Folha do Bom Retiro | Novembro 2013. Edição 18

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LÍNGUA PORTUGUESA Em época de vestibular, teste seus conhecimentos e confira se está preparado para uma prova. Pág. 3

COLUNA SOCIAL AO CONTRÁRIO Uma nova coluna veio para mostrar aos leitores um outro lado. Moradores de rua somam 300 mil no Brasil, 3 mil estão em Curitiba. Pág. 5

Folha do Bom Retiro

EMPREENDEDORISMO Na coluna de novembro o leitor conhece a Bliive, uma nova rede social que tem como objetivo a troca de tempo entre pessoas. Pág. 7

“Transformando a comunidade através do serviço”

Edição 18 | Novembro 2013

Abordar mulheres desconhecidas em lugares públicos é agressivo, é abuso. Pesquisa aponta que 83% das mulheres não gostam das cantadas de rua.

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Editorial

Mais

vida!

Por Osmar V. Gomes

Neste mês o calendário de feriados nacionais celebra o Dia de Finados. Um aparente contrassenso já que todos admitem que a morte seja um incômodo. Um assunto a ser evitado. A Bíblia chama a morte de inimiga. Como celebramos um inimigo? A resposta pronta é que

saudamos os nossos entes queridos que nos deixaram. Uma preocupação deveras legítima. Quero que as pessoas tenham saudade de mim quando eu for embora. A questão é que não poucas vezes vejo pessoas se lamentando por não ter honrado ou agradecido às pessoas em vida. Uma música diz que o melhor é levar “flores em vida”. Concordo plenamente. É muito triste ver alguém se sentindo culpado por não ter levados tais flores em vida. Quando pensamos em planejamento gosto da frase: “em longo prazo estare-

mos todos mortos!”. Isto nos leva a um senso de urgência, de que a vida está passando e o tempo não pára. Não há quem ao lado de uma urna funerária não imagine que esta pessoa estava sonhando ontem. E ontem ela podia ser abraçada, perdoada, agradada ou mesmo suportada. Por isso, se tem que abraçar, abrace hoje. Se tiver que perdoar, perdoe hoje. Se tiver que suportar, suporte hoje. Se tiver que amar, ame hoje. Não vejo mal algum em cuidar de um tumulo como forma de continuar respeitando a memória de alguém

que amamos. Mas é muito melhor trocarmos afetos com aqueles que ainda podem nos retribuir tais afetos. Fiquei muito triste em saber que uma pessoa considerava que seus melhores amigos estavam mortos! Esta pessoa se referia aos seus livros na estante. Quem sabe neste feriado, depois de ter passado no jazigo de seu ente querido você possa estender sua visita àquela pessoa que há tanto tempo você não abraça, não agradece ou mesmo não perdoa. Fica a sugestão.

Filme produzido pela Fiocruz chama atenção para doença negligenciada no Brasil Unidades da Fundação Oswaldo Cruz se uniram para divulgar a paracoccidioidomicose, doença endêmica no Brasil e facilmente confundida com tuberculose, com um documentário: “Paracoco: uma endemia brasileira” Por Suelen Lorianny

Doença negligenciada e endêmica na América Latina (o Brasil detém 80% dos casos, a paracoccidioidomicose, também conhecida como paracoco, é mais frequentes nas populações rurais e pode causar morte se não detectada precocemente. Em muitos casos, é confundida com a tuberculose, pois pode apre-

sentar tosse persistente como único sintoma aparente. A doença não é contagiosa e tem cura, mas causa graves sequelas. É mais comum em homens entre 30 e 50 anos. Alguns dos seus principais sintomas são: feridas na boca, garganta e nariz, emagrecimento e fraqueza, rouquidão, falta de ar, perda dos dentes e ínguas n pescoço ou na virilha. A doença possui duas

apresentações clínicas básicas, a forma tipo adulto e a forma tipo juvenil. O indivíduo pode ter contato com o fungo e manifestar a doença imediatamente, ou pode ficar inativo no organismo. O fungo contraído através da respiração, vive no solo das plantações. Por isso, a paracoccidiodomicose aparece principalmente entre trabalhadores rurais, marceneiros, jardineiros, tratoris-

tas, etc. Vale lembrar que a doença não é contagiosa, nem transmitida por alimentos ou objetos de uso pessoal. O documentário é composto por entrevistas com profissionais de saúde e portadores da doença. Com 24 minutos de duração, o filme foi rodado em quatro estados do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rondonia.

Expediente FOLHA DO BOM RETIRO Este jornal tem como objetivo informar a comunidade através de notícias, novidades e curiosidades sobre o bairro e sobre a cidade. Nasceu da intenção de membros da nossa comunidade em servir os moradores, comerciantes e visitantes do nosso bairro. A distribuição alcança os bairros Bom Retiro, Pilarzinho e Vista Alegre. Sede | Av. Des. Hugo Simas, 1772 - Bom Retiro. Curitiba - Paraná. Tiragem | 2000 | Distribuição é realizada toda primeira semana do mês em três pontos, contemplando os bairros: Bom Retiro, Pilarzinho e Vista Alegre. Suelen Lorianny | Editora Chefe E-mail para contato | comunicacao@ibbr.org.com @ibbrCuritiba | www.ibbr.org.br

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Língua Portuguesa

Teste seus conhecimentos. Quem está preparado para o vestibular? Por Alan de Macedo Simões Em época de Vestibular e ENEM não poderíamos ter outro tema que não fosse avaliar nosso conhecimento de português. Por isso, selecionamos uma série de questões de vários vestibulares pelo Brasil, com questões de concordância nominal e verbal. Elas se referem, portanto, ao bom uso da língua e a coerência dos termos das frases e usam palavras do cotidiano. Se você estivesse em um vestibular ou ENEM, você conseguiria acertar essas questões? (Confira o gabarito na página 6) 01. (CESGRANRIO) Há concordância nominal inadequada em: a) clima e terras desconhecidas; b) clima e terra desconhecidos; c) terras e clima desconhecidas; d) terras e clima desconhecido; e) terras e clima desconhecidos. 02. (CESGRANRIO) Tendo em vista as regras de concordância nominal, assinale a opção em que a lacuna só pode ser preenchida por um dos termos colocados entre parênteses: a) cabelo e pupila ___ (negros / negras); b) cabeça e corpo _____ (monstruoso /monstruosos); c) calma e serenidade _______ (invejável / invejáveis); d) dentes e garras ___(afiados / afiadas); e) galhos e tronco _____(seco / secos). 03. (ESAF) Assinale a opção em que a mudança de pessoa verbal provoca erro. a) Requeremos a pavimentação da rua Vicente de Carvalho. - Requeiro a pavimentação da rua Vicente de Carvalho. b) Apesar do espaço pequeno, temos certeza de que cabemos aí. - Apesar do espaço pequeno, tenho certeza de que caibo aí. c) Se não nos precavemos a tempo, seremos ludibriados. - Se não me precavenho a tempo, serei ludibriado. d) Graças ao seu auxílio, reaveremos os documentos. - Graças ao seu auxílio, reaverei os documentos. e) Nós valemos tanto quanto acreditamos ser nosso valor. - Eu valho tanto quanto acredito ser meu valor. 04. (CESGRANRIO) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que qualquer uma das formas entre parênteses pode completar corretamente a lacuna do enunciado. a) olhos e cabeceira __(negro / negros); b) pastel e empada ___(esborrachada / esborrachados): c) homens e mulheres ______ (fanático / fanáticas); d) massa e carne ____ (estragada / estragados); e) ditos e zombaria ____ (desnecessária / desnecessárias).

05. (CESGRANRIO) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que as duas formas entre parênteses podem completar corretamente a lacuna do enunciado: a) atitudes e hábitos geralmente _______ (questionado / questionadas); b) vocabulário e fraseologia restritamente __ (utilizados / utilizadas); c) crítica e objeções inteiramente ________ (infundados / infundadas): d) grupos e pessoas linguisticamente _______ (diferenciados / diferenciadas); e) segredo e originalidade igualmente _____________ (desejados / desejadas). 06. (ESAF) Assinale a opção que resulta correta após a mudança dos tempos verbais do trecho a seguir: “Se analisarmos o que aconteceu ao longo deste século, vamos perceber que aquelas características sofreram uma reversão.” a) Se analisamos o que aconteceu ao longo deste século, perceberíamos que aquelas características sofreram uma reversão. b) Se analisássemos o que aconteceu ao longo deste século, perceberíamos que aquelas características sofreram uma reversão. c) Se analisarmos o que aconteceu ao longo deste século, iríamos perceber que aquelas características sofreram uma reversão. d) Se analisássemos o que aconteceu ao longo deste século perceberemos que aquelas características sofreram uma reversão. e) Se analisarmos o que aconteceu ao longo deste século, íamos perceber que aquelas características sofreram uma reversão. 07. (EFOA) “...sabe fugir da carrocinha pelas próprias patas”. Considerando a concordância nominal, o vocábulo destacado na citação acima será empregado no mesmo gênero e número para preenchimento da lacuna em: a) Ele tem atitude e opinião ________. b) Nós possuímos casas e apartamentos _________. c) Ele defendeu ponto de vista e idéia _. d) Ela e ele ______ fizeram o trabalho. e) Paulo e ela ____ vieram receber‑me. 08. (Unifor) Na frase: “A madrugada era escura nas moitas de mangue, baixas, meio trêmulas do ventinho frio”, a palavra meio apresenta‑se sob essa forma flexional porque: a) é um caso de adjetivo que vem antes de vários substantivos, concordando com o mais próximo. b) concorda com ventinho frio. c) funciona como advérbio, com valor de um pouco, sendo, portanto, invariável. d) a concordância se dá com a idéia que a palavra moita encerra ‑ grupo de plantas. e) se refere a mangue. 09. (CESGRANRIO) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que a forma entre parênteses

NÃO completa corretamente a lacuna da frase: a) São bastante ___ tais idéias e opiniões sobre o computador. (difundidas) b) Serão _________ tanto os técnicos quanto as pessoas menos qualificadas. (prejudicados) c) Tornam‑se muito _________ a área e os meios de atuação dos funcionários. (limitadas) d) Podem ser neste ponto _________a tarefa dos antigos artesãos e a dos modernos operários. (comparadas) e) Ficam _________ nas mãos de poucos todos os conhecimentos e habilidades. (concentrados) 10. (CESGRANRIO) Tendo em vista as regras de concordância, assinale a opção em que a forma entre parênteses NÃO completa corretamente a lacuna da frase: a) Já foram _________ em várias partes do mundo graves desequilíbrios ecológicos decorrentes da aplicação abusiva de agrotóxicos. (observadas) b) Nem sempre são _________ em nosso país as normas sobre o emprego de inseticidas industriais. (respeitadas) c) Por interesses econômicos, têm sido _________ a segundo plano os meios biológicos de proteger a lavoura contra a ação dos insetos. (relegados) d) Deveriam ser melhor _________ entre nós os métodos e as técnicas de controle biológico de pragas. (divulgados) e) Podem ficar irremediavelmente _________ tanto a flora quanto a fauna das regiões em que se faz uso intensivo de inseticidas químicos. (prejudicadas) 11. (FURRN) “Meninas, avisem a _________ colegas que vocês _________ é que vão dirigir os ensaios da peça.” a) vossos – mesmos; b) seus – mesmas; c) vossos – mesmas; d) seus – mesma; e) vossos – mesmo. 12. (ESAF) Assinale a opção em que ocorre erro de concordância verbal. a) Em uma economia estatal ou centralmente planejada, a responsabilidade pelas decisões econômicas são centralizadas nas mãos do governo. b) Os meios de produção ‑ com exceção da mão‑de‑obra ‑ são de propriedade coletiva. c) A burocracia governamental decida quais são os produtos ‑ e em que quantidade ‑ serão produzidos de acordo com um plano nacional centralizado. d) Os recursos são alocados entre unidades através do sistema de cotas. e) Os defensores desse sistema enfatizam os benefícios da sincronização e distribuição de recursos em um todo unificado, evitando o desperdício da duplicação inerente à competição.


Perfil Curitibano

A rotina dura dos quartéis não endurece o coração de todos os militares Por Aline Reis

Cabelo cortado, rosto sem barba e farda impecável. Foram mais de trinta anos de dedicação ao exército e à Polícia Militar. O subtenente Amarildo entrou para o militarismo ainda cedo, por não ver outra oportunidade de ter uma vida melhor. Natural de Ribeirão do Pinhal, Amarildo chegou à capital quando tinha quatro anos de idade. “Minha infância não foi nenhum mar de rosas”, lembra o militar da reserva. Viviam na casa uma família grande: cinco irmãos, mãe e pai. Depois disso vieram as gêmeas. Todas as crianças estudaram em escola pública. Nem todos conseguiram cursar ensino médio e superior. Em 1981, aos dezoito anos, foi para o exército. “Era para fazer carreira ou aprender uma profissão”, confessa. Amarildo ficou cinco anos no exército e fez curso de cabo. Em 86 saiu do exército. Por acaso, nesse mesmo ano, caminhando pelas ruas de Curitiba, viu uma fila – gigantesca – que lhe chamou atenção. Foi ver o que era. O prédio era do centro de recrutamento da Polícia Militar. Amarildo não teve dúvidas. Pegou a fila e se inscreveu no processo seletivo. Foi aprovado. “Dei baixa no exército e entrei como soldado da Polícia Militar”. Em 88, o soldado Amarildo foi promovido a cabo. Em 90, a 3º sargento. Em 98 tornou-se 2º sargento, dez anos depois Amarildo já era 1º sargento. Em 2011 Amarildo tornou-se subtenente e depois de mais de três décadas de militarismo foi para a reserva em 2012. Foram quinze anos de polícia florestal (hoje chamada de polícia ambiental), depois disso mais quinze anos servindo na Academia de Polícia Militar do Guatupê,

onde os oficiais da PM do Paraná são formados. Em 2011 o então 1º Sargento Amarildo foi servir no 17º Batalhão de Polícia Militar (17º BPM), responsável pelo policiamento em toda a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), antes disso também foi lotado no 12º BPM, ou doze, como falam os militares. Depois de três décadas de militarismo Amarildo ficou, como ele mesmo diz, ‘perdido’. Até hoje mantém o hábito de tirar a barba e manter o cabelo bem cortado. “Foi dia quatro de junho de 2012. Quando eu cheguei e vi a minha resolução publicada: a partir de hoje você não é mais do quadro dos ativos. Aquele dia cheguei em casa e fiquei bem triste. Até hoje eu me emociono porque é uma vida, não é?”, indaga o subtenente. Armamento e fardamento entregues chegou a hora de receber o primeiro salário. Estava sentenciado: reserva. É difícil, depois de uma vida dedicada à proteção da população saber que não será possível usar a farda da PM novamente. Nesse tempo todo de combate à criminalidade, o subtenente Amarildo já passou por diversas situações. Uma das que mais marcou a sua carreira como militar foi quando, a caminho de uma das companhias do 17º BPM, ele suspeitou de um veículo. O carro não parou. Iniciou-se a perseguição. Numa ruazinha sem saída havia dois homens desmanchando outro veículo. Ao verem os PMs os dois suspeitos fugiram em direção ao mato que cercava a rua pelos dois lados. A equipe policial foi atrás. Houve disparo. Houve revide. Com a lanterna o PM procurava o possível esconderijo dos rapazes – e achou. “Ele estava debaixo de mim. Quando a lanterna iluminou ele estava debaixo de mim, deitado no chão. Ele falou: pelo amor de Deus não me mata, eu estou desarmado, quem estava armado era meu amigo. Mas se ele tivesse

armado ele poderia ter me matado não é?”, revive. Naquele momento o militar não sentiu medo, a adrenalina impede qualquer reação que não seja a de proteger. “Graças a Deus eu consegui terminar meu tempo sem tombar (matar) ninguém e sem ser ferido. Inclusive naquele dia eu poderia ter tombado o cara. Mas minha consciência falou: não”, revela. Pra não dizer que não falei das flores “Eu vivi esse período de ditadura mais quando eu estava no exército”, diz com voz um tanto embargada. Dentro do processo de ditadura militar no Brasil se engana quem pensa que os militares de patentes mais baixas tinham o poder de repressão. Esses cumpriam ordens, mas também eram vítimas de abuso de poder. O subtenente Amarildo, nesse período cabo do exército, sofreu na pele esses abusos. A canção de Evandro Sodré não podia sequer ser mencionada pelos militares. “Se alguém do DOI ouvisse e soubesse que era militar isso já dava punição”. Certa vez o então cabo do exército Amarildo ‘puxou’ cadeia. O motivo da punição foi a ‘sujeira’ em cima do motor de um veículo jipe usado por um coronel (alta patente do militarismo). “Depois eu descobri que ele era meio racista, então ele discriminava bastante os negros. E a gente sempre tinha os piores serviços. O nosso era a limpeza. Os branquinhos iam exercer a função do escritório”. Foram 28 dias de detenção porque o coronel, ao passar o dedo indicador sobre o capô do jipe, percebeu que havia poeira. O ano era 1983. Eram tempos difíceis da nossa história. O militar da reserva tem dois filhos e no atual casamento tem também uma menina de três anos. Os filhos fazem qualquer militar pensar numa conduta mais ade-

quada na hora de abordar alguém na rua. “Eu sempre dizia para meus subordinados para terem o mesmo respeito na hora de abordar as pessoas como se essas pessoas fossem filhos deles. Meu filho já teve cabelo grande, e eu não gostaria que ele sofresse qualquer abuso.” Mesmo assim, o subtenente admite que dentro do ambiente militar – como em todos os outros – existe uma tendência a achar que a população que se assemelha aos meninos assistidos pelo professor Carlos Arruda, do Gruconeu, são meliantes em potencial. A percepção é real, mas contraditória, porque, como contou Amarildo, mesmo o militar também é descriminado dentro dos quartéis. Ser preto, às vezes, é dureza. Noutra ocasião um militar de patente inferior respondeu o jovem Amarildo com ofensas racistas. Não era a melhor opção, mas o cabo respondeu a ofensa com um soco. Ninguém foi punido. Já na rua, como PM, a atuação do sargento Amarildo foi tranquila. Jamais teve que usar de força demasiada para conduzir alguém à delegacia. Na base da conversa as coisas se resolvem. Aprendeu isso na vivência de anos usando a farda da polícia militar. Dessa maneira, a voz é sempre compassiva, o ritmo cadenciado e a cara de bobo quando fala da filha mais nova – a Duda. A criança tem três anos e, diferente dos meninos, não vai ter o risco de perder o pai em confrontos policiais. O pai por sua vez pode passar à criança a experiência de uma vida toda de disciplina, sem esconder o coração mole.


Coluna Social ao Contrário

O desespero que não se vê Por Amanda Bacilla

Moradores de rua somam mais de 300 mil em todo o Brasil, sendo que desse número quase três mil estão em Curitiba. É uma cena tão comum que já não se vê o pobre coitado. Não se enxerga essa pessoa, não se vê mais, não se nota, e se nota, não se importa. “O que eu posso fazer por ele?”, “Não tenho culpa se ela enche a cara e quer ficar dormindo por aí.”, pois é, essas são as nossas desculpas, mas o que não passa pela cabeça é a pergunta: “Quem quer essa vida?” Todos os dias costumo fazer o mesmo trajeto entre o trabalho e a faculdade e é comum encontrar as mesmas pessoas nesse trajeto. Tem aquela dupla de cantores que alegram minhas tardes, a moça que vende cosméticos e um senhor que fica jogado no chão com uma caixa de sapatos. Cada um que passa ele estende aquela caixa. No começo eu ficava sensibilizada, até que um dia não vi mais o senhor que tinha algum problema na perna e ficava jogado na esquina. Não sei se ele continuava lá, com sua caixa de sapatos, mas eu não o vi, durante algum tempo eu fiquei sem vê-lo. Quem não sonha em chegar em casa, encontrar um bolo feito na bancada da cozinha, a geladeira cheia, tudo limpo, um sofá fofinho com uma coberta quente para aguentar essas noites curitibanas? Se eu que tenho todas as oportunidades de ter esses confortos ainda não tenho meus direitos cumpridos, pense nessas pessoas. Dependo de Unimed quando passo mal ou preciso de algum tratamento, afinal de contas depender do SUS não é a opção mais saudável do mundo. Mas parei para pensar na mulher

que está com câncer de mama e não sabe. No homem que quebrou uma perna, não tratou e agora tem dores frequentes. Pensei na pessoa que tem diabetes. Não, infelizmente esses problemas de saúde não aparecem apenas em quem tem plano de saúde ou condições físicas e psicológicas para procurar um hospital. As políticas públicas para atender as necessidades básicas dos moradores de rua são tão falhas e pouco eficientes que não resolvem em quase nada a situação dessas pessoas. Qualquer um que pare para refletir vai perceber que não é a droga, a bebida, a promiscuidade, que coloca os moradores de rua nesse lugar. Um dado mostra que grande parte dos moradores de rua não é usuário de qualquer tipo de entorpecente, apenas não tem onde morar. Se não é esse o problema, qual é? É a sociedade, como um todo, a comodidade, o conformismo. É passar na esquina e não notar o homem jogado esperando uma moeda, é esperar o ônibus ao lado de um maltrapilho e dar um passo de distância se ele se aproximar, é reclamar do cheiro da coberta da senhora que montou um lar na calçada entre duas avenidas movimentadas do centro. Esse é o problema. O que me revolta é a indiferença. A indiferença pelo mendigo que foi queimado vivo em Londrina. A indiferença pelo homem que apanhou de um grupo de jovens e morreu. A indiferença pela mulher que não nota que sua calça de moletom rasgada está suja. Isso sim me dói na alma e me faz perceber que, apesar de concordar com a retirada dos beagles do Instituto Royal, as atenções das pessoas deveriam estar em outro lugar.


Um novo olhar

Uma nova coluna e uma basta às cantadas Por Priscila Schip

Escrever um outro ponto de vista, é um desafio. Desafio esse, que aceitei. Sou formada em jornalismo e durante a faculdade me ocupei de pautas que se preocupavam em discutir os direitos da mulher, as questões de gênero, a publicidade infantil, a educação, a saúde. Logo que me formei, percebi que do lado de fora do ambiente acadêmico essas pautas são secundárias, pelo menos na grande mídia. No dia a dia não escrevemos sobre pessoas, muito menos sobre os direitos delas. Diariamente nossas pautas são sobre o tempo, o trânsito, as fofocas políticas ou das celebridades (até as sub) e claro, marcas. A gente acaba criando prática, escrevendo de um jeito só, seco, sem lados, uma versão única. Quase nunca tem análise, questionamento, opinião embasada, um outro ponto de vista. Recentemente estourou na mídia a campanha “Chega de Fiu-Fiu” promovida pela jornalista Juliana de Faria. O objetivo de Juliana é conscientizar que as cantadas não são tão legais assim, que elas podem ser ofensivas, gerar medo, além de contribuir com a violência. Para isso, ela produziu uma pesquisa que perguntou a quase 8 mil mulheres como elas se sentiam e reagiam em meio a essas situações. Há alguns meses quando essa pesquisa chegou até

mim, fiquei muito feliz que correndo, rindo. Tudo que tar qualquer mulher do jeito alguém tivesse tomado essa eu segurava caiu no chão, que bem entende, a campainiciativa. Antes mesmo de eu juntei como pude, corri nha “Chega de Fiu Fiu” dá responder o questionário, para casa atônita, com a ri- voz às mulheres e mostra divulguei para que mais sada dele entoando no meu um outro ponto de vista. mulheres pudessem parti- pensamento e me sentindo a cipar e feito isso, fui visi- pessoa mais suja do mundo. tar minhas lembranças para A cena aconteceu há contá-las no projeto. mais de 10 anos, e hoje eu No começo, as questões sei que eu não tive a menor eram só de marcar, ainda culpa, ainda assim, consiassim, iam provocando pe- go sentir as mesmas coisas quenas dores. Dores? É sim. que aquela menina sentiu: Para quem ficou curioso Não é tão bacana lembrar deixar tudo desabar, se culque você troca de roupa por- par, prometer nunca mais ir e quer ler o resultado da que vai sair sozinha. Não é até a mercearia de shorts e pesquisa, acesse: bacana lembrar daquele dia prestar mais atenção, claro. http://thinkolga.com/ que você – que nem é reliEssa é apenas uma históchega-de-fiu-fiu-resultagiosa – foi rezando pra casa ria, uma história minha que do-da-pesquisa por medo dos caras que es- decidi contar por estar me tavam te “cantando” duran- apresentando nesta coluna. te três quadras seguidas. E Em um mundo onde quem é nem é bacana lembrar que homem tem o direito de canisso começou muito antes de você ser uma mulher, muito antes de você entender o que é uma cantada, do que é ser desejada. Enquanto respondia o questionário, uma cena não me saia da cabeça. Eu devia ter uns 10, 11 anos no máximo e fui até a mercearia que ficava a duas quadras da minha casa. O caminho era bem curto, já o tinha feito um milhão de vezes, mas aquele dia ficou marcado na minha memória. Eu já estava voltando para casa, carregava as compras enquanto tentava lembrar se não havia esquecido de comprar nada do que minha mãe havia pedido, quando, de repente, fui surpreendida por uma mão na minha bunda. Simples assim. De uma hora pra outra, na rua da minha casa, um garoto, mais velho do que eu, passou de bicicleta e se achou Gabarito: no direito de me tocar e sair 01 C; 02 A; 03 C; 04 B; 05 D; 06 B; 07 A; 08 C; 09 C; 10 A; 11 B; 12 A


Empreendedorismo

Tempo (não) é dinheiro! Por Gustavo Panacioni

Se você não é e nem tem vontade de ser professor, acredito que poucas vezes passou pela sua cabeça ensinar alguma coisa a alguém. Isso pode, na minha opinião, ter dois motivos. Ou você acha que não tem nada para ensinar, ou acredita que é necessário pelo menos um mestrado ou estar dentro de uma sala para poder passar um conhecimento. Pois bem. A partir de agora você tem a oportunidade de rever seus conceitos e, quem sabe, começar a pensar em dedicar parte do seu tempo a ensinar alguém. “Mas ensinar o que?”, você pode estar se perguntando. A resposta é: qualquer coisa! O Bliive é uma nova rede social que tem como objetivo a troca de tempo entre as pessoas. O usuário faz o cadastro, oferece uma ou mais atividades que gostaria de ensinar e, em troca desse tempo ensinando outro usuário ele não recebe dinheiro, mas sim a oportunidade de aprender com outra atividade oferecida por qualquer outro usuário. Lorrana Scarpioni é uma das

empreendedoras responsáveis pela criação do projeto e explica que a ideia surgiu do acesso e interesse por documentários e conteúdos sobre novos conceitos de economia e colaboratividade. “Os principais conceitos foram colaboração na internet, economias alternativas e como o dinheiro pode ser mais saudável do que ele é hoje. Como utilizar economias alternativas para tornar a sociedade mais colaborativa e abundante”, complementa Lorrana. A partir desses conceitos, o usuário da rede Bliive pratica uma nova maneira de entender e lidar com o consumo. O usuário não vê anúncios ou desembolsa qualquer quantia para utilizar a plataforma. “Essas características existem por uma questão de princípios no sentido de oferecer uma economia sustentável, onde as pessoas saiam um pouco desse ambiente de consumo e caminhem para uma economia focada em viver experiências e agregar valor humano em suas vidas”, explica a criadora do projeto.

Se não há dinheiro, como funciona?

Quando o usuário entra no Bliive ele recebe dois time moneys de

crédito. O time money é a moeda de troca da rede. Com ele, o usuário começa a solicitar trocas para outras pessoas cadastradas na rede. Ele pode explorar e descobrir o que está sendo oferecido na cidade dele e entrar em contato para efetuar a troca. Após o primeiro contato, os dois usuários envolvidos combinam um ponto para realizar a troca. É a partir desse momento, da troca de experiências entre os usuários, que Lorrana e os outros participantes do projeto visualizaram uma maneira de tornar o projeto sustentável financeiramente. Os pontos de troca são locais que são indicados pela própria plataforma e, para isso acontecer, o estabelecimento deve pagar uma quantia mensal para poder compor a lista de recomendação do Bliive. Além disso, a rede preza pela segurança dos usuários e os pontos de troca, por serem locais públicos, facilitam o contato dos usuários. O Bliive foi lançado no dia 24 de maio e em menos de um mês já contava com quase 1.500 usuários cadastrados. “O que a gente quer agora é aprender com todos os feedbacks que estão chegando para oferecer a melhor experiência para quem está usando”, explica Lorrana. O usuário Thiago Alves de Sou-

za achou a ideia inovadora e já está cadastrado na rede. “Acredito que é possível fomentar encontros com pessoas para trocar horas de coisas que sei por horas de coisas que quero saber”, conta Thiago. Ele ainda não teve tempo de avaliar quais atividades tem interesse em trocar seus time money’s, mas já tem uma série de atividades que gostaria de oferecer. Mestre em geografia, músico e empreendedor, Thiago quer oferecer atividades como redesign de carreira (coaching), organização de eventos de música, formação de bandas, design de modelos de negócio (consultor), o que fazer no Canadá (guia) e um bate-papo cabeça (antroposofia). Se apenas um usuário é capaz de oferecer tantas atividades, imagina o que toda a rede Bliive pode oferecer? Lorrana conta que já percebe algumas atividades em evidência. Desde pessoas oferecendo experiências em softwares e ferramentas online, até aulas de massagem ou jogos de baralho.“Tem até pessoas oferecendo atividades de como resolver um cubo mágico, aulas de filosofia ou massagens. Muita coisa bem diferente. Bastante dicas de viagem também ou simplesmente sentar para conversar sobre línguas e ter uma conversação em vários idiomas”, cita a empreendedora.

Compaixão e Justiça

Alunos do ensino fundamental expressam o que aprenderam em aulas de ética e cidadania através da Capelania Escolar Por Suelen Lorianny

O projeto de Capelania Escolar realizado pelo Ministério de Compaixão e Justiça da Igreja Batista de Bom Retiro (IBBR), na Escola Estadual Professora Maria Heloisa Casseli, consiste em dar aulas de ética e cidadania para alunos de 6ª série ao 9º ano. As aulas acontecem semanalmente e outras atividades surgem a partir desses encontros, como por exemplo: jogo de futebol no contraturno, rodas de debate e diálogo sobre temas re-

levantes, etc. No mês passado os alunos junto com os professores do projeto, Tiago Vercelino e Samuel Almeida, jogaram algumas partidas de futebol onde também puderam aprender e desenvolver conceitos de cidadania e ética. (Confira as fotos na página 8). Outro recurso de incentivo para o aprendizado é a elaboração de frases sobre os temas discutidos, para serem publicadas aqui, na Folha do Bom Retiro. Agora você pode ler algumas conclusões feitas pelos próprios

alunos. 6ª A “Ajudar o próximo sem esperar nada em troca!” “Ajudar os funcionários da escola não jogando o lixo no chão e conservando a limpeza da sala.” “Ajudando as pessoas, nós fazemos o bem e elas nos ajudam também.” 7ª A “Existem dias bons e dias difíceis, porém, você pode fazer os dias ruins melhores ao ajudar o próximo.”

8ª A e B “Quem planta sorrisos, colhe alegria.” “Ajudar o próximo como se fosse fazer para si mesmo.” 9º A “Aproveite o seu dia ou morra se lamentando...” “Vamos ajudar o próximo, pois não sabemos o dia de amanhã!” Você também pode colaborar com a Capelania Escolar. Entre em contato conosco e saiba mais. Fazer o bem pode ser mais simples do que você imagina.


Ensaio

Futebol na escola

Capelania Escolar também é jogar bola com os alunos da escola. Confira as fotos de uma tarde de ensino e diversão.

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