Jornal agosto 2008

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Jornal de Estudo

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, Agosto de 2008 | Ano 43 | Nº 192

Campus pág. 3

Vigilância eletrônica na UFJF é a aposta para segurança em 2009 Débora Nobre e Eduardo Vasconcelos

UFJF pretende investir em equipamentos eletrônicos para melhorar seu sistema de segurança. O crescimento do número de furtos e roubos levou a instituição a solicitar a presença de policiais militares no Campus. No novo cenário: novos veículos, vigilantes armados e mulheres contratadas para a segurança.

Especial pág. 6 e 7

Solteirice celebrada

O Dia dos Solteiros está ficando famoso. O índice de solteiros cresce e ganha espaço na imprensa e no mercado editorial. Muitos solteiros são convictos e outros não, mas todos têm suas razões para viver bem sozinhos. Em pág.4 Juiz de Fora, o índice de solteiros chega a Estudo que vai ajudar a definir novas políticas públicas 48,23% da população. Mas o que explicaTrabalho realizado pelo Centro de Pesquisas Sociais da UFJF revela preria este alto número? cariedade e dificuldades operacionais na rede de assistência social municipal. Faltam financiamentos, estrutura física e organização administrativa para que as políticas assistenciais avancem. O CPS pretende agora levantar informações do novo Plano Municipal de Atenção à Criança e ao Adolescente.

Pesquisa

Daniel Candian

Comportamento pág. 11 Ser mulher, ser musicista

Festival de música em Juiz de Fora promove talentos femininos e incentiva o diálogo da participação das mulheres na arte e na sociedade. O Mulheres no Volante está em sua segunda edição e apresenta bandas, oficinas, roda de conversa, unindo mulheres e homens no debate sobre a participação feminina na sociedade. Caroline São José

Política pág. 5

Juventude politizada O movimento estudantil brasileiro é muito conhecido por sua participação em protestos ou em manifestações. Mas os jovens estão mais envolvidos em grupos de discussão ou em partidos políticos, provando estarem politizados e atuantes na construção da sociedade.

Cultura pág. 12 Obras paradas

Dossiê enviado a diversas autoridades pede desbloqueio de verbas do Museu Mariano Procópio para que obras de restauração continuem. O acervo do museu corre riscos de sofrer danos se as obras não forem retomadas.


2 Opinião

Jornal de Estudo

agosto de 2008

Artigo Para uma sociedade mais bem informada Laura Nardelli

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uito se fala hoje sobre a obrigatoriedade ou não do diploma de curso superior em jornalismo para o exercício da profissão. Em uma palestra do escritor Zuenir Ventura, ministrada no dia 11 de agosto em Juiz de Fora, ele foi questionado sobre a obrigatoriedade do diploma. Zuenir trabalhou muitos anos como jornalista, mesmo sem nunca ter freqüentado uma faculdade de comunicação. É inegável que ele tenha um excelente texto, mas o próprio escritor afirma que seu filho, formado em jornalismo, tem muito mais qualificação para atuar no mercado. Ao se discutir a respeito da obrigatoriedade ou não do diploma de jornalismo para atuar na profissão, deve-se pensar primeiro no direito da sociedade em receber uma informação de qualidade, honesta e democrática. Informação esta que depende de uma prática profissional baseada em preceitos éticos. O que está sendo questionado aqui não é o profissionalismo de Zuenir Ventura ou de qualquer escritor que trabalha ou tenha trabalhado como jornalista. A discussão é em torno da defesa de que a melhor forma de se preparar, de se formar jornalistas capazes de desenvolver tal prática, é através da junção do aprendizado do dia-a-dia e de um curso superior de graduação em jornalismo. É importante lembrar que o jornalista formado agrega a seu texto a responsabilidade social, as escolhas morais profissionais e o domínio da linguagem especializada, da simples notícia à grande reportagem. O mais equivocado, destorcido e talvez ingênuo argumento contrário é o de que a regulamentação da profissão e a exigência do diploma cercearia a liberdade de expressão na mídia. Porém, quem conhece a prática jornalística sabe que a sociedade pode se expressar na mídia através de artigos ou cartas de opinião. O jornalista formado sabe bem que a essência da profissão é ouvir os dois lados de um mesmo assunto, além da elaboração de matérias de interesse público e com ampla relevância social. Além disso, as pessoas podem expor seus conhecimentos sobre as áreas especializadas. Por esse motivo, existem tantos artigos, na mídia, assinados por médicos, advogados, engenheiros, sociólogos, historiadores etc. Diante disso, por que confundir o cerceamento à liberdade de expressão e a censura com o direito de os jornalistas terem uma regulamentação profissional que exija o mínimo de qualificação? Por que favorecer o poder desmedido dos proprietários das empresas de comunicação, os maiores beneficiários da nãoexigência do diploma? É na faculdade que há laboratórios de telejornalismo, radiojornalismo, fotojornalismo, planejamento gráfico, jornal, revista, webjornalismo e outros. O

curso superior forma profissionais para atuar em jornalismo e não para uma ou outra empresa. Forma profissionais capazes de atuar em quaisquer instituições, setores ou funções. Hoje, o curso superior em jornalismo existe nos quatro cantos do planeta e a sua obrigatoriedade para o exercício da profissão é uma exigência legal verificada em muitos países, como África do Sul, Bélgica, Croácia, Equador, Tunísia, Turquia e Ucrânia. A Bélgica, por exemplo, conta, desde 1963, com uma lei de reconhecimento e proteção ao título de jornalistas profissionais. Na prática, institui multas de valores elevados e pune, baseada no código penal do país, os infratores da lei. Mas, mesmo nos locais onde não existem leis específicas exigindo o diploma, os formados acabam levando vantagem na disputa por uma vaga no mercado de trabalho. Onde o diploma não é uma exigência legal, acaba sendo uma grande preferência ou mesmo uma exigência do mercado de trabalho. Nos Estados Unidos, por exemplo, a maioria esmagadora dos profissionais contratados por meios de comunicação cursaram uma faculdade de jornalismo. Lá não há a exigência do diploma por lei. Porém, o país conta com 400 faculdades e universidades que oferecem o curso de jornalismo, 120 oferecem pósgraduação na área e 35 oferecem doutorado. Na Alemanha, existem duas grandes organizações sindicais que representam os jornalistas e não há exigência do diploma em lei. Porém, segundo Hermann Meyn, autor do livro intitulado “Massenmedien in der Bundesrepublik Deustschland” ( Os meios de comunicação de massa na Alemanha), “ambas as organizações sindicais alemãs estão tendo que constatar mais e mais que a imagem do jornalista por nascimento é uma ilusão”. A exigência de curso superior em jornalismo é uma evidência incontestável no mundo atual. Trata-se de uma exigência do mercado de trabalho. A famosa lei de mercado. As exceções ficam por conta de especialistas, como generais que escrevem sobre guerras; economistas falando de negócios e casos semelhantes ou médicos que escrevem sobre saúde. Aliás, como ocorre no Brasil, por exigência legal. Os sindicatos e outros organismos de classe, também, têm atuação forte e os códigos de ética estão presentes, mesmo nos lugares que não contam com a exigência do diploma em lei específica. Mas, de qualquer forma, é a formação que permite o debate e novas experiências. A regulamentação brasileira para o exercício do jornalismo é um avanço, não um retrocesso.

Editorial

N

as micaretas, carnavais fora de época, os jovens enchem o peito cheios de orgulho e fazem dancinhas ensaiadas para cantar: “Sou praeiro, sou guerreiro, estou solteiro, quero mais o que?”. No entanto, passado o efeito da cerveja e dos beijos descompromissados, os adeptos da geração “bloco-do-eu-sozinho” se dirigem aos consultórios terapêuticos, ou alugam os ouvidos do amigo mais próximo e reclamam de solidão, ausência de interesse das pessoas, descaso e rejeição. O grito que exprime o orgulho de ser solteiro parece ser somente um escudo de proteção. Hoje, as vidas são tumultuadas, as pessoas trabalham mais do que gostariam e o dia-a-dia é corrido. Muitos não têm tempo de parar para namorar e manter um relacionamento. Outros não querem esse compromisso. Preferem a “liberdade”, e ficam repetindo sempre a tão conhecida frase: “Sou solteiro sempre, mas sozinho nunca”. Essas pessoas dificilmente se apaixonam, mas gostam da companhia do outro. Elas não têm muito talento para namorar, nem para casar. Preferem caminhar sozinhas, sem paciência ou habilidade para aprofundar-se em relacionamentos. Os tempos atuais beneficiam essas pessoas já que hoje se pode ter encontros efêmeros, sexo sem compromisso, salas de bate papo e sites de relacionamento na Internet, enfim, toda uma cultura que dá suporte aos solteiros. Vive-se em uma época muito diferente daquela em que os avós dessa geração viveram. Isso é bom por um lado, mas ruim por outro. Bom porque podese fazer opções com maior liberdade. E ruim porque às vezes não há tempo para manter um relacionamento amoroso, especial e duradouro. Com isso, os casamentos duram pouco e os relacionamentos são desgastantes. Mas isso não é regra, claro.Existem pessoas que afirmam necessitar do amparo de outras para se sentirem firmes, fortes e seguras, caso contrário, tudo perde o sentido. E quando isso não acontece, os sintomas são bem parecidos. A maioria recorre aos excessos: trabalho em excesso, malhação em excesso, comida em excesso, bebidas em excesso, cigarros em excesso e choro em excesso. No dia 15 de agosto é comemorado o Dia do Solteiro. Nessa edição do Jornal de Estudo, a matéria da seção Especial trata desse tema. Os repórteres do JE conversaram com solteiros convictos, aqueles que sabem apreciar sua própria companhia, que gostam de dormir atravessados na cama, com a televisão ligada, e que não estão a fim de mudar seus hábitos por ninguém. Além disso, para celebrar essa data, o JE reuniu dicas de solteiros que estão felicíssimos com a situação e também de um solteiro que, enquanto não encon-

tra um grande amor, desconta suas angústias comendo chocolate. O crescente número de pessoas que vivem sozinhas, não é uma característica brasileira, e sim uma tendência mundial. Então, porque não uma data para os solteiros? Se a cada ano registra-se o visível crescimento do número de pessoas solteiras, nada mais justo do que ter um dia dedicado especialmente a elas. Afinal, é sempre bom ter alguém do lado, mas solteiro é apenas um estado civil e casamento não é “seguro-felicidade” para ninguém.

Expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora Publicação produzida pelos alunos do 6º período do curso diurno e do 8º período do curso noturno da disciplina Técnica de Produção em Jornalismo Impresso Reitor: Prof. Dr. Henrique Duque Vice-Reitor: Prof. Dr. José Luiz Rezende Pereira Diretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes Vice-Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Potiguara Mendes da Silveira Coordenador da Faculdade de Comunicação diurno: Prof. Ms. Álvaro Americano Coordenadora da Faculdade de Comunicação noturno: Profª. Drª. Maria Cristina Brandão Chefe do Dept. de Jornalismo: Profª. Drª. Iluska Maria da Silva Coutinho Professores orientadores: Profª. Ms. Alice Gonçalves Arcuri, Profª. Ms. Diana Souza, Profª Fernanda Pires A. Fernandes

Monitora: Ana Carolina Serpa Editores: Laura Nardelli e Gustavo Penna Projeto Gráfico: Karolina Vargas e Poliana Cabral Reportagem e diagramação: Bruna Cipriano, Bruna Provazi, Bruno Guedes, Carolina São José, Cecília Amaral, Daniel Candian, Débora Nobre, Eduardo Vasconcelos, Eugênia Artimiza, Francisco Franco, Henrique Vale, Kaliandra Casati, Laura Pequeno, Marília Lima, Rodrigo Aguiar. Savio Melgaço. Tiragem: 1.000 exemplares Endereço: Campus Universitário de Martelos, s/n – Bairro Martelos 36036-900 Telefones: (32) 2102-3601 / 2102-3602

ERRATA Ao contrário no que foi publicado nas três edições anteriores, o Jornal de Estudo de abril corresponde ao número 189, seguido pela impressão de maio, 190, e junho, 191.


Campus 3

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SEGURANÇA REFORÇADA

UFJF terá vigilância eletrônica a partir de 2009 Instalação de câmeras no Campus espera por liberação de verbas do Governo Federal

Débora Nobre / Eduardo Vasconcelos

Débora Nobre Eduardo Vasconcelos

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projeto que prevê a instalação de uma central de monitoramento no Campus já foi aprovado pela Reitoria da UFJF. Elaborado pelo superintendente de segurança da Universidade, José Carlos Tostes, a proposta é que câmeras de vigilância sejam instaladas em 2009. Devido ao alto custo, ainda não se sabe se a implantação será total ou parcial. A Reitoria agora busca recursos junto ao Governo Federal para viabilizá-la. Para tornar o Campus mais seguro, outras providências imediatas foram tomadas, como a aquisição de duas viaturas e quatro motos para o patrulhamento da área e a incorporação de 12 vigilantes armados ao quadro de funcionários terceirizados. Uma curiosidade é a contratação de duas vigilantes do sexo feminino, que desempenham esta função pela primeira vez na Universidade. Tostes não informou o número total de vigias, alegando que esta informação é estratégica. Segurança deficitária As novas medidas tentam controlar a sensação de insegurança existente na comunidade universitária desde abril, quando a empresa responsável pela vigilância foi substituída. Com um número inferior de vigias, a criminalidade cresceu e teve pico de ocorrência entre os meses de maio e junho. Segundo o superintendente de Segurança, a situação já foi controlada.

Nova viatura adquirida pela Superintendência de Segurança da UFJF. Mais vigilância no campus Para inibir novos delitos, a Reitoria pediu auxílio à Polícia Militar, que passou a fazer rondas ostensivas pelo Campus, principalmente durante a noite. Em julho, uma investigação da PM prendeu uma quadrilha que agia na UFJF e recuperou vários celulares que estavam em uma casa no bairro Dom Bosco. A superintendência de Segurança acredita que a maioria dos casos estão relacionados à proximidade com bairros de alta criminalidade. O anúncio da construção de um posto do Corpo de Bombeiros na entrada da Universidade criou especulações sobre a vinda de uma base da PM para o Campus. Para Tostes, isto está fora de cogitação, pois “não seria uma atitude estratégica, uma vez que

o 99º Batalhão da Polícia Militar está localizado a poucos metros da entrada de São Pedro.” Festas e drogas As últimas festas realizadas no Campus foram marcadas por ocorrências de assaltos e brigas. Nenhuma medida adicional foi tomada para reverter esta situação, mas continua obrigatória a contratação de seguranças particulares ou dos próprios vigilantes da UFJF para a realização desses eventos. O aluno de Arquitetura, Deusdedt Alves, organiza festas com freqüência e diz preferir os seguranças particulares. “Os vigias daqui são passivos frente a incidentes como brigas, preocupando-se mais em proteger o

Polícia Militar no Campus !?

“Não passa de lenda a história de que os militares não têm autorização para agir em uma área federal”, afirma Tostes, que já foi Delegado da Polícia Federal em Juiz de Fora. A atuação da PM é permitida, desde que solicitada, seja pela Reitoria ou por vítimas de violência. O Superintendente, que assumiu o cargo em março de 2007 a convite do Reitor, acredita que as rondas ostensivas da PM podem coibir assaltos e outros incidentes. Mesmo proporcionando mais segurança, a presença da PM não é bem vista por todos. Andressa Siqueira, integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE), afirma que, historicamente, o movimento estudantil sempre foi contra a atuação da Polícia Militar. Para ela, uma maior presença da PM, aqui e em outras universidades federais, tem relação direta com as manifestações contra o REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), ocorridas ano passado. Ela faz questão de lembrar o episódio durante as manifestações da votação pelo Conselho Superior, no Museu de Arte Murilo Mendes, quando 250 policiais cercaram o prédio na tentativa de impedir o movimento. Andressa afirma que esta postura da Reitoria é uma tentativa de intimidar o movimento estudantil, e que sempre que os ânimos ficam mais exaltados a presença da PM se intensifica. “Com um número inferior de vigias, além de cortar gastos, criou-se uma situação de insegurança usada para legitimar a presença da Polícia.”, argumenta a militante, que se sentia mais segura na época em que existiam mais vigias espalhados pelo Campus e menos rondas policiais.

patrimônio”, alega. A recomendação da equipe de segurança da UFJF é de que haja um segurança para cada 50 pessoas presentes nos eventos. A Reitoria não tem uma política específica para a prevenção ao uso de drogas, inclusive para as festas. A orientação para os seguranças contratados é que seja acionada a PM sempre que houver registro de qualquer ação criminosa, incluindo o consumo drogas. Tostes confirma que um acadêmico foi algemado e levado de camburão para a Polícia Civil, após ser flagrado consumindo maconha, em junho, na Praça Cívica. Ele esclarece que a algema só foi utilizada porque o aluno reagiu, sendo retirada assim que ele se acalmou.

VOCÊ É A FAVOR DA PRESENÇA DA PM NO CAMPUS?

“A presença da PM dentro do campus é interessante, e não constrangedora. A PM vem fazer o trabalho dela, mesmo que só de passagem.”

Heloyr Barreiros, Aluno do 9º período de Direito

“Não vi diferença, até porque não percebemos a presença da PM nessa região do Restaurante Universitário e da Faculdade de Engenharia.”

Bruno José, Aluno do 4º período de Arquitetura

“Foi uma conquista não haver intervenção militar dentro do campus. A presença da PM aqui representa um retrocesso.”

Fernanda Gerardi, Aluna de História

“Eles não estão aqui para prender estudantes, mas para fazer a nossa segurança. Acredito que os guardas daqui não têm treinamento para inibir ações criminosas.”

Erica Mendes de Souza, Aluna de História


4 Cidade

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EDUCAÇÃO

Escolas públicas de JF não estão preparadas para a diversidade Família relata que processo de transferência entre instituições de ensino é lento e discriminatório Savio Ramos Melgaço

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.A.C.S, 11, filho da diarista E.C.C., 37, e do porteiro A.J.S.S., 42, repetiu três vezes o segundo ano (antiga primeira série) e cursa, pela segunda vez, o terceiro ano do ensino fundamental (antiga segunda série). Ele apresenta Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), segundo os pais, e enfrentou, recentemente, um longo processo de transferência entre escolas do município. A criança apresenta sintomas desde os 6 anos de idade. Entre 2003 e 2005, devido à morosidade do sistema público de saúde, os pais precisaram custear os primeiros tratamentos médicos. Para a diretora de uma escola municipal, S.M., “às vezes, há a detecção do problema pelo colégio, mas daí ao aluno ser atendido, leva-se muito tempo”. A despeito de não conseguir um suporte em um dos Núcleos de Atendimento à Criança Escolar (Neace), órgão vinculado à Prefeitura, a família conseguiu o apoio de uma instituição conveniada, o Instituto Médico Psico-Pedagógico (Imepp). Ainda hoje, a criança conta com suporte psicológico e fonoaudiológico. O estudante está lotado em uma das instituições públicas de ensino da cidade. No entanto, apesar da intervenção da Secretaria de Educação e do Conselho Tutelar, M.A.C.S estuda em uma escola do estado. Segundo os pais do pré-adolescente, no antigo colégio, devido às dificuldades apresentadas por ele em sala, M.A.C.S teria se habituado a passar as tardes na secretaria. “Como se não bastassem todos os problemas, a criança ainda era incentivada a ficar fora da classe”, afirmou a mãe. O processo de transferência Quando foram orientados pela então diretora do colégio a procurarem outra instituição de ensino para o filho, os pais depararam-se com uma estrutura burocrática e profissionalmente despreparada. Para S.M., “já que mudar a criança de escola é sempre a última opção, a atitude do colégio foi preconceituosa”. A Escola Municipal Marlene Barros foi uma das indicadas pela Secretaria de Educação à família. No entanto, segundo E.C.C., a instituição de ensino teria negado uma vaga ao aluno, alegando respeitar os critérios de faixa etária. Por ter reprovado três vezes o segundo ano e cursar, pela segunda vez, o terceiro, aos 11 anos, M.A.C.S já não poderia estudar com crianças de 8, regularmente matriculadas.

Segundo a coordenadora da Supervisão de Atenção à Educação na Diversidade (Saed), Margareth Moreira, “sob nenhum aspecto a escola pode negar vaga ao aluno, se ela existir”. Ela explica, no entanto, que, se a pessoa tem 14 anos ou mais, aí, sim, ela seria encaminhada, obrigatoriamente, para educação de jovens e adultos. A atual diretora da escola Marlene Barros, Rita de Cássia Passarella, desconhece o caso, mas ressalta que “a instituição não escolhe alunos”. A Secretaria de Educação indicou pelo menos duas outras escolas à família. No entanto, segundo os pais, as instituições eram em bairros muito distantes. “Toda criança tem o direito de estudar na escola mais próxima de sua residência. Lá, ela está com sua comunidade”, ressalta Margareth. O problema seria “o desgaste da relação entre aluno e escola. Nestes casos, começar de novo, em outra instituição, sem marca, sem estigma, pode ser a

melhor opção”, justifica. Para a diretora escolar S.M., apesar de todas as dificuldades enfrentadas pela criança, o problema seria de ordem familiar. “Bem ou mal, o préadolescente estava recebendo atendimento. O problema era na assistência à família”. As longas distâncias, segundo ela, acarretavam mais gastos e exigiam disponibilidade dos pais. A assistente social do Neace, Maria José Alves Gulato, acredita que investimentos na família, além de essenciais, deveriam ser prioridade. “Hoje, não existe criança abandonada. O que existe são famílias abandonadas.” As escolas públicas, até pela proximidade, percebem o problema e encaminham os pais à Secretaria de Educação. “A porta de entrada para os serviços especializados é responsabilidade da instituição de ensino”, explica Margareth. No entanto, a coordenadora do Saed justifica que o foco da secretaria não está na família. Savio Ramos Melgaço

Estudante com TDAH precisa de ajuda para realizar tarefas escolares

Educação inclusiva não é realidade Juiz de Fora, segundo a coordenadora da Supervisão de Atenção à Educação na Diversidade (Saed), Margareth Moreira, ainda apresentaria falhas na articulação entre os sistemas de saúde, de transporte e educacional. Apesar disso, ela explica que a escola inclusiva, uma das iniciativas do Governo Federal, que obriga as instituições de ensino “comuns” a aceitarem alunos com deficiência, é um dever previsto na constituição. “É preciso pensar em uma instituição de ensino que seja para todo mundo. Através dessa lógica, não é a mãe quem deve proceder e, sim, a escola.” Para a psicopedagoga do Instituto Médico Psicopedagógico (Imepp), Maria Benita Costa, como tentativa de socialização, a idéia é positiva e pode favorecer as crianças com algum tipo de deficiência. “Apesar de ainda não podermos prever o que a inclusão vai efetivamente trazer de

aprendizado, é certo que socializar é também capacitar para o exercício da cidadania”. Entretanto, segundo ela, “é preciso preparar não só a criança especial para esse processo, como, também, principalmente, os professores e a turma que irão recebê-la”. A assistente social do Núcleo de Atendimento à Criança Escolar (Neace), Maria José Gulato, ressalta a importância da iniciativa, mas salienta que falta capacitação aos professores. Apesar de ter a mesma opinião, a diretora escolar, S.M., é ainda mais incisiva. Para ela, “aceitar as diferenças é necessário, porém o sistema ainda conta com inúmeras deficiências, e os professores não estão preparados”. Margareth justifica a importância da inclusão sem negar que ainda há muito a ser feito. “Nós não nos preparamos para aquilo que não vivemos. Só nos preparamos a partir da reflexão sobre o que vivemos”.

Segundo A.J.S.S., o caso de seu filho demonstra o despreparo técnico e profissional do sistema educacional. Desde o ano passado, M.A.C.S. já mudou de escola duas vezes. Como ainda estuda muito longe de casa e os gastos com transporte são altos, cerca de R$ 140 por mês, os pais ainda não dão o caso por encerrado. Para a coordenadora do Saed, casos como o do aluno devem ser denunciados à Secretaria.

Saiba detectar o TDAH

Antes de diagnosticar se uma criança tem ou não Transtorno de Defícit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), é importante fazer testes audiológicos, psicológicos e comportamentais. Hoje em dia, indivíduos agitados recebem o rótulo, muitas vezes, equivocadamente, de hiperativos. A psicopedagoga Maria Benita explica que, para diagnosticar a doença, é fundamental uma conversa franca com os pais, com a escola e com a própria criança. “Antes de dizer que ela é hiperativa, deve-se verificar se os comportamentos de impulsividade, desatenção e, eventualmente, agressividade são comuns em todos os lugares ou só na escola.” Para a psicóloga do Centro de Psicologia Aplicada (CPA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Priscila Moreira, especialista em psicologia escolar e educacional, “os sintomas de hiperatividade devem ser percebidos há pelo menos seis meses e, no mínimo, em dois lugares”. No entanto, segundo ela, é preciso, também, atenção aos fatores externos. “O método do professor, o material escolar, os colegas de classe ou o barulho dos colegas, o fato de não gostar do professor, ou até mesmo problemas familiares e de saúde poderiam levar o jovem aos mesmos sintomas.” Priscila explica que crianças com hiperatividade ou déficit de atenção apresentam “dificuldade em usar a memória de trabalho ou operacional, em reter e resgatar informações que ela já tinha e em reconhecer o que é relevante em uma questão”. Os pais podem ajudar os filhos através da imposição de limites claros. “É importante que a criança seja informada sobre os seus problemas, para que ela, como peça-chave, monitore-se”, explica a psicóloga.


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MOBILIZAÇÃO

Jovens entram cedo na política Partidos renovam quadro eleitoral e ganham fôlego com o entusiasmo estudantil em Juiz de Fora Bruna Provazi Marília Lima

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política geralmente é vista como um assunto chato, associado aos maus políticos e à corrupção. Da mesma forma, pensa-se que o jovem hoje anda despolitizado, que não se envolve mais com as questões sociais. “É necessário desfazer a idéia corriqueira de que é preciso ser ‘político’ para ser ‘politizado’”, defende o cientista social Eduardo Freitas. Segundo ele, a idéia inversa também precisa ser desfeita, pois, infelizmente, nem todos os políticos são politizados. “Possuir a simples idéia do papel do indivíduo como agente fundamental e ativo na construção da sociedade e suas relações já possibilita um bom caminho para a dita politização”, afirma. Anete Negreiros, 23 anos, atuou durante quatro anos no movimento estudantil e hoje milita na juventude do PT. Anete diz que os amigos acham engraçado esse engajamento, e que já foi até apelidada de “senhora eleição”. “A visão popular é a de que político é político pra ganhar dinheiro e pra ter cargo, não por causa de um projeto”, lamenta. Participação precoce Segundo Eduardo Freitas, quanto mais cedo a participação política começar, mais cedo ela se amadurece, além de fortalecer um processo de construção, de enraizamento dessa prática em toda sociedade. Muitas vezes, o jovem começa a se envolver com a política nos bancos escolares. É o caso das estudantes da UFJF Fabíola Paulino (Ciências Sociais) e Josiane Boucherville (Psicologia), ambas de 23 anos, que ingressaram no movimento estudantil por acreditar que a Universidade precisava de transformações. Por outro lado, alguns jovens despertam o interesse para a política por influência da família, como o caso de Anete, que, a partir da atuação da mãe em movimentos sociais, foi construindo uma ideologia e acabou se organizando dentro do movimento estudantil e de um partido para tentar transformar a sociedade.

Esse engajamento nem sempre é visto com bons olhos pelos que estão de fora do meio político. “Alguns amigos consideram uma idiotice, questionam o que estou fazendo ali dentro, falam que na política é todo mundo farinha do mesmo saco”, diz o militante do PSDB e estudante de economia da UFJF Eduardo Monsoldo, 25 anos. Apesar da rejeição dos colegas, Eduardo tem o apoio incondicional da família. Não é o mesmo caso de Josiane, que diz receber apoio dos amigos, mas não é totalmente compreendida em casa. “Não posso falar para parte da minha família que participo do PSTU, visto como radical”. Exemplo de resistência A figura do jovem politizado foi popularizada pelos filmes nacionais que abordam a ditadura militar. A explosão destas películas repercutiu na imagem de uma juventude militante da década de 60, como em “Zuzu Angel”, “O que é isso companheiro”, “Cabra cega”, “Lamarca”, “Memórias do Cárcere”, “O ano em que meus pais saíram de férias” e vários outros. Uma das obras que mais cruamente abordaram aquela realidade é “Batismo de sangue”, baseada no livro de Frei Betto. O filme retrata a tortura de frades dominicanos presos por apoiar o grupo político comandado por Carlos Marighella, e culmina no suicídio de Frei Tito. Segundo Eduardo Freitas, as motivações daquela época são diferentes, se comparadas aos dias de hoje. “Nas décadas de 60 e 70, havia outra conjuntura, de debate ideológico ferrenho. O que enxergamos hoje é outra situação, marcada por valores individualistas e competitivos.” Para Anete, a juventude é uma ideologia. “Muitas pessoas que militaram, quando jovens, contra a ditadura militar, hoje se adaptaram à lógica do sistema capitalista: ganharam dinheiro, constituíram família e foram viver a sua vida”, diz, reafirmando que os ideais arrefecem com o passar dos anos. Bruna Provazi

Ideologias: Eduardo Monsoldo estampa na camisa suas preferências

Bruna Provazi

Anete Negreiros (ao centro) participa ativamente das reuniões de seu partido

Transformando a sociedade Então, qual seria o papel da juven- te, mobiliza a sociedade nas lutas tude na transformação da realidade? contra a reforma na regulamentaSerá que sua atuação política pode ção trabalhista, e a brasileira, pelo realmente fazer a diferença ou será passe livre no transporte coletivo. O envolvimento dos jovens nas que é apenas uma fase idealista? Para Fabíola, quando há uma campanha campanhas políticas pode ser um ou um espaço em que a juventude termômetro para medir a capacidade pode intervir, surgem muitos proje- da sociedade encarar esse momento tos interessantes. “A juventude não com mais maturidade. Para Freitas, é o futuro da nação, e sim o presen- a juventude mobilizada, marcada por debates tanto conjunte”, alerta. Já para Josiane, “A sociedade está turais quanto ideolóa juventude é importante porque tem a característica fechando os olhos para gicos apresenta maior de querer romper com as a crescente organização ação para construção regras e construir o novo. dos jovens em espaços da sociedade. “ParO universitário Eduar- como o hip hop, em es- ticipar de uma camdo Monsoldo sustenta que paços culturais, e para o panha política passa a atuação dos jovens é im- Movimento Estudantil” por se enxergar como indivíduo ativo, agenportante para que eles consigam seu espaço na sociedade e para te de toda construção e transformarenovar o quadro político com idéias ção social. Em relação aos partidos, frescas. Segundo ele, até mesmo o ro- estes ganham o fôlego, o entusiasmo mantismo tem o seu lugar e pode ser e renovação da juventude, além de exemplificado com a frase da recém- dialogar de forma direta com uma formada Anete: “A gana da juventude importante parcela do eleitorado.” Os jovens de hoje podem aprede querer mudar o mundo deve ser um ensinamento para todo o movimento”. sentar comportamento diferenciado Na análise do cientista político em relação às organizações tradicioEduardo Freitas, a juventude de hoje nais (sindicatos, partidos, grêmios), criará a juventude de amanhã. “Se mas isso não necessariamente implipensarmos dessa forma, este é um ca em afirmar que os jovens deixasetor que consegue dialogar com vá- ram de atuar na política. Para Edurios outros, na família, no bairro, nos ardo, a sociedade está fechando os colégios, nas tribos, na faculdade, olhos para a crescente organização no trabalho. Quando você consegue dos jovens em espaços como o hip chegar até o jovem, consegue ma- hop, em espaços culturais, e para as ximizar suas idéias e fazer com que recentes demonstrações de vigor e elas ganhem movimento e inserção.” disposição do Movimento EstudanA juventude francesa, atualmen- til frente a questões importantes.


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DIA DO SOLTEIRO

Ser ou não ser comprometido? Individualismo e busca por liberdade dificultam o estabelecimento de relações afetivas duradouras

Bruna Cipriano Kaliandra Casati Rodrigo Aguiar

Kaliandra Casati

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Dia do Solteiro, comemorado em 15 de agosto, vem ganhando destaque midiático. O site Google traz 1.060.000 ocorrências relacionadas ao tema. Este ano, jornais de grande circulação, como O Globo e Folha de S. Paulo, publicaram matérias sobre o assunto. Como surgiu a data, ninguém explica. Em muitos blogs, internautas sugerem que seria criação de um solteiro cansado do Dia dos Namorados. De acordo com o senso 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 54,77% da população brasileira acima de 10 anos é de solteiros. Em Juiz de Fora, o índice é de 48,23%, ou seja, 268.530 juiz-foranos. O que explicaria o alto índice? Ser solteiro é opção ou falta dela? Segundo a psicóloga Mônica Bretas, individualismo e busca pela liberdade estão entre as justificativas. Para a sexóloga Maria Lúcia Beraldo, as pessoas optam pela solteirice por desistirem do “jogo do amor”. Assumir um compromisso implica em lidar com o outro. “Intimidade conforta, mas leva a abrir mão dos próprios limites. É incluir o parceiro no projeto de vida”. Convicção Para o atual gerente de Graduação da UFJF, Ronaldo Sahb, ser solteiro é questão de escolha. Aos 49 anos, morando com a mãe, declara que não tem nem nunca teve vontade de morar com ninguém. “Já me casei várias vezes, mas cada um na sua casa. Morar junto estragaria tudo. A mudança entra por uma porta e o amor sai pela outra”. Ronaldo credita a opção ao fato de não gostar de dividir seu espaço. Horários fixos, rotina e filhos são algo que classifica como castigo. “Tenho

Homens sozinhos em show : o sábado à noite representa uma chance de se arrumar companhia um passarinho e já me toma muito tempo. Deus me livre de mais obrigações”. O funcionário da UFJF diz que nunca se sentiu sozinho e é muito feliz com a vida que leva. Viaja, passeia, conversa com todos e está sempre alegre. Acredita também que sua solteirice é positiva na vida profissional: “Casados trazem muitos problemas para o serviço; eu estou aqui 100%”. Já a aposentada Ana Maria Ribeiro, 59 anos, não classifica seu estado civil como uma opção: “Encontrei várias pessoas pela vida. A princípio, surgia afinidade. Com o tempo, isso se perdia e acabava...” Entre vários relacionamentos pequenos, a juiz-forana, atualmente moradora do Rio de Janeiro, teve duas histórias importantes. Entre 1991 e 1997, Ana viveu nos Estados Unidos, Kaliandra Casati

Cuidar das sobrinhas netas é uma diversão de Ana Maria

onde conheceu um paquistanês, Alih, com quem morou junto por quatro anos. “No início foi bom, mas depois a diferença cultural ficou mais forte e percebi que aquela não era a vida que queria”. Alih chegou a pedir Ana em casamento e sugerir que ela se adequasse a religião e ao estilo de vida muçulmano. “Senti que nosso relacionamento tinha parado de evoluir. Eu precisava de algo mais. Resolvi me separar dele e voltei para o Brasil.” De volta a seu país, teve alguns namoros rápidos e conheceu um homem que descreve como maravilhoso: “Negro e pobre, Mário Sérgio venceu na vida com seu próprio esforço. Fazendo concursos e dando a cara a tapa”, orgulha-se. Mário Sérgio tinha cinco filhos dos dois primeiros casamentos, o mais jovem altista e residente em outro estado, o que o levava a fazer muitas viagens. Isso nunca incomodou Ana Maria. “Eu o admiro como pai e gostava das viagens. Eu podia respirar. Quando ele voltava, era bom devido à saudade”. Os dois moraram juntos por oito anos. O relacionamento foi abalado por problemas gerados pelos filhos adolescentes do parceiro. “Não podíamos planejar nada, que sempre surgia alguma coisa. Acabei me cansando daquela situação”. Um chocolate após o outro Atualmente sem namorado, a mineira conta que gostaria de ter casado e tido filhos. “Ser mãe sempre foi o meu sonho”. Porém curte sua vida saindo com as amigas e vindo sempre a Juiz de Fora ver sua numerosa família, formada por oito irmãos vivos, 19 sobrinhos e dez sobrinhos netos.

Assim como Ronaldo, o estudante do curso de Letras Rafael Costa Marques, 24 anos, também acredita que casamento restringe muito a liberdade e baseia sua opção por estar sozinho em seu individualismo e auto-suficiência. Porém, admite ter pensado inúmeras vezes em se casar e já esteve muito próximo disso. “Na última hora tive medo e voltei atrás”. Medo é outra palavra que acompanha a opção de Rafael pela vida de solteiro. Entre a possibilidade de tentar morar com alguém e se decepcionar ou continuar vivendo a vida que, em alguns momentos, lhe gera um pouco de solidão, o estudante prefere a segunda alternativa. Sem descartar a possibilidade de, no futuro, querer viver com alguém, acredita, por enquanto, saber lidar com a solteirice. “Não tenho nem tempo de pensar que sou sozinho; ocupo meu tempo com cinema, trabalhos, cursos e faculdades”. Tempo realmente é algo que o estudante tem pouco. Rafael cursa o último período de Letras na UFJF, o 6º de Pedagogia à distância da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), além de ser bolsista de revisão textual na Diretoria de Comunicação da UFJF e lecionar em dois locais diferentes. Ainda assim, admite que há momentos em que bate uma solidão.“Domingo é um dia triste. Não tem movimento de rua. Eu gosto de estar no meio da multidão pra ver as pessoas”. Mas, nessas horas, Rafael já tem a solução. “Vou ao supermercado e encho o carrinho de chocolates e biscoitos. Um pouco depois, passa... Nada como um chocolate após o outro”, explica.


Especial 7

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Em busca da cara metade Livros oferecem auxílio para quem está sozinho

O crescimento do número de solteiros também tem refletido bastante no mercado editorial. Publicações ensinando como viver sozinho, como arrumar alguém ou, até mesmo, tratando o tema de forma irônica e bem humorada vêm ganhando cada vez mais espaço no mercado. Lançado com sucesso em 2001, “O

Guia do Solteiro”(Conrad, R$25), do jornalista americano P.J.O’Rourke, é definido como um livro sobre “ culinária, faxina e manutenção da casa para pessoas que não sabem como fazer essas coisas e não estão interessadas em aprender”. De olho na crescente população de solteiros convictos e descasados, o autor utiliza doses Bruna Cipriano

Solteiros contam com o apoio da literatura especializada

de humor politicamente incorreto e traz dicas como: “Utilize seus últimos R$5 alugando uma fita pornográfica e pense em outra coisa que não seja comida”. Já “Mulheres inteligentes, escolhas insensatas”(Rocco, R$31), dos psicólogos Melvyn Kinder e Connell Cowan, figurou muito tempo na lista dos mais vendidos nos Estados Unidos, trazendo análises psicológicas e dicas para mulheres bem resolvidas profissional e sexualmente, que têm dificuldade em encontrar um relacionamento duradouro e descomplicado. Títulos como “Por que os homens se casam com as manipuladoras – um guia para deixar os homens a seus pés”(Best Seller, R$21,90), de Ana Ban, e “Eu pego esse homem”(Essência, R$37,90), de Valerie Frankel, também têm se proliferado no mercado. A obra “Casado ou solteiro, você pode ser feliz”(Vozes. R$31,10), de Antônio Moser, elaborado para a pastoral da família, enfoca o tema sobre o viés do catolicismo, tendo como objetivo promover a harmonia familiar. Contudo, de acordo com os livrei-

ros de Juiz de Fora, essas obras são pouco requisitadas no mercado da cidade. Para Elis Ramos, vendedora da livraria Terceira Margem, este tipo de livro não é o perfil dos solteiros leitores da cidade. “Vendo os livros sobre este tema para adolescentes de até, no máximo, 15 anos. Os adultos preferem uma literatura mais refinada”, explica. Já o vendedor Rômulo Silva, da Livraria Liberdade, tem outra teoria para o baixo índice de procura referente ao tema. “São poucos os solteiros que gostam de ler. Solteiro só gosta de balada”. Apesar deste panorama, segundo o gerente da Livraria Vozes, Geraldo Magela, o livro “Solteira sim, sozinha nunca”, de Bárbara Feldons, lançado há apenas três meses, tem surpreendido e já se encontra entre os bem vendidos da loja. O livro que, segundo a sinopse, revela os segredos para se viver sozinha e ser feliz, tem sido procurado pelas diversas faixas etárias. “Tenho vendido para mulheres dos 18 até os 40. Hoje em dia, está difícil casar em qualquer idade”, afirma Magela.

Novas gerações não querem saber de compromisso A revolução sexual modificou drasticamente o comportamento. O sexo deixou de ser um tabu, as pessoas ganharam liberdade com relação aos seus corpos e o prazer descompromissado tornou-se uma opção. Hoje, apesar da Aids, esse clima de liberdade ainda permanece. As coisas nem sempre foram assim. Ao menos para as mulheres, que só conseguiram ser tornar mais livres em meados do século XX. Em 15 de outubro de 1951, no México, o estudante de química Luis Cárdenas sintetizou o composto noretisterona, a partir do qual foi desenvolvida a pílula contraceptiva. A invenção propiciou às mulheres a liberdade sexual, dando espaço a novos padrões e conceitos até então impensáveis. É neste universo libertário, que o JE acompanhou três rapazes em uma balada de sábado. Os estudantes Elder de Oliveira, 19 anos, Alessandro

Martins, 18, e o técnico de informática Elton Mário, 22, saem juntos três a quatro vezes por mês e vão basicamente aos mesmos lugares. Entre os três, ocorre competição de quem fica com mais garotas. Para eles, Juiz de Fora está “bombando” de solteiros: “Não me lembro de sair e ver muitos casais”, afirma Alessandro. Há consenso entre os entrevistados de que o número de solteirões tem aumentado nas noitadas. Quanto a ficar com uma pessoa mais experiente, nenhum admite: “Eu procuro mulheres que regulem de idade comigo, mas tenho amigos que preferem as mais velhas.”, diz Elton. Entre ficar ou namorar, os três escolhem a primeira opção. Elton explica que quem gosta de compromisso namora. Mas para aqueles que estão a fim de liberdade e um tempo maior para si mesmos, ficar é a melhor escolha. Já Alessandro ironiza: “Tenho 18 anos, o importante é curtir com os

amigos. Não pretendo virar um velho solteiro e aparecer em reportagem por ser solitário”. Depois de ficar, pode surgir desejo de continuidade. De acordo com Elton, ligar ou enviar mensagens no dia seguinte é questão delicada: “Se eu tiver gostado da garota, ligo sim.

Quem sabe pode rolar algo legal entre a gente.” Na balada é comum se relacionar com várias pessoas: “Fico com mulheres que já beijaram outros, só não posso ver”, diz Elder. Elton concorda: “Não me importo. Crescemos nessa cultura de ficar sem compromisso.” Rodrigo Aguiar

Elder, Elton e Alessandro “na caçada” de sábado à noite

Comunidades da internet ajudam solteiros Um instrumento usado pelos solteiros para a busca de um parceiro é a internet. No Orkut são mais de mil comunidades sobre o tema, reunindo usuários, na tentativa de achar um parceiro ou dividir experiências. Dentre estas comunidades, as duas campeãs em associados são: “Solteiros no Rio de Janeiro”, com 51.486 usuários e “Homens lindos e

solteiros”, reunindo 31.448 pessoas. Os juiz-foranos também não dispensam o Orkut. A comunidade “Solteiros e solteiras de Juiz de Fora”, reúne 1085 membros. No tópico “Eu quero um namorado”, proposto pela internauta Jhé, se discute as dificuldades de encontrar um parceiro em JF. Para o internauta Everton Hitman, as juizforanas não valorizam quem merece:

“Quando um cara é legal, as garotas não percebem e decepcionam cada vez mais”. As mulheres do tópico contra-argumentam que os homens não querem nada sério. Existem, ainda, outras comunidades reunindo um contingente restrito de internautas: É o caso da “Solteiros em JF com mais de 40”, composta de 11 usuários e, da “Solteiros Evangé-

licos de Juiz de Fora”, com 16 associados. Para a sexóloga Maria Lúcia Beraldo, a dica para deixar a condição de solteiro está nos bons e velhos encontros face-a-face. “O primeiro passo é sair. Ficar se lamentando não adianta. Quem quer um parceiro tem que freqüentar, conhecer gente nova e cuidar da aparência”.


8 Pesquisa

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FORMANDO REDES

CPS inicia pesquisa para Plano de Atenção à Criança e ao Adolescente Baseado em projeto que mapeou a rede assistencial, estudo vai ajudar a definir novas políticas públicas Henrique Vale

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Centro de Pesquisas Sociais da UFJF (CPS) se prepara para ir a campo, a partir do início do mês de setembro. O novo projeto do CPS conta com a participação da Faculdade de Serviço Social e pretende levantar informações para a formulação do novo Plano Municipal de Atenção à Criança e ao Adolescente, de responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA/JF). As entidades firmaram convênio, em junho, para o projeto Diagnóstico da Infância e Juventude – Formando Redes. Na opinião do diretor do CPS, Carlos Alberto Botti, “o projeto faz com que a Universidade cumpra o seu compromisso com a sociedade, pois ele estabelece os parâmetros para o desenvolvimento de uma política pública para as crianças e adolescentes da cidade e, sem esses parâmetros, essa política pode errar o seu alvo.” A pesquisa terá como suporte um amplo estudo realizado pelo próprio CPS a pedido da Secretaria de Política Social de Juiz de Fora. Em fase de finalização, o documento mapeia toda a rede municipal de assistência social. Dada sua amplitude, o resultado deste diagnóstico pode ser considerado uma importante ferramenta para futuras análises da rede assistencial ou de suas ramificações.

Henrique Vale

para apontar as deficiências e, posteriormente, os caminhos a serem seguidos nas políticas assistenciais do município.

Busca de soluções

Para Botti, o projeto cumpre o compromisso que a UFJF tem com a sociedade Análise minuciosa

A proposta do CPS é elaborar um complexo painel sobre a infância e adolescência de baixa renda na cidade. O trabalho será realizado a partir de várias etapas, que passam pela análise do perfil sócio-econômico de Juiz de Fora e por cadastro e avaliação das entidades de assistência social aos jovens da cidade. O cronograma prevê 30 dias para as etapas de pesquisas de campo, realizadas por pesquisadores do CPS a fim de se definir o perfil do públicoalvo do projeto. Após esse primeiro

período de pesquisa quantitativa, inicia-se a segunda fase, já com elementos qualitativos. Botti explica que esta etapa vai se caracterizar por uma análise minuciosa, levando cerca de oito meses até a divulgação dos resultados. Segundo a coordenadora da Faculdade de Serviço Social da UFJF, Cláudia Mônica Santos, a colaboração da faculdade no projeto se dá após a etapa de pesquisa de campo. O objetivo é analisar as entidades que prestam serviços de atenção a crianças e adolescentes na cidade

A divulgação do Plano Municipal de Atenção à Criança e ao Adolescente está prevista pelo CMDCA para março de 2009. O documento é uma atualização do Plano Municipal formulado em 2001, a partir do Diagnóstico da Infância e Juventude – Formando Raízes. Este foi o primeiro passo dado para a avaliação das políticas assistenciais em Juiz de Fora. “A criação do plano pode colaborar na busca de respostas positivas e afirmativas às necessidades que o município ainda apresenta”, defende o presidente do conselho, Lindomar José da Silva. Para ele, a iniciativa possibilitará ainda a análise das metas traçadas no projeto de 2001, avaliando quais foram alcançadas e quais precisam de reformulação. Regina Maria Furtado, coordenadora administrativa da Creche ArcoÍris, no Bairro Santa Luzia, acredita que o documento será muito importante para as políticas assistenciais locais. Segundo ela, problemas como a falta de vagas nas creches são crescentes em toda região Sul da cidade e o Plano pode ajudar a resolver essas deficiências.

Entrevista Eduardo Condé

“Há muita informalização e pouco acompanhamento” Para reunir as informações que vão fazer parte do Diagnóstico da Infância e Juventude – Formando Redes, o CPS conta com um estudo completo sobre a rede assistencialista na cidade, prestes a ser divulgado. Após cinco meses de pesquisa, o projeto encomendado pela Secretaria de Política Social de Juiz de Fora deve ser divulgado oficialmente em setembro. Em entrevista ao Jornal de Estudo, o responsável pelo relatório final da pesquisa, o diretor do Instituto de Ciências Humanas (ICH) da UFJF, Eduardo Condé, adiantou alguns dados obtidos. As informações contidas nesse estudo vão funcionar como suporte para novas pesquisas do CPS. Jornal de Estudo: O que se

pode concluir sobre a rede de assistência social municipal, de uma forma geral, após a análise dos resultados do projeto? Eduardo Condé: Trata-se de uma rede vasta, incluindo muitas sociedades sem fins lucrativos, ONG’s e associações comunitárias. Entretanto, há vários graus de precariedade e dificuldades operacionais por quase toda ela. São problemas que vão da institucionalização precária a dificuldades de financiamento. As entidades mais organizadas são aquelas vinculadas ao atendimento de crianças, adolescentes, famílias em estado de carência e deficientes. Há grande variedade de atendimentos previstos, mas muita informalização e pouco acompanhamento. Os destaques positivos são para programas e projetos com algum

amadurecimento e apoio institucional mais forte. Onde estão as principais deficiências das políticas assistenciais da cidade? Há dificuldades de financiamento (a maioria vive de doações), poucos vínculos institucionais fortes e carência de estruturação física, de projeto e de organização administrativa. Muitos projetos dependem de lideranças específicas, o que, por outro lado, dificulta a consolidação de ações a longo prazo. Quais são os desdobramentos que podem vir a acontecer após a divulgação desse diagnóstico? Este projeto nasceu de uma demanda da Associação Municipal de Apoio

Comunitário (AMAC). A cidade é notoriamente carente de pesquisas para acompanhamento, mapeamento e mesmo conhecimento mais amplo sobre a rede de assistência e deve ser louvado este esforço. Esta pesquisa será um instrumento de consulta e planejamento, caso realmente se deseje que a política social no município ganhe mais espaço e estruturação. Uma rede não pode ser informal, de baixa organicidade e alcance limitado. Ela deve permitir intercâmbio, acompanhamento e, claro, tornar possível intervir no sentido da ampliação do bem-estar social. Espera-se que os responsáveis pela política social eliminem ações isoladas, paternalistas e pouco estruturadas e incentivem planejamento, diálogo e interação na rede.


Saúde 9

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EDUCAÇÃO

Fumantes passivos também são afetados pelo cigarro Família relata que processo de transferência entre instituições de ensino é lento e discriminatório Eugénia Artimiza Miranda

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Dia Mundial do Combate ao Fumo é comemorado em 29 de agosto. A coordenadora de serviço social ao apoio estudantil da UFJF, Denise Ferreira, explica que a data visa promover uma campanha de conscientização. Os alvos não são só os fumantes, mas também quem convive com eles e quer ajudá-los a enxergar o mal causado pelo cigarro. A fumaça pode ser responsável por doenças cardiovasculares e aumenta a probabilidade do surgimento de câncer, principalmente em crianças, grávidas e idosos. Essas pessoas ficam com o sistema imunológico debilitado e correm o risco de sofrerem problemas respiratórios. “Todos sabemos que a indústria do cigarro ganha muito dinheiro. O governo chegou à conclusão de que o retorno das companhias de cigarro não compensa os gastos com a saúde dos fumantes”, afirma Denise. “Acredito que deveria haver uma lei proibindo o fumo em locais públicos e fechados, pois o cigarro faz muito mal também aos fumantes passivos”, completa. A assistente social Renata Mercês Oliveira de Faria, gerente de saúde dos trabalhadores da UFJF e coordenadora do Grupo de Tabagismo, diz que o dependente do tabaco raramente consegue se livrar do vício sozinho. “Por isso, temos atendimentos individuais com psiquiatra e psicólogo. Dependendo do grau do vício, são oferecidos medicamentos para aliviar a ansiedade.” Um dos métodos de combate é a goma de mascar com nicotina, que diminui ou repõe a necessidade da substância.

Curiosidade leva estudantes a fumar Apesar de cientes do mal que o cigarro causa à saúde, jovens são muitas vezes levados ao vício por curiosidade. O estudante Wagner Martin, 24 anos, conta que essa foi a causa que o fez entrar no mundo do cigarro aos 17 anos, mesmo sabendo do mal que poderia causar. Wagner perdeu o pai vítima de uma doença causada pelo fumo. Mesmo assim, não parou de fumar. “No início sempre aparece um colega dando de graça nas baladas e depois você começa a comprar. Essa realidade é conhecida por muitos estudantes e, por mais que a sociedade se ofereça para reverter esse quadro, os jovens ainda não têm vontade de parar”, conta. “Um exemplo concreto é a minha namorada. Já que nós dois fumamos, ficou ainda mais difícil parar”. Segundo a médica Martha Corro, os fumantes são, em geral, muito mal educados, jogam a fumaça onde eles querem e não se preocupam se o próximo gosta ou não. “Com cer-

teza eles não tem noção do risco que estão causando para a sociedade, principalmente para mulheres grávidas que nem sabem que as substancias químicas do cigarro são absorvidas pela placenta e prejudicam o desenvolvimento do feto”. A médica afirma que pais fumantes não têm noção da responsabilidade e expõem seus filhos a um risco cinco vezes maior de terem doenças pulmonares e também de virem a sofrer de morte súbita, sem contar com o mal que a fumaça causa ao meio ambiente. Ela considera ser dever de todos os pais e educadores dar um bom exemplo. “Se futuramente queremos um meio ambiente saudável, temos que começar agora a ajudar as nossas crianças que são os herdeiros deste planeta”, afirma. Mau exemplo O estudante de Comunicação Wagner Emerick, 20 anos, afirma que começou a fumar aos 17. No início, apenas à noite, quando tomava cerveja. Depois passou a comprar um maço

por semana. Hoje fuma uma cartela por dia. Para Emerick, a campanha tem que ser feita, mas ele não acredita que atinja a maioria dos fumantes, porque parar de fumar é uma decisão de cada pessoa. O estudante diz que “só pretende parar quando tiver um filho porque o cigarro um péssimo exemplo. Além disso, não colocaria em risco a vida de um filho”. Já Natália Medeiros Ribeiro 18 anos, estudante de Economia, fuma desde os 15. Experimentou por curiosidade, primeiro na balada, quando bebia, depois com mais freqüência. O hábito foi aceito com naturalidade porque o pai e namorado são fumantes e a maioria dos amigos fuma. “Gosto de fumar e não pretendo parar agora, tenho noção dos riscos e não aconselho ninguém a fumar porque não é bom para a saúde. Quem nunca fumou, é melhor não começar. Mas, mesmo assim, não vou parar porque relaxo com o cigarro”.

Mudança de hábito Através de uma parceria com o Hospital Universitário, o Grupo de Tabagismo atende comunidades carentes. Segundo Renata, o grupo segue a metodologia proposta pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), com quatro sessões por semana. No

final de cada uma, o paciente recebe um livreto com orientações para auxiliarem na mudança de hábito. Trocar o cigarro pela atividade física ou por alimentos saudáveis e tomar bastante líquido são alguns exemplos. “Têm pessoas com um grau de dependência associado a fatores sociais, como

o estimulo dos grupos. Quando elas param de fumar, têm uma reação fisiológica: ficam muitos nervosos, têm alterações no sono e às vezes suam demais. Mas, através do atendimento prestado pela UFJF, nós conseguimos reverter esse quadro”, afirma Renata Oliveira.

Denise Ferreira: alvos da campanha de conscientização não são só os fumantes

Natália Medeiros Fuma desde os 15, o hábito foi aceito com naturalidade


10 Esporte

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ANO PERDIDO

Mais uma vez batendo na trave Falta de planejamento e apoio financeiro impedem futebol da cidade de conseguir bons resultados Divulgação

Bruno Guedes

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epois de uma temporada marcada pelo retorno de duas equipes no Campeonato Mineiro, este tinha tudo para ser um grande ano para o futebol de Juiz de Fora. Porém, o Tupi não conseguiu ir além de seu desempenho em 2007 e o Tupynambás desistiu da disputa da Segunda Divisão. Isso faz com que profissionais ligados ao mundo do futebol discutam o que falta para a cidade se firmar no cenário estadual e nacional. Neste ano, o Tupi chegou a liderar o Módulo I do Campeonato Mineiro, dando esperança ao torcedor de que chegaria à final da competição. E foi dentro do Estádio Municipal que o sonho acabou, com uma derrota para o Atlético Mineiro. O Carijó terminou em terceiro lugar, uma posição acima da do ano passado. Já na Série C do Brasileirão, pela segunda vez consecutiva a equipe caiu na primeira das quatro fases da competição. Ao alvinegro restou a Taça Minas Gerais, que garante ao campeão vaga na Copa do Brasil e ao vice vaga na recém-criada Série D nacional. Para a diretoria, fica claro que participar do torneio não empolga. “É claro que o objetivo era a Série C, mas o torneio vai nos servir para começarmos o trabalho para o ano que vem”, disse José Roberto Maranhas, vicepresidente do Tupi, que acumula a função de vice de futebol. Conformismo Levando em conta os problemas atuais do Carijó, a diretoria não considera os resultados ruins. “Chegar onde estamos chegando está bom demais”, disse Maranhas. O dirigente revelou a existência de dívida de R$ 4 milhões e pontuou deficiências quanto a organização esportiva e física da casa. “O Tupi não existe como clube, sua sede social precisa de reformas urgentes. Além disso, praticamente não temos sócios, o que dificulta a arrecadação”, revelou o vice-presidente. Já o Tupynambás, que em 2007 voltou à disputa do futebol profissional, não entrou no Mineiro deste ano. Isso depois de ter sido um

Depois da eliminação na Série C, restou ao Tupi treinar para Taça Minas Gerais, mas com o pensamento em 2009 dos favoritos ao título da Segunda Divisão, que equivale à terceira divisão do compeonato, no ano passado. O acesso ao Módulo II parecia certo, graças ao suporte financeiro de um grupo de comunicação da cidade, que trouxe a base do time do Tupi, pouco tempo antes, semifinalista do Módulo I. Para facilitar ainda mais, os seis primeiros subiriam. Mas o Baeta acabou caindo na segunda fase. Em 2008, a política acabou ficando acima do futebol, e o Tupynambás ficou sem patrocínio. “A falta de investidor nos deixou sem condições de entrar na competição”, afirma o presidente, Luís Carlos Campos. Apesar da saída do patrocinador ter afastado o clube da Segunda Divisão, o dirigente garantiu que o Baeta está totalmente saneado financeira e patrimonialmente. Segundo Campos, o Tupynambás já iniciou seu projeto para voltar ao Campeonato Mineiro profissional em 2009. O primeiro passo foi retornar às competições de base do Estadual, com a disputa no infantil e no juvenil, sob o comando do ex-técnico do Tupi, Zé Luís, coordenador de toda a divisão de base do clube. Pouca identidade O professor da Faculdade de Educação Física da UFJF (Faefid) Marcelo Matta lamenta a falta de estrutura dos clubes da cidade. Ele, que foi preparador físico do Tupi em 2006 e 2007 e esteve perto de ocupar a mesma função este ano no Tupynambás, conhece de perto a realidade dos times. “Juiz de Fora precisa de organização e condições

básicas para trabalhar seus atletas, o que não existe atualmente.” Para Matta, a precária identificação dos clubes da região com os torcedores leva à falta de apoio por parte dos empresários. O professor acredita que pouco se faz para mudar esta realidade. “Com essa irregularidade histórica em termos de resultado e sem ações pontuais, inclusive de marketing, fica mais difícil acreditar no esporte da cidade”, garante. O vice-presidente do Tupi discorda. Para ele, o Galo tem sim uma identidade forte, ligada não só a Juiz de Fora, mas a toda Zona da Mata. “Infelizmente falta tradição de apoio ao esporte de todo o empresariado do país”, afirma Maranhas. Para o presidente do Tupynambás, o que poderia mudar esse quadro é o fortalecimento da rivalidade entre as equipes da cidade. “Ipatinga e Campinas conviveram com isso, mas, aqui, parece que querem a supremacia do Tupi. Seria importante termos dois ou três times fortalecidos em Juiz de Fora”, assegura Campos. Outro problema detectado pelo professor da Faefid é a mudança recorrente na direção dos clubes. Ele cita o exemplo do Tupi, que passou dois anos administrado por um grupo, mais dois por outro e, em janeiro, foi para as mãos de um terceiro. “Isso dificulta a realização de um trabalho a longo prazo”, afirma. Para Luís Carlos Campos, o problema foi a imagem que se criou dos clubes da cidade. “O empresariado alegava que faltava credibilidade para investir. Só que as diretorias sérias que estão trabalhando continuam sem apoio.”

Sport planeja voltar em 2010 E quem pensa que o Sport Club Juiz de Fora está em segundo plano na discussão sobre o futebol profissional se engana. O diretor de futebol do clube, Walter Ribeiro, garante que faz parte dos planos do Sport voltar às competições profissionais em breve. “Estamos disputando atualmente o Campeonato Mineiro no infantil e no juvenil. Ano que vem, deveremos entrar no campeonato de juniores e, caso haja sucesso, voltaremos ao profissional em 2010”, assegura. Walter garante que a intenção é planejar com cautela para fazer um bom papel na Segunda Divisão. “Nosso primeiro objetivo era montar um alicerce forte com as categorias inferiores, para termos uma base para o profissional, coisa que Tupi e Tupynambás não fazem”. Para o diretor do Sport, quem não faz esse trabalho de forma séria acaba tendo que contratar todo um time, o que tira a identificação da maioria dos jogadores com a camisa do clube, além do alto custo da montagem do elenco. Apesar do otimismo, Walter não faz planos a longo prazo para o Sport nos campeonatos profissionais. “Nós vamos com calma, pulando de degrau em degrau para ir atingindo metas. Primeiro queremos entrar na disputa da Segunda Divisão e em seguida lutar por futuros acessos”.

Professor aposta em parceria clubes-universidades Uma das sugestões apontadas por Marcelo Matta para possibilitar aos clubes uma maior projeção seria a aproximação com as universidades. “Essa é uma receita que deu certo nos Estados Unidos, Rússia, Austrália e que é pouco adotada no país.” Segundo o professor, os clubes da cidade, assim como os outros pequenos do Estado,

estão atrasados neste aspecto. Para ele, não só a Educação Física pode colaborar. “Existem, por exemplo, ótimos profissionais no campo da Comunicação Social aptos a trabalhar na imagem dos clubes.” As possibilidades são muitas e Matta cita ainda outro exemplo, que tentou implementar durante sua

passagem pelo Tupi. “Havia um estudo sobre o uso de cafeína para aumentar o rendimento dos atletas. Como é uma substância legal, resolvemos testar nos jogadores. Pouco tempo depois soubemos que o São Paulo, que é um clube de ponta não só em âmbito nacional, estava fazendo a mesma coisa com seus atletas.”

Para Matta, o principal motivo que impede o estreitamento da relação entre clubes e universidades é a mentalidade de alguns ex-jogadores que se tornaram dirigentes ou técnicos de futebol. “Eles dizem sempre que nós da academia somos apenas teóricos, não entendemos como a coisa funciona na prática”, critica.


Comportamento 11

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SAIAS E GUITARRAS

Muito barulho por tudo

Elas invadem a cena cultural e provam para os homens que lugar de mulher é na música Daniel Candian Francisco Franco

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artazes espalhados pela cidade convocam bandas para um festival ainda incipiente em Juiz de Fora. A segunda edição do Mulheres no Volante convida bandas locais e regionais a se inscreverem no evento. Para mostrar seu trabalho é preciso ter pelo menos uma mulher no grupo, e o requisito é que ela esteja tocando. Não vale só cantar. Com formato semelhante ao de outros eventos que têm surgido no país – o Festival de Rock Feminino de Rio Claro/SP é um deles –, o Mulheres no Volante terá, neste ano, apresentação de nove bandas: Tangerine Poetrees (JF), Drama Beat (SP), Loud Silence (JF), Riot Kill (CE), Darandinos (JF), Ricto Máfia (RJ), Big Hole (JF), Private Dancers (RJ) e a renomada banda paulista Biggs fechando o evento. Assim como a primeira edição, o festival acontecerá no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM). Além dos shows, o evento promove interação entre os participantes por meio de rodas de conversa, painel de grafite, oficinas de bateria, guitarra, percussão, malabares e customização de roupas. Nos intervalos, rola discotecagem dos coletivos juizforanos Amigas da Pagu e Chicas Del Fuego, além de vídeos femininos, exposição “Só De-

las” e moda com a Pocossô Mulé e o Mercado da Salvação. Aptidão feminina A presença feminina na música não é fenômeno recente, tampouco é unanimidade. Desde os anos 60, a mulher vem ganhando espaço perante a sociedade, demonstrando aptidões em diversas áreas. A clássica gravura remanescente da época das cavernas – um brutamontes arrastando pelos cabelos sua fêmea dentre savanas de pedra – hoje não condiz, e a música faz enxergá-las em posição bem diferente. DJ e pesquisador de música brasileira Pedro Paiva diz que, para entender a participação das mulheres na música, deve-se, primeiramente, separar os três lados da moeda: a indústria fonográfica, a aptidão independente do sexo/orientação e a exploração da figura feminina proveniente de uma sociedade predominantemente machista. “Falar de mulheres na música eu acho que é, antes, falar das mulheres no mercado musical. Mulheres têm suas características na pintura, na literatura e também na música. Tem uma coisa que elas trazem de seu universo nas manifestações artísticas que se propõem a fazer, certo jeitinho

Olivia Veloso

feminino. Um lance que às vezes fica ofuscado pela exploração da imagem feminina.” As mulheres dividiram com os homens certo espaço musical, de acordo com contextos históricos de cada época. O jazz e o blues norte-americanos revelaram grandes vozes, assim como a MPB sempre foi um espaço aberto à participação feminina, ainda que predominantemente nos vocais. Porém, é no rock e seus afluentes que se vê maiores embates. Muitas bandas femininas de rock procuraram deixar de lado a delicadeza para equilibrar os sexos em cima dos palcos, seja na postura, na agressividade do som, na temática das letras ou na formação ideológica de suas integrantes. O anseio de grande parte é o equilíbrio, a abertura de espaço e, claro, fazer um som. Segundo uma das organizadoras do evento, a artista plástica Paula Velloso, em diversas outras artes a mulher consegue mostrar o que pensa somente por meio de sua obra, sem questionar quem está por trás. Porém, no palco, a realidade é outra: “A imagem muitas vezes se sobrepõe à musica. Então, se ali tem uma mulher, primeiro olham se ela é bonita, depois se tem boa voz, e por último se toca um instrumento bem”, acredita.

A crônica é de uma roqueira, mas sem crise São 15h de uma terça-feira ensolarada. Fernanda Halfeld, guitarrista do conjunto de rock Moletones, chega ao tradicional bar Rainha, na parte baixa da cidade. Trajando roupas leves de verão, um tênis laranja chamativo,

uma bolsa ostentando a estampa de Marilyn Monroe, referência ao ídolo Andy Warhol, a estudante de artes senta-se na ponta da mesa, procurando fugir do sol. “Caramba, que calor; já pediu?”. O garçom traz uma cerveOlivia Veloso

Olivia Veloso

Fernanda Halfeld: ela toca guitarra e bebe muita cerveja

ja e algumas batatas cozidas. Feebs, Fer, ou Fê corta seu próprio cabelo, toca diversos instrumentos, prepara sushis e tira fotos o tempo todo. A máquina que está em punho é uma Polaroid IZone Instant Pocket, recém comprada nos EUA, de onde acabou de chegar de um intercâmbio. “Passei quatro meses em Renno, trabalhei em fast-foods e agora estou tentando pagar algumas dívidas”, declara a desinibida guitarrista. Fernanda é o tipo de garota sem tempo ruim e radicalismos, o que se reflete em sua maneira de encarar a música. Já tocou em bandas de hardcore, bandas só de garotas e vai tocar baixo na Big Hole, substituindo o titular, afastado por uma tendinite. “É legal tocar com garotas, mas não vejo tanta diferença. O importante é o som.” Diferentemente de algumas mulheres que começam a tocar por se incomodarem com a carência de musicistas, Fernanda começou a tocar por influência no lar. “Minha mãe é pianista, começou a tocar porque na sua época todas as garotas tinham que tocar piano, mas ela sempre gostou muito deste instrumento, preferen-

cialmente. Pra ela, as aulas não eram um sofrimento como para a maioria das colegas.” Flauta não, guitarra sim Quando criança, Fernanda entrou em um curso de flauta na escola PróMúsica, mas foi ao ver o irmão tocando violão que descobriu seu instrumento. “Achei muito mais divertido tocar violão do que flauta, abandonei as aulinhas e, quando fiz 14, anos pedi uma guitarra de presente de 15 anos adiantado. Desde então, comecei a montar bandas com meus amigos.” Dentre suas influências, estão Aretha Franklin, Kim Deal, Debbie Hairy, Joan Jett, Patti Smith e diversos representantes do sexo masculino. “Tenho muitos homens como referência, não gosto que coloquem as mulheres num grupo separado”, sentencia. Engajada ou não, Fernanda acredita que as mulheres nunca desfrutaram de uma realidade semelhante a dos homens. As mulheres tiveram que dar conta dessa contradição como uma persona sexual pré-fabricada: durona, sofredora, vadia. Ela pede um conhaque e esboça uma briga com o garçom: “Ele não está vendo que o copo veio sujo?”


12 Cultura

Jornal de Estudo

agosto de 2008

MUSEU MARIANO PROCÓPIO

Mapro pressiona autoridades Dossiê pede desbloqueio de verbas destinadas às obras de restauração interrompidas desde julho

Fotos: Carolina São José

Carolina São José Cecilia Amaral

U

m dossiê sobre custos e etapas das obras no Museu Mariano Procópio (Mapro) foi preparado com o objetivo de sensibilizar as autoridades para desbloquear os recursos destinados à instituição. O corte no repasse da verba aconteceu em julho deste ano, após a Operação João de Barro, realizada pela Polícia Federal. A assessora de programação e acompanhamento do museu, Rita de Cássia Andrade, alerta que a demora no repasse das verbas pode acarretar sérios danos ao acervo do museu. Na ocasião, foram apreendidos documentos da administração pública, suspeitos de irregularidades, dentre eles alguns relativos às obras no museu. Segundo decreto da Controladoria Geral da União (CGU), a investigação paralisou as obras iniciadas há mais de dois anos, colocando em risco a estrutura dos edifícios e parte do segundo maior acervo da época imperial no Brasil. Desde janeiro de 2007, a visitação está suspensa em função da reforma e não há previsão de reabertura. Na tentativa de acelerar o processo para que o acervo não fique por muito tempo indisponível ao público, foram enviadas cópias do relatório ao prefeito José Eduardo Araújo, a deputados federais, ao governador, Aécio Neves, à CGU, aos Ministérios da Cultura e do Turismo, à Caixa Econômica, ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Tesouro desprotegido A reportagem do Jornal de Estudo esteve no museu e constatou a fragilidade da situação. O mofo pelas paredes denuncia infiltrações que podem piorar se as obras não continuarem. O telhado da Villa Ferreira Lage, prédio de 1816, o mais antigo do conjunto arquitetônico, está desprotegido. Em caso de chuva ou até mesmo de vendavais, não há como impedir que o teto seja danificado. “Estamos fazendo um trabalho preventivo, mas se cair uma chuva forte, não temos como fazer nada”, afirma Rita. O arquiteto responsável pela obra, Luiz Carlos Cruz, alerta para o fato de que até mesmo a estrutura da edificação pode ser comprometida caso ocorram mais infiltrações. Além disso, as goteiras no prédio Mariano Procópio, o antigo Anexo, colocam

em risco parte do acervo que se encontra em áreas onde o teto ainda não foi reformado. João Carlos Cruz afirma que a restauração do Mapro é necessária tanto estrutural como estilisticamente. O arquiteto explica que apesar de a população perder, temporariamente, o acesso ao local, o ganho cultural com a restauração do museu será enorme. Segundo ele, a falta de manutenção poderia contribuir para a degradação das peças. “A restauração vai construir um espaço museográfico melhor, com climatação adequada”, explica. Peças de litocerâmica, utilizadas em uma reforma anterior, estão sendo substituídas para recuperar a forma e as cores originais dos prédios. A mudança na fachada principal já é visível. Além das obras de restau-

Cores originais: parte da fachada do prédio Mariano Procópio já restaurada ração, a reforma prevê a ampliação dos banheiros, reforço na segurança com aquisição de equipamentos modernos e instalação de dispositivos de acessibilidade a deficientes físicos. O projeto visa também criar um espaço para lanchonete próximo ao chafariz, na área em frente ao Prédio Mariano Procópio. “O Museu é um importante centro cultural, tanto o juizforano como outros visitantes e até pesquisadores perdem com o fato de ele estar fechado”, sustenta Marcos Olender, professor do Departamento de História da UFJF. “Mas é louvável a restauração, pois resgata o brilho original ofuscado pela má conservação”, completa.

Um convite ao prazer Apesar do acervo museológico estar fechado ao público, o acesso ao parque do museu já está liberado desde 16 de julho, depois de ter ficado em obras por quase dois anos. Uma das principais áreas verdes de lazer da cidade, o parque chega a receber cerca de 5 mil visitantes por dia. Uma das atrações mais procuradas são os pedalinhos. Completamente revitalizado, o parque conta com novos banheiros públicos, gazebos (locais cobertos) e bancos, além de lanchonete, novas placas de sinalização, plantas de várias espécies e a beleza natural dos lagos.

História

Acervo em risco por problemas no telhado e infiltrações (da esquerda para a direita)

Fundado em 1915, o Mariano Procópio foi o primeiro museu em Minas Gerais. É formado por dois conjuntos históricos, o prédio Mariano Procópio e a Villa Ferreira Lage, casa de veraneio da família do empreendedor Mariano Procópio e construída para abrigar Dom Pedro II durante a inauguração da Estrada União Indústria em 1861. É um dos mais importantes do Brasil e tem cerca de 50 mil fontes. É conhecido, principalmente, por possuir o segundo maior acervo imperial do país. Dentre as peças de exposição estão documentos, livros, fotografias, objetos do século XIX e obras de arte. O quadro de Pedro Américo, “Tiradentes Esquartejado”, é uma das peças mais conhecidas por figurar em vários livros escolares. O acervo de história natural possui mais de mil minerais e rochas, folhas de plantas, fósseis, além de coleções de frutos secos e sementes, insetos e 415 espécies zoológicas.


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