Folha gaucha ed 143

Page 11

EDITORIAL

Cassino – o primeiro balneário do Brasil

Chegou o Verão

A

gora não há mais tempo para discursos ou preparação. O verão chegou com força e, pelos últimos finais de semana, já se pode prever como será esta temporada na maior praia em extensão do mundo: lotada. É preciso muita agilidade por parte dos administradores públicos nas ações para manter a ordem e o mínimo de infraestrutura funcionando, com tanta gente. Habituado com seus 30 mil moradores, praticamente o mesmo número de habitantes de São José do Norte, o Cassino ainda trabalha com recursos muito limitados. É preciso mais para manter tudo funcionando. No verão, esse número chega a 200 mil pessoas, entre turistas, veranistas e moradores habituais, o que faz o número de veículos aumentar na mesma proporção. O primeiro dos impactos é a mobilidade na orla da Praia do Cassino. O trecho entre a Iemanjá e os Molhes da Barra necessita de uma atenção especial por abrigar um grande número de frequentadores. É preciso saber organizar a praia sem inventar planos mirabolantes. Às vezes o mais simples acaba sendo o mais eficaz. Nas muitas outras questões que afetam o bairro-balneário, a segurança pública é uma das que mais assusta nas últimas semanas. O reforço da Operação Golfinho deverá amenizar esse problema, mas é preciso criar uma política fixa de segurança para o ano inteiro. Depois da mobilidade na praia, é necessário pensar os problemas das vias. As mal cuidadas ruas do Cassino passam a não aguentar o intenso fluxo de veículos, o que exige um esforço gigantesco por parte da administração para amenizar essa situação. Nesse momento, discurso não adianta, é preciso ação. Nosso Cassino ainda merece uma maior atenção por parte dos empresários. Faltam lojas, restaurantes e opções de lazer nos mais diversos horários. Ainda há uma mania de pensar no Cassino apenas no final da tarde e durante a noite. O dia ainda fica perdido, sem muitas opções. São poucas as opções de almoço no balneário. Na hora do jantar, é quase infernal buscar uma boa opção de alimentação, com atendimento ágil e confortável a seus clientes. Não se pode abusar do preço também, só porque é verão não quer dizer que as pessoas passem a ganhar mais. O Cassino tem tudo para ser a melhor opção de veraneio para os gaúchos, argentinos e uruguaios. É preciso arrumar nosso balneário e criar uma cultura para que as pessoas o cuidem também. Aproveitar é muito bom, mas é preciso deixar tudo igual para o que o próximo aproveite igual ou melhor.

Expediente Jornalista e colaboradores: André Zenobini Camila Costa Matheus Magalhães Rodrigo de Aguiar Fotógrafo: Gui Paranhos Diagramação: Willian Farias

Fone: (53)3235-6532 República do Líbano, 240 Centro - Rio Grande - RS

Este caderno não pode ser vendido separademente

O

bairro-balneário do Cassino foi o primeiro do Brasil. Além dessa curiosidade, também possui uma característica muito incomum: é a maior praia em extensão do mundo, segundo o livro dos recorde: o Guiness Book. São mais de 240 km de extensão, desde os Molhes da Barra do Rio Grande até o Chuí. Principal praia da metade sul do Estado, o Cassino já passou por outros nomes e vem chamando a atenção dos veranistas gaúchos. A maior praia do mundo já foi um dos pontos mais requisitados por argentinos e uruguaios. Os altos preços e a pouca estrutura afastaram os estrangeiros, deixando espaço para os brasileiros. O Rio Grande do Sul é o principal cliente do veraneio cassinense. Entre as principais atrações da praia, além de sua extensão, estão o navio encalhado e o passeio de vagoneta mar adentro, através dos Molhes da Barra. O Balneário do Cassino surgiu no final do governo imperial, fim do século XIX, quando ainda não existiam balneários na costa oceânica do país. Sensibilizados pela fama conquistada na Europa pelos balneários Dieppe Deauville e Biarrits, que além dos banhos e passeios à beira-mar nas temporadas de férias ainda eram considerados excelentes estações de cura, os governadores da então Província de São Pedro - conselheiro Tritão de Alencar Araripe e seu sucessor, Rodrigo de Azambuja Vilanova - queriam proporcionar algo semelhante nas

terras gaúchas. Por isso concordaram com a ideia, pioneira no país, de Antônio Cândido Sequeira e seus companheiros, de criar uma estação exclusivamente balneária na costa do Rio Grande. Na medida em que a praia conquistava mais adeptos, o poder público também procurou conceder incentivos para viabilizar o empreendimento. Por esse motivo foi outorgada à Companhia Carris Urbanos do Rio Grande, em 17 de dezembro de 1885, pela Lei número 1551, a concessão para exploração do balneário. De imediato foi iniciado o empreendimento voltado para a ocupação do local, e em 1890 houve a inauguração oficial. Naquele ano o balneário já oferecia aos visitantes um hotel com 136 quartos, sala de refeições e cozinha com pessoal habilitado, grandes salões de concertos, bailes, jogos e locais para leitura. Além disso, contava com bondes puxados a burro que levavam os banhistas ao longo da avenida principal. Chalés à moda suíça, com recortes em madeira, embelezavam a paisagem. O coronel Leivas era um investidor e conhecido empreendedor que participava de grandes projetos, investindo, entre outras áreas, na implantação de bondes, no transporte marítimo e nas estradas de ferro. Ao falecer, em 22 de junho de 1926, deixou como única herdeira sua sobrinha Maria José Leivas Otero, a quem coube o papel de desenvolver o balneário. Contam os mais velhos, que o nome Cassino se deu

Alfaro

devido a uma grande e completíssima sala de jogos aqui instalada. Esse impecável “cassino” - que ficou conhecido e admirado Brasil afora e junto veio a fama e, por consequência, o apelido -, nos velhos tempos esteve localizado no antigo Hotel Stella Maris. A grande atração do Balneário Cassino é sem dúvida a praia oceânica com mais de 220 km de areia branca e fina que forma a maior praia contínua da América do Sul, também conhecida como a maior praia do mundo (Guiness Book).

Alberto Amaral

A construção vertical no Cassino e o “Complexo de Vira-Lata”

O

Molhes da Barra Uma das principais atrações do Cassino é o passeio de vagoneta que fica numa das maiores obras oceânicas do mundo: os molhes da Barra. A criação desses grandes braços de pedra foi dada, pois não havia mais condições dos navios entrarem na Barra Diabólica, como era conhecido o acesso ao recém-inaugurado Porto do Rio Grande. A barra do Rio Grande sofria com constantes diminuições em seu calado o que estava favorecendo o porto de Montevidéu. O primeiro projeto para construção dos braços de pedra veio do inglês John Clarke. A segunda tentativa da construção dos molhes veio como resultado de um relatório produzido pelo engenheiro Honório Bicalho e sua equipe. Outra opinião veio de Pieter Caland, responsável por obras hidráulicas na Holanda. As obras foram aceitas e sofreram, ao longo de sua construção, de diversas formas. Apenas em 1908, um novo contrato foi assinado pelo governo brasileiro e as obras seguiram até a sua conclusão. As obras foram marcadas nos primeiros anos do século 20 pelo tamanho da estrutura necessária para a realização do empreendimento. Como toda obra, os molhes da barra também necessitaram de uma revisão. Um século mais tarde foi dado início ao prolongamento de ambos os molhes. Iniciando em 2001, foi interrompido no ano seguinte e só teve sua retomada em junho de 2008. Em outubro de 2010, o molhe oeste, braço rio-grandino da barra foi finalizado e entregue de volta à comunidade. Turistas e pescadores puderam, novamente, acessar a construção. O molhe oeste tinha uma extensão de 3,16 quilômetros e, depois da obra, passou para 3,86 quilômetros. Nesses mais de três quilômetros é possível ir mar adentro através das vagonetas vendo a bela paisagem do Oceano Atlântico, dos navios e animais marinhos que aparecem naquela região. O Cassino é abençoado por inúmeras belezas naturais. André Zenobini/ Blog Balneário Cassino

centenário Balneário do Cassino sempre se caracterizou por peculiaridades especialíssimas, que continuamente causam surpresa aos que por aqui passam. Uma delas é o fato de as pessoas residirem no centro da cidade e possuírem casas de veraneio a apenas 18 km de distância. Muitos entendem que é um desperdício, considerando ainda o fato de dispormos de 200 km de costa exclusiva, onde podemos estacionar o carro ao lado da praia. Essas condições fizeram com que o Cassino nunca fosse prioridade às administrações municipais, até os veranistas questionavam há pouco tempo a pavimentação das ruas, que na opinião deles descaracterizava o ambiente natural e mexia com o aspecto bucólico do tradicional bairro. A falta de uma política habitacional nas três esferas de governo refletiu no Cassino, fez com que passasse a ter mais moradores do que veranistas, o que, no meu entendimento define a nova vocação do bairro e acelera como ocorreram décadas atrás em outras cidades litorâneas, mudanças na concepção original urbanística. Pois bem, a globalização e o progresso aceleram os processos, chegou a vez do nosso Cassino, como já vem ocorrendo também no centro da Cidade. Respeito a opinião dos que querem o balneário exatamente com está, mas vivemos num País democrático onde a livre iniciativa, respeitadas as legislações vigentes, decide, conforme o mercado e os seus interesses, onde e como farão seus investimentos. Não se pode ideologizar, como insistem alguns, o desenvolvimento. Buscar argumentos do tipo: “é coisa para rico...” ou, “o que precisamos são moradias populares...”, são escapismos odiosos, que ao contrário do que preconiza o Governo Federal, criam um ambiente de constrangimento deplorável aos empresários e investidores em geral. Imaginem que, numa conta rápida, os investimentos propostos garantem a contrapartida de mais de R$1,2 milhão, além da perspectiva da arrecadação anual de R$3,6 milhões em ITBI, R$ 720 mil em ISQN e R$1,2 milhão em IPTU. Cabe, portanto, aos governos criar políticas e programas que oportunizem a todos, em especial aos mais pobres, obterem a sua casa própria. Não obstante, registramos que na maioria dessas iniciativas os governos têm contato com a parceria da iniciativa privada. O Plano Diretor do Município do Rio Grande, em consonância com o que preconiza o Estatuto das Cidades, define que os possíveis impactos negativos advindos dos empreendimentos serão mitigados através de medidas compensatórias que apresentem resultados abrangentes para toda a coletividade, isto é o que realmente importa. O resto, garantindo o direito universal do contraditório, é fruto de um atávico “complexo de vira-lata”, como tão bem definiu o imortal Nelson Rodrigues a situações análogas.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.