Revista Combustíveis & Conveniência Ed.231

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REPORTAGEM DE CAPA

Elevação do percentual de biocombustíveis nos combustíveis fósseis preocupa mercado

ENTREVISTA

Fernando Moura, diretor da ANP

44 • Evolução dos Preços do Etanol

45 • Formação de Preços

46 • Formação de Custos do S10

47 • Ajustes nos preços da Petrobras

48 • Preços de Revenda e Distribuição

n MERCADO

14 • Sicomércio traz debates de destaque para o varejo

n NA PRÁTICA

34 • Troca de bombas exige atenção ao novo regulamento técnico

n CONVENIÊNCIA

40 • Nova Aghora: mais tecnológica

n OPINIÃO

20 • James Thorp Neto

A Fecombustíveis representa nacionalmente 33 sindicatos, defendendo os interesses legítimos de mais de 45 mil postos de serviços, 453 TRRs e cerca de 61 mil revendedores de GLP, além da revenda de lubrificantes.

Nossa missão é acompanhar o mercado de revenda de combustíveis, com a meta de fomentar o desenvolvimento econômico e social do setor, contribuindo assim para melhorar a qualidade de vida da nação.

Presidente: James Thorp Neto

1o Vice-Presidente: Carlos Eduardo Mendes Guimarães Jr.

2o Vice-Presidente: Alfredo Pinheiro Ramos

3o Vice-Presidente: João Carlos Dal’Aqua

4º Vice-Presidente: Mário Luiz P. Melo

5o Vice-Presidente: Manuel Fonseca da Costa

6o Vice-Presidente: Paulo Roberto Correa Tavares

1o Secretário: José Camargo Hernandes

2o Secretário: Wilber Silvano de Souza Filho

3o Secretário: Julio Cezar Zimmermann

1o Tesoureiro: Antônio Cardoso Sales

2o Tesoureiro: João Batista Porto Cursino de Moura

3o Tesoureiro: José de Faro Rollemberg Nascimento

Conselheiro Fiscal Efetivo: Walter Tannus Freitas

Conselheiro Fiscal Efetivo: Adriano Costa Nogueira

Conselheiro Fiscal Efetivo: Márcio Martins de Castro Andrade

Diretoria:

Claudyson Alves, Paulo Fernando da Silva, Luiz

Antônio Amin, José Carlos da Silva, Maxwel Nunes Paula, Rafael Milagres Macedo Pereira, Álvaro Rodrigues Antunes de Faria, Omar Hamad FIlho, Vicente de Sant’Anna Neto, Arildo Persegono Filho, Jefferson Davi de Espindula, Vilson Luiz Pioner, Waldemar Locatelli, José Victor Capelo, Maxwell Flor de Oliveira, Leopoldo Correa

Conselho Editorial:

Marciano Francisco Franco, José Alberto Miranda Cravo Roxo, Mario Melo, Ricardo Hashimoto e José Carmargo Hernandes

Edição: Mônica Serrano (monicaserrano@fecombustiveis.org.br)

Redação: Rosemeire Guidoni (roseguidoni@uol.com.br), Isabela Palmeira

Capa: Alexandre Bersot (Com imagem da iStock)

Publicidade: Fernando Polastro comercial.revista@fecombustiveis.org.br

Telefone: (11) 5081-6681 | 99525-6665

Programação visual: Girasoli

Fecombustíveis

Av. Rio Branco 103/13° andar - Centro-RJCep.: 20.040-004

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Fase de superações

O segundo semestre do ano começou com vários desafios no setor. O primeiro deles trouxe à tona a crise no orçamento da ANP, que iniciou, a partir de 1º de julho, com alguns cortes nos custos de várias atividades, entre elas a suspensão do Programa de Monitoramento da Qualidade dos Combustíveis (PMQC), além da redução da pesquisa de preços de combustíveis, diminuiu as ações de fiscalização, demitiu colaboradores terceirizados, entre outras iniciativas. Para detalhar os impactos das dificuldades financeiras da Agência no segmento, a revista Combustíveis & Conveniência trouxe como destaque da Entrevista do mês o diretor da ANP, Fernando Moura, que apresenta uma visão otimista para superação do período de adversidades.

Já a Reportagem de Capa desta edição aborda os aumentos das misturas do etanol anidro à gasolina para 30% e do biodiesel ao diesel para 15% e os possíveis desdobramentos, tanto do ponto de vista econômico (custos para as distribuidoras), quanto das questões referentes às fraudes de qualidade, principalmente as relacionadas ao biodiesel, e de rendimento do combustível - no caso do etanol anidro, que tem menor poder calorífico do que a gasolina, o que pode aumentar do consumo por quilômetro rodado por litro.

A seção Na Prática traz como abordagem a regra determinada pelo Inmetro, com a Portaria 227/2022, que exige a troca de bombas de combustíveis de todo o país, de acordo com cronograma que se inicia em 2029. A reportagem visa esclarecer e informar o revendedor que ainda não está por dentro do assunto, mostrando as alternativas para que ele possa se programar com antecedência.

Outro destaque desta edição é a cobertura do Sicomércio 2025 (seção Mercado), tradicional evento promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), que reuniu todos os filiados do Sistema Comércio e contou com a participação da Fecombustíveis e de seus sindicatos associados.

A seção Conveniência mostra a recente mudança da Aghora Conveniência, que está sob nova gestão, com foco mais acentuado à tecnologia e Inteligência Artificial, de acordo com o perfil dos novos administradores.

Boa leitura!

Mônica Serrano

Editora

ACRE

SINDICATOS

Sindepac

Delano Lima e Silva Rua Pernambuco nº 599 - Sala 4

Bairro: Bosque Rio Branco-AC Fone: (68) 3226-1500 sindepac@hotmail.com www.sindepac.com.br

ALAGOAS

Sindicombustíveis - AL

James Thorp Neto

Av. Jucá Sampaio, 2247, Barro Duro Salas 93/94 Shopping Miramar Maceió-AL Fone: (82) 3320-2902/1761 scvdpea@uol.com.br www.sindicombustiveis-al.com.br

AMAZONAS

Sindicombustíveis - AM

Eraldo de Souza Teles Filho

Rua Rio Içá, 26 - quadra 35 Conj. Vieiralves Manaus-AM Fone: (92) 3584-3707/3728/99446-2261 sindicombustiveisam@gmail.com

BAHIA

Sindicombustíveis - BA Walter Tannus Freitas

Rua Arthur de Azevedo Machado, 1459. Sala 712

Ed. International Trade Center – ITC

Bairro Stiep Salvador - Bahia

Fone: (71) 3342-9557

Cel. (WatsApp): (71) 99905-9017 sindicombustiveis@sindicombustiveis.com.br www.sindicombustiveis.com.br

DISTRITO FEDERAL

Sindicombustíveis - DF Paulo Roberto Correa Tavares

SHCGN-CR 704/705, Bloco E Entrada 41, 3º andar, sala 301 Brasília-DF Fone: (61) 3274-2849 sindicato@sindicombustiveis-df.com.br www.sindicombustiveis-df.com.br

ESPÍRITO SANTO

Sindipostos - ES

Maxwel Nunes Paula Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 955 / 21º - salas 2101 e 2102

Ed. Global Tower - Enseada do Suá Vitória - ES Fone: (27) 3322-0104 sindipostos@sindipostos-es.com.br www.sindipostos-es.com.br

GOIÁS

Sindiposto

Marcio Martins de Castro Andrade 12ª Avenida, 302 Setor Leste Universitário Goiânia-GO Fone: (62) 3218-1100 sindiposto@sindiposto.com.br www.sindiposto.com.br

MARANHÃO

Sindicombustíveis - MA

Magnólia Rolim Av. dos Holandeses - Ed. Tech Office - sala 226 - 2o andar

Ponta D’Areia - São Luís-MA Fone: (98) 98740-1700 / 98453-7975 gerencia@sindcombustiveis-ma.com.br

MATO GROSSO

Sindipetróleo

Claudyson Alves R. Manoel Leopoldino, 414, Araés Cuiabá-MT Fone: (65) 3621-6623 contato@sindipetroleo.com.br www.sindipetroleo.com.br

MATO GROSSO DO SUL Sinpetro

Waldemar Locatelli

Rua Bariri, 133 Campo Grande-MS Fone: (67) 3325-9988 / 9989 sinpetro@sinpetro.com.br www.sinpetro.com.br

MINAS GERAIS

Minaspetro

Rafael Milagres Macedo Pereira Rua Amoroso Costa, 144 Bairro Santa Lúcia Belo Horizonte-MG Fone: (31) 2108- 6500/ 2108-6530 minaspetro@minaspetro.com.br www.minaspetro.com.br

PARÁ

Sindicombustíveis - PA

José Carlos da Silva Av. Duque de Caxias, 1337

Bairro Marco

Perímetro: Trav. Mariz e Barros/Trav. Timbó

Belém-PA

Fone: (91) 3224-5742/ 3241-4473 secretaria@sindicombustiveis-pa.com.br www.sindicombustiveis-pa.com.br

PARAÍBA

Sindipetro - PB

Omar Aristides Hamad Filho Av. Minas Gerais, 104 Bairro dos Estados João Pessoa-PB Fone: (83) 3221-0762 contato@sindipetropb.com.br www.sindipetropb.com.br

PARANÁ

Paranapetro - PR

Paulo Fernando da Silva

Rua Vinte e Quatro de Maio, 2.522

Curitiba-PR

Fone: (41) 3021-7600

E-mail: paranapetro@paranapetro.org.br

PERNAMBUCO

Sindicombustíveis - PE

Alfredo Pinheiro Ramos

Rua Desembargador Adolfo Ciriaco,15 Prado Recife-PE Fone: (81) 3227-1035 recepcao@sindicombustiveis-pe.org.br www.sindicombustiveis-pe.org.br

PIAUÍ

Sindipostos - PI

Alexandre Cavalcanti Valença Av. Tancredo Neves 8570, Lourival Parente Teresina-PI Fone: (86) 3227-4996 sindipostospi@gmail.com

RIO DE JANEIRO

RJ Postos

Adriano Costa Nogueira Av. Presidente Franklin Roosevelt, 296 São Francisco

Niterói–RJ Fone: (21) 2704-9400 sindestado@sindestado.com.br www.sindestado.com.br

RIO DE JANEIRO - MUNICÍPIO Sindcomb

Manuel Fonseca da Costa Rua Alfredo Pinto, 76 - Tijuca Rio de Janeiro-RJ Fone: (21) 3544-6444 secretaria@sindcomb.org.br www.sindcomb.org.br

RIO GRANDE DO NORTE Sindipostos - RN Maxwell Flor de Oliveira

Rua Monte Sinai, 1920 - Galeria Brito Sl 102 Bairro Capim Macio Natal/RN Fone/whatsapp: (84) 3217-6076 sindipostosrn@sindipostosrn.com.br www.sindipostosrn.com.br

RIO GRANDE DO SUL

Sulpetro

João Carlos Dal’Aqua Rua Cel. Genuíno, 210 - Centro Porto Alegre-RS Fone: (51) 3930-3800 presidencia@sulpetro.org.br www.sulpetro.org.br

RIO GRANDE DO SUL – SERRA GAÚCHA

Sindipetro Serra Gaúcha Vilson Pioner

Rua Ítalo Victor Berssani, 1.134 Caxias do Sul-RS Fone: (54) 3222-0888 sindipetro@sindipetroserra.com.br www.sindipetroserra.com.br

RONDÔNIA

Sindipetro - RO Arildo Persegono Filho Travessa Guaporé, Ed. Rio Madeira, 3º andar, salas 307/308 Porto Velho-RO Fone: (69) 3229-6987 sindipetrorondonia@gmail.com www.sindipetro-ro.com.br

RORAIMA

Sindipostos - RR José Pereira Barbosa Neto Av. Major Williams, 436 - sala 01- São Pedro Boa Vista-RR Fone: (95) 3623-9368/ 99132-2776 sindipostosrr@hotmail.com

SANTA CATARINA

SCPetro

Luiz Antonio Amin

Rua Porto União, 606

Bairro Anita Garibaldi

Joinville-SC Fone: (47) 3433-0932 /0875 sindipetro@sindipetro.com.br www.sindipetro.com.br

SANTA CATARINA - BLUMENAU

Sinpeb

Julio César Zimmermann

Rua Quinze de Novembro, 550/4º andar Blumenau-SC Fone: (47) 3326-4249 sinpeb@gmail.com www.sinpeb.com.br

SANTA CATARINA - FLORIANÓPOLIS

Sindópolis

Vicente Sant’Anna Neto

Av. Presidente Kennedy, 222 - 2º andar

Campinas São José Florianópolis-SC Fone: (48) 3241-3908 sindopolis@sindopolis.com.br

SANTA CATARINA – LITORAL CATARINENSE E REGIÃO

Sincombustíveis

André Heusi Machado

Rua José Ferreira da Silva, 43 1º andar – sala 7 Itajaí-SC Fone: (47) 3241-0321 sincombustiveis@sincombustiveis.com.br www.sincombustiveis.com.br

SÃO PAULO – CAMPINAS

Recap

Emílio Roberto Chierighini Martins

Rua José Augusto César, 233 Jardim Chapadão Campinas-SP Fone: (19) 3284-2450 recap@financeiro.com.br www.recap.com.br

SÃO PAULO - SANTOS

Sindicombustíveis Resan

José Camargo Hernandes

Rua Dr. Manoel Tourinho, 269 Bairro Macuco

Santos-SP

Fone: (13) 3229-3535 secretaria@resan.com.br www.resan.com.br

SERGIPE

Sindpese

Jose de Faro Rollemberg Nascimento

Rua Dep. Euclides Paes Mendonça, 871

Bairro Salgado Filho

Aracaju-SE Fone: (79) 3214-4708 secretaria@sindpese.com.br www.sindpese.com.br

SINDILUB

Adriano Silva

Rua Trípoli, 92, conj. 82 Vila Leopoldina

São Paulo-SP

Fone: (11) 3644-3439/ 3645-2640 sindilub@sindilub.org.br www.sindilub.org.br

TOCANTINS

Sindiposto - TO Wilber Silvano de Sousa Filho

Quadra 303 Sul Av. LO 09 lote 21 salas 4 e 5 Palmas-Tocantins Fone: (63) 3215-5737 sindiposto-to@sindiposto-to.com.br www.sindiposto-to.com.br

TRR

Álvaro Rodrigues Antunes de Faria

Rua Lord Cockrane, 616 8º andar, salas 801/804 e 810

Ipiranga-SP

Fone: (11) 2914-2441 info@sindtrr.com.br www.sindtrr.com.br

Entidade associada

ABRAGÁS (GLP)

José Luiz Rocha Fone: (41) 98897-9797 abragas.presidente@gmail.com

VIROU NOTÍCIA

RenovaBio: ANP divulga lista de inadimplentes

A agência reguladora divulgou, em 21 de julho, uma lista com as distribuidoras que não estão cumprindo as metas de descarbonização estabelecidas pelo RenovaBio. Por estarem inadimplentes com suas metas individuais de aquisição de Créditos de Descarbonização (CBIOs), mesmo após sanção administrativa em primeira instância, estas empresas estão impedidas de comercializarem combustíveis.

Para fins de fiscalização pela ANP, empresas que infringirem a vedação de comercialização com distribuidoras da lista, desde 22 de julho, estão sujeitas à aplicação de multa que poderá variar entre R$ 100 mil e R$ 500 milhões.

Em nota, a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), o Sindicom e a Bioenergia Brasil destacaram que “a previsibilidade regulatória e a atuação firme da ANP são elementos indispensáveis para manter a integridade do RenovaBio. Defender o programa é defender uma política que alia sustentabilidade, segurança jurídica e desenvolvimento econômico”. A divulgação, no entanto, enfrentou controvérsias. Isso porque existem empresas que não estão cumprindo as metas, mas seguem amparadas por liminares, que justificam a “desproporcionalidade” da cobrança. Para o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), que representa as grandes distribuidoras, o fato destas empresas não terem seu nome divulgado na lista de inadimplentes é um erro. “É importante ressaltar que a empresa que não cumpre as metas do RenovaBio tem vantagem competitiva indevida em relação àquelas que atuam corretamente e cumprem suas obrigações”, destaca comunicado de imprensa divulgado pela entidade. Segundo o IBP, em 2024 apenas 77% da meta do RenovaBio foi atendida, o que gera um prejuízo direto aos concorrentes e desequilibra o mercado, configurando concorrência desleal. Dados do Instituto, com base em informações da ANP, indicam que 68 empresas têm processos administrativos instaurados por descumprimento da regra de compra de CBIOs. As multas aplicadas pela ANP chegam a R$ 505 milhões, mas apenas R$ 17 milhões foram quitados ou parcelados, e R$ 85 milhões estão sob liminares.

Petrobras de volta ao varejo?

Quatro anos após a saída da BR Distribuidora, hoje Vibra Energia SA (que pode usar a marca até meados de 2029), surgiram rumores de que a Petrobras estaria avaliando sua presença no setor de varejo. Segundo noticiado, a proposta teria o objetivo de posicionar a Petrobras como uma organização diversificada e integrada na geração de energia, e faria parte do plano estratégico 2026-2030.

A notícia, divulgada por alguns veículos de imprensa, não foi confirmada pela empresa. Em nota oficial, a Petrobras informou que “estuda, no âmbito da construção do planejamento estratégico, que ocorre anualmente, oportunidades de negócios sinérgicos em todos os segmentos de energia. Todos os estudos estão em andamento e, até o momento, não há qualquer decisão tomada pela companhia. A companhia também esclarece que não há nenhum estudo para voltar ao setor de distribuição por meio de um projeto greenfield – ou seja, começando do zero”.

De toda forma, segundo informações da Agência Reuters, a estatal possui uma cláusula de não concorrência com a Vibra até 2029, o que impede qualquer ação no varejo até esta data.

Rogério
Capela

Tarifaço norte-americano

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou, em julho, tarifas de 50% aos produtos brasileiros, que passam a ser cobradas a partir de 7 de agosto. A medida foi assinada em 30 de julho e alguns setores, como o petróleo, ficaram de fora.

O mercado norte-americano é o segundo principal destino das vendas externas do Brasil, atrás apenas da China. Dentre os itens exportados, o petróleo teve a maior participação em receitas nas vendas para os EUA — as exportações brasileiras do produto para o país renderam US$ 5,8 bilhões em 2024, segundo a StoneX. No entanto, no primeiro trimestre deste ano, apenas 4% do petróleo exportado pela Petrobras foi para os EUA.

Vale acrescentar que esse aumento de tarifa é entendido como uma “retaliação” do governo norte-americano a países que, como o Brasil, compram petróleo ou derivados russos.

Também ficaram fora da taxação outros produtos, como suco de laranja, aviões e artigos de uso aeronáutico, minério de ferro, entre outros. O decreto não menciona o etanol, o que indica que o biocombustível está sujeito à taxação. Inclusive, os EUA acusam o Brasil de retroceder em seu compromisso de conceder tratamento praticamente livre de tarifas ao etanol americano.

Impacto no etanol

No caso do etanol, que também está sujeito à nova tarifação, vale explicar que os EUA também pagam imposto ao Brasil quando importam o produto nacional, e Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, defende as atuais tarifas. “As taxas do etanol têm de ser mantidas. Há um equilíbrio na balança comercial hoje entre o Brasil e os Estados Unidos. Se o ponto central fosse esse, nós já estaríamos conversando especificamente sobre ele”, afirmou o ministro. Hoje, 60% do etanol importado pelos EUA é produzido no Brasil. O biocombustível brasileiro é valorizado pelos Estados Unidos, visto que um litro de etanol nacional emite, em média, cerca de 450 a 500 gramas de CO2 equivalente, enquanto um litro de etanol americano pode emitir mais do que o dobro disso.

Segundo informações da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), o importador americano paga, tradicionalmente, 2,5% para comprar o biocombustível brasileiro. Em abril deste ano, Trump impôs uma tarifa de 10% a todos os produtos nacionais, o que fez essa taxa subir para 12,5%. Mas, a partir de agosto, os importadores devem começar a pagar 52,5% pelo bicombustível brasileiro.

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ANP entra em profunda crise

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POR MÔNICA SERRANO

Desde o início deste mês, a ANP adotou um conjunto de medidas emergenciais, em virtude dos cortes orçamentários feitos pelo governo federal. Com a escassez de recursos, a agência reguladora está passando por um de seus piores momentos. O volume financeiro liberado atingiu o menor patamar dos últimos 12 anos, com R$ 105,7 milhões.

Diante desse cenário, a ANP decidiu cortar o Programa de Monitoramento de Qualidade dos Combustíveis (em julho), reduzir a fiscalização, diminuir a amostra do Levantamento Semanal de Preços de Combustíveis (LPC), além de ter reduzido o funcionamento da sede para dois dias da semana, entre várias outras ações.

“Conseguiremos superar os desafios impostos pelo corte orçamentário de 2025, que esperamos que seja contornado em breve”, disse Fernando Moura, diretor da ANP.

Moura fez questão de destacar que a fiscalização da ANP continua operando, apesar das restrições em todo o país. “A Agência já mantém parcerias com diversos órgãos públicos, por meio de convênios e acordos de cooperação técnica. Atuamos

em conjunto com Ministérios Públicos, Procons e secretarias de Fazenda, em diversos estados e municípios brasileiros. Essa atuação conjunta permite a conjugação de esforços entre as diferentes instituições responsáveis pela fiscalização do mercado de combustíveis”, destacou.

Para abordar os impactos da crise da ANP nas ações de fiscalização e nos diferentes setores da Agência, Fernando Moura concedeu entrevista exclusiva à revista Combustíveis & Conveniência. Confira os principais trechos.

Combustíveis & Conveniência: A ANP anunciou medidas de contenção de despesas, que se iniciaram neste mês. Para o downstream, uma das preocupações é a suspensão do Programa de Monitoramento de Qualidade dos Combustíveis (PMQC). Existe previsão desta suspensão se estender por mais de um mês?

Fernando Moura: A ANP está trabalhando para que o PMQC seja retomado o mais rápido possível, devido à sua importância para que a Agência continue cumprindo, de maneira eficaz, sua missão de proteger os direitos dos consumidores de combustíveis. Estamos empenhados em reverter o quadro de restrição orçamentá-

A ANP está trabalhando para que o PMQC seja retomado o mais rápido possível, devido à sua importância para que a Agência continue cumprindo, de maneira eficaz, sua missão de proteger os direitos dos consumidores

zemos 17.341 ações de fiscalização em todo o território nacional. Cerca de 27% dessas ações resultaram em autos de infração, percentual superior ao de 23% registrado em 2023.

Esse resultado positivo foi possível porque estamos aprimorando nossos procedimentos e metodologias para aumentar a efetividade das nossas ações. Estamos confiantes de que, com o nosso quadro técnico especializado e recursos como o Sistema Integrado de Fiscalização do Abastecimento (SIFA), instalado no ano passado, conseguiremos superar os desafios impostos pelo corte orçamentário de 2025, que esperamos que seja contornado em breve.

ria que enfrentamos e manter a previsão de suspensão por 30 dias

C&C: Outra preocupação do mercado é a redução da fiscalização, especialmente neste momento em que o setor tem passado por tantas adversidades com as fraudes de biodiesel. O senhor poderia especificar, ou dimensionar, como se dará a redução da fiscalização, ou de que maneira ela será feita?

FM: No ano passado, quando já enfrentávamos restrições orçamentárias, fi-

C&C: Não haveria possibilidade de a ANP fazer parcerias com outras entidades para manter a fiscalização do setor?

FM: Primeiramente, é importante destacar que não houve suspensão da fiscalização da ANP, que continua operando, com restrições, em todo o país.

A ANP já mantém parcerias com diversos órgãos públicos, por meio de convênios e acordos de cooperação técnica. Atuamos em conjunto com Ministérios Públicos, Procons e secretarias de Fazenda, em diversos estados e municípios bra-

sileiros. Essa atuação conjunta permite a conjugação de esforços entre as diferentes instituições responsáveis pela fiscalização do mercado de combustíveis.

Um exemplo de parceria bem-sucedida é a participação da Agência, desde 2024 e prosseguindo em 2025, em operações para combater o garimpo ilegal na Amazônia legal, integrando forças-tarefas nas ações de Desintrusão de Terras Indígenas Yanomami, Kayapó e Munduruku, coordenadas pela Casa Civil da Presidência da República.

C&C: Quais são as outras áreas mais prejudicadas com a contenção de despesas e qual será o impacto no mercado de combustíveis?

FM: A ANP vem divulgando os impactos que os cortes orçamentários trazem às suas atividades. E eles atingem, de alguma forma, a Agência inteira. Mas, o mais importante, neste momento, é reforçar que a diretoria da ANP está atuante, para que, o mais rápido possível, esse quadro de restrições seja superado.

C&C: Os agentes do setor de downstream também estão bastante apreensivos com o aumento do teor de etanol anidro na gasolina, para 30%, e de biodiesel ao diesel, pa-

ra 15%, a partir de agosto. Neste momento em que o setor demanda mais fiscalização, como a Agência pretende atuar para o combate às fraudes?

FM: Reforço que estamos aperfeiçoando os instrumentos que permitem tornar a nossa fiscalização ainda mais eficiente. O SIFA, que eu já havia mencionado, inovou ao empregar a engenharia de dados para integrar, tratar, transformar e confrontar os diversos vetores de inteligência utilizados pela Agência e gerar relatórios automáticos, com base nas prioridades definidas pela fiscalização em determinado momento.

Com essa nova metodologia, a taxa de identificação de não conformidades de qualidade nas ações de fiscalização em revendas aumentou em aproximadamente 40% em 2024, na comparação com 2023. E isso ocorreu em um cenário de redução de quase 30% no orçamento da Agência no ano passado. Acredito que, neste ano, continuaremos encontrando formas de fazer um trabalho de qualidade na fiscalização do mercado de combustíveis.

C&C: A ANP realizou algumas mudanças nas especificações de qualidade do diesel e também de obrigato-

riedade sobre o monitoramento dos tanques e limpeza pela revenda. O senhor poderia comentar se as mudanças contribuíram para minimizar os problemas de qualidade? Já existem resultados que confirmam isso?

FM: A Seção IV da Resolução ANP n° 968/2024, que editou as especificações do diesel rodoviário, foi uma inovação do texto regulatório bastante elogiada pelo mercado e que tornou obrigatório o controle e monitoramento da limpeza e eventual contaminação do produto nos tanques de armazenamento por parte dos agentes econômicos. A mesma medida foi adotada na revisão das especificações do biodiesel, na Resolução ANP n° 920/2023. As novas medidas ainda estão sendo monitoradas e analisadas, utilizando as ferramentas disponíveis, seja o PMQC, o PMQBio e a fiscalização regular. De todo modo, a percepção até o momento e o retorno que temos recebido dos agentes é de que houve melhoria na qualidade dos combustíveis do ciclo diesel, desde a edição das duas novas regras.

C&C: O aumento do teor do biodiesel para 15% pode trazer impactos

para a qualidade do diesel? Como se dará a proteção ao consumidor?

FM: A decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de introduzir o B15 na matriz veicular brasileira foi embasada em um processo técnico robusto, coordenado pelo Ministério de Minas e Energia (MME). Os testes com o E30 foram conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia, com participação ativa de fabricantes de veículos, importadores e representantes da indústria automotiva. Os resultados, apresentados em março deste ano pelo MME, atestaram a segurança e a viabilidade técnica das novas misturas, permitindo a adoção imediata, sem impactos negativos para os veículos ou para os consumidores.

C&C: A ANP divulgou, em maio, a agenda regulatória para este ano. Com a redução das despesas, como a Agência vai priorizar os temas? O que deverá ser encaminhado e o que deverá ficar para depois?

FM: Não estamos prevendo impactos na execução das ações da agenda regulatória da ANP, em virtude dos cortes orçamentários. Seguimos comprometidos com os processos regulatórios e cronogramas divulgados na agenda.

No ano passado, quando já enfrentávamos restrições orçamentárias, fizemos 17.341 ações de fiscalização em todo o território nacional. Cerca de 27% dessas ações resultaram em autos de infração, percentual superior ao de 23% registrado em 2023

C&C: As mudanças no marco regulatório do GLP deverão ser encaminhadas?

FM: A Diretoria da ANP aprovou, em 10/7, o texto final do Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) relativo à revisão do marco regulatório da distribuição e revenda de gás liquefeito de petróleo (GLP), previsto nas resoluções ANP nº 957 e nº 958, ambas de 2023. O texto aprovado é resultado da Consulta Prévia nº 3/2024

Durante o período de consulta prévia, foram recebidas 247 contribuições, enviadas

por 58 entes (desde agentes do mercado regulado a organizações não governamentais). Todas foram avaliadas e originaram um relatório de análise das contribuições, que também foi apreciado pela Diretoria.

A partir dessa aprovação do relatório, será elaborada a minuta de nova resolução, que passará por consulta e audiência públicas.

C&C: Em relação à Medida Reparadora de Conduta, a ANP teria uma previsão sobre quando deverá ser divulgada a nova resolução?

FM: A ANP realizou, este ano, quatro workshops para debater a revisão da Resolução nº 688/2017, relativa a medidas reparadoras de conduta (MRC). Estamos conduzindo, de forma criteriosa, essa atualização, devido tanto à evolução do marco regulatório do downstream nos últimos anos, quanto ao desenvolvimento de ferramentas tecnológicas relativas ao abastecimento de combustíveis.

Atualmente, o processo está em fase de análise das sugestões recebidas durante os workshops e elaboração do Relatório de AIR.

A previsão é de que a nova resolução passe ainda este ano por um período de consulta pública e por audiência, com publicação prevista até dezembro de 2025. n

Sicomércio traz debates de destaque para o varejo

Evento tradicional promovido pela CNC a cada dois anos, comemorou 80 anos da entidade, abordou assuntos relevantes, como Inteligência Artificial e as mudanças do mercado de trabalho, para Federações e sindicatos laborais do comércio

POR MÔNICA SERRANO

Com 1.600 participantes oriundos de todos os estados do país, o Sicomércio 2025 foi mais um evento de sucesso, promovido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O encontro de integração dos participantes do Sistema Comércio, en-

volvendo Federações, sindicatos patronais, Sesc e Senac de todo o país, contou com debates e conteúdos diversos, entre os dias 9 e 11 de julho, em Brasília (DF).

A Fecombustíveis marcou presença no evento com o presidente James Thorp Neto e alguns presidentes de seus sindicatos filiados. “É muito importante partici-

Divulgação CNC
José Roberto Tadros, presidente da CNC, durante a cerimônia de abertura do evento, em Brasília

par desse evento. Nos encontramos com lideranças de todo o país, temos acesso aos assuntos que permeiam os nossos negócios, recebemos orientações para o dia a dia dos sindicatos patronais, com apoio da CNC. Cada vez que o Sicomércio acontece, ele se supera. É imperdível”, disse.

Na abertura do evento, José Roberto Tadros, presidente da CNC, destacou a comemoração dos 80 anos da Confederação, que recebeu uma celebração especial, com apresentação artística.

“Vivemos um momento especial, no ano em que a CNC completa 80 anos a serviço do país. Temos motivos para reafirmar o valor de nossa missão, representar, defender e fortalecer um dos setores mais estratégicos para a economia nacional e para a promoção de empregos”, destacou.

Promover um ambiente de crescimento e desenvolvimento de negócios, disse Tadros, “exige das empresas planejamento, ação, coordenação e, acima de tudo, união. Além de todos esses fatores, as nossas empresas têm que dar lucro. Lamentavelmente, a história do Brasil tem ojeriza ao lucro, embora seja o progresso dos povos e isso já foi provado à sociedade. Lucro não é pecado”, enfatizou. Tadros falou para uma plateia lotada, de empresários a colaboradores do Siste-

ma Comércio, enaltecendo a importância do evento: “empresários, dirigentes sindicais, técnicos, autoridades, parceiros e colaboradores. Este é um espaço para aprendermos uns com os outros, interagindo, para inovarmos juntos e para planejarmos os próximos passos com responsabilidade e visão de futuro”, finalizou.

Também participaram da abertura Antônio Florêncio de Queiroz Filho, vice-presidente administrativo da CNC, e Celina Leão, governadora em exercício do Distrito Federal.

IA NO VAREJO

Um dos temas que marcaram o Sicomércio deste ano foram as aplicações da Inteligência Artificial (IA), tanto nos negócios, como no cotidiano dos sindicatos. A palestra Inovação no Varejo foi uma delas, com os executivos Kael Lourenço, diretor de Marketplace do Magalu, Fernanda Mariano, diretora de novos negócios da TOTVs, Augusto Lins, sócio-fundador da Stone, e Maurício Ogawa, diretor de economia da CNC.

Lins iniciou o painel abordando a importância da inovação para se manter de forma sustentável no negócio. Segundo ele, as mudanças estão acontecendo no mercado de consumo, com novos perfis de clientes e de comportamento, espe-

cialmente com a geração Z, que valoriza personalização e velocidade na hora da compra. “Temos que adaptar nossas empresas e trazermos experiências inovadoras para ajudar o mercado de varejo nas vendas, além de gerir melhor o negócio, com objetivo de crescer”, disse ele, citando que a Inteligência Artificial veio para ficar e faz parte dessa nova rotina tecnológica empresarial.

A inovação também chegou na forma de vender e distribuir os produtos. A Magalu, por exemplo, tem hoje no modelo de marketplace, com os diversos parceiros de vendas do e-commerce, quase 30% das vendas totais, segundo Lourenço. Ele chamou a atenção para a oportunidade que as empresas têm, com a diversificação de vendas pelo modelo do e-commerce, por meio de parcerias. “Acho que é uma vantagem importante estar dentro de um marketplace. Uma loja física está condicionada a atender um determinado raio e quando entra em uma plataforma com maior alcance, existe a possibilidade de atuar nacionalmente, ampliando a quantidade de clientes”, disse.

Independentemente do tipo de negócio, Fernanda, da TOTVs, abordou a necessidade de aumentar as vendas e destacou a ampliação da carteira de clientes e da comunicação da empresa com seu consumidor, por

meio da tecnologia. “Hoje, mais de 80% da população faz compras online e as pessoas pesquisam antes de comprar. É preciso olhar para a importância de se ter uma presença no meio digital. Se a sua marca não está presente no digital, você deixa de ser uma opção de compra. Ampliar a carteira de clientes vai além do físico. O mercado mudou e a forma de se relacionar também”, disse ela, citando as novas gerações, que têm novo comportamento com relação aos mercados de consumo.

Por fim, ela abordou o relacionamento com o cliente via WhatsApp, uma das ferramentas que vêm sendo utilizadas para vender mais. “E aí entra a Inteligência Artificial, para conseguir automatizar e ter um atendimento personalizado, que é o que os clientes buscam, fazendo toda uma jornada e levando à melhor experiência, que é o que ele busca hoje. Independente do canal, vende mais quem leva uma experiência única para o seu cliente”, destacou.

IA NOS SINDICATOS

A Inteligência Artificial foi abordada por diferentes aspectos durante o Sicomércio. O painel “IA aplicada na Atuação Sindical” foi apresentado por Elifas Nogueira, editor e fundador do da Kreativ Marketing. Ele mostrou como a IA passou a fazer par-

te do dia a dia das pessoas, de sindicatos e empresas, traçando um paralelo entre a chegada da internet, nos anos 90, quando havia medo da tecnologia. “Estamos vivendo a mesma coisa, uma disrupção. E hoje, quem vive sem internet? Então, temos que entender que a IA não é vilã e chegou para fazer essa diferença”, observou.

E a diferença, segundo ele, está na simplificação das tarefas e na economia de tempo. Nogueira mostrou as evoluções da IA e as diversas ferramentas disponíveis, como o Gemini, do Google, o famoso ChatGPT, Adapta, MidJourney, entre outras.

GERAÇÃO Z E SUAS

PARTICULARIDADES

De forma bem-humorada e chamando a atenção da plateia para participar da palestra, Dado Schnneider, palestrante e especialista em novas gerações, abordou o modo como a geração

Z, que nasceu na era da internet, está mudando o paradigma do comportamento. Eles têm mais expectativa de vida e buscam experiências que se refletem nos padrões de consumo. Eles podem buscar uma vivência de trabalho fora do país, ou passar por uma mudança de vida, como o casamento, mas se a experiência não for bem-su-

cedida, eles voltam sem constrangimento para a casa dos pais.

Este cenário de mudanças, desde o comportamento de consumo da geração

Z ao mercado de trabalho, tem sido pauta nas discussões do mercado corporativo.

DESAFIOS DO MERCADO DE TRABALHO E SINDICATOS

Celso Pastore, professor e consultor de empresas, avalia a questão do mercado de trabalho sob o aspecto da Previdência Social, que hoje tem um déficit de R$ 417 bilhões por ano, que deverá se complicar com o passar do tempo. “Com a população tra-

Fecombustíveis marcou presença com o presidente James Thorp Neto e demais presidentes de seus sindicatos filiados

Divulgação Raízen
Divulgação

balhando menos (envelhecimento e aposentadoria), com menos jovens no mercado de trabalho (população reduzida), daqui para frente, a tendência é que tenha que se trabalhar mais, até morrer”, disse.

Segundo ele, há quem aposte que a falta de jovens não terá tanto impacto, pois as tecnologias vão resolver essa questão, com a automação de tarefas. “A Inteligência Artificial vai até ensinar novas habilidades, mas a transferência do trabalho do ser humano para a máquina não é trivial”, disse. “Ela exige que as pessoas tenham uma preparação para um novo tipo e ritmo de trabalho, para as novas tecnologias”, complementou.

Sobre a geração Z, Pastore destaca que a grande maioria dos jovens não pretende se submeter a carteira assinada. “Eles querem empreender e sonham com um trabalho sem horário, sem pressão de chefe e sem pressão de metas das empresas”. Outro aspecto que também causará impacto à previdência é que esses jovens não pagam a Previdência Social.

Atualmente, cerca de 25% da força de trabalho no Brasil, atua por conta própria. Na maioria dos casos há um vínculo com a Previdência Social, mas há aqueles que nada recolhem, geralmente da nova geração. “Esses jovens vão envelhecer também, vão

ficar doentes e vão precisar de Previdência, mas não há contribuição nenhuma. Imagina o que vai ser do dia de amanhã? Portanto, demografia e tecnologia interferem muito nas pautas de reivindicação dos empregados”, disse.

Esses fatos também refletem na inserção desse jovem nos sindicatos. “Há um desafio enorme para os sindicatos conquistarem a simpatia dessa geração”, destacou.

Outro desafio para os sindicatos é a desindustrialização e aumento do setor do comércio e serviços. A terceirização também tem ajudado a dificultar o trabalho do sindicato. “Quando o empregado é terceirizado, pode mudar de categoria ao trabalhar em outra empresa. E há o quê? Há uma dispersão de categorias. Isso dificulta a ação do sindicato”, disse.

Outro aspecto que agrava a situação dos sindicatos, de acordo com Pastore, são as tecnologias. “Tem vários estudos na Europa principalmente, mostrando que a robotização, a inteligência e outros tipos de inovações atrapalham a sindicalização”.

Segundo dados divulgados pelo palestrante, no Brasil, a sindicalização caiu de 16% em 2012 para 8% em 2023 e a tendência é reduzir cada vez mais.

Porém, a notícia boa é que os sindicatos que têm um segmento com grandes con-

centrações e profissões homogêneas tendem a prosperar. No Brasil, se destacam serviços públicos, petroleiros, bancários, metalúrgicos e outros que praticam um processo de negociação bastante ativo, organizado e atuante, de acordo com o professor.

No quadro atual, o que existe: de um lado, os jovens que não querem saber de sindicatos, e do outro, alguns sindicatos que estão bem fortes. “Com a chegada das assembleias virtuais desses sindicatos fortes, está aumentando a participação dos empregados. Eles acompanham online os novos temas”, comentou.

Pastore abordou diversos temas que estão em pauta nas questões trabalhistas, como os fatores psicossociais, a proposta da PEC que pretende abolir a jornada 6x1, entre outras, o que trará um intenso trabalho para os sindicatos patronais.

“Os sindicatos deverão ter uma preparação cada vez mais eclética e mais abrangente para poderem enfrentar esses novos pleitos das organizações sindicais. As negociações coletivas são uma solução para muitos problemas trabalhistas. Assim, cada vez mais precisamos profissionalizar e capacitar os negociadores coletivos do lado patronal”, finalizou. n

Kael Lourenço, diretor de Marketplace do Magalu, apresenta as vantagens do e-commerce, com as possibilidades de aumento de vendas pelo canal digital

Preocupação com fraudes aumenta

Passamos por fortes emoções no mês de julho. Vou iniciar minha análise citando a nossa principal preocupação com relação às fraudes do setor, pois ficamos descobertos com a falta do Programa de Monitoramento de Qualidade dos Combustíveis (PMQC) da ANP, suspenso por um mês.

Além da interrupção do PMQC, a agência reguladora também anunciou a redução das fiscalizações, como forma de contenção das despesas. Desde que os problemas com as irregularidades ganharam mais extensão, os agentes regulados do setor estão numa intensa batalha para minimizar as fraudes, e o PMQC, para nós, sempre foi um divisor de águas, por fazer parte da inteligência Agência que atua em conjunto com a fiscalização. Como é de conhecimento de todos que atuam profissionalmente ou acompanham o mercado, nosso setor é altamente visado pelo crime organizado e por agentes que se aproveitam de brechas para obter lucros ilícitos.

Nos solidarizamos com a ANP e lamentamos profundamente a crise pela qual passa a autarquia. Esse problema afeta não só os agentes do setor, mas a sociedade como um todo.

No entanto, o cenário começou a mudar, para o alívio de todos, no último dia do mês (31/07), quando a ANP divulgou um comunicado informando que voltaria com o PMQC, a partir de 1º de agosto. Outra boa notícia foi a liberação de recursos pelo governo federal de R$ 27,7 milhões para a ANP também no final deste mês.

No âmbito do combate às fraudes, destaco outra iniciativa importante da ANP para controlar um problema antigo do setor, com a de-

cisão de suspender, cautelarmente, os dispositivos da Resolução ANP nº 852/2021 sobre atividade de formulação de gasolina e óleo diesel. De acordo com a nota divulgada pela Agência (24/07), esta decisão fará parte da agenda regulatória para o biênio 2025/2026, para rever a autorização de empresas que produzem os combustíveis a partir de uma mistura mecânica de hidrocarbonetos, visando, principalmente, evitar riscos de fraudes e garantir a proteção dos consumidores em relação a preço, qualidade e oferta dos produtos.

A Fecombustíveis parabeniza a ANP pela decisão, pois a iniciativa pode contribuir para fechar a janela de oportunidades para atuação de empresas de índole duvidosa, que utilizam produtos importados, com custo baixo para confeccionar gasolina, trazendo competição desleal e produto fraudado, prejudicando o consumidor e o mercado como um todo.

Para o início de agosto, mesmo com a melhora do quadro financeiro da ANP, devemos nos manter atentos e cuidadosos com os aumentos de etanol anidro (E30) adicionado à gasolina e de biodiesel (B15) ao diesel. Não é incomum nos depararmos com a comercialização de diesel com pouco ou quase nenhuma mistura de biodiesel. Como os postos não conseguem detectar o teor de biodiesel na hora do recebimento do produto, devemos nos precaver com a amostra-testemunha. Também recomendo a todos que façam os testes no recebimento da gasolina. Se o etanol anidro estiver fora dos parâmetros exigidos pela ANP, devolvam o produto para a distribuidora. Confiram a recomendação da Agência para os postos no site da Fecombustíveis com os novos aumentos.

OPINIÃO James Thorp Neto | Presidente da Fecombustíveis

AGENDA

Agosto

Revenda Conectada

Data: 13

Local: Palmares (PE)

Realização: Sindicombustíveis-PE

Informações: (81) 3227-1035

7º Encontro de Revendedores de Combustíveis do Município do Rio de Janeiro

Data: 14

Local: Rio de Janeiro (RJ)

Realização: Sindcomb

Informações: (21) 3544-6444

Encontro dos Revendedores de Combustíveis do Centro-Oeste

Data: 28 e 29

Local: Brasília (DF)

Realização: Sindicombustíveis - DF e demais sindicatos da região Centro-Oeste

Informações: (61) 3274-2849

IV Workshop

Data: 29

Local: São Luís (MA)

Realização: Sindicombustíveis – MA

Informações: (98) 98740-1700 / 98453-7975

Setembro

ExpoPetro 2025

Data: 25 e 26

Local: Porto Alegre (RS)

Realização: Sulpetro e demais sindicatos da região Sul

Informações: (51) 3930-3800

Outubro

Congresso Minaspetro

Data: 02 e 03

Local: Belo Horizonte (MG)

Realização Minaspetro

Informações: (31) 2108- 6500

Elevação do percentual de biocombustíveis nos combustíveis fósseis preocupa mercado

Introdução do E30 e do B15, a partir de 1º de agosto, traz impactos ao setor de combustíveis, como a questão dos preços (que não devem se reduzir) e o maior risco de ocorrência de fraudes

POR ROSEMEIRE GUIDONI

O preço da gasolina C para a distribuidora (e não para o consumidor final) tem a possibilidade de cair até R$ 0,02 por litro, com o aumento do etanol anidro para 30%

Apartir de 1º de agosto, a gasolina C passa a ter 30% de etanol anidro (E30), e o óleo diesel B terá adição de 15% de biodiesel (B15). A mudança nos teores dos biocombustíveis foi aprovada no final de junho pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), como parte das estratégias para redução do uso de combustíveis fósseis na mobilidade, seguindo as determinações da Lei do Combustível do Futuro (14.993/24).

O objetivo da medida, especialmente no caso do E30, conforme divulgação do governo, foi também conter a pressão dos preços dos combustíveis, já que parte do produto fóssil será substituída pelo renovável, o que poderá reduzir a necessidade de importação. Conforme dados da consultoria Argus, o aumento do teor de etanol pode reduzir as importações de gasolina A em, aproximadamente, 125 mil m³ mensais, volume que equivale a quase três navios de categoria MR (medium range).

Em função desta perspectiva de diminuição da importação do derivado fóssil, em diversos comunicados oficiais o governo federal destacou que a elevação do teor de anidro na gasolina, que passa dos atuais 27% para 30%, poderia levar à redução de até R$ 0,11 por litro, no preço fi-

nal da gasolina C. No entanto, existem diversos fatores que podem interferir nessa conta, desde o preço do etanol, que oscila conforme a safra da cana de açúcar, até os custos incidentes na cadeia de comercialização de combustíveis (como tributos, logística e armazenamento, além das margens de cada um dos elos da cadeia).

Com o aumento do etanol anidro para 30%, o preço da gasolina C, na distribuidora (e não para o consumidor final) tem a possibilidade de cair até e R$ 0,02 por litro (veja tabela detalhada na página 24). Este valor não contém custos de frete de coleta/ entrega, margens ou outros valores decorrentes dos créditos de descarbonização (CBIOs). A conta considerou o preço médio nacional da gasolina

A nas refinarias da Petrobras e a cotação Cepea/ Esalq do etanol anidro.

Já no caso do aumento do teor de biodiesel, há potencial de aumento médio de R$ 0,02 para o óleo diesel, considerando os dados oficiais, como o preço do diesel A S10 na Petrobras (média nacional) e o preço médio nacional do B100, desconsiderando, também, custos de frete de coleta/ entrega, margens e CBIOs.

A análise do impacto da mistura sobre os preços é compartilhada pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). Segundo Ana

SIMULAÇÃO DO IMPACTO CUSTO NA DISTRIBUIDORA - GASOLINA C ==> ALTERANDO MISTURA ETANOL ANIDRO DE 27 PARA

E30 Gasolina A (Refinaria) - Preço Médio Brasil -

(1)

Anidro (Usina) - Cotação Cepea/Esalq - Base SP (2)

do Custo GASOLINA C na distribuidora (sem fretes de coleta/entrega, margens e CBIOs)

do Custo DIESEL B S10 na distribuidora (sem fretes de coleta/entrega, margens e CBIOs)

Notas: (1) https://precos.petrobras.com.br/ (2) https://www.cepea.org.br/br/indicador/etanol.aspx

Bright Consulting avalia que a elevação do teor de biodiesel no diesel pode intensificar problemas como formação de borras e depósitos para os motores de veículos

Mandelli, diretora-executiva de downstream do instituto, existe uma tendência de estabilidade de preços, com “pequeno incremento”, a depender dos custos do etanol anidro e da própria gasolina A. “Não há, efetivamente, o que se imaginar de redução de preço, apesar de o governo ter usado premissas futuras considerando que o etanol baixaria de preço. O IBP não fez projeções, mas, com os dados atuais, não podemos esperar que haja uma queda de preços para o consumidor final”, afirmou.

Além disso, até mesmo a redução de importações ainda é um tanto controversa. De acordo com Murilo Briganti, diretor de Operações da Bright Consulting, empresa especializada no setor automotivo, o etanol possui menor poder calorífico do que a gasolina, ou seja, ele gera menos energia por litro consumido. “Isso significa que quanto maior o teor de etanol, mais combustí-

vel precisa ser queimado para gerar a mesma potência. Dessa forma, o consumo do veículo aumenta ligeiramente com a maior proporção de etanol anidro. Alguns estudos já apontam que para 1p.p. (ponto percentual) a mais de etanol anidro, o consumo tende a aumentar 0,4%. Assim, um aumento de 27% para 30% geraria elevação de cerca de 1,2% no consumo”, afirmou.

RESOLUÇÕES NÃO FORAM ATUALIZADAS

Outra questão que preocupa o mercado é que, apesar de as mudanças terem sido estabelecidas pelo CNPE na última semana de junho, até o fechamento desta edição, um mês depois, a ANP ainda não havia atualizado as Resoluções ANP nºs 807/2020 (gasolina) e 968/2024 (óleo diesel), que estabelecem os parâmetros obrigatórios para esses combustíveis.

Claudio
Ferreira

Abastecimento com novo teor E30 poderá causar aumento do consumo da gasolina, pois o etanol possui menor poder calorífico, o que demanda mais gasto de combustível por litro

No caso da gasolina, a Resolução 807/2020 foi colocada em consulta pública, pelo prazo de cinco dias, em 24 de julho. De acordo com a própria ANP, este período foi definido em função da proximidade da data de introdução do E30. As mudanças propostas incluem a elevação da octanagem da gasolina C, de 93 para 94, e critérios para garantir a qualidade da gasolina A (sem a mistura de biocombustível), que deverá ter uma massa mínima de 688,9 kg/m³. Também foi aprovada a dispensa da análise de impacto regulatório, por se tratar de ato normativo destinado a disciplinar direitos

e obrigações de norma superior, no caso, a Lei do Combustível do Futuro.

Mesmo com essa perspectiva de atualização, a Fecombustíveis considera que o tema representa um ponto de atenção para o mercado, uma vez que os novos teores serão alvo de fiscalização nos postos revendedores a partir de 1º de agosto, sem que exista um texto legal para nortear a ação dos agentes.

“É fundamental que a ANP altere a norma, como comumente ocorre em outras revisões de mudança de parâmetros de conformidade dos produtos, concedendo, inclusive, diretrizes claras e prazos plausíveis para o período de transição dos no-

Agência Brasil

vos índices pretendidos para a gasolina e diesel, antes de qualquer cobrança perante o mercado de revenda de combustíveis”, destacou a entidade em ofício encaminhado à agência reguladora, em 17 de julho. Cabe ressaltar que o setor não se opõe ao aumento de percentual dos biocombustíveis na mistura com a gasolina e o diesel, mas considera importante que exista uma norma estabelecida para nortear a fiscalização. Uma das preocupações é justamente o período de introdução dos combustíveis com novo teor, uma vez que em 1º de agosto os postos podem ter produtos armazenados com teores distintos dos estabelecidos pelo CNPE. “O que não se pode conceber é que os postos revendedores de todo o país, que continuarão sendo fiscalizados, sejam autuados enquanto sequer esgotaram seus estoques, adquiridos na constância dos parâmetros anteriores”, reforça o ofício.

Na avaliação da Fecombustíveis, seria necessário um prazo mínimo de 90 dias para a adaptação e escoamento dos estoques antigos, trazendo segurança não somente à revenda, mas, também, aos consumidores.

ANP RESPONDE

Em resposta à Fecombustíveis, a ANP divulgou as orientações à revenda via ofício, em 31 de julho. No caso do teor de biodiesel, que

é um parâmetro que não pode ser detectado pelo posto revendedor, no recebimento do produto, a fiscalização seguirá as regras já estabelecidas na Resolução ANP 968/2024 - Art. 25, que determina que, em caso de mudanças na especificação do diesel B, a aplicação de autuação por não conformidade para a revenda na região Norte será após 60 dias, e no restante do país após 30 dias.

Já em relação à gasolina C, a orientação da Agência é de que postos e TRRs não

aceitem o recebimento de produtos que estejam com percentual de etanol anidro diferente de 30%. A regra vale para gasolina comum e aditivada.

Caso, ao realizar o teste no ato de recebimento, o posto constate que o produto não atende ao novo percentual de mistura, além de não receber o combustível, o revendedor deve comunicar à ANP, via ouvidoria ou Fala.BR (plataforma integrada de Ouvidoria e acesso à informação da Controladoria-Geral da União), informando o tipo de combustível, data de ocorrência, número e data de emissão da nota fiscal e o CNPJ do emitente da nota fiscal.

A ANP informou que está orientando seus agentes de fiscalização e dos órgãos conveniados a não aplicar medida cautelar de interdição ou lavrar auto de infração, com percentual de etanol anidro entre 26% e 31%, nas fiscalizações realizadas em revendas de combustíveis e em TRRs em todo o país até 30 de agosto.

RISCO DE FRAUDES AUMENTA

Outro ponto que preocupa o mercado é a possibilidade de aumento do risco de fraudes, especialmente com o biodiesel, segmento em que algumas irregularidades já haviam sido identificadas recentemente. De acordo com o Instituto Com-

bustível Legal (ICL), “a medida, embora represente um avanço no uso de fontes renováveis, acende um sinal de alerta para a necessidade urgente de reforçar os mecanismos de controle e fiscalização da qualidade dos combustíveis”.

Segundo o Instituto, nos últimos meses, o setor tem verificado casos contínuos de adulteração, e tal cenário se agrava diante das restrições orçamentárias que limitam a atuação da agência reguladora. Quanto ao PMQC, Fernando Moura, diretor da ANP, disse que a entidade “está trabalhando para que seja retomado o mais breve possível”, (o que aconteceu no mês de agosto). (Veja mais na seção Entrevista desta edição).

“Expandir o uso de biocombustíveis sem garantir a integridade do produto e a fiscalização das misturas é abrir espaço para fraudes, perdas ambientais e prejuízos aos consumidores”, disse Emerson Kapaz, presidente do ICL. Em sua avaliação, o biodiesel, por ter valor mais elevado do que o diesel fóssil, é um alvo frequente de adulterações, especialmente em contextos de baixa vigilância.

O IBP também reforça a mesma preocupação. “O aumento dos teores da mistura dos biocombustíveis exigirá um acompanhamento técnico mais rigoroso, com

maior capacidade de fiscalização, monitoramento da qualidade dos combustíveis e garantia de segurança ao consumidor final”, informou o órgão, em nota à imprensa.

“Podem acontecer fraudes ou outros problemas não intencionais, especialmente envolvendo o biodiesel”, afirmou Ana Mandelli. Em sua avaliação, o aumento de teor de anidro pode trazer questões ligadas à qualidade do combustível, mas a elevação do biodiesel está relacionada ao maior risco de irregularidades.

“De toda forma, a cada aumento que a gente tem de biocombustível no combus-

tível, existe a necessidade de ter mais fiscalização, porque é natural que todo esse mercado irregular, que infelizmente ganhou a dimensão que tem hoje, vai tentar se aproveitar de oportunidades para ganhos ilícitos”, ressaltou. “A suspensão do PMQC foi outro problema. Já tivemos uma experiência no passado e vimos que os resultados pioraram”, completou a diretora do IBP.

“Neste momento de aumento das misturas, quando o setor mais precisa de fiscalização, a ANP está enfrentando uma de suas piores crises, reduzindo a

fiscalização. Todo o segmento tem buscado alternativas de combate às fraudes do biodiesel ao diesel e não houve contenção. Com o aumento da mistura, abrem-se brechas para as facções criminosas se aproveitarem do momento de fragilidade da ANP. Quem mais sofre as consequências é a revenda, com a competição desleal e o desequilíbrio do mercado”, disse James Thorp Neto, presidente da Fecombustíveis.

A ANP reforçou que a fiscalização se manterá atuante, por meio do uso do Sistema Integrado de Fiscalização do Abastecimento (SIFA), instalado no ano passado, que usa tecnologia e recursos de inteligência para identificar riscos e orientar a ação dos agentes. “Estamos confiantes de que, com o nosso quadro técnico especializado e recursos de inteligência, conseguiremos superar os desafios impostos pelo corte orçamentário de 2025”, disse Moura, da Agência. Para alento do setor, a ANP anunciou, em 31 de julho, que o PMQC retornaria às atividades em 1º de agosto, devido ao descontingenciamento de parte do orçamento das agências reguladoras federais, incluindo a ANP, com a publicação do Decreto nº 12.566, de 30 de julho de 2025.

QUALIDADE DO B15 É PONTO DE ATENÇÃO

Além do risco de irregularidades, a própria qualidade do óleo diesel B, com o aumento da mistura, é motivo de preocupação. Briganti, da Bright, confirma que a elevação do teor de biodiesel no diesel pode intensificar problemas como formação de borras e depósitos, trazendo riscos reais para motores, linhas de combustível, filtros e bombas. “O biodiesel é higroscópico, ou seja, absorve água do ambiente, favorecendo a formação de resíduos que ficam no fundo do tanque e entopem filtros, bicos injetores e bombas. Embora o incremento do biodiesel seja positivo do ponto de vista ambiental, a experiência mostra que a formação de borras e depósitos é um risco real e pode sair caro para o usuário”, pontuou.

Segundo o consultor, esse problema tende a ser mais grave nos veículos a diesel mais antigos, mas não se restringe a eles. “Toda a frota pode ser impactada, em especial quando exposta a condições propícias à degradação do biodiesel, como tempo de armazenamento, umidade e baixa rotação de uso”, alertou, mencionando que os postos de combustíveis que armazenam o produto estão também sujeitos ao mesmo problema. Ana, do IBP, no entanto, comentou que após o aprimoramento da norma de qualidade do biodiesel, os problemas relacionados

ao diesel B se reduziram. “É claro que é fundamental que essas melhores práticas de manuseio e utilização do biodiesel sejam aplicadas. O produto tem características físico-químicas diferentes do diesel, então ele precisa de um cuidado diferenciado, com drenagem mais frequente, e inspeção desse produto que é drenado, para ver se não tem nenhum tipo de oxidação ou uma formação de borra ali dentro do tanque, para que a gente consiga manter a qualidade do produto que vai para o consumidor”, recomendou.

DESAFIOS DO E30

No caso da gasolina C, o maior desafio, com o aumento do percentual de anidro, é do ponto de vista logístico. Isso porque o etanol tem fluxos logísticos bem diferentes dos da gasolina, sendo que seu transporte é majoritariamente rodoviário, o que traz, segundo o IBP, uma complexidade maior. “Teremos maior movimentação de caminhões dentro das bases, trazendo a necessidade de fazer essas contratações e de refazer efetivamente toda essa logística”, explicou Ana, destacando que as distribuidoras estão fazendo esses ajustes desde o anúncio da mudança, em junho. Em relação à qualidade da gasolina C, a partir da elevação do teor de anidro, Ana também reforça a importância da atualização da Resolução de qualidade, por parte

da ANP. “O etanol aumenta a octanagem da gasolina, mas é necessário que seja feita uma correção na especificação”, alertou. Briganti, da Bright, explicou que o etanol tem uma octanagem de cerca de 108 RON. Quando adicionado à gasolina A, que geralmente tem cerca de 92 RON, ele eleva a octanagem da mistura final (gasolina C). “Em princípio, a mudança será pouco perceptível para a frota de veículos flex, mas será sentida por veículos movidos exclusivamente a gasolina”, afirmou. “A mudança pode representar riscos reais para veículos mais antigos ou importados, principalmente em relação a consumo, corrosão e funcionamento em baixas temperaturas. Além disso, pode ocorrer formação de depósitos ou prédetonação, desgaste prematuro em peças não resistentes ao etanol (mangueiras, juntas, válvulas)”.

Segundo ele, as motocicletas são o segmento veicular que demanda mais atenção com essa mudança de percentual. “Ainda existe uma grande parcela de motos com motor carburado, e esse tipo de tecnologia tem pouca flexibilidade para adaptar a mistura ar/combustível frente a mudanças no teor de etanol. Além disso, borrachas, plásticos e metais menos nobres podem deteriorar mais rapidamente com maior teor de etanol”, informou. n

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Troca de bombas exige atenção ao novo regulamento técnico

A partir de 2029, de acordo com a Portaria 227/2022 do Inmetro, o cronograma para substituição de bombas de combustíveis, que devem atender aos requisitos no novo regulamento técnico, tem início. Mas, e quem está comprando novos equipamentos hoje, já deve fazer a aquisição dos produtos atualizados?

ROSEMEIRE GUIDONI

As fraudes metrológicas (conhecidas popularmente como bomba fraudada ou “bomba baixa”) levaram à necessidade de desenvolvimento das chamadas bombas “antifraude”, com siste-

mas de criptografia, que impedem que as informações sejam burladas. O regulamento técnico metrológico (RTM), estabelecido pela Portaria 227/2022 do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia

(Inmetro), define os critérios de segurança para os novos dispositivos, bem como os prazos de obrigatoriedade para que tais equipamentos sejam instalados pelos postos.

O prazo estabelecido para a substituição começa em 2029, para bombas que tenham sido fabricadas até 2004. Dispositivos com ano de fabricação mais recente (entre 2019 e 2028) terão prazo maior para serem substituídos: até 2038. Confira na tabela abaixo o cronograma de troca completo.

Ano fabricação da bomba de combustível

Ano da última verificação

2019 até 2028 2038 de 2016 até 2018 2035 de 2012 até 2015 2034 de 2008 até 2011 2033 de 2005 até 2007 2031 até 2004 2029

* Fonte: Portaria Inmetro 516, de 10/11/2023

Apesar de o cronograma permitir que equipamentos mais recentes (fabricados entre 2019 e 2028) sejam substituídos até 2038, o tema já vem trazendo preocupação à revenda, pois tanto o Inmetro quanto os Institutos de Pesos e Medidas (Ipems) vêm divulgando informes em que destacam a confiabilidade dos novos equipamentos em detrimento daqueles com tecnologia anterior. Com isso, os consumidores podem passar a acreditar que os estabelecimentos que têm bombas não adequadas ao novo RTM, mesmo que estejam dentro do prazo estabelecido para substituição, apresentam maior risco de fraude — o que não necessariamente é verdade, já que a irregularidade depende da idoneidade

do proprietário do estabelecimento e não somente da atualização de seus equipamentos.

Exemplo disso é a iniciativa do Ipem de São Paulo que, em abril deste ano, criou o Painel de Postos com Bombas Certificadas e Mais Seguras, no qual o consumidor pode acessar o site www.ipem.sp.gov.br/bombasegura, inserir a cidade e identificar qual posto de combustíveis já tem a nova bomba medidora antifraudes. Apesar de o combate às fraudes ser apoiado de forma irrestrita por todo o setor, a ideia de que “somente o posto seguro tem as bombas antifraude” pode induzir o consumidor a erro. E isso faz com que a revenda sinta a necessidade de ter os equipamentos em conformidade com o novo RTM, mesmo que ainda não exista a obrigatoriedade e seus dispositivos estejam dentro dos padrões permitidos pela legislação atual.

TROCA DE EQUIPAMENTOS

Além da preocupação com ideias equivocadas por parte dos consumidores, o mercado também enxerga como ponto de atenção o fato de que muitos revendedores não estão atentos às datas para a substituição de equipamentos e o prazo de validade dos mesmos. Quem está fazendo uma reforma, hoje, ou construindo um novo posto, pode erroneamente comprar dispositivos desatualizados, perto do final de sua vida útil. “Por isso, é importante que todo o mercado esteja atento ao cronograma de substituição das bombas”, alertou Paulo Fernando da Silva, presidente do Paranapetro.

Segundo ele, os principais players do setor já têm equipamentos adequados ao novo RTM, embora seu custo ainda seja superior. “No caso das bombas da Wayne, a diferença entre um dispositivo sem o novo RTM

e o atualizado é de cerca de 15%. Já em relação à Gilbarco, cujo modelo teve aprovação recente, ainda não temos este parâmetro. A Wertco só está comercializando bombas atualizadas ao RTM atual, então não há como comparar com modelos com tecnologia anterior”, explicou.

Consultada pela Combustíveis & Conveniência, a Gilbarco Veeder-Root informou que a expectativa é de que as novas bombas tenham um incremento de preço da ordem de 20% a 30%. O valor pode variar, a depender do modelo e de sua configuração.

Essa diferenciação de preços pode ser um fator que leva o revendedor a não adquirir os dispositivos com o novo RTM, mesmo tendo consciência do prazo para a substituição. Porém, o presidente do Paranapetro recomenda que os empresários do setor estudem seu fluxo de caixa e, preferencialmente, optem pelas bombas já criptografadas, em conformidade com o novo RTM. Em sua avaliação, a tendência é de que, quando o mercado deixar de manter a aprovação dos dois RTM (o atual e o anterior, ainda válido), a diferença de preços fique entre 5% a 7%, no máximo.

“Talvez o Brasil seja o único país a ter, hoje, dois regulamentos metrológicos de aprovação de bombas, o que é um absurdo. Por que aconteceu isso? Ocorreu porque quando o RTM 227/2022 deveria entrar em vigor, com as alterações de bombas, havia apenas um fabricante homologado, a Wayne. Dois meses depois, a Wertco conseguiu a homologação, mas a Gilbarco só conseguiu homologar e aprovar o projeto agora, em 2025. Então, em 2023, que era o prazo para a entrada em vigor, apenas a Wayne tinha homologação”, explicou Silva.

Outra justificativa, segundo ele, foi o fato de que o Inmetro não havia ainda feito um software de acordo com o que é exigido pela Portaria 227/2022.

“Esse sistema deve enviar, para o consumidor, via aplicativo, informações sobre o quanto está sendo abastecido. Ou seja, as mesmas informações do display da bomba serão recebidas pelo consumidor, por meio do app, de forma que os clientes possam acompanhar o abastecimento em tempo real e ter certeza das informações das bombas”, esclareceu.

Silva reforça que a grande vantagem das bombas adequadas ao RTM 227 é o fato de serem muito mais difíceis de fraudar. “Segundo pesquisas, um hacker 100% dedicado a quebrar chaves criptográficas, atuando 24 horas, levaria de dez a 15 anos para conseguir quebrar uma criptografia. Mas, nesse período, devem ocorrer outras evoluções em cibersegurança, o que acabaria com a atratividade da fraude neste segmento, por parte do criminoso”, apontou.

RTM ATUAL PREVÊ ATUALIZAÇÃO DOS DISPOSITIVOS, MAS EXIGE CAUTELA

Apesar da preocupação, Cláudio Mota, gerente sênior de produto para a América Latina da Gilbarco Veeder-Root, lembra que o prazo para a substituição das bombas se inicia em 2029 somente para equipamentos cuja fabricação seja anterior a 2004. “Portanto, embora o prazo de 2029 seja mais próximo para algumas bombas, a transição é gradual e se estende até 2038 (depende do ano da fabricação da bomba), permitindo que os revendedores planejem seus investimentos com antecedência”, destacou.

Além disso, segundo ele, os equipamentos adequados ao regulamento anterior ao RTM 227/2022 podem passar por um upgrade, garantindo a adequação. “Nossas soluções foram desenvolvidas pensando na possibilidade de atualização”, revelou.

“O modelo Prime S da Gilbarco VeederRoot, lançado em 2022, já contava com recursos de segurança aumentados, incluindo assinatura digital das informações do pulser, antes mesmo de qualquer exigência do Inmetro. Essa é uma demonstração de nosso compromisso em ir além das normas vigentes para garantir a segurança e a credibilidade. Todos os modelos da linha Prime, produzidos a partir de junho/julho de 2022, estão preparados para receber um kit retrofit”, garantiu Mota.

De acordo com ele, esse kit permite a substituição dos componentes eletrônicos essenciais para a conformidade com o RTM, sem a necessidade de grandes modificações estruturais na bomba. Isso ocorre porque esses modelos já possuem a caixa de ligação ou espaço adequado para recebê-la, o que simplifica e barateia o processo de adequação.

“Isso significa que revendedores que investiram nesses modelos mais recentes da Gilbarco Veeder-Root terão uma transição muito mais suave e econômica para o novo RTM, evitando a necessidade de trocar toda a bomba em um curto espaço de tempo”, afirmou.

UPGRADE PRECISA SER APROVADO PELO INMETRO

A Wayne, que foi a empresa pioneira a ter o RTM aprovado, em 2023, também destaca que o upgrade das bombas será possível e,

inclusive, está previsto no novo regulamento. A grande preocupação, no entanto, reside no fato de que essa seria uma iniciativa inédita no mercado, a qual demanda cautela. Além de a atualização precisar ser aprovada pelo Inmetro, ainda é necessário que seja feita pela mesma empresa que produziu o dispositivo e é responsável por sua criptografia — por exemplo, se por alguma razão econômica o fornecedor sair do mercado, a atualização não será possível.

“Embora a portaria permita a adaptação de bombas antigas, esse processo só poderá ser realizado pelo fabricante original, envolve nova

certificação e tende a ser complexo e oneroso — exigindo a substituição de diversos componentes, tempo de parada e altos custos operacionais. Além disso, há o risco de que, no futuro, o fabricante responsável não esteja mais no mercado, inviabilizando a conversão”, ressaltou Flávio Werneck, gerente sênior de Marketing e Produto da Wayne. Assim, segundo ele, os revendedores devem investir em bombas compatíveis com o novo RTM. “É como comparar a compra de um carro com e sem ar-condicionado: instalar o item depois é possível, mas envolve muito mais complicações e custo do que adquirir um modelo já com o recurso de fábrica”, exemplificou.

A perspectiva de upgrade da bomba, na avaliação de Silva, é uma questão que merece cuidado, pois não há estimativa de custos para esta atualização. Além de ser algo novo no setor, a ação demandaria aprovações por parte do Inmetro, as quais podem ser demoradas. “Acredito ser pouco provável que algum fabricante faça essa atualização, pois poderá ser inviável do ponto de vista econômico”, ponderou.

Diante disso, a revenda que está pensando em trocar as bombas deve estar ciente de que os equipamentos adequados ao novo RTM já estão disponíveis no mercado, embora o prazo de obrigatoriedade comece somente a partir de 2029 e segue um cronograma que se estende até 2038. Porém se antecipar a compra, hoje (2025), por um modelo que não tem o novo RTM, quando chegar o momento de trocar as bombas (2038) ou fazer o upgrade - cujo custo ainda não é conhecidoé provável ter que arcar com novas despesas. A decisão fica a critério do revendedor, conforme seu planejamento financeiro.

EM CASO DE TROCA, QUAL O DESTINO DAS BOMBAS ATUAIS?

Essa também é uma grande preocupação do setor, uma vez que existe um mercado irregular que, em tese, poderia absorver os equipamentos substituídos. Porém, também cabe ao empresário da revenda ter ciência da destinação dos dispositivos e responsabilidade pelo seu descarte adequado — lembrando que isso também é uma forma de garantir a regularidade do segmento.

Das bombas antigas, poucas peças podem ser aproveitadas: bicos, mangueiras e motores (se estiverem em bom estado). “O restante vai tudo para descarte, pois painel de preço e outros componentes são diferentes nos novos modelos. As novas são todas criptografadas”, ressaltou Silva.

De toda forma, a decisão de reformar ou retirar de uso depende de viabilidade técnica e econômica, além da conformidade com as regulamentações locais de descarte. “A Portaria 227/2022 permite a reforma de bombas para adequação, mas exige que a solicitação e a recertificação sejam feitas pelo fabricante titular da Portaria de Aprovação de Modelo original”, acrescentou Mota.

Diante destas incertezas, para Silva, a revenda deveria defender um prazo final para a possibilidade de lacrar bombas com o RTM antigo, e a partir daí somente com RTM novo, conforme a Portaria 227/2022. “Isso facilitaria algumas coisas: a vida do revendedor e, também, o mercado de fabricantes de bombas, que com certeza iria se adaptar, no que tange aos preços dos novos dispositivos. Talvez os fabricantes não chegassem aos preços das bombas antigas, mas em um valor intermediário, muito mais próximo das anti-

gas do que hoje se pratica. Além disso, o fim da possibilidade de lacrar bombas no RTM antigo também ajudaria muito no combate às fraudes”, destacou.

Atualmente, a estimativa é de que existam cerca de 200 mil dispositivos sem o novo RTM em operação. A substituição de todo o parque de bombas não é tarefa simples, nem muito menos, barata, exigindo planejamento por parte do revendedor e, também, a oferta de linhas de crédito adequadas para que o setor possa atender às novas normas, beneficiando não apenas o setor, mas, também, o consumidor. n

Qual a diferença das bombas com o novo RTM e os modelos com fabricação anterior? Sistemas de Recuperação de Vapores

Jorge Leffa, diretor industrial da Wertco, explica que as bombas que cumprem os requisitos da Portaria 227/22 possuem vários mecanismos tecnológicos, que basicamente impedem que os dados de medição sejam modificados. Ou seja, elas detectam esta tentativa e bloqueiam a operação da bomba. “Ao detectar qualquer anormalidade que caracterize uma tentativa de fraude, um registro de auditoria é gravado. A memória desse registro é inviolável, e pode ser lida por um app do Inmetro via bluetooth, reportando o histórico da bomba e permitindo a avaliação de situações suspeitas”, informou.

Dentre as mudanças, Leffa cita que as principais são a inserção de um módulo seguro nos transdutores da bomba, o pulser, que tem a finalidade armazenar um certificado digital (OM-BR) e gerar uma assinatura para cada abastecimento, garantindo autenticidade aos valores que são mostrados no display da bomba. Além disso, os

Vale lembrar que a Portaria 427/2021, do Ministério do Trabalho e Previdência, estabelece que as bombas de gasolina tenham Sistemas de Recuperação de Vapores, como forma de prevenção ao risco do benzeno, a partir de 1o de janeiro de 2029. O cronograma de implantação desta regra segue o mesmo calendário da Portaria 227/2022, conforme a data de fabricação do equipamento, sendo um pleito da Fecombustíveis atendido na ocasião.

transdutores das novas bombas possuem um mecanismo para detectar inviolabilidade física e lógica. Os displays das bombas devem validar a assinatura digital dos transdutores, para sinalizar que os dados da venda são autênticos.

Outro detalhe é que foi integrada uma interface sem fio, padrão bluetooth, para o próprio consumidor validar os valores da venda de forma segura, evidenciando circuitos falsos que poderiam estar no mercado. Para garantir que o software de controle não seja modificado, foi implementado um teste da integridade.

De acordo com Leffa, apesar de estar distante o prazo para dar início à troca de equipamentos, a transição do mercado para as novas bombas já está acontecendo sem impacto para a operação dos postos. “Já temos instaladas mais de 3 mil bombas no país e não tivemos situações de reclamações devido aos novos procedimentos de segurança”, disse.

Nova Aghora: mais tecnológica

Gestores mantêm o licenciamento de marca, oferecem custos mais acessíveis para adesão, implementando novas soluções em TI, automação e Inteligência Artificial

Com aproximadamente 22 anos de existência, a Aghora Conveniência está sob nova gestão e tem como proposta investir em tecnologia de ponta para otimizar processos, garan-

tir melhorias operacionais e aumentar as vendas por meio do modelo de licenciamento de marca. Os novos gestores prometem redução de custo de 20% aos licenciados com as lojas de conveniência.

POR ISABELA PALMEIRA
Com 20 lojas no país, a meta da nova administração é encerrar o ano com 60 unidades

No mercado desde 2003, a Aghora já passou por algumas mudanças. Em 2018, a Associação Brasileira de Entidades de Classes Representativas da Revenda de Combustíveis começou a operar o direito de uso da marca. No final de 2024, a empresa foi adquirida por um grupo que já atua no setor de postos de combustíveis, à frente da GlobalTera, que oferece soluções em TI, automação e Inteligência Artificial.

“Em janeiro, começamos a gestão. Transferimos a sede para o Rio de Janeiro e estruturamos o plano de expansão da marca. Nós temos 12 anos de experiência em tecnologia e operação de postos de combustíveis e lojas de conveniência, com a GlobalTera.

A Aghora veio para somar e expandir nossa experiência. Estamos aplicando, nas lojas licenciadas, toda a tecnologia já desenvolvida e ferramentas de Inteligência Artificial”, explicou um dos sócios, Bruno Moreira.

A empresa tem, hoje, 20 lojas no Brasil. No primeiro ano da nova gestão, a expectativa é ampliar a marca para lojas independentes, que já existem. “Mudamos todo visual da loja, damos treinamentos para o licenciado e funcionários, implantamos tecnologia de ponta e acompanhamos o negócio de perto. O objetivo é fechar 2025 com 60 unidades”, disse.

Segundo Moreira, o modelo de negócio tem investimento 30% menor que a média de mercado, com payback (retorno do investimento) de 18 meses. “Além disso, trabalhamos para garantir uma redução no custo de operação, negociando com os fornecedores para diminuir o preço dos produtos, damos treinamento operacional para minimizar as perdas de mercadorias, fazemos uso de IA para zerar furtos no salão das lojas, temos parceria com a TaxGroup para diminuir a carga tributária e oferecemos redução na taxa de licenciamento no primeiro ano de operação, para R$1.500,00. Após os primeiros 12 meses cobramos 4% por mês sobre o faturamento bruto. Todos esses processos são refletidos em números. Nossos licenciados têm, em média, 15% de lucro líquido” explicou.

INOVAÇÃO COM FERRAMENTAS

TECNOLÓGICAS E FLEXIBILIDADE

Com uso de Inteligência Artificial são gerados relatórios de comportamento dos clientes, detalhando questões como sua movimentação na loja, o perfil demográfico (como idade, gênero e outras características), refinando a entrega do serviço. “Temos licenciados que chegam a 10%

CONVENIÊNCIA

de aumento das vendas nas lojas só com acesso aos relatórios e as adequações necessárias nos serviços e oferta de produtos”, afirmou Moreira.

Sobre os avanços tecnológicos, a empresa está apostando no conceito de loja checkout free ou autoatendimento. Moreira conheceu o sistema na NRF (National Retail Federation), maior feira de tecnologia para o varejo, que acontece todos os anos no mês de janeiro em Nova York, nos Estados Unidos.

No checkout free , a loja funciona, de forma autônoma, com poucos funcionários, contando apenas com repositor de produtos e SGA, para garantir que não faltem itens nas gôndolas e as lojas estejam sempre limpas e bem cuidadas. Nesse modelo, o cliente entra na loja ao aproximar o aplicativo ou o cartão de crédito na porta e ela se abre, e dentro da loja ele consome ou pega os produtos à vontade. Quando sai da loja, tudo que ele consumiu é cobrado no cartão de crédito. Com a retirada dos caixas na loja, a área de venda aumenta.

Moreira e seu sócio Bruno Lyra, especialista em TI, estão em negociação com uma empresa americana há dez meses e vão em agosto para Houston, nos Estados Unidos, assinar o contrato.

Os empresários vão visitar lojas com o novo sistema, que funcionam em Miami e Houston, para esclarecer dúvidas de operação e otimizar o processo de implementação. Eles têm planos de expansão do modelo para 30 lojas no Brasil, sendo que algumas serão próprias e outras no modelo de licenciamento.

“Em setembro, abriremos a primeira loja no Rio de Janeiro, provavelmente na Barra da Tijuca. Com o sistema de checkout free , conseguiremos diminuir a quantidade de funcionários na loja.

Este sistema opera em todos os estados americanos, em mais de 1.000 pontos de venda, inclusive em locais de grande circulação, como eventos, estádios de futebol e basquete”, disse Moreira, lembrando que já funciona uma loja desse modelo, como projeto-piloto, há seis meses nas dependências da Aghora, no Rio de Janeiro.

PASSO A PASSO DO NEGÓCIO E PLANOS DE EXPANSÃO

Do momento em que o cliente assina com a Aghora Conveniência até a loja montada e operando, são dois meses de trabalho. Inicialmente, é feita uma visita técnica, o engenheiro e o arquiteto fazem uma avaliação do espaço. Alguns dias de-

Além do modelo tradicional de loja, será disponibilizada a opção de loja autônoma, no formato checkout free, com pagamento por cartão de crédito

pois o projeto para construção e adaptações é apresentado, com o planejamento do balcão, o caixa e a descrição do interior da loja. Caso o cliente aprove o projeto, a empresa dá seguimento à produção dos materiais, letreiro, módulos, entre outros. “Damos treinamento do nosso sistema, controle de estoque, na operação da loja e na operação do caixa. Até o final deste

mês iremos inaugurar sete lojas, entre Rio de Janeiro e Juiz de Fora”, apontou.

Moreira ressalta que um dos pontos fortes da empresa é a flexibilidade com seus licenciados, que os procuram para sugerir ideias, alterar processos ou incluir produtos novos. A empresa testa o que foi trazido, verifica o investimento necessário e implementa conforme a região. n

TABELAS

TABELAS

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL (Centro-Sul)

Período São Paulo Goiás ANIDRO 30/06/2025 - 04/07/2025 3,000 2,860

Período São Paulo Goiás

- 11/07/2025 2,960 2,848

Variação 30/06/202501/08/2025 0,0% -0,7%

Variação julho de 2025 x julho de 2024

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL ANIDRO (em R$/L)

Variação 30/06/202501/08/2025 0,7% 1,2%

Variação julho de 2025 x julho de 2024

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DO ETANOL HIDRATADO (em R$/L)

Fonte: CEPEA/Esalq

Nota 1: Sem Pis/Cofins produtor (R$ 0,1309) Nota 2: Preço para vendas interestaduais.

FORMAÇÃO DE PREÇOS

Convênio ICMS 127/2024 (Gasolina) e 126/2024 (Diesel) - Referência 01/08/2025

TABELAS

FORMAÇÃO DE PREÇOS

Nota (1): Corresponde ao preço da usina/produtor sem acréscimo do PIS/COFINS, incluso frete

Nota (2): Decreto 8395, de 28/01/2015, para Gasolina e o Decreto 9391/2018 para o Diesel - Alíquota reduzida a zero

Nota (3): Decreto 9101, de 20/07/2017, para Gasolina e a Lei 10.865/2004 para o Diesel

Nota (4): Base de cálculo do ICMS = Ad rem (Gasolina - Convênio ICMS 127/2024- e Diesel - Convênio ICMS 126/2024)

Nota (5): Média ponderada considerando o volume comercializado no ano de 2023

Nota (6): Lei 11.116/2005

Não inclui frete de entrega e CBIOs

Obs: preços com base nas Tabelas Petrobras (refinarias) de 06/05/2025 para Óleo Diesel e 03/06/2025 para Gasolina - ICMS Base -Convênio ICMS 127/2024 (Gasolina) e Convênio ICMS 126/2024 (Diesel)

Preços para o Estado da Bahia (S.Fco do Conde, Candeias, Jequié e Itabuna - Refinaria Acelen) - ref. 31/07/2025 e para Região Norte (Refinaria REAM)ref.25/07/2025 e Rio Grande do Norte (Guamaré - BRAVA) - ref. 31/07/2025

Esta planilha é elaborada com os dados públicos e oficiais previamente divulgados ao mercado pela Petrobras, Governo Federal e Governos Estaduais e pelo CEPEA/ESALQ.

Utilizamos as tabelas públicas fornecidas pela Petrobras (Refinarias), a composição de tributos divulgada pelo Governo Federal e pelo CONFAZ (Ato Cotepe), além dos custos dos biocombustíveis (Fonte: Biodiesel = ANP e Etanol Anidro = Cepea/Esalq).

A Fecombustíveis se isenta de quaisquer erros nos dados fornecidos pelas fontes acima citadas e ressalta que esta planilha se destina exclusivamente a colaborar com a transparência do mercado e com a efetivação da competitividade do setor.

AJUSTES NOS PREÇOS DA PETROBRAS

Fonte: Petrobras

Nota: As tabelas e informações sobre a composição de preços estão disponíveis no site da empresa, seção Nossas Atividades/ Preços de Vendas de Combustíveis (https://petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/precos-de-venda-de-combustiveis/)

TABELAS

PREÇOS DE REVENDA E DISTRIBUIÇÃO DE COMBUSTÍVEIS

Período: 01/01/2021 à 20/07/2025 - (Preço Médio Brasil)*

Gasolina comum:

Óleo Diesel S10:

Etanol Hidratado comum:

Obs:

1 - A partir de 17/08/2020 os dados de distribuição de etanol hidratado NÃO contemplam a parcela de ICMS/Substituição

2 - Desde a semana iniciada em 23/08/2020 os preços de distribuição são informados pelas distribuidoras à ANP através do SIMP

Fonte: ANP – Painel Dinâmico de Preços de Combustíveis e Derivados do Petróleo, em 01/08/2025

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