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Ensaio
“CONHECER PARA NÃO REPETIR”: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E EFEITO BORBOLETA NA EPISTEMOLOGIA HISTÓRICA Por Ricardo Cortez Lopes Resumo: há uma frase muito utilizada no campo da história - principalmente em eventos relacionados a Ditadura Militar brasileira - que serve para sintetizar uma de suas relevâncias em termos de disciplina: “Conhecer para não repetir”. Tal definição aponta para uma ideia de que o processo histórico pode ser controlado se for envolvida uma racionalidade em seu devir. Nesse artigo, pretendemos (a) investigar a origem histórica dessa frase, e pensar teoricamente como esta é representativa de uma herança cultural que parte de um pensamento científico de modernidade primeira (b) relevância dessa frase diante dos desenvolvimentos teóricos das representações sociais e da teoria do efeito borboleta, que permitem uma reflexão acerca do tempo histórico, que viabiliza a articulação dos acontecimentos. Pretendemos analisar se, de fato, a História como disciplina encontra uma justificativa nesta frase ou se ela se tornou um clichê de área. Palavras-Chave: Conhecer para não repetir; Representações Sociais; Efeito Borboleta.
Introdução: o “conhecer para não repetir”
A
Em uma pesquisa na internet, a frase “Conhecer
História como disciplina, apesar de consolidada e institucionalizada, enfrenta um grave problema: a sua relevância
como disciplina não-escolar, condição que a coloca como um saber não-cotidiano. Alguns historiadores nem ao menos buscam essa relevância: afirmam que a história serve para divertir aos profissionais que
dela
vivem
(BLOCH,
1997).
Outros
estabelecem, geralmente os da vertente crítica, que é importante conhecer a história para não repeti-la. Sem dúvida, há outros pontos de relevância que são discutidos, mas vamos nos focar na segunda justificativa, dissecando-a de maneira mais profunda.
para não repetir” aparece fortemente associada com o termo “Ditadura Militar”, servindo como slogan para vários eventos científicos que abordam a temática. Uma busca mais aprofundada nos mesmos motores de busca conduz à frase “Um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”, proferida em 1962 por Che Guevara, em local e ocasião que não conseguimos determinar. Essa frase, no entanto, é uma citação de um outro trecho, de língua inglesa: “Those who don't know history are doomed to repeat it.”. A autoria original dessa frase aparece de maneira ambígua: algumas fontes afirmam que esta se trata de Edmund Burke - filósofo conservador, do qual não encontramos a obra da qual essa frase derivaria, assim como um Gnarus Revista de História - VOLUME IX - Nº 9 - SETEMBRO - 2018