Setembro 2008

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Jornal de Estudo

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, Setembro de 2008 | Ano 43 | Nº 193

Especial pág. 6 e 7

Autoridades apontam soluções para o trânsito de Juiz de Fora Débora Nobre

O aumento de veículos em circulação na cidade contribui para o transtorno de motoristas e pedestres. Medidas de reestruturação do trânsito começam a ser implantadas em Juiz de Fora. Construção de viadutos e instalação do metrô de superfície são algumas propostas para amenizar a situação. Para melhorar o fluxo, mudanças já são feitas na sinalização e no sentido de algumas vias.

Esporte pág.10 Política pág.5 Miss Juiz de Fora 2008 luta Câmara exonera parentes de vereadores 16 familiares de sete políticos foram exonerados no dia 2 deste mês. pela divulgação do judô A medida foi tomada para cumprir a Súmula número 13 do Supremo Savio Ramos Melgaço

Tribunal Federal, que tem como objetivo combater o nepotismo. A nova regra e a interferência do STF dividem opiniões.

Campus pág. 3 Casa de Parto fechada por tempo indeterminado Atividades do Centro de Parto Normal da UFJF foram encerradas em 6 de agosto. Depois de justificar falta de médicos, Universidade cria comissão e discute construção de um novo espaço, próximo ao HU. Medida é questionada por profissionais da área de saúde.

Cultura pág.12

Museus sofrem com o descaso da população Especialistas julgam que defasagem educacional e falta de divulgação são as principais razões para o problema. Por meio de projetos públicos, que levam escolas aos museus, pretende-se reverter o quadro.

Cidade pág. 4 Canil Municipal opera 40% acima da capacidade Todos os dias, o Demlurb apreende de 5 a 8 cachorros nas ruas de Juiz de Fora. Grama e Retiro são alguns dos bairros que mais sofrem com este problema. A UFJF é um dos pontos de preferência dos cães, a área verde e a presença de cantinas atraem os animais.

Comportamento pág.11 Jovens utilizam novas tecnologias audivisuais como forma de expressão

Carolina São José


2 Opinião

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Editorial

Q

ue tipo de matérias poderiam ser produzidas em nossa cidade moderna e industrializada? A equipe do Jornal de Estudo, pensando nisso, procurou assuntos que representassem o cotidiano dos juizforanos. Em nossa sociedade capitalista, tempo é dinheiro e o trabalho é mais importante que o consumo de alimentos. Por isso, foi de interesse da equipe fazer uma reportagem, na editoria de Saúde, sobre a alimentação dos apressados, alertando aqueles que não querem perder seu emprego por causa de atraso e acabam ingerindo alimentos de risco para o colesterol. A matéria chamou atenção também para a pouca fiscalização que é feita nas barraquinhas de comida e para os problemas de saúde que sua ingestão pode acarretar. O que também atraiu nossos olhares foi o caos no trânsito, principalmente, no que tange aos estacionamentos de veículos. Então, em nossa reportagem especial, foi feita uma análise da quantidade de carros e motos em Juiz de Fora. Ficou claro que há mais carros que vagas para estacioná-los. Isto também é um indício da nossa sociedade pós-industrial, em que a maioria da população tem seu carro ou, às vezes, tem até mais de um. Por isso, os livros de ficção que projetam o futuro apontam para o surgimento de carros espaciais, pois, se não há espaço na terra, só restaria o céu para a circulação destes veículos. Para quem achava que arte só existe no plano físico, os repórteres, caminhando nesta mesma linha do pós-moderno, fizeram uma matéria na editoria de pesquisa sobre a arte virtual. E para compor também o quadro da pós-modernidade não poderia faltar uma reportagem que refletisse a nossa sociedade presa ao presente. Coube então à editoria de cultura, uma matéria sobre os museus de Juiz de Fora, e ficou claro o desinteresse das pessoas em aprender com o antigo: a maioria não sabia a quantidade de museus juizforanos.

Assuntos que abrangem uma realidade presente em várias partes do país são refletidos a partir das condições locais, como vemos na reportagem de política sobre a proibição do nepotismo e na matéria sobre os cães abandonados. Mesmo tentada a criar um material diferente, a equipe do Jornal de Estudo se esforçou para produzir textos e imagens que atendessem aos padrões do jornalismo atual, adequando os diversos perfis dos alunos ao mercado. Acreditamos ter feito um bom trabalho.

Artigo Transformando qualquer coisa em coisa Marília Lima

C

om a democratização da tecnologia ficou acessível realizar um filme. O vídeo, a nova onda dos sem-dinheiro-para-película, se tornou uma opção prática para produzir, no entanto, correr atrás do patrocínio é mais importante do que pensar na decupagem do roteiro. A consolidação da indústria e, por sua vez, do capitalismo, trouxe esta preocupação com o dinheiro, compreensível na sociedade pós-moderna. No dia 5 de setembro, o cineasta Walter Lima Júnior participou do lançamento do Primeiro Plano Festival de Cinema de Juiz de Fora. Seu recém-lançado filme, “Os Desafinados”, estreou nos cinemas juizforanos, mas a primeira sessão foi restrita, pois apenas convidados puderam assistir à película. Como ninguém havia visto o filme, a conversa, basicamente, ficou em torno de questões como produção e mercado cinematográfico. Aqueles que foram ao evento achando que iam ouvir alguma coisa sobre linguagem ou estética, acabaram devaneando entre as histórias de feijoada e Villa-Lobos. O que deu pra aprender numa conversa de 30 minutos com um cineasta que participou do Cinema Novo foi como o mercado é complicado... E o conteúdo dos filmes? E a tendência atual de um cinema sem rumo, sem pai e mãe, sem uma estética definida na qual poderíamos seguir ou contrapor? Estávamos diante de um cineasta com experiência, que foi assistente de direção de Glauber Rocha, e o público queria saber sobre o mercado. As pessoas, que presenciaram a conversa com Walter, não estavam interessadas em discutir o cinema que se faz hoje, e menos ainda as manifestações do passado que são importantes para a evolução da linguagem cinematográfica. O Cinema Novo, por exemplo, é considerado o pai do Cinema Marginal. Rogério Sganzerla que era, a princípio, do Cinema Novo, contestou a Estética da Fome de Glauber Rocha. Sganzerla realizou filmes destoantes da época por meio de narrativas esdrúxulas, planos incoerentes e personagens “cafajestes”, e, assim, começou o Cinema Marginal. Casos como este apontam para a evolução cinematográfica nacional, na medida, em que o cinema é refletido por outra vertente caminhando para novas teorias e linguagens. A falta de um movimento que pensa o cinema, e não simplesmente, o faz, interfere nas realizações dos filmes atuais. O que se vê hoje são filmes-novelas,

personagens vazios que se relacionam em plano médio e tudo se resolve no diálogo. Por causa do vídeo e da televisão, os teóricos apocalípticos do cinema indicam um possível fim da sétima arte. Outras interferências na linguagem cinematográfica se relacionam ao avanço tecnológico que permite criar diretamente imagens que antes não eram possíveis, diminuindo a necessidade de alternativas para dar uma informação. Desta forma, a idéia incumbida na imagem é recebida diretamente pelo público. Antes da revolução tecnológica acessível às pessoas, os cineastas tinham que madrugar pensando em alternativas baratas para produzir seus filmes. Os métodos tipicamente usados no cinema, como elipses de som e imagem, que sugerem algo para espectador, perderam seu estímulo, o que implica num filme mais vazio em criatividade e linguagem. Os chamados filmes B norte-americanos tinham uma produção pequena, com pouco financiamento, mas eram criativos e influenciaram vários movimentos e diretores. Como o cineasta francês, Jean-Luc Godard, cuja primeira película, “Acossado” foi produzida com um baixo orçamento. Inclusive, o filme, em seus créditos, foi dedicado a uma produtora de filmes B. Por estas comodidades que vieram com a tal da pós-modernidade, a produção cinematográfica atraiu muita gente. Infelizmente, gente esta que está mais interessada em se promover ou em lançar um produto para massa do que praticar a sétima arte. Sites como o Youtube foi um dos incentivadores deste processo. Quem não tem um vídeo na internet hoje? No entanto, apenas alguns são interessantes para a evolução da linguagem. A maioria deles apresenta uma decupagem clássica que mantém padrões definidos no início do século XX para uma sociedade ainda pouco habituada com imagens em movimento. Precisa-se de algo que incite a reflexão na nova geração de cineastas. Que venham o cinema digital, os microfilmes, vídeos gravados pelo celular. Mas, principalmente, que venha um movimento que busque uma linguagem atual, que adeque as inovações a uma narrativa. Talvez assim, a nova geração de cineastas possa ter um ponto de partida para estabelecer sua autonomia, como o Cinema Novo e o Marginal.

Expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora Publicação produzida pelos alunos do 6º período do curso diurno e do 8º período do curso noturno da disciplina Técnica de Produção em Jornalismo Impresso Reitor: Prof. Dr. Henrique Duque Vice-Reitor: Prof. Dr. José Luiz Rezende Pereira Diretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes Vice-Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Potiguara Mendes da Silveira Coordenador da Faculdade de Comunicação diurno: Prof. Ms. Álvaro Americano

Coordenadora da Faculdade de Comunicação noturno: Profª. Drª. Maria Cristina Brandão Chefe do Dept. de Jornalismo: Profª. Drª. Iluska Maria da Silva Coutinho Professores orientadores: Profª. Ms. Alice Gonçalves Arcuri, Profª. Ms. Diana Souza, Profª Fernanda Pires Fernandes Projeto Gráfico: Karolina Vargas e Poliana

Cabra Monitora: Ana Carolina Serpa Editores: Marília Lima e Savio Ramos Melgaço Reportagem e Diagramação: Bruna Cipriano, Bruna Provazi, Bruno Guedes, Carolina São José, Cecília Amaral, Daniel Candian, Débora Nobre, Eduardo Vasconcelos, Eugênia Artimiza, Francisco Franco,

Henrique Vale, Kaliandra Casati, Laura Nardelli, Laura Pequeno, Rodrigo Aguiar Tiragem: 1.000 exemplares Endereço: Campus Universitário de Martelos, s/n – Bairro Martelos 36036-900 Telefones: (32) 3229-3601 / 3229-3602


Campus 3

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INDEFINIÇÃO

UFJF cria nova comissão para decidir futuro da Casa de Parto Reitor da Universidade edita portaria que promete a implantação de Centro de Parto Normal junto ao HU Rodrigo Aguiar

composto de uma maternidade com centro cirúrgico e UTI adulta e neonatal, bem como de um Centro de Parto Normal, distante cerca de 20 metros em relação à maternidade. Este modelo permitiria o atendimento aos partos de forma rápida e humanizada. Conforme a portaria, o grupo deverá apresentar o planejamento para a implantação do Módulo e a indicação das ações que deverão ser realizadas para viabilizar as novas unidades do Hospital no prazo de 90 dias. A idéia é que o novo projeto congregue competências multiprofissionais, com características multidisciplinares – solução que afastaria as atuais dificuldades técnicas, operacionais e legais. A medida valoriza a inserção acadêmica em todas as atividades de assistência.

Instituição está com os portões trancados desde 6 de agosto de 2008. O problema é polêmico e ainda continua sem solução

Rodrigo Aguiar Bruna Cipriano

A

Casa de Parto da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) encerrou todas as suas atividades em 6 de agosto de 2008. No mesmo dia, foi divulgado pela reitoria da Universidade o relatório final da comissão de transferência. De acordo com este documento, a instituição não possuía condições para realizar o trabalho que era desenvolvido. Depois de protestos e muita polêmica, a situação se arrasta por um ano. O vereador e presidente da comissão de direitos humanos da Câ-

mara, Flávio Cheker, afirmou que a desativação da Casa de Parto foi um retrocesso e que não compreende os motivos que levaram a reitoria a tomar tal decisão. Segundo ele, “essa foi uma questão mal-tratada.” Uma série de irregularidades foi apontada pela comissão, concluindo que a instituição não atendia às especificações do Ministério da Saúde (MS), como a necessidade da presença de um médico. Entretanto, o próprio MS divulgou, no dia 20 de agosto, uma carta aberta ao público, declarando não ter responsabilidade na interrupção da assistência a parturientes no Centro de Parto Normal da UFJF.

A proposta da reitoria Segundo a assessoria de imprensa do Hospital Universitário (HU), o reitor da UFJF, Henrique Duque de Miranda Chaves Filho, editou a Portaria 560/08, de 4 de agosto de 2008 (dois dias antes do fechamento da casa e da divulgação do relatório), criando um grupo de trabalho, com representantes de unidades e cursos da Universidade ligados à saúde. A iniciativa teve como objetivo viabilizar o Módulo e o novo Centro. O projeto do novo espaço prevê a construção, na mesma área do Hospital Universitário (Unidade Dom Bosco), de um Módulo de Atenção à Saúde Materno-Infantil. Ele seria

Um ano sem o atendimento humanizado Em agosto de 2007, foi proposta, pela reitoria da UFJF, a transferência das atividades da instituição para o CAS, mediante a promessa de aumentar o número de atendimentos. A coordenação da Casa de Parto foi contrária à mudança, alegando, na época, que era uma maneira de reduzir custos da Universidade. A questão tomou as ruas durante uma reunião entre a reitoria e a comissão para discutir a transferência, em 29 de agosto do ano passado. O fato culminou com a suspensão das atividades devido a irregularidades apontadas pelo grupo avaliador.

Desde então, apenas os trabalhos de pré-natal, pós parto e incentivo ao aleitamento materno foram mantidos até o fechamento em 6 de agosto deste ano. Durante aquela reunião, cerca de 50 estudantes protestaram contra a transferência sem a manutenção da estrutura. Professores distribuíram panfletos e protestaram junto à Associação dos Professores de Ensino Superior (Apes), exigindo que os problemas apresentados, como falta de ambulância e de médicos, fossem resolvidos pela UFJF. A assessoria jurídica da instituição contestou a proposta,

afirmando existir um protocolo a ser seguido, como avaliações detalhadas e realização de concursos. Em janeiro de 2008, uma audiência pública na Câmara, solicitada pelo vereador Flávio Cheker, discutiu o assunto, a pedido de usuários e trabalhadores da casa, que temiam por seus empregos devido às mudanças. Quase um mês após a reunião na Câmara, o reitor editou a portaria com relação à construção do Centro de Parto Normal junto ao HU. A comissão de transferência divulgou o relatório final e a Casa de Parto foi desativada em todas suas funções.

Outra perspectiva Flávio Cheker afirma que espera a reabertura da Casa e que haja uma divulgação das atividades desenvolvidas pelo projeto, de modo a recuperar a imagem abalada da instituição. Cheker ressalta que o novo espaço deve ter como foco a questão do parto humanizado, aspecto que, segundo ele, foi desconsiderado com o fechamento. Para o político, a transferência da Casa de Parto para o Centro de Atenção a Saúde (CAS) é um retorno ao modelo hospitalar. Além disso, segundo ele, as instalações da maternidade atendiam às especificações perfeitamente, e a equipe que atuava no local era experiente e estava preparada. Por não concordar com as justificativas apresentadas para a desativação e a transferência, o vereador disse que existe uma “certa cortina de fumaça”, um “mato alto” com relação aos verdadeiros motivos da reitoria.

Projeto Original A Casa de Parto, criada em dezembro de 2001, era um projeto da Faculdade de Enfermagem, cujo objetivo era o atendimento de parto humanizado, sendo o terceiro exemplo do tipo no Brasil. O projeto dedicava-se à prática do parto normal entre gestantes de baixo risco, prestando auxílio antes, durante e depois do nascimento da criança. Funcionando 24 horas por dia, a Casa oferecia também atendimento educativo às mulheres, oficina de preparação do casal, atendimento ao recém-nascido e incentivo ao aleitamento materno.


4 Cidade

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SEM DONO

Cresce o número de cachorros abandonados nas ruas de JF Superlotado, Canil Municipal chega a receber oito cães por dia, operando 40% acima de sua capacidade Carolina São José

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randes, pequenos, de raça, viralatas. Todos os dias, de cinco a oito cães são recolhidos nas ruas de Juiz de Fora, conforme os dados fornecidos pelo Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb). Abandonar animais é crime previsto por lei. “Ao adquirir um cachorro, a pessoa deve saber que ele pode viver até 15 anos. Nada justifica o abandono, por isso, deve-se ter uma posse consciente do animal”, alerta a veterinária responsável pelo Canil Municipal, Liza Nery. Estima-se que a população canina vivendo na cidade chegue a 5 mil animais. Destes, 60% são casos de abandono. Segundo Liza , o problema se agrava com a chegada do fim do ano letivo, pois as famílias viajam de férias e, sem ter com quem deixar, largam o animal nas ruas. A maior incidência se concentra nos bairros Filgueiras, Grama, Retiro, Jardim Esperança e São Pedro, considerados portas de entrada e saída da cidade. Ela afirma que existem denúncias não formais de que pessoas de cidades vizinhas estejam abandonando cães em Juiz de Fora, uma vez que a cidade possui um canil. Segundo a veterinária, o Canil Municipal possui vagas para 320 cachorros, mas, atualmente, abriga 450 cães, operando 40% acima da sua capacidade. A Prefeitura gasta com cada cão, aproximadamente, R$ 5 por dia,

para alimentação, vacinas e os demais cuidados veterinários. A única forma de diminuir este elevado número é por meio da adoção. Entretanto, poucos são adotados e o pit bull é a raça menos procurada e permanece no Canil por mais tempo, ocupando, cada animal, espaço onde caberiam cerca de dez cães de pequeno porte. Paula Medeiros é colaboradora da ONG Animal e Natureza. Segundo ela, o número de cães abandonados nas ruas cresce geometricamente, o que faz com que a população canina sempre aumente. “O objetivo principal da ONG é fazer a esterilização para diminuir o número de cachorros nas ruas”, explica. Além da esterilização, é feito o recolhimento de cães e gatos muito debilitados, feridos, atropelados ou doentes. Apesar deste esforço, o espaço onde esses animais ficam na ONG é pequeno e a instituição precisa de doações para funcionar. Para adotar um destes cães basta ir ao Canil Municipal, que fica entre os bairros Santa Cruz e Benfica na rua Bartolomeu dos Santos, sem número. É preciso levar identidade, CPF e comprovante de residência, além de preencher um formulário, e responder algumas perguntas a fim de que se comprove a intenção de ficar com o animal. O canil fica aberto de segunda a sexta, das 9h às 10h30 e das 13h às 15h30. O telefone de contato é 36903591. A ONG Animal e Natureza também estimula a adoção pelo site http://www.animalenatureza.org.br. Carolina São José

A cantina do ICH é um dos pontos mais freqüentados pelos cães no campus

Carolina São José

Pit bull é a raça predominante e com menor índice de adoção no canil

UFJF atrai animais de rua A presença desses animais abandonados no Campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) também é facilmente notada. “É um local de grande área verde e possui cantinas em quase todos os prédios, por isso se tornou um ponto atrativo para aqueles que abandonam seus cães”, afirma Liza Nery. Carlos Antônio Barboza, que trabalha na lanchonete do Instituto de Ciências Humanas (ICH), afirma que muitas vezes tem que recolher o lixo revirado ao redor das mesas e expulsar os cães, principalmente na hora do almoço e do jantar. “Eu sempre afasto eles de perto da cantina, mas alguns alunos dão comida para os cachorros por baixo da mesa, assim eles nunca vão embora”, reclama. José Edgard Texeira, professor da Faculdade de Medicina da UFJF, afirma que os animais de rua podem colocar a saúde das pessoas em risco. Ele alerta que esses cães não vacinados podem transmitir raiva e até mesmo o

bicho geográfico, uma doença de pele causada por larvas que vivem nas fezes de cachorros e gatos que não foram vermifugados, e outras zoonoses como a febre maculosa, transmitida por pulgas e carrapatos. Segundo o coordenador de Imprensa e Divulgação da UFJF, Kleber Ramos, é quase impossível controlar a entrada e saída de cachorros de rua na Universidade. “Os portões do São Pedro e da Independência estão constantemente abertos, além disso, os limites entre a UFJF e os bairros é muitas vezes feito por meio de cerca de arame farpado”. Kleber afirma que no caso de alguém ser flagrado abandonando animais no Campus, a equipe de segurança está orientada a proibir tal atitude. Entretanto, salientou que não é proibida a entrada de cães acompanhados dos seus donos. “Em caso de algum cão colocar em risco os transeuntes, a Universidade tomará providências, mas até hoje não houve nenhum ataque confirmado.” conclui.


Política 5

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NEPOTISMO

Súmula provoca reflexos locais Câmara se adapta à determinação do Supremo e exonera parentes de vereadores na data prevista Kaliandra Casati

Kaliandra Casati

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mesa diretora da Câmara exonerou 16 parentes de vereadores. A primeira sessão após o fato ocorreu apenas em 15 de setembro e o presidente da casa, Francisco Canalli se limitou a anunciar o cumprimento da medida. A lista de exonerados, publicada no dia 2, atingiu sete vereadores: Eduardo Freitas (PDT), Eduardo Novy (PSC), João do Joaninho (DEM), Oliveira Tresse (PCdoB), Pardal (PTB), pastor Mariano Júnior (PSDB) e Vicentão (PTB). As exonerações visaram atender à Súmula vinculante número 13, aprovada por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 21 de agosto, estabelecendo o fim do nepotismo, isto é, contratação de parentes para cargos de confiança no Legislativo, no Executivo e no Judiciário. Na semana anterior ao prazo de 1º de setembro, dado pela mesa diretora para a demissão dos familiares, Canalli exonerou a esposa e o irmão lotados em seu gabinete. Já a vice-presidente, Rose França, demitiu a irmã e o tio. Ambos integram a comissão responsável pelas exonerações e adotaram o discurso de que medida do Supremo não se discute, se cumpre. A medida ultrapassou os gabinetes de cada vereador e a sobrinha de Vicentão, Regilaine Aparecida de Oliveira, contratada pela Procuradoria da Câmara, também foi demitida. Mãos atadas Muitos vereadores se sentiram injustiçados, mas todos cumpriram o prazo. Para Rose França, a lei está certa, mas deveria ter critérios diferenciados. “Lei sem critério perde o foco. Existem parentes que usurpam do poder público. Mas ao menos uma pessoa de confiança é necessidade. Como vamos entregar as coisas da nossa vida a um desconhecido?”, indaga a vereadora, que demitiu a irmã do cargo de assessora legislativa. “Estou me sentindo de pés e mãos atados. Ela tinha meu cartão magnético e minha senha bancária. Cuidava das compras do gabinete e prestação de contas da campanha. Agora não tenho quem possa fazer isso pra mim.” O vereador Isauro Calais se declara totalmente contra o nepotismo, mas

Bruna Provazi

Primeira sessão da câmara após as exonerações: decisão do supremo não se des cute, se cumpre acredita haver casos e casos. “Eu nunca tive parente no meu gabinete. Mas tem algumas pessoas que realmente são competentes. A Câmara perdeu bons profissionais”, pondera. Para ele, a Súmula trouxe uma determinação que já deveria ter sido instituída há mais tempo pelo Congresso Nacional. “Acredito que deputados e senadores não legislaram sobre isso para não afetarem os próprios parentes. É uma lei necessária. Tem prefeito que contrata da sogra ao papagaio.” Projeto de Lei O vereador Flávio Cheker (PT) expôs, durante a assembléia de 29 de agosto, um projeto de lei objetivando barrar o nepotismo no órgão. Como o projeto foi apresentado após a promulgação da Súmula 13 do STF, Cheker foi taxado de oportunista por outros vereadores, como Isauro Calais: “Não há necessidade de lei se já existe a Súmula”, afirma. Para Flávio Cheker, o projeto é uma forma de corrigir e especificar algumas falhas contidas na Súmula, como a necessidade do servidor declarar expressamente, no ato de nomeação, não ter nenhum grau de parentesco. “Considero o projeto oportuno. Há muito tempo queria apresentá-lo, mas não tinha base legal. Com a Súmula, este empecilho desapareceu.”

Medida gera discussões O advogado e professor da UFJF, Abdalla Daniel Couri explica que a súmula é a uniformização de um Tribunal Superior a respeito de decisões contraditórias abaixo deste tribunal. Ou seja, ela não é uma lei, é uma orientação em cima de leis já existentes. Para estabelecer a Súmula de número 13, o Supremo entendeu que a contratação de parentes para cargos de confiança desrespeita a Constituição por ferir os princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. Abdalla explica que a Emenda 45, em vigor a partir de 2004, criou uma nova missão para o STF, mexendo na estrutura do Judiciário e dotando o Supremo da prerrogativa de instituir súmulas vinculantes.“O Supremo sumulou interpretações sobre leis. Arbitrar sobre interpretação é uma função do órgão. Tecnicamente, o que houve é normal e está previsto na Constituição.” A Súmula 13 proíbe a contratação de cônjuge, companheiro e parentes até o terceiro grau. Também acaba com o chamado “nepotismo cruzado”, que ocorre quando alguém, ao invés de contratar seus próprios familiares, emprega os de outro político, que por sua vez, contrata os do primeiro.

De acordo com Abdalla, atualmente há quase um milhão de cargos de confiança no serviço público, para os quais tem se tornado comum contratar parentes, muitas vezes sem qualificação. “Resolveu-se acabar com a falta de controle para os exercícios de cargos técnicos.” Exceção Porém, a Súmula 13 ainda permite a contratação de parentes para os cargos de natureza política: as secretarias de governo. O advogado crê que o Supremo não desceu a tal grau de detalhamento, pois tais postos exigem qualificação elevada. “Ninguém, em sã consciência, nomearia alguém despreparado para o cargo.” Contudo, tais brechas na lei estão sendo utilizadas por alguns políticos para fugir das restrições. O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, exonerou a irmã Ana Maria Maia da Subsecretaria Especial de Eventos e criou a Secretaria Especial de Eventos, nomeando-a secretária. O governador do Paraná, Roberto Requião, utilizou estratégia parecida, nomeando sua esposa, então diretora do Museu Oscar Niemeyer para uma Secretaria sem pasta ainda definida.

Empregar familiares faz parte de raízes históricas Para o historiador Ricardo Guerra Ramos, a utilização do bem público no favorecimento de pessoas próximas está enraizada na cultura nacional desde os tempos do Brasil Colônia. “Isso vem da sociedade escravista, que era uma sociedade de privilégios, na qual um pequeno grupo era beneficiado em detrimento da maioria da população”, afirma. Ele ressalta que, atualmente, temos 508 anos de história e 400 de escravidão. “A política ainda é um terreno onde poucos têm direito. Isto demonstra a fragilidade do nosso processo.” Já o cientista político da UFJF Rubem Barboza Filho não acredita que o

nepotismo se correlacione às raízes ibéricas, nem à nossa forma de colonização. “Muitos delegam a culpa aos portugueses. Mas, era a forma de governo da época. Creio que este problema se correlacione às dimensões monumentais de nosso país, que dificultam o estabelecimento de um estado burocrático.” Para o cientista, vivemos um momento de consolidação democrática e temos avançado, cada vez mais, na separação entre público e privado. “Esta separação já vem acontecendo há algum tempo e, agora, com a Súmula 13, ganha uma diretriz mais forte. Uma república necessita de livre acesso aos cargos públicos.”


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MOVIMENTO NAS RUAS

Crescimento do número de veículos

A estimativa é de que em quatro anos exista um carro para cada dois habitantes Cecília Amaral Débora Nobre Laura Pequeno

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uas lotadas de carros e pedes- lhorias do transporte em Juiz de Fora, tres disputando um espaço na que passa por alterações e adaptações. calçada somam-se a ciclistas, “O projeto está em fase de revisão e motoqueiros, catadores de material a finalização dele não depende de sureciclável e carroças. O trânsito em cessão eleitoral. Terminada esta etapa, Juiz de Fora está cada vez mais caó- vamos divulgá-lo à sociedade, para tico. Até fevereiro deste ano, a cidade conscientizar a população e introduzir registrava mais de 146 mil novos veí- as novas mudanças”, afirma. culos emplacados, e este número não pára de crescer. Mudanças Juros baixos e financiamento a Enquanto este novo projeto não longo prazo são alguns fatores que sai do papel, os juizforanos já podem contribuíram para este aumento. De perceber algumas alterações na sinaliacordo com a Agência de Gestão do zação e no sentido das ruas. Estas muTransporte e Trânsito (Gettran), até o danças têm como objetivo melhorar ano de 2006 entravam em circulação o fluxo e a segurança no trânsito, de cerca de 6 mil carros por ano. Atual- acordo com Jorge. Recentemente foi mente, são 8 mil novos veículos em- implantada mão dupla na Rua Barão placados em Juiz de Fora. de São Marcelino, a fim de facilitar Além disso, a frota o tráfego e diminuir de motocicletas tripli- Segundo a Prefeitura, há um o congestionamento cou nos últimos três projeto para reestruturação na região, causado anos em todo o país. do trânsito em Juiz de Fora. principalmente pelo O diretor da Divisão Depois de revisão, ele será movimento da dande Projetos da Gettran, ceteria que existe divulgado à população e Jorge Alfredo Franco nas proximidades. implantado na cidade. Lima, é categórico: No Centro, um “moto vende igual bacanteiro vai ser retinana”. Atualmente, são 19.264 veícu- rado da rua Batista de Oliveira, prólos de duas rodas registrados na cida- ximo à rua Santa Rita. Algumas ruas de, segundo o Departamento Nacional na região central da cidade também de Trânsito (Denatran). terão sentido de circulação invertido, Os 512 ônibus urbanos que ope- como por exemplo a rua Silva Jardim, ram pelas ruas de Juiz de Fora tam- onde as antigas placas de sinalização bém contribuem para o caos no trân- ainda não foram retiradas e podem sito. “A proporção é de mil habitantes confundir o motorista. por veículo em circulação”, informa Outro fator a ser considerado e Jorge. que precisa de revisão no sistema é No Plano Diretor de Transporte o transporte coletivo. “No momenUrbano (PDTU/JF) de 1997, foram to está sendo feita uma pesquisa de previstas a contrução de pontes so- demanda dos usuários. O centro está bre o Rio Paraibuna e de viadutos ou congestionado com os ônibus e quetrincheiras sob a linha do trem. No remos diminuir essa circulação”, afirentanto, “a realização das obras está ma o arquiteto da Gettran, João Maentrelaçada com os orçamentos anu- noel Soares. Todos os ônibus passam ais e nem sempre é possível concreti- por pelo menos uma das principais avenidas da cidade. A idéia é ter mais zá-las”, afirma o diretor. O engenheiro de transportes da ônibus nos bairros e diminuir este fluPrefeitura, Carlos Eduardo Meurer, xo para o centro, como se fazia com o diz que existe um projeto para me- Sistema Troncalizado.

Motos estacionadas na rua Santa Rita

Alternativas Para João Manoel, a construção de um metrô é a opção mais cara e só seria utilizada em último caso, depois de nada mais ter dado certo. Outra alternativa seria a construção de ciclovias para mobilizar a população a buscar outras maneiras de se locomover. O relevo de Juiz de Fora é desfavorável aos ciclistas e as ciclovias teriam que ficar em locais afastados, o que dificulta a implantação desta proposta. João Manoel aponta que o único lugar viável para a construção de uma ciclofaixa – uma pista separada para as bicicletas – seria às margens

Pressa: o pedestre mal acaba de atravessar em um trecho da Av. Rio Branco e os carros avança do Rio Paraibuna. “Esses projetos são difíceis de serem realizados, pois implicam um alto custo urbanístico”, afirma o arquiteto. As bicicletas representam hoje menos de 0,8% do total dos meios de transporte existentes na cidade. O dinheiro gasto para melhorias neste setor poderia ser empregado em outros projetos que têm maior urgência de investimentos, como o transporte coletivo. Estacionamentos O aumento da frota de veículos na cidade tem gerado outro problema: o de estacionamento na região central. O que tem sido feito é transformar as vagas da rua em locais de Área Azul. Nesses lugares é cobrada a tarifa no valor de R$1 por hora para estacionar o carro. Essa medida é adotada em lugares onde é preciso maior rotatividade nas vias, como nas ruas Rei Alberto e Oscar Vidal. “A Área Azul é um instrumento mais democrático para que todos possam utilizar a rua para parar seus veículos”, defende João Manoel. Estacionamentos privados são mais caros, mas seriam uma forma

de melhorar o problema. É cobrada em geral uma taxa de R$ 3 por hora e mesmo assim fica difícil encontrar vagas. Como a rede de serviços tende a se concentrar no centro da cidade, estes espaços se tornam muito valorizados. Assim, os casarões antigos são alvos da especulação imobiliária Débora Nobre

Guarda controla carros na Área Azul


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los provoca caos no trânsito de JF Débora Nobre

e muitas vezes demolidos para dar lugar a estacionamentos. Chegou-se ao ponto de um imóvel tombado pelo patrimônio histórico ser utilizado para estes serviços. O diretor da Divisão de Patrimô-

nio Cultural (Dipac) da Funalfa, Paulo Gawryszewski, cita o caso do casarão Dias Gomes & Cia., de 1916, tombado este ano. “Hoje ele funciona como estacionamento de um hotel da cidade”, informa Paulo. Mas o es-

tacionamento oferece seus serviços também para quem não é cliente do hotel. O patrimônio está avaliado em 2 milhões de reais e só a fachada, o piso e as colunas interiores foram preservadas.

Construção de viadutos na cidade pode ajudar a amenizar problemas As linhas de ferro que atravessam a cidade existem desde 1861 e pertencem ao Governo Federal. Quando ainda funcionavam os trens de passageiros por todo o Brasil, era uma boa estratégia que os trilhos passassem pelas regiões centrais de cada cidade. Mas, com a extinção dos trens de passageiro, a situação se altera. A integrante do Instituto de Arquitetura do Brasil (IAB), Bárbara Botelho, explica que as 30 passagens de trem de carga permitidas diariamente geram hoje um congestionamento de pelo menos uma hora e 45 minutos. O tema de monografia da arquiteta, formada pela UFJF, foi a substituição dos trens de carga pelo transporte de passageiros. A proposta é complexa, pois a malha ferroviária pertence ao Governo Federal e hoje é utilizada por uma empresa privada. O assessor de imprensa da MRS Logística, Rodrigo Barbosa, confirma que o tráfego ferroviário pode contribuir para os problemas no trânsito.

“Afinal, a cidade cresceu em torno da ferrovia”, afirma. Segundo ele, o contorno viário seria uma alternativa viável para melhorar o fluxo no trânsito. A MRS chegou a colaborar em um projeto da Prefeitura, apresentado ao Governo Federal nos anos 90. As obras custariam R$ 300 milhões aos cofres públicos, mas o projeto não foi aprovado devido ao orçamento. Bárbara não apresentou à Prefeitura seu projeto porque já existe outro projeto sendo reavaliado. Segundo ela, o contorno viário e a transposição das linhas para os arredores da cidade não seria uma alternativa viável, pois para haver a conexão com o centro deveriam ser construídos 42 viadutos. Ela conclui que essa opção levaria a um caos visual para Juiz de Fora. O engenheiro de transportes da Prefeitura, Carlos Eduardo Meurer, também é contra a transposição ferroviária porque o volume de recursos necessários para isso seria muito grande. O engenheiro afirma que a

rros avançam a faixa

Pare. Olhe. Escute Sob o sol das 14h53min de uma quinta-feira juizforana, páram um carro, uma moto e uma carroça a um metro da linha férrea. Avisados pela placa “Ao sinal vermelho, pare” e pelos badalos de alerta e buzina do trem, os motoristas esperam e a fila vai crescendo. Para conferir esta situação, a equipe do Jornal de Estudos esteve no cruzamento da Avenida Getúlio Vargas com a Benjamim Constant. O trem de cargas avança e depois de quatro minutos os outros veículos podem seguir. Enquanto o próximo trem não vem, atravessamos a linha para o outro lado da Benjamim Constant e verificamos que lá, sim, estes quatro minutos podem gerar problemas. Os primeiros momentos acompanhados já resumem o que poderemos concluir. A luz vermelha do semáforo dura aproximadamente um minuto e dez segundos. Tempo suficiente para que cerca de 50 veículos, dentre carros, motocicletas, caminhões e carroças (e passam muitas por lá) se estendam pela rua à espera de passagem. Os 30 segundos de sinal verde permitem a passagem de pouco mais da metade dos veículos. O cálculo de quantos veículos atravessam ao sinal verde é interrompido por novos badalos e buzinadas do trem. São 15h11min. Precisamente 14 minutos atrás outro trem já havia passado. Os quatro minutos de passagem do trem é tempo suficiente para o semáforo abrir duas vezes e fechar três. Logo, o volume de veículos esperando pela travessia do trem triplica. Os veículos que vêm da Rua Saint Clair de Carvalho e da Avenida Brasil juntam-se à frota na Benjamim Constant, que se estende para depois da ponte sobre o Paraibuna. Nossa tentativa de cálculo estima mais de cem veículos parados. Quatro minutos depois os veículos podem prosseguir, mas demora um pouco mais até que se normalize o trânsito. A cada 30 segundos de sinal verde, cerca de 30 veículos atravessam, e a cada sinal vermelho, outros 50 se juntam. Os veículos que estavam no cruzamento com a Avenida Brasil terão que esperar em pelo menos mais dois sinais vermelhos até atravessar a Getúlio Vargas. Muito tempo se passa até que a fila criada a partir desta espera, e que chega até a avenida Brasil, diminua. Mas 14 minutos depois outro trem virá.

solução que mais agrada é manter os trilhos e construir viadutos para melhorar o tráfego. A construção de quatro ou cinco viadutos novos na cidade já ajudaria a melhorar o trânsito. Bárbara acredita que a implantação do metrô de superfície seria uma boa opção. No entanto, Carlos declara que a demanda não justifica esta implantação para transporte de passageiros. “Os recursos necessários têm valor alto e levariam muito tempo para serem adquiridos. Por isso, a Prefeitura opta pelas melhorias nos ônibus como transporte coletivo”, diz o engenheiro. A MRS tem concessão federal para o transporte de cargas. O contrato, entretanto, não prevê exclusividade no uso das linhas, que podem ser cedidas para o uso de Veículos Leves sobre Trilhos (VLT). Segundo o assessor, a MRS não faria o serviço, mas se a Prefeitura ou mesmo alguma empresa ou ONG se interessassem, o metrô de superfície poderia ser implementado.


8 Pesquisa

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POESIA VISUAL

Ciência ajuda a compreender produção artística na UFJF Campo de estudo aplicado no IAD gera pesquisa acadêmica focada na reflexão sobre processo criativo Bruno Guedes Francisco Franco

Q

uando nos referimos ao termo “pesquisa acadêmica”, normalmente imaginamos fórmulas químicas, estudo do corpo humano, teses estruturadas de maneira padronizada. Entretanto, esse não é o único tipo de pesquisa que produz conhecimento na Universidade. No Instituto de Artes e Design (IAD) da UFJF, trabalha-se com um modelo diferenciado, que articula prática e teoria na construção de proposições artísticas. Este tipo de proposta é adotada pelo professor Ricardo Cristofaro. O currículo do professor é extenso, formado em Artes Visuais na UFJF, mestre em Arte e Tecnologia da Imagem na Universidade de Brasília, doutor em Poéticas Visuais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2007, Cristofaro trabalha com “pesquisa em arte” na ênfase de Poéticas Visuais. Diferente da “pesquisa sobre arte”, realizada por historiadores, teóricos ou críticos de arte, sua proposta delimita o campo do artista-pesquisador que orienta sua produção a partir do processo de criação de seu trabalho plástico, assim como a partir das questões teóricas e poéticas, suscitadas pela sua prática. A pesquisa em arte vai encontrar respaldo teórico na Poïética, uma ciência e filosofia da criação, levando em conta as condutas e intenções que instauram uma proposição artística. Proposta recente A pesquisa em arte é um campo relativamente novo da atividade acadêmica, tendo aparecido nas universidades francesas no início da década de 1980. Após ter ficado muitos anos vinculada e diluída no interior da estética, a palavra Poïética, a partir de

Francisco Franco

estudos realizados por Paul Valéry, Jean Pommier e René Passeron passa a designar em artes visuais tudo o que diz respeito a criação, obras as quais a linguagem é ao mesmo tempo substância e meio. Traduzindo da teoria para a prática: “a Poïética é uma via de acesso para a compreensão do processo de trabalho artístico, pode-se dizer que é um testemunho sobre os procedimentos operacionais que participam da construção das obras, sem ser uma legenda”, afirma o professor. Pensar e realizar Dessa forma encontramos reflexões e textos que versam sobre obras de arte com uma estrutura e abordagem teórica diferente daquela normalmente observada pelos historiadores e críticos. “É uma experiência pessoal e única de um processo de trabalho que autoriza o artista a ter um ponto de vista teórico diferenciado”, revela o professor. É essa experiência do pensar e realizar a obra, segundo Cristofaro, que gera um campo de conhecimento, externado na forma de textos, artigos e teses. O professor enfatiza que a articulação entre a prática e a teoria muitas vezes vai além da aproximação com campos de conhecimento afins, com conceitos vindos da filosofia, da literatura e da semiótica. “Esse processo de reflexão e aproximação conceitual também pode ser mais do que um meio de construção de uma proposição artística, tornando-se uma parte constitutiva da obra”, afirma Cristofaro, que completa dizendo que um objeto “materializado como obra” pode, muitas vezes, ser apenas um espaço de relação com conceitos e enunciados.

Cristofaro une teoria e prática na sala de aula como estímulo ao amadurecimento Pesquisa polêmica Como é um tipo de estudo estruturado de forma diferente, na qual se admite a possibilidade de uma hipótese mudar constantemente no decorrer do trabalho, a pesquisa em arte gera polêmica no espaço acadêmico. “Apesar de reconhecida e valorizada pelo MEC, a Poética Visual ainda sofre preconceitos como forma de pesquisa. Muitos afirmam que é preciso sedimentar uma metodologia, um modo de comprovação de resultados”. O professor afirma que esse é “um tipo de pesquisa em processo, sua metodologia de trabalho leva em conta a obra em processo de instauração. Pensar a obra como processo implica pensar este processo não como meio para atingir um determinado fim – a

obra acabada – mas como devir”. A pesquisa neste campo também é “um processo no sentido de formação de significado.” “Diferentemente da Estética, que procura abordar e analisar propostas artísticas acabadas, a Poïética aborda proposições em seu espaço de construção, através de reflexões que se manifestam na maioria das vezes na primeira pessoa, com textos trafegando pela manipulação de conceitos, implicações teóricas, metodologias de trabalho, questões técnicas e intenções do autor”, analisa. O professor acrescenta que o trabalho que apresentou no seu doutorado foi sobre uma proposição artística de autoria própria, algo não muito comum no universo acadêmico.

Sucatas 3-D são matérias-primas para Cristofaro Vivemos em uma sociedade impregnada e saturada pela publicidade, atrelando diversas artes ao propósito persuasivo. O que dita uma tendência

e um padrão volátil à estética contemporânea. Somado a isto, a velocidade do fluxo de informação. Neste contexto a convergência digital propõe

“Objetos Imaturos” baseia-se na apropriação de fragmentos espalhados na rede

novos espaços virtuais que competem com os físicos. Este é o mote em cuja lacuna, Cristofaro estabelece suas intenções artísticas, apresentando os pressupostos, conceitos, ações e estratégias que participaram da instauração de sua proposição intitulada “Objetos Imaturos”. Trata-se de um trabalho acadêmico que produz também reflexão, por meio de pesquisas em poéticas visuais. E em suas pesquisas artísticas, o professor trabalha com fragmentos e objetos 3D, disponíveis na internet, Cristofaro usando da apropriação, transformou sucatas virtuais em obje-

tos poeticamente estruturados. Da mesma forma que estruturou sua linha de pesquisa em “Objetos Imaturos”, em diversas outras obras, Cristofaro trabalha como o campo da Poïética nas aulas de escultura que ministra no Curso de Artes da UFJF. “Atrelo os exercícios de sala de aula e a prática em ateliê, com exercícios de reflexão sobre o processo de construção das obras” afirma. Assim, o estudante de Artes, no decorrer do aprendizado acadêmico amadurece e conhece seus processos Poïéticos, de maneira apropriada a uma ciência que une a sensibilidade e o conhecimento.


Saúde 9

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NUTRIÇÃO

Apressado, brasileiro é vítima de seus hábitos alimentares Refeições rápidas e sem cuidado podem levar a anemia, problemas cardíacos e distúrbios metabólicos Daniel Candian

Daniel Candian Bruna Provazi

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rabalhando cada vez mais e ganhando cada vez menos, o cidadão das grandes cidades brasileiras vive um cotidiano apressado, em que a falta de tempo e a má remuneração acabam levando-o a fazer suas refeições baratas na rua. É nesse cenário que proliferam as barraquinhas e vendedores ambulantes de comida, aparecendo como uma nova e prática alternativa de alimentação para os trabalhadores. Eli Ferreira, recém-formado em Comunicação Social, passa madrugadas estudando para concursos, acorda tarde, perde o horário do almoço e acaba optando por lanchinhos rápidos. Ele pára na padaria e pede um café e duas coxinhas para começar seu dia. Sua refeição seguinte só virá tempos depois e, provavelmente, será um hambúrguer e um refrigerante, entregues por um motoboy da lanchonete mais próxima. “Moro sozinho e dificilmente tenho tempo para preparar minhas refeições em casa. Sei que cozinhar é mais saudável, mas é mais prático comer na rua”. A nutricionista Elizângela Muniz analisa o caso de Eli e alerta: “Se ele tiver um estilo de vida sedentário, e propensão a doenças, em pouco tempo pode acabar vítima de anemia, problemas cardíacos e distúrbios metabólicos, como obesidade.” Para Elizângela, esse tipo de alimentação é de deficiente em nutrientes e rico em calorias vazias, que não trazem benefícios ao organismo e ainda bloqueiam a ingestão de vitaminas. Ou seja, essa praticidade pode trazer sérias consequências para a saúde. A especialista em saúde da criança e do adolescente, Maria Teresa Paletta, também frisa que a alimentação apressada pode levar ao desenvolvimento de doenças como obesidade e explica: “A primeira fase da digestão acontece na boca. Se a pessoa mastiga pouco, sobrecarrega o estômago, pois

Sobrecarga para o estômago: alimentação ligeira e de pé faz parte do dia-a-dia urbano, mas traz prejuízos à saúde

Alternativa que cabe no bolso “A refeição deve ser uma hora prazerosa, de convívio, de conversa”, afirma Maria Teresa. Mas, quando não se pode comer em casa, a saída é tentar minimizar os efeitos desfavoráveis dessa alimentação apressada. “Deve-se levar alimentos de casa, se possível. Caso contrário, procurar

ingerir alimentos menos gordurosos, como sanduíches naturais, frutas, legumes, e substituir refrigerantes por sucos”, aconselha a médica. É o caso de Thais Araújo, estudante de Comunicação Social, que trocou os salgados gordurosos da cantina de sua faculdade por sanduíches preparados em casa: “Como não como carne, fica difícil achar um alimento que combina com as minhas preferências. Além disso, no final do mês acaba sobrando mais dinheiro.”

A Secretaria de Política Urbana (SPU) é o orgão público responsável por verificar a higiene pessoal do ambulante que comercializa alimentos, a limpeza do entorno e o acondicionamento dos alimentos e do lixo. As penalizações para o estabelecimento variam de acordo com as infrações cometidas. Uma infração média (416 pontos) se refere à não utilização de uniforme em cor clara, gorro, luvas, e contratação de funcionários para limpeza. Já uma infração grave (mil pontos), caracteriza-se por colocar à venda mercadorias que não estejam em perfeitas condições de consumo, observando as exigências de ordem higiênico-sanitárias. Para se montar este pequeno negócio, não há um treinamento específico. O ambulante precisa apenas de um alvará sanitário inicial para funcionamento, que contém um formulário, uma cópia do Manual de Boas

Práticas de Serviços de Alimentação e a comprovação do pagamento de taxa de fiscalização sanitária. Porém, diferente do que se pensa, não é a Vigilância Sanitária quem realiza esse tipo de fiscalização. A SPU é responsável tanto pela verificação desses documentos, quanto da vistoria no coméricio, que acaba acontecendo apenas uma vez por ano. Com a pouca fiscalização, o que se vê nas ruas é a proliferação de barracas em condições duvidosas, nas quais os alimentos são armazenados em locais impróprios, os vendedores não usam o vestuário exigido, nem existe lixeiras adequadas. Segundo especialistas, nessas más condições de higiene e armazenamento, e com fiscalização insuficiente, fica a cargo do consumidor fazer sua própria avaliação e escolher a opção que mais convém a seu bolso, tempo e estômago, mas sem esquecer da saúde.

não dá tempo de perceber que está saciada.” Sebastião Luiz, técnico mecânico, prefere não arriscar. “Adoro pastel, mas só como em lugares em que são feitos na hora. Costumo comer em casa, pois na rua é difícil saber como são feitos os alimentos”. Sebastião compra frutas, verduras e legumes, mas não os come na rua. Ele prefere levar para casa e preparar a refeição junto à família.

funcionamento do intestino, e ainda são ricos em colesterol, podendo causar doenças cardíacas”.

Lanchinhos perigosos Além dos problemas de comer de forma apressada, essas barraquinhas de comida também podem trazer consequências espefícicas dos tipos de alimento e das condições em que são comercializados. Para Paletta, “esses alimentos em geral são muito calóricos, o que pode gerar obesidade e gastrite. Também contêm poucas fibras, o que gera mau

Vistoria só uma vez ao ano

Daniel Candian

Sanduíche e refrigerante: combinação é de risco se ingerida cotidianamente


10 Esporte

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ESPORTE EM JF

Miss quer divulgar judô em JF Lohaine Andrade levanta bandeira pelo esporte que integra crianças, adultos e idosos de ambos os sexos Eugénia Artimiza

Eugénia Artimiza Laura Nardelli

E

la já é veterana no judô e já conquistou o terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, em 2005, e o quarto lugar, em 2006. A juizforana Lohaine Andrade, de 20 anos, é faixa marrom no esporte que pratica desde os 6 anos. “Comecei no colégio onde estudava. Eu me sentia bem e nem quis praticar outro esporte”, afirma Lohaine. A atleta, além de ser musa do tatame, foi eleita a Miss Juiz de Fora 2008 e concorreu ao Miss Minas Gerais, realizado neste mês. Segundo ela, o esporte e a vida alimentar regrada foram essenciais para a vitória no concurso. “O judô faz a gente assumir responsabilidades, ser paciente também é importante para o corpo”, destaca. De fato, o judô, ao contrário do que muitos pensam, não é um esporte agressivo. É uma arte marcial e seus principais objetivos são fortalecer o físico, a mente e o espírito de forma integrada, além de desenvolver técnicas de defesa pessoal. O judô utiliza basicamente a força e o peso do oponente contra ele. A vitória representa um fortalecimento espiritual. Com milhares de atletas e federações espalhados pelo mundo, o judô se tornou um dos esportes mais praticados, representando um nicho de mercado fiel e bem definido. O esporte não restringe seus adeptos a homens com vigor físico e estende seus ensinamentos para mulheres, crianças e idosos. Lohaine sempre teve uma alimentação balanceada por causa do esporte. Só toma refrigerante no fim de semana, come muitas verduras, legumes e frutas. Para se exercitar, além do judô, faz caminhadas.

Lohaine atribui o primeiro lugar no Miss JF à disciplina que aprendeu no judô Mulheres vão à luta Hoje, homens e mulheres treinam de igual para igual. Porém, de acordo com o site da Federação de Judô do estado do Rio de Janeiro, o criador do judô, Jigoro Kano, ao idealizar o esporte, não pensou que a sua obra também poderia ser praticada pelo sexo feminino. Como a irmã mais velha do mestre demonstrou um grande interesse em aprender essa modalidade esportiva, ele começou a perceber que as mulheres poderiam ser beneficiadas com a prática. Apesar de o judô ter sido idealizado em 1882, somente 31 anos mais tarde, portanto em 1923, é que o instituto fundado por Kano inaugurou um departamento experimental de judô feminino. Houve competições continentais e disputas de forma experimental nas Olimpíadas de Seul em 1988. Mas, só em 1992, nas Olimpíadas de Barcelo-

na, o judô feminino tornou-se esporte olímpico. Em Juiz de Fora, a prática do judô entre as mulheres praticamente começou com a judoca Thaísa Vianna, personal trainner de Lohaine. Ela foi a primeira juizforana a obter a faixa preta no judô. Thaísa faz parte de uma família de judocas. Seu avô paterno era lutador de judô e deixou a paixão pelo esporte como herança para as outras gerações. Thaísa começou a treinar aos 9 anos, incentivada pelo irmão e pelo pai, o professor Justin Vianna. A partir daí ela não parou mais. Hoje, formada em Educação Física, é professora de judô e apaixonada pelo que faz. Em relação ao preconceito por ser mulher e praticar uma luta, a judoca garante que já passou por essa fase, mas que hoje isso não existe mais. “Quando eu era criança era tudo mais

Preparação das campeãs no tatame Eugénia Artimiza

Justin indica a prática para mulheres

O professor Justin Vianna é faixa preta e pratica o esporte há 35 anos. Ele é coordenador da Federação Mineira de Judô na Zona da Mata. Durante o tempo que Justin atua como professor já treinou muitas mulheres e até já levou algumas para competições. Ele garante que o esporte é adequado para elas. “A prática do judô desenvolve técnicas de defesa pessoal. As mulheres aprendem a ter habilidade no esporte e se sentem mais seguras.” O professor ainda afirma que os atletas não precisam ser muito altos ou fortes. “Através do treinamento eles aprendem a ser agéis. O próprio criador do judô, o mestre Jigoro Kano, era uma pessoa de baixa estatura e pouca resistência. Ele media 1,60

metro. Por isso, ele começou a praticar a arte marcial, já que não dependia da força.” Além disso, o esporte é uma boa opção para queimar calorias. “O treinamento aeróbico é intenso. Associado com uma alimentação adequada, as mulheres se sentem satisfeitas com o corpo”, resume Justin. Outro ponto favorável para a prática do esporte entre as mulheres é o fato de que elas aprendem a ter disciplina e exercitam a mente. “As mulheres que lutam judô se sentem mais bem praparadas para o dia-a-dia. O tatame é como se fosse um templo. Aqui a gente exercita o espírito. Isso é muito importante para as mulheres que hoje em dia trabalham, estudam, têm que cuidar da casa e dos filhos.”

difícil. As pessoas não entendiam porque eu praticava judô e não fazia balé”, brinca. Thaísa só reclama da dificuldade para conseguir patrocínio. “Infelizmente, ainda tem muita gente que não acredita no esporte e o judô é uma luta cara e elitizada”, declara. Lohaine concorda com a personal quando o assunto é preconceito. “Não há mais discriminação com mulher no judô.” A judoca garante que até prefere lutar com homens. “As mulheres têm mais frescura. Eu luto com homens de até 80 kg. O importante é a habilidade e não a força”, ensina. Futuro na modalidade Lohaine cursa faculdade de Química na UFJF e tem uma certeza: não quer abandonar o esporte. Ela planeja continuar conciliando a profissão e o judô. Lohaine treina três vezes por semana, durante uma hora por dia, e complementa a preparação na academia de ginástica. A judoca diz que ao ver os atletas brasileiros competindo em grandes campeonatos se sente como se estivesse dentro do tatame e também fica muito orgulhosa ao ver seu esporte muito bem representado mundialmente, principalmente entre as mulheres. Mas, para competir em outras cidades ou até mesmo no exterior, a judoca precisa de patrocínio. “Conseguir apoio financeiro é mais difícil do que o treinamento em si. Para subir na hierarquia, é preciso fazer um curso em Belo Horizonte, já que não tem em Juiz de Fora”, desabafa Lohaine. “Com os exames, custa R$ 5 mil, fora os gastos com a viagem, uma vez por mês, durante um ano”, completa. Porém, agora, como Miss Juiz de Fora, Lohaine pretende chamar a atenção das pessoas não só para o judô, mas para o esporte em geral.

Mais sobre arte marcial

O judô teve grande aceitação no Japão, espalhando-se posteriormente para o mundo todo. A arte marcial chegou ao Brasil em 1922, no período da imigração japonesa. A vestimenta utilizada nessa modalidade é o kimono, que pode ser branco ou azul. No Brasil, as graduações do judô são feitas através das cores das faixas. São elas (de menor para maior graduação): branca, amarela, laranja, verde, azul, marrom e preta. As competições internacionais do esporte são organizadas pela Federação Internacional de Judô (IJF). No Brasil, a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) organiza os campeonatos nacionais.


Comportamento 11

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VÍDEO MANIA

Jovens expressam idéias na tela Internet e novas tecnologias incentivam linguagem própria e inovadora na produção audiovisual

Daneil Candian

Eduardo Vasconcelos Henrique Vale

O

s jovens sempre são apontados como representantes sintomáticos do tempo em que vivem. Suas formas de expressão têm linguagem própria e isso não é diferente na produção audiovisual. As facilidades tecnológicas encontradas por esta geração criam um cenário propício à abordagem de temáticas diversificadas e experimentação. “Em muitos vídeos e filmes é possível perceber a noção de mundo desses jovens. Além disso, o uso dos novos recursos faz com que as produções apresentem um conteúdo cada vez mais autoral”, afirma o professor e psicólogo social Antonio Castanheira. Ao analisar os vídeos como forma de expressão de seus realizadores, ele classifica a geração atual como “nativa” de uma sociedade tecnológica que se preocupa em dominar os novos recursos que dispõe ao invés de entendê-los. Faça você mesmo Dentro e fora do ambiente acadêmico, o espírito “do it yourself” é o que move os produtores que se destacam em festivais e na internet. Mesmo numa rede onde a maioria dos usuários posta vídeos de casamentos na família, gols do time que torcem e pegadinhas, o número de pessoas que aposta em idéias originais vem ganhando fôlego com a ampliação das formas de divulgação

O interesse pela fotografia fez Bruno Santos trocar a Faculdade de Geografia pelo Curso de Produção Audiovisual desses vídeos. Bruno Santos, conhecido como Santinho, é uma dessas pessoas. Sempre esteve envolvido com produção de eventos, distribuição de discos, publicação de zines e outras iniciativas que fomentavam o underground em Juiz de Fora. Desiludido com o curso de geografia, a paixão pelas fotos o levou para o curso de Produção Audiovisual na Universo. Ele ingressou na faculdade em 2006, ano do boom do Youtube, mas até então

nunca havia produzido nada. “Baby dancing doll” foi o primeiro vídeo produzido por Bruno, semanas depois de entrar na faculdade. O vídeo foi gravado com uma câmera fotográfica emprestada, uma boneca que era da sua mãe e uma banda de hardcore da Suécia na trilha. Santinho tentou a sorte e mandou o vídeo para MTV e sua produção acabou virando vinheta da emissora. O êxito de sua primeira produção o deixou convicto de que estava no cami-

nho certo: “Eu vi que tudo que eu tinha que fazer era produzir pra depois ver o que iria rolar.” E foi com esse espírito que ele chegou até o SBT de Santa Catarina, onde hoje é cinegrafista e editor de um programa para o público jovem. Bruno ainda arruma tempo para produzir o que gosta e dar essa entrevista por telefone, enquanto se prepara para colar cartazes de divulgação de um show do Móveis Coloniais de Acaju que acontece este mês em Maringá.

Recursos tecnológicos criam novo perfil de produtores Houve um tempo em que a maioria dos estudantes do audiovisual era de profissionais que buscavam aprimorar sua formação acadêmica ou suas técnicas de produção. Esta realidade começou a mudar com a democratização do cinema digital e a distribuição desses vídeos na internet. Segundo o coordenador do curso de Produção Audiovisual da Universo em Juiz de Fora, Michael Guedes, um novo perfil de estudantes têm ingressado no curso. “São pessoas que tomaram contato com o vídeo, muitas vezes como espectadores e tomaram gosto pela coisa. Eles vêem no audiovisual a oportunidade de realizar uma atividade profissional prazerosa”, afirma Guedes. Para Nilson Alvarenga, professor da UFJF e um dos organizadores do Festival Primeiro Plano, a partir de 2005, ano em que o Youtube começou, percebe-se um aumento de jovens participando da mostra competitiva de vídeos. Como conseqüência, foi natural que o público também rejuvenescesse. Desde então, os jovens produtores se tornaram os principais vencedores dos prêmios e menções honrosas distribuídos no evento.

Jorge Macedo

Buscando aperfeiçoamento, Lucas presta vestibular para Cinema no Rio de Janeiro Do clássico ao experimental Segundo Nilson, a maior participação dos jovens não alterou o conteúdo dos vídeos, que continua bastante diversificado. Se antes a produção de vídeo tinha ligação com as experimentações da videoarte, agora a

liberdade é ainda maior, podendo ir do alternativo ao mais conservador possível. Lucas Mendonça é exemplo desse segmento clássico. Na edição passada do festival ele faturou o voto popular com o vídeo “Segunda Atitude”. Essa

produção foi o primeiro contato dele com o audiovisual. A história mistura amor e vingança e é contada em tempo linear, um curta que poderia ter sido rodado décadas atrás. “Com o prêmio eu fiquei mais incentivado a produzir e percebi que na faculdade de jornalismo eu não conseguiria me dedicar como queria nos meus projetos”, diz o ex-aluno de Comunicação Social da UFJF. Lucas pretende cursar cinema no Rio de Janeiro e atualmente vive em sua cidade natal, Leopoldina, onde gravou seu mais recente vídeo, “É melhor morrer de Vodka”, inscrito na edição deste ano do Primeiro Plano que começa no dia 27 de outubro. Em contraponto à produção de Lucas, o VJ e designer, Tiago Macedo, segue uma estética mais experimental. Suas produções são uma enxurrada de referências, com colagens de gravuras, filmes e até de vídeos da internet. É raro ver algum de seus vídeos em festivais ou na rede. Para o recém-formado em Artes, “eles são pensados para causar efeitos em ambientes predeterminados, como em projeções durante festas e vídeo-instalações”.


12 Cultura

Jornal de Estudo

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pOUCA DIVULgAÇÃO

Descaso marca museus de JF

Educação é um dos caminhos rumo à conscientização sobre a importância do patrimônio histórico Savio Ramos Melgaço

Savio Ramos Melgaço

Falta ao Brasil uma política educacional que tenha a cultura como uma das prioridades”, afirma a museóloga do Museu Crédito Real, Josenira Monteiro de Souza. Para ela, Juiz de Fora demonstra o descaso nacional com a historiografia. O primeiro museu público da história surgiu em 1793, na França. O Louvre foi pioneiro no processo de democratização cultural e é, hoje, podese dizer, uma das instituições mais conhecidas e demandadas do mundo. No Brasil, a maioria dos museus foi fundada apenas em meados do século XX. Além de o país ter apenas 500 anos de história, seu atraso no circuito museográfico mundial poderia justificar a falta de hábito de freqüentar museus da população brasileira. Segundo o professor e coordenador dos Museus de História Natural e de Etnologia Indígena do Colégio Academia de Comércio, Bruno Larcher, agregar valores a uma cultura é complicado e demanda muito tempo. “A situação é ainda mais delicada, porque vivemos em uma sociedade avessa às mudanças”, explica. Alunos desinteressados O Jornal de Estudo entrevistou 20 estudantes de nove faculdades da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Provenientes de outras cidades, os alunos pontuaram o que conhecem sobre a estrutura museológica do município. Os depoimentos comprovam o desconhecimento acerca do acervo histórico local. Apesar de a cidade contar com uma vasta estrutura museográfica, apenas o Museu Mariano Procópio (Mapro) foi mencionado por todos os participantes. O Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), o Museu de Cultura Popular e o Museu Marmelos-Zero foram lembrados, cada um, por dois estudantes e os Museus da Academia e o Ferroviário por apenas um. Os entrevistados julgam que a falta de divulgação e o desinteresse da população pelos museus são os responsáveis pelo desconhecimento e pelo abandono das instituições. A aluna do sexto período de administração, Erika Almeida, justifica que o jovem, hoje, possui novos hábitos e interesses. “Além dos problemas com a divulgação, os museus são monótonos.” De mesma opinião, a aluna do segundo período de Estatística, Jéssica Maria Afonso Silva, declara que, em Juiz de Fora, as festas estudantis são mais valorizadas do que a cultura. Segundo a professora do Departamento de Zoologia e coordenadora do Museu de Malacologia da UFJF, “o estudante, hoje, é desinteressado e acha que museu é lugar de coisa velha.” Políticas ineficientes O Mapro foi freqüentado por ape-

Alunos da Escola Municipal Quilombo dos Palmares em visita guiada ao Museu Ferroviário, o único administrado pela Funalfa nas três de todos os participantes e lembrado, de maneira recorrente, como “aquele que está fechado”, por estar em reformas há dois anos. Segundo a chefe do Departamento de Acervo Técnico do Museu, Maria Salete Ferreira Figueira, a Instituição teria se tornado publicamente reconhecida depois de estampar, em 2006, a 25ª edição da

série “Museus Brasileiros”, financiada pelo Banco Safra. Os problemas com a divulgação e a defasagem cultural brasileira são retomados também pelo professor de história e superintendente da Funalfa, Toninho Dutra. “Seria importante a construção de uma rede voltada para a divulgação dos museus. Essa debilida-

de é característica de um país que ainda não privilegia a questão da memória.” A única instituição da cidade, sob os cuidados da Fundação, é o Museu Ferroviário. Apesar disso, Toninho ressalta que o fomento à cultura no município é uma de suas responsabilidades. “Infelizmente, a Funalfa ainda tem feito muito pouco”, lamenta.

Práticas educacionais criam hábitos Com o objetivo de aumentar o público nos museus da cidade, os administradores das instituições, a Funalfa e a Secretaria de Turismo desenvolvem projetos pedagógicos. “Mais voltados para as escolas, os programas visam à divulgação dos museus e à formação de um novo jovem, envolvido com a memória social”, ressalta o superitendente da Funalfa, Toninho Dutra. Segundo a assessora de projetos do Museu Ferroviário, Vânia Tavares da Silva, apesar dos problemas com a divulgação e com a sinalização, os projetos fazem com que as visitas ao museu aumentem de maneira significativa. O coordenador dos museus do Colégio Academia de Comércio, Bruno Larcher, ressalta que, apesar de a pesquisa ser fundamental, para a muse-

ologia moderna, o público é o mais importante. “O museu, hoje, deve ser um lugar aconchegante. Museu sem público é o mesmo que banco sem dinheiro.” A museóloga Josenira Monteiro explica que visitas guiadas e atualização do acervo são fundamentais para que os visitantes sintam-se motivados a voltar. Juventude como solução O museólogo e chefe do Departamento de Difusão Cultural do Mapro, Cláudio Nelson de Oliveira Barbosa, explica que as iniciativas voltadas ao público jovem podem formar uma sociedade engajada à causa da preservação histórica. Segundo o superintendente da Funalfa, por meio de medidas como essas, de trazer a escola para dentro do museu e valorizar a memó-

ria, promove-se a construção de uma nova realidade para o país. “Existem perguntas sobre a sociedade a serem respondidas. Os museus são fundamentais nesse processo”, explica. Mesmo com iniciativas da Prefeitura, uma das dificuldades seria a adesão espontânea dos colégios. O diretor da Divisão de Patrimônio Cultural (Dipac), Paulo Gawryszewski, salienta que as escolas aderem aos eventos só depois de serem convidadas. A Secretaria de Turismo não destina verba específica para a manutenção museográfica. Questionada sobre a responsabilidade do órgão para a divulgação das instituições, a assessoria de imprensa limitou-se a dizer que a população juizforana é fundamental no processo de divulgação do acervo histórico do município.

Conheça alguns projetos de incentivo à cultura local Caminhos da Cultura Organizado pela Funalfa, em parceria com a Secretaria de Turismo e com o apoio de diversos museus, o circuito leva os jovens da comunidade às instituições culturais do município. Só neste ano, participaram do projeto aproximadamente 7.500 estudantes. O evento ocorre sempre no mês de maio, em comemoração ao dia internacional do museu (18), e conta com sete circuitos.

Viver Juiz de Fora O projeto Viver Juiz de Fora é uma iniciativa da Prefeitura. O programa, que visa à popularização dos museus da cidade, disponibiliza três roteiros turísticos: Histórico Cultural, Museus e Cultura e Juiz de Fora Atual. O projeto atende 240 crianças, semanalmente. Entre os museus visitados, estão o Crédito Real, o Ferroviário, o de Cultura Popular, o Marmelos-Zero e o Mamm.

Primavera dos Museus Realizado pela Secretaria de Estado de Cultura, o evento acontece em setembro. O circuito conta com a participação do Museu Crédito Real (Juiz de Fora) e promove a divulgação de acervos itinerantes. Os Museus Casa Alphonsus de Guimarães (Mariana), Casa Guignard (Ouro Preto), Casa Guimarães Rosa (Cordisburgo) e Mineiro (Belo Horizonte) também fazem parte do projeto.


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