Figueira 32c

Page 1

www.figueira.jor.br

facebook.com/600139720076533 twitter.com/redacaofigueira

Fim de semana com sol entre nuvens. Vai chover no sábado e no domingo. www.climatempo.com.br

28o 16o

MÁXIMA

ANO 1 NÚMERO 32

MÍNIMA

Não Conhecemos Assuntos Proibidos

FIM DE SEMANA DE 31 DE OUTUBRO, 1 E 2 DE NOVEMBRO DE 2014

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

EXEMPLAR: R$ 1,00

A presidenta da República, Dilma Rousseff, está reeleita para mais 4 anos de governo. Dilma venceu o seu oponente, o senador Aécio Neves, obtendo 54.501.118 votos. Em Governador Valadares, os eleitores de Dilma fizeram muita festa, debaixo de chuva, na noite de domingo, logo após o TSE anunciar o resultado oficial da eleição. Páginas 5,6 e 7

PRESIDENTA DE NOVO


OPINIÃO

Editorial

2

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

Tim Filho

OMG, vão dividir o Brasil

O Brasil venceu Ao contrário do que postou grande parte dos eleitores de Aécio Neves nas redes sociais (que Dilma ganhou e o Brasil perdeu), este Figueira não tem dúvidas em afirmar que a presidenta Dilma venceu e o Brasil venceu. E como afirmou a presidenta em seu discurso logo após a apuração total dos votos, não vemos um Brasil dividido, com pobres de um lado e ricos de outro. Dilma obteve mais de 40% dos votos em todas as regiões do país, alcançando 72% no Nordeste do país. Não há divisão alguma. Temos pessoas com pensamentos diferentes, claro, e isso é salutar para democracia. Se hoje somos um país democrático, isso é graças à luta de homens e mulheres, inclusive da presidenta Dilma, desde os tempos de mocinha, que aos 17 anos de idade, levantava sua voz contra a opressão. Dilma lutou pela democratização do Brasil e a sua luta foi vitoriosa. É deste lado que este Figueira está, da luta pelas liberdades democráticas. Repudiamos as mentiras e o ódio daqueles que querem dividir o Brasil. Deste lado também está a Federação Nacional de Jornalistas, da qual os jornalistas deste Figueira fazem parte. Em nota oficial publicada na capa de seu sítio na internet, a Fenaj diz: “Como entidade maior de representação dos jornalistas brasileiros, a FENAJ alerta para o perigo das notícias tendenciosas, das denúncias sem provas, das análises esvaziadas de dados e cheias de opiniões, das reportagens que buscam nexos inexistentes e das pesquisas eleitorais que, lembramos, tiveram sua credibilidade abalada pelos resultados do 1º turno (e 2o turno) das eleições. Reafirmamos, mais uma vez, a importância do Jornalismo e sua possibilidade de realização tendo em vista o interesse público. Ressaltamos que os veículos de comunicação poderiam fazer a opção de declarar apoio a uma candidatura, o que é prática comum em outros países do mundo. Ainda assim, não deveriam abdicar dos princípios teóricos, técnicos e éticos do Jornalismo para beneficiar um candidato. A opção, entretanto, é por afirmar uma falsa neutralidade e por abrir mão do Jornalismo para enganar a sociedade”.

Dilma obteve mais de 40% dos votos em todas as regiões do país, alcançando 72% no Nordeste do país. Não há divisão alguma. Temos pessoas com pensamentos diferentes, claro, e isso é salutar para democracia.

Este Figueira declarou apoio à candidatura da presidenta Dilma Rousseff na sua campanha para reeleição à presidência da República. Não o fez de modo fortuito. Faz parte da nossa curta história, como meio de comunicação de Governador Valadares, a luta pela consolidação da democracia em nosso país, pelo debate de ideias em nossa cidade, abrindo espaço para nossos leitores e colaboradores. Declaramos o apoio e sugerimos o voto para a presidenta Dilma, por entender que o seu governo tem se voltado ao desenvolvimento do país, promovendo a inclusão social, investindo na educação e nos serviços de saúde, gerando emprego e renda, enfim, possibilitando a milhões de brasileiras terem uma vida digna. Repudiamos o jornalismo insano praticado por alguns meios de comunicação durante a campanha eleitoral. A edição da revista Veja, antecipada para alguns dias antes da votação, atacando de forma rasteira o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma foi um desserviço ao povo brasileiro. Zombou do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, zombou da democracia, serviu de material de panfletagem para um lado que parece viver nas trevas de um passado recente, quando não havia informação correta, e a que era levada ao público chegava corrompida, manipulada. Pior que isso foram vários meios de comunicação replicar o conteúdo de Veja. Não é isso que queremos para o Brasil, este país que encontrou o seu caminho e que não sairá dele, mesmo que alguns poucos queiram dividir a pátria. Dilma Rousseff está reeleita e o seu projeto de governo é pela união nacional. Estamos deste lado.

Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-81 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3022.1813 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo

Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira

Responsável pelo Portal da Internet Enio Paulo Silva http://www.figueira.jor.br

Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

Parlatório Muitos comentários nas redes sociais durante e depois das eleições são carregados de insultos e preconceitos. O brasileiro é assim, intolerante com quem pensa diferente? O xenofobismo existe por aqui e é bem seletivo SIM

Josiane Regina Ribeiro

Xenofobia existe. Entre nós brasileiros esse tipo de preconceito (aversão ao estrangeiro) é bem seletivo: tem “estrangeiro” pelo qual se tem aversão e estrangeiro pelo qual se tem verdadeira adoração. Quando o preconceito em relação a tudo que não é igual a mim refere-se ao sujeito do mesmo país, do mesmo estado, da mesma cidade, chamamos de bairrismo. E o bairrismo tem se manifestado nos últimos dias de forma explícita. Explodiu nas redes sociais, especialmente depois do último domingo, quando as redes de televisão prestaram o desserviço de veicular na transmissão da apuração do segundo turno das Eleições de 2014 um mapa colorido com apenas duas cores: azul e vermelho. Através do mapa os meios de comunicação deram a entender que alguns estados haviam reelegido a candidata Dilma Rousseff. Depois, várias pessoas bem intencionadas tentaram (quase que em vão) desfazer o mal feito. Só que já era tarde. A dicotomia presente em nossa cultura da oposição sertão-cidade; centro-periferia; desenvolvido-atrasado que fica disfarçada em nosso consciente coletivo aflorou em xingamentos e ameaças. Nossa história está assentada sobre as bases dessa discriminação espacial que se estabeleceu na mesma dinâmica da ocupação dos espaços. É certo que o aluno, por exemplo, que migra diariamente da sua cidade para estudar em uma cidade maior, tenha apelidos e seja alvo de chacotas, sempre depreciando a pessoa pelo lugar de onde ela vem. Nos espaços urbanos, pronunciar ser morador de determinada localidade não é sinônimo só de piada, mas também de ofensas do tipo “coisa de favelado”. A segregação espacial tem suas raízes nas profundas desigualdades sociais que expulsam as populações mais pobres pra cada

vez mais longe, e lá permanecem cada vez mais abandonadas longe dos olhos de quem não as quer mesmo ver. Essa forma de divisão social também reflete aversões culturais: quem vive em um lugar e tem sotaque diferente sofre, e como sofre. Acontece com gosto musical, com a culinária e por aí vai. Geralmente as diferenças culturais são lembradas para menosprezar ou inferiorizar o outro, o diferente, aquele que não sou eu, que não vive como eu, que não tem as mesmas necessidades que eu. Acontece em todas as regiões, entre cidades e entre bairros. Geralmente, estas discriminações vêm acompanhadas de outros preconceitos. Dizer isso abertamente nos incomoda. Porém, é muito importante enfrentar o “preconceito nosso de cada dia” e procurar compreendêlo minimiza a possibilidade de que ele exploda em declarações impensadas de intolerância e segregação. Vale lembrar que separatismo foi tema sempre presente na História do nosso país: Inconfidência Mineira, Confederação do Equador e Guerra dos Farrapos são alguns exemplos de movimentos que, entre outras aspirações, pretendiam a separação do território brasileiro. Valorizar e solidificar a democracia não significa fingir que as diferenças não existem. Pressupõe, pelo contrário, reconhecer o direito de existir dos diferentes. Reconhecer que não estamos prontos, mas, em construção. Requer um árduo trabalho social e cultural. Passa pela valorização das igualdades e principalmente por nos abrirmos a conhecer aquilo que é diferente.

Josiane Regina Ribeiro é professora no Ensino Fundamental, Médio e Superior, em Governador Valadares.

O brasileiro é da paz NÃO

Angélica Bragatto

A disputa eleitoral em 2014 colocou dois grandes grupos se enfrentando numa luta de classes. De um lado, a coligação partidária que apoiava a candidatura da presidenta Dilma Rousseff, e de outro, os apoiadores do senador Aécio Neves. E o clima esquentou, principalmente nas redes sociais. Durante a campanha, mesmo aqueles e aquelas que tentavam manter a elegância nos comentários, acabavam alfinetando. Grosso modo, os eleitores e eleitoras do PT eram tachados de pobres que ascenderam a uma condição social melhor. Os beneficiários do programa de distribuição de renda denominado “Bolsa Família” foram os mais atacados, vistos como “vagabundos sustentados pelo governo”. E isso acabou por incendiar as discussões nas redes sociais. Estes ataques foram motivados por vários fatores. Penso que o principal, e que está enraizado na elite brasileira, e na pseudoelite, é a raiva enorme que estas pessoas sentem ao ver a empregada doméstica poder comprar um aparelho de TV de plasma, sem precisar trabalhar aos domingos. O servilismo está acabando e as pessoas estão desenvolvendo a autoestima. Esses sentimentos de raiva, ódio, orgulho, foram para

as redes sociais e o resultado foi desastroso. Faltou respeito. E neste cenário, os ataques contra os mais humildes, aqueles exaltados pela propaganda de Dilma Rousseff, incendiaram os debates. Quem sofreu mais foram as populações do Norte e Nordeste, regiões ainda carentes de infraestrutura. Quando a eleição chegou ao fim e os votos majoritários conquistados pela presidenta Dilma vieram do Nordeste, toda sorte de xingamentos foram proferidos por várias pessoas contra os nordestinos. Houve até mesmo proposta para a separação dos estados no Norte e Nordeste do resto do Brasil. Mas, tudo isso acontece no calor das discussões e das disputas eleitorais. Quando a poeira assenta, o Sudeste invade o Nordeste em busca da cultura e das belas praias. No fundo, no fundo, é como se diz na gíria: todo mundo é mano! O brasileiro não é esse povo xenofóbico e preconceituoso. Pode até haver casos isolados, mas o brasileiro, para mim, é da paz. Angélica Bragatto é professora da Escola Estadual Júlio Soares, bairro São Pedro.

www.figueira.org.br


CIDADANIA & POLÍTICA

Frases...

“Quem ganha não pode ser arrogante. Quem perde não pode ter rancor.” Jaques Wagner, governador da Bahia

Na oposição Pela primeira vez, o ex-Prefeito Mourão estará na oposição por completo. Não tem mais o governo do Estado e não conseguiu ver seu candidato tucano derrotar a presidenta Dilma. A expectativa é grande, pois o atual deputado estadual não terá cargos e mais cargos e indicações à sua disposição.

Na oposição II É grande a expectativa em torno de alguns ocupantes de cargos do Governo do Estado de MG que sempre foram indicados pelo deputado Mourão. Um desses ocupantes de um dos mais destacados cargos em GV, que abrange dezenas de municípios, já está empenhado em se manter por ali. Para tanto tem ido atrás da presidente da FIEMG pedindo apoio no Governo Pimentel. Desta vez não poderá contar com o tucano que sempre lhe deu apoio.

Na oposição III Não se sabe o motivo, mas o deputado Mourão percorreu ruas e mais ruas da cidade, tanto no 1º, assim como no 2º turno em um corpo a corpo nunca visto nem em suas campanhas para prefeito. Um componente do PSDB-GV tem dito que o deputado terá que aprender a trabalhar na oposição sem as benesses de um governo aliado. Talvez, então, a justificativa para tanto empenho.

Amargo apoio Já o Secretário de Estado da Agricultura de MG, André Merlo, ficará sem nenhum cargo até as eleições de 2016, lembrando que o seu candidato a deputado estadual, Paulinho Costa, teve uma drástica diminuição de votos, a partir do declarado apoio de Merlo. Esperava-se, nos bastidores do PDT-GV que o apoio do Secretário de Estado fizesse com que seu candidato fosse eleito com facilidade. Contabilizavam 20 mil votos como certos. Há quem diga que esse foi um daqueles “apoios que ninguém quer”.

Amargo apoio II Considerando que a população não deu bola para o apoio do Secretário de Estado André Merlo ao seu candidato, há quem afirme que André voltou a ser o desconhecido representante de fazendeiros direitistas.

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

Da Redação

Sacudindo a Figueira

“Quando eu falo de terra, teto e trabalho, dizem que o papa é comunista’’. Discurso do papa Francisco aos movimentos populares

3

A figueira precipita na flor o próprio fruto Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

Pelo Brasil

Diário do Poder

“Ninguém” ganhou de Pezão O segundo do turno da eleição para o governo do Rio de Janeiro consagrou Luiz Fernando Pezão como o vencedor da disputa, mas o candidato do PMDB não foi quem recebeu o maior número de votos: a maioria dos eleitores fluminenses não escolheu ninguém como seu próximo governador. Pezão recebeu 4.343.298 votos, enquanto 4.348.950 eleitores não foram às urnas ou votaram em branco ou nulo no último domingo (5.652 a mais).

Baker Street A casa 221B da Baker Street de Londres nunca existiu de fato, mas é uma das referências mais fortes da literatura policial, como endereço fictício do fictício detetive Sherlock Holmes. Hoje, por causa da reorganização da numeração da rua é possível visitar uma casa com esse número, que abriga o museu com o nome do detetive. É um endereço simples e discreto, como era discreta a personagem nomeada Sherlock Holmes. A discrição sempre foi uma marca da polícia investigativa. Nos contos, Sherlock Holmes nunca aparecia nas primeiras páginas dos jornais, que traziam apenas os crimes que ele elucidava. A busca pela primeira página não era compatível com a investigação.

Análise textual Lula é um canalha e imbecil – foi a frase acabada do vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman. Filhinho de papai, playboy e coxinha formaram o repertório urbano das acusações da turma do PT a Aécio e a militantes tucanos. O universo da linguagem rural predominou nos xingamentos tucanos a Dilma: anta, vaca, jumenta. Apenas para registro.

Boataria e partidarização da Polícia Federal O fiscal do PT nas seções eleitorais da Fadivale ficou estarrecido. Com sorriso de orelha a orelha, surgiu o eleitor, um policial federal em serviço. Dirigiu-se ao fiscal e não se conteve na satisfação: “Sabia que o vereador Guetão está preso?” A satisfação não se baseava em dado concreto. Nem o vereador estava preso, nem havia certeza de que recomendar votos pelo zapzap estivesse caracterizado como crime. Mas, na torcida e na precipitação, tudo estava valendo.

Bíblia para-raios: No meio dos impropérios do período eleitoral, uma menina reagia bem humorada aos ataques no face: “o seu deboche bate em minha Bíblia e volta em forma de oração”.

Mauro Santayana Este é o nome de um dos grandes jornalistas do país, que viveu em Valadares para criar o Diário do Rio Doce. Deve ser penoso para ele assistir ao jornal publicar a pesquisa Sensus pró-Aécio como se fosse crível e ainda colar a capa da Veja. Até agora, nenhum pedido de desculpas aos leitores que tiveram a sua inteligência subestimada.

Justificativa operária A ampla maioria dos eleitores que foram às seções eleitorais para justificar o voto era de trabalhadores: motoristas de ônibus, operários de empresas de telefonia e de empresas de energia, peões de empresas de pavimentação de estradas, uma miríade de gente fora de suas casas e de suas cidades. Prováveis eleitores da presidenta Dilma, escalados para trabalhar fora de sua zona eleitoral.

Arregimentação burguesa Na outra ponta, um tanto de gente bem engomada, que declarava ter viajado de Vitória, de Caratinga, do Sul da Bahia, apenas para votar no Aécio, por terem título em Valadares. Houve inclusive muita gente que declarava que no primeiro turno estava fora do país, mas como as chances de Aécio aumentaram, resolveram viajar para votar.

Mais votos válidos Isso explica ter havido 143 mil votos válidos para presidente no primeiro turno em Valadares e 147,5 mil no segundo turno.

De 2010 para 2014 O resultado do segundo turno de 2010 em Valadares foi de 71 mil votos para o Serra e 65 mil para Dilma. Aécio em 2014 alcançou 75 mil e Dilma 72 mil. O avanço do PSDB foi de 4 mil votos. O do PT foi de 7 mil.

Outubro Rosa

Nem o tempo nublado e o princípio de uma fina chuva impediram centenas de pessoas de comparecerem, na manhã desta quinta-feira (30), à Praça dos Pioneiros, para participar do encerramento das comemorações pelo Outubro Rosa, mês em que são intensificadas as ações de prevenção ao câncer de mama e de colo uterino. Da praça, eles sairam em passeata pelas principais ruas do centro da cidade. Foto: SECOM/Prefeitura


COTIDIANO 4

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

MEMÓRIA

Vida de Dona Zulmira vira livro Zulmira Pereira da Silva é tratada como “o anjo da caridade” no livro que conta a sua história e seu amor pelos pobres e doentes de Valadares

Gina Pagu

Gina Pagu /Repórter Uma vida doada à caridade. Zulmira Pereira da Silva, a Dona Zulmira, a mãe Zulmira, mãe Preta, mãe dos Pobres, o “Anjo da Caridade”, teve sua biografia dignamente escrita por um valadarense. O livro “Zulmira Pereira da Silva: O anjo da caridade – Exemplo de vida, luta e predestinação”, é obra do advogado Dionízio Oliveira da Silva. O autor há 60 anos presta serviços voluntários à Casa de Recuperação Dona Zulmira e dispôs mais uma vez o seu trabalho para dedicar-se à mesma causa iniciada por Dona Zulmira, quando Valadares ainda se chamava Figueira do Rio Doce. Silva conta o que o motivou a escrever o livro. “Em uma das Trezenas de Santo Antônio da Catedral, trabalhávamos nas barracas vendendo comidas típicas. Uma jovem me questionou sobre quem era Dona Zulmira. Mais tarde, outro rapaz. A cada um eu respondi. No entanto, pensei que Zulmira merecia mais que uma simples resposta. Eu não poderia deixá-la no esquecimento. A sua caridade a coloca entre os pioneiros da nossa cidade, pois sua história de dedicação aos pobres é inigualável.” Sempre com o intuito de ajudar ainda mais a obra deixada por ela, o advogado iniciou suas pesquisas e investigações. Assim, encontrou o único filho de Zulmira, João Pereira da Silva, o Joãozinho, ainda residente em Valadares. “Quando fui até ele, me atendeu meio desconfiado, pois muita gente já havia passado por ali querendo as mesmas informações que eu. Mas, aos poucos, Joãozinho pegou confiança em mim, e decidiu me contar a vida da mãe”. O livro de 130 páginas, custeado totalmente por doações, tem sua renda revertida para a Casa de Recuperação Dona Zulmira. Conta a vida de Mãe Zulmira, do nascimento em Guanhães à morte em Governador Valadares. Dona Zulmira Filha mais velha de Francisco Pereira da Silva e Maria Barbosa da Silva, irmã de Efigênia Ferreira da Silva, Vitalina Ferreira da Silva, Ciriaco Ferreira da Silva e Leônidas Ferreira da Silva. Todos foram casados, mas só foi possível, segundo o autor, resgatar a história de vida de Joãozinho, que era filho de Efigênia e foi criado por Zulmira. “Naquela época, as pessoas tomavam destinos diversos. Umas iam trabalhar na casa de famílias, e perdiam o contato com os próprios familiares. Foi o caso de Zulmira, que nasceu em Guanhães em 27 de setembro de 1889, dia de aniversário de morte de São Vicente de Paulo, o patrono da caridade. E pouco antes de completar 40 anos, já com os pais falecidos, foi trabalhar numa fazenda em Baixo Guandu, Espírito Santo”. Logo em seguida, por volta de 1933, Zulmira desembarca na Figueira do Rio Doce, a fim de trabalhar e tentar a vida. O autor descreve: “Local de chegada, Praça da Estação Ferroviária, no ano de 1933. Ela desembarcou com a roupa do corpo e uma mala na mão. O pouco dinheiro que tinha foi gasto em uma pensão que ficava na Rua Direita, hoje Prudente de Morais. As economias acabaram, e ela continuou morando lá, mas como empregada dos donos da pensão.” O advogado explica que Zulmira passou dificuldades financeiras, mas nada disso tirou

Dionízio Oliveira da Silva há 60 anos presta serviços voluntários para a Casa de Recuperação e resolveu registrar a história de Dona Zulmira em livro

a vontade de viver. Mas, um momento específico deu-lhe a motivação para a caridade. “Em determinada situação, quando Zulmira passava pelas ruas do atual Mercado Municipal, uma senhora idosa pediu-lhe ajuda. Suplicou para que a Mãe dos Pobres a levasse para casa, para que pudesse morrer em paz, já que essa velhinha já estava muito doente. Daí por diante, Zulmira foi recolhendo mendigos, crianças, pobres, e todos os que precisavam de ajuda.” A atitude de Zulmira tomou proporções enormes, chegando atender cerca de 300 pessoas. “Era uma casa simples de 4 cômodos que foi ampliada para receber toda essa gente. Com o tempo, a sociedade e as autoridades começaram a ajudá-la com doações. E mesmo a polícia da época tinha uma relação amigável com quem recebia até presos. Todos a respeitavam muito, e eram gratos pelo amor e a ajuda dedicados a cada um deles”, explica Silva. Repercussão Silva explica que em épocas em que a saúde pública ainda não era solidificada, a casa de Dona Zulmira funcionava como um hospital. “Lá gestantes ganhavam seus filhos e os deixavam por lá para serem futuramente adotados, gente doente recebia tratamento, alguns simplesmente tinham um lugar digno para morrer. Mãe Zulmira não deixava um indigente sequer sem um lugar para ser enterrado. Ela ganhou um lote no Cemitério de Santo Antônio. E anotava todos os nomes e datas sobre as pessoas que lá foram enterradas.” Isso tudo chamou atenção da mídia, a revista Cruzeiro, em edição de 9 de novembro de 1961, esteve em Valadares para noticiar os feitos dessa mulher. “Tem jeito de Mãe Preta. É na verdade, em Governador Valadares – MG, que to-

Dona Zulmira faleceu em 16 de outubro de 1971, em sua casa, ao lado de seu filho e uma serventuária. “Foi velada por seu povo, por quem sempre fora aclamada, como Mãe dos Pobres, Mãe Preta, Mãe Zulmira.

dos a chamam de “Mamãe Zulmira”. Ela é Dona Zulmira Pereira da Silva, tem sessenta e quatro anos, é preta e gorda. Num documento em que fosse necessário dizer em que é que ela emprega o seu tempo, só se poderia escrever isto: exerce a caridade. Porque “Mamãe Zulmira” cuida das pessoas que não têm ninguém no mundo. Cuida dos desvalidos. Dos que não têm parentes, nem casa, nem Institutos de Previdência. Ela é, para as pessoas, a Previdência e a Providência”, trecho da reportagem. Segundo o advogado, até hoje existem pessoas que se lembram dos trabalhos de Zulmira. “Mesmo após ter escrito o livro, continuo encontrando senhores e senhoras que me contam atitudes e lembranças dessa mulher que deixou seu nome escrito na história de Valadares. Alguns casos até ficaram fora do livro, mas o importante é manter a vida dessa guerreira viva para as próximas gerações.” Casa de recuperação Algumas pessoas na época decidiram ajudar Dona Zulmira a exercer a caridade. Consegui-

ram por doação um local para a construção do novo lar para os necessitados. E na Rua São Vicente de Paulo, 200, Bairro Vista Alegre, construíram a Nova Casa. Dona Zulmira, com seu filho Joãozinho, não permaneceu por lá durante muito tempo. Deixou a administração por conta de uma diretoria e da Associação São Vicente de Paulo. E retornou para sua antiga residência. Dona Zulmira faleceu em 16 de outubro de 1971, em sua casa, ao lado de seu filho e uma serventuária. “Foi velada por seu povo, por quem sempre fora aclamada, como Mãe dos Pobres, Mãe Preta, Mãe Zulmira. Seu corpo foi conduzido pelo Corpo de Bombeiros (...). Dalí para a Catedral de Santo Antônio, onde houve a encomendação do corpo e de lá, para o Cemitério de Santo Antônio, onde foi sepultada. O comércio ficou fechado por decreto de luto oficial. Presos foram liberados para o velório. Uma multidão compareceu. Estima-se que entre dez e doze mil pessoas acompanharamna em seu sepultamento, rendendo-lhe suas últimas homenagens”, trecho do livro. A então Casa de Recuperação Dona Zulmira da Sociedade São Vicente de Paulo, inaugurada em 1973, já teve outros nomes em fases diferentes, Albergue, Casa dos Pobres de Dona Zulmira, Fundação Dona Zulmira. Atende hoje no máximo a 50 pessoas, tem autorização do Estado e Ministério da Saúde, conta com regimento interno e estatuto próprio. Recebe somente pessoas idosas com mais de 60 anos, sem doenças contagiosas e é considerada como Instituição de Longa Permanência para Idosos. Quem quiser ajudar a Casa comprando o livro deve ir ao endereço da Instituição: Rua São Vicente de Paulo, 200, Bairro Vista Alegre, próximo ao Cemitério de Santo Antônio. E doações também podem ser feitas através de depósitos: Banco Itaú, conta: 01175-4, agência: 3041. Ou Banco do Brasil, conta: 8.132-9, agência 0166-X. Reprodução / Gina Pagu

A Casa dos Pobres foi uma das primeiras nomenclaturas da Casa de Recuperação Dona Zulmira, em Governador Valadares

Dona Zulmira, em um dos poucos registros fotográficos preservados


POLÍTICA 5

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília

Inimigo no comando

Divórcio a caminho

Já é de temor o clima no Palácio do Planalto, diante da possibilidade do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ser eleito o próximo presidente da Casa, a partir de janeiro. Atual líder do PMDB, Cunha já deu trabalho à presidente Dilma Rousseff neste ano. Não é segredo para ninguém que os dois não se gostam, nem um pouco. Foi Cunha quem articulou a criação do blocão rebelde, que reuniu mais de 200 parlamentares, para pressionar o Palácio do Planalto. O fogo amigo fez estragos e a equipe de governo sabe que na presidência da Câmara o deputado fica ainda mais forte.

O primeiro mandato ainda nem terminou, mas os caciques do PMDB já mandaram avisar à presidente Dilma Rousseff que o partido terá candidatura própria ao Palácio do Planalto daqui a quatro anos. Vão ser adversários do presidente Lula, que deve voltar para disputar um terceiro mandato. Isso significa que a lua de mel entre as duas legendas, que têm as maiores bancadas nas duas casas do Congresso, não deve passar de dois anos.

E agora, Marina?

Magoou

Inimigo no comando 2

Nos bastidores do Congresso, soou como tentativa de sobrevivência o vídeo divulgado pela ex-ministra Marina Silva, dizendo que a presidente Dilma Rousseff terá de adotar as medidas defendidas por ela, durante a campanha. É que além de setores magoados no PSB, um grupo que antes estava empolgado com a possibilidade de criação da Rede Sustentabilidade perdeu o entusiasmo, ao perceber o tom personalista que a conversa começou a tomar. Alegam que a legenda corre o risco de ser criada em torno de um nome só.

Por falar em Marina Silva, o pronunciamento da ex-ministra, anunciando apoio ao senador Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições não poderia ter causado estrago maior na estrutura do PSB, partido que a abrigou, quando ela não conseguiu criar a Rede Sustentabilidade e que apoiou a candidatura dela a presidente, depois da morte de Eduardo Campos. O desabafo foi feito a este jornalista, pela líder do PSB no Senado, a senadora baiana Lídice da Mata. Segundo Lídice, o partido que já estava dividido e arrasado com a morte do maior líder que tinha, ficou em choque.

Pelo menos um jogo de cena o vice-presidente Michel Temer já fez. Anunciou publicamente que não é bem assim, que o ideal é conversar com o PT, porque caberia ao partido de Dilma comandar a Câmara. Internamente, todos os peemedebistas já dão como certa a posse do deputado no comando da Casa. Isso significa que ele deve se impor para o Palácio e não aceitar pressões para colocar este ou aquele projeto na pauta. E como Dilma já sabe que tanto do ponto de vista econômico quando do ponto de vista político, 2015 vai ser um ano complicado, ter um inimigo do outro lado da Praça dos Três Poderes é o primeiro grande desafio. Um desafio com cheiro de derrota.

Rep. Revista Época

Futuro O futuro do PSB, segundo Lídice da Mata, está sendo definido aos poucos e que ainda é cedo para definir a posição das bancadas do partido na Câmara e no Senado, em relação ao segundo mandato de Dilma Rousseff. É que oficialmente o PSB apoiou Aécio Neves, mas na Bahia, por exemplo, a decisão foi a de apoiar Dilma Rousseff. Uma das correntes mais fortes é de que os parlamentares devem ficar independentes.

Recuerdo Eduardo Cunha foi o deputado que tentou incluir na MP dos Planos de Saúde um dispositivo que passava a mão na cabeça das operadoras de todo o país. O incremento foi vetado, mas previa que se as operadoras cometessem entre duas e cinquenta infrações, elas pagariam multas referentes a apenas duas. Se cometesse mais de mil infrações, só pagariam por 20 delas.

José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.

Eleições 2014

Elisa Costa comemora reeleição da presidenta Dilma Prefeita de Governador Valadares diz que reeleição da presidenta representa continuidade das ações de desenvolvimento na cidade Dió Freitas / SECOM

Tim Filho / Repórter Na quarta-feira, a prefeita de Governador Valadares, Elisa Costa (PT), ainda aparentava cansaço, mas misturava à sua fisionomia, vários sentimentos: alívio, esperança, confiança. Ela coordenou no Vale do Rio Doce as campanhas de Fernando Pimentel, candidato a governador pelo PT, e da presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Comemorava as vitórias de Pimentel e Dilma, lembrava as dificuldades encontradas durante a campanha na região, e revia nas suas anotações, os números da votação nos municípios do Rio Doce e em Governador Valadares. Números e mais números, todos eles revelando o crescimento do eleitorado petista, em um comparativo entre o primeiro e o segundo turno. Mas todos esses números eram, como diz o lugar comum, “águas passadas”. Como coordenadora das campanhas, Elisa se sente vitoriosa, mas isso passou. Agora, o que importa é o trabalho que virá pela frente. E tem muito trabalho por vir. Pela primeira vez na história, Governador Valadares conquistou um alinhamento precioso: a prefeitura, o governador e a presidenta são do Partido dos Trabalhadores. Mas isso significa o quê? A prefeita tem a resposta na ponta da língua: “significa que o Vale do Rio Doce, até então esquecido pelo governo do estado, vai ganhar muito com o governo de Fernando Pimentel, que vai regionalizar suas ações. O Vale do Rio Doce e Governador Valadares finalmente estarão entre as prioridades do governo estadual. No plano federal, a presidenta Dilma continuará o trabalho iniciado pelo ex-presidente Lula e que ela desenvolveu com êxito na nossa região por meio de um conjunto de políticas públicas importantes, como o Minha Casa, Minha Vida, as obras do PAC (que mudaram por completo a nossa infraestrutura), os programas Bolsa Família e Mais Médicos, os investimentos na educação”. Elisa enumera uma série de conquistas que Governador Valadares teve nos governos Lula e Dilma, e que determinaram a reeleição da presidenta. Entre estas conquistas está o programa Minha Casa, Minha Vida, um dos mais importantes programas sociais do governo, que a oposição insistiu em desqualificar durante a campanha, gerando muitos comentários desfavoráveis e preconceituosos nas redes sociais. “Este programa é importantíssimo. Todos ganham: as famílias de baixa renda, os empresários donos das construtoras que constroem as casas, o setor de material de construção. O programa não beneficia apenas um grupo, beneficia um todo, gera emprego e renda, diminui o déficit habitacional, dá condições dignas de moradia para muitos”, disse. Para Elisa, a reeleição da presidenta Dilma, vai proporcionar a ampliação do programa na cidade. Além da moradia, Elisa se mostra confiante com novos avanços para a saúde. O programa Mais Médicos, segundo a prefeita, foi um avanço significativo, que ampliou e melhorou o atendimento nas Estratégias de Saúde da Família. Segundo ela, os serviços de saúde

versidade federal em plena atividade e com a reeleição da presidenta Dilma, o processo de implantação desta universidade será consolidado. Em breve teremos a inauguração do novo campus. Mas não é só isso. Pensamos a educação como um processo que começa na infância. E nesta sintonia com o governo federal, vamos ampliar o número de vagas para todas as faixas etárias, de 0 a 3 anos, por meio das creches conveniadas. As crianças de 4 a 5 anos terão mais vagas disponíveis com a ampliação de salas para a educação infantil.” Além disso, Elisa destaca o Pronatec como fundamental para a qualificação de jovens que vão para o mercado de trabalho. No âmbito estadual, Elisa disse que o governo Fernando Pimentel, ao regionalizar a sua gestão, vai investir em Governador Valadares e região de uma forma coerente, identificando as potencialidades e características regionais. “Já conversamos com o futuro governador e está definido que vamos aproveitar a vantagem logística que temos. A implantação de um porto seco vai trazer desenvolvimento sustentado para o município. Exemplo disso é o setor de granitos. Temos potencial, não apenas para a logística, mas para beneficiar, para agregar valor ao produto. Além disso, nesta logística do porto seco, teremos outros setores contemplados: grãos, materiais de construção e produtos da área petrolífera”. A duplicação da BR 381, segundo Elisa, será essencial para o sucesso deste porto seco, junto com a Estrada de Ferro Vitória Minas. Campanha difícil

Elisa Costa disse que agora a Prefeitura está alinhada com dois governos que farão muito por Governador Valadares e a região do Rio Doce

só vão melhorar com a reeleição de Dilma e a eleição de Fernando Pimentel.”A consolidação da UPA Vila Isa, que é um mini-hospital, a federalização do Hospital Municipal, e a conclusão do Hospital Regional irão melhorar estes serviços”. O desafio é garantir o custeio do Hospital Regional. Elisa lembra que não basta apenas construir o prédio, as instalações. É preciso garantir o custeio e isso já está sendo planejado pelo governador eleito e pela Prefeitura. “Com a federalização do Hospital Municipal, o município poderá investir no Hospital Regional juntamente com os municípios da região”. Educação Elisa disse que um dos principais avanços nos governos do PT é, sem dúvida, a educação. “Hoje temos a nossa uni-

Para vencer as eleições o caminho foi árduo. Elisa disse que a oposição jogou sujo. “Tentaram de tudo para desqualificar o nosso partido, o PT, e de tudo para manchar a história da presidenta Dilma. Foi jogo sujo, com mentiras e reprodução de mentiras. Aquela panfletagem com a capa da revista Veja, nos últimos dias da campanha, foi criminosa”. Para Elisa, o antídoto para tanta maldade foi jogar limpo, mostrar o que os governos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma fizeram para Governador Valadares e para a região do Rio Doce. Agora que tudo acabou, Elisa aplaude o discurso da presidenta Dilma no domingo. “Precisamos urgente de uma reforma política”, disse. Para a prefeita, quando a presidenta disse que ficou claro durante toda a campanha, que é necessário deflagrar a reforma política e que esta é responsabilidade institucional do Congresso, mobilizando a sociedade em um plebiscito por meio de uma consulta popular, está corretíssimo. “E tem mais: é preciso discutir o marco regulatório nas comunicações, principalmente no que diz respeito à mídia, porque nestas eleições, o comportamento de alguns meios foi criminoso”.


ELEIÇÕES

6

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

EBC

Dilma vota em Dilma na Escola Estadual Santos Dumont, na Vila Assunção, Zona Sul de Porto Alegre. Presidenta se mostrou confiante durante a votação e apuração de votos

Eleições 2014

Ave, Presidenta!

A presidenta Dilma foi reeleita presidenta da República depois de derrotar Aécio Neves nas urnas. Dilma obteve 54.501.118 votos, contra 51.041.155 de Aécio.

Agência Brasil

No estado natal dos dois candidatos, Minas Gerais, Dilma derrotou Aécio. Dilma ficou com 52,41% dos votos e Aécio, com 47,59%. De um universo de 15,2 milhões de eleitores, a petista venceu o tucano por uma diferença de 550,5 mil votos.

A presidenta da República, Dilma Rousseff (PT), vai governar o Brasil por mais 4 anos. A disputa apertada no segundo turno entre os dois candidatos à Presidência refletiu-se no número de estados em que cada um saiu vitorioso. Das 27 unidades da Federação, a candidata do PT, Dilma Rousseff, venceu em 15 e o candidato do PSDB, Aécio Neves, em 12. Dilma venceu nos estados de Alagoas, do Amazonas, do Amapá, da Bahia, do Ceará, do Maranhão, de Minas Gerais, do Pará, da Paraíba, de Pernambuco, do Piauí, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Norte, de Sergipe e do Tocantins. Os melhores resultados foram obtidos no Maranhão (78,76%), no Piauí (78,29%) e no Ceará (76,75%). Aécio Neves ganhou a disputa no Distrito Federal e nos estados do Espírito Santo, de Goiás, de Mato Grosso do Sul, de Mato Grosso, do Paraná, de Rondônia, de Roraima, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e de São Paulo. Os estados que mais deram vantagem ao tucano foram Santa Catarina (64,59%), São Paulo (64,31%) e Acre (63,86%, com resultado parcial). No estado natal dos dois candidatos, Minas Gerais, Dilma derrotou Aécio. Dilma ficou com 52,41% dos votos e Aécio, com 47,59%. De um universo de 15,2 milhões de eleitores, a petista venceu o tucano por uma diferença de 550,5 mil votos. Embora nascida em Minas, Dilma começou a carreira política no Rio Grande do Sul. No estado, onde tem domicílio eleitoral, a presidenta obteve 46,47% dos votos, contra 53,53% do adversário. Em um colégio de 8,4 milhões de eleitores, Aécio venceu Dilma por 455 mil votos de diferença. Mineira de Belo Horizonte, Dilma Rousseff, tem 66 anos, é economista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), tem uma filha e um neto. Foi reeleita junto com o vice-presidente Michel Temer (PMDB), com o apoio da coligação formada por PT, PMDB, PDT, PCdoB, PR, PP, PRB, PROS e PSD. No primeiro turno, Dilma ficou em primeiro lugar, com 43.267.668 votos (41,59% dos votos válidos). Filha de um imigrante búlgaro e de uma professora do interior do Rio de Janeiro, Dilma viveu em Belo Horizonte, capital mineira, até 1970, onde integrou organizações de esquerda, como o Comando de Libertação Nacional (Colina) e a Vanguar-

da Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Foi presa em 1970 pela ditadura militar e passou quase três anos no Presídio Tiradentes, na capital paulista, onde foi torturada. Em 1973, mudou-se para Porto Alegre, onde construiu sua carreira política. Na capital gaúcha, Dilma dedicou-se à campanha pela anistia, no fim do regime militar, e ajudou a fundar o PDT no estado. Em 1986, assumiu seu primeiro cargo político, o comando da Secretaria da Fazenda de Porto Alegre, convidada pelo então prefeito Alceu Collares. Com a redemocratização, Dilma participou da campanha de Leonel Brizola à Presidência da República em 1989. No segundo turno, apoiou o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 1993, Dilma assumiu a Secretaria de Energia, Minas e Comunicação do Rio Grande do Sul, cargo que ocupou nos governos de Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT). Em 2000, Dilma filiou-se ao PT e, em 2002, foi convidada a compor a equipe de transição entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Quando Lula assumiu, em janeiro de 2003, Dilma foi nomeada ministra de Minas e Energia, e comandou a reformulação do marco regulatório do setor. Em 2005, ainda no primeiro governo Lula, Dilma assumiu a chefia da Casa Civil, responsável até então por projetos como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida. Dilma deixou a Casa Civil em abril de 2010 e, em junho do mesmo ano, teve sua candidatura à Presidência da República oficializada. Venceu sua primeira eleição no segundo turno, contra o candidato do PSDB, José Serra, com mais de 56 milhões de votos. Em um governo de continuidade, Dilma manteve e ampliou programas sociais da gestão Lula e implantou iniciativas que levaram à redução da pobreza, da fome e da desigualdade. Criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e ampliou programas de empreendedorismo. Também implantou um programa de concessões para obras de infraestrutura e logística, muitas ligadas à realização da Copa do Mundo. Em um governo marcado por episódios de corrupção, Dilma chegou a demitir seis ministros em dez meses, em 2011. A presidenta reeleita também enfrentou problemas com a economia, com queda no ritmo do crescimento do país e avanço da inflação.

Em um governo de continuidade, Dilma manteve e ampliou programas sociais da gestão Lula e implantou iniciativas que levaram à redução da pobreza, da fome e da desigualdade. Criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e ampliou programas de empreendedorismo.


GERAL 7

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

Equipe Figueira

Eleitores da presidenta Dilma foram para a Rua Marechal Floriano, debaixo de muita chuva, comemorar a reeleição da presidenta. A festa começou logo após o anúncio oficial da reeleição, feito pelo TSE, em Brasília

Minas Gerais teve papel relevante na reeleição da presidenta Dilma Da Agência Brasil

haja vista que a própria presidente Dilma enfrentou arestas muito grandes neste processo de reeleição”, analisa. Assim como Tourino, a professora de ciência política da UniA derrota de Aécio Neves em Minas Gerais, seu domicílio eleitoral e estado que governou por oito anos, pode ter sido um fa- versidade Federal de Minas Gerais, Helcimara Telles, também tor relevante para a vitória de Dilma Rousseff em sua reeleição. avalia que o desempenho dos candidatos em Minas teve peso Na avaliação de especialistas mineiros ouvidos pela Agência no resultado nacional, embora considere que talvez não tenha Brasil, o mau desempenho de Aécio no estado depôs contra o sido decisivo. A professora também é membro da World Association for Opinion Research (Wapor), organização voltada para candidato e o fez perder votos importantes. Para o professor de ciências sociais e políticas da Universi- a pesquisa de opinião pública. Para ela, Minas Gerais tem um dade Federal de Viçosa, Diogo Tourino de Sousa, Minas foi “o fiel “peso simbólico” muito grande, por fazer divisa com estados em da balança, do ponto de vista numérico” e também do ponto de estágios socioeconômicos diversos, como São Paulo, Goiás, Rio vista político, no sentido de converter eleitores de outros estados de Janeiro e Bahia. “Foi importante. Eu até conversava com meus alunos que no momento em que Aécio passava a ser conhecido no Brasil. “[Minas] teve uma importância muito grande na tônica da quem ganhasse em Minas ganharia no resto do país. Minas tem campanha da presidente Dilma no segundo turno. A ideia de um peso simbólico porque sintetiza o resto do país”, acredita. Helque quem conhece Aécio não vota nele, e Aécio perdeu no seu cimara também acredita no peso político que teve a derrota de estado, o estado que administra há muitos anos, foi um slogan Aécio Neves no estado no primeiro turno. Para ela, o fato de a premuito forte que, de alguma forma, pautou o enfrentamento di- sidenta Dilma ter ganhado no estado que já foi governado por seu reto entre Dilma e Aécio no segundo turno. Então acho que se adversário contou para convencer os eleitores dos outros estados. No entanto, a professora rechaça a ideia de que foi uma pode dizer, sim, que Minas teve um papel decisivo, não só pelo seu quantitativo de votos, mas sobretudo por esse elemento eleição com resultado divido por regiões – com Aécio vitorioso no Sul, Sudeste e Centro Oeste, e Dilma no Norte e Nordeste – substantivo”, disse o professor. Ainda na opinião de Tourino, a derrota do ex-governador no ou por classes sociais. “Ela ganhou em diversas classes sociais, estado foi provocada por dois fatores decisivos. O primeiro foi o ainda que ela tenha tido uma votação melhor nas classes mais mau desempenho dos governos tucanos na educação em Minas. baixas. Estatisticamente isso é totalmente justificável, pois “Na retórica nacional, Aécio falava que elevou os índices educa- existem mais pobres no país do que ricos”, avalia a professora. Mesmo assim, Helcimara Telles diz que a vitória com marcionais no seu estado, que melhorou a educação, mas na prática os professores são pessimamente remunerados, as condições de gem tão apertada deve servir de alerta para a presidenta Dilma, trabalho nas escolas vêm caindo. Ou seja, a despeito da melhora que deve sobretudo melhorar sua comunicação com a sociedade. dos índices, a avaliação subjetiva da educação no estado, sobre- Para ela, Dilma perdeu o diálogo com a sociedade civil, com o setudo por seus atores, era muito negativa. E isso tem um impacto tor produtivo e com o Congresso, fechando-se burocraticamente. A tendência agora, na opinião da professora, é a melhora dessa forte, porque a classe docente é formadora de opinião”, avalia. Associado a isso, o insucesso do candidato tucano ao gover- comunicação para se aproximar da sociedade e unir as pessoas em no estadual, Pimenta da Veiga, que perdeu para Fernando Pi- torno de projetos como a reforma política. “Acho que vai ser um mentel, do PT, no primeiro turno, foi o outro fator que contri- mandato mais politizado, tem que ser um mandato mais habilidobuiu para o quadro em Minas. “Pimenta da Veiga não foi alguém so, que faça mudanças, atendendo aos eleitores dela e do Aécio”. Dilma venceu em Minas com 52,41% dos votos válidos, que foi capaz de reverter essa má vontade com a administração. É uma má vontade que a gente pode ver como natural, ninguém enquanto Aécio teve 47,59%. No primeiro turno, a candidata que administra por três mandatos consecutivos – dois com Aé- petista também venceu no estado, com 43,48%. O tucano fez cio e um com Anastasia – chega ao final de 12 [anos] sem arestas, 39,75% em Minas no primeiro turno.

Eleição e barricada

Maurício Cancillieri

Talvez por ter uma memória muito viva da história recente, a imprensa alemã evitou falar que o Brasil pós/pré-eleição está/estava dividido por um “muro”, o que poderia ser interpretado como uma referência à própria e repugnante tragédia do país europeu (o muro de Berlim foi derrubado no fim de 1989). Mas, jornais importantes da Alemanha Süddeutsche Zeitung e Der Spiegel - insistiram que no gigante da América Latina a fronteira entre Norte e Sul não é mais só geográfica. Existe uma estrutura, não necessariamente de concreto que separa ricos e pobres. Foi o que li. É lamentável ter que admitir que os alemães foram rasos na crítica, porém, captaram o que mais viram: uma rivalidade brutalizada por agressões mútuas e segregação de todos os tipos. Eles olharam de longe e enxergaram o

óbvio (o destaque): a barricada que os brasileiros construíram, como se estivessem numa guerra entre bem e mal, em vez de uma batalha de ideias e projetos. Berlim, uma das três jurisdições eleitorais brasileiras na Alemanha (as outras são Munique e Frankfurt), deu vitória ao Aécio (PSDB). Foram 733 votos para o tucano contra 571 para a presidente reeleita, Dilma Rousseff (PT). Não importa mais. Brasileiros e alemães vão continuar parceiros - em tantas áreas - porque fazem isso há muito mais tempo do que qualquer chefe de Estado pode ficar no poder.

Maurício Cancilieri é jornalista e repórter da Deutsche Welle, emissora alemã com sede em Bonn, na Renânia do Norte – Vestfália

Crônica da vitória

A Dilma levou Gina Pagu

Domingo eu levei um susto quando acordei. Uai! Fui votar e não tinha um mísero santinho na rua. E se o eleitor esquecesse quais os números, não teria ninguém lá para nos lembrar? Esse foi um ponto interessante desse 2º Turno das Eleições Presidenciais. As ruas limpas, o povo tranquilo seguindo para as urnas, sem o alvoroço que foi o 1º Turno. Antes era gente escorregando em rios de papel e xingando porque ficou mais de 40 minutos nas filas das sessões. Bradando contra a democracia obrigatória. Eu tô me perguntando até agora, já é segundafeira, sobre a razão dessa paz. Meu amigo Alexandre Pantaleão, que tem necessidades especiais para se locomover, me disse que tinha algo errado com essa Eleição. Todos os lugares tinham acesso, rampas, tudo certinho para quem precisa. A Valéria Alves, jornalista, achou tudo vazio demais e disse que tinha medo de termos muitas abstenções. Mas, parece que teve mesmo, no Brasil inteiro houve cerca de 20% de abstenções. Bem, tudo isso foi fato. Eu fui dar um giro, nas sessões do Sir, Sion e Santos Dumont, depois que votei, pra ver se o sossego era geral mesmo. E pude conferir até fiscal de partido batendo papo e tomando café na porta de escola. Por conta da tranquilidade, a tia do churrasquinho, ao contrário de antes, viu a carne esfriar na chapa, o chuk descongelar e a pipoca murchar. E foi bem assim que ficaram os partidários do PSDB depois que Dilma foi reeleita ficaram. Mas, até que isso acontecesse, rolou muita troca de ofensas nas redes sociais. O povo brigou e brigou, e a Dilma que levou. E aí eu pensei o seguinte, esse sossego todo é o povo que deve ter começado a pensar bem nas coisas. A entender que Eleição não é jogo de futebol, que é para escolher um líder que vai gerir um país cheio de problemas, como todos na verdade. E nessa, a presidenta pra mim também fez um campanha limpa, assim como o povo que votou no 2º Turno. Aguentou e engoliu seco junto com os nordestinos, os negros, os gays, tanto as ofensas do Aécio nos debates, quanto as bobagens de alguns formadores de opinião por aí. Mas, os eleitores não se calaram na hora de escolher o vencedor. O povo venceu, a Dilma levou e teremos mais quatro anos de paz para viver no Brasil, graças a Deus!


GERAL

8

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

BRAVA GENTE

ACIR DAS ROSAS

Ombudsman

Dilvo Rodrigues

José Carlos Aragão

De raposas e figueiras Desde que me iniciei no jornalismo lá pelo terceiro quarto do século passado, sempre ouvi falar de uma “velha raposa da política mineira”, personagem que nunca tinha nome, mas sempre batia ponto nas colunas de notas políticas. As colunas sociais também eram useiras e vezeiras de códigos para nominar personagens e figurinhas carimbadas em suas fofocas e inconfidências: “uma sereia do Baixo Gávea” (exemplo fictício, porque não consigo me lembrar de um real agora – mas é por aí). O velho Ibrahim Sued, patriarca do colunismo social brasileiro, foi mestre em criar esses tipos, amplamente copiados por aspirantes a colunistas de jornais país afora. Todo colunista social ou cronista político que se prezasse, tinha lá sua pequena fauna de personagens inominados que lhes serviam de fontes para fofocas da high society ou segredos de bastidores da política. Viraram clichês. Assim, ainda hoje, às vezes, não consigo entender nada do que leio em certas seções do jornal. É que é muito comum o uso de linguagens cifradas em notas de colunas políticas, em que o texto conta o pecado e nunca dá os nomes dos pecadores. Suspeito que seja uma tradição bem mineira do jornalismo ou ainda algum resquício dos tempos de ditadura, quando o medo vivia entranhado nas redações. Quando leio uma notícia, sou como qualquer leitor: quero fatos, quero dados, quero nomes. Se, ao final da leitura de uma nota, não sei exatamente quem fez o quê, quando, e como, sinto que faltou alguma coisa: faltou, talvez, sacudir mais a figueira. Acir, o vendedor de rosas naturais, que percorre bares e casas noturnas de Valadares, sempre nas madrugadas

Habemus... Fiz questão de deixar o título acima reticente, porque comecei a escrever minha coluna ainda na quinta-feira, 23, antes do fim da campanha eleitoral, do último debate, das pesquisas de boca de urna e do resultado final do pleito. Achei que devia falar da eleição antes que ela se concluísse, na tentativa de me diferenciar das demais abordagens do tema que, certamente, toda a mídia estará fazendo já na noite de domingo, quando o resultado final já deverá ser conhecido. Todos vão querer explicar porque venceu um candidato e não outro; vão apontar os erros e acertos de estratégia da campanha de um e de outro; vão mostrar as comemorações de quem venceu país afora; vão analisar os desafios que terá pela frente o presidente eleito para compor sua base de apoio; vão crucificar os pobres institutos de pesquisa, esses eternos incompreendidos. (Leitor, observe que estou usando o masculino de uma forma genérica, porque, além de ter a maior bronca com a irritante e ridícula ditadura do “politicamente correto”, tenho um número limitado de palavras para a minha coluna e não vou gastá-lo com especificações “inclusivas” de gênero do tipo: o candidato vencedor ou a candidata vencedora, presidente eleito ou presidenta eleita, ele ou ela, leitor ou leitora...) Então... Impus-me o desafio de escrever sobre o imponderável próximo e, especialmente, de imaginar as capas dos jornais de segunda-feira. E - como não? – do nosso Figueira. Armário Não chegou a ser exatamente uma novidade, mas, na edição passada, o Figueira saiu do armário. No editorial, entregou o que espera para o país nos próximos quatro anos. A charge dispensou o humor, porque uma “declaração de voto”, a rigor, não precisa provocar riso. Na verdade, tudo já estava explícito (ou implícito?) na manchete de capa, com a subliminaridade e a ambiguidade em “Domingo é o dia D” (com o D em vermelho). Para um jornal de opinião – ou de opiniões, como se pode depreender por sua miríade de articulistas e colaboradores - , melhor assim. Escancarada a sua posição, fica agora a expectativa sobre a próxima capa (na verdade, a da presente edição, que eu ainda não vi) Muro Mas, ruins mesmo, são aqueles jornais que, em vez de saírem do armário, preferem ficar em cima do muro – mais por conveniência, que por coerência. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com

O vendedor noturno de rosas verdadeiras Dilvo Rodrigues Quando era jovem, Acir não tinha liberdade para presentear sua namorada com flores. Menos ainda pegar na mão, muito menos ainda ficar de agarramento em público. Se alguém visse a filha do fulano abraçada com a filha do ciclano era um Deus nos acuda. Abraçar só era permitido depois do casamento. Em Nacip Raydan, sua cidade natal, aproveitava as noites de lua cheia junto com uma turma de amigos e embalava serenatas nas janelas mais distintas, que tinham sempre algo em comum: flores. Décadas se passaram e as flores, especialmente as rosas, ainda fazem parte da rotina desse simpático senhor. É que ele vende rosas, rosas de verdade, pelos bares e restaurantes cidade afora. Apaixonado e casado com a mesma mulher há 35 anos, ele oferece rosas para os casais ou pretensos casais sentados à mesa de um bar, tomando cerveja ou caldo de mocotó, comendo torresmo, bêbados ou não, fumante ativos ou passivos. Meio que fazendo as vezes de um cupido inesperado, comportado, oferecendo uma espécie de flecha para ser atirada por um amante diretamente no coração do outro. Ele chega muitas vezes sem dizer uma palavra, oferecendo no gestual a rosa ao rapaz ou à moça. O moço de gola polo azul da mesa da esquina disse que não, já estava de saída. A bonita morena que o acompanhava olhou

atravessado, devia estar pensando: “Isso é motivo para não me agradar?” Uma loira disse ao Acir que não compraria a rosa, pois vai acabar murchando. Ela não parecia saber que uma homenagem dessas faz o sentimento inflar por algumas horas. Certa vez, um sujeito chegou a dizer que a rosa era um mero troféu de puta. Isso não é coisa de se dizer para um vendedor de flores que até venceu um concurso de calouros cantando “O bom rapaz”, de Vanderlei Cardoso. Na verdade, não é coisa para se dizer nem para quem vive cantando música de piriguete. Indelicadezas à parte! - A gente tem de aproveitar que hoje é permitido dar flores, pegar na mão, fazer carinho nos cabelos, falar no pé do ouvido, dizer que ama, dizer que ama e que ama muito. Não é mesmo, Acir? – continuei. - Sim. E você tem namorada? - Eu não. Tenho namorada não. - Quantos anos você tem? - Eu? 29. - Já tá na hora, hein? Mas, Deus vai arrumar uma namorada muito boa para você. Conhecedor e praticante da palavra de Deus, Acir acredita que o amor só pode vir Dele e que esse sentimento tão sublime é capaz de superar tudo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”, cita pouco antes de se retirar para outro bar, oferecer flores a outros casais, para viverem outras histórias de amor.

Direitos Humanos Paulo Vasconcelos

Você leitor, tem todo o direito de achar estranho o título “a mosca” para um texto que pretende apresentar argumentos concernentes aos Direitos Humanos. Eu tentarei, sem ser tão chato quanto uma mosca, situar um ponto de vista que facilmente encontra repúdio em aproximadamente metade da população, pendendo o fiel da balança ora para a esquerda, ora para a direita. Acontece que, na campanha presidencial, vários órgãos de imprensa divulgaram vazamentos seletivos com acusações subjetivas sem ninguém apresentar provas, a não ser, depoimentos de certo “doleiro” — atividade que me causa repugnância — chamado Alberto Yussef, em troca de uma delação premiada. O instituto da delação premiada nem foi homologado pelo Supremo Tribunal Federal. As declarações do “doleiro” apontam o envolvimento dos dois braços da balança, sendo que, o alvo principal e midiático pesou apenas para um dos lados, tendenciosamente produzindo em boa parte dos eleitores, o repúdio. Às vésperas da eleição para presidência da República, a revista Veja, numa desesperada tentativa de golpe eleitoral contra a democracia, lança mão de uma informação imprecisa, única e exclusivamente no intento de prejudicar uma das candidaturas ali envolvidas. Imaginando assim, pode-se decidir o que é verdade ou mentira, sem levar em consideração a realidade. Dentro do contexto de Direitos Humanos, o PNDH-3, em sua 22ª diretriz, propõe a criação de um marco legal, nos termos do artigo 221 da nossa Constituição, que estabelece a alguns meios de comunicação (rádio e televisão) critérios para o respeito aos Direitos Humanos. Porém, o artigo 220 da mesma Constituição, garante à comunicação social a liberdade de informação jornalís-

A mosca

Raul Seixas, durante a Ditadura Militar, introduziu uma mosca na sopa de muitos que não aceitam a igualdade de condições entre beneficiários e desfavorecidos pela construção histórica do nosso belo país.

tica. Assim como o artigo 5º inciso IV garante a mim a livre manifestação do pensamento, tanto quanto, a de toda e qualquer pessoa que queira fazer uso desse direito. É importante ressaltar que não se está garantindo uma liberdade irresponsável e sem qualquer critério do poder de informar ou mesmo do direito de criar ou de manifestar o pensamento, contudo, também não se cogita a censura. Pois, muitas vezes a liberdade de comunicação vai de encontro aos direitos de terceiros, perante o contexto constitucional. Assim afirma, o professor de Direito Constitucional da PUC-SP, Luís Alberto David de Araújo, “... é evidente que a proibição imposta pelo Poder Judiciário, com fundamento em outros valores constitucionais, não configura exercício de censura, já que o próprio texto constitucional garantiu este direito.”

Quanto às moscas... Raul Seixas, durante a Ditadura Militar, introduziu uma mosca na sopa de muitos que não aceitam a igualdade de condições entre beneficiários e desfavorecidos pela construção histórica do nosso belo país. Com isso, suponho, talvez ter ele conhecido alguns textos do guatemalteco Augusto Monterroso, que trabalha inferências interessantes às capacidades das moscas, como no conto: “A mosca que sempre sonhava ser uma águia.” Ela sentia-se muito cansada por isso. Também, nos dois fragmentos do conto “as moscas” que valem uma reflexão: “Esqueça, é mais fácil que uma mosca pare no nariz do papa que o papa pare no nariz de uma mosca. O papa, o rei ou o presidente são incapazes de chamar a sua guarda suíça ou a sua guarda real ou a seus guardas presidenciais para exterminar uma mosca. Ao contrário, são tolerantes e, quando muito, coçam o nariz. Sabem. E sabem que a mosca também sabe e os vigia.” E ainda. “A mosca que pousou no seu nariz é descendente direta da que pousou no de Cleópatra.” A mosca na sopa que o Raul cantou também. Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e preside o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos


COMPORTAMENTO

9

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

Jiu-Jitsu

Meninas do Jiu Jitsu de Mantena destacam-se no Campeonato Mineiro Divulgação

Gina Pagu/Repórter

Em 28 de setembro, as meninas da equipe Jiu-Jikan, de Mantena, foram campeãs da 4ª Etapa do 40º Campeonato Mineiro, organizada pela Federação Mineira de Jiu Jitsu em Belo Horizonte. A equipe feminina é formada por Izadora Valente, categoria infanto juvenil, 13 anos; Sabrina Moura, categoria infanto juvenil, 14 anos; Laísa Pimenta, categoria infanto juvenil, 14 anos; Jéssica Moura, categoria infanto juvenil, 15 anos; Adrielle Trajano, categoria júnior; Francielle Louzada, categoria adulto e Maria Moura, categoria sênior, trouxeram 6 medalhas de ouro e uma de prata. O treinador, Nivaldo dos Santos, se orgulha da equipe, destaca o empenho e diz que a luta é sempre coletiva, e que todas foram vitoriosas. “Somos uma equipe muito unida, e o mais importante é que as meninas estão treinando muito duro este ano para manter a colocação no ranking mineiro. Já temos um troféu de 2º lugar na 2ª etapa, 3º lugar na terceira etapa e de campeão na quarta etapa. Estamos em segundo lugar no ranking da categoria feminino e em 5º no geral do Campeonato Mineiro que se encerra em 30 de novembro com a realização da 5° e última etapa no Estádio Mineirinho em BH.” Santos diz que apesar das dificuldades para patrocínio, ninguém desiste de ir para o tatame lutar por mais vitórias. “Além da equipe feminina, temos as masculinas e um projeto social. E desses alunos muitos precisam de ajuda de colaboradores, pois sem isso não poderiam praticar o esporte. As famílias acompanham de perto todo o trabalho, tanto do projeto quanto os que podem pagar. Muitos até viajam com a gente. E, normalmente, o patrocínio vem da Prefeitura.” Izadora Valente, uma das atletas, fala da felicidade do grupo ao vencer mais uma etapa e do desafio de ir lutar na Capital. “Saímos de Mantena para disputar em Belo Horizonte, já chegamos lá cansadas, então o nosso maior desafio é ganhar. Pois, além de tudo, temos de pensar muito e raciocinar durante a luta, pois Jiu-Jitsu não é força, é habilidade e agilidade para vencer o adversário.” Projeto Social As vitórias da Jiu-Jikan não param por ai. A equipe ensina o jiu-jitsu através do Projeto Social Caxambu, no qual crianças e adolescentes da cidade podem praticar o esporte de forma gratuita. Santos explica que o Projeto surgiu da necessidade de expandir a modalidade e ao mesmo tempo

As meninas do Jiu Jikan Team fizeram muita festa na comemoração dos ótimos resultados obtidos no Campeonato Mineiro

ajudar a quem precisa, por meio do esporte. “Hoje, estamos com 45 alunos, o Caxambu existe há um ano e meio e funciona com a ajuda de colaboradores anônimos. Eles doam parte da mensalidade e os quimonos para crianças e jovens de baixa renda que fazem aulas conosco. Nosso propósito é melhorar a vida das pessoas e contribuir com a qualidade de vida por meio do Jiu Jitsu.” Santos diz que apesar da falta algumas vezes de patrocínio, o Projeto segue firme e tem saldo positivo para alunos e famílias. “Acredito plenamente que estamos fazendo a diferença na vida dessas pessoas. Já temos o reconhecimento da Prefeitura de Mantena e do Conselho Tutelar, que nos acompanham. Além do total apoio dos familiares, tanto de alunos pagantes como dos que não pagam para praticar o esporte.” Francielle Louzada, atleta da equipe feminina e professora auxiliar do Caxambu, explica que o trabalho com

os alunos do projeto vai além de ensinar somente as técnicas marciais. “Queremos com essa modalidade fortalecer e formar o caráter de cada aluno. Pois, assim conseguimos levar os ensinamentos do esporte para a vida. Dá muita satisfação poder colaborar com a formação deles como seres humanos, fazendo com que se interessem a cada vez mais pelo esporte, melhorando o comportamento perante a sociedade. Além de ajudar na concentração na escola, ensina a disciplina e estimula a autoestima.” Louzada reitera o pedido do técnico pela ajuda com patrocínio. Mas, se diz feliz pelas recompensas proporcionadas pelo Jiu Jitsu. “Encontramos um pouco de dificuldade em manter o Projeto, pois temos muitos gastos. E para seguir em frente e tornar essa modalidade conhecida, todo o sacrifício é recompensado. Os resultados são muitos, principalmente a gratidão e a alegria dos nossos alunos e colegas de equipe.”

Política

Schinyder Exupery Cardozo

O que vi nas eleições Desde o início de julho estávamos em processo eleitoral para escolha de nosso presidente. Foram mais de quatro meses. Dos 11 candidatos, sete são originários do PT - Partido dos Trabalhadores. Além da própria presidenta Dilma Rousseff, Marina Silva (PSB), Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Rui Costa Pimenta (PCO), José Maria (PSTU) e Mauro Iasi (PCB). Daí a importância para a República Federativa da existência do Partido dos Trabalhadores. Desde as eleições gerais de 1989 essa foi a mais acirrada. Naquela, Collor derrotou Lula por pouco mais de 4 milhões de votos. Agora em 2014 a diferença foi de pouco mais de 3 milhões de votos. Percebe-se que o Partido dos Trabalhadores, apesar da vitória, viu crescer uma oposição até então inimaginável, sobretudo porque foi justamente com o PT que o Brasil saiu do mapa da fome, conforme relatório da ONU, além de ter diminuído drasticamente os índices de desigualdade. Poderia desde já concluir que, quanto mais a desigualdade social vai ficando para trás, mais cresce a exigência do cidadão para com o governo? Talvez sim, pois esse é um dos papéis a que o PT se propõe desde sua fundação nos idos dos anos 1980. Assim sendo, é hora do Partido realizar uma autocrítica e buscar entender o que as urnas estão lhe dizendo. O cida-

dão, sobretudo o que viu melhorar sua qualidade de vida após o governo Lula, pode estar dizendo que é necessária a diminuição da desigualdade social, mas, do mesmo lado, é fundamental a garantia de outros direitos e deveres, tais como aqueles defendidos pelo PT em sua origem e, sobretudo, o combate à corrupção. Ele quer mais. E pelas primeiras palavras da presidenta reeleita, esse “mais” virá com um governo mais progressista e que dialogue melhor. “Mudanças mais rápidas e fortes” disse ela, principalmente porque o cidadão atendeu ao chamado do ex-presidente Lula e compareceu para votar pela reeleição da presidenta que, por sua vez, deverá dar a sua resposta. Em Governador Valadares, o chamado do Partido dos Trabalhadores também fora atendido, em que pese toda a tentativa de desconstrução do Partido. Foram mais de 72 mil votos só em nossa cidade contra cerca de 75 mil votos de Aécio Neves. São mais de 72 mil pessoas que, repito, em que pese toda a tentativa da mídia nacional de descontruir o partido, mostraram-se dispostas a votar no PT. A força do partido se mostra mais evidente em um cenário de uma eleição de dois turnos como ocorrerá em 2016 por aqui. É um número expressivo que demonstra seu vigor, sobretudo se comparado com as eleições anteriores em nosso mu-

nicípio: em 2010 Dilma obteve 65.926 votos contra 71.709 votos de José Serra. Em 2008, a própria prefeita Elisa obteve 68.059 votos. Há, assim, um dever de casa para manter esse vigor que, ainda que mostre força, não é suficiente e necessariamente passará pelas “mudanças mais rápidas e fortes” já anunciadas. Esses números trouxeram a clara necessidade de ampliar o diálogo e a capacidade de acordo caso o objetivo seja, realmente, manter o atual projeto político implantado desde 1o de janeiro de 2009. Não é tarefa fácil, mas fundamental. Por tudo isso, podemos dizer que ganhamos perdendo ou perdemos ganhando. Ganhamos. Mas, é preciso mais. O cidadão demonstrou que está mais exigente e quer mais. Talvez, esse o maior legado de amadurecimento de um Partido que foi e é fundamental para a República Federativa do Brasil, pois o povo brasileiro lhe deu a chance de continuar o seu acertado projeto.

Schinyder Exupery Cardozo é advogado e procurador geral do Município.


CORRESPONDENTES 10

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

EBC

D’outro lado do Atlântico José Peixe / De Lisboa

E agora mãos à obra para afirmar uma grande nação Na semana passada debrucei-me sobre as eleições presidenciais brasileiras e de uma campanha eleitoral aguerrida, em que alguns momentos chegaram a ultrapassar os limites da decência e da diplomacia política. Mas, quem conhece o Brasil sabe que a realidade não poderia ser outra, numas eleições que prometiam ser disputadas até à contagem final dos boletins de voto. O “stress” eleitoral já passou e o povo brasileiro reelegeu a candidata do PT (Partido dos Trabalhadores), Dilma Rousseff, para mais um mandato como Presidenta do Brasil. Um Brasil que vai ter de se afirmar internacionalmente nos próximos quatro anos. Um Brasil que vai ter de demonstrar ao Mundo Ocidental que reúne todas as condições para ser uma potência. Mas, para que esse Brasil potência se consiga afirmar de forma serena e sem grandes convulsões é necessário que a partir de agora Dilma Rousseff consiga mobilizar o seu governo para novas etapas difíceis de contornar ou combater. A primeira dessas etapas será fazer frente à corrupção que existe no seio da classe política e nomeadamente em algumas empresas públicas de renome como a Petrobrás. Bem sei que não será uma tarefa fácil. Bem sei que será um “combate” que desencadeará alguns conflitos feios. Mas, é fundamental que a senhora presidenta Dilma passe para o resto do mundo que neste seu segundo mandato está determinada em por um ponto final na corrupção que tem minado a imagem da democracia no Brasil. Uma segunda etapa primordial será demonstrar que a Justiça no Brasil existe e que as condenações não são apenas e só para os cidadãos da classe baixa. Os cidadãos têm de voltar a acreditar num dos

A Presidenta Dilma Rousseff vai ter a responsabilidade de edificar uma grande nação

pilares fundamentais da democracia. E esse pilar é sem dúvidas a Justiça. Uma Justiça que ao longo das últimas décadas veio perdendo a sua credibilidade. A terceira etapa consiste em fazer investimentos fortes nos sectores da Saúde Pública e da Educação. Os cidadãos brasileiros têm direito a padrões educacionais mais modernizados e alguns dos estados brasileiros não podem continuar esquecidos pelos governantes no que diz respeito à Saúde Pública. Em véspera de eleições, os candidatos à Presidência da República, senadores e governadores aparecem em campanha nos estados mais pobres do Brasil a fazer promessas nas áreas da saúde, educação e habitação, que depois de eleitos deixam cair no esquecimento. Faço votos para que desta vez todos os eleitos nas últimas eleições

Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo

Antes – A semana da eleição por aqui foi marcada por uma intensa mobilização dos defensores da candidatura Dilma Rousseff no sentido de reverter a derrota sofrida no primeiro turno. Para tanto, realizou-se série de atividades como panfletagens nos pontos mais movimentados das cidades, visitas a bairros, bandeiraços e carreatas, entre outras. Outro instrumento bastante utilizado foram as redes sociais, que neste ano tiveram no aplicativo Whatsapp importante ferramenta para troca de informações, nem sempre verdadeiras, diga-se de passagem. Aliás, parece que o (ab) uso das mídias sociais colaboraram para que esta se tornasse a eleição mais acirrada no país desde 1989. E olhem que naquele ano, no qual Lula e Collor disputaram o segundo turno para presidente, tivemos entre outros, os casos da denúncia de uma ex, de que Lula teria a obrigado a fazer um aborto e dos sequestradores do empresário Abílio Diniz que, ao serem libertados, foram obrigados a vestir camisetas com a estrela do PT. Logicamente estes fatos foram manchetes dos principais meios de comunicação nas vésperas da eleição do segundo turno para presidente. E por falar em comunicação, lembro de uma aula que assisti recentemente, na qual o professor comentava como se dá atualmente o uso ‘casado’ dos grandes meios de comunicação. Um dos grandes meios impressos, como uma revista semanal, por exemplo, publica uma manchete explosiva. A ‘notícia’ (muitas vezes falsa, sem comprovação alguma) causa grande comoção e passa a ser repercutida pelos jornais, rádios, TVs até a exaustão. E a cada eleição as mídias sociais colaboram cada vez mais com este ‘modelo’ de comunicação. A manchete da revista Veja desta semana foi o mais recente exemplo deste ‘modelo’. A publicação chegou às bancas dois dias antes do usual, com mais uma manchete explosiva com denúncia sobre corrupção na Petrobras a tempo de ser utilizada pelos demais meios e pelo programa eleitoral de Aécio. Vale lembrar que mais uma vez as denúncias não tinham comprovação alguma. Para a candidatura Dilma, a vantagem foi que mesmo sem contar com os grandes meios, a utilização das mídias sociais conseguiram de certa forma minimizar os efeitos nefastos das denúncias. Em Santo André, os adversários de Dilma, além do

III Seminário Multidisciplinar sobre violência doméstica Começa neste sábado (1/11) e vai até 17 de novembro o período de inscrições para participar do III Seminário Multidisciplinar sobre violência doméstica: prevenção e fortalecimento da rede protetiva. Como o nome já diz, o evento tem por objetivo fortalecer a rede de enfrentamento à violência doméstica, por meio de políticas protetivas do poder público. Podem participar gestores das Políticas Públicas de Segurança, Saúde, Educação e Assistência Social, representantes de instituições de ensino, dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, estudantes de Direito, Serviço Social, Medicina, Enfermagem, Psicologia e áreas afins, além de órgãos de classe e associações comunitárias. Para se inscrever, basta enviar um e-mail com nome completo, telefone e instituição que atua ou curso acadêmico em andamento para inscricoesseminarioviva@gmail.com e, aguardar confirmação.

Facebook, Twitter e Whatsapp providenciaram a boa e velha cópia da capa com a manchete e passaram a distribuí-la aos milhares pelas ruas da cidade. Durante – No dia da eleição as pesquisas indicavam a vitória de Dilma. A preocupação de que a cópia da capa da revista fosse espalhado nas proximidades dos locais de votação, o que não se concretizou. O que realmente aconteceu foi a disseminação pelas redes sociais da ‘notícia’ da morte por envenenamento do doleiro que faz as denúncias de corrupção na Petrobras. Também resgatavam o caso da morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel. Esta iniciativa também foi sufocada prontamente rebatida. Depois – Confirmada a reeleição da presidenta Dilma Rousseff, o que se viu por aqui foram, por um lado, a explosão de alegria e alívio depois de todas as dificuldades encontradas na eleição. Do outro, a continuação dos ataques contra a presidenta. Na segunda de manhã, os comentários eram ‘vou deixar de trabalhar também para ser sustentado pela Dilma’; ‘Também elas (as mães nordestinas) têm 15 filhos para receber o Bolsa Família’. Mas a ‘pérola’ estava no Facebook: o deputado estadual tucano Telhada pregava a separação de São Paulo do país. Se o conservadorismo de São Paulo garantiu a Aécio Neves uma expressiva votação (dois em cada três eleitores votaram nele), foi Minas Gerais que garantiu a reeleição da presidenta. Depois II - Em seu discurso após a confirmação da vitória, a presidenta Dilma Rousseff afirmou que encaminhará a reforma política. Esperemos que tome providências também com a regulação econômica da mídia. Depois III - Também no Facebook, o jornalista Breno Altman informava a cidade onde Aécio obteve a maior porcentagem dos votos: foi em Miami (EUA), onde conseguiu 92% dos votos. Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.

façam tudo o que estiver ao seu alcance para cumprirem as suas promessas eleitorais. Só cumprindo as promessas eleitorais é que se vai conseguir edificar uma grande nação. Caso contrário, a política continuará a ser descredibilizada. Por último, duas áreas que vão ter que ser enfrentadas pela presidenta Dilma Rousseff e todos os governantes com muita coragem e determinação: o combate à criminalidade e a distribuição da renda de modo a diminuir a pobreza no país e a insegurança que se sente na maioria do país. Bem sei que não é uma tarefa branda e fácil de levar por diante. Mas, chegou o momento de os governantes brasileiros estudarem quais as melhores soluções para combater os índices de criminalidade que não param de crescer. Índices que deixam uma péssima imagem do Brasil internacionalmente. E um dos melhores antídotos para baixar a criminalidade é apostar forte na educação (obrigando os jovens a estudar e a fazer cursos profissionais) e criar postos de trabalho para milhares de jovens que se sentem completamente rejeitados na sociedade onde vivem e crescem sem esperança de um futuro melhor. No momento em que a classe política instalada em Brasília se interesse em levar por diante alguns destes princípios aqui defendidos, tenho quase a certeza que o Brasil vai afirmar-se como uma das maiores nações do planeta. Tem todas as condições para que isso aconteça (riqueza, pessoas, instituições, etc...) basta apenas que os novos governadores eleitos, senadores e Governo queiram mesmo apostar forte numa nova nação. Uma coisa é certa, no domingo passado os cidadãos brasileiros deram uma vez mais uma lição de democracia a muitos países ocidentais. Reelegeram Dilma Rousseff para um segundo mandato sem violência e com serenidade democrática. Isso foi bonito de enxergar. Como cantou Chico Buarque na altura em que os portugueses deitaram abaixo o regime fascista: “Foi bonita a festa pá! E eu fiquei contente...”. Venha daí esse novo Brasil senhora presidenta. Termino o artigo de hoje dando os meus parabéns ao candidato Aécio Neves que soube acatar a derrota eleitoral com inteligência e fair play político. Isso poderá ser ótimo para o futuro político do ex-governador de Minas Gerais. José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação

Eleições Lucimar Lizandro

Eleição de Dilma Rousseff: uma vitória épica Dia 26 de outubro de 2014, por volta das 21 horas, o TSE confirmou a vitória de Dilma Rousseff na eleição mais acirrada das últimas décadas. Exatos 3.459.963 de votos separaram os dois candidatos. Algo ínfimo, num universo de 142.822.046 de eleitores. As pesquisas divulgadas na véspera do pleito indicavam um encurtamento da distância entre Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves. Quem mais se aproximou do resultado final ( 51,64% a 48,36% ) foi o Instituto Datafolha, ao apontar um empate técnico de 52% a 48%, tendo a petista à frente. A disputa no segundo turno foi menos propositiva, sendo marcada por intensa troca de acusações, além de uma forte campanha de desconstrução de ambas as candidaturas. Como efeito dessa campanha o candidato tucano se tornou líder em rejeição. Após questionamento dos tucanos, o TSE proibiu a exibição de peças de campanha que fugissem ao tom propositivo, o que acabou penalizando petistas e tucanos, acarretando, inclusive a perda de tempo no rádio e na TV. O tom belicoso das candidaturas acabou contagiando seus apoiadores. As ruas e as redes sociais viraram palcos de guerra, com a explosão do ódio e do preconceito racial. Faltaram idéias, mas sobrou xingamentos, insultos e em alguns momentos o confronto físico. Para esquentar ainda mais a reta final da eleição houve o episódio da capa de uma revista semanal de circulação nacional, que antecipada sua publicação, serviu de munição para a oposição que a tornou um panfleto de campanha distribuída aos borbotões. Segundo a matéria, um doleiro , em depoimento a justiça federal teria declarado que Lula e Dilma sabiam da corrupção na Petrobrás. Isso, despido da mínima prova. No final de semana que antecedeu a eleição, a matéria da revista sobre corrupção na Petrobrás e a pichação da sede da revista por manifestantes foram repercutidos pela imprensa, com destaque no principal telejornal noturno. O PT conseguiu um direito de resposta e a revista teve que publicá-lo em seu sítio, o que ocorreu na madrugada de domingo. Pois bem, denúncias de corrupção, campanha de desconstrução, acirramento dos ânimos, proliferação de boatos. Utilização intensa das redes sociais e dos novos recursos tecnológicos (whatsapp) marcaram o cenário no qual transcorreu a eleição presidencial mais acirrada desde 1989. Ao final, Dilma Rousseff e o PT puderam comemorar a quarta vitória seguida para a presidência da República, numa disputa inesquecível, que assumiu contornos épicos, seja pela campanha dura, seja pela dramaticidade da apuração, que seguiu parelha até a contagem do último voto. Uma vitória para corações valentes. Lucimar Lizandro de Freitas é graduado em administração de empresas pela FAGV e especialista em Gestão Pública pela UFOP.


CULTURA

11

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

Recado Capital

MUNDO VIRTUAL

Estudantes propõem transparência e debate político

Fábio Moura / De Belo Horizonte

Horizonte

Dilvo Rodrigues / Repórter

O céu, talvez, pudesse ser visto por cima do cume das serras. Ou, ainda, subindo mais até a Serra do Cipó, de onde se poderia ver o bolsão por cima. Também não daria. A crosta cinzenta era ainda mais densa.

O Parque Estadual da Serra do Intendente, em Conceição do Mato Dentro queimava feito uma fogueira da chaminé tampada. O fogo chegara ali no fim da última semana. Vinha do Parque Municipal da Cachoeira de Tabuleiro. Lá, havia torrado toda a margem esquerda do coração que cerca a garganta da maior queda de água do estado. Quedinha, dessa vez. Esvoaçava-se logo nos primeiros metros e chuviscava sobre o poço. Boa parte das nascentes foi dizimada. Ao fim da tarde, alguns pingos vindos do céu dariam corpo ao lençol que escorria por 273 metros. Estava a caminho da capital e chegou por aqui antes do início da madrugada. Chuvinha ácida, mas gostosa. Valeu até uma dancinha. De cara, já caiu do céu a metade do esperado para o mês de outubro. Até assistimos a uma tempestade, mas bem curta. Parece que cada vez esperamos menos água lá de cima. Aqui embaixo, foram os reservatórios quem não viram água. Mal deu pra fazer um barro. Mas aí a chuva veio de novo. Veio e ficou. Já com um mês da primavera e vários outros sem chuvas regulares. Fez até alguns estragos por aqui. Mas aliviou. Retirou até a especulação de que a Copasa a racionaria com o passar das eleições. Fábio Farias Moura é jornalista e produtor audiovisual

Brasil Camping

Outra vez o horizonte. Levamos dias pra fitá-lo novamente. Aquela tal massa de ar frio do início de outubro deu lugar a uma outra de ar seco. Grande, imponente, sombria e incômoda. Daquelas que antecipam o sol alaranjado do entardecer para a metade do dia. Dessas que pouco adiantam baldes de água espalhados pela casa. Essa que não nos permitiu contemplar, da Praça do Papa, a Serra do Curral, ali há poucos metros do cume. É como se da Ilha só déssemos conta de ver os contornos da Ibituruna. Ao se curvar, daria de cara com um dos horizontes mais belos de Curral del Rei. Não daria dessa vez. Daria de cara com um bolsão cinza que encobria toda a cidade, numa miscelânea de gases poluentes, poeira e muito pouca água. 12% de umidade do ar. Sucessivas quebras de recorde do calor na cidade. 36°, 37°. A sensação era de muito mais, claro. E até valadarense acostumado a ser açoitado pelo sol de janeiro pediria arrego. A névoa cinzenta não dava sinais de que se abrandaria. Ganhava massa a cada dia e se tornava pouco a pouco mais densa. O horizonte de curta distância ia se tornando escasso. Quatro quarteirões, no máximo. A partir dali, assistiríamos um dégradé da opacidade até o cinza finito. Tudo queimava ao redor. Rola Moça, Parque Municipal das Mangabeiras, Serra do Curral. Tudo queimava aqui dentro. 21 focos ao mesmo tempo. O céu, talvez, pudesse ser visto por cima do cume das serras. Ou, ainda, subindo mais até a Serra do Cipó, de onde se poderia ver o bolsão por cima. Também não daria. A crosta cinzenta era ainda mais densa. O Parque Nacional da Serra do Cipó estava fechado, enquanto os brigadistas tentavam impedir o avanço das chamas para além dos três mil hectares já queimados. Mais 500 metros de altitude e alcançaríamos o topo da Serra do Espinhaço. Se dali não se visse horizonte, não haveria, com certeza, em lugar algum do centro de Minas Gerais.

Um barulho de algo batendo na calçada com alguma frequência. Alguém caminhava na minha frente tirando notas secas do chão. Sinal verde, amarelo, vermelho. Parei na faixa de pedestre. Uma senhora também estava por ali. -Eu posso ir? - ela gritou. - A senhora precisa de ajuda para atravessar? -Sim, preciso! Reparei que ela era cega e precisava mesmo de ajuda. Naquele momentos me veio a imagem de um náufrago pedindo socorro em alto mar. Meu barco de pescador era o único por ali e tinha espaço para mais um. - Segura minha mão. Calma que o sinal acabou de fechar pra gente! A senhora esta indo para? - Preciso ir na loja da “Oi” no shopping. Olhei a escadaria imensa do shopping. Era também meu destino. Aquela escadaria mais parecia a de uma igreja. E eu ri pensando que era o preço a se pagar pelo pecado do consumo. - A senhora consegue subir escada sozinha? - Escada rolante? Não, tenho muito medo de escada rolante. - Mas, tem uma escada “normal” ali. Vamos subir? - Me ajuda? - Vamo junto! Continuei segurando mão da dona e atravessei a faixa com ela. -Ó! Cuidado, o primeiro degrau da escada já está aqui. E ela cutucou o degrau com a bengala. - Nossa moço, escada rolante é muito perigoso. O senhor já andou de escada rolante? Eu tenho medo! - Eu já andei sim. Fica tranquila que não vou colocar a senhora numa escada rolante. - Eu quero ir na loja da “Oi”. O senhor sabe onde fica. - Não sei. Não sou daqui. Nunca entrei nesse shopping, mas a gente descobre. - Acabaram os degraus? - Não, isso só foi um “descanso” vem mais ai. Cansou? - Não. A escadaria ficou para trás. O próximo passo era descobrir onde ficava a bendita loja. - O sr. trabalha aqui? Trabalha, né!? Eu preciso levar essa senhora na loja da “Oi”. Onde fica? - Fica no segundo piso. - Segundo andar? A utilização da escada rolante me pareceu quase inevitável. - Vamos ter de ir de escada rolante moço?, ela me perguntou. Soltei a mão dela, precisei pensar por alguns segundos. - Onde fica o elevador? - perguntei para o segurança Peguei na mão da Senhora e fomos até o elevador. - Vou chamar o elevador aqui, tá?. Já té descendo. Como é o nome

Crônica

Não é possível que uma sociedade seja democrática sem transparência e livre acesso à informação. Essa convicção levou dois estudantes do curso de Sistemas de Informação da Universidade Vale do Rio Doce – Univale a desenvolverem o Debate GV, site apartidário no qual os internautas têm acesso aos projetos propostos pelos vereadores da cidade, numa linguagem mais acessível. Além disso, poderão opinar e debater a respeito dos temas colocados em pauta pelo legislativo municipal. O Debate GV será apresentado como trabalho final de conclusão de curso pelos alunos Gustavo Batista e Andrey Lima Ramos. De acordo com Andrey, a proposta é dar maior visibilidade e informar as pessoas das decisões, projetos e ações tomadas pelos vereadores. “Nossa ideia também é ter um espaço no qual as pessoas possam debater e trocar ideias sobre os assuntos que interessam a toda a cidade. Ou seja, ter um lugar em que essa discussão possa acontecer de forma respeitosa e democrática”, diz. O site tem pouco mais de um mês de vida e já recebeu mais de mil visitas. Nele, estão disponíveis os projetos do legislativo na íntegra. Mas, ainda tem enfrentado a conhecida morosidade das instituições públicas. “Nós já fizemos a solicitação de envio dos projetos para o presidente da câmara. Agora estamos aguardando o atendimento”, diz Andrey. De acordo com o presidente da Câmara de Vereadores, Geovanne Honório (PT), a iniciativa tomada pelos estudantes é uma importante ferramenta na promoção da transparência e dialoga positivamente com as intenções da Câmara. “Eles solicitaram o envio dos projetos e estamos trabalhando com o objetivo de repassar todos aqueles que forem de maior interesse público e importantes para a comunidade. Nós vemos como positivas as iniciativas que visam tornar a participação da população mais efetiva, pois é a mais interessada nas questões que os vereadores tratam na casa legislativa.”, diz Honório. Os interessados em conhecer o Debate GV podem acessar o endereço http://www.debategv.com. br/ ou curtir a página do projeto na rede social Facebook (https://www.facebook.com/debategv).

Dilvo Rodrigues

Escada rolante e elevador panorâmico da senhora? Soltei a mão. - É Maria Fernanda. E o seu? - O meu é Dilvo. - Diferente! O senhor é estrangeiro? - Não. É só mais um caso brasileiro de nome estranho mesmo. Chegou o elevador! - Peguei a mão dela e segurei. Dentro do elevador. - Esse elevador é daqueles que da pra ver lá fora? - Não, não é panorâmico. Tem um espelho, que as pessoas podem ajeitar o cabelo, passar maquiagem, fazer careta... - Ah sim. E na escada rolante tem espelho também? - Tem. É difícil de explicar. Mas, geralmente a escada que desce e a escada que sobe acabam se cruzando. Daí, nesse cruzamento, na lateral de cada escada tem um espelho. As pessoas que descem olham no espelho da escada rolante que sobe e as pessoas que sobem usam o espelho da escada rolante que desce. E as pessoas ficam fazendo poses sensuais ou beijando o namorado ou namorada e olhando no espelho. Tem gente que também fica tirando foto no espelho da escada rolante. E tem espelho também na escada rolante que fica bem em cima das nossas cabeças, no piso de cima. Isso tudo com mímica. Eu me achei uma songa-monga por que nem eu mesmo entendi minha mímica. E a dona Maria Fernanda nem se deu conta que eu estava lá, feito um animador de chimpanzés. Ela só ficava de cabeça baixa e escutava. Quando eu falava, ela abaixava a cabeça. - Eu imagino! Mas, acho que nunca vou poder andar de escada rolante. - Disse. Eu fiquei curioso para saber como é a escada rolante nas fantasias dela. Mas, pensei que seria uma pergunta de uma certa insensibilidade. - Bom, se a senhora quiser se aventurar um pouco eu posso tentar ajudar. Chegamos no andar, agora é tentar saber onde fica a loja. Saindo do elevador. -Eu já sou muito velha pra essas coisas moço. O senhor não tem mão de velho. Mas, tem calo na mão. - Isso é calo de barra.

- Barra? - É que eu faço exercícios, academia, dai a mão acaba pegando uns calos. E eu tenho lá meus 29 anos. Vou perguntar a moça onde fica a loja. Segundo a moça que cobra o estacionamento, o estabelecimento ficava no final do corredor. Andamos, andamos, andamos. Eu segurando na mão da Maria Fernanda, a Maria Fernanda segurando na minha mão como se fossemos mãe e filho fazendo compras no shopping, para uma data especial. - Vinte e nove anos! Tem muita coisa pra ver ainda nessa vida. - É! Olha aí, chegamos! “Olha ai”?, pensei comigo mesmo que essa tenha sido uma péssima escolha de palavras. - Ah, que bom. - Disse dona Maria Fernanda. - Mas, a senhora vai ter de esperar um pouco. Só tem uma pessoa atendendo e quatro clientes na fila de espera. - Tá certo. - Quer se sentar? Tem cadeira vazia aqui. - Não,não. - Maria Fernanda a senhora precisa de mais alguma ajuda? - Pode deixar meu filho, depois eu peço para outra pessoa me ajudar. - Então fica com Deus e se cuida, tá? - Tá bom, Dilvo. Deus lhe pague - Disse e beijou a minha mão. Saí da loja, sentei na praça de alimentação e pedi um café. Não conhecia ninguém lá. Eu olhava tudo aquilo e achava tudo isso muito sem graça ali dentro. “Vinte nove anos! Tem muita coisa pra ver ainda nessa vida.”, pensava e duvidava. Não passou muito tempo e resolvi ir embora. Fui descendo as escadas rolantes, uma por uma. Bacana! Mas, como seria andar de elevador panorâmico? Nunca andei! Dilvo Rodrigues é jornalista e cronista.


ESPORTES

12

FIGUEIRA - Fim de semana de 31 de outubro, 1 e 2 de novembro de 2014

QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO

Caráter flexível Antes do jogo com o Chile, pelas oitavas de final da Copa do Mundo, Carlos Alberto Parreira declarou que a partir dali valia menos a parte técnica ou tática, e o que decidiria as partidas seriam “a atitude e o caráter dos jogadores”. De acordo com a lógica de Parreira, os jogadores da seleção brasileira se mostraram mais ou menos honrados contra o Chile – demos uma sorte danada –, tiveram caráter contra a Colômbia e foram uns salafrários diante da Alemanha. Na entrevista coletiva após a derrota por cinco a zero para a Chapecoense, Abel Braga disse que agora o Internacional jogaria “pela dignidade”. Assim, e tendo a dignidade como mote, tomemos os últimos jogos do Inter. O time foi pusilânime em Chapecó, recuperou a honra na vitória sobre o Fluminense – com direito a derramadas emoções no gramado – e mereceu outra explicação curiosa de seu treinador na derrota em casa para o Corinthians: nas palavras de Abel, “jogamos feito adultos e levamos dois gols feito crianças”. No tropeço seguinte (dois a zero para o Flamengo), não foi possível avaliar caráter ou dignidade, pois um clube que cogita ser campeão não pode terminar o jogo com Rafael Moura e Wellington Paulista no ataque. Por fim, no último fim de semana uma vitória protocolar, em casa, sobre o Bahia. Dignidade padrão médio. Concordo que treinadores de futebol precisam se ocupar de fatores extracampo, ser sábios para perceber quais decisões podem afetar o time para o bem ou para o mal, gerenciar egos etc., e talvez seja por isso que alguns recebem salários de matar de inveja até presidentes de poderosas multinacionais. Entretanto, muitas das suas declarações servem para tirar dos próprios ombros a responsabilidade de montar times bem preparados, técnica e psicologicamente, para encarar as mais variadas situações que podem acontecer numa partida. É comum ouvir esse tipo de argumento, tanto dos comentaristas especializados quanto nas conversas de botequim: o técnico arruma o time, traça a estratégia, treina a semana inteira, aí os caras tomam um gol com dois minutos e vai tudo por água abaixo. Pergunto: ora, que técnico é esse? Qualquer time está sujeito a levar gol a partir do momento em que a bola rola, e por isso tem que estar treinado para reagir. Diz a lenda que na final da Copa de 58, quando a Suécia abriu o placar, Didi pôs a bola embaixo do braço e, enquanto a carregava até o centro do campo para a nova saída, dizia aos companheiros algo como “agora vamos encher esses gringos.” Encheram. Outra dessas boas histórias envolve o excelentíssimo senhor senador da República Romário de Souza Faria. Na final da Copa Mercosul de 2000, contra o Palmeiras no estádio Palestra Itália, o Vasco desceu para o intervalo perdendo por três a zero. O Baixinho estava uma arara quando entrou no vestiário, e perguntou em voz alta: “É isso mesmo? A gente vai perder pra esse time horroroso deles?” O Vasco voltou, virou o jogo para quatro a três e levou a taça.

Reprodução

Concordo que treinadores de futebol precisam se ocupar de fatores extracampo, ser sábios para perceber quais decisões podem afetar o time para o bem ou para o mal, gerenciar egos etc., e talvez seja por isso que alguns recebem salários de matar de inveja até presidentes de poderosas multinacionais. Entretanto, muitas das suas declarações servem para tirar dos próprios ombros a responsabilidade de montar times bem preparados, técnica e psicologicamente, para encarar as mais variadas situações que podem acontecer numa partida.

Admitir que seu time tomou gols que nem criança revela sinceridade, mas o que Abel precisa fazer é mais do que ser franco: ele tem é que montar um sistema defensivo eficiente, que impeça o Inter de levar gols pueris. O fato de ser reconhecido como um sujeito correto e dedicado dá a Abel o benefício da dúvida, mas uma pergunta se faz inevitável: se o cara treina direito, explica direito e escala direito, chega na hora e os caras dentro de campo fazem errado, será que o treinador é mesmo tão importante como acreditam 95% dos jornalistas esportivos e nós, torcedores? Já no caso de Parreira, ajudar Felipão a deixar o time bem armado, sabendo o que precisava ser feito para produzir um bom jogo e tendo confiança para sofrer um gol e seguir em frente – em vez de virar um bando e levar mais quatro em seis minutos –, teria sido muito mais útil do que essa conversa mole de caráter. Que, diga-se, não é coisa que muda assim tão fácil de quarta-feira para domingo. Jorge Murtinho é redator de agência de propaganda e, na própria definição, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, que adotou o seu blog e autoriza a sua contribuição a este Figueira.

Canto do Galo

Toca da Raposa

Jô vai ter de brigar pelo lugar

E o Cruzeiro desapareceu

Rosalva Luciano

Com um abraço. E o Brasil não é apenas o país do futebol. É também um país com consciência cidadã e com máquina política que funciona. Estivemos numa semana de decisões para o cargo público máximo do nosso país. A presidência da República esperou por meio da democracia e do voto a vontade da maioria dos brasileiros ser confirmada entre dois candidatos, sendo vencedora a nossa presidenta Dilma. Um cruzeirense, a outra atleticana assumida e declarada.Que o esporte brasileiro esteja também entre metas importantes, principalmente para crianças, adolescentes e jovens. Sabemos que todo cidadão com acesso à prática esportiva tem uma saúde intelectual e física mais fortalecida. Quando em qualquer nível ou segmento o respeito não vem, temos que exigi-lo na competência, na realidade dos fatos, nos argumentos concretos.Temos hoje e sem favor nenhum os dois melhores times do Brasil. A conotação política deste final de semana sufocou um pouco o conhecimento da tabela atualíssima do Campeonato Brasileiro. Nós atleticanos chegamos com o nosso time à segunda posição. Estamos avançando a passos grandes para um merecido lugar, que já há algumas décadas merecemos. O título não fica impossível se continuarmos nesta disposição ou neste foco. Está meio embolado o caminho mas não diferente de tantos outros. Muito sufoco, muita dificuldade, muitas barreiras, mas isto é ser Galo. Contusões ainda guardam no departamento médico importantes atletas e agora expulsões permeiam o nosso plantel. Nas 12 partidas já disputadas no returno não foi possível a repetição do mesmo time, às vezes a dificuldade vem na complementação do próprio banco de reservas.Todo cuidado deve ser mantido, perder lugares na tabela ou até mesmo o título nos conferirá uma certa idiotice. Confio no bom senso da comissão técnica na orientação dos atletas e, claro, conto com a inteligência deles no entendimento da importância do momento. Reconhecemos e valorizamos o empenho do grupo e é isto que nos faz atleticanos de paixão. Sentimos a diferença em atletas que vestem este listrado: são guerreiros. Vamos, estaremos juntos! Reconheço que a rotina dos jogadores de futebol é bem pesada, cansativa e estressante, tanto na parte emocional como física. Vários jogos e competições ao mesmo tempo trazem problemas alheios à vontade deles. Qualquer ser humano tem o seu limite para produzir bem em qualquer função ou profissão. Chega a ser sacrificante o que fazem estas competições com os nossos jogadores. Vem aí a mudança de rota,

do Brasileiro vamos para a Copa do Brasil. O adversário, além de trazer a nossa segunda maior rivalidade, traz a sua sede que muitas vezes tem decidido competições, é do Rio de Janeiro. Não temos boas lembranças, mas não paro no passado.Temos condições técnicas e táticas para construir um resultado que pode facilitar o resultado na definição no jogo de volta e garantir a final. E o Jô voltou? Será? Será que não é um golpe publicitário ou uma informação enganosa? O certo é que ele já está reintegrado ao plantel profissional do Galo, agora resta saber em que condições físicas e emocionais. Sabemos que nesta fugida encontrou tempo para um belo sambinha no Rio de Janeiro, desta nem eu escaparia se a oportunidade viesse, mas juntaria à isto um pouquinho de responsabilidade e reconhecimento agradecido ao clube que o colocou de volta no cenário futebolístico pois já estava fadado ao esquecimento. Sem ele, o Atlético se apresentou melhor, temos o melhor rendimento do returno, estamos na briga pelo título inédito da Copa do Brasil. O esquema que passou a ser usado com o desaparecimento dele tem sido eficiente. O atleta precisará ser mais aguerrido, mostrar mais vontade e construir uma boa performance para voltar a figurar na titularidade do time. Ele pode esperar que vai rolar cobranças da torcida, mesmo reconhecendo ser ele um dos grandes responsáveis pelo nosso título continental de 2013. Como ele mesmo disse, futebol é feito também de oportunidades, reconhecendo o bom momento do Dátolo, Luan e Carlos. “Voltar a fazer gols e mostrar dentro de campo, me dedicar, correr”, prometeu o craque. Então, vai ter de reconquistar seu espaço. Seguindo o que diz o técnico Levir Culpi, que acredita ter o Jô a capacidade de se encaixar no novo sistema de jogo, mas prefere utilizar o camisa sete como referência. Existe essa possibilidade, que apesar de ele ser um jogador alto, tem velocidade. Mas, é um pouco difícil, porque temos jogador para as laterais. Ele tem uma qualidade específica, a qualidade para cabecear. Acho que a situação dele seria nesse sentido. Acima de qualquer assunto, teremos que destrinchar um dos mais difíceis. A semana promete, a semana pode dar esperança, a semana pode deixar ainda acreditando. Teremos que achar meios para dizer no Maracanã: Aqui é Galo!

Rosalva Campos Luciano é professora e, acima de tudo, apaixonadamente atleticana.

Hadson Santiago

Saudações celestes, leitores do Figueira! Definitivamente o futebol do Cruzeiro desapareceu nos últimos meses. Salvo os jogos contra Internacional e Vitória, onde a equipe atuou bem, tem sido um martírio para a China Azul acompanhar as partidas celestes de uns tempos para cá. Queda total de rendimento! E o técnico Marcelo Oliveira continua a encher a equipe de volantes, escalando mal e não extraindo do elenco o máximo que eles podem produzir. O Cruzeiro continua na liderança do Campeonato Brasileiro, é verdade, mas a diferença para o São Paulo, o vice-líder, é de apenas 5 pontos. O pior é que o Cruzeiro vem jogando muito mal. A exigente torcida já está perdendo a paciência. Os dois últimos empates por 1x1, contra Palmeiras e Figueirense, deixaram uma certeza: estão faltando raça e competência aos jogadores e ao treinador. Dagoberto, autor do gol de empate contra o Palmeiras, não gostou das vaias da torcida e reclamou. Ninguém pode tirar do torcedor essa prerrogativa. Pagou ingresso, está insatisfeito, pode vaiar à vontade. É direito!!! Para alimentar ainda mais a desculpa de que a equipe está desgastada, ainda há os jogos da Copa do Brasil contra o Santos. Um planejamento bem feito e uma inteligente utilização do elenco, aliados à raça e à vontade dos jogadores, poderiam superar todas essas dificuldades promovidas pelo esdrúxulo calendário do futebol brasileiro. As próximas rodadas trarão à tona muitas verdades. Os três jogos seguintes contra Santos, Botafogo e Criciúma serão todos no Mineirão. A torcida tem comparecido em peso e o Cruzeiro tem arrecadado muito dinheiro. Não se pode reclamar de falta de apoio. E o Campeonato Mineiro 2015 terá a mesma

fórmula de disputa dos últimos anos. É o torneio estadual mais enxuto do país. Começará no dia 1º de fevereiro e a grande final será no dia 3 de maio. Até o momento em que escrevo a coluna, a tabela ainda não foi divulgada. Espero que a partida Democrata x Cruzeiro seja disputada aqui em Governador Valadares no majestoso Estádio José Mammoud Abbas, o Mamudão. Que a Pantera possa montar um bom time e realizar uma bela campanha. A cidade confia no trabalho de Gilmar Estevam e sua comissão técnica. Quem sabe a final nos apresente o duelo Pantera x Raposa, hein? Por que não, cara pálida? E o Naque EC Veterano, um reduto de muitos cruzeirenses, está mesmo arrasador. No sábado, 25 de outubro, a equipe naquense foi a Santana do Paraíso, no Vale do Aço, e goleou o Manchester Paraíso por 6 x 2. Os gols do Naque foram assinalados por André, Gleison, Júlio, Lenílton, Brynner e Tico, esse último de pênalti. O futebol varzeano representa a essência do verdadeiro futebol. Ali se joga por amor, pelo prazer de correr atrás de uma bola, superando-se todos os obstáculos que por ventura surjam. Algo ausente no dito futebol profissional. É o verdadeiro amor à camisa!

Hadson Santiago Farias é cruzeirense da velha guarda e saudosista convicto.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.