Revista A Bordo - Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - 5ª Edição

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Fundação Mamíferos Aquáticos | Patrocínio: Petrobras

EDIÇÃO 5

R E V I S TA

A BORDO PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO

PARAÍBA

Projeto leva cinema a comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape

Halophila baillonis é encontrada no litoral paraibano

FOTO EDSON ACIOLI

PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO DIVULGA RESULTADOS Fundação Mamíferos Aquáticos completa 25 anos


Há 17 anos investindo esforços em prol da conservação do peixe-boi marinho.

FOTO LUCIANO CANDISANI


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CAPA Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho divulga resultados

Capacitação de jovens como agentes ambientais dentro de uma unidade de conservação no nordeste do Brasil

12 ESPECIAL PB e SE participam do Clean Up Day

26 FMA Fundação Mamíferos Aquáticos completa 25 anos

16 EDUCAÇÃO AMBIENTAL Projeto leva cinema a comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape

32 GPS

18 COLUNA CIENTÍFICA As angiospermas marinhas e o trevo da sorte dos peixes-bois

34 ILUSTRAÇÃO

20 DIÁRIO DE BORDO Daniela Araújo

35 FOTO REFLEXÃO

REVISTA A BORDO

Jornalista responsável Karlilian Magalhães Design gráfico Giovanna Monteiro Revisão técnica João Carlos Gomes Borges e Maria Elisa Pitanga TAMBÉM COLABORARAM PARA ESTA EDIÇÃO:

Jornalismo Raquel Passos Coluna Científica Karine Matos Magalhães Diário de Bordo e GPS Maíra Braga e Fabio Amâncio Resumo Científico Gisela Sertório

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22 PESQUISA

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EQUIPE PROJETO VIVA O PEIXE-BOI MARINHO

João Carlos Gomes Borges (Coordenador executivo/ Diretor-Presidente da FMA) Maria Elisa Pitanga (Coordenadora técnica) Jociery Vergara-Parente (Coordenadora científica e Diretora Vice-Presidente da FMA) Daniela Araújo (Técnica de Inclusão Social) Maíra Braga (Assessora Técnica de Inclusão Social) Gisela Sertório (Educadora Ambiental) Jaqueline Said Said (Técnica de Pesquisa) Larissa Molinari (Médica Veterinária) Karlilian Magalhães (Assessora de Comunicação) Giovanna Monteiro (Estagiária - Design Gráfico) Patrícia Menezes (Gerente Administrativa e Financeira) Genilson Geraldo (Agente de Campo) Sebastião Silva (Colaborador - Ecólogo Universitário)


FOTO EDSON ACIOLI

EDITORIAL Caros leitores, estamos finalizando a primeira fase do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – conduzido pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental. Foram 21 meses de muito trabalho, pesquisa e dedicação em prol da conservação do mamífero aquático mais ameaçado de extinção no Brasil. Neste período, ganhamos experiência, vivemos momentos inesquecíveis, que só nos deixaram mais fortes e mais preparados para continuarmos com o nosso grande propósito: o de promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabiliade socioambiental. Chegamos ao final desta primeira fase com resultados positivos, que alimentam a nossa expectativa para a execução de sua próxima etapa. E tudo isso nasceu de um sonho, de uma ideia, que virou um projeto e que virou realidade. Sabemos o quanto é difícil lutar pelo meio ambiente no nosso país. É preciso muita persistência, muita vontade, muito estudo e muito trabalho. Trabalho em equipe, trabalho com pessoas realmente dispostas e bem-intencionadas. Na quinta edição da Revista A Bordo, que também nasceu de uma ideia e de um pensamento bem-intencionado, estaremos apresentando os resultados dos esforços do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho em prol da conservação da espécie no litoral norte da Paraíba. Na coluna científica, compartilharemos uma boa nova relacionada à alimentação do peixe-boi marinho na Barra do Rio Mamanguape. Traremos, também, registros de ações eco educativas na região, como o Cine Peixe-Boi e o Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, e uma matéria especial sobre os 25 anos da Fundação Mamíferos Aquáticos. Que continuemos A Bordo de boas ideias com ventos a favor do meio ambiente. Boa leitura e até breve! João Carlos Borges Gomes, Diretor-presidente da Fundação Mamíferos Aquáticos. Karlilian Magalhães, Assessora de Comunicação da Fundação Mamíferos Aquáticos.

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FOTO ENRICO MARCOVALDI

CAPA

Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho divulga resultado de ações na Paraíba 6

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Desenvolvimento de pesquisa e tecnologia, educação ambiental, sustentabilidade, promoção da cidadania e inclusão social. Foi com essa estratégia de conservação e pesquisa que o Projeto Viva o PeixeBoi Marinho – realizado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e patrocinado pela PETROBRAS, através do programa Petrobras Socioambiental – iniciou suas atividades em 2013, tendo como principal objetivo evitar a extinção do peixe-boi marinho no Nordeste do Brasil. O lugar escolhido para abrigar a primeira fase do Projeto foi a Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape, localizada no litoral norte da Paraíba. Passado um ano e oito meses, os resultados das ações se revelam positivos e alimentam a expectativa para a execução de sua próxima fase. “A nossa proposta veio reforçar o pensamento de que não podemos trabalhar a conservação da espécie de forma isolada, é preciso trabalhar com todo o ambiente ao seu redor, onde também vivem as pessoas, outros animais, as vegetações. Tudo está interligado. Vemos que o que o projeto se propôs a realizar está sendo cumprido com êxito. Estamos trazendo resultados e contribuições importantes para todos os campos de atuação previstos. De alguma maneira, sinto que nós estamos plantando uma semente, mas uma semante que precisa ser cultivada a cada dia para que possa florescer”, diz Maria Elisa Pitanga, coordenadora técnica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Nas áreas de pesquisa, a equipe do projeto contou com a parceria de estudantes e professores da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Foram 15 meses de trabalho intenso, que envolveram reuniões estratégicas, saídas de campo periódicas e longas jornadas de análises em laboratórios para obter a caracterização das áreas de forrageio e dos impactos nos locais de alimentação dos peixes-bois marinhos e o diagnóstico dos indicadores de contaminação aquática no estuário da Barra do Rio Mamanguape. Os estudos também investigaram as principais enfermi-

dades e as causas mortis dos peixes-bois marinhos no Estado da Paraíba. Estes trabalhos foram temas de teses de doutorado, monografia de graduação, e contribuíram para pesquisas acadêmicas e para ampliação do conhecimento em torno da conservação da espécie. “No que se refere à caracterização das áreas de alimentação do peixe-boi na Barra do Rio Mamanguape, tínhamos conhecimento de levantamento da flora de macroalgas. O Projeto então se propôs a fazer um levantamento mais detalhado dessa vegetação, que faz parte da dieta do animal. Ao longo das nossas pesquisas, vimos que além das macroalgas, a região apresenta inúmeras espécies vegetais que ainda não haviam sido estudadas, mas que são potenciais alimentos para a espécie. E tivemos uma boa surpresa na área científica, que foi identificar na região uma angiosperma marinha considerada rara ou extinta do litoral brasileiro e que é uma espécie potencial para alimentação do peixe-boi marinho”, ressalta Maria Elisa Pitanga. Com relação à qualidade hídrica, as pesquisas apontaram a presença de indicadores de contaminação aquática em alguns trechos do estuário, destacando, sobretudo, a presença de coliformes fecais, ainda que em quantidades mínimas. Também foi registrada a presença, ainda que pequena, de metais pesados, entretanto o estudo destacou que o índice está abaixo do limite estabelecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA). Ao longo dos meses, a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho participou de importantes cursos e eventos científicos, de âmbito nacional e internacional, com o intuito de disseminar e promover intercâmbio de conhecimento científico e aprimoramento profissional. Com este propósito, percorreu diversas cidades como o Recife (PE), Rio Tinto (PB), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Aracaju (SE), São Luís (Maranhão), Dunedin (Nova Zelândia) e Metepec (México).

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Na esfera tecnológica, o Projeto trabalhou no desenvolvimento de uma tecnologia inovadora de monitoramento de sirênios, via satélite. Para tanto, contou com a parceria da equipe de engenharia da NORTRONIC – Sistemas Eletrônico do Nordeste e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O protótipo desenvolvido já se encontra em fase de testes no Rio Grande do Norte e dentro em breve será introduzido no ambiente natural dos peixesbois marinhos na Barra de Mamanguape. A sociedade civil também teve participação fundamental, seja nas oficinas e ações de educação ambiental, como nas campanhas temáticas de sensibilização e informação sobre o peixe-boi marinho. “Durante a campanha itinerante, percebemos que ainda falta, nas comunidades, conhecimento sobre a biologoia e ecologia do animal. Nem todas as pessoas sabiam da existência do peixe-boi na região. Vimos o quanto a educação ambiental é importante. As ações desta área inclusive superaram as nossas expectativas, principalmente com relação à realização das oficinas de formação”, avalia a coordenadora técnica.

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Mais de 20 jovens da comunidade da Barra de Mamanguape participaram da Oficina de Jovens Agentes Ambientais do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Como conclusão do curso, os alunos apresentaram pequenos projetos ambientais para ajudar na conservação da natureza e melhorar a qualidade de vida das comunidades existentes na Barra do Rio Mamanguape. As temáticas propostas, que já estão sendo colocadas em prática, vão desde o enfrentamento à questão do lixo na região a ações de reflorestamento e eventos eco culturais. “Esta oficina foi muito importante pra mim, porque eu aprendi muita coisa que eu ainda não sabia. Uma das coisas mais importantes que vejo que aprendi foi como elaborar projetos. Eu não tinha ideia de como fazer. Hoje eu sei como fazer um projeto, escrever, apresentar. E na questão de preservar o meio ambiente, a oficina abriu mais a nossa mente, diz Adriano Felipe, jovem agente ambiental, morador da comunidade do Saco. “Acho que o projeto como um todo trouxe melhorias para a comunidade, principalmente na área ambiental, porque pôde conscientizar um pouco dos moradores, promovendo alguns benefícios para todos. O projeto também ofereceu algumas oficinas que, ao meu ponto de vista, os moradores gostaram e apoiaram, porque trouxe conhecimento a todos os que participaram. A oficina que achei mais im-


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portante foi essa de agente ambiental, na qual eu aprendi muitas coisas, principalmente os aspectos dos resíduos sólidos, onde realizamos varias atividades visando o bem do meio ambiente e de nossa comunidade”, complementa Rosana Alves, jovem agente ambiental, moradora da Barra de Mamanguape. Os jovens ambientais foram parceiros do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho na organização de eventos importantes como o Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias e o Forró do Peixe-Boi, ambos realizados na Barra de Mamanguape. Fizeram-se presentes, também, nas ações eco educativas em datas comemorativas celebradas na comunidade por meio de sessões recreativas com as crianças e de filmes com temáticas socioambientais exibidos pelo Cine Peixe-Boi, um projeto de autoria dos próprios jovens, que percorre localidades da APA para sensibilizar as pessoas sobre a importância da preservação do peixe-boi marinho e do meio ambiente. Nas esferas de cidadania e inclusão social, o Projeto trabalhou inicialmente na promoção do desenvolvimento das mulheres da Barra de Mamanguape, por meio de planos estratégicos de fomento à Eco-Oficina Peixe-Boi & Cia - uma ação de cunho socioambiental desenvolvida, desde 1994, pela FMA junto à comunidade local com o objetivo de promover a geração de renda sustentável para mulheres da região

a partir da produção de bonecos de pelúcia alusivos ao peixe-boi e outros mamíferos aquáticos. Ao longo das atividades, o projeto percebeu que para promover o desenvolvimento sustentável da região, além de voltar a atenção para a Eco-Oficina, teria que estender a proposta para outros moradores locais que realizam atividades produtivas e que também necessitavam de uma orientação para a construção de um plano de negócios. As oficinas de capacitação previstas para as mulheres foram ampliadas para que todos pudessem participar. A primeira capacitação reuniu as mulheres das comunidades na ‘Oficina Mulher Empreendedora – Fortalecendo a Identidade Feminina para os Negócios’, numa parceria com o SEBRAE da Paraíba. A segunda, intitulada ‘Oficina Desenvolvimento Comunitário’, foi mais longa e contou com a participação de homens e mulheres. A partir dessas oficinas, foi construído um plano de ação para o desenvolvimento comunitário da região. Atualmente, os moradores estão participando de rodas de conversa e orientação para colocar o plano em prática. “O projeto tem sido de grande importância, tanto pelas pesquisas desenvolvidas para a conservação do peixe-boi, quanto pelas atividades de desenvolvimento comunitário, orientando a população para a utilização de forma sustentável dos recursos naturais e turísticos que lhe são disponíveis. O projeto despertou a população não só para a conservação do

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“Para que um projeto inicie, ele precisa de um escopo, mas sabemos que só durante a execução, a vivência e a dinâmica é que a gente vai conhecendo os detalhes da região, enxergando novas possibilidades, novas abordagens. A cada visita a uma comunidade, a cada saída de campo, vamos vivendo experiências diferentes que propiciam o surgimento de novas percepções e ideias. Ideias, vivências e observações que serão levadas em consideração para quando formos executar a próxima fase do Projeto. Percebemos que podemos fazer muitas coisas. A APA da Barra do Rio Mamanguape é uma região com potenciais a serem trabalhados. Acredito que a primeira fase do Projeto marcou um retorno das pesquisas da Fundação Mamíferos Aquáticos à Barra. Foi um termômetro para a FMA visualizar melhor a realidade atual da região e assim poder especificar mais o desenvolvimento de ações e atividades”, enfatiza Maria Elisa Pitanga.

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peixe-boi, mas também para a conservação do meio ambiente. Agora temos jovens que se capacitaram para promover e multiplicar a conscientização ambiental, através da oficina de formação de agentes ambientais. Hoje eles possuem uma forma de pensar diferente que se reflete em suas ações. Um dia desses, ao conversar com um amigo, que é um dos agentes ambientais, ele me disse que não consegue mais jogar papel no chão, porque sabe o problema que essa atitude pode vir a provocar. Eu vejo que não é apenas a mudança de um simples gesto de não jogar o papel no chão, mas sim a mudança de um pensamento”, diz Sé Silva, morador da Barra de Mamanguape, estudante de Ecologia e jovem agente ambiental.


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ESPECIAL

Paraíba e Sergipe participam do Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias Com apoio de comunidades e instituições, a Fundação Mamíferos Aquáticos organizou ações de sensibilização, coleta e pesagem de lixo nos dois estados do Nordeste FOTOS ACERVO FMA

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O lixo ainda representa uma grande ameaça à saúde e à vida dos peixes-bois marinhos e de vários mamíferos aquáticos. No dia 20 de setembro, para celebrar o Clean Up Day - Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, quando o mundo todo tem atenção especial voltada para o problema do descarte incorreto de resíduos no meio ambiente, a Fundação Mamíferos Aquáticos, por meio do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho - patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental -, organizou uma programação especial no estuário e na praia da Barra de Mamanguape, localizada na cidade de Rio Tinto (PB). Na oportunidade, foram realizadas coletas de lixo, com apoio da comunidade e de instituições locais. A ação também foi feita na praia de Atalaia, em Aracaju (SE), onde a FMA trabalha com pesquisas e monitoramento de praias. Em algumas horas, nos pequenos percursos realizados (1,5 km na PB e 4 km em SE), foram recolhidos, respectivamente, nas duas localidades, 164,28 kg e 266 kg de lixo. Os resultados foram repassados à organização nacional do evento para compor os dados mundiais da ONU.

Na Barra de Mamanguape, a mobilização contou com a participação de toda a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, jovens agentes ambientais da região, alunos com idade entre 7 e 14 anos da Escola Estadual Presidente Nilo Peçanha (de Cravaçu) e de representantes da Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape/ ICMBio, bem como da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Rio Tinto. Os estudantes foram recebidos pela equipe do Projeto na base da FMA, onde obtiveram informações sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho e do meio ambiente e sobre o impacto que o lixo provoca nos mamíferos aquáticos e em seus habitats. Em seguida, os voluntários seguiram em grupo para a praia e o estuário. Cerca de 50 pessoas participaram da atividade de limpeza. Ao final da coleta, o material recolhido – com destaque para plásticos, isopores, vidros, sandálias e sapatos – foram pesados e registrados. Por volta das 12h, os participantes se confraternizaram com um lanche coletivo. E para fechar com chave de ouro a programação, os jovens agentes ambientais da Barra de Mamanguape prepararam uma surpresa para os visitantes mirins: um passeio de barco pelo estuário para conhecer de perto os peixes-bois marinhos.

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“Realizamos uma ação simbólica para marcar o Dia Mundial de Limpeza de Rios e Praias, uma maneira de conscientizar mais a comunidade sobre a problemática do lixo na região. A gente não fez a ação pensando somente no peixe-boi marinho, mas também no seu habitat, que é o mesmo que o nosso. Se conservarmos o ambiente do peixe-boi marinho, também estaremos conservando o nosso. A equipe ficou realmente feliz com a participação e o entusiasmo dos voluntários nessa ação. A emoção tomou conta de todos”, disse Maria Elisa Pitanga, coordenadora técnica do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho. Em Aracaju (SE), a FMA contou com o apoio e parceria dos alunos de Ciências Biológicas da Universidade Tiradentes, do Grupo Conduta Consciente, do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), por meio do Convênio Mar e da Academia da Praia e dos demais voluntários interessados em limpar uma das praias mais famosas e habitadas da cidade. Cerca de 60 pessoas participaram da coleta. “A praia de Atalaia recebeu o mutirão de voluntários aptos a recolher tudo o que não fosse do habitat e pudesse degradar o ambiente. Dentre os itens recolhidos: seringas, garrafas de vidro, de plástico, pedaços de ferros e muito papel. As pessoas precisam perceber a necessidade de se descartar um lixo corretamente. Aquele ‘pequeno’ papel de bala jogado na praia influencia na saúde de diversos animais marinhos, levando-os muitas vezes à morte”, ressaltou a educadora ambiental da FMA, Mayra Oliveira.

Em Aracaju, dentre os itens recolhidos: seringas, garrafas de vidro, de plástico, pedaços de ferros e muito papel.

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Na Barra de Mamanguape, foram encontrados plรกsticos, isopores, vidros, sandรกlias e sapatos.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Cine Peixe-Boi leva cinema a comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape Promover exibições itinerantes de filmes com temas ecológicos, culturais e socioambientais nas comunidades localizadas na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (PB). Este é objetivo do Cine Peixe-Boi, uma ação criada por jovens da região durante a Oficina de Agentes Ambientais do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho – patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental. A ideia é sensibilizar o público sobre a importância da conservação do peixe-boi marinho e do meio ambiente, levando a cultura do audiovisual a locais, distantes dos grandes centros urbanos, que não possuem acesso a cinema. O Cine Peixe-Boi está em atividade desde setembro de 2013 e, durante

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suas excursões, já reuniu mais de 150 expectadores. Retroprojetor, lona para exibição, estrutura de suporte feita de bambu, esteiras de palha, almofadas coloridas e uma seleção de filmes e documentários pra lá de interessantes. É assim que o Cine Peixe-Boi chega às localidades. “Estamos tentando mexer com a cultura, com a sensibilidade das pessoas, através do cinema, que acho que é um método que atrai, é algo novo, não tem por aqui. Com um telão na rua, um cineminha, possivelmente alguém vai sair da sua casa, vai olhar com curiosidade e quando chegar lá vai aprender uma lição e levar para casa”, diz Adriano Felipe, um dos idealizadores da ação. Já recebe-


ram as sessões gratuitas de filmes do Cine Peixe-Boi, as comunidades de Lagoa de Praia, Barra de Mamanguape, Rio Tinto, Tramataia e Praia de Campina. A cada público, uma reação diferente. As sessões destinadas às crianças - que incluem também momentos de leitura no Baú de Histórias do Peixe-Boi, exposição fotográfica, eco recreação e guloseimas - chamam bastante atenção da equipe. “Vê-las com o sorriso no rosto, se divertindo e interagindo, cantando a música do peixe-boi, isso não tem preço. As crianças saem maravilhadas. Para elas, tudo isso é muito novo e uma novidade muito boa por sinal. Elas estão tendo a oportunidade de aprender se divertindo. Certa vez, no final de uma sessão, na hora do lanche, foi fantástico ver a força do Cine Peixe-Boi, quando uma criança chamada Gisela, que mora aqui na Barra, pegou o saco de lixo e saiu coletando os papéis do lanche que estavam no chão, pedindo para seus coleguinhas colocarem os copos no saco que ela segurava. Isso é muito gratificante”, conta Sé Silva, morador da Barra de Mamanguape, estudante de Ecologia e um dos idealizadores do Projeto Cine Peixe-Boi.

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COLUNA CIENTÍFICA

AS ANGIOSPERMAS MARINHAS E O TREVO DA SORTE DOS PEIXES-BOIS POR KARINE MATOS MAGALHÃES Bióloga, Doutora em Botânica e professora de Ecologia da Universidade Federal Rural de Pernambuco. FOTO ARQUIVO PESSOAL

Angiospermas marinhas, plantas que, apesar de viverem submersas nos mares não congelados de todo o mundo, são mais parecidas com as plantas terrestres do que com as algas marinhas por desenvolverem flores, frutos e sementes. Elas são um dos principais itens alimentares do peixe-boi, assim, como uma das estratégias para a preservação destes animais, precisamos também conhecer e conservar seu alimento.

em apenas sete outras localidades do mundo. Sua distribuição está restrita à biorregião Atlântica Tropical e a população de Barra de Mamanguape é a primeira registrada para o Brasil em mais de três décadas. Antes disso, ela havia sido referida apenas em 1888, na ilha de Itamaracá, Pernambuco, e na década de 1980, quando foi encontrado um pedaço de planta solto em frente ao Recife, também no litoral pernambucano.

Por sua importância na alimentação do peixe-boi, entre as atividades desenvolvidas pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, na Barra de Mamanguape (PB), está justamente o de mapear e caracterizar as áreas de alimentação dos peixes-bois marinhos, identificar seus itens alimentares e saber quanto tem disponível dessas plantas para esses animais.

Esta planta marinha foi localizada em uma área referida como sítio de alimentação de peixes-bois, indicando que H. baillonis é um potencial item da dieta alimentar destes animais na área, conforme já documentado para outras regiões do mundo. Ela foi encontrada junto ao capim agulha, numa área protegida pelos arrecifes e com sedimento constituído por uma camada superficial de seixos rolados e material advindo dos recifes, com presença de areia fina abaixo da superfície, cerca de 10cm.

Para nossa surpresa, em junho de 2013, durante uma das primeiras saídas a campo para localizar as angiospermas marinhas na região estuarina do rio Mamanguape, encontramos, além das espécies de angiospermas marinhas mais comuns no litoral brasileiro – que são a Halodule wrightii (capim agulha) e Halophila decipiens –, a rara espécie Halophila baillonis, o trevo marinho. Esta última é uma espécie considerada vulnerável pela IUCN por ser naturalmente rara e com populações fragmentadas, que ocorre

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As plantas foram facilmente identificadas por apresentarem quatro folhas semelhantes a um trevo da sorte, daí seu nome comum. Elas são pequenas com cerca de quatro a cinco centímetros, contudo, são importantes não apenas para alimentação do peixeboi, mas por produzirem oxigênio, sequestrarem carbono, ajudarem na estabilização do sedimento e


FOTO KARINE MAGALHÃES

aumentarem a produtividade primária e secundária das áreas onde ocorrem, entre outras funções ecológicas. Atualmente, a equipe de pesquisa do projeto está monitorando a espécie e seu registro oficial na Barra de Mamanguape, que representa a população mais ao sul do mundo, está em processo de publicação na revista Anais da Academia Brasileira de Ciências. Pela área de ocorrência da planta estar inserida na Área de Proteção Ambiental da Barra do Rio Mamanguape (Decreto no 924, de 10 de Setembro de 1993), protegida pela importância ecológica da área e por ser considerada um dos principais locais de ocorrência do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) no Brasil, espera-se que os esforços de conservação desta espécie sejam efetivos e que tenhamos este item alimentar sempre disponível para o peixe-boi marinho.

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Diário de bordo POR DANIELA ARAÚJO DE OLIVEIRA

Técnica de Inclusão Social do PVPBM Relações Públicas, especialista em Gestão no Terceiro Setor

Meu primeiro contato com este mundo dos mamíferos aquáticos foi em 1998, quando tinha uma empresa de organização de eventos e organizei a 8RT em Pernambuco. Após vários anos, de forma inusitada fui convidada a coordenar o Eco-Parque Peixe-Boi & Cia, parque temático que a Fundação Mamíferos Aquáticos executava em Itamaracá. Por seis anos, vivi intensamente ao lado de uma equipe maravilhosa o dia a dia do trabalho incessante e incansável pela conservação do peixe-boi. Aprendíamos diariamente a amá-los. O peixe-boi sempre me propiciou várias reflexões... seu modo de vida, seus hábitos e sua capacidade de angariar tanta empatia dos que o conhecem. Acredito que a luta pela sobrevivência no Planeta Terra passa pelo esforço diário em mantê-lo assim dócil, pacato e ingênuo e que igualmente ao nosso planeta sofre com a falta de lucidez do homem, seu único predador. A Barra de Mamanguape e seu entorno é um paraíso, onde a natureza é soberana e o relógio tem um outro compasso. Este compasso de tempo tem um único sentido, o da natureza. A todo momento, quero estar lá, já que me divido em atividades no

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Recife e na Barra. Chegar para compor a equipe do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho como Técnica de Inclusão Social, foi vivenciar e fortalecer a relação que a Fundação já apoia e defende há vinte e cinco anos, quando ali nasceu. A participação e a colaboração das comunidades onde ocorre o peixe-boi marinho são fundamentais para que todo este trabalho faça sentido. Ao longo deste Projeto investimos não só no esforço em aumentar a renda das mulheres da Associação que fabricam os bonecos de peixe-boi, mas também sensibilizar outros atores locais para que de forma articulada possam se movimentar em rede e gerar renda de forma sustentável. Poder participar desta iniciativa desde sua concepção, tem sido nossa maior satisfação. O respeito e cuidado são nossos valores principais nesta atividade e lhes confesso, tem rendido vários frutos!!! Nosso desafio é alimentar a esperança nestes atores com quem estamos trabalhando, de que comércio, geração de renda, cultura, meio ambiente, solidariedade, comunidade, podem falar uma mesma língua de forma sustentável para o bem comum.


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PESQUISA A cada edição, a Revista A Bordo trará artigos e resumos científicos relacionados à conservação do peixe-boi marinho e seus habitats. Confira agora o resumo científico elaborado por Gisela Sertório, educadora ambiental do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, graduada em Oceanografia pela Universidade Federal do Paraná.

CAPACITAÇÃO DE JOVENS COMO AGENTES AMBIENTAIS DENTRO DE UMA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO NO NORDESTE DO BRASIL Autores: Gisela Sertório¹ (giselasertorio@mamiferosaquaticos.org.br); João Carlos Gomes Borges¹ (joao@mamiferosaquaticos.org.br); Maria Elisa Pitanga¹ (elisapitanga@mamiferosaquaticos.org.br); Larissa Molinari Jung¹ (larissa@mamiferosaquaticos.org.br). ¹Fundação Mamíferos Aquáticos. Av. 17 de Agosto, 2001 – 1º Andar, Casa Forte- Recife/PE, Brazil. CEP: 52061-540 Palavras-Chaves: jovens ambientais; área de proteção ambiental; peixe-boi marinho.

INTRODUÇÃO Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, e essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999).

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apreciar as inter-relações entre pessoas, suas culturas e seus meio-físicos”. A Educação Ambiental também envolve a prática para as tomadas de decisões e para as auto formulações de comportamentos sobre os temas relacionados com a qualidade do meio ambiente.

Desde a Conferência Intergovernamental de Tbillisi, na Georgia, a Educação Ambiental está orientada como uma proposição que abandona a tradicional fragmentação do conhecimento, numa perspectiva interdisciplinar. Trata-se de uma educação que visa a participação dos cidadãos nas discussões e decisões sobre a questão ambiental, num processo educativo que não separa a arte da ciência (MORIN, 2000).

Diante deste contexto, o presente estudo teve como objetivo relatar as estratégias de mobilização e capacitação de jovens das comunidades inseridas na Área de Proteção Ambiental (APA) da Barra do Rio Mamanguape, descrevendo alguns aspectos fundamentais para promoção de uma construção coletiva integrando a sustentabilidade socioambiental junto aos esforços para a conservação do peixe-boi marinho (Trichechus manatus manatus) em seu habitat natural.

Nesta trama, autores como Medina (1994) avançam no conceito de Educação Ambiental em uma concepção que se enquadra na vertente socioambiental “o processo de reconhecimento de valores e elucidação de conceitos que levam a desenvolver as habilidades e atitudes necessárias para entender e

METODOLOGIA A proposta da oficina de formação dos agentes ambientais, sendo esta uma das ações realizadas pelo Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, teve seu início com o convite, através da divulgação com cartaz e indicações dos moradores locais, para jovens na faixa

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etária de 14 a 25 anos, moradores da APA da Barra do Rio Mamanguape. Foram realizados 16 encontros, com carga horaria de três horas cada, totalizando 48 horas. Nestes encontros foram abordados, através do planejamento pedagógico da equipe técnica, temas relacionados com: a questão ambiental, desenvolvimento sustentável, noções gerais sobre Unidades de Conservação e legislação ambiental, importância da conservação da biodiversidade (fauna e flora), informações e orientações sobre o peixe-boi marinho, problemáticas relacionadas aos resíduos sólidos e contextualização das possibilidades de ações dos agentes ambientais na APA da Barra do Rio Mamanguape. O processo de capacitação dos jovens ambientais foi fomentado através da ferramenta de arte educação ambiental, utilizando linguagens artísticas, atividades integradoras de sensibilização ambiental, palestras educativas, atividade de limpeza de praia, caminhadas ecológicas, oficinas de reciclagem, vídeos ecológicos e pesquisas coletivas, tendo um foco multidisciplinar e interdisciplinar na construção da proposta pedagógica. Todas as atividades foram realizadas em espaços na comunidade da Barra de Mamanguape, a partir de parcerias estabelecidas com a Colônia de Pescadores, a Eco-Oficina Peixe-Boi & Cia e a APA da Barra do Rio Mamanguape/ICMBio.

RESULTADOS E DISCUSSÕES A oficina contou com a presença de 23 jovens, com idade de 14 a 30 anos, moradores das comunidades de Tanques, Tavares, Sítio Saco, Praia de Campina e Barra de Mamanguape, dos quais frequentaram e se formaram 21 agentes ambientais. O grupo de jovens capacitados através do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho foi estimulado com o intuito de atuar como agentes multiplicadores da educação ambiental em espaços sociais, desenvolvendo suas habilidades a partir de ações de estratégias socioambientais. Segundo Rabello (2002), protagonismo é a atuação dos jovens através de uma participação construtiva, exercitada a partir da percepção das questões socioambientais de forma global e favorecendo para a participação ativa nas questões e problemáticas locais. De acordo com Quadros (2007), “para sentir-se parte integrante do meio natural, necessitando viver em equilíbrio e respeito com o mesmo, e ao mesmo tempo ser social, atuante, sujeito da sua própria história, é necessária a prática e construção da cidadania solidária, assumindo o direcionamento de sua própria vida e suas escolhas”. A oficina de capacitação de agentes ambientais, que foi estruturada a partir da vertente socioambiental da educação ambiental, teve como resultado inicial o planejamento de três projetos socioambientais comunitários, ide-

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alizados coletivamente dentro do contexto da problemática ambiental local. Diante deste cenário, os agentes ambientais se propuseram a atuar no desenvolvimento das seguintes propostas socioeducativas: 1. Projeto Ambiental Comunitário do Cine PeixeBoi: propõe a realização de um cinema itinerante ambiental para as comunidades da APA da Barra do Rio Mamanguape. 2. Projeto Ambiental Comunitário dos Resíduos Sólidos: visa informar à comunidade sobre a problemática do lixo e criar estratégias para minimizar o problema, buscando parcerias com o terceiro setor e o poder público, já que as comunidades da APA da Barra de Mamanguape não possuem coleta de lixo periódica. 3. Projeto Ambiental Comunitário de Reflorestamento do Rio Manimbu: jovens da comunidade de Tavares propôem o reflorestamento das margens do Rio Manimbu (contribuinte do Rio Mamanguape), com a criação de um viveiro de mudas no local e sensibilização ecológica da comunidade.

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CONCLUSÃO Embora ainda recente e com um caminho de possibilidades a ser construído através das ações do Projeto Viva o Peixe-boi Marinho, as estratégias adotadas para a capacitação dos agentes ambientais possibilitaram o empoderamento dos jovens ambientais, favorecendo a percepção dos problemas locais e o desenvolvimento de atitudes que ampliem as tomadas de decisões em prol da sustentabilidade socioambiental da região. AGRADECIMENTOS Esta iniciativa é resultado dos esforços do Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, patrocinado pela PETROBRAS, através do Programa Petrobras Socioambiental. Este resumo científico foi apresentado no II Encontro de Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA/UFPE.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. 1999. Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: http://planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao.htm; Acesso em 27 abril, 2014 MEDINA, N.M. 1994. Amazônia- Uma proposta Interdisciplinar de Educação Ambiental. Documentos Metodológicos. MMA/IBAMA. Brasilia. MORIN, Edgar. 2000. A cabeça Bem-Feita. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. QUADROS, A. 2007. Educação Ambiental: iniciativas populares e cidadania. Universidade Federal de Santa Maria: monografia de especialização. Março, 2007. RABELLO, M.E.D.L. 2002. O que é protagonismo juvenil? Disponível em: <http://www.cedeca.org.br/PDF/protagonismo_juvenil_eleonora_rabello.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2014

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FMA 25 ANOS

Trajetória da Fundação Mamíferos Aquáticos é pautada na perseverança e compromisso ambiental POR RAQUEL PASSOS FOTOS ACERVO FMA

Para que uma história se firme na parede da memória, é preciso ao menos personagem, tempo e espaço. Uma instituição, quando consolidada, também adquire cronologia do tempo, tornando-se responsável por seus ideais, rumos e conquistas. Para a Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA) alcançar seu atual marco de 25 anos de conservação ambiental no Brasil foi necessária uma vida de dedicação e perseverança. Uma não, várias vidas. À frente dos projetos da organização da sociedade civil sem fins lucrativos sempre estiveram pessoas generosas e batalhadoras, que desde então reconheciam a importância dos cuidados com o Meio Ambiente e suas espécies, e batalhavam em cumprir esta missão dia a dia, incansavelmente. Eram quatro jovens estudiosos que, juntos, impulsionaram a criação da FMA no Brasil, em 1989. Mas não foi tão prático assim. Sem estrutura, à época a instituição ainda se restringia em executar o Projeto Peixe-Boi, nascido em 1980, na Barra de Mamanguape (PB).

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Naquele tempo, tudo era muito difícil e para garantir o desenvolvimento de ações em prol da conservação do peixe-boi marinho no Brasil, os pesquisadores que estavam à frente desta iniciativa criaram, em 1989, a Fundação Mamíferos Marinhos – organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que em 2001 passou a ser chamada de Fundação Mamíferos Aquáticos (FMA). Naturalmente, a Fundação começou a criar cada vez mais legitimidade e passou a abrir espaço para outros projetos, criou asas e alçou voos rasantes em Pernambuco, Sergipe e Paraíba, que respingaram em várias cidades do nordeste e sudeste brasileiro. Embora sua área de abrangência seja definida como todo o território nacional, a FMA, sediada no Recife (PE), tem hoje uma atuação destacada e consolidada no litoral brasileiro, tendo realizado trabalhos em diversos estados do Nordeste e região amazônica, sempre em parceria com outras instituições.


“A criação da FMA foi um marco, de fato, devido à forma idealizadora que a Fundação surgiu no ano de 89, pois em termos de desenvolvimento e de organizações ambientais ainda era um momento tímido e a FMA surge de forma inovadora. A princípio, um sonho de quatro pesquisadores que foi ganhando corpo e em escala inicialmente local (na Paraíba), foi pouco a pouco ampliando suas ações e ao longo do tempo tem tido interface de diversos estados do litoral brasileiro bem como iniciativas na região norte do Brasil – basicamente estruturadas a partir ou de projetos ou de programas que vão tendo suas reconexões, readaptações e modificações naturais”, relembra o diretor-presidente da FMA, João Carlos Gomes. A FMA conta com um conselho deliberativo que ajuda a definir a estratégia e caminhos da organização, dando o devido crescimento e maturidade adquirida pela organização ao longo dos anos. “Este grupo, inclusive, auxiliou a diretoria da FMA na luta em continuar com a FMA, enquanto vivenciava os momentos de crise nos anos de 2008 e 2009, ao precisar se

desligar oficialmente do Projeto Peixe-boi”, pontua a atual diretora vice-presidente da FMA e coordenadora técnico-científica do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), Jociery Vergara-Parente. Assim, criada em 1989, a Fundação é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, com atuação nacional e reconhecida como consolidada instituição de pesquisa, defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do desenvolvimento sustentável. A FMA tem a missão diária de promover a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental. DIFUSÃO DE CONHECIMENTO A cada atividade desses programas e projetos desenvolvida, a Fundação passou a fomentar a pesquisa científica e ampliar seu território de atuação concomitantemente. Portanto, seu papel de desenvolver o senso crítico na sociedade a partir dos resultados obtidos com as atividades de campo realizadas pela FMA, passava a ser o maior objetivo alcançado pela

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instituição. Só de produção científica, nos dias atuais já ultrapassam 90 trabalhos publicados com a participação da instituição. Aliás, a Fundação estabeleceu a difusão de conhecimento técnico e científico como uma de suas metas institucionais. Por isso, atualmente mantém convênios com 15 instituições de ensino superior em todo o Brasil, apoia e desenvolve pesquisas científicas, exercendo importante papel para a formação de profissionais na área de conservação marinha. Dessa forma, parcerias acadêmicas começaram a ter destaque na rotina da Fundação. Somente em Aracaju (SE), onde está situada a base administrativa de Sergipe, a Faculdade Pio Décimo, Universidade Tiradentes, Universidade Federal de Sergipe e Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão de Sergipe fazem parte do leque de investimento científico. O Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), referência no Nordeste que promove a Ciência, Tecnologia e Inovação, por meio da Pesquisa e Desenvolvimento e da Prestação de Serviços Técnicos, trouxe uma nova realidade à FMA no início de 2014, ao firmar compromisso de cooperação técnica, científica e financeira.

ARQUIVO FMA Vinte e cinco anos de história na luta pela conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental

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Desta parceria surgiu o selo MAR para unificar a linguagem e esforços do trabalho em conjunto do ITP e FMA. Todas as atividades que relacionem as duas consolidadas instituições, passaram a ter caráter único: o de fomento à pesquisa e conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats. Assim acontece com as atividades de monitoramento de praias e de biota que a Fundação realiza – com o know-how tecnológico do ITP e técnico da FMA. As demais instituições conveniadas com a Fundação, são: Universidade Luterana do Brasil, Universidade do Vale do Itajaí, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita, Fundação de Ensino Superior de Bragança Paulista, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Universidade Federal de Pernambuco, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Federal de Goiás, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Universidade Estadual de Maringá, Universidade Federal de Alagoas e Universidade Federal do Paraná. ATUAÇÃO A FMA trabalha para a conservação dos mamíferos aquáticos e seus habitats, envolvendo o manejo e a pesquisa científica, estudando os efeitos antropogênicos nos recursos marinhos, promovendo parcerias e ações colaborativas que promovam mudanças no contexto sócio-econômico-ambiental, apoiando a construção e execução de políticas públicas e marcos regulatórios, e fomentando a participação das mulheres no desenvolvimento da comunidade da Barra de Mamanguape (PB).


Em sua estrutura organizacional, a Fundação apresenta sede nacional no Recife (PE), onde funcionam os serviços técnicos administrativos e supervisão das atividades dos projetos situados em Barra de Mamanguape (PB), com o objetivo de conservar os mamíferos aquáticos e seus habitats, visando a sustentabilidade socioambiental e objetivando a informação técnica especializada, execução e apoio a projetos relevantes à pesquisa e conservação desses animais. Já em Aracaju (SE), a FMA possui o Núcleo de Pesquisa (Nupesq), o setor de Comunicação Social, a diretoria administrativa financeira e o Núcleo de Estudos dos Efeitos Antropogênicos nos Recursos Marinhos (NEARM), que desenvolve pesquisas que analisam a relação existente entre os animais aquáticos e a interferência do homem no ambiente. Nesse sentido, atua em programas de monitoramento da biota por meio de censo aéreo, observação de biota embarcado, monitoramento de praia, radiotelemetria, resgate, soltura e reabilitação da fauna aquática. Em suas pesquisas, analisa ainda a dieta e a ingestão de lixo pelos animais, realiza genotipagem de microorganismos em mamíferos aquáticos e identifica os impactos gerados pela pesca e embarcações sobre os animais. Promove cursos de capacitação para estudantes e profissionais das áreas de biologia, ecologia, veterinária e afins. O NEARM funcionou por três anos no Hospital Veterinário da Faculdade Pio Décimo, onde possui convênio firmado, desde 2010, de cooperação e intercâmbio pedagógico, científico e cultural para a re-

alização de projetos conjuntos de pesquisa, extensão e de desenvolvimento tecnológico e cultural. Em abril de 2014, a FMA inaugurou sua base administrativa na capital sergipana, localizada no bairro Farolândia, e é nesta atual estrutura que o NEARM está situado. No escritório localizado no Hospital Veterinário da Faculdade Pio Décimo, equipes técnicas permanecem e se revezam entre as atividades desenvolvidas pelo Núcleo, utilizando estruturas como o laboratório de necropsia e os centros cirúrgico e radiográfico. POLÍTICAS PÚBLICAS A Fundação também entende que para a efetivação de suas ações é importante trabalhar no campo estratégico das articulações institucionais e das políticas públicas para a conservação. Neste sentido, atualmente a FMA é membro de cinco fóruns ambientais: o Conselho Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (Consema), o Conselho Gestor da APA da Barra de Mamanguape e da Área de Relevante Interesse Ecológico dos Manguezais da Foz do Rio Mamanguape, o Conselho Consultivo da APA Costa dos Corais, o Fórum Estadual de Mudanças Climáticas (PE) e a Rede de Encalhe de Mamíferos Aquáticos do Nordeste (Remane). RESULTADOS INSTITUCIONAIS Ao longo dos 25 anos de atuação, a Fundação conseguiu promover o desenvolvimento de tecnologias e técnicas inovadoras para a conservação, pesquisa e manejo dos mamíferos aquáticos. O conhecimento científico sobre o peixe-boi a serviço da conser-

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vação, capacitação de profissionais especializados, através de estágios e atuação profissional, conscientização e sensibilização das comunidades litorâneas, com crescente envolvimento e conhecimento sobre os peixes-bois também fazem parte dos resultados alcançados.

Também neste período de atividades, a Fundação gerou contribuições efetivas no processo de criação e manejo de Unidades de Conservação federais, como as APAs da Costa dos Corais (AL-PE), da Barra de Mamanguape (PB) e do Delta do Parnaíba (PI-MA).

O desenvolvimento de comunidades locais em áreas de atuação dos projetos, inclusive com ações de geração de renda, valorização social e turística dos peixes-bois, com difusão de informações e imagem carismática do animal, e sensibilização para a conservação, com gradativa redução da caça, foi possível com o trabalho incessante da FMA e instituições parceiras.

Houve ainda a criação, junto com outras organizações, da Rede de Encalhes de Mamíferos Aquáticos do Nordeste (REMANE), desenvolvimento e apoio a pesquisas científicas, com cerca de 90 trabalhos científicos publicados com a participação de integrantes da Fundação e contribuição efetiva para as seguintes publicações em livros, que são algumas

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das referências para a área de mamíferos aquáticos: “Projeto Peixe-Boi – a história da conservação de um mamífero brasileiro”, “Protocolo de Conduta para Encalhes de Mamíferos Aquáticos da REMANE”, “Atlântico Sul: Um Santuário de Baleias” e “Protocolo de Reintrodução de Peixe-Boi-Marinho”. A FMA permanece no cenário da conservação marinha e seus habitats por conta da sensibilidade e compromisso ambiental inerente à postura da organização, bem como esforço de uma iniciativa sistêmica que tenta ampliar, cada vez mais, sua atuação para contribuir com a conservação e sustentabilidade socioambiental.

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GPS

INDICAÇÕES

ECOLOGIA DO COTIDIANO A obra traz 90 crônicas do biólogo Ricardo Braga, publicadas na coluna Foco Ambiental, que mantém desde 2007, inicialmente no JC Online e depois no Portal NE10, ambos do Sistema Jornal do Commercio. Elas estão agrupadas em duas partes: “ecologia e sociedade” e “livre pensar”. A partir de suas vivências e visões de mundo, o autor retrata seus sentimentos sobre a natureza, com pitadas sutis de informações técnicas e reflexões criticamente construtivas, mas também com poesia e leveza. Autor: Ricardo Braga

FOWLER’S ZOO AND WILD ANIMAL MEDICINE CURRENT THERAPY Com cobertura de temas atuais e tendências emergentes, o livro traz uma nova referência na gestão de zoológicos e no tratamento de doenças de animais selvagens. Num formato atualizado de terapia, enfatiza os mais recentes avanços na área, incluindo nutrição, diagnóstico e protocolos de tratamento. Inclui temas como o conceito “One Medicine”, a cirurgia laparoscópica em elefantes e rinocerontes, doenças virais de anfíbios, e avaliação de tecnologia e qualidade de água em zoológicos. Os autores promovem uma filosofia de conservação animal, fazendo a ponte entre a medicina de animais silvestres em cativeiro e em vida livre com capítulos que contam com a contribuição de mais de 100 especialistas internacionais. Autores: R. Eric Miller e Murray E. Fowler

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eventos Programe-se para os eventos técnico-científicos previstos para 2014 nas áreas de Medicina Veterinária, Biologia, Ciências Biológicas, Ecologia e campos afins. IV CONGRESSO BRASILEIRO DE OCEANOGRAFIA (CBO) Data: 25 a 29 de outubro de 2014 Local: Itajaí (SC) www.cbo2014.com/site A CONFERÊNCIA DA TERRA: FÓRUM INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE Data: 12 a 15 de novembro de 2014 Local: João Pessoa (PB) www.conferenciadaterra.com IV CONGRESSO COLOMBIANO DE ZOOLOGIA Data: 01 a 05 de dezembro de 2014 Local: Colômbia www.congresocolombianozoologia.org/ 1º CONGRESSO BRASILEIRO DE DIREITO DO MAR Data: 03 a 05 de dezembro de 2014 Local: Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo www.direitointernacional.org

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ILUSTRAÇÃO A cada edição, a Revista A Bordo traz ilustrações que abordem o universo do peixe-boi marinho e de seu habitat, como forma de reflexão sobre a importância da conservação do meio ambiente. Aproveite! Angiospermas marinhas por Giovanna Monteiro

Halophila decipiens

Halophila baillonis

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FOTO REFLEXÃO

Que a reflexão sobre a conservação do meio ambiente seja lembrada e vivida todos os dias, por meio de nossas atitudes de respeito à natureza e a todos os seres que habitam este planeta. Na foto, um peixe-boi marinho registrado em seu ambiente natural pelo fotógrafo Enrico Marcovaldi.

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Para saber mais sobre o Projeto Viva o Peixe-Boi Marinho, acesse: www.vivaopeixeboimarinho.org

Realização:

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