MATÉRIA-PRIMA 4

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178 Ertel, Tatiane (2014) “Desenhar-se professor de Artes Visuais multifacetado: professor-artista-propositor como forma de estímulo ao desenvolvimento da imaginação no espaço escolar.”

Rubem Alves (2005), cheia de coisas inúteis, à escola, possibilitou viajarmos para lugares longínquos, sem, no entanto, precisarmos gastar dinheiro, nem pegar avião; e, ainda possibilitou transformar uma caixa de chá, num poderoso veneno, sem, no entanto, ferir nem prejudicar ninguém; possibilitou que parássemos para olhar nosso ponto de encontro com outros olhos, descobrindo o que já existia, mas não era visto; possibilitou sentir medo ao tocar o que não se podia ver; transportar-se para outros tempos e espaços, alguns já vividos e então relembrados, como ao sentir o aroma e o sabor de uma bala doce ou azeda e perceber-se sendo transportada(o) para áreas remotas da memória, a infância; compartilhar saberes, pontos de vista e experiências distintas; sentir sensações agradáveis, outras não, mas que nos tocaram, nos aconteceram, mexeram com algo dentro de nós. Enfim, foram muitas possibilidades e haveria muitas mais a se desbravar e a contar em outro espaço maior. Ensinar é uma prática desafiante, permeada por expectativas, desejos, medos e incertezas. Pois nem sempre tudo ocorre como é planejado. O artista que é professor, ou o professor que incorpora ao seu modo de professorar uma postura criadora, alerta e curiosa, consegue estar atento para possíveis desvios no caminho traçado — o projeto de ensino — e mesmo assim, em vez de ignorá-los, consegue inseri-los na rota à medida que são significativos para aquele momento. E é nesse ponto que a sensibilidade do artista-professor se mostra importante pelo fato de ter em si interiorizado o saber. A consciência de que tais desvios são consequências de algo que não está sob controle total; e, esse “descontrole” é o que permite, também, novas construções, não lineares, de conhecimento. Nesse sentido, pode-se fazer uma analogia entre o fazer de um artista — sua obra — que por sua vez não acaba em si, mas transcende-se pelas provocações que ela incita no espectador, ampliando-se; e o trabalho do professor — seu projeto pedagógico — que também não é fechado em si, não tem autocontrole, uma vez que existem diversos fatores que contribuem para isso. Segundo Martins (2005), é necessário reconhecer que em todos os campos do conhecimento existe o inesperado, o fato novo que traz a desordem e um novo processo de reorganização por meio da criação. A atuação do professor deveria ser tão criadora quanto à atuação do artista. Tanto para não cairmos numa rotina estafante, quanto para surpreendermos os alunos e transformarmos as aulas em momentos agradáveis, de modo a repercutir neles uma impressão, sentimento e sensação potente em relação ao seu estar no espaço escolar — normalmente visto por eles como um espaço/ momento entediante, sem nenhum potencial de criação ou de transformação. Desta forma, ao desenhar-me professora-artista e também propositora,


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