Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho 19ª Edição

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Com a ajuda de voluntários, FMA e PVPBM retiram mais de uma tonelada de resíduos de praias do Nordeste e Sudeste

A BORDO REVISTA Fundação Mamíferos Aquáticos Parceria:
PROJETO VIVA O PEIXE-BOI-MARINHO Fragmentos de óleo aparecem no litoral norte da Paraíba, local de ocorrência de peixes-bois-marinhos Pesquisa avalia impacto do óleo no litoral do Nordeste
EDIÇÃO 19 FOTO EDSON ACIOLI ACERVO FMA Turismo ecológico de base comuniTária é grande aliado na luTa pela conservação do peixe-boi-marinho na paraíba

Investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi-marinho no Brasil.

FOTO LUCIANO CANDISANI ACERVO FMA

Esta revista é uma produção integrada ao Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba.

EDIÇÃO 19 JAN/2023

capa

Turismo ecológico de base comunitária é grande aliado na luta pela conservação do peixe-boi-marinho no litoral norte da Paraíba

12 especial

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diário de bordo Por Rodolfo Alves 26 coluna cienTíFica

Viva o Peixe-Boi-Marinho participa do Projeto Conexões Éticas 28

educação ambienTal

Avaliação da ecologia trófica, habitat e estado de sobrevivência do peixe-boi-marinho no Nordeste do Brasil, por Emma Deeks, Terry Dawson e Pavel Kratina 14

pesQuisa

17 FoTo reFlexão

emergÊncia

Com a ajuda de voluntários, FMA e Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho retiram mais de uma tonelada de resíduos de praias do Nordeste e Sudeste 22 conservação marinha

Fragmentos de óleo aparecem no litoral norte da Paraíba, local de ocorrência de peixes-bois-marinhos

ilusTração Por Rejane Maciel

Caracterização ambiental das áreas de vida de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) soltos no Nordeste do Brasil, por Sebastião Silva 18

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revis Ta a bordo

Jornalista responsável Karlilian Magalhães design gráfico Giovanna Monteiro revisão técnica João Carlos Gomes Borges

TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO: coluna científica Emma Deeks,Terry Dawson e Pavel Kratina diário de bordo Rodolfo Alves pesquisa Sebastião Silva

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Pesquisa avalia impacto do óleo no litoral do Nordeste gps
32 Fma
Fundação Mamíferos Aquáticos e Mami Wata firmam parceria sustentável

A Revista A Bordo é o periódico de comunicação e informação científica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a PETROBRAS por meio do Programa Petrobras Socioambiental. O objetivo desta publicação quadrimestral é levar informação e sensibilizar os leitores sobre a importância de se conservar os mamíferos aquáticos, seus habitats e o meio ambiente.

Na sua 19ª edição, a Revista traz como matéria de capa o turismo ecológico de base comunitária como grande aliado na luta pela conservação do peixe-boi-marinho na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape. A Revista traz ainda um alerta emergencial sobre o aparecimento recente de fragmentos de óleo no litoral norte da Paraíba, local de ocorrência de peixes-bois-marinhos, e uma matéria com informações sobre a pesquisa que está avaliando o impacto do óleo (de 2019 a 2022) no litoral do Nordeste.

Veja também: o Viva o Peixe-Boi-Marinho está participando do Projeto Conexões Éticas. Entenda um pouco mais sobre este projeto que aborda a compliance em instituições do terceiro setor. E saiba como a Fundação Mamíferos Aquáticos e o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, com a ajuda de voluntários, conseguiram retirar mais de uma tonelada de resíduos de praias do Nordeste e Sudeste. Na seção FMA, conheça a nova parceira da Fundação Mamíferos Aquáticos: a Mami Wata, que fabrica protetores solares que não agridem o meio ambiente.

Na Coluna Científica, os pesquisadores da Kings College London & Queen Mary University of London, Emma Deeks, Terry Dawson e Pavel Kratina falam sobre a pesquisa “Avaliação da ecologia trófica, habitat e estado de sobrevivência do peixe-boi-marinho no Nordeste do Brasil”. Emma tem acompanhado o trabalho do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho e Fundação Mamíferos Aquáticos nas bases da Paraíba, Sergipe e Bahia. Já a seção Pesquisa traz o artigo “Caracterização ambiental das áreas de vida de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) soltos no Nordeste do Brasil”, do ecólogo e mestre em Ecologia e Monitoramento Ambiental, Sebastião Silva, do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

Quem assina a coluna Diário de Bordo desta edição é Rodolfo Alves, biólogo, mestre e doutor em Ciências Naturais, coordenador de Elaboração de Projetos e Captação de Recursos da Fundação Mamíferos Aquáticos e Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho. Na seção ilustração, estamos apresentando a nova marca da campanha “Ajude a conservar o peixe-boi-marinho”, assinada pela designer paraibana Rejane Maciel. Confira também as indicações de livros, filmes e a agenda de eventos científicos previstos para 2023 nas áreas de Biologia, Medicina Veterinária, Ecologia, Meio Ambiente e afins.

Karlilian Magalhães, assessora de comunicação do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

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EDITORIAL FOTO EDSON ACIOLI ACERVO FMA

Turismo ecológico de base comuniTária é grande aliado na luTa pela conservação do peixe-boi-marinho no liToral norTe da paraíba

A história da conservação do peixe-boi-marinho no Brasil tem início na década de 1980 a partir da constatação de que a espécie corria o risco de ser extinta e desaparecer do litoral do país. De lá pra cá, pesquisadores vêm travando uma luta árdua, com muito estudo e trabalho, para tentar reverter a ameaça de extinção deste mamífero aquático que já chegou a ser caçado no litoral brasileiro. Uma das estratégias que vem sendo utilizada para proteger a espécie no Nordeste é sem dúvida a sensibilização e educação ambiental. A partir de uma mudança de pensamento e comportamento do ser humano com relação ao animal, abriu-se uma gama de possibilidades de engajamento comunitário em prol da conservação da espécie, e uma delas é o turismo ecológico de observação ou turismo de contemplação, com o qual vem sendo possível vislumbrar a esperança de um dia ver o peixe-boi-marinho fora da lista de fauna ameaçada no Brasil.

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FOTO ENRICO MARCOVALDI / ACERVO FMA

“Foi um grande desafio transformar um passado de caça para um presente em que essa valoração se dê a partir do animal vivo. O turismo de observação de base comunitária foi uma aposta que iniciamos em meados de 1994 com a soltura dos primeiros animais que foram resgatados e passaram pelo processo de reabilitação e readaptação. Os animais foram soltos no litoral de comunidades tradicionais e iriam de alguma forma ter uma convivência com estas comunidades e vice-versa”, conta o pesquisador e médico veterinário Prof. Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

O incentivo a ações de base comunitária voltadas para o desenvolvimento do turismo de observação dos peixes-bois-marinhos faz parte da estratégia de conservação da espécie promovida pelo Projeto, que percebe que a partir do envolvimento com esta atividade, pescadores e moradores locais tornam-se mais engajados com a estratégia de conservação da espécie e a visita de turistas interessados pelo tema na região possibilita ampliar a sensibilização sobre a importância de se conservar os peixes-bois-marinhos.

Potencialidade que vem sendo vivenciada na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, no litoral norte da Paraíba. Um lugar muito rico em biodiversidade e em belezas naturais, com cenários impressionantes - formados por um mar verdinho com areias brancas, lindas praias, estuário, manguezais, falésias, restinga e dunas – abrigando diversas espécies de flora e fauna, incluindo espécies ameaçadas de extinção, a exemplo do peixe-boi-marinho. A APA da Barra do Rio Mamanguape foi criada em 1994 com o objetivo principal de proteger o peixeboi-marinho, pois a região é conhecida por apresentar atributos ecológicos que propiciam a existência deste mamífero aquático que está “Em perigo” de extinção no país. É um dos poucos lugares no Brasil onde a espécie pode ser encontrada, sendo este o principal atrativo de turistas de dentro e de fora do país que procuram a região para ver de perto estes animais em ambiente natural. Um lugar realmente encantador, com uma comunidade simples, de pescadores tradicionais, bastante acolhedora.

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FOTO SARAH KATHER / ACERVO FMA

“O peixe-boi é a espécie bandeira, é o que atrai o turismo, foi o que motivou a criação da unidade de conservação, que é tão importante tanto para a conservação do peixe-boi como de vários ecossistemas. O peixe-boi trouxe todas essas estruturas, todos esses esforços de conservação que acabam favorecendo essas outras áreas, a área do ecoturismo, do turismo de natureza”, explica Adriano Felipe, guia e condutor local e ex-presidente da Associação de Artesãos e Guias de Ecoturismo da Região da APA da Barra do Rio Mamanguape (Ageapa).

“Hoje onde o turismo de observação de base comunitária acontece existe uma série de serviços envolvidos. Em algumas comunidades como a Barra de Mamanguape, um local tipicamente de pescadores, os estoques pesqueiros infelizmente estão em situação de muita fragilidade, então continuar uma aposta unicamente direcionada para estes recursos pesqueiros é muito restritivo. Nestes ambientes onde o turismo de base comunitária se potencializou, nós temos pousadas, restaurantes, atividades que giram em torno desse turismo de contemplação dos peixes-bois e o valor socioambiental é muito maior. Temos ainda pelúcias alusivas aos animais, produtos que são comercializados, o artesão, pessoas que começam a fazer trilhas para outros roteiros para além

do peixe-boi, descobrem que ali tem vários atrativos, uma outra cadeia econômica que está girando junto. Então gera-se um ambiente para o turista voltar, trazer outras pessoas. E isso na economia é sustentável. A gente acredita muito nisso, e estamos somando esforços para manter essa prática e levá-la para outras localidades também”, enfatiza o pesquisador João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

Capacitações - Na APA da Barra do Rio Mamanguape, o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho vem apostando no estímulo ao desenvolvimento comunitário e na capacitação de todos que estão atuando com o turismo ecológico de observação de peixesbois-marinhos e em toda essa cadeia produtiva que se forma em torno da conservação da espécie para que as atividades sejam realizadas de forma funcional, colaborativa com a conservação da espécie e que possibilite uma alternativa de geração de renda para a comunidade. Uma série de capacitações foram promovidas neste segundo semestre de 2022.

No dia 18 de outubro, 24 comunitários participaram da oficina “Associativismo aplicado às práticas do turismo”, realizada no Centro de Visitantes da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape.

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FOTOS DANIELA ARAÚJO / ACERVO FMA

A oficina, organizada pelo PVPBM e realizada pelo Departamento de Turismo da Universidade do Rio Grande do Norte, foi dividida em orientações, atividades de discussões e dinâmicas. O objetivo central foi apresentar os princípios do associativismo de forma prática, de modo a estimular habilidades e competências nos participantes, que aprenderam sobre proatividade, criatividade, autoconhecimento, visão, resultado, planejamento e força do grupo.

Nos dias 08, 09 e 16 de novembro, 23 profissionais participaram da Oficina “Turismo Receptivo”, também realizada no Centro de Visitantes da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, promovida pelo PVPBM e ministrada pela turismóloga Priscilla Carla Leite Marques. Os participantes aprenderam sobre hospitalidade e cooperação (importância do bem receber, hospitalidade, cooperação, trabalho em rede); sustentabilidade (sustentabilidade socioeconômica e ambiental, boas práticas, coletividade, futuro); e negócios e comunicação (processos gerenciais, modalidade de negócios, plataforma digitais, mídias sociais).

E para fortalecer ainda mais a Associação de Artesãos e Guias de Ecoturismo da Região da APA da Barra do Rio Mamanguape (Ageapa), nos dias 22 e

23 de novembro, foi promovida a primeira fase da Oficina de Gestão Orientada para Mudanças, ministrada pelo consultor Alexandre Merrem, na qual os participantes criaram um plano de ação. A segunda fase da oficina acontecerá em março de 2023. A Associação foi criada em 2012 e hoje já conta com 37 associados que trabalham na APA com turismo ecológico de base comunitária.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA – UFPB).

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VAI VISITAR A APA DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE?

Atenção às orientações:

“Tire apenas fotografias, deixe apenas pegadas, mate apenas o tempo e leve apenas memórias”. Essa é a frase que fica logo na entrada do Centro de Visitantes da APA da Barra do Rio Mamanguape, localizada às margens do estuário da região, na comunidade da Barra de Mamanguape. Logo o turista percebe que está em duas Unidades de Conservação: A Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape e a Área de Relevante Interesse Ecológico Manguezais da Foz do Rio Mamanguape. E, portanto, existem algumas orientações de conduta ecológica para quem mora e quem visita a região. São normas presentes no plano de manejo, baseadas em princípios que visam segurança, cuidado e respeito ao meio ambiente e aos moradores locais:

• Proteja o patrimônio natural (flora e fauna) e cultural existente. Respeite as orientações e, caso testemunhe algum tipo de conduta desrespeitosa com a natureza, comunique à equipe da APA;

• Não polua. Mantenha o ambiente limpo, livre de lixo. Se você trouxer lanches e bebidas que contenham embalagens e gerem resíduos, leve os resíduos e as embalagens vazias de volta para a sua casa;

• Respeite a flora e fauna da região. Ao encontrar com um peixe-boi-marinho ou com qualquer outra espécie ameaçada de extinção, mantenha distância, não toque, não alimente e não ofereça bebida. No caso de descumprimento destas orientações, o indivíduo poderá responder juridicamente por crime ambiental.

• Deixe cada coisa em seu lugar. Não construa, não quebre ou corte galhos de árvores, mesmo que estejam mortas ou tombadas, pois podem estar servindo de abrigo para aves ou outros animais;

• Resista à tentação de levar lembranças da natureza para a casa. Deixe pedras, conchas, flores, artefatos, etc. onde você os encontrou. Cada qual tem a sua função ecológica;

• Trate os moradores da área com educação e respeito. Aproveite para aprender algo sobre os hábitos e sua cultura;

• Colabore com a educação de outros visitantes, transmitindo os princípios de mínimo impacto, sempre que houver oportunidade.

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Os pesquisadores pedem a colaboração de todos os visitantes para não tocar, não alimentar e nem fornecer bebida aos peixes-bois-marinhos. “A aproximação, o toque e a oferta de alimentos podem causar uma dependência desses animais a estas ocasiões e trazer dificuldades para a adaptação deles à vida livre. Além disso, existem doenças que podem ser veiculadas nestes contatos, entre as pessoas e os peixes-bois. Ademais, determinadas tentativas de interação além de importunar podem machucar os animais”, explica o médico veterinário João Carlos Gomes Borges.

Ao encontrar um peixe-boi-marinho, o melhor a fazer é manter distância, respeitando o espaço do

animal, e apenas admirá-lo de longe. Se perceber que o peixe-boi está em situação de perigo, encalhado ou machucado, a orientação é para entrar em contato com o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho/ Fundação Mamíferos Aquáticos: (83) 99961-1338/ (83) 99961- 1352 (whatsapp).

Aos condutores de embarcações motorizadas (barcos, lanchas, jet skis e afins), a equipe alerta: antes de acionar o motor, olhe ao redor e verifique se tem peixe-boi próximo. A hélice em movimento pode machucar e matar o animal. Só ligue o motor se tiver certeza de que o animal não está por perto. Se estiver navegando e avistar o animal nas proximidades, reduza a velocidade ou desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos.

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FOTO EDSON ACIOLI ACERVO FMA

viva o peixe-boi-marinho parTicipa do proJeTo conexões éTicas

O Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental - está participando das atividades do Projeto Conexões Éticas do Terceiro Setor. Tratase de uma iniciativa, coordenada pela Petrobras em cooperação com a Unesco, que tem como objetivo contribuir para a promoção, o desenvolvimento e o fortalecimento de capacidades das Organizações da Sociedade Civil que trabalham nas áreas social e ambiental no Brasil para construir um país melhor e mais justo para todos, e que ajuda a espalhar a cultura de compliance pelo terceiro setor. O termo “compliance” tem origem no verbo em inglês “to comply”, que significa “cumprir”. Tem sido bastante utilizado em organizações do mundo inteiro e nada mais é do que um conjunto de práticas e condutas que visam respeitar as leis, trazendo mais ética e transparência para as atividades e gestão de organizações e empresas.

“Participar do Conexões Éticas nos permitiu perceber o quanto a Fundação Mamíferos Aquáticos leva a sério suas atividades, respeitando e buscando sempre a legalidade e a boa condução de suas ações, e também exercitar a atenção sobre temas importantes relacionados à ética, a valores institucionais e à gestão diária da organização e do projeto por meio de estudos e resoluções de caso, o que nos proporcionou também prevenir situações indesejadas e estruturar estratégias para momentos de crise ou de enfrentamento a problemas que porventura

possam surgir”, ressalta o coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, professor Dr. João Carlos Gomes Borges.

O Conexões Éticas vem capacitando gestores do terceiro setor como uma forma de reconhecimento, continuidade e fortalecimento de suas ações. O projeto está inserido no esforço para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da ONU, e está em sintonia com a missão institucional da UNESCO de contribuir para o desenvolvimento da agenda de promoção da igualdade de oportunidades, da inclusão social, bem como da promoção de maior transparência e responsabilização na utilização de recursos. Para saber mais sobre esta iniciativa, acesse: @conexoeseticas no Instagram ou conexoeseticas.org.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB).

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FOTO KARLILIAN MAGALHÃES ACERVO FMA

com a aJuda de volunTários, Fma e proJeTo viva o peixe-boi-marinho reTiram mais de uma Tonelada de resíduos de praias do nordesTe e sudesTe

O mês de setembro foi dedicado à reflexão sobre o problema do descarte incorreto de resíduos nos oceanos e meio ambiente, um dos grandes desafios da Década do Oceano (2021-2030), e a principal pauta do International Coastal Cleanup Day, o Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias. No Nordeste do Brasil, nos dias 08, 17, 18 e 25/09, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – discutiu

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FOTOS ACERVO FMA

o tema e promoveu ações de limpeza de praia em comunidades litorâneas dos estados da Paraíba, Sergipe e Bahia (regiões onde monitora, diariamente, peixes-bois-marinhos reintroduzidos e as condições de seus habitats, o mar, manguezais, praias e estuários). A FMA também realizou ações de limpeza na região Sudeste, nos dias 04, 08, 17 e 30/09 em praias do Espírito Santo. Um momento muito importante principalmente diante das estimativas atuais que apontam que até 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos. Nos quatro estados, em aproximadamente 13 Km de praias, foram recolhidos 1.063,9 Kg. As ações contaram com a participação de 309 voluntários (as), com destaque para as crianças das comunidades, que deram um show de responsabilidade socioambiental. Confira os balanços de cada estado:

PARAÍBA - No estado paraibano, as atividades começaram no dia 08/09, na Ilha do Amor, em Marcação, com um esquenta para a programação oficial de limpeza de praia. Em 1 Km percorrido, foram recolhidos 33,5 Kg de resíduos, sobretudo plástico. A se-

gunda atividade de limpeza de praia foi realizada no dia 17/09, na Barra de Mamanguape, na qual cerca de 20 voluntários percorreram 3,12 Km de praia e coletaram 59,6 kg. A terceira ação aconteceu no dia 25/09, em Cabedelo, na Praia de Ponta de Campina, onde foram coletados 13 Kg de resíduos em 1,5 Km de faixa de areia.

SERGIPE – No estado de Sergipe, a ação de limpeza de praia ocorreu em Aracaju, na manhã do dia 17/09, com concentração no Bar Solarium, localizado na Praia de Aruana. A atividade contou com a participação de 153 voluntários e foi iniciada com um aulão de aquecimento e depois o grupo seguiu para a limpeza de praia, recolhendo em 1 km de caminhada 226 kg de resíduos.

BAHIA – Na Bahia, as ações de limpeza de praia aconteceram em Jandaíra, em duas praias: em Coqueiro, no dia 17/09, onde os voluntários, na sua maioria os agentes ambientais mirins do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, percorreram um trecho de aproximadamente 2 Km de praia e coletaram

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211 kg de resíduos; e em Mangue Seco, no dia 18/09, na praia de Mangue Seco, onde foi percorrido 1,57 Km de praia e foram coletados 142,8 Kg de resíduos, com a participação de crianças da comunidade.

ESPÍRITO SANTO - As ações de limpeza realizadas pela Fundação Mamíferos Aquáticos no Espírito Santo aconteceram nos dias 04, 08, 17 e 30/09 nas praias de Itaoca, Itaipava e Lagoa de Guanandy, e contaram com a participação de 70 voluntários. Em um total de 3,2 Km percorridos, foram coletados 378,5 Kg de resíduos.

Dentre os resíduos recolhidos durante as ações nos quatro estados: plástico, metal, vidro, isopor. Materiais que poderiam ser reaproveitados ou reciclados e que foram parar no mar, tornando-se uma verdadeira ameaça à vida marinha. Tudo foi pesado e passou por gravimetria. As informações foram encaminhadas para a Ocean Conservancy, que compilará o resultado de todos os voluntários do planeta e enviará para o banco de dados mundial da ONU. O

Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias é uma ação simbólica e totalmente voluntária que tem como principal objetivo sensibilizar e alertar a população para a importância do descarte correto de resíduos. Esta ação também visa provocar mudanças de atitude e gerar a reflexão sobre as consequências negativas que o lixo ocasiona no meio ambiente e como podemos minimizar ou anular tais impactos.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB).

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FoTo reFlexão

Esta é a foto de um corte com 3 cm de profundidade causado por hélice de embarcações motorizadas. A vítima foi “Astro”, o primeiro peixe-boi-marinho reintroduzido no Brasil. Os atropelamentos têm sido uma grande ameaça aos peixes-bois-marinhos no litoral do Nordeste. Pedimos mais atenção aos condutores de embarcações motorizadas (barcos, lanchas, jet skis e afins): Antes de acionar o motor, olhe ao redor, verifique se tem peixe-boi próximo. Só ligue o motor se tiver certeza que o animal não está por perto. A hélice em movimento pode ferir e matar o animal; Se estiver navegando e avistar o animal, reduza a velocidade e desligue o motor para evitar colisões e atropelamentos.

O peixe-boi-marinho é um dos mamíferos aquáticos mais ameaçados de extinção no Brasil e isto muito se deve aos impactos ambientais causados pelos seres humanos. Se todos colaborarem, esta situação pode ser revertida. Caso encontre um peixe-boi-marinho, mantenha distância do animal e apenas admire de longe. Não alimente, não toque, não forneça bebida. Se ele estiver em perigo, machucado ou encalhado, entre em contato com o Projeto Viva o PeixeBoi-Marinho: (83) 99961-1338 / (83) 99961-1352 (whatsapp) / (79) 99130-0016

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FOTO ALINE RAMOS ACERVO FMA

FragmenTos de óleo aparecem no liToral norTe da paraíba, local de ocorrÊncia de peixes-bois-marinhos

O peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) é um dos mamíferos aquáticos mais ameaçados de extinção no Brasil. Na manhã do dia 02 de novembro, durante monitoramento de campo no estuário da Barra do Rio Mamanguape, litoral norte da Paraíba, técnicos do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho (PVPBM) e da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio identificaram uma grande quantidade de fragmentos de óleo no estuário e também em praias da região, conhecida por ser um local de existência de peixes-bois-marinhos e de outras espécies ameaçadas de extinção como o boto-cinza, o peixe mero e o cavalo-marinho. Imediatamente, o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho reportou aos órgãos ambientais atuantes na Paraíba sobre a ocorrência e solicitou providências urgentes para a retirada do óleo e limpeza das praias. As equipes do PVPBM, da APA da Barra do Rio Mamanguape, da Prefeitura de Rio Tinto e Prefeitura de Marcação trabalharam na catalogação e limpeza das regiões afetadas. Em apenas dois dias foram retirados mais de 500 kg de óleo de praias de Rio Tinto, Marcação e Baía da Traição. A Marinha do Brasil e o Ibama ainda estão investigando a origem do resíduo.

“A presença deste óleo pode trazer diversos impactos para as espécies aquáticas, os ambientes e as pessoas que utilizam estas áreas. Tratando-se das espécies marinhas, muitos animais podem ingerir estes fragmentos, a exemplo dos peixes-bois-marinhos. Isto pode acontecer de modo direto (conforme registrado em uma situação semelhante no estado do Ceará) ou indireto, quando este óleo ou fragmentos deste permanece aderido em bancos de capim-agulha, algas-marinhas ou outros itens alimentares utilizados pela espécie”, alerta o pesquisador e médico veterinário Prof. Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho.

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FOTOS ACERVO FMA / APA DA BARRA DO RIO MAMANGUAPE

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB).

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conservação marinha

pesQuisa avalia impacTo do óleo no liToral do nordesTe

Em 2019, um grave derramamento de óleo atingiu o litoral do Brasil, sobretudo a região Nordeste, acometendo mais de 400 localidades ao longo de cerca de 3.000 Km de costa, e foi considerado o maior desastre ambiental provocado por vazamento de petróleo na história do país. Inúmeros foram os registros de impacto na fauna e flora nas regiões atingidas e não se sabe ao certo até quando esses impactos permanecerão nos ambientes. O biólogo do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, Allan Oliveira, está desenvolvendo uma pesquisa de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba intitulada “Avaliação do impacto do derramamento de óleo nos peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus), ecossistemas costeiros e as implicações na saúde pública”.

Sob a orientação do professor Dr. João Carlos Gomes Borges, Allan Oliveira e a equipe do Projeto

Viva o Peixe-Boi-Marinho têm percorrido manguezais e estuários da Paraíba, de Sergipe e da Bahia para coletar amostras de sangue de alguns peixesbois-marinhos reintroduzidos e de outras espécies aquáticas para avaliação de danos do genoma por meio de análises de genotoxidade. O pesquisador também está identificando os ecossistemas acometidos (manguezais, arrecifes, pradarias de capim- agulha e bancos de macroalgas) e comparando a estrutura vegetal da área impactada com uma área não impactada. As avaliações estão ocorrerendo por meio de análises laboratoriais e constatações em campo.

“Para a conservação é um trabalho de grande importância, avaliar tanto os animais como os bosques de mangues. O mangue é considerado um berçário da vida marinha. A tainha e o marisco estão relacionados diretamente com a alimentação dessas comunidades costeiras, o que enfatiza também a

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FOTOS DANIEL ASSIS ACERVO FMA

importância da pesquisa para a saúde pública. Caso a gente encontre uma intoxicação nesses animais ou uma bioacumulação por conta do derramamento de óleo será um alerta para a saúde pública, poque as pessoas ainda continuam se alimentando da tainha e do marisco. E o peixe-boi-marinho é a nossa espécie bandeira, a gente está fazendo a análise dos animais que ocorrem nessas regiões”, ressalta o pesquisador Allan Oliveira.

As pesquisas estão ocorrendo na Barra de Mamanguape (litoral norte da Paraíba), no rio Vaza Barris (em Aracaju - SE) e no complexo estuarino PiauíFundo-Real (entre o litoral sul de Sergipe e norte da Bahia). “Sem dúvida, é um trabalho que requer muita atenção e muito esforço, porque trabalhar no mangue não é fácil. É difícil de se locomover, é um local que tem pouca ventilação, às vezes muito mosquito, mas estamos resistindo, seguindo com essa missão”, complementa Allan Oliveira.

Para o professor Dr. João Carlos Gomes Borges, coordenador do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, a pesquisa é de fundamental importância para a conservação da biodiversidade costeira do Brasil: “Considerando os impactos decorrentes do derramamento de óleo ocorrido em 2019, bem como as recentes evidências de “bolotas” de óleo que

acometeram diversas praias do litoral nordestino, torna-se de grande relevância dispor de métodos analíticos que possibilitem identificar os impactos remanescentes nos ecossistemas costeiros e nas espécies aquáticas associadas a estes”. Diante da complexidade e urgência do tema, o professor adianta que em breve sairão os primeiros resultados do estudo. “Buscamos a estruturação de uma rede de colaboração científica, que reúne diferentes especialistas e esperamos que nos próximos meses possamos compreender a situação dos nossos manguezais, peixes-bois-marinhos e recursos pesqueiros encontrados nestes ambientes atingidos”, ressalta.

O Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental – é uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção da espécie no Nordeste do Brasil. Atua nas áreas de pesquisa, tecnologia de monitoramento via satélite, manejo, educação ambiental, desenvolvimento comunitário, fomento ao turismo eco pedagógico e políticas públicas. Conta com o apoio da APA da Barra do Rio Mamanguape, Arie Manguezais da Foz do Rio Mamanguape e do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (PPGEMA - UFPB).

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diário de bordo

Eu me chamo Rodolfo Alves e estou na Fundação Mamíferos Aquáticos desde 2017, quando participei de uma seleção, após o término de meu doutorado. Hoje, já se passaram 5 anos e posso dizer que foi uma das melhores decisões que tomei em minha vida. Afinal de contas, eu trabalho dentro da área que escolhi, a Biologia. Costumo dizer que sou um sortudo, pois dentro da FMA pude aprender e continuo aprendendo diariamente com as pessoas, com os projetos, com as vivências e experiências.

A minha relação com o peixe-boi-marinho começou, de forma mais direta, em 2018 quando tive a primeira oportunidade de conhecer “Astro”, o peixe-boi-marinho que vive no estado de Sergipe e é monitorado pela equipe técnica do PVPBM/FMA. Na ocasião pude compreender melhor a biologia, o comportamento e as interações antrópicas que impactam diretamente a espécie. Desde então, me aprofundei mais no conhecimento sobre a conservação da espécie e busquei ajudar por meio da construção de novos projetos e iniciativas que propusessem a conservação do peixe-boi-marinho e seus habitats.

Dentre as atividades que exerço na instituição, uma das mais desafiadoras é a busca por projetos e captação de recursos, pois por meio deles conseguimos executar grande parte das atividades conservacionistas e proporcionar uma qualidade de vida, não só para a espécie, bem como para as comunidades que dependem do ambiente marinho e estuarino. Des-

sa forma, trabalhar em um projeto socioambiental é muito enriquecedor e estimulante, já que contribui positivamente em várias esferas. Entretanto, a aprovação de um projeto requer um esforço gigante e participação de todos, o que demanda muito de nossa equipe.

A experiência mais incrível que eu tive ao longo dos meus cinco anos na instituição foi a soltura de dois peixes-bois-marinhos na Barra de Mamanguape (Vitória e Parajuru). Na oportunidade pude participar de todo o processo e acompanhar de perto todo a aplicabilidade dos conhecimentos técnicos da medicina veterinária e da biologia. Além disso, é importante destacar o fator emoção, pois esses dois peixes-bois-marinhos tinham uma linda história de superação, ou seja, foi um momento muito especial, não só para mim como para toda equipe.

Trabalhar como biólogo em um projeto como o PVPBM, contribuir de forma direta para a construção de outros projetos e representar a FMA é um grande presente que aproveito todos os dias. Por fim, quero dizer que estar na Fma representa muito para mim. Muito obrigado!

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POR RODOLFO DE FRANÇA ALVES Biólogo, mestre e doutor em Ciências Naturais. Coordenador de Elaboração de Projetos e Captação de Recursos da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA)e Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho (PVPBM) FOTO ACERVO FMA
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avaliação da ecologia TróFica, habitat e esTado de sobrevivÊncia do peixe-boi-marinho no nordesTe do brasil

Para melhor compreender a existência dos possíveis efeitos desencadeados pelas mudanças climáticas nos padrões de distribuição dos peixes-boi-marinhos e capim-agulha, diversas linhas de pesquisa estão em andamento. Nesta direção, encontra-se em curso esforços destinados a mapear o habitat dos peixes-bois-marinhos na região Nordeste usando a ferramenta de análise espacial Sentinel-2, com ênfase no capim-agulha (sendo este considerado um dos principais itens da alimentação da espécie no Brasil).

Na avaliação dos potenciais impactos das mudanças climáticas na distribuição dos recursos utilizados pelos peixes-bois-marinhos e as áreas de alimentação serão testados diversos cenários de mudança climática através da parametrização de modelos de nicho ecológico (MaxEnt) (Phillips, 2009). Com a identificação dos atributos ecológicos relevantes para a composição das áreas utilizadas pela espécie e as características dos bancos de fanerógamas

marinhas (Edwards, 2013; Fuentes et al., 2016; Sill e Dawson, 2021) será possível comparar a distribuição prevista dos bancos de capim-agulha e os peixes-bois, identificando onde ocorrerá “provavelmente” a perda da adequabilidade dos habitats nas próximas décadas.

Outra direção desta pesquisa será estudar a ecologia alimentar dos peixes-bois-marinhos das Antilhas na costa norte brasileira, plano de estudo usando análise de isótopos estáveis específicos em massa e compostos. Entre os propósitos envolvidos, será possível determinar as mudanças na amplitude da dieta (nicho isotópico) para obter uma visão ampla da relação da espécie e os seus recursos.

Para atingir esse objetivo, serão realizadas análises de isótopos (13C e 15N) em amostras ósseas de 200 peixes-bois coletados ao longo de 30 anos na costa nordeste do Brasil, provenientes de quatro instituições brasileiras (ICMBio, AQUASIS, Funda-

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coluna cienTíFica
POR EMMA DEEKS, TERRY DAWSON E PAVEL KRATINA Pesquisadores da Kings College London & Queen Mary University of London

ção Mamíferos Aquáticos e UERN) e complementados com coleções de ossos do Museu de História Natural. As áreas de elipse padrão (SEAs) de populações individuais de diferentes habitats serão calculadas para estimar seus nichos tróficos de forma semelhante a estudos já realizados (Jackson et al., 2011; Costa et al., 2020; Carvalho et al., 2022).

Serão utilizadas pelo menos 10 amostras (organismos individuais), mas idealmente até 20 para cada população, para obter uma estimativa confiável de seu nicho trófico (isotópico). Essas populações serão comparadas quanto às diferenças em suas amplitudes de dieta e uso de habitats e, dependendo do tamanho da amostra, será possível comparar diferenças entre machos/fêmeas e juvenis/adultos. Seguindo as metodologias de Carvalho et al. (2022), será utilizado o dente molar inferior direito. Para cada amostra obtida, serão reunidas as informações sobre idade, tamanho, sexo, horário e local de origem do animal.

Para a determinação da posição trófica dos peixes -bois-marinhos de vida livre no Nordeste do Brasil, será realizada uma análise isotópica específica de compostos de 13C e δ15N de aminoácidos (CSIA -AA) em amostras ósseas. Será estabelecida uma metodologia para o uso de análise de isótopos estáveis específicos de compostos em ossos de mamíferos marinhos. O CSIA-AA permite maior precisão em tamanhos de amostras reduzidas (Bowes e Thorp, 2015; Whiteman et al., 2019) e supera artefatos de preservação que são conhecidos por serem um problema durante as análises realizadas (Arrington e Winemiller, 2002).

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FOTOS DIVULGAÇÃO

A cada edição, a Revista A Bordo traz artigos e resumos científicos relacionados à conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats. Confira agora um artigo científico elaborado pelo pesquisador e ecólogo do Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, Sebastião Silva, mestre em Ecologia e Monitoramento Ambiental pela Universidade Federal da Paraíba.

Caracterização ambiental das áreas de vida de peixes-bois-marinhos (Trichechus manatus) soltos no Nordeste do Brasil

1. Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental – PPGEMA, Universidade Federal da Paraíba – UFPB;

2. Fundação Mamíferos Aquáticos – FMA;

3. Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), Universidade Federal da Paraíba – UFPB;

4. Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. joao@mamiferosaquaticos.org.br;

1. INTRODUÇÃO

Na costa brasileira os peixes-bois-marinhos ocorrem de forma descontínua do Amapá até Alagoas, com evidências de animais reintroduzidos utilizando o litoral de Sergipe e Bahia (Lima et al., 2011; Alves et al., 2015; IUCN, 2022). Os padrões de distribuição podem ser influenciados por aspectos relacionados ao tipo de ambiente e ao nível de degradação ambiental. Por estes motivos, este trabalho teve como objetivo caracterizar as áreas de vida de peixes-bois-marinhos reabilitados e soltos no nordeste do Brasil

2. MATERIAIS E MÉTODOS

As atividades foram desenvolvidas nos estados da Paraíba, Sergipe e Bahia entre os anos de 2017 a 2019. Neste estudo utilizou-se o banco de dados da Fundação Mamíferos Aquáticos, contendo as coordenadas geográficas de seis peixes-bois soltos monitorados por telemetria (VHF e satélite), totalizando 2.717 dias. As localizações de cada animal foram plotadas usando o programa QGIS 2.18, e os mapas de densidade das áreas utilizadas foram criados. Essa espacialização auxiliou na definição dos locais para caracterização ambiental (Figura 1). Um total de 178 pontos foram definidos ao longo das áreas de vida dos seis peixes-boi-marinhos monitorados.

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pesQuisa
Autores: Sebastião Silva dos Santos², Iara dos Santos Medeiros², Isis Chagas de Almeida¹,², Vanessa Araujo Rebelo¹,², Allan Oliveira Barreto Carvalho¹,², Rafael Menezes³, Miriam Marmontel , João Carlos Gomes Borges¹,².

Para fins de caracterização das áreas foram identificados o tipo de ambiente, solo, profundidade, vegetação aquáticas (figura 2), parâmetros físicoquímicos da água, presença de resíduo, ocupações humanas e embarcações.

O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para determinar diferenças na presença de itens alimentares (va-

Figura 1. Figura 2.

Espacialização das coordenadas geográficas e seleção dos pontos de caracterização ambiental na área de uso do peixe-boi-marinho Yara no rio Mamanguape, Paraíba.

riável de resposta) entre os anos (2017 a 2019). O teste de Mann-Whitney foi utilizado para verificar a presença de itens alimentares entre as estações seca e chuvosa. Quando diferenças foram encontradas, o teste post hoc de Dunn foi usado para identificar grupos heterogêneos.

Identificação dos itens de alimentação presentes nas áreas utilizadas pelos peixes-bois-marinhos

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3. RESULTADOS

Os resultados mostraram uma preferência dos peixes-bois-marinhos por áreas abrigadas. Com relação ao tipo de solo encontrado, constatou-se que o do tipo arenoso estavam presente em mais 50% dos pontos caracterizados. Foram identificadas 43 espécies de vegetais considerados possíveis itens alimentares, porém constatou-se redução na disponibilidade destes itens ao longo dos anos e que os recursos alimentares estavam disponíveis em maiores quantidades durante a estação seca.

Quanto a qualidade da água, observou-se uma alta sobreposição no espaço multivariado dos indivíduos mostrando que os animais utilizaram ambientes com as características físico-química e da água semelhantes com uma leve diferenciação para área da Tita que utilizou locais mais a montante do rio Mamanguape. O estuário do Rio Paraíba e a área de costa na praia de Cabedelo, no estado da Paraíba, apresentaram os maiores índices da presença de resíduo, ocupações humanas e embarcações.

Os peixes-bois-marinhos soltos apresentaram preferência por locais com profundidade inferior a dois metros, sendo estes locais situados principalmente dentro dos estuários, dotados de áreas abrigadas e com redução das ações das correntezas e ondas, disponibilidade de recursos alimentares e fontes de água doce.

4. AGRADECIMENTOS

Fundação Mamíferos Aquáticos; Programa de PósGraduação em Ecologia e Monitoramento Ambiental (PPGEMA) da Universidade Federal da Paraíba; APA Costa do Corais/ICMBio; Nortronic; APA Barra do Rio Mamanguape/ICMBio; CEPENE/ICMBio; Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos em parceria com a Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental; Programa Nacional para a Conservação dos Peixes-bois-Marinhos (Trichechus manatus manatus), realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela Fundação Grupo o Boticário de Apoio a Natureza.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alves, M.D.O, Kinas, P.G., Marmontel, M., Borges, J.C.G., Costa, A.F., Schiel, N., Araújo, M.E., 2015. First abundance estimate of the Antillean manatee (Trichechus manatus manatus) in Brazil by aerial survey. J. Mar. Biol. Assoc. United Kingdom 96: 1–12. doi:10.1017/ S0025315415000855

Lima, R. P., Paludo, D., Soavinski, R. J., Silva, K. G., Oliveira, E. M. A. 2011. Levantamento da distribuição, ocorrência e status de conservação do Peixe-Boi Marinho (Trichechus manatus, Linnaeus, 1758) no litoral nordeste do Brasil. Natural Resources, v: 41- 57.

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ilusTração

Em todas as edições, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordam o universo dos animais aquáticos e de seus habitats, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Nesta edição, estamos apresentando a nova marca da campanha “Ajude a conservar o peixe-Boi-Marinho”, ilustrada pela designer paraibana Rejane Maciel.

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IDENTIDADE | CAMPANHA

Fundação mamíFeros aQuáTicos e mami WaTa Firmam parceria susTenTável

Sempre preocupada em vivenciar a prática da sustentabilidade socioambiental, a ONG Fundação Mamíferos Aquáticos tem buscado soluções eco eficientes para as atividades diárias. Com este propósito, firmou uma parceria com a Mami Wata, responsável por criar os primeiros filtros solares 100% naturais no Brasil. Assim, as equipes da Fundação estão trabalhando protegidas dos raios ultravioletas e ao mesmo colaborando para a conservação do ambiente costeiro-marinho.

“Como a equipe FMA desenvolve suas atividades, em grande parte do tempo, sob o sol torrencial do nordeste brasileiro, torna-se necessário o uso frequente de filtros e protetores solares. Atualmente, no mercado nacional, há uma grande limitação de produtos de proteção solar naturais, isto é, que protejam a saúde humana e que não causem danos ao meio ambiente. Dessa forma, o lançamento de filtros e protetores solares pela Mami Wata surgiu como uma grande oportunidade de unir essas características às ações de conservação da FMA”, ressalta Jociery Vergara-Parente, diretora presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos.

A Mami Wata é uma empresa criada em 2019 por uma bióloga e uma química, Érika e Olivia, que, preocupadas com o meio ambiente, desenvolveram filtros solares 100% naturais e seguros para a fau-

na aquática assim como para a saúde humana. Os filtros solares da Mami Wata são produzidos com produtos minerais e com matéria-prima da flora brasileira, são testados e aprovados pela Anvisa, resistentes à água, veganos e não são testados em animais.

Além do Mami Wata patrocinar os filtros solares de toda a equipe da FMA, ainda doa parte das vendas do Filtro Mini Wata para as ações de conservação da Fundação Mamíferos Aquáticos, viabilizando que novas ações sejam implementadas para a proteção do ambiente marinho, em especial para o peixe-boimarinho, mascote deste produto.

“Nós da FMA somos gratos por esta parceria e por saber que cada vez mais temos pessoas e empresas que acreditam e investem em um mundo mais sustentável, como a Mami Wata. Vida longa para esta parceria”, complementa Jociery. Para saber mais sobre os produtos e os protetores solares da Mami Wata, acesse: mamiwata.eco.br (site) e @mamiwatabrasil (Instagram).

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Fma
FOTO DANIEL ASSIS ACERVO FMA
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INDICAÇÕES

CIDADES E SOLUÇÕES: como construir uma sociedade sustentável

Escrito por André Trigueiro, jornalista especializado em gestão ambiental e sustentabilidade, “Cidades e Soluções: como construir uma sociedade sustentável” debate a importância de se discutir as cidades para salvar o planeta, já que a maior parte da população mundial vive hoje nos centros urbanos, com grandes aglomerações de pessoas e concreto, inúmeros problemas e falta de planejamento. Quais as mudanças necessárias para assegurar a sobrevivência do planeta? Dividido em nove grandes temas, o livro é construído com textos curtos e objetivos voltados aos públicos mais variados. Ao fim de cada capítulo, Trigueiro apresenta um resumo de entrevistas com personalidades de influência internacional, como Noam Chomsky, Al Gore, Jeffrey Sachs, Vandana Shiva, Muhammad Yunus e Achim Steiner, entre outros. Há também a seção “Ecodicas”, que traz sugestões sustentáveis de fácil aplicação no dia a dia.

Autor: André Trigueiro

NOSSO PLANETA

Série documental, dividida em 8 capítulos, com imagens impressionantes de várias espécies de fauna do planeta. A série revela cenas raras do dia a dia dos animais e os desafios que enfrentam diante do impacto gerado pelas mudanças climáticas em seus habitats. Foram 400 mil horas de imagens rodadas em qualidade 4K (sendo 20 mil submarinas) captadas em 60 países, incluindo o Brasil. Uma super produção que contou com a participação de mais de 600 profissionais. As cenas emocionam e provocam uma forte reflexão sobre a atual situação da biodiversidade do planeta, o quanto as mudanças climáticas provocadas pelo impacto nocivo das atividades antrópicas estão afetando a dinâmica da natureza, que, apesar de grande, generosa, bela, resiliente, vive ameaçada.

Produção: WWF, Netflix e Silverback Films

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E v ENTOS

Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2023 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins.

XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE OFTALMOLOGIA VETERINÁRIA

Data: 29 a 31 de março de 2023 Local: Cabo de Santo Agostinho – PE https://www.congressocbov.com.br/

CONGRESSOS

VET EM FOCO

Data: 25 a 27 de abril de 2023 Local: Campinas - SP https://congressovetemfoco.com.br/

LATIN AMERICA AND CARIBBEAN FISHERIES CONGRESS

Data: 15 a 18 de maio de 2023 Local: Cancun – México https://lacfc.fisheries.org/

42º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA

Data: 24 a 26 de maio de 2023 Local: Fortaleza – CE https://www.anclivepa2023.com.br/

XI CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DO COLETIVO

Data: 25 a 27 de maio de 2023

Local: Recife – PE https://institutomvc.org.br/site/index.php/xiconferencia/

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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi-Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org @vivaopeixeboimarinho

FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS

Sítio Barra do Mamanguape, s/n Zona Rural - Rio Tinto – PB (83) 99961.1338 | (83) 99961-1352 | (79) 99130-0016 www.mamiferosaquaticos.org.br @mamiferosaquaticos

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