sustento, do meu filho, tenho minha casa, pago minha contas...tudo através das tartarugas, fruto do meu trabalho tão lindo e que me orgulho muito em fazer”

Fotos: Arquivo pessoal

Denise e o filho Arthur na soltura de uma espécie de tartaruga

A bióloga Denise em uma avaliação