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de uma ilha a outra: passaram das ilhas do Arquipélago dos Açores a uma nova ilha brasileira, que só recebeu maior número de habitantes passados os anos 1960 com o asfaltamento da rodovia principal (Furlan apud Cascaes, 2012).

Franklin Cascaes nasceu em Itaguaçu, praia hoje pertencente ao município de Florianópolis. Era um jovem tímido e religioso quando teve seu talento descoberto pelo diretor da Escola de Aprendizes e Artífices de Santa Catarina. Convidado a estudar, venceu a resistência do pai, que preferia ter o filho ajudando no campo e na pesca. Recuperou o atraso dos estudos até se tornar professor da Escola de Aprendizes. Mal sabia seu pai que o que Franklin faria para a tradição de sua gente seria muito mais que ajudar na mão-de-obra. Enquanto a cidade tentava se modernizar, Cascaes percorreu o caminho inverso, em busca do passado e da tradição secular que começava a entrar no seu ocaso. Retornou ao mundo rural, onde já tinha passagem e conhecia os caminhos, com o propósito de preservar e detalhar as estórias transmitidas oralmente nas comunidades pesqueiras que frequentava. De forma solitária e persistente, participou de rodas de contos, trabalhando incansavelmente para dar forma a relatos típicos açorianos com desenhos em nanquim e figuras em argila. Tive a felicidade de ser um dos primeiros a penetrar no interior da Ilha de Santa Catarina, antes mesmo de terem lá chegado os massivos meios de comunicação. Em alguns lugares não havia instalação elétrica, nem estradas, o que fazia com que as comunidades vivessem um mundo próprio, longe das influências dos centros urbanos, permitindo que suas vivências e manifestações se mantivessem livres de alterações provocadas por agentes externos (Cascaes, 2013).

Sua pesquisa resultou em mais de 1.500 desenhos e centenas de anotações, além de recortes de jornais, cadernos e esculturas temáticas que representam figuras, ferramentas e maquetes. Vinte e quatro narrativas escritas por Franklin Cascaes entre 1946 e 1975 foram reunidas em livro (ver Cascaes, 2012), com relatos orais transmitidos diretamente a ele por nativos da ilha. Quase 50% das narrativas consta de diálogos e testemunhos entre falantes açoriano-catarinenses pouco ou nada escolarizados. De forma detalhada, Cascaes registrou costumes, crenças, tradições e características populares referentes à vida dos colonos que habitaram a Ilha de Santa Catarina. Sua obra plástica e literária são inigualáveis. São uma das maiores contribuições para o resgate e preservação da identidade cultural ilhoa. Seu critério para conservar essas estórias inclui uma imitação fonético-gramatical da maneira

Revista Croma, Estudos Artísticos. ISSN 2182-8547, e-ISSN 2182-8717. Vol. 1 (1): pp. 137-144.

2. Origem de Franklin Cascaes


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