Realizaram-se, nos dias 9 de fevereiro e 19 de março os Webinars “A importância da Inteligência Artificial no Ensino Superior” e o “Impacto da Saúde Mental no Ensino Superior” no âmbito das atividades ORSIES e do CME.
Com muita adesão, participaram membros de ambas as redes colaborativas bem como vários elementos dessas instituições convidados pelos seus representantes.
No 1º Webinar os contributos dos oradores Luís Tinoca e Marco Neves permitiram aos participantes uma melhor compreensão sobre como a Inteligência Artificial se integra e impacta o Ensino Superior.
Ana Isabel Lage, Virginia da Conceição e Tiago Silva, na segunda temática, permitiram ainda conhecer mais sobre como a Saúde Mental está a afetar a vida e o desempenho dos estudantes do Ensino Superior e demais comunidade académica, como agir perante o atual cenário e que expectativa de evolução se pode antecipar.
“A
IA NO ENSINO
SUPERIOR: INFLUÊNCIA/ IMPACTO NO ENSINO/ MODELOS DE APRENDIZAGEM E PAPEL DO PROFESSOR”
Luís Tinoca ltinoca@ie.ulisboa.pt Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
O potencial da Inteligência Artificial (IA) para transformar os métodos de aprendizagem e ensino é imenso, abrindo portas para a personalização do ensino e o apoio aos estudantes na maximização das suas capacidades. A aprendizagem e a capacidade de utilizar a IA estão a tornar-se rapidamente competências essenciais para o futuro profissional em várias áreas. Num mundo cada vez mais digital e automatizado, a IA emerge como uma força transformadora, capaz de otimizar processos, fornecer perceções aprofundadas a partir de grandes quantidades de dados e revolucionar a forma como as empresas operam e tomam decisões. Dominar esta tecnologia não implica apenas entender os seus mecanismos e aplicações, mas também ser capaz de refletir criticamente sobre as suas implicações éticas, sociais e económicas. Para profissionais de qualquer área, estar a par da IA abrirá portas para oportunidades inovadoras, proporcionará vantagens competitivas e permitirá uma participação ativa no desenvolvimento de soluções tecnológicas que irão definir o futuro da sociedade. Assim, investir no desenvolvimento de competências em IA é crucial não só para o crescimento profissional individual, mas também para contribuir de forma responsável e sustentável para o progresso tecnológico e social.
O potencial da IA para revolucionar a pedagogia do ensino superior é imenso, especialmente no que toca à promoção de metodologias de aprendizagem ativa. Através da personalização do ensino, a IA pode adaptar-se ao ritmo, estilo e necessidades de aprendizagem de cada estudante, fomentando um ambiente onde o protagonismo não reside apenas no docente, mas é partilhado com o aluno. Esta tecnologia permite a criação de plataformas interativas, simulações realistas e sistemas de tutoria inteligentes que incentivam a participação ativa, a resolução de problemas, o trabalho colaborativo e o pensamento crítico. Além disso, a capacidade da IA para analisar grandes volumes de dados em tempo real possibilita um feedback imediato e personalizado, essencial para o aperfeiçoamento contínuo dos processos de aprendizagem. Assim, a integração da IA no ensino superior tem o potencial não só de enriquecer a experiência educativa, mas também de preparar melhor os estudantes para os desafios complexos e dinâmicos do mundo atual, tornando-os mais autónomos, críticos e inovadores.
Este potencial estende-se também ao papel dos docentes, oferecendo-lhes ferramentas poderosas para enriquecer as suas práticas pedagógicas e promover metodologias de aprendizagem ativa. A IA pode ser uma aliada inestimável na conceção de currículos dinâmicos que se ajustam às necessidades e progressos dos alunos, permitindo aos professores focarem-se mais na facilitação da aprendizagem do que na transmissão unidirecional de informação. Com o auxílio de sistemas inteligentes, é possível identificar padrões de dificuldades de aprendizagem, otimizar o conteúdo das aulas para torná-las mais interativas e adaptar os recursos didáticos para atender às variadas formas de aprender. Além disso, a IA pode liberar os docentes de tarefas administrativas e de avaliação rotineiras, permitindo-lhes dedicar mais tempo à investigação, ao desenvolvimento profissional e à interação significativa com os estudantes. Ao integrar a IA no ensino, os docentes podem beneficiar de perceções pedagógicas mais profundas, promover um ensino mais personalizado e eficaz e, consequentemente, elevar a qualidade da educação superior, preparando os estudantes de forma mais eficiente para os desafios futuros.
Três Teorias de Aprendizagem parecem-me particularmente relevantes neste contexto: a Rizomática, a Conectivista e o Design Universal para a Aprendizagem.
A Teoria da Aprendizagem Rizomática (Cormier, 2008), sugere uma evolução dos modelos educacionais tradicionais e hierarquizados para uma perspectiva mais colaborativa e adaptável. Esta abordagem pedagógica, inspirada na natureza descentralizada e interconectada dos rizomas, enfatiza a importância de criar ambientes de aprendizagem onde os alunos possam navegar autonomamente por múltiplas fontes de informação. Encoraja-se a personalização da experiência educativa, permitindo que cada estudante desenhe o seu próprio caminho, alinhado às suas necessidades e interesses individuais. O recurso à IA poderá facilitar a criação de uma rede de conhecimento expansiva que suporte uma exploração autónoma e não linear por parte dos estudantes. A IA tem a capacidade de oferecer recomendações de aprendizagem relevantes e personalizadas, conduzindo à descoberta de materiais didáticos adaptados às preferências e desafios de cada aluno. Além disso, pode gerar conteúdo educativo dinâmico e interativo que se ajusta em tempo real aos interesses e às dificuldades identificadas dos estudantes. Esta abordagem não só democratiza o acesso ao conhecimento, mas também estimula o desenvolvimento de um pensamento crítico e interdisciplinar, essencial na educação superior contemporânea.
O conectivismo (Siemens, 2005) sublinha a importância das redes no processo de aprendizagem, argumentando
que este não se baseia apenas no esforço individual, mas também na capacidade de estabelecer ligações e interações com uma diversidade de fontes de informação, pessoas e recursos. Este paradigma enfatiza a relevância de formar e fortalecer conexões entre distintas fontes de conhecimento, que podem variar desde indivíduos a websites, comunidades online, redes sociais e até elementos não humanos como bases de dados e sistemas de informação. A habilidade de navegar por estas redes e criar vínculos significativos é vista como fundamental para uma aprendizagem eficiente, especialmente numa era caracterizada pela sobreabundância de informação. Os estudantes são incentivados a desenvolver competências críticas para avaliar a credibilidade e a pertinência das informações, adaptando os seus conhecimentos a novos contextos. Nesta perspectiva, a aprendizagem é compreendida como um processo distribuído, onde o conhecimento está disperso pelas redes, e os estudantes são estimulados a colaborar, participar em debates e partilhar visões para enriquecer a sua compreensão. A IA abre a possibilidade de auxiliar os estudantes na construção e gestão das suas próprias redes de aprendizagem, facilitando a conexão com pessoas e recursos pertinentes. A IA pode desempenhar um papel crucial na criação de sistemas de recomendação personalizados, que orientem os estudantes na expansão das suas redes educativas e na descoberta de novas fontes de informação adaptadas aos seus interesses e necessidades. Além disso, pode contribuir para o desenvolvimento de sistemas eficientes de gestão de informação, que auxiliem os estudantes a organizar e processar grandes volumes de dados. Esta abordagem potencializa a aprendizagem personalizada e interativa, essencial para o desenvolvimento de competências relevantes na atualidade.
O Design Universal para a Aprendizagem (Burgstahler, 2007) defende a Individualização das Abordagens Pedagógicas. A IA pode criar ambientes de aprendizado que se adaptam às habilidades, estilos de aprendizagem e ritmos individuais dos alunos. Utilizando algoritmos sofisticados, os sistemas podem ajustar o conteúdo, o nível de dificuldade e o método de apresentação, proporcionando uma experiência de aprendizado verdadeiramente personalizada. Além de adaptar o conteúdo, a IA pode fornecer feedback imediato e específico para cada aluno. Isso não apenas ajuda na retenção de conhecimento, mas também incentiva a autoavaliação e a autoaprendizagem.
Complementarmente o DUA promove a Pluralização das Estratégias de Ensino. A IA pode auxiliar na criação de uma ampla gama de materiais de ensino que atendem a diferentes modalidades de aprendizagem - visual, auditiva, cinestésica, etc. Isso inclui a geração de conteúdo interativo, jogos educacionais, simulações, e realidade aumentada/virtual. Sistemas de IA podem ser projetados para reconhecer e se adaptar às necessidades de aprendizes com deficiências, criando materiais acessíveis e interfaces que atendam a uma gama diversificada de necessidades.
Estas teorias são apenas 3 exemplos de modos de aprendizagem e ensino muito distantes da abordagem tradicio-
Promotores
nal expositiva ainda preponderante na maioria das salas de aula. Exigem outra forma de organização do processo de ensino. A necessidade do professor não está em causa, mas a IA pode libertar-nos para um outro tipo de trabalho, para um acompanhamento mais autónomo, individualizado e de encontro aos interesses e necessidades de cada estudante. Os momentos expositivos continuam a ter o seu lugar, mas devem ser enquadrados numa perspetiva mais abrangente que promove o envolvimento dos estudantes, e possibilita a diversificação de percursos. Para os estudantes a exigência é também particularmente elevada. É necessária uma postura ativa, comprometida, de responsabilização pelo percurso de aprendizagem de cada um. Mas o potencial é tremendo, a IA pode ajudar a melhorar a eficácia do ensino e torná-lo mais acessível e inclusivo para todos. Poderá permitir a cada estudante trilhar um percurso mais individualizado e com um apoio e acompanhamento mais presente, rápido e personalizado.
Estas teorias representam apenas três exemplos de métodos de ensino e aprendizagem significativamente diferentes da tradicional abordagem expositiva, ainda dominante na maioria das salas de aula. Exigem uma reorganização do processo educativo, reforçando uma abordagem mais implicada e participativa por parte dos alunos. A importância do papel do professor permanece indiscutível; contudo, a IA pode libertar-nos para um tipo de trabalho diferente, possibilitando um acompanhamento mais autónomo, personalizado e alinhado com os interesses e necessidades de cada aluno. As sessões expositivas mantêm a sua relevância, mas devem ser integradas num contexto educativo mais amplo que fomente a participação ativa dos estudantes e permita a diversificação dos percursos de aprendizagem. Para os alunos, a exigência é igualmente acentuada. É imperativo adotar uma atitude ativa, comprometida e responsável pelo próprio percurso de aprendizagem. No entanto, o potencial é imenso: a IA tem a capacidade de aprimorar a eficácia do ensino, tornando-o mais acessível e inclusivo para todos. Pode facilitar que cada aluno desenvolva um percurso educativo mais individualizado, beneficiando de um suporte e acompanhamento mais imediato, atento e adaptado às suas necessidades e interesses.
Referências:
Burgstahler, S. (2007). Equal access: Universal Design of Instruction. Seattle: University of Washington. https://files.eric.ed.gov/fulltext/ED506547.pdf
Cormier, D. (2008). Rhizomatic education: Community as curriculum. Innovate. 4 (5). http://davecormier.com/ edblog/2008/06/03/rhizomatic-education-community-as-curriculum/
Siemens, G. (2005). Connectivism: A Learning Theory for the Digital Age. International Journal of Instructional Technology and Distance Learning. 2(1). http://www.itdl.org/ Journal/Jan_05/article01.htm
“A
IA GENERATIVA E O
DESAFIO DA COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL NO ENSINO SUPERIOR”
Marco Neves AI + Education Expert, Consultant in Education, Curious
Thinker on Education
A nova vaga da Inteligência Artificial, com início em 2012, e sobretudo suportado no que se designa por Inteligência Artificial (IA) generativa está a remodelar o mundo à nossa volta a um ritmo impressionante. Ferramentas como o ChatGPT, DALL-E e muitas outras soluções de IA disruptivas estão a desafiar os paradigmas existentes em quase todos os setores, desde a criatividade até à produtividade. Esta transformação digital sem precedentes levanta questões fundamentais sobre como as instituições, empresas e indivíduos devem adaptar-se e tirar partido destas poderosas tecnologias.
O ensino superior encontra-se na linha da frente desta revolução tecnológica. As instituições académicas enfrentam o desafio de acompanhar estas mudanças disruptivas, não apenas integrando a IA nos seus currículos e práticas pedagógicas, mas também repensando como comunicam a sua imagem e identidade no panorama altamente competitivo do ensino superior.
O Impacto da IA na Comunicação Institucional
A IA generativa representa tanto uma ameaça como uma oportunidade para as instituições de ensino superior no domínio da comunicação institucional. Por um lado, a capacidade destas ferramentas de gerar conteúdos convincentes em texto, imagem, áudio e vídeo pode facilmente ser mal utilizada, colocando em risco a autenticidade e a integridade das mensagens institucionais. Por outro lado, quando utilizada de forma responsável e ética, a IA generativa pode revolucionar a forma como as instituições se expressam e se conectam com os seus públicos-alvo.
Uma das principais preocupações é o risco de desinformação e falsificação de conteúdos. Com a capacidade da IA em gerar textos, imagens e até vídeos aparentemente autênticos, torna-se mais difícil distinguir o que é real do que é fabricado. Esta realidade desafia as instituições a reforçarem a sua credibilidade e a transparência nas suas comunicações, assegurando que os seus públicos confiam na autenticidade das suas mensagens.
Ao mesmo tempo, a IA generativa oferece oportunidades para melhorar a eficiência e a personalização das comunicações institucionais. Por exemplo, as instituições podem utilizar a IA para gerar conteúdos altamente personalizados para diferentes segmentos de público, desde
estudantes prospetivos até parceiros empresariais. Além disso, a IA pode auxiliar na otimização de conteúdos para motores de busca, análise de sentimentos e outras tarefas relacionadas com a comunicação digital.
Estratégias de Comunicação Impulsionadas pela IA
Para tirar partido destas oportunidades e mitigar os riscos, as instituições de ensino superior devem adotar estratégias de comunicação impulsionadas pela IA. Estas estratégias devem assentar em três pilares fundamentais:
Transparência e Autenticidade As instituições devem ser transparentes sobre o uso da IA nos seus processos de comunicação, estabelecendo políticas claras e divulgando quando o conteúdo é gerado por IA. Além disso, devem investir em mecanismos de verificação de autenticidade para garantir a integridade dos seus conteúdos.
Governança e Ética É essencial implementar estruturas de governança robustas para orientar o uso ético e responsável da IA na comunicação institucional. Estas estruturas devem incluir diretrizes sobre questões como privacidade de dados, vieses algorítmicos e responsabilidade legal, garantindo que a IA é utilizada de forma justa e não discriminatória.
Capacitação e Colaboração As instituições devem investir na capacitação dos seus profissionais de comunicação, fornecendo formação e recursos para compreender e utilizar eficazmente as ferramentas de IA. Além disso, devem promover a colaboração interdisciplinar, envolvendo especialistas em IA, ética, direito e outras áreas relevantes no desenvolvimento de soluções de comunicação impulsionadas pela IA.
Percebemos claramente que a IA generativa representa um desafio significativo para as instituições de ensino superior no domínio da comunicação institucional. No entanto, quando abordada de forma estratégica e responsável, esta tecnologia pode impulsionar a eficiência, a personalização e o alcance das mensagens institucionais. As instituições que abraçarem a IA de forma transparente, ética e colaborativa estarão melhor posicionadas para se destacarem num ambiente académico cada vez mais competitivo e digital.
“EU
SÓ QUERO QUE QUE O MEU FILHO SEJA FELIZ.”
Isabel Lage Educational & Clinical Psychologist Trainer | Author | Speaker Psicóloga Clínica e Educacional
Como psicóloga clínica esta frase ouço-a muitas vezes dos pais que levam os seus filhos até mim. Pedem ajuda porque percebem que o mal de que padecem já não se resolve com um termómetro ou com um xarope. Percebem choro, irritabilidade, as notas descem, ou não descem, mas antes dos testes há dores de barriga e noites sem dormir e isolamento. E estes são apenas alguns dos sinais visíveis e que escondem um sofrimento ao qual não conseguem aceder. Ficam aflitos e pedem ajuda. Felicidade! Uma das autoras mais proeminentes nesta área (Laurie Santos da Universidade de Yale) define a felicidade como – estar bem na vida e com a vida. Estar bem na vida é o rácio de emoções positivas/negativas. Estar bem com a vida, significa gostar do que está a acontecer na sua vida. Eu acrescentaria estar “presente na vida” Hoje até parece mais fácil do que seria há algumas décadas. Agora os miúdos são cada vez menos contrariados e fazem o que querem. É só facilidades. É a geração UBER. Se não tem, não faz mal manda vir pelo UBER. Mas as estatísticas mostram o contrário De acordo com o último relatório da OMS sobre saúde mental nos adolescentes: - Globalmente, um em cada sete jovens de 10 a 19 anos sofre de uma perturbação mental, representando 13% da carga global de doenças nessa faixa etária. - A depressão, ansiedade e distúrbios comportamentais estão entre as principais causas de doenças e incapacidades entre os adolescentes. - O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. E alertam! As consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes se estendem até a idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando as oportunidades de levar uma vida plena como adultos. Estas são as estatísticas. Se em Portugal temos neste momento mais de 430 mil estudantes no ensino superior, então é provável que mais de 60 mil estejam a passar por algum problema de saúde mental. Um estudo realizado pela ANEP (Associação Nacional de Estudantes de Psicologia) e da Associação Ryse, no final de 2022, que incluiu a resposta de mais de 2000 alunos do ensino superior a um questionário de saúde mental (2/3 feminino), utilizou o Mental Health Inventory e para um score total de 100 encontraram uma média abaixo de 50. Porque é que isto será? Se a vida está cada vez mais fácil e segura. O que se passa? O futuro apesar de incerto não se afigura catastrófico! Há vários motivos com certeza. Os fenómenos psicológicos (aliás qualquer fenómeno) dificilmente terá apenas uma explicação ou causa. Mas eu apresento uma . Ora, o que me parece é que nos habituamos a não estar bem na e com a vida.
Porque a depressão e ansiedade são claramente sinais de que não estão bem na e com a vida. Ansiedade porque receiam o futuro – nada de bom me pode acontecer Depressão porque desvalorizam o passado – nada de bom me aconteceu Tudo isto pode ser benigno, claro e fazer parte do desenvolvimento. É bom que tenham incertezas e que tenham dúvidas existenciais e que reflitam sobre o passado e que questionem o que lhes aconteceu. O que parece estar a acontecer é que estes estados de depressão e ansiedade se tornam a semente de algo que pode crescer e ocupar o espaço que devia ser dado ao estudo, aos amigos, à construção de uma vida. Às vezes é fácil identificar estes alunos. Têm momentos de choro convulsivo ou manifestam mais reatividade, isolamento. Mas a maior parte das vezes passam despercebidos. Isolam-se, reprovam, desistem, abandonam. Como lidar com este problema, então? A solução mais óbvia seria mobilizar mais recursos para sinalizar, despistar, acompanhar. Óbvia, mas não necessariamente a mais inteligente. Aumentar os recursos para acompanhamento individual seria como tirar água de um barco que está roto. Existe um espaço para o acompanhamento clínico individual – os centros de saúde e hospitais, as clínicas. O ensino superior continua a ser uma escola – um espaço de educação, desenvolvimento, crescimento e as estratégias a adotar têm que ser de educação, desenvolvimento e crescimento. Em linha com as recomendações da Ordem dos Psicólogos Portugueses para a intervenção psicológica no Ensino Superior, proponho: Trabalho com a comunidade estudantil - Programas de acolhimento institucional – que criem pertença, identidade, grupo - Celebrar a diversidade – não incluir ou integrar, no sentido de assimilar, mas celebrar e usar essa diversidade para sermos contextos de educação mais ricos Trabalho com a comunidade docente e não docente - programas de formação e literacia – os estudantes já sabem muito (às vezes mais do que nós) sobre saúde mental. São os adultos, as pessoas da minha geração e mais velhos que crescemos alheados desta dimensão da nossa vida, que precisam dessa informação e formação - consultoria para apoio a metodologias pedagógicas mais inclusivas e criadoras de ambientes de aprendizagem mais positivos Trabalho com a comunidade alargada - quais as entidades, instituições na comunidade onde a IES se insere que podem ser recursos? Que parcerias podem ser criadas? Empresas que podem trazer financiamentos para programas ou iniciativas, serviços de saúde que podem formar redes, A saúde não é só ausência de doença, mas um bem-estar físico, mental e social. Já andamos a dizer isto há quase 80 anos. E finalmente estamos em condições de usar o conhecimento da ciência, os recursos tecnológicos e humanos. Basta uma pequena dose de alteração de políticas para levedar esta mistura. Os nossos estudantes precisam disso. A nossa sociedade precisa disso. O nosso país precisa disso. E é nossa responsabilidade dizer – é inaceitável continuarmos a não estar bem na vida e com a vida.
“SAÚDE
MENTAL NA UNIVERSIDADE E PROCURA DE AJUDA: EVIDÊNCIAS DE UMA COORTE DA UNIVERSIDADE DO
PORTO (2019-2021)”
Virgínia da Conceição Investigadora Auxiliar no Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto
A transição para a universidade é reconhecida como um período de alto risco para o desenvolvimento de problemas de saúde mental devido ao aumento dos stressores situacionais e às mudanças significativas na vida dos jovens. Neste contexto, a saúde mental dos estudantes universitários tem merecido uma atenção crescente por parte da comunidade académica, social e do sector da saúde, reflectindo as preocupações com os desafios psicossociais que estes jovens enfrentam.
Apesar da elevada prevalência de problemas de saúde mental nesta população, apenas uma pequena proporção dos estudantes procura ajuda. Num estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde em 2019, apenas 24.6% dos estudantes do primeiro ano afirmaram procurar ajuda, caso tivessem um problema emocional. As barreiras mais frequentemente identificadas foram o baixo nível de literacia em saúde mental, o estigma e a vergonha associada aos problemas de saúde mental.
Com o objectivo de perceber qual é a realidade efectiva das universidades portuguesas e, simultaneamente, procurar identificar recursos que possam conduzir à redução do estigma associado à depressão e consequentemente promover a procura de ajuda, o laboratório em literacia em saúde mental, bem-estar, depressão e prevenção do suicídio (ISPUP) desenvolveu um estudo entre 2019 e 2021 que envolveu uma coorte de estudantes de todas das faculdades da Universidade do Porto.
Este estudo, que resultou em várias publicações em revistas internacionais de referência, confirmou a forte associação entre o estigma e os comportamentos de procura de ajuda dos estudantes universitários.
Como forma de perceber que estratégias seriam eficazes na redução do estigma e consequente promoção dos comportamentos de ajuda, desenvolvemos um estudo randomizado controlado com um grupo de controlo e dois grupos de intervenção. As intervenções passavam pela visualização de um vídeo no qual algumas pessoas partilhavam as suas experiências pessoais com depressão; no segundo grupo recebiam, ainda, informações psicoeducacionais adicionais. Os resultados demostraram uma redução significativa do estigma, uma melhoria nas atitudes em relação à procura
de ajuda, e aumentou significativamente os comportamentos de procura de ajuda, especialmente daqueles que apresentavam sintomatologia depressiva e ansiosa severa. Estes efeitos e diferenças em relação ao grupo de controlo mantiveram-se mesmo durante a pandemia, mais de 12 meses depois da intervenção.
Por último, verificou-se, ainda, que os estudantes que procuraram ajuda apresentavam sintomatologia menos relevante na avaliação seguinte, evidenciando a importância da procura de ajuda adequada em situações de vulnerabilidade e necessidade.
A promoção da literacia em saúde mental e a implementação de estratégias que reduzam o estigma associado às doenças mentais devem ser prioridades nas agendas educacionais. Investir nestas áreas contribui não só para mitigar os efeitos adversos da saúde mental fragilizada nos resultados académicos, como também contribui para a promoção do desenvolvimento integral dos jovens adultos durante os seus anos universitários.
A realização de mais estudos sobre a eficácia das intervenções na promoção da saúde mental em Portugal é crucial, especialmente considerando a escassez de dados científicos que avaliem não só a eficácia, mas também a implementação dessas intervenções. A insuficiência de investigações com desenhos de estudo adequados e resultados devidamente publicados, torna-se particularmente significativa à luz dos substanciais investimentos públicos direcionados para a promoção da saúde mental nas universidades nos últimos anos. Sem uma base de evidência robusta, o planeamento e a alocação de recursos podem não alcançar os resultados desejados, diminuindo a efetividade das políticas públicas.
Assim, é fundamental que as instituições académicas e os organismos governamentais invistam em investigações que possam orientar as práticas e políticas de saúde mental, assegurando que as intervenções implementadas sejam não apenas eficazes, mas também adequadas às necessidades específicas dos estudantes universitários em Portugal. Esta abordagem garantirá que o investimento público na saúde mental produza os melhores resultados possíveis.
BIBLIOTECA ORSIES
50 Anos de Políticas Ambientais em Portugal, Luísa Schmidt
Sinopse
Em Portugal o arranque das políticas ambientais está ligado à criação da Comissão Nacional do Ambiente quando o país, até então arredado das organizações internacionais, foi convidado pela ONUPARA participar na conferência de Estocolmo em 1972. Vivia-se uma época de cautelosa abertura política que ficou conhecida como Primavera Marcelista e nas vésperas da mudança histórica do 25 de Abril de 1974.
Para além de uma introdução que situa as raízes da problemática ambiental em Portugal, este livro abre com um conjunto de testemunhos de personalidades que, direta ou indiretamente, se destacaram nesse arranque pré-abril de 1974 - uma fase de modernização do país e da sua questão ambiental e ecológica.
Um segundo conjunto de textos integra reflexões de protagonistas que assumiram funções importantes já em plena democracia e sobretudo pós-adesão à CE na área do ambiente, fosse nos movimentos cívicos, na educação ambiental, na ciência, na cultura, no ordenamento do território ou na economia.
A terceira parte do livro dedica-se às principais dimensões que constituem hoje as políticas ambientais em Portugal - sua evolução, marcos fundamentais, estado atual e desafios futuros e inclui úteis cronogramas destacando os momentos-chave do lançamento e implementação destas políticas.
ChatGPT e inteligência artificial, Fábio Horta
Sinopse
O futuro da humanidade será moldado pela Inteligência Artificial?” Essa é a pergunta que muitos de nós estamos nos fazendo. À medida que as tecnologias se tornam cada vez mais avançadas, a IA começa a se infiltrar em todas as áreas de nossas vidas. O que antes parecia ficção científica agora é uma realidade. Este livro, escrito e ilustrado com a ajuda de IA, apresenta uma nova perspetiva sobre a relação entre humanos e Inteligência Artificial. Ele nos leva a questionar se as IAs vieram para nos ajudar ou se elas podem, como nas ficções científicas, dominar a humanidade. Como a tecnologia pode afetar nossas vidas de maneiras que nunca imaginamos? Com exemplos práticos do uso da ferramenta ChatGPT e abordagem de outros softwares de AI, este livro nos mostra como a IA está cada vez mais poderosa e capaz de se passar por humanos. Mas será que ela tem empatia? Será que é capaz de entender nossas emoções e necessidades como seres humanos? Prepare-se para uma jornada fascinante e assustadora através do mundo da Inteligência Artificial. Este livro é uma leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em tecnologia, inovação e no futuro do nosso mundo.
Este livro de fácil leitura ampliará seus horizontes sobre o fascinante mundo da Inteligência Artificial, como ela está transformando nossas vidas e como podemos nos preparar para o que está por vir.
BIBLIOTECA ORSIES
Membros do ORSIES
Parceiros do ORSIES
Pobreza e exclusão social em Portugal: Uma visão da Cáritas 2024
Sinopse
O olhar da Cáritas debruça-se sobre os mais vulneráveis da sociedade. É nesse lugar que a ação da Cáritas se desenvolve. Esta primeira edição do relatório da Cáritas sobre Pobreza e Exclusão Social, que terá uma frequência anual, pretende fazer uma leitura da prevalência e evolução da pobreza em Portugal. A análise tem por base os indicadores oficiais do INE e a leitura do Observatório da Cáritas sobre esta realidade. O relatório centra-se nas situações de pobreza mais severa e assume uma perspetiva multidimensional, sublinhando que a pobreza e a exclusão social são fenómenos que apenas podem ser combatidos com intervenções multidisciplinares, muitas vezes focadas em cada família e circunstância individual.