Minas Faz Ciência 59

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Cada vez mais, os sistemas tecnológicos integram funcionalidades que buscam tornar as interfaces mais amigáveis e eficientes. Em um mundo povoado por tecnologias de informação e comunicação, o desafio está em tornar os dispositivos menos disruptivos e mais integrados ao dia a dia das pessoas. Isso porque, se, no discurso midiático em torno das tecnologias, propaga-se a ideia de que elas estejam aí para ajudar – de modo a tornar os indivíduos mais eficientes e próximos de seus interesses –, o que ocorre, em grande medida, é a interrupção de atividades e a sobreposição de tarefas. Ou seja, o uso de tais ferramentas ainda não se revela tão fluido quanto prometem as propagandas de smartphones, tablets, computadores portáteis etc. Neste contexto, um importante aspecto do uso de tecnologias no cotidiano diz respeito às funções a serem executadas para acionar determinado dispositivo, pondo-o em funcionamento. Senhas para desbloqueio, cliques aqui e acolá e validações de códigos são procedimentos que, em um planeta com ferramentas personalizadas, visam garantir acesso seguro. Porém, cada vez mais, tais artefatos têm lançado mão de validações biométricas, das impressões digitais aos timbres vocais. Há poucos anos, ao se falar em reconhecimento de voz ou de fala, seria natural recorrer à imagem projetada pelos filmes de ficção científica ou de ação, em que o personagem, ao pronunciar palavras-chave, acionava comandos específicos, por meio de computadores que, após a confirmação da identidade, executavam a função demandada. Atualmente, a tecnologia de reconhecimento de padrões sonoros está mais difundida, fazendo-se presente, por exemplo, no atendimento eletrônico ao consumidor – “fale a opção desejada” – ou em aplicativos que realizam a “escuta” de determinado trecho de música para proceder à identificação. Nos automóveis, por exemplo, já é possível, por meio da voz, ligar o motor, mudar a estação de rádio, regular a climatização, realizar chamada telefônica e

ter acesso e controle a praticamente todas as funções internas do veículo. Tal maravilha da tecnologia, contudo, ainda está longe de ter o seu potencial máximo explorado, conforme avalia Gustavo Fernandes Rodrigues, professor da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ). Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o pesquisador tem trabalhado na área de telecomunicações, desde 1995, especializando-se, posteriormente, em temas como processamento e separação cega de sinais, multimídia e reconhecimento de fala. Em um de seus projetos, ele busca aprimorar a tecnologia do reconhecimento de comandos pela voz, a fim de aumentar a eficiência e a fidelidade de sua aplicação. “O desenvolvimento de equipamentos dotados de tal tecnologia tem por objetivo diminuir o esforço físico humano para sua utilização, o que viria a facilitar a realização de determinada tarefa, otimizando sua precisão”, esclarece.

Alô, som, testando... Existem, hoje, diversos sistemas eletrônicos e de telecomunicações que podem ser controlados via comando de voz. Segundo Gustavo Rodrigues, isso evidencia a tendência à aplicação da tecnologia para acionamento e controle de dispositivos. O pesquisador comenta, porém, que um dos maiores desafios a serem superados pelos sistemas de reconhecimento de fala refere-se ao desempenho em ambientes ruidosos. Afinal, seja na indústria, seja em casa, na escola ou no carro, as ferramentas acabam expostas a múltiplas fontes de ruído, havendo necessidade da proposição de soluções práticas. No caso do projeto, o foco de estudos foi o ambiente industrial. Segundo o coordenador da pesquisa, a eficiência do comando de voz torna-se consideravelmente reduzida quando usada em espaços barulhentos, posto que os ruídos são processados juntamente ao sinal de voz, o que prejudica – ou impossibilita – o equipamento de realizar as funções demandadas.

MINAS FAZ CIÊNCIA • SET/OUT/NOV 2014

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