Figueira 29

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Fim de semana de alor e sem chuva www.climatempo.com.br

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33o 19o

MÁXIMA

ANO 1 NÚMERO 29

Não Conhecemos Assuntos Proibidos

MÍNIMA

FIM DE SEMANA DE 10 A 12 DE OUTUBRO DE 2014

FIGUEIRA DO RIO DOCE / GOVERNADOR VALADARES - MINAS GERAIS

EXEMPLAR: R$ 1,00

Tudo pronto para o grande festival Começa nesta segunda-feira (13), às 20h, no Teatro Atiaia, a décima sexta edição do Valadares Jazz Festival, evento dedicado à música instrumental brasileira e ao jazz. Estão previstos 8 shows musicais com grupos e músicos de expressão no mercado da música instrumental, além de lançamento de discos e livros, mostra de arte e artesanatos, além de um estande com livros da Editora UFJF. Página 11

Presidenta Dilma vence em Valadares

Pimentel quebra hegemonia tucana e se elege governador Os valadarenses estão dispostos a reeleger a Presidenta Dilma Rousseff. Na votação de domingo, Dilma saiu na frente com 41,87% dos votos válidos, o que corresponde a 59.911 eleitores, Fernando Pimentel, eleito governador, teve votação expressiva na cidade. Página 9

Rugby Aline Araújo é uma das jogadoras do time feminino de rugby de Governador Valadares e vice-campeã mineira em 2013. Na luta pela popularização deste esporte, Aline diz que teve de se integrar à equipe feminina de rugby, de Ipatinga, que hoje se chama Vale do Aço, para disputar um campeonato estadual. “Nós custeávamos os treinos e as viagens. Assim fica muito difícil. Esse é um esporte maravilhoso que traz disciplina e respeito. Aprendemos muito. Mas, precisamos de uma força.” Página 7

Em meio aos milhares de santinhos espalhados pelos locais de votação, os repórteres deste Figueira rodaram várias seções eleitorais e contam os bastidores da votação no último domingo. Página 6


OPINIÃO

Editorial

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FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

Tim Filho

Vem aí o segundo turno

Por uma reforma política democrática Reunidos na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, representantes da Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas e da Campanha Nacional pelo Plebiscito Popular da Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político concluíram pela realização conjunta da Semana Nacional de Luta pela Reforma Política Democrática. A Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, construída em torno de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular, propõe o financiamento democrático das campanhas eleitorais, eleições proporcionais em dois turnos, paridade de gênero nas listas de candidatos e o fortalecimento dos mecanismos de participação popular direta, entre outros pontos, e conta com o apoio de 95 entidades, entre as quais a CNBB, a OAB, o MCCE e a Plataforma dos Movimentos Sociais. A Campanha Nacional pelo Plebiscito Popular da Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político, integrada por 348 organizações e movimentos nacionais, propõe a consulta popular sobre a convocação de uma Assembléia Constituinte Exclusiva. Após os debates de seus representantes, as duas iniciativas se uniram em torno das conclusões que se seguem. As mobilizações de junho de 2013 demonstraram os limites de nosso sistema e configuraram uma crise de representação política em nosso País, colocando na ordem do dia as reformas estruturantes e a necessidade de uma reforma política democrática. Ambos os proponentes sabem que qualquer mudança no sistema político pressupõe uma ampla mobilização unitária da sociedade, nos moldes do que foi a Campanha das “Diretas Já”. Eis porque o objetivo comum é mudar nosso sistema político e construir um Estado verdadeiramente democrático, que possibilite as mudanças estruturais necessárias ao País. Os proponentes têm profunda unidade na identificação dos problemas centrais que impedem um sistema verdadeiramente representativo da maioria da sociedade. Entre eles, a influência do poder econômico nas eleições, um sistema que privilegia pessoas e não propostas para enfrentar os problemas do País, a sub-representação da classe trabalhadora, das mulheres, negros e povos indígenas e a fragilidade dos mecanismos de democracia direta. Concordando com o papel estruturante de uma Reforma Política, reconhecem que existem conteúdos diferenciados e encaminhamentos institucionais distintos em suas propostas. A Coalizão defende a Reforma Política como pressuposto para as reformas estruturantes, inclusive a eventual convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte. A Campanha do Plebiscito Popular concentra suas energias em consultar a população sobre a proposta de convocação de uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político, sobre a única pergunta: “você é a favor da convocação de uma Constituinte Exclusiva e soberana do Sistema Político?” Assim, respeitando as diferenças de futuros encaminhamentos, inclusive no terreno institucional, preservando a organicidade das duas campanhas e suas respectivas autonomias, conclamamos as iniciativas a somarem esforços para construir uma Semana Nacional de Luta pela Reforma Política Democrática, de 1º a 7 de setembro, quando serão coletados os votos do Plebiscito Popular sobre a proposta de uma Constituinte Exclusiva do Sistema Político e intensificada a coleta de assinaturas do Projeto de Lei de Iniciativa Popular. Durante a Semana Nacional de Luta pela Reforma Política Democrática, as campanhas sairão às ruas para realizar um imenso trabalho pedagógico, somando nossas energias para mudar o Sistema Político, aprofundar a democracia e possibilitar a participação popular. Texto publicado no site da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) que este Figueira adota como editorial nesta edição.

Expediente Jornal Figueira, editado por Editora Figueira. CNPJ 20.228.693/0001-81 Av. Minas Gerais, 700/601 Centro - CEP 35.010-151 Governador Valadares MG - Telefone (33) 3022.1813 E-mail redacao.figueira@gmail.com São nossos compromissos: - a relação honesta com o leitor, oferecendo a notícia que lhe permita posicionar-se por si mesmo, sem tutela; - o entendimento da democracia como um valor em si, a ser cultivado e aperfeiçoado; - a consciência de que a liberdade de imprensa se perde quando não se usa; - a compreensão de que instituições funcionais e sólidas são o registro de confiança de um povo para a sua estabilidade e progresso assim como para a sua imagem externa; - a convicção de que a garantia dos direitos humanos, a pluralidade de ideias e comportamentos, são premissas para a atratividade econômica. Diretor de Redação Alpiniano Silva Filho Conselho Administrativo Alpiniano Silva Filho MG 09324 JP Jaider Batista da Silva MTb ES 482 Ombudsman José Carlos Aragão Reg. 00005IL-ES Diretor de Assuntos Jurídicos Schinyder Exupéry Cardozo

Conselho Editorial Aroldo de Paula Andrade Enio Paulo Silva Jaider Batista da Silva João Bosco Pereira Alves Lúcia Alves Fraga Regina Cele Castro Alves Sander Justino Neves Sueli Siqueira

Responsável pelo Portal da Internet Enio Paulo Silva http://www.figueira.jor.br

Artigos assinados não refletem a opinião do jornal

Parlatório Você é a favor da reeleição para os cargos do Executivo?

Quatro anos é um tempo muito curto para governar SIM

Wellington Fred

Sou a favor da reeleição, mas com ressalvas. Quatro anos é um tempo muito curto para um ocupante do executivo governar, são quatro anos que acabam sendo estrangulados por eleições de dois em dois anos, quando praticamente o país para. Tudo fica amarrado neste período. Casas parlamentares vazias são um reflexo disso. Presidentes da República e outros ficam preocupados quanto ao que fazer nestes intervalos curtos entre uma eleição e outra para apoiar candidatos, para se reelegerem. O chefe do executivo em um ano tem de fazer as alianças e contatos em uma eleição. Logo depois tem de se ocupar com o outro pleito pra se reeleger, ou se mobilizar para ajudar aquele indicado por ele. No balanço desses intervalos de eleições, o tempo útil para governar é de apenas dois anos. A meu ver, entre tantas reformas políticas a serem realizadas, apenas duas deveriam ser incluídas. A reeleição obrigaria o ocupante do executivo a se licenciar do cargo para fazer a campanha política e não ter mais exibição e espaço nas mídias que os outros candidatos. Sou a favor de eleições gerais pra diminuir os gastos. A realização de uma eleição hoje, segundo o Tribunal Superior Tribunal Eleitoral (TSE), custa em torno de 500 milhões com despesas de estrutura e logística. Segundo a Receita Federal, a União vai deixar de arrecadar em 2014 cerca de 839 milhões, por causa do dinheiro que as emissoras de rádio e TV deixam de arrecadar, incidindo, consequente-

mente, na redução dos impostos. Ao todo, o país perde mais de um bilhão e 300 milhões de reais. A unificação das eleições evitaria as puladas de cargos, que deixam o eleitor a ver navios após votar no seu candidato. Eleito pra prefeito, ele deixa o cargo para concorrer a governador ou de vereador para deputado ou de deputado para prefeito. É tanta confusão que o cidadão perde a vontade e o interesse de participar no processo eleitoral. Por isso, a frase que mais se ouve pelas ruas: “Não gosto de política”. Todos esquecem que somos políticos por natureza. A política é feita todos os dias nos relacionamentos. Temos muito a aprender, pois são apenas 30 anos da volta do direito de cada votar em seus representantes.

O chefe do executivo em um ano tem de fazer as alianças e contatos em uma eleição. Logo depois tem de se ocupar com o outro pleito pra se reeleger, ou se mobilizar para ajudar aquele indicado por ele. No balanço desses intervalos de eleições, o tempo útil para governar é de apenas dois anos.

Wellington Fred é jornalista

Candidato paraquedista tem candidatura artificial NÃO

Renata Gomide

Sou contra a reeleição, mas digo sim à unificação das eleições no Brasil. A reeleição para os cargos majoritários (presidente, governador e prefeito) vigora desde o pleito de 1998. Nasceu envolta pela suposta existência de compra de votos de parlamentares para aprovar a emenda à Constituição que lhe deu origem e cuja finalidade, à época, seria assegurar o segundo mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 1998 e 1999 a 2002). O episódio foi investigado, mas nunca comprovado e, desde então, muitos políticos desse imenso Brasil vêm se utilizando do expediente para continuar no comando das cidades, estados e do país, sempre com o argumento de que “quatro anos não são suficientes” para fazer tudo o que propuseram. A mim não convence, porque na prática o que se vê são chefes de Executivo que antes do final do primeiro mandato – pra não dizer antes de serem eleitos –, já estão em franca campanha pela reeleição, sob o manto da máquina pública. Talvez a incapacidade de gestão ou a velha prática de nomear políticos para cargos técnicos seja a razão para que não consigam concluir seus projetos em um único mandato. Mas, se não concordo com a reeleição, também defendo mandatos com vigência de cinco anos e eleições

unificadas para todos os cargos, sejam de presidente, governador, senador, deputados federais, estaduais, distritais, vereadores e prefeitos. É preciso por fim a esse círculo pernicioso de eleições a cada dois anos e muita articulação nos intervalos, que serve muitas vezes aos interesses de grupos e menos à comunidade que os políticos eleitos pelo voto devem representar. Tudo isso depende de uma ampla reforma política, que há anos patina no Congresso Nacional, talvez por interesses casuísticos. A realização de eleições de fato gerais também implicaria menos gastos com a estrutura que dá sustentação ao pleito.

A reeleição para os cargos majoritários (presidente, governador e prefeito) vigora desde o pleito de 1998. Nasceu envolta pela suposta existência de compra de votos de parlamentares para aprovar a emenda à Constituição que lhe deu origem e cuja finalidade, à época, seria assegurar o segundo mandato do então presidente Fernando Henrique Cardoso (1995 a 1998 e 1999 a 2002).

Renata Gomide é jornalista

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CIDADANIA & POLÍTICA

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FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

Da Redação

Curtas

Sacudindo a Figueira A figueira precipita na flor o próprio fruto Rainer Maria Rilke / Elegias de Duino

Não contribuí com isso

Lívia Bastos, mulher do cantor Beto Guedes, defende Aécio e Anastasia com unhas e dentes. Trabalha na Secom estadual. Olha o que ela escreveu no face na noite do domingo, sobre a vitória de Fernando Pimentel: “Quero manifestar aqui os meus sinceros sentimentos ao Estado de Minas Gerais. Declaro que eu não contribuí para isso. Agora o que nós mineiros temos que fazer é vigiar esse governo quem vem aí. Eu juro que vou ficar na cola deles”.

São Paulo no Bolsa Família

Os orgulhosos paulistas que atacam os nordestinos nas redes sociais, culpando-os pela vitória de Dilma no primeiro turno, parecem não se enxergar. Nas estatísticas do Bolsa Família, São Paulo é o segundo estado com maior número de famílias beneficiadas. Aqueles que nas redes sociais propõem castração química para homens nordestinos, não conhecem a própria realidade. 1,2 milhão de famílias paulistas dependem do Bolsa Família para respirar acima da linha da miséria. O estado mais rico do país, desconhece os próprios filhos.

Em alta

Depois das derrotas no primeiro e no segundo turnos das eleições presidenciais de 2010 em Valadares, Dilma Rousseff foi vitoriosa no primeiro turno de 2014. A vitória estreita de Dilma sobre Aécio foi muito expressiva frente ao primeiro turno de 2010. Dilma saltou de 45 mil votos no primeiro turno de 2010 para 60 mil votos agora.

Sem parar a campanha

A ordem no comitê da Dilma em Valadares é que esta não é hora de avaliação, mas de continuar a campanha. Na noite da quartafeira o comitê esteve lotado, com representantes de 9 partidos políticos que localmente estão com Dilma, alguns em desacordo com orientação estadual e nacional que os queria com Aécio. Mais da metade dos vereadores estavam presentes. A prefeita Elisa, que coordena a campanha e inverteu a situação de Dilma na cidade da derrota de 2010 para a vitória no primeiro turno de 2014, deu o tom de continuidade e de coesão para manter e ampliar o resultado.

Marido da deputada

O maior receio do atual deputado estadual e empresário Hélio Gomes, que não conseguiu ser reconduzido à Assembleia, é o de ficar conhecido como “marido da deputada”. Agora, ele não foi eleito e Brunny Gomes, até então conhecida como “esposa do Hélio Gomes” foi eleita ao cargo de deputada federal. Pessoas próximas do empresário entregam que a alcunha não pode sequer ser ventilada.

Estilo no Congresso Nacional

A primeira aparição da recém-eleita deputada federal Bruny Gomes em Brasília foi com bastante estilo. Teve bota vermelha, animal principal e aquelas calças justas que as funkeiras idolatram. Tudo em único look. Pelo jeito não vai faltar estilo nessa legislatura em Brasília.

É pedra no sapato

Em Valadares, Ricardo Pedrosa, o manifestante popular, teve mais votos que candidatos que dispuseram de estrutura partidária ou financeira em suas campanhas, como Brunny Gomes, Geovanne Honório, Weder Maloca, Leonardo Quintão, Gilson de Souza, Adauto Carteiro. Ele teve mais de sete mil votos na cidade.

Panorama Local PT em sessão de análise A soma dos votos em Valadares dos candidatos Leonardo Monteiro e Pedro Zacarias, ambos do PT, para a Câmara Federal, superou em quase 4% a votação de federal do PT em Valadares em 2010. No entanto, Leonardo Monteiro, que teve uma vitória brilhante em Minas, alcançando 115 mil votos, viu a sua base em Valadares reduzir-se em quatro mil votos. Os dois candidatos a deputado estadual do PT, Geovanne Honório e Gilson de Souza, tiveram juntos 40% menos votos que Cida Pereira sozinha na eleição de 2010.

O peso de Valadares Dos 45 mil votos de Brunny, eleita deputada federal, apenas 6 mil são de Valadares. Dos 115 mil votos de Leonardo Monteiro, reconduzido pelo povo como deputado federal, apenas 24 mil são de Valadares. Somente José Bonifácio Mourão teve mais da metade dos seus 85 mil votos para deputado estadual em Valadares. Assim, ele evoluiu de 38 mil votos em 2010 para 44 mil votos na cidade.

O peso da idade Brunny aos 25 anos, Leonardo Monteiro aos 62, Mourão aos 74.

O peso da fragmentação 364 candidatos a deputado federal tiveram votos em Valadares. Para deputado estadual os votos foram distribuídos entre 429 candidatos.

O peso dos apoios Ficou difícil a situação de André Merlo, que viu o governo a que serve com secretário perder o Estado de Minas, e serviu de peso para a candidatura de Paulinho Costa – que teve reduzida significativamente a sua votação na cidade. Paulinho sozinho em 2010 teve 17 mil votos em Valadares. Com a ajuda ostensiva de André Merlo, Paulinho minguou para 14 mil. Merlo terá de se explicar também para Mario Heringer, que contou com a transferência de votos prometida por ele. Quem vai resgatar o PDT de Brizola nesta terra?

A disputa pelo partido Ruy Moreira, o filho, com 3.500 votos, superou Sonia Terra, com pouco mais de 1.000 na disputa pelo controle do PSB em Valadares. Não era a vaga de deputado que estava em disputa, no caso. Era para ver quem seria o síndico do partido.

Corda Bamba Insegurança e suspense na Univale De novo, os capas da Fundação Percival Farqhuar deixam a universidade na corda bamba. Do meio deles roda a notícia de que a Kroton, ou a Anima, ou qualquer desses grupos empresariais da educação com ações na Bolsa de Valores, acaba de comprar a Univale. Kroton é a mesma que juntou-se à Anhanguera e tem em Valadares as Faculdades Pitágoras. Anima é um grupo de Santos, SP, que adquiriu o UNIBH. Por essas informações, o contrato já está pronto, representantes da compradora chegarão na próxima semana para assumir os postos, mas os funcionários da Univale estão orientados a recebê-los e dar a eles as informações como se tivessem recebendo pessoal do BNDES. Dá pra acreditar que adultos possam ser tratados assim?

Negativa De dentro da Kroton a informação é de que de fato há uma negociação em andamento, por interesse manifesto pela FPF, mas o preço proposto pela FPF é muito mais alto que o corrente no mercado. A aquisição em questão é apenas do negócio – a Univale com seus cursos e sua carteira de alunos – pois o patrimônio continuaria com a FPF para alugar para a empresa que vier a adquirir a Univale (de modo que o funcionamento continuaria no mesmo local), e para fazer loteamento, quitar dívidas e quetais. A informação também é de que não têm interesse por muitos dos cursos da Univale e a negociação, se for com ela, se estenderá por mais tempo.

Como nenhum político acredita no que diz, fica sempre surpreso ao ver que os outros acreditam nele. Charles de Gaulle


METROPOLITANO 4

FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

TOME NOTA

EMPREENDIMENTO

A clínica é popular, mas é chique Mesmo quem ganha um salário mínimo tendo ou não algum convênio terá condição de consultar e fazer exames Gina Pagu /Repórter

Divulgação

No final deste mês será inaugurada a mais nova Clínica Médica da cidade, com mais de 20 especialidades e preços acessíveis. A instituição atenderá convênios médicos diversos, e lança uma proposta moderna na área da saúde. Os valadarenses poderão ter acesso a uma estrutura estética e tecnológica ainda não vista na cidade. Weslaiane Silveira, diretora executiva da instituição, explica que é um projeto inovador. “A população de Valadares e região terá não só um local para consulta e exames, terá um atendimento do pré e pósconsultas. Um complexo de saúde, com todos os tipos de serviço, com teatro, restaurante, elevador, jardins e praças. Quem vier de outra cidade poderá ter um local tranquilo e aconchegante para aguardar o momento de ser atendido.” A Clínica oferecerá serviços de saúde na área de cardiologia, ginecologia, angiologia, urologia, pediatria, oftalmologia, geriatria, dermatologia, endocrinologia, otorrinolaringologia, neurologia, hematologia, odontologia gastrenterologia, clínica médica, fonoaudiologia, nutrição, psicologia, acupuntura e pequenas cirurgias. Silveira diz que os preços caberão no bolso de qualquer pessoa. “Mesmo quem ganha um salário mínimo tendo ou não algum convênio terá condição de consultar e fazer exames.”

ESF São Pedro I homenageia idosos O Estatuto do Idoso considera idosa toda pessoa com idade igual ou superior a 60 anos. Para comemorar essa fase da vida, celebrada nacionalmente em 1º de outubro, a Estratégia Saúde da Família (ESF) São Pedro I realiza nesta quinta-feira (9), a partir das 8h, atividades que vão homenagear as mais de 1.100 pessoas atendidas nas 14 microáreas de abrangência da ESF, que compreende os bairros São Pedro, Santos Dumont e Universitário. Os idosos que comparecerem ao local participarão de um bingo e ainda poderão desfrutar de café da manhã e cachorro-quente – tudo ao som de uma boa e animada música.No Brasil, o Dia do Idoso era comemorado em 27 de setembro, porém, após a criação do Estatuto do Idoso, em 1º de outubro de 2006, a celebração passou para a data atual.

Festa da Fantasia

Projeções Segundo a diretora, a construção do empreendimento gerou até agora 250 empregos diretos e indiretos: “Incluindo o corpo médico e administrativo, muitas pessoas foram beneficiadas com empregos, e ainda Os ambientes da Nossa Clínica são modernos e vão oferecer conforto para os clientes/pacientes podem surgir novas vagas. Além disso, pretendemos quadruplicar o nosso número de Pierry Aires, funcionário da Clínica. “Gran- em saúde veio para somar, com consultas de parte da comunidade de Valadares não a um preço fixo e bem reduzido, além de clientes passando para 80 mil famílias.” tem as condições de pagar uma consulta tratamentos com descontos consideráparticular. Muito menos quando é pra toda veis. Trazendo de volta a dignidade das Diferencial O empreendimento tem sido bem rece- a família, e a saúde pública infelizmente ain- pessoas, em uma das piores horas de nosbido pela população valadarense segundo da tem precariedades. Mas, o nosso trabalho sas vidas, quando estamos doentes.”

Os Valadarenses já estão no clima da Festa da Fantasia. Além de fãs do Natiruts e Humberto Gessinger, muitas fantasias se tornam uma atração a parte, lojas especializadas em alugueis de fantasia já notaram o crescente movimento e a maioria costuma ousar na criatividade e caprichar no visual, pra curtir a festa da melhor forma possível. Para incentivar ainda mais as pessoas a capricharem no traje, será realizado um concurso de fantasia. Durante a festa um grupo de jurados irá observar as fantasias e escolher a melhor dentre as três categorias: a mais original; a mais luxuosa e o melhor casal. Cada categoria será premiada com um abadá pista do Gevê Folia 2015.A Festa da Fantasia Acontece neste sábado, 11, na Açucareira.

Saúde

Derli Batista da Silva

Saúde e Cidadania

O desejo de lograr um nível de saúde melhor e condições de vida mais dignas ronda a população em todos os cantos do nosso país e, acredito, todas as gerações, compondo uma expectativa baseada em experiências e sentimentos pessoais, familiares e comunitárias. Na edição anterior deste Figueira, lemos na primeira página: “O povo venceu! A democracia venceu. Não faz muito tempo que homens e mulheres lutaram bravamente contra a ditadura, contra a supressão das liberdades democráticas. Lutaram para que o Brasil tivesse eleições livres... Hoje, vivemos um novo tempo...”. E, com isso, podemos estabelecer tempos melhores a cada dia. Isto depende essencialmente da maneira como cumprimos nossos deveres e como pleiteamos nossos direitos e garantias fundamentais. Aí, lembro-me do jurista e professor João Baptista Herkenhoff que destaca a cidadania como pleno exercício dos direitos e dos deveres. Quanto mais cidadãos e cidadãs formos, mais desenvolvimento teremos na sociedade com base nos preceitos do bem comum, da justiça, da ética, da responsabilidade social, do compromisso maior com a saúde e a vida, assim como, do trato lícito e moral com os recursos públicos. Temos motivos para redobrar a atenção e zelar pela nossa cidadania, usufruindo melhor dos caminhos da democracia, inclusive o direito de votar. Então, uma boa razão para exercitar o voto é uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria - CNI (disponível em www.cni.org.br) sobre a expectativa para a próxima gestão de governo; pois, ela aponta que quase metade da população brasileira (49%) diz que melhorar os serviços de saúde deve ser prioridade. Como está o acesso às consultas de profissionais da saúde? Ao precisar de exames, as pessoas têm conseguido realizá-los? Como vai a saúde bucal/odontológica da

Temos motivos para redobrar a atenção e zelar pela nossa cidadania, usufruindo melhor dos caminhos da democracia, inclusive o direito de votar. Então, uma boa razão para exercitar o voto é uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria - CNI (disponível em www.cni. org.br) sobre a expectativa para a próxima gestão de governo; pois, ela aponta que quase metade da população brasileira (49%) diz que melhorar os serviços de saúde deve ser prioridade.

manter informados sobre os acontecimentos, avaliar os programas de saúde implantados em todos os níveis de governo, participar dos espaços decisórios, como Conselhos e Conferências, e zelar pelo voto consciente. Os avanços nos programas do governo federal em praticamente todas as áreas são notórios e têm gerado bons resultados, demonstrando a necessidade de continuarmos neste caminho para avançar no sentido do pleno anseio da população, com políticas públicas focadas no acesso e na qualidade, especialmente na atenção à saúde e na democratização e fortalecimento da gestão dos serviços públicos. Na área da saúde pública o governo federal se destaca pelo maior investimento e por suas ações, programas e estratégias, como: Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU 192, população? Em caso de necessidade de internação domi- Farmácia Popular, Saúde da Família - ESF e NASF, Mais Médiciliar, como estão os serviços prestados às pessoas doentes cos, Valorização da Atenção Básica - Provab, Melhor em Casa, e acamadas? Durante visita às casas, agentes comunitários, Melhoria do Acesso e Qualidade - PMAQ, Práticas Integrativas enfermeiros, médicos, técnicos e demais profissionais de- e Complementares, Academias de Saúde / na Praça, Saúde na vem orientar as famílias sobre a prevenção de danos e a Escola - PSE, Unidade de Pronto Atendimento - UPA, Consultópromoção da saúde: com que frequência e qualidade esta rios de Rua, Rede Cegonha, dentre tantos outros. visita e estes cuidados têm acontecido? O parto natural, que É bom ressaltar que dentre os caminhos que viabilizam é exponencialmente mais saudável, tem ocorrido em que o exercício da cidadania, está o direito ao voto, que nos exiproporção nos serviços de saúde públicos e privados? ge refletir acerca de alguns aspectos sociais que impactam Está certo que, conforme a legislação do Sistema Único diretamente a vida das pessoas e de suas famílias. Buscar e de Saúde - SUS, o gerenciamento dos serviços de saúde pú- filtrar o máximo de informações acerca de candidato ou canblica são de responsabilidade direta dos governos munici- didata devem ser práticas comuns para fortalecer esse tão pais, cabendo aos prefeitos de todos os municípios garantir importante direito constitucional, capaz de realizar sonhos, a qualidade da assistência à população em nosso país, in- efetivar políticas justas para todos os cidadãos e todas as clusive com a fiscalização sobre as instituições que prestam cidadãs... a depender da nossa capacidade de discernir e serviços privados nesta área à população. escolher projetos e pessoas sérias. Os governos estaduais e o federal devem participar com recursos, inclusive financeiros. No entanto, isto não exclui a Derli Batista da Silva é enfermeiro, mestre, especialista em Bioética e nossa responsabilidade, como cidadãos e cidadãs, de nos em Gestão da Saúde, professor universitário.


POLÍTICA 5

FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

Notícias do Poder José Marcelo / De Brasília

Chumbo grosso O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), poderá cair no olho do furacão do escândalo da Petrobrás, nos próximos dias. Uma fonte da Casa informou, com exclusividade, que no meio da campanha do segundo turno devem ser feitas revelações que comprometem diretamente o presidente. Membros da cúpula do PT já estariam traçando estratégias para blindar o governo e a presidente Dilma Rousseff, para evitar que as revelações respinguem na candidata.

Enquanto isso A estratégia do PT vai ser agredir fortemente o adversário Aécio Neves, sobretudo os pontos frágeis do senador, além de fazer comparativos entre os governos PT e PSDB. O dossiê Aécio já está sendo cuidadosamente saboreado. E os petistas não pretendem retribuir o tratamento e poupar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Prova disso é a exploração das declarações recentes de FHC a respeito do crescimento do PT nos grotões.

Banda podre

Guerra Virtual

Segundo a mesma fonte, as revelações que estão para vir à tona apanharam de surpresa não só o governo, mas os próprios aliados de Renan Calheiros. Já estaria claro para a equipe de governo que é preciso tratar os envolvidos como “banda podre” que precisa ser extirpada. Aguardemos.

Mais que no primeiro turno, nesta segunda fase da disputa, o principal território das duas candidaturas vai ser a rede social. É que elas são tomadas principalmente pelos jovens, que não têm muita condição de comparar governos.

Estratégia tucana Um animado senador tucano, que pediu para não ter a identidade revelada, confidenciou a este jornalista na quarta-feira que o resultado das urnas no dia 5 de outubro fez o PSDB clarear de uma vez a estratégia para virar o jogo neste segundo turno: bater muito na presidente Dilma, um pouco no PT e nada no ex-presidente Lula. Quando perguntado sobre o porquê da gradação da investida, o senador explicou: uma parcela da população está insatisfeita com o atual governo, descontente com o partido, mas reconhece que o ex-presidente Lula melhorou as condições de vida da população, sobretudo a mais carente. É esta parcela que pode fazer a diferença. O próprio PSDB, segundo ele, reconhece isso, mas não pode assumir publicamente. Seria elogiar o inimigo.

Ressaca eleitoral Os corredores da Câmara e do Senado ainda estão vazios, porque muitos parlamentares permaneceram nos estados, tentando se recuperar da ressaca eleitoral. Os que estiveram em Brasília, nesta semana, foram para reuniões de cúpula dos partidos para discutir alianças neste segundo turno. Com isso, vários assuntos continuam emperrados. A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, por exemplo, a mais importante das comissões, não conseguiu quórum para votar absolutamente nada na segunda nem na quarta-feira.

Na corda bamba Nove deputados federais eleitos no dia 5 de outubro ainda não sabem se poderão ser diplomados, no dia 19 de dezembro. É que eles foram barrados pela Lei da Ficha Limpa e concorreram às eleições resguardados por decisões liminares. São eles: Arthur Lira (PP-AL), Beto Mansur (PRB-SP), Caetano (PT-BA), Capitão Augusto (PR-SP), Carlos Andrade (PHS-RR), Carlos Gaguim (PMDB-TO), João Rodrigues (PSD-SC), Moema Gramacho (PT-BA) e Roberto Góes (PDT-AP).

Às moscas Não se trata de uma informação inédita, mas vale para reflexão: apenas 36, dos 513 deputados, se elegeram com votos próprios este ano. Todos os demais 477 só vão assumir os cargos por causa dos votos do partido ou da coligação. Está aí um dos motivos que fazem a reforma política não andar no Congresso Nacional. Entre as propostas está exatamente a mudança que faria com que os 513 mais votados assumissem os cargos. Como em time que está ganhando não se mexe... José Marcelo dos Santos é comentarista de política e economia e apresentador da edição nacional do Jogo do Poder, pela Rede CNT. É professor universitário de Jornalismo, em Brasília.

Avrah Kahdabra Paulo Vasconcelos

Dia das crianças em Albuquerque — Esta história é sempre contada para as crianças em Albuquerque: Sempre nascem seres especiais. Entre os ratos nasceu o Rui. O rato Rui era pequeno, tinha medo, chorava e era curioso como qualquer outro. Enquanto ia crescendo, se aventurava em passeios noturnos exatamente como fazem os ratos. Numa noite clara, dessas em que o queijo se confunde com a lua, Rui e sua turma resolveram explorar regiões ainda desconhecidas. Sabem como é a curiosidade dos jovens. Então, entre uma incursão e outra viram-se dentro de uma biblioteca. Seus amigos logo roeram as páginas dos livros sobre as mesas, mas, rapidamente deram conta que aquilo não tinha um sabor agradável, “livros são amargo doce picante salgado azedo tudo junto”, e foram embora atrás de outros alimentos. Rui, por sua vez, se viu atraído por outro livro que alguém esquecera em pé, aberto, justamente na direção dos raios da lua cheia, aguçando a curiosidade do Rui. Não deu outra, ele caminhou quase hipnotizado. Observou-o em todas as direções e pensou: “Não é uma porta, são várias”. O livro estava aberto numa página onde havia a figura de um pão, com uma estranha inscrição em símbolos. Para quem sabe ler estava escrito pão. Rui, com fome, ignorou o papel. Devorou a imagem e sofreu uma baita indigestão. No dia seguinte passou em frente a uma padaria, na qual, duas fotos de pães estavam fixadas em locais diferentes. Logo abaixo, as mesmas inscrições em símbolos. Dessa vez, aquelas inscrições lhe chamaram a atenção. E o rato Rui falou admirado aos amigos: — Vejam, onde tem um pão neste lugar, embaixo têm estes símbolos. Onde tem um pão neste outro papel, embaixo também têm os mesmos símbolos. — Tudo a mesma coisa... — Retrucou um dos seus colegas sem pestanejar. — Só papel. Vamos procurar comida. Aquelas palavras proferidas sem pensar, por um dos seus colegas, despertaram um raciocínio lógico, no pequeno, mas, muito esperto cérebro do Rui. “Se eu começar a ligar os símbolos às figuras do papel, mesmo que eu esteja num local onde não há figuras, nem cheiros, somente símbolos no papel, saberei se existe comida”. Rui foi mais além. Naquela noite voltou à biblioteca. Saiu a procurar livros abertos sobre as mesas e a comparar figuras com símbolos. Seu interesse foi tanto, que Rui, no sentido figurado, devorava os livros que encontrava, e por mais que

comesse, mais queria comer. Em seis meses ele lia como um acadêmico. Aprendeu a calcular e desarmar ratoeiras. Aprendeu a pensar com os pensadores, chegando à conclusão que Lavoisier tinha razão; “tudo se transforma”. Uma ideia se transforma numa história, que se transforma noutra ideia, à medida que vai sendo escrita e reescrita, contada e recontada, discutida e analisada. Descobriu certo Visconde de Sabugosa, de quem logo se tornou fã. Apesar de sempre imaginar como seria delicioso saborear aquela espiga de milho. Essa nova consciência jamais o permitiria fazer isso a um herói. Com livros, chegou a conhecer o prazer por educar e tentou ensinar outros ratos a matemática da leitura. Mas, infelizmente, não lhe deram a menor atenção, e ainda fizeram chacota dele: — Olhe você, com essa vontade de ser gente! Só falta querer falar como eles. Você acha que se aprendesse a falar como os humanos, eles iriam ouvir o que os ratos têm a dizer-lhes? Talvez você pense que a sociedade onde eles vivem é melhor que a nossa. Se pensa assim, vá viver no meio deles! — Não é nada disso — Rui respondeu profundamente triste. — Jamais conseguirei falar como os humanos, isso é fato científico, e não quero que nossa sociedade cometa os mesmos erros deles. Já nos bastam os nossos. A única vontade que em mim cresce a cada dia é a de perpetuar o conhecimento entre nós. Dividir com vocês a possibilidade de termos escolhas, e também criar coisas novas e transformar o futuro de nossa sociedade... Nesse instante, um dos ratos vira-se de costas e sai resmungando que não está entendendo nada. Sua ação é repetida por todos. E assim, como o tempo é patrão dos nossos dias, também é para os ratos. O rato Rui envelheceu e depois de algum tempo nunca mais foi visto. Ainda hoje, alguns ratinhos jovens perguntam aos seus pais se é verdade que existiu um rato que sabia ler, fazer contas e desarmar ratoeiras. Mas, a resposta vem sempre com a mesma pergunta. — Você acha que se isso fosse verdade, nós estaríamos até hoje roendo papel?

Paulo Gutemberg Vasconcelos é educador social e preside o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos Humanos

Tarde de recreação teve arte e muitas brincadeiras

Crianças da Vila dos Montes fazem a festa no Dia das Crianças A tarde de segunda-feira foi especial para crianças da Escola Municipal Reverendo Silas Crespo, na Vila dos Montes. Elas deixaram cadernos, livros e lápis, e foram comemorar o Dia das Criancas. Teve muita pipoca, algodão-doce, picolé, pula-pula, cama elástica, quebracabeças, balanços, palhaço, balões, pintura facial e, de quebra, sacolinhas- surpresa – tudo preparado pelos funcionários da ESF Vila dos Montes, que, juntamente com a comunidade, comemoram antecipadamente o Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro. Raíssa Cristina Lopes Eduardo, 6 anos, estava ansiosa para chegar a sua vez de ter o rosto pintado. “Gostei de tudo, mas o que mais quero agora é fazer uma borboleta no rosto todo; e quando for tomar banho, não vou lavar o rosto para que ela não saia”, contou. No final da festividade e já cansado de tanto brincar, o pequeno Roniclay Matos da Silva, 6 anos, aguardava a chegada da mãe para buscá-lo. “Fiquei muito feliz com esta festa, principalmente tendo pula-pula. Não preciso ganhar outro presente pelo Dia das Crianças: este já foi o meu presente”, disse. A enfermeira da ESF Ana Carolina Guedes tentou definir em palavras a gratificação por proporcionar, juntamente com sua equipe, tamanha alegria para tantas crianças. “Faz um bem enorme para todos nós podermos oferecer este momento de descontração para eles. Só tenho a dizer que tudo o que fizemos aqui foi com muita dedicação e por amor ao próximo. Nós acreditamos que é possível oferecer uma saúde melhor, por meio do acolhimento, compartilhamento e da realização dos nossos sonhos”, concluiu.


POLÍTICA 6

FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

De volta ao passado

Ailton Catão

Tim Filho O domingo surgiu em meio à calmaria, pelos menos sem a balbúrdia causada pelos carros de som que tocaram os jingles de campanha de forma ostensiva nos últimos dois meses. Era o dia 5 de outubro, dia de votação em primeiro turno. Sem a poluição sonora, restou a poluição visual. Em outras palavras, sujeira. Os candidatos e candidatos fizeram um bota-fora nos seus comitês de papel e todo o papel que serviu para imprimir milhões de santinhos e panfletos foi parar nas ruas. E nos quintais também. Vale tudo para conquistar o voto do eleitor. A papelada servia também para sinalizar os locais de votação. Bastava seguir os santinhos, virar a esquina com eles, encontrar mais pela frente, virar a esquina, encontrar uma montanha de santinhos e lá estava o local de votação. Sujeira por sujeira, esta é a democracia à brasileira. Melhor isso que um regime de exceção, mas seria bem melhor se tudo estive limpo. Na Região da Ibituruna, nas proximidades da Escola Estadual Pedro Faria, no bairro Elvamar, santinhos e muita poeira. E uma decoração com ares de festa junina. Na cerca de arame farpado de uma antiga fazenda, muitas bandeirolas e estandartes, com os candidatos com olhos furados e bocas rasgadas. Furaram os olhos de Weder Maloca, rasgaram a boca da Brunny Gomes, pintaram cifrões nos olhos do Euclydes Pettersen. Tudo em meio ao mato seco de outubro. Dia de votação é oportunidade de entrar nas escolas públicas de ensino médio e fundamental e ver que a educação necessita melhorar a sua infraestrutura. As escolas são sujas, pequenas, acanhadas, ambientes que não seduzem a criançada. A Escola Estadual Vila Isa, por exemplo, conserva a mesma estrutura do passado. Estamos em 2014, mas estar no interior da escola é voltar ao passado, aos tempos da Eleitor saindo de uma seção eleitoral na Ilha dos Araújos em meio a muitos santinhos, jogados no chão pelos candidatos em busca do voto ditadura militar. A escola, que já se chamou “Grupo Escolar São Geraldo”, é do tempo em que o presidente Arthur da Costa e Silva deu a caneta no Ato Institucional Nº 5, fechando ainda mais o regime ditatorial. É do tempo do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, do guerrilheiro Carlos Marighela, da moça de óculos com armação grossa, que tinha vários nomes de guerra e naquele dia, 5 de outubro, Repórteres do Figueira contam como foi os bastidores das eleições 2014 em Valadares se candidata a reeleição na Presidência da República Federativa do Brasil. Dilma Rousseff. Salas minúsculas, como casa de bonecas. Paredes sujas, com quadros servindo para afixar consoantes e vogais, algarismo e algumas sílabas. É ali que muitas crianças aprender a ler e a escrever. O piso remendado com ladrilhos ainda Gina Pagu / Repórter daqueles anos de 1960. Mas, para entrar na sala minúscula que abriga a seção 164, e votar, o tal “exercício da “No Facebook, no Twitter, todo mundo quer saber (...)”. E opinião, empresários de Valadares estão insatisfeitos com democracia se transforma em “exercício da paciência”. A é nesse tom que a eleição aconteceu no universo das redes a vitória estratégica da “menina deputada”. Não adianta fila não anda. Travou tudo. “Vou embora, esses vereadores sociais. O assunto dos vencedores e derrotados não saiu da chorar o leite derramado, ela está respaldada pela Consnão merecem meu voto”, disse um homem, irritado com a boca, quer dizer, dos dedos dos internautas. A coisa teve tituição, ela preenche os requisitos básicos para ser candidemora. Estava ali sem compreender muito o processo elei- quente ontem no contexto de Valadares. data. É brasileira nata, tem mais de 21 anos, está em pleno toral, afinal, a eleição para vereadores será em 2016. Nas Ninguém resistiu no 6 de outubro a dar uma espiada no exercício de direitos políticos, mora em Valadares, e está outras seções as filas andam, em outras, nem há fila. Mas que estava rolando. O burburinho girou em torno da prisão filiada ao partido mesmo que sem muita expressão. Foram a 164 irritou. Um fiscal de partido informa que a fila empa- de um candidato a deputado estadual, maldade pura da opo- inteligentes, planejaram bem, e aproveitaram a oportunicou porque a seção 164 já havia apresentado, mais cedo, sição. E o triunfo de uma novidade no âmbito federal, vitória dade concedida pela dança das cadeiras na Câmara de Deproblemas com a urna eletrônica. Pra complicar ainda mais, arquitetada e campanha iniciada num programa de TV. putados. a seção 201, que funcionava em outro local, foi transferida E como disse Zagallo, “vocês vão ter de me engolir”, A verdade é que campanha em rede social foi a novidapara a 164. de dessa eleição, nunca essa ferramenta foi tão usada por aposto que essa é a frase de comemoração de quem veio do Perto dali, na Escola Estadual Sinval Rodrigues Coelho, candidatos. Dos presidenciáveis aos estaduais, todos que- alcouce direto para o Planalto Central. E isso se repete no um pouco maior, as pessoas circulam com mais tranquili- riam alcançar o Brasil que estava atrás das telinhas de no- Brasil afora, tem palhaço reeleito, apresentador de tevê, jodade. Calmaria. Mas, as imediações da escola, na esquina tebooks ou celulares. E muita gente conseguiu mesmo. gador de futebol, menos pessoas genuinamente políticas. E, da Rua Ranulfo Álvares com a Avenida Ibituruna, parece ter Teve quem bateu e fofocou contra candidatos, outros sim, temos que engolir isso tudo, e ficar pensando durante mais santinhos no chão que as demais. já comemoravam vitória. Só que atrás do personagem do os próximos anos sobre onde foi que erramos. De volta ao Centro da cidade, outra casa de bonecas, o “Face Fantasia”, como disse uma amiga minha, existe uma Mas a vida segue, ninguém realmente se manifesta, e Centro de Estudos Supletivos, CESU. Se a Escola Estadual Vila história de vida que não condiz com a vida real. Ontem, as a guerra virtual vai continuar nos próximos 20 dias. InIsa é minúscula, o CESU é ainda menor. E com um agravante. brigas e as decepções dos eleitores no Facebook esqueceram ternautas que se transformam em tucanos e petistas num É preciso subir uma escada e circular por corredores aperta- que a prostituição vai ao encontro da política e vice versa, e clicar de mouse. Lançando frases de efeitos que não fazem dos. Nem há como formar filas. Mas, elas se formam e aper- isso se repetiu em GV, e sempre se repetiu no Brasil. E que a efeito nenhum. Aceitando o deboche escancarado na cara tam o espaço. Além de votar, a eleição serve para mostrar ao maioria dos candidatos são produtos fabricados e vendidos do eleitor. E nós vamos curtindo e compartilhando tudo eleitor ambientes pouco comuns a eles. Afinal, a rotina de e nós os compramos muitas vezes. E a prova disso são os sem imaginar o alcance que a internet tem. Sem pensar, muita gente exclui a convivência de outrora, em ambiente de nossos representantes eleitos por Minas Gerais. sem apurar, sem ter certeza. Mas tendo que aceitar, que escolar do passado que ainda hoje resiste ao tempo. O fato é que muita gente importante, formadores de quem ganhou, ganhou.

Quanto papel!

Todo mundo quer saber

Meu domingo de Eleição Natália Carvalho Quando me foi designada a tarefa de escrever esta crônica fiquei pensando na vergonha que passaria vendo o meu texto no meio de outros textos de autores bem mais experientes que eu. Do que adiantaria as minhas palavras nesse cantinho de página, certo? Bom, talvez a minha opinião e as minhas palavras sejam capazes de fazer alguma diferença. E foi com este mesmo pensamento que aos 16 anos eu fui, com a cara e coragem, votar pela primeira vez. E me orgulho disso até hoje. No entanto, confesso que neste ano eu estava um pouco desencorajada. Mas, mesmo acordando me sentindo mal eu tomei um banho, passei na casa da minha avó para almoçar (porque domingo sem comida de vó não é domingo, não é

mesmo?!) e me arrastei, abrindo um caminho pelos santinhos, até chegar à urna. Pensei que ia chegar na escola e esperar horas na fila, que foi o que aconteceu nas eleições de 2012, mas havia apenas duas pessoas na minha frente. “Aha! As coisas já estavam melhorando”, pensei. “Agora é só esperar.” Enquanto tirava a minha colinha do bolsa percebi que a senhora na minha frente estava desesperada anotando os números dos seus candidatos na mão. “Querida, você sabe qual o número do candidato X?” (Vamos supor que X seja um candidato, ok?), ela me perguntou, “Os meus filhos pegaram a minha cola, trocaram os números e só agora percebi.” Pois é, durante as eleições até os filhos se voltam contra a mãe. A ajudei com os números (diferente dos filhos dela, sem trapacear, mesmo querendo. Muito!) e voltei a esperar a minha vez. Chegada a hora, eu encarei a urna e senti a responsabilidade pesar sobre os meus dedos. “Será que dá mesmo

para desbloquear algum candidato novo? #Partiu tentar desbloquear o Blanka”, pensei, rindo ao lembrar das piadinhas que tinha visto mais cedo na internet. Mesmo com as piadas, votei conscientemente. E deu tudo certo. Bem, quase. Quando votei no meu Senador, o número do meu candidato deu como inexistente! Gritei a moça responsável e perguntei se poderia olhar a colinha que ficava fora da sala. Ela disse:” Vai, mas corre!” Só quem estava lá para ver o meu desespero, eu custei, mas achei o número do bendito. Acabou que o site onde eu havia colado o número dele estava errado. Isso sim é sabotagem! Na saída, mergulhando mais uma vez pelos santinhos na porta da escola, tropecei em um CD do Engenheiros do Havaii. Quando abri a capinha era um CD original do Caetano Veloso e da Maria Gadú. Olhei para um lado, depois para o outro. Ninguém? Ok. Guardei na bolsa e voltei para casa para esperar os resultados saírem. No final das contas, até que ocorreu tudo bem.


ESPORTE ESPECIALIZADO

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FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

Rugby

Time de rugby de Valadares sobrevive sem apoio financeiro Divulgação

Gina Pagu / Repórter

O GV Rugby Clube - equipe de esportes amadora, foi criado em Valadares em 2005. De lá pra cá, registra alguns campeonatos e muitas dificuldades. “E o momento hoje é esse mesmo, de arrumar estrutura para treinarmos”, explica um dos primeiros atletas que começaram no time há oito anos. Cleiton Fernandes, estudante do curso de Educação Física, nos pede para divulgar as necessidades da equipe. “Estamos sem estrutura, sem lugar adequado para treinar. Temos o espaço gratuito na Praça de Esportes, mas aqui é quadra e precisamos jogar no campo, na grama.” E nem mesmo um treinador argentino, por ironia do destino, consegue sozinho mudar a realidade atual do time. Horário Aguirre, quem tem filhos jogadores de rugby no Sul do Brasil, conta que os atletas aqui de Minas são muito dedicados, não faltam aos treinos, têm raça para jogar, mas estão esbarrando na falta de apoio. “Treinamos por um tempo no campo da AABB, e agora estamos tentando fechar um acordo com a Univale. Vamos aguardando essa decisão para mudarmos a realidade das nossas equipes.” O time vai sobrevivendo, e segundo o treinador falta um apoio forte como fez Nelson Mandela com a equipe da África do Sul, no filme Invictus de Clint Eastwood. “Ele integrou e aproximou os diferentes, o rugby é um esporte assim, que agrega negros, brancos, gordinhos, magros, mulheres e homens. É uma modalidade que forma verdadeira paixão pelo grupo, forma uma família. É um jogo que não discrimina, em que todos Time masculino de Rugby, com madrinhas, em pose especial. Atletas buscam apoio financeiro para a preparação e disputa de torneios têm valor, e são importantes em campo.” Samuel Ribeiro, 28, pratica rugby há um ano e é prova dis- do e Juliana Prates. “Nós nos integramos à equipe feminina de iria nos ajudar demais nisso.” so. Ele é alto, quase 2 metros de altura, era sedentário, só tra- Ipatinga, que hoje se chama Vale do Aço, e conseguimos dispuLugão reitera que mulheres e crianças podem sim praticar balhava e foi viciado em jogos eletrônicos. Desde que entrou tar um campeonato estadual. Nós custeávamos os treinos e as o rugby, sem restrições. “Adequando os treinos a cada equipe, no rugby perdeu peso, entrou em forma e não vive sem prati- viagens. Assim fica muito difícil. Esse é um esporte maravilhoso e considerando que mulheres e as crianças desejam uma ativicar esportes. “Esse esporte mudou totalmente a minha vida. que traz disciplina e respeito. Aprendemos muito. Mas, precisa- dade para que sejam desenvolvidas habilidades físicas, motoras À noite e nos finais de semana eu não fazia outra coisa senão mos de uma força.” gerais e que estejam dispostas a um trabalho com determinação jogar videogame. Hoje, jamais viveria sem a energia do rugby. Ela conta que, apesar de estudante do curso de Educação e respeito entre companheiros e adversários, esta é um opção.” Quando não temos treinos nos juntamos para fazer qualquer Física, era sedentária e não imaginava que depois dos 30 anos Araújo finaliza o pedido de apoio com uma frase do filme Inoutra atividade física.” poderia encontrar um esporte que a valorizasse como atleta. victus. “Eu sou o mestre de meu destino. Eu sou o capitão de “Normalmente, começamos adolescentes, mas hoje estou com minha alma”, que para ela quer dizer, “Somos todos vencedores O esporte 32 anos e a todo vapor para jogar rugby. Tanto técnicos quanto nesse esporte, somos nós que determinamos onde podemos cheeu mesma nos surpreendemos com a minha capacidade física. gar. Eu sou quem manda no meu coração e nas minhas escolhas. O rugby é um esporte coletivo, europeu, difundido a partir Apesar de ser baixinha eu tenho a minha posição na defesa do Para alcançar nossos sonhos também precisamos de forças para de 1800. É praticado com as mãos e uma bola oval. Joga-se em time em campo. Precisamos expandir esse esporte, e o apoio caminhar juntos: família, amigos e apoio financeiro.” um campo retangular de 114 metros de largura por 70 metros Divulgação de comprimento. É praticado em duas modalidades, o Rugby Union, mais difundido, com times de 15 ou 7 jogadores; e o Rugby League, com times de 13, 7 ou 9 jogadores. No rugby não existem gols, e sim pontos, um try vale cinco pontos , que é a forma de pontuação máxima. O jogador para isso tem que ultrapassar a linha de fundo do adversário com a bola nas mãos, fazendo o contato da bola com o chão simultaneamente ao corpo. Feito isso a equipe que fez o try tem direito a uma conversão de dois pontos. Existem penalidades e também o Drop goal – pontapé de ressalto, que se aproximaria de um gol no futebol. Assim o jogador tem que chutar e acertar a bola certeira, entre as traves verticais e acima do travessão. É considerado por muitos uma modalidade esportiva radical e de choques físicos violentos. Mas isso é desmistificado por educadores físicos, como a professora Renata Lugão. Ela diz que apesar de ser um esporte intenso, de contato físico e que obriga o atleta a ter um condicionamento físico bom, todos podem praticar. “É preciso desfazer a relação entre violência e rugby. É um esporte que exige principalmente um bom condicionamento cardiorrespiratório e força muscular, sendo condições que evoluem com a prática esportiva. A pessoa que se identifica com jogos coletivos e de contato físico com oponentes pode vivenciar e quem sabe descobrir o rugby em suas vidas. Não o vejo como esporte radical e sim como uma modalidade esportiva coletiva que emprega a força física como tantas outras.”

Equipes Aguirre explica que hoje a equipe masculina conta com 25 atletas, mas que precisariam de pelo menos mais 10. “Como o rugby é um jogo de contato físico, muitas vezes durante os campeonatos perdemos jogadores por contusões e luxações, e apesar de serem coisas simples, os atletas precisam ser substituídos prontamente. O time das meninas nem se fala, hoje são quatro que treinam ativamente. E já tivemos equipes completas. Mas, a falta de estrutura desmotiva a moçada.” Aline Araújo é uma das guerreiras que seguem treinando há um ano, e foi vice-campeã mineira em 2013, juntamente com as companheiras de equipe de Valadares Alba Figueire-

O Rugby ainda é um esporte desconhecido do grande público, mas busca o seu espaço em Governador Valadares, na periferia da cidade


GERAL

Ombudsman

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BRAVA GENTE

FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

MOISÉS SODRÉ - MOKA

Divulgação

José Carlos Aragão

Pauta Então, vamos mesmo para um segundo turno... No mínimo, teremos assunto para mais um mês nas discussões em família, nos debates rápidos e acalorados na sala do cafezinho, nas inconsequentes e irresponsáveis conversas de botequim e na suja guerrilha de boatos e ofensas pelas redes sociais. O assunto, é claro, também frequentará as reuniões de pauta dos noticiários de rádio e tv e as redações dos jornais. É lá que se decide o que o repórter vai buscar nas ruas, palácios, becos e esconderijos para encher as páginas da próxima edição. Como ombudsman, nunca participei de uma reunião de pauta do nosso Figueira. Não que minha condição o impeça, mas, além de morar em outra cidade, essa ausência até me agrada, pois me permite uma maior isenção e distanciamento crítico. Escrevo aqui, em geral, sobre águas passadas. Comento e critico (sou econômico com os elogios, admito) a edição anterior, sempre. Analiso o que o jornal fez na cobertura dos fatos da semana que já passou e que já foram notícia. Em tese, não escrevo sobre o que ainda não foi publicado. Alguns temas, no entanto, – como o segundo turno das eleições presidenciais – se estendem por semanas ou meses. Aí, é inevitável. Além disso, é um tema relevante para a História que ainda será escrita, portanto, com grande potencial para ser notícia! (Cabe aqui separar o que é fato e o que é notícia. O fato é o que acontece. E, excepcionalmente, o que pode acontecer. Pode ser importante ou banal. Pode ser percebido ou não. Pode morrer no ato ou gerar consequências. Notícia é aquilo em que o fato se transforma, quando percebido e passado adiante, divulgado, publicado. As pessoas geram o fato; o jornalista o faz notícia. O resto é especulação – o que, em política, futebol ou final de telenovela, também pode virar notícia.) Mas vamos voltar ao segundo turno (eu sou muito digressivo)... O segundo turno ainda não aconteceu, mas é um fato previsto, tem data marcada. Isso facilita muito a vida do jornalista, que ele sabe dia e hora em que a coisa vai se dar. Então, é notícia. (Difícil é noticiar erupção de vulcão, que é fato que, definitivamente, só vira notícia depois que acontece.) Semanas atrás, eu me queixava aqui da cobertura que o Figueira vinha fazendo da campanha eleitoral. Achei tímida. Mas ele terá uma segunda chance: a campanha para o segundo turno já está nas ruas. É fato. O próprio segundo turno, que é fato que pode ser previsto (mas de resultado final quase sempre imprevisível), só acontece no final do mês. E já é notícia desde agora. Só depende do que rolar naquele troço do qual eu estou fora: a reunião de pauta do jornal. Passando a limpo Semana passada, abri minha coluna com uma citação cuja autoria eu desconhecia. Até cheguei a especular se não seria alguma filosofia de porta de banheiro. Falava sobre a mentira e, por isso, achei-a bem adequada à minha análise sobre o baixo nível da recente campanha eleitoral. Por acaso, três dias depois, me deparei com uma matéria em um site que listava 40 frases venenosas ditas por célebres figuras da História. E, entre elas, a que citei de memória (e não literalmente) em minha coluna. Seu verdadeiro autor, segundo o artigo, teria sido o general alemão Otto von Bismarck. Aproveito então para passá-la a limpo, agora numa transcrição mais fiel e literal: “As pessoas nunca mentem tanto quanto depois de uma caçada, durante uma guerra, ou antes de uma eleição”. Para quem quiser conhecer as outras 39 frases venenosas (todas muito boas): http://www. revistabula.com/431-40-frases-venenosas/. José Carlos Aragão, ombudsman do Figueira, é escritor e jornalista. Escreva para o ombudsman: redacao.figueira@gmail.com

Além do Arco-Íris NUDIs

Sobre banheiros “Quantas vezes por dia você vai ao banheiro? Se você multiplicar pelo número de dias que viveu, vai ver o número de oportunidades que existiram para que algo realmente interessante, ou embaraçante, ou extravagante acontecesse com você”. A bióloga Nurit Besunsan inicia assim a obra OS BANHEIROS QUE VIVI... OU NÃO (2007) escrita por 24 mãos de mulheres e organizada por ela. As várias histórias que constam no livro são permeadas pelo humor, pelo inusitado e pela curiosidade. A escrita leve e a leitura agradável me levaram identificar e a pensar sobre os banheiros que também vivi e ainda, sobre os quais ouvi contar. Ao longo da leitura é fácil identificar as dificuldades femininas em frequentar os banheiros dos bares, de ter que pendurar a bolsa no pescoço, na falta de um lugar apropriado, equilibrar para não encostar no vaso sanitário que nem sempre é sinônimo de limpeza ou o estranhamento ao entrar em banheiros sem janela. Também ouso brincar em pensar no capítulo que escreveria caso a autora me convidasse para uma hipotética edição. Nesse capítulo, traria a narrativa de uma amiga que trabalhou como

Moisés Sodré, o Moka, é um campeão que começou a voar no céu de Valadares e conquistou os céus do Brasil

Moka, um campeão nos céus do Brasil Natália Carvalho - Repórter O valadarense Moises Sodré tem 46 anos, é casado e tem duas filhas. Há mais de 27 anos é policial militar e pela corporação da PM tem patrocínio para o seu hobbie do voo livre. Moka, como é conhecido pelos amigos, tornou-se atleta da Polícia Militar de Minas Gerais em 1996. Mas, a sua história como atleta começou bem antes, em setembro de 1994, quando voou pela primeira vez. Em apenas um ano já havia conquistado o seu primeiro título: foi bicampeão Brasileiro. E ainda quebrou o recorde brasileiro em distância. “No início comecei a voar apenas por esporte, mas o voo estava no meu sangue! Eu acabei descobrindo um dom oculto. Foi necessária muita dedicação para que meu sonho realizasse.” Nos 19 anos dentro do esporte, Moka conquistou diversos títulos. Além de ser bicampeão brasileiro, foi duas vezes vice-campeão brasileiro, foi bicampeão mineiro, bicampeão valadarense e duas vezes recordista brasileiro em distância nas categorias solo e duplo. Moka também representou o Brasil em quatro campeonatos mundiais, sendo dois deles nos Estados Unidos em 1999 e 2004, na Espanha em

Esses padrões estabelecidos que se relacionam com o que deve ser ensinado nas escolas caminham na contramão ao se pensar sobre o banheiro requerido pelo aluno trans que desafia as normas e o que está dado como imutável nesses ambientes.

pedagoga em uma escola municipal, em Porto Alegre. Minha amiga Simone Dorneles foi abordada por um aluno trans que lhe trouxe a pergunta: Que banheiro devo usar? Quando entro no feminino, as meninas me falam que lá não é lugar de meninos. E o mesmo acontece quando entro no banheiro masculino e os meninos me mandam embora de lá. Então, quero saber qual é o meu banheiro. O caráter provocativo da fala desse aluno desencadeou ações e atuações entre as pessoas daquela escola e me levou a pensar um pouco sobre os questionamentos trazidos pela teoria queer ao currículo escolar. Tomo aqui como teoria queer a fala de Tomaz Tadeu que diz que “é a diferença que pode fazer a diferença no currículo” e entendo o currículo também como esse autor, como

2001 e em Portugal, em 2003. Atualmente, ele é campeão da Etapa do Campeonato Brasileiro 2014 em Andradas, Minas Gerais, e vice-campeão brasileiro pelo Ranking Nacional 2014. Porém, em tudo o que faz pensa na segurança em primeiro lugar, o que chegou até a lhe custar alguns títulos: “Eu me considero um vencedor naquilo que faço. Mas, sempre optei pela segurança em primeiro lugar, e não me arrependo nem um pouco. Faço quase todas as manobras e nunca me machuquei na prática do voo livre. Fui inclusive o primeiro brasileiro a fazer o SAT, uma manobra avançada que poucos pilotos conseguem fazer, mesmo na atualidade”, diz O atleta também leva esta filosofia para os seus alunos. Credenciado pela “Associação Americana de Asa Delta e Paraglider” (USHPA) e pela “Associação Brasileira de Voo Livre” (ABVL), Moká tem a oportunidade de dar aulas, passando suas habilidades para os próximos atletas. “Um bom voo começa com segurança, o resto é consequência. Afinal, não há nada melhor do que ir para casa com sorriso de satisfação estampado no rosto e a consciência tranquila de que você fez tudo certo”, finaliza.

“o espaço onde se concentram e se desdobram as lutas em torno de diferentes significados”. Entendo também que o que está posto em um currículo é a constituição de modos de vida. Ou seja, o currículo tanto escolhe os conteúdos e os saberes que podem circular na escola e torna invisíveis algumas práticas quanto ensina a ser menino e a usar o banheiro masculino, a ser menina e a usar o banheiro feminino. Esses padrões estabelecidos que se relacionam com o que deve ser ensinado nas escolas caminham na contramão ao se pensar sobre o banheiro requerido pelo aluno trans que desafia as normas e o que está dado como imutável nesses ambientes. Uma via seria pensar em um currículo queer, um currículo que desafiasse essas mesmas normas, que transgredisse, que incomodasse, que desestabilizasse o que está fixo. Pois bem, essa seria uma possibilidade de romper com um modelo que legitima uma única identidade, uma única prática educacional, uma só maneira de aprender e também ensinar, um só jeito de incluir e, principalmente, a ser a diferença que fará diferença no currículo das escolas.

Nádia Maria Jorge Medeiros é pedagoga, doutora em Educação. NUDIs – Núcleo de Debates sobre Diversidade e Identidades nudis.lgbt@gmail.com


POLÍTICA

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FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

ELEIÇÕES 2014

Dilma vence em Valadares e Pimentel é eleito governador EBC

Gina Pagu / Repórter

Em Governador Valadares, nas Eleições 2014, a votação para Presidente foi disputada voto a voto, mostrando uma diferença de pouco mais de 300 votos entre Dilma Rousseff - PT e Aécio Neves – PSDB, do total de 143. 096 votos válidos, somando 76,06% votantes e 23,94% de ausentes. Dilma saiu na frente com 41,87% dos votos válidos, o que corresponde a 59.911 eleitores, Aécio conquistou 41,65%, ou seja, 59.601 votos. Marina Silva ficou com 14,48%, correspondente a 20.702 votos. Votos nulos foram 3,08% - 4.724 votos e nulos 3,51% - 5.381 votos. Para Governador os mais votados foram Fernando Pimentel – PT, com 47,99% - 63.784 votos, em seguida Pimenta da Veiga – PSDB com 48,14% - 63.975 votos. Votos Brancos somaram 7,30% - 11.182 votos, e nulos 5,95% - 9.112 votos. A disputa para Senador que elegeu Antônio Anastasia – PSDB ficou assim: Anastasia venceu em Valadares com 59,24% 71.711 votos válidos, Josué Alencar – PT, com 37,88% - 45.856 votos e Margarida Vieira – PSB, com 2,38% - 2.885 votos. O município elegeu três deputados, dois federais e um estadual. Leonardo Monteiro – PT, reeleito Deputado Federal, foi o mais votado na cidade com 24.711 votos, e Brunny – PTC, com 6.652 votos. Bonifácio Mourão – PSDB está reeleito e em Valadares teve 44.573 votos. Outros candidatos a Deputado Federal que tiveram votação expressiva, mas não se elegeram foram: Ricardo Assunção – PTB, com 16.304 votos válidos, Euclydes Pettersen – PTB, com 15.481 votos e Ricardo Pedrosa – PEN, com 7.049 votos. Candidatos que foram bem votados, embora não eleitos, foram: Paulinho Costa – PDT, com 12.993 votos válidos, Edvaldo Soares – PMDB, com 9.726 votos, Hélio Gomes – PSD, com 7.018 votos e Geovanne Honório – PT, com 6.694 votos.

A presidenta Dilma Rousseff depois de votar na sua seção eleitoral no domingo. O desafio agora é vencer também o segundo turno e se reeleger

Recado Capital Fábio Moura / De Belo Horizonte A noite chegara gélida na capital. O dia já havia sido tenso o bastante pra que alguns no comitê de campanha do Fernando Pimentel nem se apercebessem disso. Inquietava o fato de que uma vitória tão bem consolidada ao longo dos últimos meses pudesse ser colocada à prova num segundo turno, mano a mano. A boca de urna do IBOPE e os primeiros números da apuração mostravam uma diferença muito menor do que pensavam entre os presidenciáveis Dilma e Aécio. Temiam que a ascensão do padrinho de Pimenta pudesse catapultá-lo. Estavam amontoados e amoitados em salas com paredes de escritório no antigo Central Shopping, na Avenida Afonso Pena. PROS, PRB, PMDB e PCdoB estampavam as placas porta a porta. Do lado de fora, algumas dezenas de pessoas tentavam se amontoar pra abrandar o vento cortante. O telão com os números do TSE era narrado pelas vozes da Itatiaia. A sensação térmica era de pouco mais de dez graus. Uma daquelas massas de ar frio chegou por aqui na noite do último debate e só irá embora quando este Figueira estiver na tua mão. Lá em cima, a imprensa começava a chegar ao salão,

de onde falaria Pimentel. Agradeceria por ter chegado ao segundo turno ou por ter se consagrado primeiro governador do Partido dos Trabalhadores aqui nas Gerais. Passava das 19h30. Um enorme alvoroço de vozes toma a atenção de todos os repórteres. Eles se entreolham. Alguns balbuciam algo. “Peraí”. “Confirmou”. Àquela altura, com oitenta e tantos por cento das urnas apuradas, ninguém se arriscaria, ainda. Pimentel oscilou acima, mas sempre muito próximo da metade dos votos válidos desde que haviam dado início à contagem. Deu Pimentel. Deu em primeiro turno. O buffet da imprensa ficou mais recheado. Muitos se abraçavam, enquanto as primeiras latas estouravam. Lá fora, uma euforia contagiante, mas concisa. Depois de um minuto, quem passasse ali pela Afonso Pena, não veria nada disso. O vento cortava e o rosto queimava. E o telão tinha algo mais preocupante. Petistas apontavam a contagem dos presidenciáveis. 8 milhões de votos, apenas, à frente. Imaginava-se muito mais. Muito mais distante do Aécio. Muito mais votos à frente. Lá em cima, no salão da imprensa, candidatos eleitos pela coligação no legislativo estadual e nacional chegavam se abraçando. Junto a eles, presidentes dos partidos. O governador se atrasaria. Levaria um pouco mais de tempo para trocar algumas palavras ao telefone com Pimenta,

sua oposição arrogante. Fernando diria ainda que o tucano não se achava o dono de Minas, mas era filho do rei ou do imperador dessas bandas. Chegou. Exausto, mas aliviado. Chegou sem querer dizer muita coisa. Exaltou a vitória de Dilma no estado, mas falou que ainda era cedo pra falar em apoio. Pimentel, membro do PT mineiro, parece ver em Aécio um possível parceiro. Já subiram ao palanque juntos para reeleger Márcio Lacerda à Prefeitura de Belo Horizonte; não teriam problemas pra governar em conjunto. Foi firme, contundente, ao falar sobre a transição. Disse que governará com alguns membros da atual gestão e que trará outros dos tempos de prefeito. Disse que as demandas virão dos conselhos regionais. Descreveu Antônio Andrade, seu vice, ao ser questionado sobre as barreiras que encontraria com apenas 26 deputados na Assembleia. Taxou-o de articulador e disse aos sorrisos de canto de boca que outros estão vindo para a base da situação. Encerrou falando de Isidoro, ao ser questionado por uma repórter da Tv UFMG. Parece querer colocar panos quentes. Levar todos para o Minha Casa, Minha Vida e reintegrar a posse aos empresários que detêm a escritura do espaço. Parece, sim, ter dado pano pra manga... Fábio Farias Moura é jornalista e produtor audiovisual

Direitos Humanos Flávio Fróes Oliveira

Animais políticos III O leitor atento da “República” de Platão, especialmente sendo brasileiro, facilmente concordará com o Pregador do Eclesiastes que afirmou “...nada há, pois, novo debaixo do sol” (Ec 1.9). Ocorre que, das cinco formas de governo enumeradas pelo autor, a preferida por ele – a aristocracia, o governo dos melhores – fica desde logo descartada, dada a impossibilidade de se encontrar, entre os humanos, a encarnação da Justiça. Ao enumerar a segunda forma possível de governo – a timocracia, ou seja o Estado dominado por quem ama sobretudo as honrarias do cargo (Rep. 545b) – caracteriza governantes gananciosos a enriquecerem-se às ocultas. Cuidam mais dos seus interesses particulares do que do bem da comunidade. Visam mais ao poder pessoal do que ao do Estado. Trata, a seguir, da oligarquia que, na acepção primeira do vocábulo, seria o governo de poucos. Para Platão, no entanto, é a utilização do Estado como instrumento da cobiça exacerbada de uns poucos exploradores, do que resultam impotência e destruição do Estado. Na análise da forma de governo então denominada democracia Platão a define como “forma aparentemente ideal de constituição do Estado, sem governo, heterogêneo, a repartir a igualdade igualmente, entre iguais desiguais” (Rep.

Para Platão, no entanto, é a utilização do Estado como instrumento da cobiça exacerbada de uns poucos exploradores, do que resultam impotência e destruição do Estado. Na análise da forma de governo então denominada democracia Platão a define como “forma aparentemente ideal de constituição do Estado, sem governo, heterogêneo, a repartir a igualdade igualmente, entre iguais desiguais” (Rep. 558c).

558c). Seria o domínio da plena liberdade, a ausência de qualquer autoridade coatora. Neste ponto de sua análise Platão, que vivera duras experiências com a democracia do seu tempo, ironiza: “Pelo menos é o que dizem...” Por fim enumera a tirania, que é a forma degenerada da democracia. O tirano principia com ações políticas como perdão de dívidas e partilha de terras; prossegue eliminando eventuais adversários e, ao cabo do processo, a totalidade dos cidadãos se torna escravos do tirano. Ou

seja: ocorre a passagem da plena liberdade para a completa escravidão. Assim descreve Platão as peripécias do Homo sapiens desde que se tornou animal político. Nos últimos cinco séculos da Era Cristã pensar política tornou-se uma constante, tanto nos ambientes acadêmicos de maior renome na Europa e nas Américas como entre os protagonistas de duas importantes revoluções – a Americana (1775-1783) e a Francesa (1789). Verifica-se que, no status de animal político, em pouco tempo o Homo sapiens desobrigou-se de ganhar o pão com o suor do próprio rosto: exercitou-se na dialética, deu nomes sofisticados às práticas desonestas, arvorouse em defensor dos empobrecidos enquanto se locupletava do erário. Leitores(as) e eleitores(as) do presente artigo, chocados com a desfaçatez de políticos que confundem a fazenda nacional com suas propriedades, farão bem em ler Platão. Terminarão a leitura com a forte impressão de já ter visto aquilo nos noticiosos de televisão e nas revistas semanais.

Flávio Fróes Oliveira é estudioso dos direitos de crianças e adolescentes


CORRESPONDENTES 10

D’outro lado do Atlântico

FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

UE

José Peixe / De Lisboa

Animais selvagens reduzidos à metade desde 1970 O relatório publicado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), uma organização não governamental, esclarece que “as populações selvagens em todo o planeta desceram para metade desde 1970”. E curiosamente a maior queda em termos de biodiversidade “verificou-se na América Latina, entre as espécies de peixes de água doce” o que não deixa de ser preocupante. Segundo esta organização internacional ecologista, “as populações mundiais de peixes, aves, mamíferos, anfíbios e répteis diminuíram 52% entre 1970 e 2010”. Ou seja, “muito mais rápido do que os cientistas pensavam”. O relatório “Planeta Vivo” publicado pela entidade responsável pelas áreas científicas da conservação, investigação e recuperação ambiental a cada dois anos, deixa muito claro o seguinte: “As exigências da humanidade são atualmente 50% maiores do que a natureza suporta. O abate de árvores, o bombeamento de água do subsolo e a emissão de dióxido de carbono ocorrem mais rápido que a capacidade de recuperação do próprio planeta Terra”. Mas, infelizmente, o homem moderno é incapaz de enxergar os alertas que têm vindo a ser dados pelos ecologistas nas últimas duas décadas. Enquanto formos incapazes de respeitar a mãe natureza e adotar princípios de vida mais sustentáveis, corremos o risco de estar a acelerar o fim da própria humanidade. Para os ecologistas da WWF, ainda há esperanças de reverter toda esta calamidade se os políticos e as empresas fizerem o que é necessário para proteger a natureza e evitar o aquecimento global. “É essencial aproveitar a oportunidade - enquanto ainda podemos - de termos um desenvolvimento sustentável e criarmos um futuro onde as pessoas conseguem viver e prosperar em harmonia com a natureza”, afirmou

Macaco Gibão, mais uma espécie ameaçada de extinção

o diretor da WWF, Marco Lambertini, aquando da apresentação do estudo na cidade de Londres, no Reino Unido. E é bom que todos nós, globalmente, pensemos em conservar a natureza. E essa política ambiental não tem a ver exclusivamente com a proteção dos “habitats selvagens”, mas sim com a salvaguarda do futuro da própria espécie humana. A nossa própria sobrevivência. No estudo feito das populações selvagens de vertebrados, chega-se à conclusão que os maiores declínios ocorreram nas chamadas regiões tropicais, em especial na América Latina, onde aparece o Brasil. Foram observadas e estudadas as tendências em 10.380 populações de 3.038 espécies de mamíferos, répteis, aves, anfíbios e peixes. E a média de 52% que foi divulgada pela WWF é muito superior à que já tinha sido reportada, nos estudos apresentados anteriormente. Para avaliarem as diferenças de impacto ambiental existente nos diversos países, os cientistas também fizeram questão de medir a chamada “pegada ecológica” de cada um e as respetivas áreas agrícolas e aquáticas. No fundo analisaram a “biocapacidade” que cada país declarava. No estudo apresentado pode concluir-se que o Kuwait é o país do mundo com a maior “pegada ambiental”. Por outras palavras, podemos afiançar com base neste relatório científico que a população kuwaitiana é a que consome e desperdiça mais recursos naturais “per capita”. Seguem-se os Emirados Árabes Unidos, o Qatar, a China, os Estados Unidos e outros países ricos. “Se toda a gente no planeta Terra tivesse a pegada ecológica do habi-

Café com Leite Marcos Imbrizi / De São Paulo

Eleições em São Paulo e Minas Eleição SP I Passada a euforia da eleição, é com vergonha da minha metade paulista que escrevo o texto da semana. Vergonha e indignação pelo resultado do pleito que manteve no poder o PSDB, partido que comanda o Estado mais rico da União há mais de 20 anos. Mais rico e ao mesmo tempo mais conservador e retrógrado, mesmo com sérios problemas em serviços públicos essenciais como a saúde, educação, segurança e transporte. Sem contar os inúmeros casos de denúncias de corrupção que nunca são apuradas pelo fato de os sucessivos governadores contarem com uma maioria na Assembleia Legislativa que barra toda e qualquer tentativa de se apurar casos como de superfaturamento e pagamento de propinas em licitações do Metrô e da empresa que opera os trens metropolitanos. E a verdadeira blindagem que os meios de comunicação fazem aos chefes do executivo. O caso mais recente, e grave, da crise de abastecimento de água, no qual o governo tucano preferiu dividir os lucros da empresa responsável pelo abastecimento de água entre os acionistas ao invés de investir no serviço de captação. Com isso, falta muito pouco para que milhões de paulistas passem a enfrentar um sério problema de falta de água. Mas agora a eleição já passou... Eleição SP II Há algumas semanas comentamos uma pesquisa de intenção de votos para os deputados federais. E não é que três entre os cinco primeiros indicados na pesquisa realmente se elegeram? O mais votado foi Celso Russomano (PRB) com mais de 1,5 milhão de votos que, entre outras, foi condenado por falsidade ideológica por ter se candidatado a prefeito de Santo André em 2000, sem ter domicílio na cidade. Em seguida, o palhaço Tiririca (PR), com mais de um milhão de votos; e para fechar a lista, o terceiro mais votado, o pastor Marco Feliciano (PSC), acusado de racista e homofóbico, com quase 400 mil votos.

SOLIDARIEDADE

Brinquedos para a criançada O Curso de Administração da Unipac/GV realizou no último sábado, um dia de lazer, para cerca de 400 crianças do Bairro Carapina e região, com doação de brinquedos, cachorro quente, refrigerante, pula-pula, algodão-doce, pipoca, brincadeiras, além de apresentação de teatro, dança e música. A ação fez parte do Projeto Integração Solidária, que visa promover uma conexão entre os alunos do curso com a comunidade, através de uma ação social. Durante o Projeto Integração Solidária cada turma do curso de Administração tem a função de arrecadar brinquedos, para uma faixa etária determinada, e uma atividade no dia do evento. As turmas foram apadrinhadas por professores que auxiliam em toda a realização do projeto. Neste ano a meta é arrecadar 600 brinquedos

Eleição SP III Para completar, os paulistas garantiram a Aécio Neves a maioria dos votos entre os candidatos a presidente. E elegeram o também tucano José Serra. Assim, o senador petista Eduardo Suplicy deixa o Senado, onde atuou por mais de 20 anos. Conhecido por ser um eterno defensor do Programa de Renda Mínima, Suplicy viajava por todo o país para apresentar o programa que visa garantir uma renda mínima a todos os cidadãos. Em muitas destas apresentações, o senador costumava cantar meio sem jeito canções de Bob Dylan ou dos Racionais. Logo após a divulgação do resultado da eleição, o Suplicy teria afirmado que pretende se dedicar à vida de professor ou de cantor. Ao saber da notícia um amigo disparou: “Tomara que prefira a carreira de professor”. Mudanças? Confesso que até hoje não entendi o que foram os tão comentados movimentos de junho de 2013. A princípio o povo foi para as ruas em São Paulo para se manifestar contra o aumento da tarifa dos ônibus. A violentíssima repressão policial contra o movimento (outra marca do governo paulista) desencadeou uma série de outras manifestações que se espalharam pelo Estado por mudanças. Mas será que eram estas as mudanças que queriam? Eleições MG Agora quem fez mudanças mesmo foi Minas, que desbancou o governo tucano no Estado depois de 12 anos. Além de eleger Fernando Pimentel já no primeiro turno, garantiu também à presidenta Dilma Rousseff a liderança entre os candidatos a presidente. Sobre este fato, entre os comentários do facebook que li destaco este: ‘Aécio é bão! Tão bão! Que o povo e Minas escolheu um governador do PT no primeiro turno!” Marcos Luiz Imbrizi é jornalista e historiador, mestre em Comunicação Social, ativista em favor de rádios livres.

tante médio do Qatar, necessitávamos de 4,8 planetas. E se o nosso estilo de vida fosse o de um típico habitante dos Estados Unidos, precisávamos de 3,9 planetas”, esclarecem os cientistas da WWF. Mundialmente, os ambientalistas têm alertado para os limites planetários que importam ser preservados e protegidos, porque nos caso de serem menosprezados podemos correr o risco de alterar a vida de todas as espécies como a conhecemos atualmente. E, segundo a WWF, existem três pilares fundamentais para a sustentabilidade do planeta Terra que já foram ultrapassados: o da biodiversidade, o dos níveis de dióxido de carbono e o da poluição gerada pelo azoto utilizado nos fertilizantes agrícolas. Mas, existem outros dois que estão fortemente ameaçados e correm o perigo de serem ultrapassados: o da acidificação dos oceanos e os níveis elevados de fósforo nos cursos de água. “O ritmo acelerado e a escala de mudanças que estão a ocorrer no planeta já não nos permitem descartar a hipótese de virmos a atingir os limites que vão pôr em causa as condições de vida na Terra”, esclarece o estudo elaborado pelos cientistas. O aquecimento global que tanto tem merecido destaque nos órgãos de comunicação internacional é uma realidade que está a afetar muitas espécies. No mês de setembro, no Ártico, os ecologistas registaram a sexta área coberta por gelo mais reduzida desde 1979. E só para que se tenha a ideia, este degelo abrupto fez com que 35 mil morsas tenham emigrado para uma praia do Alasca. Em Governador Valadares e no Estado de Minas Gerais reclama-se a falta de água um pouco por todos os lugares. As chuvas são escassas e os leitos dos rios vão secando. O caso mais flagrante tem a ver com a poluição do Rio Doce. O alerta tem sido feito aqui no jornal “Figueira”, mas é necessário que as populações, os municípios e os empresários tenham consciência que o saneamento básico deve ser implementado com alguma urgência. A água continua e continuará a ser a fonte da vida. Sem ela, o homem e as outras espécies não podem sobreviver. Por isso, é urgente que a defesa do Rio Doce seja feita a partir da educação. É importante que as gerações futuras tenham outra consciência ambiental. Em Minas Gerais e no mundo inteiro. Em Portugal, onde vivo, essa preocupação já mobilizou a maioria dos municípios para a defesa ambiental dos rios. No Norte da Europa, a consciencialização ecológica e o respeito pela natureza são implementados logo no ensino básico. E os resultados começam a dar frutos. José Valentim Peixe é jornalista e doutor em Comunicação

Política Lucimar Lizandro

Institutos de Pesquisa, os maiores derrotados das eleições de 2014 Chegamos ao final do primeiro turno, numa das eleições mais acirradas e imprevisíveis da nossa história recente. Certamente, depois de Marina Silva, que ficou em terceiro lugar e fora do segundo turno, os maiores derrotados foram os institutos de pesquisas, que erraram grosseiramente. Ainda que trabalhassem com margens de erro mais generosas, não escapariam de tamanho vexame. Considerando-se somente os votos válidos, na véspera da eleição, o Datafolha indicava Dilma Rousseff com 44%, Aécio com 26% e Marina com 24%. Pelo Ibope Dilma Rousseff teria 46%, Aécio 27% e Marina 24%. Pela CNT / MDA Dilma Rousseff com 45,6%, Aécio com 27% e Marina Silva com 24,1%. Porém, o resultado final foi Dilma Rousseff com 41,5%, Aécio com 33,5% e Marina Silva com 21%. Nas disputas estaduais a situação não foi diferente. Podemos citar o caso da Bahia, onde o Ibope apontava um empate numérico em 46% entre o petista Rui Costa e o demista Paulo Souto. No final, o petista levou a eleição no primeiro turno. No Rio Grande do Sul, outra derrapada. O Ibope apontava Tarso Genro com 36%, seguido por José Ivo Sartori – PMDB e Ana Amélia Lemos - PP, ambos com 29%. No final das contas, o pemedebista terminou em primeiro, com Tarso Genro em segundo e a candidata do PP em terceiro lugar. Em São Paulo, ainda que o erro não tenha interferido no resultado final, acabou ofuscando o candidato petista, que durante toda a campanha ficou na faixa de um dígito, para no final chegar aos 18%. Certamente, ao serem confrontados com seus erros, os institutos vão alegar que acertaram muito mais que erraram. Provavelmente, tenham razão nessa alegação. Mas, toda vez que anunciam o resultado de uma pesquisa, informam tratar-se de um levantamento científico, com alto grau de precisão e margens de erro que admitem variações mínimas para mais ou para menos. Nada mais que isso. Portanto, ainda que venham recheadas com todas essas explicações, tais erros causam constrangimento para os institutos de pesquisa. Na semana em curso, teremos as primeiras pesquisas de intenção de votos para o segundo turno das eleições presidenciais e estaduais. Não será o caso de ignorá-las totalmente. Mas, diante do fiasco no turno inicial, elas passarão a ser vistas com alguma reserva e até mesmo com desconfiança pelos eleitores e também pela coordenação das campanhas. Portanto, devemos aguardar a divulgação dos próximos levantamentos e ter a compreensão de que tais números, além de não significar mais que um retrato do momento, não devem ser tratados como uma verdade absoluta, pois a verdadeira pesquisa eleitoral é aquela que se observa na apuração dos votos.

Dilvo Rodrigues é jornalista e cronista.


CULTURA E LAZER 11

FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014 Divulgação

Taryn Szpilman está em alta no mercado musical graças ao filme Frozen, dos estúdios Disney. Além de dublar a Rainha Elsa, ela cantou a música tema do filme, “Let it go”, que ganhou o Oscar 2014 como “melhor canção original”

VALADARES JAZZ FESTIVAL 2014

Festival começa nesta segunda no Atiaia

Os melhores músicos brasileiros e cantoras consagradas, como Taryn Szpilman e Marina Machado estão entre as atrações do festival que comemora 15 anos Da Redação

Começa nesta segunda-feira (13), às 20h00, no Teatro Atiaia, a décima sexta edição do Valadares Jazz Festival, evento dedicado à música instrumental brasileira e ao jazz. Estão previstos 8 shows musicais com grupos e músicos de expressão no mercado da música instrumental, além de lançamento de discos e livros, mostra de arte e artesanatos, além de um estande com livros da Editora UFJF. A novidade desta edição será um evento paralelo denominado “Jazz Kids”, que vai acontecer no dia 14, terça-feira, às 14h, no Teatro Atiaia. O Jazz Kids terá a participação da cantora Taryn Szpilman, que vai falar para crianças e adolescentes sobre o processo de produção da versão brasileira do filme Frozen, sobre a dublagem das falas da personagem Rainha Elsa, feita por ela, e responder perguntas do público jovem. Além disso vai cantar a música “Let it Go” (Livre estou), tema do filme e vencedora do Oscar 2014 de melhor canção original. No Jazz Kids também haverá contação de história com a escritora Maria Sóter Vargas, que vai lançar seus livros infantis da coleção Pira-Poré. Darlan Correia Dias e Fernanda La Noce também estarão no evento, lançando o livro “Pedro não queria ir ao Gabão”. Montarroyos, o general O Valadares Jazz Festival 2014 faz uma homenagem ao contrabaixista Jaco Pastorius. Esta homenagem é um bis, afinal, em 2005, o festival, com apoio da família Pastorius (que mora na Flórida, USA), distinguiu o trabalho deste que é considerado um dos mais célebres músicos do jazz mundial. Muitos afirmam que ele é o maior contrabaixista elétrico de todos os tempos. O festival decidiu homenagear Jaco por considerar que esta homenagem foi a mais significativa em 15 anos do evento, que serão comemorados neste ano.

Alunos do IFMG são pré-selecionados para as Olimpíadas Internacionais de Astronomia e Astronáutica Quatro estudantes do Instituto Federal de Minas Gerais IFMG campus Governador Valadares foram pré-selecionados para participar do processo que objetiva selecionar duas equipes de cinco alunos cada para representar o Brasil na Olimpíada Internacional de Astronomia e Astrofísica (IOAA, em inglês) e na Olimpíada Latino Americana de Astronomia e Astronáutica (OLAA). Em Governador Valadares, apenas os alunos de duas escolas, incluindo o IFMG, foram convidados para participarem do processo de seleção das equipes internacionais de 2015. Os estudantes do ensino médio, João Vitor Santana, José Gustavo Coelho, Raquel Gama Lima Costa e Sara Viana Medeiros, estão entre os mil estudantes pré-selecionados de todo o país que terão a oportunidade de pleitear uma vaga nessas olimpíadas. O destaque desses alunos deve-se pela conquista de medalha de prata na XVII Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica – OBA organizada anualmente pela Sociedade Astronômica Brasileira (SAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB). Essa olimpíada possuiu uma única fase e consistiu na realização de uma prova, aplicada em maio.

Divulgação

Mas a homenagem não fica restrita a Pastorius. O trompetista Márcio Montarroyos, terá sua homenagem 2015 lançada nesta edição do festival. O Tributo a Márcio Montarroyos é um projeto aprovado pelo Ministério da Cultura, que será lançado dentro do festival como forma de otimizar custos. Montarroyos, conhecido como “Queridão” e “General”, morreu em 2007, deixando uma obra muito significativa para a música brasileira, como interprete e compositor. Sua principal característica era revelar novos talentos, convidando jovens músicos para tocar na sua banda. Os músicos convidados para a abertura do Tributo a Márcio Montarroyos são Cláudio Infante e Bianca Gismonti, dois grandes nomes da música instrumental brasileira. Programação do festival Dia 13, segunda-feira - a partir de 20h00 Bianca Gismonti Trio Taryn Szpilman & João Gaspar

A cantora Marina Machado é “afilhada” de Milton Nascimneto. Puro talento Divulgação

Dia 14, terça-feira, a partir de 20h00 Túlio Araújo Trio Cláudio Infante Trio Dia 15, quarta-feira, a partir de 20h00 Adson Sodré - Quarteto Adriano Campagnani e Arthur Rezende Dia 16, sexta-feira, a partir de 20h00 Dudu Lima Trio Marina Machado Ingressos na bilheteria do Teatro Atiaia R$ 40,00 (inteira) R$ 20,00 (meia) Em 2014 haverá venda por cartão de crédito www.valadaresjazzfestival.com.br

O guitarrista Adson Sodré é muito respeitado e querido pelo público de GV

Divulgação IFMG

João Vitor Santana, José Gustavo Coelho, Raquel Gama Lima Costa (primeira foto) e Sara Viana Medeiros são os alunos destaques do IFMG


ESPORTES

Na sexta-feira da semana passada, a Fifa anunciou o veto à participação de investidores nos direitos econômicos dos jogadores. Diante da revolução que isso pode provocar no mercado futebolístico brasileiro, pensei que o tema merecia um artigo aqui. Depois de ler várias matérias sobre o assunto, abri um arquivo novo no laptop e fiquei olhando feito besta para a mancha branca na tela, sem saber por onde começar. Em vez de forçar a barra, achei melhor deixar o texto para outra hora e decidi rever “As Viagens de Neil Young”, dirigido por Jonathan Demme. O documentário mostra o músico voltando à localidade canadense de Omemee, onde nasceu, e seu trajeto de carro de lá até Toronto, para um espetáculo-solo no lindíssimo Massey Hall. Uma das músicas do set é “Love and War”, cujos primeiros versos dizem mais ou menos o seguinte: “Quando eu canto sobre o amor e a guerra/Eu realmente não sei o que estou dizendo.” Na mosca. Da mesma forma que o grande Neil Young se confessa perdido em relação ao amor e à guerra, eu, pequenininho, também não estou entendendo aonde o banimento irá nos levar e prefiro deixar que vocês, caros leitores e queridas leitoras, tirem suas conclusões. É consenso que a situação ficou insustentável. Há grandes times brasileiros que não conseguem trocar três passes sem que a bola seja tocada por um jogador pertencente a um investidor. Certa vez, ao ser perguntado sobre o seu futuro, o recém-aposentado lateral-esquerdo Kléber respondeu com uma frase de cair o queixo: “Jogo no time em que o Delcir mandar eu jogar.” Delcir é Delcir Sonda, principal acionista da DIS, empresa que tem participação num monte de jogadores do futebol brasileiro. As notícias publicadas semana passada atribuem a medida da Fifa a pressões da Uefa e, especialmente, da Federação Inglesa, o que é suficiente pra gente encarar a proibição com um olho no padre e outro na missa. Ok. A Premier League é hoje o campeonato nacional mais empolgante do planeta. Copa do Mundo à parte, o melhor jogo de futebol a que assisti esse ano foi Arsenal x Manchester City, dois a dois, no Emirates Stadium, quando estiveram em campo 18 jogadores que participaram da última Copa, sendo dois campeões (Ozil e Mertesacker) e três vices (Zabaleta, Demichellis e Aguero). Pelas minhas contas, o Brasileirão inteiro tem menos da metade disso. A disparidade tática é gritante, a qualidade dos gramados é incomparável, a média de público nos estádios é bem maior lá do que cá. Entretanto, convém desconfiar de medidas moralizantes propostas por uma federação que estende tapete vermelho para o dinheiro de renomados contraventores internacionais. Aí vale, né? Como vale, também, o excesso de mercantilização da liga inglesa, que não conseguiu se reinventar sem perder a ternura – o que incluiu um violento aumento no preço dos ingressos, menos pela necessidade de crescer a arrecadação com

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FIGUEIRA - Fim de semana de 10 a 12 de outubro de 2014

NEIL YOUNG / LOVE AND WAR

QUESTÕES DO FUTEBOL - JORGE MURTINHO

Será que a fonte vai secar? Na mosca. Da mesma forma que o grande Neil Young se confessa perdido em relação ao amor e à guerra, eu, pequenininho, também não estou entendendo aonde o banimento irá nos levar e prefiro deixar que vocês, caros leitores e queridas leitoras, tirem suas conclusões

de campo quando há demonstrações covardes de racismo, submetemo-nos a decisões tortas de tribunais esportivos pra lá de fajutos. A Fifa pode não gostar. Há quem veja, na nova ordem, o impulso que faltava para os nossos clubes voltarem a se preocupar prioritariamente com as categorias de base – hoje eles se preocupam mais em manter boas relações com os investidores. Há quem perceba a intenção da Fifa apenas de proteger a si mesma, isentando-se de qualquer responsabilidade em posbilheteria e mais pela perversa estratégia de substituir os mais síveis desentendimentos, como os que vêm acontecendo entre pobres, que tornaram o jogo popular, por um tipo de torcedor o Futebol Clube do Porto e o fundo de investimentos Doyen. Há quem desconfie de uma ardilosa manobra dos grancapaz de se entupir com os caros produtos vendidos nas novas des clubes europeus a fim de invadir a área de brasileiros e arenas. Resumo da ópera: há muito o que aprender com a profissio- sul-americanos, que se tornarão ainda mais vulneráveis sem nalização e a parte organizacional das mais importantes ligas a ajuda dos investidores. (Neymar, por exemplo, teria ido emeuropeias, mas também há o que questionar. É bastante possível bora do Santos muito antes do que foi.) Nunca se mostrou tão que, comparado a Roman Abramovich, o empresário português adequado o clichê “não tem mais bobo no futebol”. PrincipalJorge Mendes mereça a canonização. Mas Abramovich pode mente fora de campo. Comecei o post citando Neil Young, termino com Tancretudo, porque ele simplesmente comprou o Chelsea inteiro e não tem fatias de jogadores: é tudo dele. Vejam, não estou defenden- do Neves. Em momentos de incertezas, Tancredo costumava recomendar, sábia e mineiramente: “Só examine a espuma do Jorge Mendes; apenas não estou entendendo bem. Claro que é preciso respeitar os argumentos de quem se depois que as ondas pararem de bater.” apoia no bom momento técnico vivido pelos grandes clubes euA maré desse assunto ainda está alta. ropeus e na discutível necessidade de os nossos se transformarem em empresas, mas que diabo de empresa bem gerida é o Chelsea, que na temporada 2005-2006 deu um prejuízo de 80 Link para Neil Young interpretando “Love and War”, no milhões de libras, na de 2007-2008 perdeu 66 milhões de libras e seguiu nessa toada até 2011-2012, quando conseguiu lucrar documentário “As Viagens de Neil Young”: https://www.youtube.com/watch?v=ilb6X_gcljo 1,5 milhão de libras? Um doce para quem pensar em lavagem de dinheiro. Outra coisa que chama a atenção nesse embrulho é a absoluta descrença com que nós, brasileiros, recebemos a notícia. Paira no ar a sensação de que será impossível evitar a burla. Também penso assim, embora forçado a reconhecer que, se há uma coisa no mundo da qual nosso futebol morre de medo, é a Fifa. Por cau- Jorge Murtinho é redator de agência de propaganda e, na própria defisa dela, aceitamos passivamente a realização de partidas oficiais nição, faz bloguismo. Nessa arte, foi encontrado pela Revista piauí, que em mais de 3 mil metros de altitude, não retiramos nossos times adotou o seu blog e autoriza a sua contribuição a este Figueira.

Canto do Galo

Toca da Raposa

Jogar fora de casa tem sido via crucis

Cada jogo é uma batalha

Rosalva Luciano

Nunca faz parte de uma boa escrita esportiva, principalmente sobre futebol, usar palavras para ilustrar derrotas do seu time. Estávamos nós, torcedores atleticanos, num momento de esperança, confiança e até alegrias por vitórias consecutivas e bom desempenho do time. Dava para ver uma colocação bem próxima do líder e sentir o gostinho de trocar com ele o lugar na tabela. Entusiasmados amigos já voltavam à rotina de viagens acompanhando os jogos e eu, mesmo de longe, parava bem entusiasmada para arranjar modos de assistir o que acontecia com a minha grande paixão no torcer. A derrota de quinta-feira passada contra o Corinthians veio mais uma vez mostrar nossa incompetência ou falta de eficiência em confrontos fora de casa. Totalmente sem preparo psicológico, técnico e tático para estes enfrentamentos. Até que vimos momentos de bom jogo, mas não conseguiram levar um resultado positivo até ao final e ainda trouxeram para Belo Horizonte uma desvantagem em dois gols, para mim enorme frente a um adversário que ainda não se estabeleceu no Campeonato Brasileiro e que poderia ser uma presa fácil, mesmo dentro do seu reduto. Fiquei um pouco decepcionada, esperava mais, um empate na pior das expectativas. A ausência de jogadores que nos tira a possibilidade de escalar um time titular tem sido usada por dirigentes e técnicos nas justificativas de resultados. Sei que isto tem efeito negativo sim, mas não pode ser apenas o motivo exclusivo, existem outras vertentes que me deixam um pouco preocupada. O relacionamento interpessoal dentro do time não me parece ser dos melhores, sinto isto. O técnico, como sempre achei, se coloca em um patamar maior do que os comandados, e são estes meninos a razão do espetáculo. Dentro do meu pouco entendimento, acho que o time treina pouco. Sei das tabelas que preocupam pela intensidade, no Brasil, mas se é assim como sempre foi que se armem para a luta de forma mais convincente. Vamos aguardar o ajeitar da coisa... Em Santa Catarina, contra o Criciúma, não foi diferente, resultado negativo que nos deixa na corda bamba no grupo dos pretendentes ao título máximo do futebol brasileiro ou a um lugar na Libertadores.

Perdemos de novo, segunda decepção da semana. Quase fico sem palavras quando vejo uma derrota deste tipo, não desmerecendo o time contrário, mas não deixa de ser um resultado que poderíamos trazer diferente. Um time que passeia pelo último lugar na tabela, um time que vem de várias passagens pela série B, um time que deve ter uma folha de pagamento bem inferior à do Atlético, deveria no mínimo ser abatido com facilidade, mas a facilidade foi deles, quem foi abatido fomos nós e com um escore para mim mais elástico do que a encomenda... E assim surge uma nova semana, nunca deixamos de acreditar, inclusive isto já é a nossa marca registrada. Teremos à frente grandes desafios, esses desafios envolvem dois rivais diretos na briga pelo G4, o Tricolor carioca-Fluminense, na quinta, e o inesperado São Paulo, no domingo seguinte. São partidas que podem definir o caminho do Galo no Campeonato Brasileiro. Semana importante e decisiva para nós, então procuremos estar focados e concentrados em fazer bons jogos, isto tem de ser a meta, porque vai ser imprescindível essa sequência de bons placares. Alguns jogadores voltam do departamento médico, assim quem sabe ficaremos fortalecidos para buscarmos esses pontos que serão de suma importância, isto chega a ser ponto pacífico, questão de honra, chega a ser compromisso assinado em cartório, pois a torcida simplesmente merece esta reciprocidade. Jogar fora de casa tem sido a nossa via crucis, retrospecto péssimo principalmente no novo Maracanã. As vitórias têm passado bem longe deste palco famoso e o Fluminense é um adversário que não inspira confiança. Jogar sem alguns titulares nos traz desconforto, jogar sem Diego Tardelli nos traz arrepios, calafrios e medo mesmo. Um time como o Atlético Mineiro não pode fincar seu seus resultados em pessoas, em um jogador isolado, temos de criar situações favoráveis para todo o conjunto, então se aqui no Horto é Galo, por que no Maracanã não pode ser? “Vai Galoooooo, faça esta massa feliz”... Rosalva Campos Luciano é professora e, acima de tudo, apaixonadamente atleticana.

Hadson Santiago

Saudações celestes, leitores do Figueira! O Cruzeiro voltou a apresentar um bom futebol ao vencer o Internacional por 2x1, jogo realizado no Mineirão, no sábado, 4 de outubro. O primeiro tempo foi primoroso e a equipe celeste fez seus dois gols com Marcelo Moreno e Marquinhos. Poderia ter ampliado o placar logo no início da etapa derradeira, mas William isolou a bola ao cobrar uma penalidade máxima. O castigo veio logo depois com o gol dos gaúchos. Sufoco até o fim da partida. Afinal de contas, quem é o cobrador oficial de pênaltis do Cruzeiro? Por que o William se apresentou para a cobrança? Quase que a vitória vai para o espaço. Mas, tudo bem, belo triunfo cruzeirense e a manutenção de uma boa vantagem para o segundo colocado. Aliás, a última vitória do Internacional sobre o Cruzeiro, no Mineirão, aconteceu em 1987, naquela fatídica noite chuvosa de quinta-feira, na semifinal da Copa União. Após um empate sem gols no Beira-Rio, o Cruzeiro tinha tudo para chegar à final da competição, mas não teve competência para tal. Após outro empate por 0x0 no tempo normal, as equipes foram para a prorrogação e o Inter fez seu gol logo no início do tempo extra. Depois de um cruzamento da direita, o grandalhão Amarildo subiu e testou para o fundo das redes do goleiro Gomes. O Cruzeiro partiu para cima e tentou empatar a peleja, mas sem sucesso. Com a vitória, o Internacional foi disputar a final contra o Flamengo, ficando o título da Copa União com a equipe carioca. Quando você, caro leitor, estiver lendo esta coluna, o Cruzeiro já terá enfrentado o Corinthians, também em Belo Horizonte. Portanto, a vantagem de 9 pontos do time celeste para o vicelíder poderá ter sofrido alguma alteração. Depois

de enfrentar os paulistas, o Cruzeiro vai ao Maracanã pegar o Flamengo, jogo da 28ª rodada do Campeonato Brasileiro. Vou insistir e bater na mesma tecla: que o técnico Marcelo Oliveira tenha sabedoria e saiba usar bem o plantel. Alisson, peça importante, já está à disposição, mas os desfalques de Éverton Ribeiro (Seleção Brasileira) e Ricardo Goulart (contundido) são certos. Que cada jogo seja encarado como o mais importante do ano. Assim se constrói uma bonita e eficiente campanha. Quero agradecer ao leitor Fabrício Paulo Rossati pelo rico material enviado sobre o Roberto Batata, ex-jogador do Cruzeiro. Vou ler com bastante carinho, pois Batata foi um dos maiores craques da história celeste, tendo falecido tragicamente em um acidente automobilístico em 13/05/1976, quando o Cruzeiro disputava a Taça Libertadores da América. Já fiz menção a ele aqui nesta coluna, mas voltarei a fazê-lo em breve, pois Roberto Batata jamais poderá ser esquecido. Deixando o futebol um pouco de lado, gostaria de lamentar o falecimento do ex-piloto de Fórmula 1 Andrea de Cesaris, ocorrido em 5 de outubro. De Cesaris foi contemporâneo de Nelson Piquet e faz parte do seleto grupo de pilotos com mais de 200 GPs. Ele era arrojado, veloz e extremamente carismático. Todos gostavam dele. Tempos em que valia a pena acordar cedo e assistir às corridas de F1. Hoje, bem, hoje é melhor dormir até mais tarde...

Hadson Santiago Farias é cruzeirense da velha guarda e saudosista convicto


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