Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - 2ª Edição

Page 1

Fundação Mamíferos Aquáticos | Patrocínio: Petrobras

EDIÇÃO 2

Mortes de peixes-bois marinhos são investigadas no litoral paraibano

Barra de Mamanguape tem Oficina de Desenvolvimento Comunitário

FOTO EDSON ACIOLI

PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO LANÇA CAMPANHA PARA CONSERVAÇÃO DA ESPÉCIE Pesquisa mapeia área de alimentação da espécie na Paraíba


Há 17 anos investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi marinho.

FOTO LUCIANO CANDISANI


EDIÇÃO 2


6

ESPECIAL Morte de peixes-bois marinhos na Paraíba

8

CAPA Campanha Ajude a Preservar o Peixe-Boi Marinho

12 FOTO REFLEXÃO

16 DIÁRIO DE BORDO Jaqueline Said Said

18 PESQUISA Levantamento preliminar das espécies vegetais com potencial para alimentação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) na APA da Barra do Rio Mamanguape

22 FMA

Fundação Mamíferos Aquáticos fecha parceria com ITP

13 COLUNA CIENTÍFICA

24 GPS

Interconectividade entre ambientes – Um olhar a partir das aves.

14 SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

26 ILUSTRAÇÃO

Oficina de Desenvolvimento Comunitário

REVISTA A BORDO

Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges e Maria Elisa Pitanga TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

Jornalismo Raquel Passos Coluna Científica Bruno Almeida Diário de Bordo Jaqueline Said Said Resumo Científico Maria Elisa Pitanga GPS Jaqueline Said Said e Maria Elisa Pitanga

4

www.vivaopeixeboimarinho.org

EQUIPE PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO

João Carlos Gomes Borges (Coordenador executivo do Projeto/ Diretor-presidente da FMA) Maria Elisa Pitanga (Coordenadora técnica do Projeto) Jociery Vergara-Parente (Coordenadora científica e Diretora vice-presidente da FMA) Daniela Araújo (Técnica de Inclusão Social) Maíra Braga (Assessora técnica de Inclusão Social) Gisela Sertório (Educadora ambiental) Jaqueline Said Said (Oceanógrafa) Larissa Molinari Jung (Médica veterinária do Projeto) Karlilian Magalhães (Jornalista) Giovanna Monteiro (Estagiária - Design Gráfico) Patrícia Menezes (Gerente Administrativa e Financeira) Genilson Geraldo (Agente de campo) Sebastião Silva (Colaborador - Ecólogo Universitário)


FOTO LUCIANO CANDISANI

EDITORIAL Após o lançamento da primeira edição da Revista A Bordo, fruto das atividades do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, recebemos elogios por esta iniciativa, bem como o pedido de exemplares impressos, novas matérias e mais informações sobre as atividades desenvolvidas pelo Projeto. Reconhecendo que esta publicação é uma importante ferramenta de conexão entre o Projeto, os diversos colaboradores da Fundação Mamíferos Aquáticos, parceiros Institucionais e a sociedade, estamos lançando a segunda edição. No conteúdo desta edição, apresentamos estudos relacionados com as causas de mortalidade dos peixesbois marinhos; o desenvolvimento das campanhas de conservação da espécie realizada no litoral da Paraíba; resultados das pesquisas desenvolvidas; apresentação das ações socioambientais; “diário de bordo” com pesquisadores da equipe técnica; indicações de livros e eventos científicos. Esperamos que vocês possam gostar ainda mais desta edição e desejamos desde já tê-los compartilhando as informações com outros possíveis interessados em contribuir com a conservação ambiental. Boa leitura! João Carlos Borges Gomes, Diretor-presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos.

www.mamiferosaquaticos.org.br

5


ESPECIAL

Projeto investiga mortes de peixes-bois marinhos na Paraíba Somente este ano, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental - registrou duas mortes de animais da espécie Trichechus manatus manatus na Paraíba. O primeiro caso aconteceu em fevereiro e se tratava de uma fêmea, de 2,81 metros de comprimento, encontrada na zona de arrebentação da Baía da Traição. O segundo caso foi registrado no mês de julho e se tratava de uma fêmea, de 3,20 metros, encontrada às margens do Rio Miriri. Ambas as regiões estão localizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape,

6

www.vivaopeixeboimarinho.org

litoral norte do Estado. A equipe do Projeto, em conjunto com os analistas ambientais da APA, realizaram o resgate dos animais e, posteriormente, a necropsia, para avaliar as possíveis causas de mortalidade. Como suporte requerido nestas pesquisas, as amostras biológicas coletadas foram submetidas a análises laboratoriais na Universidade Federal Rural de Pernambuco. O resultado dos exames do primeiro caso aponta morte por um quadro de imunodepressão e intensa anemia. O segundo caso ainda está sendo analisado.

FOTO APA/ICMBIO


FOTO ELISA PITANGA

Larissa Molinari Jung, médica veterinária do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, destaca a importância do diagnóstico: “O quadro de depressão imunológica pode acontecer com qualquer indivíduo da espécie, numa situação de doença ou dependendo da idade que possui. O que podemos destacar é que essa informação é muito importante para compreender a morte do animal, eliminando a possibilidade desse óbito ter sido ocasionado por ação humana”. De acordo com informações repassadas pela APA da Barra do Rio Mamanguape, os animais eram nativos da região e foram avistados mortos por pescadores e moradores locais. Neste contexto, a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho ressalta que os pescadores e as pessoas da comunidade têm um papel fundamental na luta pela conservação da espécie, atuando como colaboradores e agentes fiscalizadores. É importante ter em mente que em casos de encalhe de peixe-boi marinho e de qualquer mamífero aquático vivo ou morto, o primeiro procedimento é comunicar ao órgão ambiental atuante na região ou entrar em contato com a própria equipe do Projeto, pelos telefones: (83) 9961-1338/ (83) 9961-1352/ (81) 3304-1443.

Para a equipe do Projeto, as ocorrências em questão merecem atenção especial por se tratarem de peixes-bois marinhos, espécie que ocupa, atualmente, o status de criticamente ameaçada de extinção no Brasil. “Esses dois óbitos nos pedem esforços complementares para saber o quantitativo de animais desta espécie existente no litoral paraibano. É preciso compreender de maneira mais efetiva a estimativa populacional na Paraíba para saber a representatividade dessas mortes, o quanto isso está impactando”, diz João Carlos Gomes Borges, diretor-presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos e coordenador executivo do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Recentemente, a FMA - em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade Federal do Rio Grande - realizou um estudo que estimou a quantidade de peixes-bois marinhos existentes numa área compreendida de Alagoas até o Piauí. Os pesquisadores fizeram um mapeamento aéreo que identificou um número aproximado de apenas 1000 indivíduos da espécie neste trecho do litoral nordestino.

www.mamiferosaquaticos.org.br

7


CAPA

FOTO GENILSON GERALDO

Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho lança campanha itinerante pela preservação da espécie

8

www.vivaopeixeboimarinho.org


FOTO ACERVO FMA

O peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) é, atualmente, o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. De fevereiro a junho deste ano, a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) percorreu todo o litoral da Paraíba, local onde está atuando com o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental – para sensibilizar a população sobre a importância da conservação da espécie no Nordeste do Brasil. A campanha itinerante de sensibilização e informação intitulada “Ajude a preservar o peixe-boi marinho” aportou em 37 praias de nove municípios da região. Sabe-se que um dos principais motivos para que o peixe-boi marinho ocupe o status de criticamente ameaçado de extinção no país são os impactos ambientais provocados pelo homem. Lixo, esgoto e substâncias tóxicas lançadas nos mares e nos rios, circulação intensa de embarcações motorizadas nos locais de ocorrência da espécie, degradação dos manguezais, destruição da mata ciliar, construções desordenadas em praias e estuários, perda de habitat (estuários e áreas costeiras), captura acidental em redes de pesca. Todos estes fatores colocam em risco o ambiente, a saúde e a vida da espécie.

bre o peixe-boi marinho com o público. Abordamos colônias de pesca, pescadores, moradores locais, donos de pousada e estabelecimentos comerciais, gestores ambientais, turistas, professores e estudantes”, diz João Carlos Gomes Borges, diretor-presidente da FMA e coordenador executivo do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O cronograma de visitas da campanha “Ajude a preservar o peixe-boi marinho” incluiu praias dos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição, Marcação, Lucena, Mataracá, Cabedelo, Conde, João Pessoa e Pitimbu. “Acredito que este movimento foi muito válido. Nas nossas visitas, percebemos que muitas pessoas não tinham informações suficientes sobre o peixe-boi marinho. Diziam que ele era dócil, aproximava-se com facilidade, mas achavam que poderiam tocá-lo, alimentá-lo. Elas não tinham a consciência de que isso traz problemas ao animal e nem que ele está ameaçado de extinção”, diz Gisela Sertório, educadora ambiental do Projeto Viva o Peixe-boi Marinho.

“A falta de conhecimento sobre o assunto pode trazer uma série de consequências negativas ao animal e ao seu habitat. A campanha percorreu o litoral paraibano com uma equipe especializada - formada por profissionais das áreas de Oceanografia, Biologia e Medicina Veterinária - para trocar informações so-

www.mamiferosaquaticos.org.br

9


FOTO GENILSON GERALDO

A educadora ambiental diz que, de forma geral, o público abordado se mostrou receptivo e teve interesse em ajudar, sobretudo os pescadores, os diretores das escolas, gerentes de restaurantes. “As pessoas que mais interagiram foram as de localidades pequenas que lidam diretamente com o mar, a exemplo de colônias de pesca e comunidades indígenas litorâneas. Elas compartilharam histórias e observações sobre comportamentos dos peixes-bois marinhos. Em todas as comunidades, distribuímos camisas e bonés com o tema da campanha para quem tivesse interesse em ser um colaborador e quisesse divulgar a mensagem de preservação”, complementou Gisela.

FOTO GENILSON GERALDO

A campanha também orientou a população sobre como proceder em casos de encalhe. Para tanto, cartazes foram distribuídos em locais estratégicos (colônias de pesca, restaurantes, pousadas, postos de saúde, postos de polícia, mercados, escolas e etc.). A orientação para caso alguém encontre um peixe-boi marinho ou qualquer mamífero aquático encalhado (vivo ou morto), é comunicar primeiramente ao órgão ambiental atuante na região ou entrar em contato com a própria FMA, pelos telefones: (83) 9961-1338/ (83) 9961-1352/ (81) 3304-1443. Se o animal estiver vivo, siga as seguintes recomendações: 1. Se estiver exposto ao sol, proteja-o fazendo uma sombra; 2. Não o alimente e nem tente devolvê-lo à água; 3. Evite aglomeração a sua volta.

10

www.vivaopeixeboimarinho.org


ILUSTRAÇÃO MAIARA LIZANDRA

Saiba mais sobre o símbolo da Campanha Um círculo em aquarela verde e azul e um peixe-boi marinho ao centro é o símbolo da campanha “Ajude a preservar o peixe-boi marinho”. O objetivo é sensibilizar o público para a preservação do mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil. A arte, que já está circulando pelo litoral paraibano, estampa as peças de divulgação da campanha. São camisas, bonés, cartazes, canecas, cadernos, agendas e calendários temáticos. Quem assina a marca é a designer pernambucana Maiara Lizandra. De acordo com a simbologia das formas, o círculo relaciona-se ao natural, à criação da vida, à renovação. Representa a flexibilidade, o infinito, o ilimitado. A forma circular também transmite a ideia de totalidade, união, movimento, inovação. Não foi a toa que este símbolo foi escolhido para representar a campanha de sensibilização do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. A ideia é que o peixe-boi marinho seja respeitado e preservado em seu ambiente natural e que tenha condições de perpetuar a espécie em um ambiente conservado. O verde e o azul da aquarela vêm reforçar a ideia da conservação de seu habitat (o mar, o rio e o estuário). “Desenvolvi o projeto me baseando na ‘personalidade’ do peixe-boi marinho, que é a delicadeza e ao mesmo tempo a robustez, e a forte ligação com a natureza. Por isso criei uma estética que é bastante orgânica”, diz Maiara Lizandra.

www.mamiferosaquaticos.org.br

11


FOTO REFLEXÃO

FOTO CLARENCIO BARACHO

No detalhe, um golfinho em alto mar interage com uma sacola plástica.

Uma sacola plástica demora mais de 100 anos para se decompor. Os resíduos deixados nas praias, nos mares e nos rios representam uma grande ameaça para as espécies aquáticas, além de provocarem uma série de doenças e transtornos para a vida humana e o meio ambiente. Grande parte dos animais atendidos pela Fundação Mamíferos Aquáticos apresentam problemas por terem interagido com o lixo. Alguns se machucam, outros confundem com comida e, ao ingerir, acabam ficando doentes e até morrendo. Não deixe que as pessoas poluam o meio ambiente. Vamos dar ao lixo o destino adequado: reaproveite, reutilize, transforme!

12

www.vivaopeixeboimarinho.org


COLUNA CIENTÍFICA

Conectividade entre ambientes: uma abordagem a partir das aves POR BRUNO JACKSON MELO DE ALMEIDA Biólogo, mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. A conectividade entre ambientes pode ser traduzida, de forma simples, como a potencialidade de ligação geográfica expressa por organismos, através dos deslocamentos, de indivíduos ou de populações, de acordo com a fase do ciclo biológico. Como a movimentação dos organismos pode envolver diversos tipos de hábitats e condições ambientais, fica evidente a importância de se reconhecer as interações e relações ecológicas expressas em cada localidade, não apenas para se entender as adaptações e sobrevivência dos organismos, mas principalmente para contribuir com subsídios e estratégias interligadas para a conservação. A interface ecológica da zona costeira abriga ambientes distintos, tais como os variados tipos de praias, estuários e manguezais, os quais constituem habitats comuns a mamíferos aquáticos, a exemplo do peixe-boi marinho, mas também contemplam condições favoráveis para a movimentação de organismos, compondo uma diversidade regularmente sazonal de acordo com ciclo de vida. Essas conexões se apresentam mais evidentes ao se tratar de organismos migratórios. A migração é caracterizada pelo deslocamento regular e/ou sazonal entre ambientes distintos, resultante da resposta evolutiva à exploração de recursos. Dentre os organismos migratórios, destacam-se as aves, já que estas apresentam naturalmente um grande potencial de deslocamento, decorrente da habilidade de voo. Algumas espécies de aves passam mais da metade do ciclo biológico em migração, percorrendo às ve-

FOTO ARQUIVO PESSOAL

zes longos trechos. Por exemplo, o maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla), uma espécie com uma massa corporal média de cerca de 30 gramas, executa um deslocamento anual que envolve mais de 15.000km, entre a tundra ártica canadense e os ambientes costeiros do Brasil. Para efetuar esses deslocamentos a espécie necessita parar em áreas de alimentação e descanso, de maneira a manter condições fisiológicas e energéticas para viabilizar os longos voos. Nesse contexto, a presença de áreas costeiras íntegras ou delimitadas por unidades de conservação, possibilitam a manutenção de condições ambientais favoráveis, não apenas para as espécies residentes ou localmente protegidas (tais áreas de proteção para os peixes-boi marinhos), mas contribuem para que a conectividade entre espécies migratórias possam ser favorecidas. Muitas espécies de aves migratórias estão apresentando declínio populacional. Naturalmente, essas aves sofrem com as adversidades, sejam decorrentes de intempéries climáticas, condições fisiológicas; mas cada vez mais, sofrem com as alterações ambientais e perdas de hábitats, provocados pela ação humana e potencial mudanças climáticas. Dessa forma, a conectividade ambiental deve ser vislumbrada não apenas como uma temática de estudos da ecologia de migração e ocorrências geográficas. Deve considerar o entendimento de integridade ecológica, abrangendo a complexidade das relações e necessidades dos organismos em todas as fases do ciclo de vida.

www.mamiferosaquaticos.org.br

13


SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Moradores da Barra do Rio Mamanguape participam de oficina de desenvolvimento comunitテ。rio FOTO KARLILIAN MAGALHテウS

14

www.vivaopeixeboimarinho.org


No primeiro semestre de 2014, moradores da Barra de Mamanguape (PB) e comunidades do entorno que realizam atividades produtivas participaram da Oficina de Desenvolvimento Comunitário. Na ocasião, foram abordados temas como desenvolvimento pessoal, liderança, economia solidária, gestão de negócios sociais e trabalhos em grupo. O objetivo desta iniciativa foi articular a comunidade para o desenvolvimento local, reunindo os moradores num processo de reconhecimento e resgate da identidade e valorização das potencialidades da região. A partir da identificação das atividades produtivas, características da localidade e desejos da comunidade, de forma participativa, foi elaborado um plano de desenvolvimento local, buscando ampliar as oportunidades de trabalho e renda de forma sustentável e o fortalecimento da comunidade. A oficina foi ministrada pelo consultor socioambiental Alexandre Botelho em três etapas, com atividades lúdicas e de construções coletivas. Em um dos encontros, os participantes exercitaram as etapas de planejamento, organização, propaganda, monitoramento, avaliação e comemoração por meio da vivência de uma feira de troca. Cada morador levou para a oficina produtos ou ofereceu serviços para serem trocados no encontro. Na oportunidade, os alunos praticaram o exercício de levantamento de custo de cada serviço ou produto que estava sendo oferecido, além da performance comercial e do contato com o público. Os participantes avaliaram o exercício como sendo positivo e destacaram a confiança, negociação, criatividade e união na avaliação do encontro. “A gente viu aqui uma gama de produtos e serviços existentes na região. Na feira, além de trocarmos produto por outro produto ou produto por um serviço, trocamos também conhecimentos e experiências e resgatamos uma prática que existia na comunidade” disse Chico, pescador e artesão da Barra de Mamanguape.

um sabe fazer alguma coisa, e, se formarmos um grupo, fica tudo mais fácil: um ajuda o outro, passa a sua experiência para o outro e assim vai levando”, complementou a artesã Ednalva Santos, moradora da Barra de Mamanguape. Para Adriano Felipe, artesão e agente ambiental da Praia de Campina, a oficina trouxe novidades: “O tema ‘economia solidária’ foi novo pra mim e eu aprendi aqui no curso. É bom saber que a Fundação está com essa ideia, com a intenção de ajudar, de contribuir e colaborar para que estas atividades se desenvolvam. E se eles estão querendo colaborar, a gente também tem que querer se ajudar, querer crescer. A gente tem que fazer a nossa parte”. O consultor Alexandre Botelho avaliou os encontros de forma positiva: “Eu vejo um momento de renovação. Pessoas interessadas em construir juntos em benefício da comunidade. Isso para mim é o que dá a diferença. Essa experiência aqui na comunidade foi para mim uma experiência de que é possível sonhar e construir um outro jeito de se organizar, estar junto se satisfazendo e satisfazendo o outro, sem exploração”. Esta foi a segunda oficina que a Fundação Mamíferos Aquáticos, por meio do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, promoveu na região no âmbito da sustentabilidade, cidadania e inclusão social. A primeira teve como tema “Mulher Empreendedora - Fortalecendo a Identidade Feminina para os Negócios” e aconteceu em outubro, numa parceria com o SEBRAE da Paraíba, reunindo 25 mulheres da região. A Fundação Mamíferos Aquáticos é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos que, desde 1989, trabalha com a missão de promover a conservação dos mamíferos aquáticos, visando a sustentabilidade socioambiental.

“A oficina está clareando muitas ideias. Espero que a gente possa fincar o pé no chão para que o nosso trabalho fique mais forte e tenha resultado”, disse Dona Maria José Luiz, costureira e artesã da Praia de Campina. “Nós todos aqui temos um objetivo, cada

www.mamiferosaquaticos.org.br

15


Diário de bordo POR JAQUELINE SAID SAID

Oceanógrafa e Técnica de Pesquisa do PVPBM Mestra em Aquicultura

FOTO KARLILIAN MAGALHÃES

Durante toda a minha vida profissional, atuei nas áreas de oceanografia, aquicultura, monitoramento e qualidade da água e mamíferos aquáticos. Trabalhei em projetos de pesquisa com lontras, leõesmarinhos, elefantes-marinhos e contaminação de ambientes aquáticos, e também como monitora da disciplina de Fisiologia de Animais Marinhos, do curso de Oceanologia da FURG. Paralelamente às atividades acadêmicas, participei de diversos cruzeiros de pesquisa e expedições, entre elas ao Arquipélago de São Pedro e São Paulo, como pesquisadora em um projeto com as aves que habitam aqueles rochedos.

16

www.vivaopeixeboimarinho.org


O contato com o peixe-boi marinho veio em 1997, quando fui estagiária do Projeto Peixe-Boi, em Alagoas, onde conheci o incrível trabalho que vinha sendo realizado em prol de sua preservação. Em 2013 me candidatei à vaga de pesquisadora do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, da Fundação Mamíferos Aquáticos, e fui selecionada. Desde então, faço parte da equipe desempenhando diversas atividades principalmente as de pesquisa - no litoral paraibano, com ênfase na APA da Barra do Rio Mamanguape. Eu conheci a Barra em 1997, em uma rápida passagem durante meu estágio no Projeto Peixe-Boi. Lembrava que era um local distante, isolado e de rara beleza. Hoje, a Barra segue mantendo estas características, mas algumas mudanças vieram com o tempo. Fiquei muito feliz por voltar à Barra, desta vez trazendo uma filha no colo, e ter a oportunidade de morar neste lugar de características tão ímpares. Conviver com a simplicidade e ao mesmo tempo grandiosidade do local, e com as pessoas da comunidade, realmente me tornaram uma pessoa melhor. É um lugar que já faz parte da minha história, onde minha filha deu seus primeiros passos, tomou seu primeiro banho de mar, fez seus primeiros amigos de infância, onde também fiz amigos que me acolheram como parte da família. Levarei comigo por toda a vida. Tenho um respeito e um carinho imensos pelo peixe-boi marinho e trabalhar em prol da proteção dele é um privilégio e um grande prazer. Quem vê um peixe-boi jamais esquece aquela expressão afável, bem peculiar à espécie. É, realmente, surpreendente encontrar tanta docilidade em um animal de dimensões tão grandes. Estas características já fazem do peixe-boi uma espécie extremamente carismática, que somadas aos problemas que vem enfrentando ao longo de tantos anos de caça e ameaças antrópicas aos seus habitats, os torna ainda mais carentes de proteção. Cada vez que tenho a sorte de avistar algum, durante alguma atividade de trabalho, meu encantamento é como se fosse a primeira vez. Quem estudou os oceanos e os ambientes que os cercam sempre desejou trabalhar dentro da água mergulhando, coletando material de pesquisa, realizando medições e avistagens, enfim, vivenciando o ambiente como um todo, e tudo isto próximo des-

tes animais tão especiais. Eu diria que esse trabalho é o sonho de qualquer oceanógrafo. Claro que temos também as atividades de planejamento e pesquisa, dentro de um laboratório ou em frente ao computador, pois fazem parte da dinâmica do meu trabalho, mas são igualmente compensadoras. Não possuo uma rotina fixa. Há dias que temos que estar no mar às 4h30 da manhã, e outros em que passo o dia na Base do PVPBM realizando atividades burocráticas. Minhas atividades se dividem entre saídas de campo para coleta de amostras, análises físico-químicas dos ambientes em estudo, manutenção de equipamentos, confecção de relatórios técnicos e textos técnico-científicos, atividades de educação ambiental, entre outras. Eu diria que são atividades bem dinâmicas e que exigem um alto grau de concentração e, por vezes, força física. Toda esta mescla de funções torna o meu dia a dia de trabalho bastante interessante. Sempre me interessei e busquei trabalhar em prol da preservação do meio ambiente, e o peixe-boi marinho sempre esteve presente na minha vida, desde minha época de estagiária. O interessante deste trabalho do PVPBM, é que além de buscar um equilíbrio no ambiente onde vivem os peixes-bois, há uma forte questão socioambiental, que procura trabalhar e desenvolver as comunidades que vivem nas áreas do entorno da Barra de Mamanguape. Deve haver sempre o entendimento de que é impossível dissociar o homem do meio ambiente, este deve ser o mote de qualquer trabalho que busca reequilibrar um ecossistema, a inserção do homem como parte essencial deste todo, é de suma importância em qualquer ambiente natural, seja ele terrestre ou aquático. Estes pilares estão sempre presentes em nossas atividades no PVPBM, o que acaba por torná-las muito gratificantes. É sempre um grande desafio distanciar-se das pessoas que são importantes em nossas vidas, mas minha família e amigos já se acostumaram com meu jeito desprendido de viver. “A distância não separa, só a falta de amor”. Sempre fui em busca de novos lugares e desafios. Com certeza, vir morar na Barra de Mamanguape foi o maior de todos, mas posso afirmar que a recompensa tem sido diretamente proporcional ao desafio.

www.mamiferosaquaticos.org.br

17


PESQUISA A cada edição, a Revista A Bordo trará artigos e resumos científicos relacionados à conservação do peixe-boi marinho e seus habitats. Confira agora o resumo científico elaborado por Maria Elisa Pitanga, coordenadora técnica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, bióloga e mestra em Oceoanografia pela Universidade Federal de Pernambuco.

LEVANTAMENTO PRELIMINAR DAS ESPÉCIES VEGETAIS COM POTENCIAL PARA ALIMENTAÇÃO DO PEIXE-BOI MARINHO (Trichechus manatus manatus) NA APA DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE Maria E. Pitanga¹; Thiago N. V. Reis²; João C. Borges¹ , ³; Janayna Bouzon¹; Karine M. Magalhães 4 1. Fundação Mamíferos Aquáticos; 2. Departamento de Oceanografia, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE; 3. Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal Tropical, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE; 4. Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE.

INTRODUÇÃO O peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus Linneaus 1758), é o único mamífero aquático herbívoro (HARTMAN, 1979) que, do início da vida até os dois anos, têm sua dieta constituída por leite materno. Após esse período passam a ter uma dieta alimentar herbívora generalista e oportunista, composta por uma variedade de algas, angiospermas marinhas, folhas de mangue e macrófitas de água doce (HARTMAN, 1979, LEFEBVRE et al., 2000, COURBIS; WORTHY, 2003, BORGES et al., 2008, CASTELBLANCO-MARTÍNEZ et al., 2009) e, ocasionalmente, consomem uma ampla variedade de animais perifíticos associados à vegetação aquática (HARTMAN, 1979, O’SHEA et al., 1991). Na natureza, os peixes-bois selecionam locais de alimentação de acordo com a disponibilidade no ambiente (MORALES-VELA et al., 2000, OLIVERAGÓMEZ; MELLINK, 2005, PALUDO; LANGGUTH, 2002, LACOMMARE et al., 2008) e preferência

18

www.vivaopeixeboimarinho.org

por uma espécie vegetal (LIMA 1999). No entanto, quando há uma grande disponibilidade de espécies de plantas, aparentemente, os animais não apresentam uma particularidade na escolha do sítio de alimentação (HARTMAN, 1979; BEST, 1981). Um outro fator que contribui para uma elevada densidade desses animais em uma determinada área, são as características ambientais propícias para a ocorrência dos mesmos (ALVES et al., 2013). O que pode ser verificado na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PARAÍBA, 1993), protegida pela importância ecológica e considerada um dos principais locais de ocorrência do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) no Brasil. Apesar disso, até o momento não há estudo referente ao levantamento florístico das espécies que compõem a dieta desses animais nessa região. Com o intuito de avaliar o estoque de alimento disponível para os animais que frequentam a APA está


sendo desenvolvido um mapeamento e caracterização das áreas de forrageio do peixe-boi marinho, pesquisa que faz parte do projeto intitulado “Viva o Peixe-Boi Marinho” executado pela Fundação Mamiferos Aquáticos com recursos do Programa Petrobrás Ambiental. A identificação das espécies vegetais com potencial para alimentação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) para a APA da Barra do Rio Mamanguape faz parte da primeira etapa do projeto, e está sendo apresentada como resultados no presente trabalho. MATERIAL E MÉTODOS O reconhecimento da área de ocorrência da vegetação aquática (macroalgas, angiospermas marinhas e macrófita de água doce) foi realizado no mês de junho de 2013, durante o período da baixa-mar, na Barra do Rio Mamanguape (6º47’41.814” S; 35º03’15.733” W), situada no município de Rio Tinto, litoral norte da Paraíba (Figura 1). A área de estudo está inserida dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape (PARAÍBA, 1993), uma área de grande relevância ecológica para a conservação de espécies da fauna e da flora, que estão ameaçadas de extinção, tais como o peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) (DEUTSCH et al., 2008), o cavalo-marinho (Hippocampus reidi)

(Project Seahorse 2003), tartaruga-verde (Chelonia mydas) (SEMINOFF, 2004), e espécies vegetais, a exemplo das angiospermas marinhas Halodule wrightii e Halophila decipiens (SHORT et al., 2011). Na Barra do Rio Mamanguape estão presentes ambientes estuarinos com manguezal, remanescente de Mata Atlântica, mata de restinga, dunas, falésias e formações recifais (PALUDO; KLONOWSKI, 1999). A região apresenta um clima tropical chuvoso, com temperatura média anual variando entre 24° e 27ºC, umidade elevada com cerca de 80% e precipitação média anual de 1.634,2mm. O período chuvoso compreende entre março a agosto e o período de estiagem de setembro a fevereiro (PEREIRA; ALVES, 2006). O levantamento preliminar das espécies foi realizado através da compilação de informações obtidas dos Monitores do Projeto Peixe-Boi/ICMBio, e das coletas (Figura 2) realizadas durante o período citado. Além desses dados os pontos foram georeferenciados com auxílio de GPS. RESULTADOS Macroalgas Nas áreas de ocorrência do peixe-boi nos recifes da APA da Barra de Mamanguape foram identificadas 25 espécies de macroalgas como potenciais componentes para a dieta alimentar dos mesmos, sendo quatro pertencente à Divisão Chlorophyta (Anadyomene stellata, Bryopsis plumosa, Caulerpa mexicana, Caulerpa sertularioides), quatro Ocrophyra (Dictyota sp., Dictyopteris delicatula, Lobophora variegata, Padina sp.) e 17 Rhodophyta (Acanthophora spicifera, Amansia multifida, Botryocladia pyriformis, Bryothamnion seaforthii, Bryothamnion triquetrum, Corallina officinalis, Corynomorpha clavata, Cryptonemia crenulata, Cryptonemia seminervis, Dichotomaria dichotoma, Gelidiopsis planicaulis, Gracilaria caudata, Gracilaria cervicornis, Gracilaria mammillaris, Hypnea musciformes, Laurencia sp., Palisada perforata).

Figura 1. Localização da área de estudo inserida na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, município de Rio Tinto, litoral norte da Paraíba.

www.mamiferosaquaticos.org.br

19


FOTO MARIA ELISA PITANGA

FOTO JACK SAID

Figura 2. Coleta de angiospermas marinhas no estuário do rio Mamanguape.

Angiospermas marinhas As angiospermas marinhas foram registradas em 10 dos 15 pontos visitados ao longo do estuário do Rio Mamanguape (Figura 3) e nas croas localizadas em paralelo ao recife da APA, correspondentes às espécies Halodule wrightii (Ascherson 1868), Halophila decipiens (Ostenf 1902) e Halophila sp. (Figura 4). Os outros cinco pontos tinham registro histórico da planta, mas estas não foram observadas no presente estudo. Também foi possível verificar manchas formadas por H. wrightii (n = 7), por H. wrightii e H. decipiens em associação (n = 2), e ainda H. wrightii e Halophila sp., também em associação (n = 1). Macrófita de água doce No estuário do rio Mamanguape foram coletadas amostras de uma vegetação identificada como pertencente à Família Aizoaceae, cientificamente denominada de Sesuvium portulacastrum. Conhecida pela comunidade por Bredo (Figura 5) que, segundo comunidade local, é um dos itens alimentares do peixe -boi marinho quando a vegetação está em fase inicial de desenvolvimento (“indivíduos jovens”). Outras duas espécies de macrófitas, indicadas como parte da dieta dos animais da área foram coletadas também no estuário. Contudo, devido ao material botânico coletado não estar em período reprodutivo, só foi possível identificar a nível de Família através das características morfológicas. São elas, Poaceae (Capim) e Cyperaceae (Tiririca).

20

www.vivaopeixeboimarinho.org

Figura 3. Vista do estuário do rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba.

DISCUSSÃO Assim como em todo o litoral tropical brasileiro as macroalgas pertencentes a divisão Rhodophyta apresentaram um maior número de espécies na área estudada. Borges et al., (2008) ao realizar um levantamento de espécies que constituem a dieta alimentar do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) na região Nordeste do Brasil, identificou uma maior quantidade de espécies de Rhodophyta em amostras de conteúdos estomacais e fezes desses animais. Os autores acima citados afirmam ainda que o predomínio destas algas encontradas nos estômagos e nas fezes dos animais pode estar associado à preferência alimentar dos peixes-bois marinhos, como observado em estudos realizados em cativeiro (PALUDO, 1997; RÊGO, 1998), mas, sobretudo, a disponibilidade existente nas áreas de alimentação, tendo em vista o seu comportamento de herbivoria diversificada e oportunista (HARTMAN, 1979). A predominância de espécies de Rhodophyta em áreas de potencial forrageio de peixes- bois do Nordeste brasileiro também foi descrita por Reis et al. (2012), que afirmam ainda que a predominância de algas da Divisão Rodophyta nessas áreas é indicativo de ambientes propícios para a ocorrência desses animais. A presença dessas espécies de algas vermelhas na região da APA da Barra do Rio Mamanguape reitera a hipótese de que a região é visitada frequentemen-


FOTO MARIA ELISA PITANGA

FOTO ACERVO FMA

Figura 4. Destaque para espécie de angiosperma marinha Halodule wrightii que ocorre na APA da Barra do Rio Mamanguape/PB.

te por esses mamíferos aquáticos pelo fato de encontrarem no local diversas espécies vegetais atrativas para sua alimentação, o que faz da região uma área de grande importância para a espécie (Alves et al. 2013). A presença de bancos de angiospermas marinhas na área de estudo, além de fonte de alimento direta também podem servir como substrato para a fixação de macroalgas (Dawes, 1998). A importância dessas extensas pradarias como potenciais sítios de forrageio para o animal na região da Barra de Mamanguape é descrita por Borodia e Lodia (1992) e, alguns autores referenciam estas plantas como o principal item da dieta alimentar dos peixes-bois marinhos em outras regiões do Brasil e do mundo (LEFEBVRE et al., 1989, BOSSART, 2001). Apesar dos peixes-bois marinhos serem avistados na região ingerindo macrófitas de água doce (comunicação pessoal), não existe até o momento um estudo de identificação e caracterização dessas espécies vegetais como potenciais recursos para a dieta de T. manatus manatus. A presente riqueza de itens alimentares observados, associada a uma alta frequência dos peixes-bois marinhos na região, faz da área um interessante objeto de estudo e direcionamento para subsidiar esforços para conservação, tendo em vista que a área encontra-se categoricamente protegida como área de

Figura 5. Destaque para a ocorrência da espécie de macrófita de água doce Sesuvium portulacastrum (Bredo) citada pela comunidade como um dos itens alimentares do peixe-boi marinho.

proteção ambiental. Atualmente sabe-se que UCs mais restritivas, tais como reservas biológicas marinhas, tem comprovadamente aumento de riqueza e abundância de espécies, e que, algumas restrições dependendo do ambiente podem ser favoráveis ao aumento da frequência de ocorrência dos animais e ainda em prol da conservação da biodiversidade. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados desta pesquisa sugerem que a APA da Barra do Rio Mamanguape é uma área com grande potencial para ocorrência e conservação dos peixes -bois marinhos, e, dessa forma, tendem a contribuir no direcionamento de esforços que visem à redução de perdas dessas áreas consideradas como potenciais habitats de forrageio da espécie T. m. manatus, em especial nas áreas com ocorrência simultânea dos peixes-bois, justificando os esforços de mapeamento. AGRADECIMENTOS O presente trabalho é resultado dos esforços de um projeto da Fundação Mamíferos Aquáticos intitulado Projeto Viva o Peixe-Boi, patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras SocioAmbiental.

www.mamiferosaquaticos.org.br

21


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, M. D. O.; SCHWAMBORN. R.; BORGES, J. C.G.; MARMONTEL, M.; COSTA, A. F.; SCHETTINI, C. A. F.; ARAÚJO, M. E. Aerial survey of manatees, dolphins and sea turtles off northeastern Brazil: Correlations with coastal features and human activities. Biological Conservation, v. 161, 91–100, 2013. BORGES, J. C. G.; ARAÚJO, P. G.; ANZOLIN, D. G.; MIRANDA, G. E. C. Identificação de itens alimentares constituintes da dieta dos peixes-boi marinhos (Trichechus manatus) na região Nordeste do Brasil. Biotemas, v.21, p.77–81, 2008. BOSSART, G. D.. Manatees. In: DIERAUF, L. A., GULLAND, F. M. D.. CRC handbook of marine mammal medicine. CRC Press, 2nd ed., Boca Raton, 2001. p.939-960. CASTELBLANCO-MARTÍNEZ, D. N.; MORALES-VELA, B.; HERNÁNDEZ-ARANA, H.A.; PADILLA-SALDIVAR, J. Diet of the manatees (Trichechus manatus manatus) in Chetumal Bay, Mexico. Latin American Journal of Aquatic Mammals, v.7, p.39–46, 2009. COURBIS, S. S.; WORTHY, G. A. J. Opportunistic rather than incidental carnivory by Florida manatee (Trichechus manatus latirostris)? Aquatic Mammals, v.29, p.104-107, 2003. DEUTSCH, C. J., SELF-SULLIVAN, C., MIGNUCCI-GIANNONI, A. 2008. Trichechus manatus. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.1. <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 14 October 2013. HARTMAN, D. S. Ecology and behavior of the manatee (Trichechus manatus) in Florida. American Society of Mammalogists, Special Publication, v.5, p.153, 1979. LACOMMARE, K. S.; SELF-SULLIVAN, C.; BRAULT, S. Distribution and Habitat Use of Antillean Manatees (Trichechus manatus manatus) in the Drowned Cayes Area of Belize, Central America. Aquatic Mammals, v.34, p.35–43, 2008. LEFEBVRE, L. W., O’SHEA, T. J., RATHBUN, G. B., BEST, R. C..Distribution, status and biogegraphy of the West Indian manatee, In: Woods, C. A. Biogegraphy of the West Indies, Past, Present and Future, Gainesville, Florida, 1989. p. 567-610. LEFEBVRE, L. W.; REID, J.P.; KENWORTHY, W.J.; POWELL, J.A. Characterizing manatee habitat use and seagrass grazing in Florida and Puerto Rico: implications for conservation and management. Pacific Conservation Biology, v.5, p.289–298, 2000. MORALES-VELA, B.; OLIVERA-GÓMEZ, D.; REYNOLDS III, J. E.; RATHBUN, G. B. Distribution and habit use by manatees (Trichechus manatus manatus) in Belize and Chetumal Bay, Mexico. Biological Conservation, v.95, n.67–75, 2000. OLIVERA-GÓMEZ, L. D.; MELLINK, E. Distribution of the Antillean manatee (Trichechus manatus manatus) as a function of habitat characteristics, in Bahía de Chetumal, Mexico. Biological Conservation, v.121, p.127–133, 2005. O’SHEA, T. J., RATHBUN, G. B., BONDE, R. K., BUERGELT, C. D., ODELL, D. K.. An epizootic of Florida manatees associated with a dinoflagellate bloom. Marine Mammal Science, v.7, p.165-179, 1991.

22

www.vivaopeixeboimarinho.org

PALUDO, D. Estudos sobre a ecologia e a conservação do peixe-boi marinho Trichechus manatus manatus no Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1997. PALUDO, D.; KLONOWSKI, V. S. Estudo do impacto do uso de madeira de manguezal pela população extrativista e da possibilidade de reflorestamento e manejo dos recursos madeireiros. São Paulo, 1999. Série Cadernos da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, Barra de Mamanguape – PB, n. 16. PALUDO, D.; LANGGUTH, A. Use of space and temporal distribution of Trichechus manatus manatus Linnaeus in the region of Sagi, Rio Grande do Norte State, Brazil (Sirenia, Trichechidae). Revista Brasileira de Zoologia, v.19, p.205–215, 2002. PARAÍBA. Decreto nº 924 de 10 de setembro de 1993. Institui a criação da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape. Paraíba, 10 de setembro de 1993. PEREIRA, M. S.; ALVES, R. R. N. Composição Florística de um remanescente de Mata Atlântica na Área de Proteção Ambiental Barra do Rio Mamanguape, Paraíba, Brasil. Revista de Biologia e Ciências da Terra, v.6, n.1, p.357-366, 2006. Project Seahorse 2003. Hippocampus reidi. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.1. <www.iucnredlist. org>. Downloaded on 14 October 2013. RÊGO, A. P. F. Estudo da alimentação do peixe-boi (Trichechus manatus manatus) em semi-cativeiro no estuário do Rio Mamanguape, PB. Monografia (Bacharelado em Ciências biológicas) - Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 1998. SEMINOFF, J. A. Chelonia mydas. 2004. In: IUCN 2013. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2013.1. <www.iucnredlist.org>. Downloaded on 14 October 2013. SHORT, F. T; POLIDORO, B.; LIVINGSTONE, S. R.; CARPENTER, K. E.; BANDEIRA, S.; BUJANG, J. S.; CALUMPONG, H. P.; CARRUTHERS, T. J. B.; COLES, R. G.; DENNISON, W. C.; ERFTEMEIJER, P. L. A.; FORTES, M. D.; FREEMAN, A. S.; JAGTAP, T. G.; KAMAL, A. H. M.; KENDRICK, G. A.; KENWORTHY, W. J.; LA NAFIE, Y. A.; NASUTION, I. M.; ORTH, R. J.; PRATHEP, A.; SANCIANGCO, J. C.; VAN TUSSENBROEK, B.; VERGARA, S. G.; WAYCOTT, M.; ZIEMAN, J. C. 2011. Extinction risk assessment of the world’s seagrass species. Biological Conservation, v.144, p.1961-1971, 2011.


FMA

Fundação Mamíferos Aquáticos fecha parceria com o Instituto de Tecnologia e Pesquisa POR RAQUEL PASSOS

Com o objetivo de ampliar sua rede de parcerias no desenvolvimento de projetos em prol da conservação ambiental no Brasil, a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) firmou convênio de cooperação técnica, científica e financeira com o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), localizado em Aracaju (SE). Este convênio, representado pelo selo MAR, vem fomentar projetos voltados para o monitoramento de biota. O ITP é uma instituição de referência no Nordeste que trabalha com ciência, tecnologia e inovação, por meio de desenvolvimento de pesquisa e prestação de serviços técnicos nas áreas de Engenharia de Processos, Saúde, Ambiente, Biotecnologia e Educação. O desenvolvimento de iniciativas – pioneiras, em sua maioria – voltadas à conservação dos mamíferos aquáticos e de seus habitats, é realizado pela FMA decorrente do conhecimento adquirido com suas atividades desde 1989. Assim, a FMA tem investido esforços em ações que promovem a conservação da espécie marinha e, neste contexto, em articulações com segmentos da sociedade civil, governo e setor produtivo.

recursos diferenciados para a pesquisa em Aracaju e região, por haver alinhamento de gestão. “A parceria firmada com a Fundação Mamíferos Aquáticos segue a filosofia colaborativa do ITP, que é a de sempre buscar grupos ou entidades de destaque no cenário nacional e mundial, para que juntos possam desenvolver soluções inovadoras e que gerem resultados de interesse comum e de impacto regional”, considera. Ainda segundo Teixeira, o desejo é somar esforços em busca da excelência, de forma sustentável. “Apesar do pouco tempo de convênio firmado, a parceria ITP-FMA já acumula diversas conquistas, que vem ocorrendo em um ritmo surpreendente. Tais resultados demonstram o grande alinhamento de fundamentos existente entre as duas entidades, assim como a complementariedade e ensejo comum de busca pela excelência”, finaliza o diretor-presidente do ITP.

Em busca do constante aprimoramento e desenvolvimento institucional em prol da conservação dos mamíferos aquáticos, o diretor-presidente da FMA, João Carlos Borges, entende como fundamental o compromisso firmado com uma instituição de alcance científico e tecnológico como o ITP. “É um avanço para a FMA possuir uma parceria tão importante como o ITP, por se tratar de uma associação que incentiva, fomenta e acompanha atividades de pesquisa, gerando desenvolvimento e inovação da Ciência e Tecnologia em Sergipe e no Nordeste”, avalia. De acordo com o diretor-presidente do ITP, Leonardo Maestri Teixeira, esta parceria amplia canais e

www.mamiferosaquaticos.org.br

23


GPS

INDICAÇÕES ODUM / ECOLOGIA Obra de uma das maiores autoridades em Ecologia, onde os temas são abordados didaticamente, do todo para as partes, selecionando novos exemplos relacionados com as atividades humanas. É uma versão atualizada e extensamente reescrita do clássico Fundamentals of Ecology, tendo em vista as novas descobertas e o aumento da consciência ambiental do público. Idealmente estruturado para cursos básicos de um semestre ou trimestre. A ecologia populacional recebeu uma cobertura extensa nos dois capítulos que tratam de populações e comunidades. Apêndice com a descrição dos principais tipos de ecossistemas naturais da biosfera. Destinado a estudantes de biologia, engenharia florestal, sociologia, e profissionais interessados nos problemas ambientais.

Autores: Eugene P. Odum

FISIOLOGIA ANIMAL : ADAPTAÇÃO E MEIO AMBIENTE Fisiologia Animal é indicado para todos os cursos de graduação e pós-graduação que abordem fisiologia. O livro é utilizado em todo o mundo e proporciona uma leitura compreensiva e um estilo claro. Os textos enfatizam os princípios fisiológicos fundamentais. Cada capítulo apresenta uma breve sinopse e os tópicos são dispostos segundo as características principais do meio: oxigênio, alimento, energia, temperatura e água. Autores: Knut Schmidt-Nielsen

24

www.vivaopeixeboimarinho.org


eventos Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2014 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ECOLOGIA E CONSERVAÇÃO Data: de 25 a 27 de agosto Local: Universidade Federal de Minas Gerais www.simposioecmvs2014.wordpress.com

X CONGRESSO DE FICOLOGÍA DE LATINOAMÉRICA Y EL CARIBE / VIII REUNIÓN IBERAMERICANA DE FICOLOGÍA Data: 05 a 10 de outubro de 2014 Local: México www.congreso.sofilac.com/1ercircular.pdf

III ENCONTRO PERNAMBUCANO DE RESÍDUOS SÓLIDOS (III EPERSOL) Data: 27 e 28 de agosto de 2014 Local: Universidade Federal Rural de Pernambuco www.eventioz.com.br/e/iii-encontro-pernambucano-de -residuos-solidos

ADVANCED TOPICS IN ETHNOBIOLOGY Data: 06 a 10 de outubro de 2014 Local: Universidade Federal Rural de Pernambuco www.ateschool.com

II SIMPÓSIO DE ZOOLOGIA DA UFPB Data: 25 a 29 de agosto de 2014 Local: João Pessoa (PB) www.simpzoo.wix.com/2014

XI CONGRESO LATINOAMERICANO DE BOTÁNICA /LXV CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA Data: 19 a 24 de outubro de 2014 Local: Salvador (BA) www.65cnbot.com.br

AQUACIÊNCIA Data: 01 a 05 de setembro de 2014 Local: Foz do Iguaçu (PR) www.aquaciencia.aquabio.com.br 12º ENCONTRO DE BIOLOGIA Data: 01 a 05 de setembro de 2014 Local: Universidade Tiradentes – UNIT (SE) ww3.unit.br/encontrodebiologia/ XIII ENBRAPOA - ENCONTRO BRASILEIRO DE PATOLOGISTAS DE ORGANISMOS AQUÁTICOS Data: 15 a 18 de setembro de 2014 Local: Universidade Tiradentes – UNIT (SE) www.octeventos.com/xiiienbrapoa/ IV SIMPÓSIO DE ANIMAIS SILVESTRES: ECOTURISMO E PRESERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE (IV SIMAS) Data: 29 de setembro a 01 de outubro de 2014 Local: Universidade Federal Rural de Pernambuco www.ivsimas.webnode.com

IV CONGRESSO BRASILEIRO DE OCEANOGRAFIA (CBO) Data: 25 a 29 de outubro de 2014 Local: Itajaí (SC) www.cbo2014.com/site A CONFERÊNCIA DA TERRA: FÓRUM INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE Data: 12 a 15 de novembro de 2014 Local: João Pessoa (PB) www.conferenciadaterra.com IV CONGRESSO COLOMBIANO DE ZOOLOGIA Data: 01 a 05 de dezembro de 2014 Local: Colômbia www.congresocolombianozoologia.org/

www.mamiferosaquaticos.org.br

25


ILUSTRAÇÃO A cada edição, a Revista A Bordo trará ilustrações que abordem o universo do peixe-boi marinho e de seu habitat, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Aproveite!

A Garça Por Giovanna Monteiro

26

www.vivaopeixeboimarinho.org


FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS Av. 17 de Agosto - 2001/1º andar Casa Forte - Recife - PE +55 (81) 3304 1443 | fma@mamiferosaquaticos.org.br www.mamiferosaquaticos.org.br | www.vivaopeixeboimarinho.org


Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org

Realização:

Realização:

Patrocínio:


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.