MATÉRIA-PRIMA 2

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229 Revista Matéria-Prima, Práticas Artísticas no Ensino Básico e Secundário. ISSN 2182-9756, e-ISSN 2182-9829. Vol. 1 (2): 228-236.

discentes do curso de Artes Visuais possam vivenciar práticas educativas, a partir da atuação direta na comunidade. Inicialmente propomos um curso com ênfase no desenho, justificamos a escolha a partir da concepção ampliada que temos dessa linguagem; abrangendo a expressividade da arte, a investigação científica, a experimentação com materiais e técnicas, a valoração dos indivíduos e da cultura. Essa linha atravessa a poética, alcança o funcional, circunda o sensível e o inteligível, inventa e expande o conhecimento. Nessa perspetiva o desenho metodológico foi sendo construído, de forma colaborativa, isso implicou em observações, sondagens, reconhecimento de dinâmicas, repertórios, condicionantes e expectativas. Diante da precariedade constatada, da baixa autoestima, da vulnerabilidade de uns e da agressividade de outros, percebemos que nossa prática deveria se embasar no acolhimento, resgatar o lúdico, compartilhar diferenças e promover o reencantamento de mundo. Buscamos o apoio e a fundamentação nos estudos de Marli Meira e Silvia Pillotto pelas reflexões em torno da arte e do afeto, delineando o desenvolvimento emocional e suas repercussões no processo educacional; os estudos de Duarte Junior acerca das relações estabelecidas entre educação do corpo e dos sentimentos através da arte. Edith Derdyk e Rosa Iavelberg comparecem com suas investigações a respeito do grafismo infantil, conceitos, práticas e processos do desenho; e ainda, Miriam Celeste Martins pela conceção de arte como propulsora do conhecimento, sugerindo a expedição como estratégia de ensino. Experienciando é uma invenção nossa, remete a algo que está acontecendo, é vivência. Assim nos lançamos nessa aventura. Entre acertos e equívocos, replanejamentos e imprevistos, destacamos o investimento no lúdico, no rearranjo do espaço escolar, mudamos, recriamos, fomos para o pátio, ganhamos a rua e exploramos a cidade. Nesses primeiros anos, a noção de expedição proposta por Martins se revelou a estratégia mais acertada, visitamos lugares desconhecidos e redescobrimos as proximidades. As saídas exploratórias pelo bairro permitiram observar o entorno, com um olhar diferenciado, mais atento, percebendo detalhes, fachadas de casas de prédios públicos, postes e fiação elétrica, desenhos da natureza e de animais. Aquilo que parece conhecido por ser óbvio e fazer parte do cotidiano, revela-se rico de novidades. Os passeios rendem desdobramentos em ações que instigam a perceção do espaço e suas relações com o ser humano, o reconhecimento de elementos gráficos presentes nas construções, a identificação do patrimônio arquitetônico, grafites e cartazes, as pessoas na rua e os seus ritmos diferenciados. Enfim, é uma experiência que oportuniza a perceção ampliada, que ativa todos os sentidos da criança na apreensão dos estímulos oferecidos: sonoros, visuais, táteis e olfativos. Reconhecemos a rua como um lugar legítimo e potente para criação artística e educação dos sentidos (figura 1).


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