Despojos, Lauren Maganete

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despojos LaureN Maganete

Exposição temporária de fotografia



Para Lauren Maganete Para olhar as tuas fotografias Para deixar o meu olhar caminhar no teu p/b E encontrar as cores que lá estão ou não E assim eu à margem da poesia olho-te e Procuro entender esse mundo escondido Descobrir a matéria da qual nascem os sonhos Impressos sem palavras coloridas ou desbotadas E se a poesia se constrói num vasto manancial De sentimentos de caminhos vazios de paixão As tuas imagens não querem palavras para a dor Nessas manhãs cinzentas de angústia e solidão Para não nos sentirmos perdidos entre dois infinitos Como te direi dos sentimentos monocromáticos Como te falar do analógico do digital do contraste do foco Como se só sei falar de mágoas de ausências e desejos Mesmo assim eu preciso delas, as palavras, elas são como água Mesmo que eu deseje a luz transversal de Edward Hopper Mesmo que eu queira a luz e a cor irreal de Jorge Bacelar Mesmo quando em ti procuro Cartier_Bresson na sua Magnun Mesmo quando em ti imagino Dorothea Lange na dor do p/b Por vezes as palavras são como facas trespassam os sentidos Por vezes são o mar no olhar a chuva e sempre o Tempo Por vezes são os nossos olhares no desencontro do tempo Por vezes são pernas que caminham na corda bamba do tempo Por vezes é a memória do homem estilhaçada contra o espelho Por vezes o tempo é o espelho duplo do homem só na chuva Por vezes o tempo é uma porta entreaberta no nosso desejo Por vezes as perspectivas aliciam-nos e roubam-nos o Tempo Ao olharmos o tempo num tempo que foi e É no teu instante decisivo que te olho sem Tempo Eu que sou Aurora e Gaia. Fico no tempo que passou. Aurora Gaia


A sua interpretação da realidade, configurada em luz e contraste, é forte e subjectiva. Revela-se no seu detalhar um todo, na busca do melhor ângulo, na captação da mais expressiva luz. Ao aprisionar um momento, a objectiva de Lauren subordina-se sem complacencia à sensibilidade do olhar dela, simultaneamente múltiplo e focado, atento e mágico, construído e desconstruido. Quando nos confrontamos com a Arte de fotografar de Lauren Maganete não duvidamos que estamos perante a mais pura emoção que uma imagen pode conter. Reconhecemos nas suas imagens uma marca significante própria que nos conduz à essência da Fotografia, nem mais nem menos que a alma e a paixão contida nas imagens. Quer seja a PB quer a cor. O seu ponto de vista e enquadramento arquivam cada instante tornando o assunto, por mais banal que aparente ser, notável e especial. Ela vê com emoção e sentimento, e no acto de operar o registo a máquina fotográfica obedece-lhe com cegueira automática transmitindo aos outros o que a sua autora quer dizer. E o que ela afirma acima de tudo é que adora o que faz tornando o seu trabalho artístico exemplar. O mundo interior da fotógrafa transfigura o mundo que a objectiva capta e ese acto criativo coloca o espectador num dilema configurado entre a fantasia e a realidade. Isto no que concerne ao detalhe, à dimensão, à composição, à multipla paleta do preto e branco, até à exoressiva soturnidade da cor em que a artista supera a realidade trabalhando-a exaustivamente na busca de impresionar, despertar. Enfim, na estranha procura da reacção contemplativa do outro olhar, o nosso. Margarida Santos




despojos Exposição temporária de fotografia



Despojo! Despojo, o que serviu de adorno a um momento e foi feito presa… Três momentos em movimento artístico do Objecto: Sujeito numa oração em três presentes feitos, por ora, passados, antes Futuro. Sujeito… se segundo Evanildo Bechara, é o termo da oração que indica a pessoa ou a coisa de que afirmamos ou negamos uma acção ou qualidade, corpo e flash serão a interpretação da fragilidade da relação entre Tradição e Modernidade, em um sujeito feito despojo, preso pelo nosso olhar: reinterpretação em nós de um Ser num Momento (em três). Flashes de Lauren Maganete que aprisionam, ou se apropriaram, desses despojos de um dia em uma cidade e, assim, os resgatou, em nós que os olhamos, numa simbiose laboriosa dos sujeitos. Numa gramática fotográfica e criadora que transpõe a própria fragilidade do hiato temporal, colocando-nos ante o que somos: Um intervalo de Tempo. Despojos… Condição humana num palco cuja obra transforma o indivíduo em nada… um instante que foi… resgatando-se quando o falamos em o olhar, tal poética de Wislawa Szymborska: Quando pronuncio a palavra FUTURO a primeira sílaba já se perde no passado. Quando pronuncio a palavra SILÊNCIO suprimo-o. Quando pronuncio a palavra NADA crio algo que não cabe em nenhum ser. Despojos!... J. M. Vieira Duque, 2018



Despojo 1, 2016 | Fotografia digital | 800x1200


Despojo 2, 2016 | Fotografia digital | 450x650




Despojo 3, 2016 | Fotografia digital | 450x650


Despojo 3, 2016 | Fotografia digital | 450x650




Os cavalos tambĂŠm se abatem, 2017 | Fotografia digital | 500x700



A CHAVE LAUREN MAGANETE Sexualidade feminina: dois tipos, a que reage + a que inicia. Todo o sexo é ao mesmo tempo activo (tendo o dínamo dentro de si) + passivo (entregar-se) Susan Sontag, in Renascer Nasceu em Bragança e estudou no Porto, licenciando-se em Gestão e Administração de Empresas. Fotógrafa da Casa da Cultura de Vila Nova de Gaia desde 2009. Tem trabalhos publicados em diversas revistas e jornais nacionais e internacionais. Participa regularmente em exposições individuais e colectivas. Expôs em diversos locais, nomeadamente em Madrid, Porto e Coimbra. Trabalha como fotógrafa freelancer tendo vindo a colaborar com diversas instituições e empresas. Sobre o trabalho artístico que desenvolve, Lauren refere: As fotografias guardam o movimento único de cada qual, ampliam idiossincrasias, perpetuam a ligação que é feita entre o que somos e o chão, passando assim a ser sempre o palco. Lauren Maganete fascina por cada instante que partilha com a objectiva que a acompanha em permanência, numa dádiva de construção de uma identidade e interioridade que comunica connosco, de forma impune e transversal em temperamento que não cessa de transgredir… amando. Nessa paixão que nos contagia, fala-nos de si e da sua permanente viagem… porque ela é de permanência… mas em contínuo movimento. Para onde? Talvez não consigamos respostas, porque nos esventra com advérbios de comparação feitos imagens. Momentos ou instantes que nos instigam a falar-lhe… a perguntar-lhe… a interrogar-nos… A sua fotografia é a simplicidade do todo, do conjunto, do percurso no quotidiano que não esgota. O compromisso com os passos que esbarram permanentementecom os seus flashes – clarão disparado ao mesmo tempo que é tirada uma fotografia, para iluminar o objecto fotografado (in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa) – cantando memórias que fecundam a alma no ventre da vida. Depois… A Chave? Deixo para as palavras de Susan Sontag, in Renascer: Medo do que as pessoas possam pensar – e não o temperamento natural – faz com que a maioria das mulheres fique dependente de ser desejada primeiro, antes de poder desejar. J. M. Vieira Duque, 2015


A Chave, 2015 | Fotografia digital | 500x750





Ficha Técnica Curadoria: Vieira Duque, Conservador e Membro da Comissão Executiva Edição: Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro Design: Joel Almeida Apoio Técnico: Catarina Martins Fotografia: Lauren Maganete Textos: Aurora Gaia Margarida Santos Vieira Duque


Praรงa Dr. Antรณnio Breda, nยบ4 3750-106 ร gueda Telefones: (+351) 234 623 720 | (+351) 234 105 190 (+351) 913 333 000 Fax: (+351) 234 096 662 www.fundacaodionisiopinheiro.pt info@fundacaodionisiopinheiro.pt conservador.museu@fundacaodionisiopinheiro.pt https://www.facebook.com/fundacaodionisiopinheiro/



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