SANTOS MARGARIDA
Ficha Técnica Edição Fundação Dionísio Pinheiro e Alice Cardoso Pinheiro Curadoria Vieira Duque Escultura Margarida Santos Design João Teixeira, Estagiário em Arte e Design, Escola Superior de Educação de Coimbra Catarina Martins, Estagiária em Técnica de Multimédia, Instituto do Emprego e Formação Profissional de Águeda Fotografias: António Santos João Teixeira Secretariado: António Santos Maio/2016
C창none da Harmonia
Tudo aconteceu quando vi a escultura Cânone da Harmonia de Margarida Santos
Para te encontrar na minha vida bastou simplesmente olhar-te E com olhos nos meus dedos acariciei o teu corpo feito estátua de bronze cor antracite fogo fogo que funde dois corpos dos pés até ao beijo Deixa que o fogo que funde o bronze , o ferro, o ouro e a prata me purifique do meu vício de ti E é em ti que eu me dobro – sobre ti E é em ti que eu me debruço – sobre ti e apago o fogo E é nesta água que corre desta gruta perdida bem no centro deste desfiladeiro tormentoso Nesta vertigem inebriante dos sentidos E como se fosses um anjo eu imploro Como podes meu anjo não ouvires os meus gritos Como podem as tuas maõs desprender-se Como podem ao de leve tocar meus mamilos túrgidos Como podem as tuas mãos soltar-se do bronze Como pode a tua palma da mão fundir-se na palma da minha mão
Como pode uma estátua queimar assim Como podes beber avidamente desta água da minha fonte Como podes beber mais e mais ainda ainda deste rio que de mim corre Como pode a tua língua qual chicote fustigar o meu corpo até desfalecer Como posso viver sem o teu fogo que funde o bronze o ferro o ouro e prata Como posso Como posso E nesta fusão dos corpos em Harmonia tal cânone dos sentidos aconteceu o espanto O espanto em que fiquei quando te vi e toquei com os meus olhos feitos dedos Em ti feito estátua de bronze tal Cânone da Harmonia Aurora Gaia
CÂNONE DA HARMONIA
“Feito estátua de bronze cor antracite fogo fogo que funde dois corpos dos pés até ao beijo”. Aurora Gaia, in Cânone da Harmonia
Em Cânone da Harmonia, escultura em bronze, Margarida Santos conjuga o material e a mestria com a sensualidade e o Ser, de uma forma sublime que permite considerar este trabalho como a sua obra-prima de excelência. Margarida Santos Nasceu em 1946. Obteve a Licenciatura em Escultura na E.S.B.A.P., 1968. Foi bolseira da Gulbenkian antes e depois do Curso. Foi professora entre 1968 e 2006. Orientadora pedagógica da Direcção Geral do Ensino Básico; Orientadora da equipa da Educação Visual da Telescola; Autora, apresentadora e colaboradora de programas culturais da imprensa, da rádio e da televisão; directora artística da Galeria da Praça. Autora de obra pública e privada na área da Escultura: bustos, retratos, relevos, troféus, múltiplos, medalhas e monumentos; de programas radiofónicos e de artigos de opinião, crítica e crónicas na imprensa falada e escrita; de textos críticos para catálogos de exposições. Responsável por cursos para orientadores de professores, filmes pedagógicos e didácticos, diaporamas. Autora e ilustradora de poesia e de obra gráfica. Autora de monumentos de grande escala implantados no país e no estrangeiro. Realizou dezenas de exposições individuais dentro e fora do país. Participou em centenas de mostras colectivas. Desde 1968 até à actualidade desenvolve profícua actividade na área Literária e nas Artes Plásticas - escreve, desenha, pinta e sobretudo esculpe. A sua casa-atelier situa-se em Canelas, Gaia. Recordo o que disse aquando da minha primeira visita ao seu atelier: “Porque vale pela sensualidade, pelas formas, pela estética... Enfim, pela Arte! Margarida Santos, porque vale bem a pena para balizarmos o BOM!” Cânone da Harmonia irá estar patente ao público no Espaço Projectos Memorium – Jardim de Inverno do Museu da Fundação, a partir do dia 21 de Maio de 2016, e permanecerá até ao dia 31 de dezembro de 2016, como força motriz que impulsará diálogos sobre a Arte como génese e fruição do Ser. Vieira Duque
Cânone da Harmonia 2003 Margarida Santos Escultura em Bronze 2160x600x600 Valor Comercial: ₏75.000,00
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Há apenas afazeres Nada é velho a não ser a solidão e o desejo de ternura Margarida Santos, in Fragmentos de uma Biografia Roída
Mas a palavra mais importante da língua tem uma única letra: é. É. Estou no seu âmago. Ainda estou. Estou no centro vivo e mole. Ainda. Tremeluz e é elástico. Como o andar de uma negra pantera lustrosa que vi e que andava macio, lento e perigoso. Mas enjaulada não - porque não quero. Quanto ao imprevisível – a próxima frase me é imprevisível. No âmago onde estou, no âmago do É, não faço perguntas. Porque quando é – é. Sou limitada apenas pela minha identidade. Eu, entidade elástica e separada de outros corpos. Clarice Lispector, in Água Viva (1973)
Olhado do interior de mim mesmo, tudo é eu. José Ortega y Gasset, in Ensaios de Estética
… a liberdade começa na escravidão e a soberania na dependência. O sinal mais vivo da servidão é o medo de viver. O definitivo sinal da liberdade é o facto de o medo deixar espaço ao gozo tranquilo da independência. Dir-se-á que preciso de ser dependente para conhecer o gozo de ser livre!
Stig Dagerman, in A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer
Felicidade é aquela que te escraviza ao cotidiano, ao pão nosso de cada dia, e não altera a rota das tuas quimeras fracassadas. Felicidade é quando alguém apara as tuas asas, justo aquelas que te levam a sonhar, para que tenhas como escusa do teu tropeço o nome do teu algoz. Nélida Piñon, in Coração andarilho
No princípio era o verbo e o verbo tornou-se carne”. É como se repetisses a história da criação. A dualidade que divinizas é o desespero, a bancarrota da lógica e da filosofia; é a ilusão que mantém coeso o sistema planetário humano. É a grande mentira da criação que empresta a perfurante nota de tristeza a todas as grandes obras de arte. Excerto da carta de Henry Miller a Anais Nïn 13 de Outubro 1992
Amo-te ao ponto de já não ver De já não ouvir Morrer… Marguerite Duras, in India Song
Ah! momentos de fraqueza e loucura! Agora vejo que teria mutilado a minha vida, arruinado a minha arte, quebrado as cordas musicais que fazem uma alma perfeita. Mesmo enlameado te louvarei, desde os abismos mais profundos clamarei por ti. Excerto da carta de Oscar Wilde a Lord Alfred Douglas 20 de Maio de 1895
Amo-vos muito, meu Castorzinho‌ Derradeira despedida de Sartre a Beauvoir 1980
Tanta água correndo por baixo das pontes Tanto fogo consumindo paisagens Tanta agitação Aviação variada Cruzeiros fabulosos Leituras infindáveis Um cansaço bom Uma intensa preguiça na exaustão de nada produzir Margarida Santos, in Fragmentos de uma Biografia Roída
Margarida Santos: Arte desde 1946.
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