Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - 7ª Edição

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Fundação Mamíferos Aquáticos

JUN/2015

EDIÇÃO 7

R E V I S TA

A BORDO

FMA LANÇA APLICATIVO PARA COLABORAR COM A CONSERVAÇÃO MARINHA Campanha Ajude a Preservar o Peixe-Boi Marinho volta a percorrer praias da PB

Curadoria do Artesanato da PB visita a Barra de Mamanguape para analisar produção local

Peixes-bois marinhos do Brasil podem ser transferidos para Guadalupe

FOTO KARLILIAN MAGALHÃES

PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO


FOTO LUCIO BORGES

Há 25 anos promovendo a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental.


EDIÇÃO 7


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ESPECIAL Peixes-bois marinhos do Brasil podem ser transferidos para Guadalupe CAPA

10 FMA lança aplicativo que pode ajudar na conservação marinha SUSTENTABILIDADE

12 SOCIAMBIENTAL

PESQUISA

20 Relação entre os ecossistemas aquáticos e a pesca FMA

24 Conservação de manguezal é tema de projeto que terá cooperação da FMA

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ÚLTIMAS

Curadoria do Artesanato da PB analisa produção da Barra de Mamanguape COLUNA CIENTÍFICA

14 Como o turismo ecológico pode contri-

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FOTO REFLEXÃO

buir na conservação de espécies EDUCAÇÃO AMBIENTAL

16 Campanha Ajude a Preservar o Peixe-Boi

ILUSTRAÇÃO

29 Por Julio Cesar

Marinho volta a percorrer praias da PB

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DIÁRIO DE BORDO Por Sé Silva

REVISTA A BORDO

Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges e Maria Elisa Pitanga TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

Jornalismo Raquel Passos Coluna Científica Maíra Braga Diário de Bordo Sé Silva Resumo Científico Karine Magalhães, Ingrid Lima e João Carlos Gomes Borges GPS Ricardo Araújo e Maíra Braga

EQUIPE PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO

Coordenação João Carlos Gomes Borges (Coordenador executivo do

Projeto/Diretor-presidente da FMA) joao@mamiferosaquaticos.org.br Maria Elisa Pitanga (Coordenadora técnica do Projeto) elisapitanga@mamiferosaquaticos.org.br Jociery Vergara-Parente (Coordenadora científica e Diretora vice-presidente da FMA) jociery.parente@mamiferosaquaticos.org.br

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GPS

Analista Ambiental Elismara Oliveira (Médica Veterinária) elismara@mamiferosaquaticos.org.br

Educação Ambiental/ Inclusão Social/ Eco-Oficina Peixe-Boi & Cia Daniela Araújo (Técnica de Inclusão Social)

daniela.araujo@mamiferosaquaticos.org.br Maíra Braga (Assessora técnica) maira@mamiferosaquaticos.org.br

Assessoria de Comunicação Karlilian Magalhães (Jornalista)

karlilian@mamiferosaquaticos.org.br

Administração Financeira Márcia Bernardo (Diretora Administrativa e Financeira da FMA) marcia@mamiferosaquaticos.org.br

Colaboradores Genilson Geraldo (Agente de campo) Sebastião Silva (Graduando em Ecologia)


FOTO LUCIANO CANDISANI

EDITORIAL A Revista A Bordo é um periódico de comunicação científica que tem como objetivo sensibilizar os leitores sobre a importância da conservação dos animais aquáticos e do meio ambiente. Nasceu em 2014, durante a execução do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - uma estratégia de conservação e pesquisa da Fundação Mamíferos Aquáticos para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Em sua sétima edição, a Revista A Bordo traz uma boa nova: o lançamento do BIOTA, o aplicativo de celular desenvolvido pela Fundação Mamíferos Aquáticos para ajudar na conservação marinha. Agora, qualquer pessoa que encontrar um animal (debilitado ou não), em praias de qualquer parte do mundo, pode utilizar o aplicativo e contribuir com informações. Nesta edição, confira, também, uma matéria especial sobre o movimento de pesquisadores e cientistas brasileiros para tentar impedir o envio de cinco peixes-bois marinhos do Brasil para Guadalupe, região do Caribe. O grupo alega, em nota técnica, que esta transferência pode colocar em risco a vida desses animais e prejudicar a conservação da espécie tanto no Brasil como nos países situados próximos à Guadalupe. A Revista traz ainda informações sobre as ações de inclusão social e educação ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho na Paraíba, e sobre as atividades da FMA em Sergipe voltadas para a conservação do manguezal de Aracaju. Quem assina a coluna científica desta edição é a turismóloga Maíra Braga, que conta como o turismo ecológico pode contribuir na conservação de espécies ameaçadas. Na coluna Diário de Bordo, conheça um pouco mais sobre Sé Silva, estudante de Ecologia, natural da Barra de Mamanguape, colaborador do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. A seção Pesquisa apresenta um resumo científico interessante sobre a percepção de pescadores e marisqueiros sobre a conservação de ecossistemas aquáticos e o peixe-boi marinho. A Revista também traz uma ilustração de cunho ambiental assinada pelo estudante de Design Julio Cesar Santos, além da seção foto reflexão e de indicações de livros e agenda de eventos científicos previstos para 2015 nas áreas de Biologia, Medicina Veterinária, Ecologia e Meio Ambiente. Boa leitura! Karlilian Magalhães, Assessora de Comunicação da Fundação Mamíferos Aquáticos.

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FOTO LUCIANO CANDISANI

ESPECIAL

Peixes-bois marinhos do Brasil podem ser transferidos para Guadalupe, na região do Caribe Cientistas e pesquisadores de instituições ligadas à conservação do mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil estão tentando impedir que esta ação aconteça e lutam pela permanência dos animais no país.

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Ainda este semestre, o Governo Brasileiro, num acordo com uma instituição internacional, pretende enviar cinco peixes-bois-marinhos (que, neste momento, se encontram em Itamaracá-PE) para Guadalupe. Os responsáveis pela iniciativa alegam que o Brasil está colaborando com um esforço internacional para a conservação dos sirênios e que os animais em questão (Netuno, Xuxa, Sereia, Marbela e Toquinho) participarão de uma experiência científica voltada para a reintrodução da espécie naquele país. Por uma série de questões relacionadas à preocupação com a genética, a saúde, os aspectos biológicos, ecológicos e status de conservação da espécie no Brasil, pesquisadores e cientistas brasileiros representantes de instituições dedicadas à conservação de sirênios no Brasil se uniram numa mobilização para tentar impedir que essa transferência aconteça. Dentre as instituições engajadas na mobilização, estão: a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Associação Amigos do PeixeBoi (AMPA), Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA), e o Centro de Preservação e Pesquisa de Mamíferos Aquáticos (CPPMA). Assim que souberam desta pretensão do Governo, em 2014, preocupados com os animais e com a situação da

conservação da espécie no país, os pesquisadores enviaram uma carta ao ICMBio e ao Ministério do Meio Ambiente questionando essa pretensão. Sem obter resposta dos órgãos, o grupo então decidiu entrar com uma ação no Ministério Público Federal (MPF). O MPF entendeu como sendo legal esse envio, porém, em duas notas técnicas, os pesquisadores especialistas no assunto levantam uma série de questões que garantem que esta ação do Governo pode colocar em risco a vida desses animais e prejudicar a conservação da espécie tanto no Brasil como nos países situados próximos à Guadalupe onde os peixes-bois ainda podem ser encontrados. Em documento encaminhado ao Ministério Público Federal, os especialistas elencaram os motivos para não serem a favor da transferência destes animais. Em Nota Técnica Conjunta protocolada no órgão, consta que: “os animais em questão possuem grande importância para pesquisas e ações de conservação da espécie no país, podendo ser mantidos em um cativeiro em ambiente natural e até fazer parte de um programa de melhoramento genético brasileiro. O peixe-boi-marinho é uma espécie ameaçada de extinção, com áreas de baixa densidade populacional, distribuição atual descontinua, porém, com a população total desconhecida no Brasil”.

FOTO LUCIANO CANDISANI

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Segundo o grupo de pesquisadores brasileiros que defendem a permanência dos cinco exemplares de peixe-boi marinho, os animais indicados para exportação, ainda que considerados bons reprodutores, deveriam fazer parte de algum programa local de repovoamento de áreas de ocorrência histórica da espécie no Brasil. A reprodução assistida em cativeiro é uma estratégia sinalizada pelo grupo como foco na recuperação da espécie em território brasileiro, por possuir papel ecológico neste ambiente. Outra observação levantada no documento é que o peixe-boi marinho é um animal de alta mobilidade, podendo se deslocar até 3 mil quilômetros. Assim, indivíduos que formarão esta nova população em Guadalupe poderiam facilmente se deslocar para locais onde há outras populações da espécie com características genéticas distintas. É de conhecimento público que as populações de peixe-boi marinho localizadas no Caribe, incluindo zonas costeiras da Venezuela, Colômbia, América Central, México e Flórida, são muito diferentes geneticamente das populações do Atlântico Sul que hoje se encontram na costa do Brasil e das Guianas. Estes dois grupos populacionais se separaram há mais de cem mil anos, em ambientes diferentes, e podem possuir adaptações distintas. De acordo com os pesquisadores da mobilização, isto gera um risco de depressão exogâmica no local de reintrodução (Antilhas), podendo ser uma ameaça à manutenção destas populações, uma vez que esses animais podem inserir alelos ou genótipos não adaptados às condições locais e causar a extinção local daquela população a curto prazo.

SITUAÇÃO Até o momento, os pesquisadores envolvidos na mobilização contra o deslocamento destes animais a Guadalupe enviaram uma carta manifestando preocupações ao Ministério do Meio Ambiente e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O grupo também protocolou a Nota Técnica Conjunta no Ministério Público Federal e organizou uma petição pública com um abaixo-assinado que está recolhendo assinaturas para tentar impedir a transferência destes cinco peixes-bois marinhos. O abaixo-assinado está disponível na internet e qualquer pessoa pode participar, basta clicar no link: www.change.org/peixe-boi. O desejo maior destes membros e instituições associadas é que a medida não seja efetivada, considerando os riscos para os espécimes envolvidos, as populações de peixesbois marinhos com ocorrência nos países situados próximos à Guadalupe, bem como a redução das ações conservacionistas com a espécie no Brasil.

A nota técnica alega ainda que como se trata de uma espécie ameaçada de extinção, não apenas no Brasil, mas no mundo, deve-se levar em conta o Princípio da Precaução que é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda mensurados precisamente. Este Princípio afirma que “a ausência da certeza científica formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a implementação de medidas que possam prever este dano”. Assim, como o dano não pode ser previsto e existe evidência de separação genética antiga, recomendase que a reintrodução da espécie em Guadalupe não seja feita com espécimes do Brasil.

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CAPA

FMA lança aplicativo que pode ajudar na conservação marinha POR RAQUEL PASSOS

A Fundação Mamíferos Aquáticos desenvolveu um aplicativo pioneiro no Brasil, chamado BIOTA. A ideia é aproximar pessoas do trabalho de conservação ambiental que a instituição já desenvolve com diversos programas e projetos, dentre eles, o monitoramento de praias – no qual monitores percorrem a faixa de areia de Sergipe-Alagoas diariamente em busca de animais marinhos encalhados ou que apresentem sintomas para resgate. Ao detectar o bicho debilitado, o monitor aciona a equipe da FMA e os médicos veterinários entram em ação com os processos de reabilitação do animal (seja mamífero aquático, ave ou tartaruga marinha). Depois de reabilitado, ele é devolvido ao habitat e assim a Fundação cumpre parte de sua missão que é promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental.

FOTO BRUNO J. M. DE ALMEIDA

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Com o aplicativo BIOTA, o cidadão irá ajudar a FMA no mapeamento de ocorrências e isso influenciará em pesquisas voltadas para a conservação marinha que também desenvolvemos em paralelo aos programas. Muitos programas e projetos ambientais nascem a partir de dados catalogados em vivências. O aplicativo BIOTA surge para dinamizar esse fluxo e amplia as oportunidades, incluindo o ambiente marinho estrangeiro. Funciona assim: a pessoa que portar um dispositivo móvel conectado à internet no sistema Android, seguirá as instruções de acesso e incluirá informações a respeito do animal que foi encontrado (debilitado ou não) em regiões com ambiente marinho. Ao realizar esse registro no BIOTA de qualquer parte do mundo, a equipe técnica da FMA receberá os dados pelo

FOTO ACERVO FMA


Para estimular o correto uso do aplicativo por parte da população (incluindo informações reais da ocorrência, com fotos e até mesmo nome da espécie), a Fundação criou um sistema de pontos acumulativos: quanto mais a pessoa informar corretamente, mais ganhará pontos e, assim, terá várias possibilidades de troca. Os brindes são produzidos pela Eco-Oficina Peixe-Boi & Cia, uma ação de cunho socioambiental que a FMA desenvolve há mais de 20 anos junto a

FOTO KARLILIAN MAGALHÃES

sistema e será possível catalogá-lo. Dessa forma, o cidadão ajudará aportando informações essenciais para pesquisa e conservação dos animais aquáticos e seus habitats. O aplicativo BIOTA funciona como um banco de dados de ocorrência dos animais em ambiente aquático em todo mundo, alimentando pesquisas e ações em prol da conservação marinha.

mulheres da comunidade da Barra de Mamanguape (PB). A venda das pelúcias de peixe-boi contribui para o desenvolvimento local e para a conservação da espécie. O prêmio máximo do BIOTA contempla uma viagem. Para baixar o aplicativo, é preciso ter um smartphone com plataforma android e acessar a loja de aplicativos da Google (Google Play). O aplicativo está cadastrado com o nome Biota FMA Conservação Marinha.

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SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Curadoria do Artesanato da Paraíba visita a Barra de Mamanguape para analisar produção local FOTOS KARLILIAN MAGALHÃES / ACERVO FMA

Grupos produtivos de comunidades da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape receberam, no final de abril, a visita da Curadoria do Artesanato do Estado da Paraíba. O presidente curador foi identificar e avaliar a produção do artesanato local e registrar os artesãos da região num cadastro nacional. O encontro foi facilitado pela Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), por meio do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, que, além das atividades de pesquisa voltadas para a conservação do

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mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil, também realiza ações que contribuem para o desenvolvimento das comunidades localizadas nas áreas de ocorrência da espécie. “Nós estamos trabalhando os grupos produtivos na região desde 2013 com o intuito de ampliar as possibilidades de desenvolvimento comunitário e de geração de trabalho e renda de forma coletiva e compartilhada, buscando sempre a valorização das


Croché, cestos em cipó, vagonite tradicional, fuxico e redes de pesca estão entre as peças artesanais produzidas na Barra de Mamanguape. potencialidades e o empoderamento destes grupos. No primeiro momento, oferecemos oficinas de capacitação com temas voltados para o empreendedorismo e o desenvolvimento comunitário, e, como fruto dessas atividades, os participantes elaboraram um plano de ação que previa, dentre outras vertentes, o desenvolvimento das habilidades para o mercado de trabalho. Acreditamos que a visita da curadoria é um passo importante neste processo”, explica Daniela Araújo, técnica de Inclusão Social do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. O encontro aconteceu na sede da Associação EcoOficina Peixe-Boi & Cia, onde são produzidas as pelúcias alusivas ao peixe-boi marinho e a outros mamíferos aquáticos, com o apoio da FMA. Os artesãos e artistas da localidade tiveram seus trabalhos avaliados pelo presidente curador José Nilton da Silva, que se mostrou surpreso com a produção da Barra de Mamanguape. “Encontramos aqui peças artesanais que estão quase desaparecendo, a exemplo das redes de pesca, do samburá e dos cestos feitos de cipó. O Governo da Paraíba quer resgatar essas

tradições das comunidades e a identidade cultural local”, conta José Nilton. Na ocasião, foram registrados também outros objetos feitos com cipó de fogo e a produção de croché, vagonite tradicional e fuxico. De acordo com o curador, o governo paraibano tem percorrido todo o território estadual para analisar, classificar e registrar o que está sendo produzido em termos de artesanato na região. Esta foi a primeira vez que a comunidade da Barra de Mamanguape recebeu a visita da curadoria. Os artesãos locais passaram por um critério de avaliação para verificar a classificação das peças produzidas, se estas poderiam de fato se consideradas como artesanato ou como artes manuais. Os participantes também fizeram uma demonstração em tempo real da produção das peças. Ao final do processo, os artesãos foram cadastrados e, em breve, receberão uma carteira de habilitação e identificação nacional, que os oficializará como artesãos e lhes dará direitos e vantagens, como a abertura de portas para participação em feiras, mais acesso a empréstimos e isenção de impostos.

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Como o ecoturismo pode contribuir para a conservação de espécies POR MAÍRA BATISTA BRAGA

Turismóloga, especialista em Gestão Ambiental e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, faz parte da equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos, atuando com temáticas socioambientais e políticas públicas.

Conhecer, apreciar e vivenciar lugares diferentes do seu cotidiano são alguns encantos que estimulam pessoas a viajar, a fazer turismo. E uma coisa é certa: a gente se motiva mais a cuidar, respeitar e conservar aquilo que a gente conhece, percebe a importância e admira. Esse é o primeiro ponto positivo que marca a contribuição do ecoturismo para a conservação de ecossistemas e espécies. Pode-se dizer que o aumento da consciência ecológica e a consequente proteção de áreas naturais propiciam campo e oportunidades para o ecoturismo e o turismo de observação, que contribuem para a conservação ambiental e para a geração de renda às comunidades locais. No mundo inteiro tem sido cada vez maior o número de pessoas interessadas nas práticas do ecoturismo, que podem incluir experiências de contempleção e observação da natureza. O turismo de observação pode ser entendido como um segmento do turismo no qual o visitante vai para áreas naturais e passa a observar sua beleza, contemplando a paisagem ou especificamente alguns de seus elementos, como aves ou mamíferos, por exemplo. Originado do chamado safári fotográfico, é uma prática de turismo que tende a ser associada ao ecoturismo, pois normalmente ocorre em ambientes naturais.

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Internacionalmente, algumas das práticas do turismo de observação mais conhecidas são: a observação de tigres na Índia, de ursos pandas na China, de gorilas na Uganda, de aves na Costa Rica e de lobos na França. No Brasil, destacam-se neste tipo de turismo os passeios de observação das baleias francas em Santa Catarina, das baleias jubartes na Bahia, dos golfinhos rotadores em Fernando de Noronha/ PE, dos botos-cor-de-rosa na Amazônia e dos peixes-bois marinhos em Alagoas e na Paraíba. Por agregar geração de renda à experiência de vivência junto à natureza, por meio da valorização e uso indireto e sustentável da biodiversidade, entende-se que este é um serviço ambiental que tem gerado benefícios socioeconômicos a muitas localidades, além dos benefícios para a conservação de espécies e de áreas naturais. Neste caso, o ecoturismo e o turismo de observação, enquanto serviços ambientais, representam a ligação entre os ecossistemas, o bem-estar humano e a economia. Poderíamos então pensar que essas práticas contribuem para o desenvolvimento sustentável? Sim. Quando planejada e executada sob os princípios da sustentabilidade, a visitação pública em áreas naturais pode ser considerada uma boa estratégia de desenvolvimento local, pois gera baixo impacto ambiental, apresenta caráter informativo, educativo

FOTO ARQUIVO PESSOAL

COLUNA CIENTÍFICA


FOTO MAÍRA BRAGA/ ACERVO FMA

Turismo de observação de peixe-boi marinho em Porto de Pedras (AL). Esta imagem foi registrada, em 2011, durante a execução do projeto “Peixe-Boi: Conhecer para Proteger”, realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos. e sensibilizador (educação ambiental vivenciada para visitantes e comunitários), amplia as alternativas de renda para as comunidades, valoriza as culturas e ambientes locais e colabora para a conservação. E a boa notícia é que sim, isso existe na prática. Vamos aproveitar para ilustrar “essa teoria” com o exemplo que ocorre no litoral norte de Alagoas. Todos estes fatores podem ser observados no (eco) turismo de observação do peixe-boi realizado em Porto de Pedras e São Miguel dos Milagres, onde a atividade é ordenada, regulamentada e empreendida pela população local, de forma associativa e de base comunitária, gerando renda direta para cerca de 50 famílias da localidade e contribuindo para a conservação do ambiente e do peixe-boi marinho, que é considerado o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil. Vale ressaltar ainda que a localidade situa-se numa Unidade de Conservação federal, que é a Área de Proteção Ambiental (APA)

Costa dos Corais, cuja criação tem como uma de suas importantes justificativas a conservação dos peixes-bois e se seus habitats. Ali, pescadores e ribeirinhos oferecem, por meio da Associação dos Condutores do Turismo de Observação do Peixe-Boi, os passeios de jangadas pelo Rio Tatuamunha, onde é possível ver o cativeiro natural de reintrodução de espécimes e onde também há vários peixes-bois marinhos soltos, que escolheram aquele lugar como sítios de fidelidade. Naquele estuário os peixes-bois marinhos vivem, se alimentam, se reproduzem e costumam dar o ar da graça para os visitantes, que se encantam, se sensibilizam com a vivência junto ao manguezal, aos peixes-bois e à comunidade local. Assim, evidencia-se, na prática, a importância de conhecer para proteger e é reforçada a contribuição do ecoturismo para a conservação de ambientes e de espécies.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Campanha “Ajude a preservar o peixe-Boi marinho” volta a percorrer praias da Paraíba

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ra na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, região propícia à existência de animais desta espécie. De acordo com a equipe de especialistas do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, os impactos antrópicos ainda representam a maior ameaça à espécie. Lixo, esgoto e substâncias tóxicas lançadas nos mares e nos rios, circulação intensa de embarcações motorizadas nos locais de ocorrência da espécie, degradação dos manguezais, destruição da mata ciliar, construções desordenadas em praias e estuários,

FOTO ACERVO FMA

FOTO ACERVO FMA

Levar informação e sensibilizar a população sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho, o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. Este é o objetivo da campanha “Ajude a preservar o peixe-boi marinho”, que agora em 2015 volta a percorrer 31 praias de nove municípios da Paraíba. A ação faz parte das atividades do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, uma estratégia de conservação e pesquisa da Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. O Projeto está atuando no litoral paraibano desde 2013 e possui uma base executo-


perda de habitat (estuários e áreas costeiras), captura acidental em redes de pesca. Todos estes fatores colocam em risco o ambiente, a saúde e a vida do mamífero. A campanha parte do princípio de que a disseminação e a troca de informações aliadas a um processo de educação ambiental contínuo são de extrema importância para a conservação da espécie e de seu habitat. Com isso, vem reforçar um trabalho que já vinha sendo realizado desde 2014 junto às colônias de pesca, pescadores, moradores locais, professores, estudantes, donos de pousada e estabelecimentos comerciais, gestores ambientais e turistas de praias dos municípios de Rio Tinto, Baía da Traição, Marcação, Lucena, Mataraca, Cabedelo, Conde, João Pessoa e Pitimbu. “Nas visitas às praias, a nossa equipe - formada por profissionais e estudantes da área de Medicina Veterinária, Biologia e Ecologia - está percebendo que a campanha “Ajude a preservar o peixe-boi marinho” vem demonstrando um resultado bem interessante. A maioria das pessoas que abordamos estão agora mais conscientes do que antes e dispostas a ajudar mesmo, nos procurando, pedindo informações, contato telefônico, o que vem evidenciando também que a Fundação Mamíferos Aquáticos está sendo

reconhecida pela população litorânea da Paraíba. Nas nossas abordagens, trocamos informações com o público sobre a conservação da espécie, perguntamos se naquela região há aparecimento de peixe-boi marinho ou de algum outro mamífero aquático. As pessoas se mostram bastante receptivas, sendo os estudantes os que mais mostram interesse”, avalia Elismara Oliveira, médica veterinária e analista ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. A campanha também está orientando a população sobre como proceder em casos de encalhe. Para tanto, cartazes informativos estão sendo distribuídos em locais estratégicos (colônias de pesca, restaurantes, pousadas, postos de saúde, postos de polícia, mercados, escolas e etc.). Caso alguém encontre um peixe-boi marinho ou qualquer mamífero aquático encalhado (vivo ou morto), a orientação é comunicar primeiramente ao órgão ambiental atuante na região ou entrar em contato com a própria FMA, pelos telefones: (83) 9961-1338/ (83) 9961-1352/ (81) 3304-1443. Se o animal estiver vivo, siga as seguintes recomendações: 1. Se estiver exposto ao sol, proteja-o fazendo uma sombra; 2. Não o alimente e nem tente devolvê-lo à água; 3. Evite aglomeração a sua volta. FOTO LUCIANO CANDISANI

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Diário de bordo POR SEBASTIÃO SILVA DOS SANTOS Colaborador do PVPBM

Graduando em Ecologia pela Universidade Federal da Paraíba

Para mim, o peixe-boi é o animal mais importante do mundo. Eles conseguem ser dóceis, simpáticos e ao mesmo tempo muito ágeis. Desde criança, eu tenho uma relação próxima com as atividades da Fundação Mamíferos Aquáticos desenvolvidas na Barra de Mamanguape em prol da conservação do peixe-boi marinho. Na época em que a FMA diminuiu suas atividades técnicas na Barra, continuei acompanhando os animais desta espécie por meio do voluntariado da APA da Barra do Rio Mamanguape – ICMBio. Em 2013, quando fiquei sabendo do novo projeto da Fundação, o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, logo quis fazer parte, ainda mais sabendo que essa iniciativa seria desenvolvida na Barra de Mamanguape, sem dúvida um dos lugares mais bonitos do Brasil, onde se concentra uma grande população de peixes-bois marinhos nativos e um número considerável de animais reintroduzidos, além de ser o lugar onde nasci e vivo até hoje. E trabalhar no lugar onde você conhece cada pessoa pelo nome e cada peixe-boi pelo seu comportamento é simplesmente maravilhoso. No PVPBM, eu sou colaborador e acabo participando de quase todas as atividades, ajudando nas pesquisas, resgates dos encalhes, na educação ambiental e ainda tiro um tempinho junto com os agentes ambientais para o “Cine Peixe-Boi”, que é um projeto que surgiu a partir do curso de formação de agentes ambientais, oferecido pela FMA, cujo objetivo é levar para as comunidades do entorno da Barra de Mamanguape filmes educativos chamando atenção

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para a temática ambiental. Meus dias vão sendo desenhados de acordo com a atividade. Um dia estou em campo coletando dados para pesquisa, outro em resgate, outro em campanhas educativas e assim os dias vão seguindo. E diante de tantas atividades também temos momentos de grandes desafios, como é o caso dos resgates, onde, em algumas ocasiões, mesmo você fazendo tudo o que é possível para salvar o animal, acaba não conseguindo e aí vem os momentos de tristeza, mas no outro dia estamos lá firmes e fortes para se preciso fazer tudo novamente. E em momentos marcantes como estes, você vive histórias que vai lembrar por toda a sua vida, como foi o caso do resgate do filhote de peixe-boi marinho que ganhou o nome de Vitória, realizado no dia 1º de janeiro de 2015. Graças a uma ação em conjunto de moradores locais, técnicos da Fundação e colaboradores, conseguimos fazer o resgate com sucesso dando uma nova chance de vida a este filhote. É por razões como essas e inúmeras outras, que eu me sinto muito feliz e maravilhado em fazer parte de um projeto socioambiental voltado para a conservação do peixe-boi marinho.


FOTO MARIA ELISA PITANGA

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PESQUISA A cada edição, a Revista A Bordo traz artigos e resumos científicos relacionados à conservação do peixe-boi marinho e seus habitats. Confira agora o resumo científico elaborado por Ingrid da Silva Lima (graduanda do Curso de Ciências Biológicas da UFRPE), João Carlos Gomes Borges (médico veterinário e diretor-presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos) e Karine Matos Magalhães (Bióloga, Doutora em Botânica e professora de Ecologia da UFRPE).

RELAÇÃO ENTRE OS ECOSSISTEMAS AQUÁTICOS E A PESCA Autores: Ingrid da Silva Lima¹, João Carlos Gomes Borges², Karine Matos Magalhães³. 1. Graduanda do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal Rural de Pernambuco /UFRPE 2. Fundação Mamíferos Aquáticos 3. Departamento de Biologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco/UFRPE

INTRODUÇÃO A comunidade costeira, em geral, tem boa parte de seu sustento e renda provenientes de atividades de pesca e mariscagem, como é o caso dos moradores da comunidade da Barra do Rio Mamanguape, localizada no litoral norte da Paraíba. Em geral, o sustento de populações humanas através da utilização de recursos naturais, muitas dessas áreas protegidas atualmente, mantiveram-se conservadas e com alta biodiversidade sendo habitadas e manejadas por populações tradicionais (DIEGUES, 2004). Assim, o estudo das interações entre o homem e a natureza, a etnoecologia, mediante a compreensão dos sentimentos, comportamentos, conhecimentos e crenças, torna-se uma ferramenta útil para analisar problemas relacionados com o manejo, sustentabilidade e conservação. Como esta comunidade, em especial, está localizada dentro da APA da Barra do Rio Mamanguape, a exploração de recursos pesqueiros e seus reflexos para a preservação do peixe-boi marinho, objetivo da APA, deve ser levado em consideração tanto para auxiliar na preservação deste animal e na conservação dos ambientes costeiros, como para orientar e gerar subsídios para a capacitação e manutenção das atividades pesqueiras tradicionais na área e fornecer dados para a elaboração de políticas públicas.

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Desta forma, a percepção da comunidade sobre os ecossistemas aquáticos da região e o peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) podem ser o ponto de partida para a geração destes dados, já que podem expor a visão dos membros desta comunidade sobre, inclusive, os impactos causados com essas práticas. Assim, desde setembro de 2014, a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA), em parceria com o Laboratório de Ecossistemas Aquáticos (LEAqua) da UFRPE, vem interagindo e realizando entrevistas com pescadores e marisqueiras da Barra do Rio Mamanguape. METODOLOGIA Para se obter a melhor visão através dos olhos da população, foram necessárias várias estratégias para levantar esta percepção. Neste caso, foram desenvolvidos: o método de bola de neve, as entrevistas semiestruturadas, o método de Lista Livre e Checklist. A seleção dos informantes foi realizada através da observação participante por meio de convivência com os pescadores e marisqueiras e do envolvimento em suas atividades diárias.


O método de amostragem Bola de Neve consiste na própria comunidade identificar os atores que são os maiores entendedores do assunto no local. Ao entrevistar cada indicado, estes indicaram outros que sabiam tanto quanto ele até que notamos que as informações obtidas já estavam se repetindo. As entrevistas semi-estruturadas são entrevistas com algumas perguntas diretas e outras que dão liberdade às pessoas de se expressarem livremente, de sair completamente do objetivo da entrevista.

Parte dos membros da comunidade (18%) relataram diferenças comportamentais entre os animais nativos em relação aos reintroduzidos. Os reintroduzidos costumam se aproximar mais da costa que os nativos. Estes por sua vez saem em retirada ao ouvirem o simples toque dos remos sobre a água. A maioria relata que ao longo dos anos vem aumentando ações de sensibilização da população sobre a importância do peixe-boi, demonstrando a eficiência dos projetos na área.

No método de Lista Livre, os entrevistados são solicitados a listar itens da atividade pesqueira, conhecimento sobre os ambientes que são compostos por prados das angiospermas marinhas, por exemplo, e sobre o peixe-boi marinho. Já no método de Checklist são oferecidos estímulos visuais, através de registros fotográficos, com o intuito de identificar se o entrevistado reconhece os itens da alimentação do peixe-boi.

Durante as entrevistas, ficou claro a relação de pertencimento que cada um dos entrevistados tem com o animal, o orgulho e o cuidado para preservar a espécie. Um exemplo é o relato de que é comum capturarem peixes-boi acidentalmente já que, segundo eles, os reintroduzidos se enroscam na rede, mas os pescadores ajudam o animal, liberando-o imediatamente. Preferem perder o “lance” da pescaria para resgatar o animal em apuros.

Seguindo as diretrizes do Comitê de Ética, os participantes foram entrevistados separadamente para não haver influência nas respostas e nem constrangimentos. Como procedimento padrão, antes de cada entrevista os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde atestaram sua participação e permitiram o posterior uso das informações.

A percepção dos entrevistados quanto a conservação dos ambientes aquáticos mostra que 59% relata que está ocorrendo a diminuição do pescado e do marisco na região e, quando perguntados sobre a razão desse fato, o assoreamento é apontado como principal causa da diminuição, ressaltando que a quantidade de bancos de areia, “croas” aumentou e que o rio está mais raso. A comunidade da Barra aponta que o capim agulha (a angiosperma marinha Halodule wrightii) é um dos principais itens alimentares do peixe-boi marinho, em contrapartida a população pouco sabe sobre a ecologia desse ecossistema e desconhecem a relação direta que tem com a qualidade da pesca e mariscagem e com a preservação do peixe-boi.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Até o presente momento, foram identificados e entrevistados 12 pescadores e marisqueiras. Segundo eles, a maioria (64%) relatam que está havendo redução dos animais que frequentam a área, já que antigamente era frequente avistar grupos com até oito animais, que entram no rio para tomar água doce e se alimentar. Essa informação é corroborada por alguns autores que citam que essa redução tem relação direta com eventos com encalhe de filhotes, a captura acidental em currais e redes de pesca, arrastos realizados por embarcações motorizadas.

Uma das principais características do ecossistema da angiosperma marinha Halodule wrightii (Capim Agulha) é abrigar varias espécies de interesse comercial em diferentes fases do ciclo de vida, que representam grande parte da renda e alimento para as comunidades ribeirinhas (MUSIK et al, 2000; ALVES, 2000; PITANGA et al., 2012) ainda é um dos principais itens alimentares do peixe-boi marinho (AlvesStanley et al., 2010). Conservar os prados de capim agulha contribui para a proteção do peixe-boi mari-

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Figura 1. Práticas de Manutenção das redes.

nho, que está ameaçado de extinção, bem como de outras espécies que apresentam algum tipo de risco de extinção e que utilizam esses ecossistemas em algum estágio do seu ciclo de vida (MUSIK et al, 2000; HUGHES et al, 2009; SHORT et al, 2006). CONSIDERAÇÕES Este trabalho está apenas no início já que, após identificar a percepção da comunidade sobre a relação dos ecossistemas aquáticos e a qualidade da pesca e do marisco, verificou-se a necessidade em continuar agora com a sensibilização da comunidade com ações de conscientização e educação ambiental. A próxima etapa será para aumentar o conhecimento das interações ecológicas dos ecossistemas aquáticos, em especial dos prados das angiospermas, a fim de que a comunidade reduza eventuais ações que degradam o ambiente melhorando, consequentemente, sua renda em longo prazo e ajudando a conservar esses ecossistemas tão valiosos, verdadeiros guardiões da vida do mar e o próprio peixe-boi marinho.

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AGRADECIMENTOS O presente trabalho é resultado dos esforços de um projeto da Fundação Mamíferos Aquáticos intitulado Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho.


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Figura 2. Reaproveitamento das Redes de pesca, com outras utilidades. “Da Rede para Rede”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, MS (2000). Fauna associada dos prados de Halodule wrightii Ascherson. In: BARROS, HM; ESKINAZI-LEÇA, E; MACEDO, SJ; LIMA, T (Eds.). Gerenciamento participativo de estuários e manguezais. Recife: Editora Universitária da UFPE, p. 75-87. ALVES-STANLEY, CD; WORTHY, GAJ; BONDE, RK (2010). Feeding preferences of West Indian manatees in Florida, Belize, and Puerto Rico as indicated by stable isotope analysis. Marine Ecology Progress Series, 402: 255–267 DIEGUES, ACS (2004) A pesca construindo sociedades: leituras em antropologia marítima e pesqueira. São Paulo: Núcleo de apoio a pesquisa sobre populações humanas e áreas úmidas brasileiras/USP, 315p.

HUGHES, R et al. (2009). Associations of concern: declining seagrasses and threatened dependent species. Frontiers in Ecology and the Environment, 7: 242–246. MUSICK, JA et al. (2000). Marine, estuarine, and diadromous fish stocks at risk of extinction in North America. Fisheries 25: 6–30. PITANGA, ME et al. (2012). Quantification and classification of the main environmental impacts on a Halodule wrightii seagrass meadow on a tropical island in northeastern Brazil. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 84:35–42. SHORT, FT et al. (2006). SeagrassNet monitoring across the Americas: case studies of seagrass decline. Marine Ecology, 27(4): 277-289.

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FMA 25 ANOS

FOTO ACERVO FMA

Conservação de manguezal é tema de projeto socioambiental que terá cooperação da FMA POR RAQUEL PASSOS

A Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) assinou o Termo de Cooperação Técnica, no último mês de março, junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Aracaju (Sema), para efetivação de um projeto socioambiental na região do mangue do bairro Coroa do Meio, zona sul da capital. Trata-se da reabertura do Centro de Educação Ambiental Manoel Bonfim, que sofreu atos de depredação e hoje precisa de reparos em sua estrutura. Nesse sentido, a Universidade Tiradentes (Unit), representada pelo professor Ricardo Mascarello, coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo, também realizará intervenção na localidade em conjunto com a Fundação.

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FOTO SERGIO SILVA/ ACERVO PMA

As atividades do projeto da FMA terão cunho de educação ambiental e contarão com parceria da Unit para atuar na região. O objetivo é preservar o manguezal e sensibilizar os moradores quanto à necessidade de conservação desse ecossistema, os envolvendo em ações socioambientais. Somar esforços e ideias de moradores da região do Centro de Educação Ambiental Manoel Bonfim, antigo Museu do Mangue, também faz parte da proposta de revitalização do espaço.

O secretário esclarece que o Centro está em processo de conclusão de reforma, já que foi alvo de pichação e depredação por parte de vândalos. “A reabertura do Centro de Educação Ambiental está prevista para abril de 2015”, conclui Matos. Para que tudo ocorra da forma mais tranquila, o primeiro posto avançado da Guarda Municipal ficará no anexo do Centro de Educação Ambiental Manoel Bonfim. “Sabemos que este é um anseio antigo da comunidade”, completa o secretário.

O secretário de Meio Ambiente de Aracaju, Eduardo Matos, ressaltou a satisfação do órgão em trabalhar com uma instituição como a FMA que tem compromisso em cumprir sua missão ambiental. “Estamos concretizando uma parceria que se iniciou informalmente com a FMA, mas que agora toma proporções relevantes pois busca saídas em conjunto para aquela comunidade. Digo ainda que esta é uma parceria fundamental e importante para o desenvolvimento de atividades socioambientais na Coroa do Meio. Com a agregação de outros parceiros como a Unit, teremos mais serviços voltados à comunidade”, pontua Matos.

Até o momento, as equipes da FMA e Unit se reuniram e traçaram estratégias para unificar as propostas das instituições seguindo a orientação da Sema. Os próximos passos serão dados em consonância com as obras reestruturantes da prefeitura no local, mediante os atos de vandalismo que a estrutura sofreu neste último ano.

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ÚLTIMAS Nesta seção, você confere as últimas notícias sobre as ações e atividades da Fundação Mamíferos Aquáticos no Brasil.

SOMANDO ESFORÇOS PARA A CONSERVAÇÃO DO PEIXE-BOI MARINHO NO LITORAL PARAIBANO Nos dias 19 e 21 de maio, a equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos visitou os efetivos do Batalhão da Polícia Ambiental da Paraíba para estreitar a comunicação entre as instituições e levar informações importantes sobre como os policiais podem colaborar para a conservação do peixe-boi marinho no litoral paraibano. A FMA está atuando na região com o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, uma estratégia de conservação e pesquisa para evitar a extinção desta espécie no Nordeste do Brasil. Durante as visitas, a equipe do Projeto falou sobre a biologia e ecologia do animal e passou orientações sobre procedimento de resgate em casos de encalhe de mamíferos marinhos (peixe-boi marinho, golfinho e baleia), vivo ou morto, no litoral paraibano. Esta ação faz parte das atividades de educação ambiental do Projeto, que está percorrendo municípios da costa paraibana com a campanha de sensibilização “Ajude a preservar o peixe-boi marinho”. Na foto, a equipe FMA com o Major Tibério e os agentes do Batalhão da Polícia Ambiental da Paraíba, em João Pessoa.

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FOTO ACERVO FMA

FOTO ENRICO MARCOVALDI

ALUNOS DA FAFIRE VISITAM A BARRA DO RIO MAMANGUAPE No dia 15 de maio, na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PB), a equipe da Fundação Mamíferos Aquáticos recebeu alunos e professores do curso de Ciências Biológicas da Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE, numa palestra-aula sobre aspectos biológicos, ecológicos e status de conservação do peixe-boi marinho no Brasil. Na oportunidade, a FMA falou também sobre as ações que desenvolve em prol da conservação da espécie no litoral paraibano, bem como as atividades de sustentabilidade, valorização e inclusão social que realiza junto à comunidade da Barra de Mamanguape. Foram mencionados o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, o Projeto Biologia Populacional do Peixe-Boi Marinho, Eco-Oficina Peixe-Boi & Cia e o Projeto Sou Fruto do Mar: Construindo Novas Possibilidades. De acordo com a professora Maria Danise Alves, responsável pela turma, o objetivo da atividade foi levar os estudantes a campo para conhecer o ambiente marinho-estuarino, evidenciando a ecologia e zoologia, em especial dos vertebrados marinhos, incluindo o peixe-boi marinho, considerado o mamífero aquático mais ameaçado de extinção do Brasil.


FOTO KARLILIAN MAGALHÃES

FMA ESTREIA SÉRIE AMBIENTAL EM CANAL NO YOUTUBE Como parte da comemoração dos seus 25 anos, a Fundação Mamíferos Aquáticos lançou a Série Verde Mar. Trata-se de um programa de TV web, que vai ao ar no canal institucional da FMA no Youtube, com dicas de práticas sustentáveis que podem colaborar para melhorar a qualidade de vida das pessoas e dos animais e ajudar a conservar o meio ambiente. A série, que também é divulgada na fan page e no site da FMA, é dividida em capítulos mensais e apresenta um estilo documental. Com uma linguagem de fácil compreensão, aborda os problemas ambientais que atualmente afetam o planeta e os conceitos de sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e consumo consciente. De forma simples, o programa traz cenas da vida real, informações históricas, depoimentos de personagens, exemplos de boas práticas, inserções lúdicas e muita natureza. A classificação é livre, qualquer pessoa pode assistir, seja criança, adolescente, jovem ou adulto.

FOTO RAQUEL PASSOS

Na foto, Sr. Francisco, catador de resíduos na cidade do Recife, um dos entrevistados da Série.

FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS PARTICIPA DA 9ª SEMANA DE EXTENSÃO DA UNIT No final de março, em Aracaju (SE), a FMA participou da 9ª edição da Semana de Extensão da Universidade Tiradentes (Unit) - Semex. Com o tema “Fundação Mamíferos Aquáticos: 25 anos de compromisso ambiental”, a diretora vice-presidente da organização sem fins lucrativos, Jociery Einhardt Vergara-Parente e a médica veterinária Fernanda Rodrigues falaram um pouco sobre a história da instituição e suas ações de cunho socioambiental no Brasil. A linha do tempo da FMA, traduzida em importantes estudos que contribuem para a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, foi tratada durante a conferência de forma que incentivasse os participantes a lutarem por seus sonhos. “Muitas pesquisas realizadas pela Fundação são exclusivas no Brasil e América Latina. Outra contribuição da FMA está no aprimoramento técnico de pessoas e metodologias, que, com o passar do tempo, foram tomando cada vez mais espaço no segmento ambiental do Terceiro Setor”, destacou Vergara-Parente. A Semex tem o objetivo de divulgar a extensão universitária, tornando pública suas ações, de forma prática e ilustrativa, com palestras temáticas, minicursos, filmes de arte, apresentações culturais, oficinas e apresentação de projetos de extensão. O evento reuniu estudantes, professores e comunidades de Sergipe.

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FOTO REFLEXÃO

FOTO ENRICO MARCOVALDI

O peixe-boi marinho é o mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. Ele vive em regiões costeiras, nos mares, rios, estuários, manguezais e áreas próximas às praias. Em um ambiente conservado e livre de ameaças, o peixe-boi marinho pode viver até 60 anos. Atualmente, o que mais coloca em risco a existência desta espécie são os impactos ambientais causados por atividades humanas. Com consciência e reponsabilidade ambiental, todos nós - sociedade civil, instituições de ensino, governos e empresários - podemos reverter esta situação. É possível a convivência harmônica entre os seres e a natureza. Vamos conservar o meio ambiente para que imagens como esta, captada pelo fotógrafo Enrico Marcovaldi, possam ser vistas por muitos e muitos anos.

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ILUSTRAÇÃO

Em todas as edições, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordam o universo dos animais aquáticos e de seus habitats, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Aproveite!

Fundo do Mar Por Julio Cesar

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GPS

INDICAÇÕES

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – PRINCÍPIOS E PRÁTICAS Este livro é considerado uma referência na literatura ambientalista brasileira, reunindo um conjunto de informações conceituais e práticas sobre o processo de Educação Ambiental (EA). O autor aborda um histórico da EA pelo mundo, sugere mais de cem atividades na área, fornece subsídios para a ampliação dos conhecimentos sobre o tema e expõe as diferentes formas legais de ação individual e comunitária que possibilitam um exercício de cidadania, visando uma melhor qualidade de vida. Trata-se de uma obra inovadora, de fácil leitura e compreensão - tanto para estudiosos como para leigos na área -, que coloca a Educação Ambiental como instrumento de busca da harmonia racional e responsável entre o homem e o meio ambiente. Autor: Genebaldo Freire Dias

DESENVOLVIMENTO LOCAL E A NOVA GOVERNANÇA Organizado pela socióloga Tania Zapata, o livro reúne artigos de autores ligados ao Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento Humano que elaboram uma reflexão teórica e prática permanente sobre o tema do desenvolvimento local/territorial. A publicação aborda a temática da Nova Governança como caminho para construção do desenvolvimento, incentivando uma nova cultura política, de cooperação entre os setores dos governos, das empresas e da sociedade civil. Organizadora: Tânia Zapata

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eventos

Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2015 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins.

I SIMPÓSIO EM ECOLOGIA E BIODIVERSIDADE: ABORDAGENS INTERDISCIPLINARES Data:18 a 21 de junho Local: Rio Claro (SP) www.simposioeb.wix.com/simposioeb

XV CONGRESSO BRASILEIRO DE FISIOLOGIA VEGETAL Data: 28 de setembro a 02 de outubro Local: Foz do Iguaçu (PR) www.iguassu.com.br/?post_type=eventos&p=4725

XV CONGRESSO BRASILEIRO DE LIMNOLOGIA Data: 12 a 16 de julho Local: Maringá (PR) www.cbl2015.com.br

INTERNATIONAL CONFERENCE ON EDUCATION FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT Data: 06 e 07 de outubro Local: Ebonyi, Nigéria www.icesd2015.org

XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL Data: setembro Local: São Lourenço (MG) www.seb-ecologia.org.br/xiiceb VIII CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (CBUC) IV Simpósio Internacional de Conservação da Natureza V Mostra de Conservação da Natureza Data: 21 a 25 de setembro Local: Curitiba (PR) http://eventos.fundacaogrupoboticario.org.br/CBUC

XVI CONGRESO LATINOAMERICANO DE CIENCIAS DEL MAR Data: 18 a 22 de outubro Local: Santa Marta, Colômbia www.colacmar-senalmar2015.com 66º CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA Data: 25 a 30 de outubro Local: Santos (SP) www.66cnbotanica.com.br

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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org

Realização:

FUNDAÇÃO MAMÍFEROS AQUÁTICOS Av. 17 de Agosto - 2001/1º andar Casa Forte - Recife - PE +55 (81) 3304 1443 | fma@mamiferosaquaticos.org.br www.mamiferosaquaticos.org.br


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