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Jornal de Estudo

Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação da UFJF | Juiz de Fora, Outubro de 2008 | Ano 43 | Nº 194

Cidade pág. 4

Superlotação agrava crise no sistema carcerário de Juiz de Fora Por falta de defensores públicos, alguns presos aguardam julgamento por mais tempo que o normal. O Ceresp também abriga condenados que não conseguem vagas nas penitenciárias da região. Por causa disso, a questão de segurança ainda é prioridade e a dignidade do detento pode ser colocada em risco.

Wagner Emeich

Campus pág. 3 Mudanças no vestibular 2009 da UFJF geram dúvidas e críticas Candidatos ao vestibular se sentem inseguros com os novos cursos da Universidade. A falta de informação sobre a grade curricular é apontada como um dos pontos de incerteza quanto aos seis cursos que entram em vigor a partir de 2009.

Cultura pág.12 Musica feita em JF ganha espaço na noite David Gomes

Pesquisa pág.8 Novo modem deve baratear acesso à internet Projeto da UFJF desenvolve protótipo que vai permitir a conexão via rede elétrica. O modem vai custar cerca de R$100 e está previsto para chegar ao mercado em 2010.

Especial pág. 6 e 7 Mês das crianças: diferentes modelos para formar os cidadãos do futuro Esporte pág.10 Atletas cegos trazem medalhas para a cidade Política pág.5 A nova cara do Legislativo: conheça os vereadores que subirão pela primeira vez as escadas da Câmara

Depois da renovação de 58% constatada nas eleições municipais, o Jornal de Estudo traz motivações e propostas daqueles que vão estrear no Poder Legislativo em 1º de janeiro de 2009. ONGs e cientistas políticos analisam o que a nova bancada representa: desconfiança, esperança e uma possível crise no Legislativo marcam as opiniões. Priscila Lima


2 Opinião

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Editorial

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educação do Brasil está doente. E sofre de um mal que poucos conseguem diagnosticar. São poucos os que discutem educação no país, o que acaba trazendo consequências muito maiores do que imaginamos para nosso futuro. No dia 22 de outubro foi divulgado o resultado dos relatórios que visam medir o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, o Ideb. De acordo com os documentos, os municípios que apresentaram as menores taxas no índice têm como principal problema a má formação dos professores. Com profissionais desmotivados e incapacitados, o sistema educacional parece entrar em um ciclo vicioso: como formar cidadãos conscientes se nas próprias salas de aula quem deveria cumprir este papel não está preparado? Na edição de outubro do Jornal de Estudo, mês das crianças, propomos discutir a educação ainda quando elas sequer sabem ler. Apresentamos alguns métodos que são aplicados nas escolas da cidade e seus benefícios. Pedagogias que foram criadas por filósofos há muito tempo, gente que acreditava na educação como instrumento transformador. Num país que apresenta cerca de 12% da população analfabeta e 30% são considerados analfabetos funcionais, existem escolas com grandes soluções e oportunidades de desenvolvimento, lamentavelmente, para poucos. E é olhando para essa desigualdade que a educação deveria ser colocada como prioridade. Só ela pode nos tornar iguais, com chances reais de competir, seja em um vestibular, seja na hora de votar consciente. Outubro também foi o mês das eleições municipais e, aproveitando este período, conversamos com os vereadores que irão ocupar o cargo pela primeira vez. Cada um contou

um pouco de suas propostas e o perfil da nova Câmara, com mais de 50% de renovação. Fomos também ao Ceresp ver de perto como estão funcionando os novos procedimentos de tratamento aos presos. Mais uma vez, a educação e o olhar dirigido ao outro, pode trazer mudanças profundas na sociedade. Graças à uma iniciativa da OAB, foi criado em parceria com faculdades de direito, o projeto Libertas. Uma idéia que pretende agilizar os processos dos presos e garantir que a justiça seja feita sem atrasos. A reflexão que todos nós deveríamos fazer diariamente é o que estamos fazendo pela educação? É interesse do governo que todos sejam cidadãos conscientes, que os presos tenham tratamento digno? Para onde vai o meu dinheiro. E o dinheiro do Bolsa Família das crianças que não estão na escola? O final de outubro ainda reservou uma grande mudança para a cidade: foi eleito nosso novo prefeito. Durante as campanhas eleitorais muito se falou em obras, saúde e vida pessoal dos candidatos. Mais uma vez, poucos olharam para a educação e, ao que tudo indica, ainda falta muito tempo para que alguém resolva fazer uma reforma séria nessa área. Não serão quatro anos que irão resolver o problema educacional, não serão as metodologias de ensino, sozinhas, que salvarão nossa sociedade. A educação é a única saída para salvar a própria educação. Já passou da hora de os cursos da área educacional investirem na formação de seus profissionais, de o governo pagar um salário digno, de criança ir para a escola.

Artigo Diferentes cidades, diferentes disputas Flaviane Paiva

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uito se falou nas eleições 2008 nesse mês de outubro. A imprensa acompanhou as disputas no país e destacou as principais. Mas como são as eleições em cidades menores? A população reflete as mesmas questões? Encara a disputa do mesmo modo? Não. Acompanhando as eleições em duas cidades de tamanhos e de costumes distintos nota-se claramente as diferenças. Juiz de Fora possui cerca de 500 mil habitantes e é o quarto maior colégio eleitoral do estado de Minas Gerais, com 368 mil eleitores. Por outro lado, Campos Gerais, no sul do estado tem cerca de 30 mil habitantes e quase 20 mil eleitores. A campanha em Juiz de Fora conta com os programas de televisão, o que não acontece em Campos Gerais, que não possui uma emissora local. A população da pequena cidade precisa se guiar pelas campanhas no rádio e pelas conversas com os candidatos que visitam as casas dos moradores em todo o município. Na cidade maior, se existe algum tipo de briga ou agressão, ela acontece entre os candidatos. A população assiste, comenta e debate. Já em Campos Gerais, é o contrário. A população é quem se agride e briga em defesa do seu candidato. O envolvimento dos moradores deve acontecer. Eles não podem ser apáticos a uma decisão tão importante para a cidade em que vivem. Mas precisa ser de forma sadia. Em Juiz de Fora, a campanha dos prefeitos foi baseada em propostas e

Expediente Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora

históricos de administração pública. Isso faz com que os eleitores decidam de acordo com essas informações, na maioria das vezes. Mesmo com a justiça eleitoral mais rígida e a população mais bem informada, ainda acontecem compras sutis de voto. E isso interfere negativamente no resultado das eleições. Estamos em uma democracia e votar em quem achamos que é o melhor candidato é um direito. O problema é que o futuro das cidades fica comprometido. Em um município maior como Juiz de Fora, onde existe uma fiscalização da imprensa e até mesmo uma cobrança maior da população, o desastre pode acontecer, como já aconteceu na gestão do ex-prefeito Alberto Bejani. Mas ele acabou preso em abril desse ano, na operação Pasárgada da Polícia Federal. Já em cidades menores, os prefeitos, vereadores e ocupantes de cargos públicos são fiscalizados por uma pequena porcentagem da população. Não existe imprensa local que transmita a realidade ao povo. Outra conseqüência disso, é que muitas políticas adotadas na gestão anterior e que mereciam continuidade são cortadas por simples “politicagem”, sem que ao menos a comunidade tome conhecimento. Em cidades maiores, a conscientização da população é também maior. Em Juiz de Fora, dos 19 vereadores eleitos, 13 possuem ensino superior completo. Já em uma cidade pequena, onde todos se conhecem, são eleitos os mais populares, de famílias mais influentes. Campos Gerais possui uma câmara com nove vereadores, em que somente um deles possui curso superior. Apesar de alguns ainda não olharem de forma crítica para os candidatos, a maioria discute, analisa e pensa em quem vão votar. Mas em cidades pequenas, o “coronelismo” ainda atinge grande parte a população, que vota no candidato da família que conseguiu emprego para o filho, por exemplo. Uma triste realidade comum à maioria das cidades brasileiras.

Publicação produzida pelos alunos do 6º período do curso diurno e do 8º período do curso noturno da disciplina Técnica de Produção em Jornalismo Impresso

Reitor: Prof. Dr. Henrique Duque Vice-Reitor: Prof. Dr. José Luiz Rezende Pereira Diretora da Faculdade de Comunicação: Profª. Drª. Marise Pimentel Mendes Vice-Diretor da Faculdade de Comunicação: Prof. Dr. Potiguara Mendes da Silveira Coordenador da Faculdade de Comunicação diurno: Prof. Ms. Álvaro Americano Coordenadora da Faculdade de Comunicação noturno: Profª. Drª. Maria Cristina Brandão Chefe do Dept. de Jornalismo: Profª. Drª. Iluska Maria da Silva Coutinho Professores orientadores: Profª. Ms. Alice Gonçalves Arcuri, Profª. Ms. Diana Souza, Profª Fernanda Pires A. Fernandes Editores: Flaviane Paiva, Gihana Fava e Patrícia Mendes

Projeto Gráfico: Karolina Vargas e Poliana Cabral Monitoria: Ana Carolina Serpa Reportagem e Diagramação: Álvaro Dyogo, Cláudia Oliveira, David Gomes, Diogo Mendes, Fabrício Werneck, Francislene de Paula, Guilherme Fernandes, Gustavo Dore, Ivanna Aguiar, Jaqueline Harumi, Laila Hallack, Lívia Mautoni, Ludyane Agostini, Ludyane Agostini, Marcelo Martins, Marcello Machado, Michelle Clara, Priscila Lima, Naissa Viana, Natália Rangel, Renan Caixeiro, Rodrigo Pedrotti, Thais Torres, Wagner Emerich. Tiragem: 1.000 exemplares Endereço: Campus Universitário de Martelos, s/n – Bairro Martelos 36036-900 Telefones: (32) 2102-3601 / 2102-3602

Foto: Corbis


Campus 3

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Repercussão

Novos cursos geram insegurança UFJF cria seis cursos, mas estudantes estão confusos com as mudanças que acontecem em 2009 Francislene de Paula Patrícia Mendes

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Curso

BachareladoemCiênciasexatas (Engenhariacomputacional) Bacharelado em artes e design Engenharia sanitária e ambiental Música Nutrição

scolher a profissão não é uma das tarefas mais fáceis. E fica mais complicado quando há mudanças no processo seletivo. É essa uma das dificuldades que os concorrentes às vagas oferecidas pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) estão enfrentando. Para o vestibular 2009, a UFJF oferece seis novas opções: Música, Engenharia Sanitária e Ambiental, Nutrição, Bacharelado em Ciências Exatas (Engenharia Computacional) e Bacharelado em Artes e Design. A pouca informação sobre esses cursos tem gerado insegurança entre os vestibulandos. No site da Universidade (www. ufjf.br), existe um link para cada curso em vigor, com apresentação, perfil do profissional formado, áreas de atuação. Uma espécie de raio-X das graduações oferecidas, que serve para os alunos terem uma base do curso que escolherão. Essas informações ainda não estão disponíveis para os novos cursos. A estudante Mariá Reis, por exemplo, tentará uma vaga no curso de Nutrição, mas não tem idéia do que a espera na faculdade.

Estréias com novidades

Dos novos cursos que serão oferecidos, o Jornal de Estudo identificou que Nutrição é um dos mais espera-

Vagas

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pia pela Nutrição foi Fernanda Caldas, que também tentará vaga só em Juiz de Fora. “Sempre gostei da área de saúde, principalmente a parte de alimentação, por isso, troquei de curso.” Outra opção é o curso de Moda. Juliana Furtado Rodrigues sempre quis trabalhar na área e, com a oferta na cidade, a estudante vai fazer o vestibular apenas em Juiz de Fora, o que de certa forma, facilitará sua formação acadêmica. “Espero que seja um curso bem dinâmico, inovador e criativo.” As estudantes entrevistadas vão fazer vestibular pela primeira vez.

Os facilitadores

Os cursinhos pré-vestibulares também serão influenciados por essas mudanças. O diretor do CEPV, Wilson Correa de Almeida, disse que os alunos estão ansiosos, mas ainda confusos, principalmente com os bacharelados interdisciplinares. No entanto, segundo o diretor, isso não os Arquivo Cave

Pré-vestibulandos às vésperas das provas dos e desejados pelos que pleiteam uma vaga na UFJF. O modo como foi implantado, a exemplo dos cursos já existentes, apresenta-se como um dos fatores de maior aceitação e confiança por parte dos alunos. Rafaela Nogueira de Moraes ia tentar vestibular de Nutrição em Viçosa, e Fisioterapia na UFJF. Agora, vai fazer apenas Nutrição em Juiz de Fora. “Espero que tenha investimento, principalmente na área de pesquisa”, diz Rafaela. Outra candidata que trocou a Fisiotera-

cursinho. “Os alunos estão trocando os cursos e não há uma grande e nova demanda”, completa o diretor. Essa não é a mesma opinião da psicóloga do Cave, Eliana Balena que acredita que há outra demanda e que os cursinhos precisarão se adaptar para receber mais alunos. Um dos pontos criticados por Correa é a confusão no edital lançado e corrigido duas vezes pela UFJF. “Tento esclarecer as dúvidas dos alunos, mas às vezes nem eu consigo entender o edital. Os bacharelados são as principais fontes de incerteza”, conclui Wil-

impedirá de tentar os novos cursos. Correa não acredita que as novas opções trarão mais estudantes para Juiz de Fora. “O número de alunos nos cursinhos não vai aumentar significativamente, o que será percebido é um retorno ao número de estudantes matriculados antes do boom das faculdades particulares, o que corresponderia a um aumento de 20% a 30% de matrículas.” Por esse motivo, Correa afirma que não haverá necessidade de mudar a estrutura física do

son Correa de Almeida. Já Eliana acredita que os novos cursos, a princípio, não terão grande adesão. Um dos motivos, em sua opinião, é o fato de não haver informações concisas dos novos cursos no site da UFJF. “A desinformação gera insegurança. Os alunos precisam saber a formação que receberão”, afirma a psicóloga. Na cidade existem faculdades particulares que concorrerão com alguns dos cursos da federal. A coordenadora do curso de Nutrição da Unipac, Cristina Garcia Lopes, acha difícil fazer comparações com o novo curso na UFJF visto que a cidade ainda não teve nenhuma situação como esta. Para a coordenadora a procura vai continuar a mesma, já que o perfil dos estudantes que procuram a particular e a Universidade é diferente. Cristina acredita ainda que a abertura do curso não influenciará no valor da mensalidade.

Desconfiança é natural Os bacharelados interdisciplinares são os campeões de dúvidas e críticas. O Pró-Reitor de Graduação da UFJF, Eduardo Magrone, acredita que no início haverá desconfiança por parte dos alunos. “Estamos lidando com o novo e é comum que dúvidas e desconfianças surjam. Por isso, para esse ano, a expectativa é que não haja uma procura grande pelos novos cursos”, explica Magrone. Outra dúvida freqüente é quanto à validação dos cursos. Os vestibulandos questionam se o processo será da mesma forma das instituições particulares, onde é preciso formar uma turma para que haja avaliação e validação do curso. Magrone explica que, uma vez aprovados pelo Conselho Superior, os cursos já são validados. “Toda universidade pública tem autonomia para aprovar um curso, através do Conselho Superior. Depois de aprovado, o curso é reconhecido pelo Ministério da Educação. Não há dúvidas sobre sua validade.” Segundo Magrone, a desconfiança quanto à validade dos bacharelados tende a diminuir com o tempo. “Os estudantes vão perceber que podem escolher o caminho que seguirão durante a graduação”, afirma. Essa não é a mesma opinião do professor da Faculdade de Comunicação, Boanerges Lopes, que questiona a formação dos alunos. “Minha dúvida é se as organizações aceitarão alunos com essa formação ge-

nérica demais. Além disso, fica a incerteza sobre a aplicabilidade concreta dos ensinamentos”, questiona.

Mudança no Edital

Além das objeções quanto aos novos cursos, as mudanças realizadas no edital foram alvos de críticas dos cursinhos, uma vez que alimentam a insegurança dos vestibulandos. Eduardo Magrone responde a essa crítica, afirmando que as mudanças que aconteceram (ampliação da data de inscrição e introdução de novo curso) trouxeram mais conseqüências positivas do que negativas. “O ideal é que não haja mudanças no edital, pois estas se tornam um ingrediente a mais para a tensão dos vestibulandos e suas famílias. No entanto, elas não atingem um número significativo de alunos. É pouco provável o aluno que fará Medicina, por exemplo, mudar para Engenharia Computacional”, afirma o Pró-Reitor. Magrone esclarece que os bacharelados interdisciplinares não formam profissionais tradicionais, já que a gama de atuação é variada, daí a dificuldade em traçar um perfil dos profissionais e disponizá-lo no site. Já quanto aos outros cursos, cujo acesso é direto, Magrone afirma que vai solicitar à Diretoria de Comunicação da UFJF, um link com as informações básicas sobre a formação acadêmica. Assim, ele pretende sanar as dúvidas quanto aos novos cursos.

Desvendando o “bicho-papão” O bacharelado interdisciplinar é um curso superior de graduação que habilita para o exercício profissional. Tem duração que varia de dois a seis anos, dependendo da área escolhida. O bacharel está habilitado a fazer pós-graduação, mestrado e MBA. Na UFJF, o candidato que ingressar em Artes e Design por exemplo, poderá optar por Design, Moda, Artes do Espetáculo ou Visuais; ou ainda pela Licenciatura em Artes Visuais. O mesmo acontece com as Ciências Exatas, que também é subdividida em diversas áreas.


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CERESP

Superlotação agrava crise no sistema penitenciário de JF Mais de 700 presos ocupam celas planejadas para 240. Projeto Libertas tenta reverter a situação Laila Hallack Marcelo Martins Wagner Emerich

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ntes das 8 horas da manhã, duas mães já estavam na porta do Ceresp. Mesmo com o frio, elas preferiram chegar cedo para entregar aos filhos detentos os pacotes com pão, presunto, suco e outros alimentos. Toda terça e quarta, os familiares podem levar no máximo duas sacolas com alguns produtos, mas tudo é revistado antes de entrar no local. Elas, que não quiseram se identificar, garantem que as restrições são importantes. “Tem coisa que não adianta meu filho pedir que eu não trago. Eles fazem trocas lá dentro, não sou boba”, garante uma delas. A mãe do rapaz que espera há quase um ano para ser transferido descreve com propriedade a realidade da cadeia. “A droga já voou solta aí dentro. Outro dia um conseguiu fugir porque serrou com gilete de barbear a grade de uma janela”. Para ela, a desocupação faz com que eles “tenham tempo de sobra para pensar e fazer besteira”. Mas elas foram categóricas: a realidade já foi muito pior. “Em dia de visita, os traficantes faziam churrasco”, relata. O filho da outra está no Ceresp há seis meses. Ela conta que, na primeira vez que foi visitálo, ficou apreensiva. “Todo mundo me mandou tomar cuidado, mas foi tranqüilo”. Para as duas, as últimas mudanças de segurança impostas são responsáveis pela melhora do local.

Wagner Emerich

Segurança é prioridade Até outubro do ano passado, o Centro de Remanejamento de Segurança Pública (Ceresp) era administrado pela Polícia Civil. A Secretaria de Defesa Social assumiu e, desde então, adota novos procedimentos. “O preso precisa voltar melhor do que quando chegou. Fazemos atendimento individual para garantir apoio psicológico”, explica o diretor de atendimento da unidade, Rogério de Souza Rodrigues. Apesar das melhorias apontadas por Rodrigues, o Ceresp ainda vive uma realidade longe da ideal. Mesmo com a transferência de 80 presos para as penitenciárias no início do mês, o local, que foi planejado para abrigar 240, hoje tem cerca de 700 presos. Nas celas onde deveriam estar seis homens, a média é de 15. A superlotação gera tensão entre os presos e os agentes penitenciários e entre os próprios detentos. Na hora de dormir, eles se dividem entre as camas e os colchões no chão. O incômodo é tão grande que, “se um levanta durante a noite e esbarra em outro, já é motivo para briga”, conta o diretor. O coordenador da pastoral carcerária em Juiz de Fora, Manoel da Paixão, acha que os problemas atuais do sistema carcerário são causados pela centralização dos investimentos em segurança. “A função de ressocializar fica em segundo plano”, critica. Rodrigues reconhece que é necessário planejar ações que melhorem a dignidade do preso, mas a superlotação faz com que todos os esforços tenham

Presos vão contar com ajuda de projeto da OAB Numa tentativa de solucionar o problema da superlotação nos presídios de Juiz de Fora, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em parceria com as oito faculdades de Direito da cidade criou o projeto Libertas. A idéia é oferecer um atendimento jurídico aos presos que não têm condições de pagar pela sua defesa. Os alunos das faculdades, acompanhados por advogados, vão analisar os prontuários dos presos. “Precisamos ver quem tem direito a benefícios, como cumprir a pena em regime semi-aberto ou em liberdade provisória”, explica o coordenador do Libertas, Robson Paiva Ribeiro. O projeto aguarda a assinatura da Secretaria de Segurança Pública para começar oficialmente. O aluno do oitavo período de Di-

reito da Universo, Roberto Schneider, se interessou pela iniciativa para buscar experiência na área criminal. “Saber que está sendo assistido evita no preso uma insatisfação com o sistema”, avalia. Participam ao todo 17 alunos de instituições particulares, mas nenhum aluno da Faculdade de Direito da UFJF integra a equipe. De acordo com Ribeiro, se o projeto conseguir atingir seu objetivo, diminuindo a lotação das penitenciárias, o tratamento dado aos presos poderá ser humanizado. “O grande erro histórico é achar que a defesa dos direitos humanos é para proteger bandido. Se você garantir ao bandido mais cruel um tratamento digno, o que dirá a um cidadão de bem. Ele deve ser punido sim, mas dentro da lei”, esclarece.

Atrás das grades, trabalhar é uma forma de lidar com a realidade da cadeia que se concentrar na segurança. “Os agentes ficam 24 horas em alerta, qualquer descuido pode ser fatal para a sociedade e para a vida do preso”. Lentidão da Justiça O Ceresp deveria ser apenas para presos provisórios. Devido à demora no julgamento dos processos, eles ficam mais tempo do que o necessário na unidade. E muitos que já foram condenados aguardam vaga nas penitenciárias da região. O presidente do Tribunal do Júri,

José Armando Silveira, atribui a demora dos processos ao número de defensores públicos na cidade. Em Juiz de Fora, apenas 15 defensores trabalham em 100 mil processos. “A ONU diz que nenhum juiz pode atender mais de 500 processos ao mesmo tempo, mas nós temos cerca de 5 mil cada”, alerta. Os processos ficam paralisados pela falta de defensores, mas quando são abertos demoram no mínimo seis meses. “Por outro lado, se o processo for muito rápido, pode levar à injustiça”, considera.

Mão na massa: a importância do trabalho no cárcere No Ceresp, o trabalho disponível nos serviços de manutenção da unidade é visto pelos presos como a melhor alternativa para suportar a vida no cárcere. Entre dividir uma cela com, em média, 15 outros detentos durante toda a semana e passar o tempo cuidando da horta, da faxina ou da reciclagem dos materiais utilizados, a segunda opção é disparadamente a mais procurada. Mas apenas 56 dos mais de 700 presos do Ceresp trabalham. Esse baixo número é conseqüência da falta de vagas nessas funções. O diretor de atendimento da unidade, Rogério de Souza Rodrigues, explica que isso acontece por causa da superlotação. “Poderíamos ter muito mais projetos para os presos, mas infelizmente ainda não temos estrutura”. Enquanto isso, existe uma lista de espera de interessados. Quando um detento que tem essa chance comete algum erro ou não se comporta devidamente, perde a vaga e sua função é passada para alguém da lista. Mas a grande maioria dos que trabalham tem bom comportamento, o que mostra como a ocupação ajuda e pode diminuir a tensão dentro das penitenciárias.


Política 5

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ELES VÊM AÍ

Nove estréiam na Câmara em JF Renovação de 58% no Palácio Barbosa Lima é vista com desconfiança por uns e esperança por outros Guilherme Fernandes Marcello Machado Priscila Lima

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epois das eleições municipais do dia 5 de outubro, nove dos 19 vereadores eleitos em Juiz de Fora subirão as escadas da Câmara, pela primeira vez como parlamentares, em janeiro de 2009. Entre os novatos, estão três professores, dois médicos, um dentista, um empresário, um comerciante e um funcionário público. A média de idade deles é de 48 anos, e oito cursaram o ensino superior. As urnas revelaram renovação de 58% no Palácio Barbosa Lima, já que, entre os 19 atuais vereadores, 17 concorreram à reeleição mas apenas oito deles foram reeleitos. O cientista político e professor da UFJF André Gaio aguarda o desempenho da nova bancada, mas acredita que a renovação dos vereadores em Juiz de Fora sempre foi sinônimo de legislativos piores. Já a coodenadora do Comitê de Cidadania, Elizabeth Costa, considera a renovação na Câmara como positiva. “O eleitor está mais consciente, não reelegendo políticos que não corresponderam às suas expectativas”, diz, mostrando-se esperançosa em relação à nova bancada. Desde 2002, a ONG atua na cidade contra a corrupção e a compra de votos, acompanhando sessões da Câmara e distribuindo informativos. De olho no Legislativo Para o cientista político e professor da UFJF Rubem Barboza, as Câmaras atuais são pouco relevantes, seguindo a tendência mundial de enfraquecimento do Legislativo. “Cada vez mais, o Executivo legisla ou o Judiciário interpreta a Constituição”, explica. As propostas dos novatos são variadas, como preparação da juventude para o mercado, redução da desigualdade social com controle de natalidade, canalização de córrego, monitoramento do Executivo e de verbas públicas. Gaio ressalta ainda que fiscalizar ações do Executivo não é proposta, mas, sim, função do Legislativo. Quanto ao projeto de reduzir a pobreza, o professor considera: “A redução da desigualdade não passa, necessariamente, pela diminuição da natalidade.” Para ele, o Legislativo na cidade tem sido pró-governo, nunca de oposição, e acredita que essa tendência deve se manter, independentemente do prefeito eleito. “É o famoso ditado ‘é dando que se recebe’”, conclui. Criada há 17 anos, a ONG juizforana Movimento Pró-Moralização do Poder Legislativo tem o objetivo de pressionar políticos por meio da imprensa e da internet. “Vamos realizar uma cobrança séria da nova Câmara, para acabar com a verba ilegal que os vereadores recebem ao participarem de reuniões extraordinárias”, declara o fundador da ONG, José Lopes, de 91 anos.

Com a palavra, os vereadores novatos Fotos: Priscila Lima

Ana do Padre Frederico (PDT). Quem estranhou o apelido da então candidata Ana Rossignoli não sabia que ela ficou conhecida pelo nome da escola em que trabalha como diretora desde 1992. Segundo Ana, sua preocupação com a qualidade do ensino foi a motivação para lutar pela melhoria da educação, por meio da política. “Muitos estudantes chegam ao Ensino Médio sem saber nada e não entram para o mercado de trabalho”, declara a única mulher eleita vereadora em Juiz de Fora neste ano. Sua proposta principal é abrir espaços de esporte, cultura e lazer, oferecendo cursos profissionalizantes à comunidade.

Com 25 anos de militância junto a movimentos sindicais e sociais, o professor Roberto Cupolillo (PT) – mais conhecido como Betão – chega à Câmara de Vereadores com a proposta de atender reivindicações dos trabalhadores. “Vou lutar pelas causas sindicais, populares e estudantis”, ressalta o novo vereador. Para atender interesses de professores, pretende garantir junto ao sindicato um piso salarial maior para a categoria. Quanto aos estudantes, Betão espera implantar o passe-livre no transporte público. Divulgação

Outro novato é o professor Wanderson Castelar (PT), que decidiu concorrer ao cargo legislativo por não se sentir representado. Militante do partido há 25 anos, o ex-presidente da Sociedade Pró-Melhoramentos (SPM) do Bairro Monte Castelo se diz esparançoso diante da bancada que toma posse na Câmara em 2009. “A sociedade fez justiça com as próprias mãos e quer participar mais das decisões da cidade”, acredita Castelar. Entre suas propostas, está a criação do “Pró-Bairros”, projeto de lei de iniciativa popular que prevê a instituição de um fundo municipal para financiar ações de interesse comunitário.

Da associação de bairro para a Câmara. Esse é o trajeto do servidor público Francisco Evangelista (PP), o Chico Evangelista. “Com a dificuldade do atendimento a demandas populares, vi no cargo legislativo uma forma de realizar meus projetos”, revela. Ele aponta o problema do viaduto que separou os bairros Cerâmica e Industrial e aumentou o percurso para quem se desloca na região. Como solução, planeja a criação de um percurso para a passagem de veículo. Outra proposta é aumentar o leito do Rio Paraibuna, para evitar inundações. “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.” A frase de Martin Luther King inspirou o médico José Fiorilo (PDT) a entrar na política. Uma de suas prioridades é resolver o problema de um córrego a céu aberto no Bairro Santa Luzia, por meio de sua canalização. Fiorilo espera, também, fiscalizar o Poder Executivo para cumprir sua função legislativa. “Quero observar a origem e o destino das verbas públicas”, afirma. O médico José Laerte (PSDB) optou pela política como meio para a melhoria de vida dos cidadãos. “Quem é honesto deve entrar na política para os ruins não continuarem”, defende. Laerte pretende melhorar o SUS, que, na sua opinião, funciona de maneira precária na cidade, a exemplo de Unidades Básicas de Saúde sucateadas e mal conservadas. Para ele, outra necessidade é a construção de um hospital específico para atendimento de urgência e emergência, pois o Hospital Pronto Socorro não é exclusivo para esse serviço.

Quem também pretende trabalhar pela área da saúde é o dentista Luiz Carlos dos Santos (PTC). Sua atividade política foi impulsionada pela realidade das crianças – segmento da população muitas vezes esquecido pelos políticos, na visão de Luiz Carlos. Com sua experiência no atendimento a classes baixas, o vereador recém-eleito deseja ampliar a prestação de serviços odontológicos. Apesar de não ter projetos específicos, outra prioridade é a educação. O empresário Noraldino Jr. (PSC) diz que, ao perceber inércia nos Poderes Executivo e Legislativo, candidatou-se a vereador com o objetivo de combater a desigualdade social. Para isso, aposta na conscientização para reduzir a taxa de natalidade entre as classes sócio-econômicas mais baixas, promovendo ampla discussão junto a religiões, por exemplo. Noraldino espera trabalhar, também, em prol da regularização de ocupações irregulares e da fiscalização preventiva para evitar outros casos de invasão de áreas em Juiz de Fora. Depois de mais de 20 anos tentando ser eleito, o comerciante Antônio Martins (PP) conseguiu uma cadeira no Legislativo. O popular Tico Tico conta que foi motivado a disputar o cargo devido a um projeto seu de 1969 voltado para jovens, que busca oferecer um espaço com palestras, cursos e atividades de qualificação para o mercado de trabalho. A partir de 2009, o vereador pretende implantar a proposta para beneficiar jovens entre 14 e 18 anos, com renda familiar de até cinco salários mínimos. “Espero que a Câmara e o novo prefeito levem com seriedade seus mandatos, porque Juiz de Fora precisa”, deseja.


6 Especial

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MÊS DAS CRIANÇAS

Métodos de ensino infantil romp

Apesar de ainda não ser obrigatória, a educação infantil tem papel fundamental na formação das crianç Álvaro Dyogo Jaqueline Harumi Renan Caixeiro Rodrigo Pedrotti Já imaginou uma escola em que as crianças escolhem o tema da própria aula? Ou então que não são avaliadas por notas? No mês em que a infância é foco das atenções, discutir a educação infantil pode parecer clichê, mas vai muito além do simples julgamento da qualidade de ensino das escolas. Existem vários modelos educacionais propostos para formar os cidadãos do futuro. Cada criança tem características distintas de adaptação às variadas propostas apresentadas. “Cada pai deve perceber seu filho e encaminhá-lo a sistemas educacionais que ele aceite com maior facilidade”. Assim analisa a psicóloga Lúcia Cristina Riccio, que trabalha com terapia infantil. Para ela, a educação não pode ser encaixada em um padrão. Independente da metodologia usada em seu ensino, a grande vantagem de as crianças freqüentarem a escola é dar oportunidade à participação em momentos de apropriação da cultura. A pedagoga Víviam Carvalho de Araújo, mestre em Educação pela UFJF e professora da rede municipal de ensino desde 1995, acredita que esse contato é fundamental, pois “possibilita a interação com as outras crianças e com os profissionais da educação, numa relação interpessoal. É um contato com a cultura, através dos conhecimentos vivenciados na escola”. A educação infantil, apesar de ainda não ser obrigatória, já é vista como um direito de todos.

Desenvolvendo o raciocínio Ensinar técnicas e propor desafios. Esse foi o modelo educacional criado pelo filósofo Jean Piaget, dividido em etapas etárias, que são adotadas no sistema Degraus de Ensino. O modelo surgiu nos anos 60 e, desde então, as crianças por ele educadas são avaliadas de maneira diferenciada. A aprendizagem se desenvolve como se, a cada fase alcançada, a criança subisse um degrau. O primeiro deles é atingido até os 2 anos, quando desenvolve a coordenação na fase sensório-motora. Já o próximo degrau é até os 4 anos, que corresponde à etapa simbólica, de estímulo à memória. Nesle, a escola trabalha bastante com dramatização. Dos 5 aos 7 anos, a criança está em seu período intuitivo, momento propício para oferecer situaçõesproblema que forcem a resolução do aluno, desenvolvendo o raciocínio. A psicóloga Lúcia Cristina Riccio explica que “isso faz o aluno se tornar mais questionador, criar seus próprios conceitos”. Por fim, o ensino atinge a fase operacional, uma preparação para a vida adulta. Em Juiz de Fora, a escola Degraus de Ensino segue o modelo que leva o mesmo nome da instituição. A diretora Elisabeth Batista de Castro aposta na metodologia construtivista como diferencial. Para ela, a escola tem o papel de desenvolver os valores dos pequenos a partir de uma conduta pedagógica que preze pela formação social, psicomotora e emocional. “As instituições de ensino são responsáveis por possibilitar o desenvolvimento de pessoas conscientes”, afirma. Lúcia Cristina discorda: “a consciência crítica da criança não está ligada ao método educacional no qual ela está inserida, muito pelo contrário. O ambiente externo que a influencia desde pequena é muito mais responsável pela formação da consciência do que a escola propriamente dita”. Foto: Divulgação

Como gente grande: o trânsito é tema desde cedo na escola Degraus de Ensino

Na Escola Internacional Saci, o aluno é livre para escolher o tema das aulas; o métod

Vida atribulada

Pais ocupados, atividades diversas. As crianças já passam muito mais tempo nas várias atividades extracurriculares. São aulas de inglês, natação, balé, informática, fu atribulada quanto a de seus pais. Essa realidade chegou às escolas de educação infan e Pesquisas Educacionais (Inep), mais de 98% das particulares no país trabalham co adotam o horário integral. Mas será que isso não é demais para os pequenos? Não é prejudicial para a vid que cada um tem sua maneira de reagir às muitas atividades: “o excesso pode preju melhor que ela esteja na escola se desenvolvendo, do que em casa à toa. O que faz b gundo Lúcia, os pais devem ficar atentos aos limites do filho: “ao buscá-lo na escola esse pode ser um sinal de algo errado. A criança é o melhor termômetro”, afirma. Pa na formação infantil, é preciso que elas se sintam à vontade.

Liberdade de escolha

Se o ideal é fazer com que a criança se sinta à vontade, talvez o método montessor básico passa pela liberdade de escolha. O aluno é livre para escolher o tema das aula tem o papel de direcionar os exercícios e preparar as pesquisas, que acontecem dura em Juiz de Fora, segue essa pedagogia baseada no Modelo da Escola Nova. Ela aind tando à vida atribulada de pais e filhos. A diretora Luciana Barros, conta que, na dinâmica da sala, os professores elabor tema escolhido pelos alunos. “Um dia ouvimos muitos trovões e elas ficaram curiosa uma aula sobre trovões”, conta. Segundo a diretora, o método contribui para a conquista da autonomia da criança ma coisa que numa escola tradicional, mas são mais independentes. Elas sabem que fazer algumas coisas, elas pegam e fazem por conta própria”, afirma. Outra curiosidade é que as salas de aula são compostas por grupos “multi-idades a 5 anos, 6 a 8 e 9 a 10 anos). Para Luciana, isso fortalece o aprendizado e enriquece

As escolas

Modelo de Escola Tradicional

Os métodos pedagógicos freqüentemente são considerados um conjunto de técnicas a serem aplicadas na sala de aula, sem levar em conta os contextos escolares. Porém, nenhum professor ou aluno está imune à sua realidade social e cultural, nem ao tipo de organização em que se inserem. Quando se propõe a introdução de um novo método pedagógico, o professor deve estar atento a esses fatores. Essa atitude resultará no sucesso ou no fracasso da inovação.

Tipo de Gestão: ordem externa e disciplina normativa. Relação Professor-Aluno: disciplina, obediência e espírito de trabalho são a base desse modelo. Curriculum: saber enciclopédico, trabalhando com unidades isoladas de estudo concebidas e gerenciadas pela administração central da escola. Processo Didático: a preocupação central se concentra na memorização e na repetição de conceitos. Materiais Didáticos: livros marcadamente informativos e conceituais de maneira fragmentada. Avaliação: exames que refletem a capacidade de retenção e acumulação de informações.


Especial 7

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pem barreiras das salas de aula

ças e no ambiente familiar. São modelos diferentes com um único objetivo: formar pequenos cidadãos Foto: Divulgação

do estimula a independência das crianças

s escolas do que em casa. Ou então realizam utebol. A rotina de segunda a sexta-feira é tão ntil. Segundo o Instituto Nacional de Estudos om turnos de mais de cinco horas e muitas já

a deles? A psicóloga Lúcia Cristina acredita udicar, mas isso depende de cada criança. É bem a uma pode não fazer bem a outra”. Sea, se ele entra no carro irritado ou chorando, ara que a escola cumpra seu papel de ajudar

riano cumpra essa função já que seu princípio as e o material que será utilizado. O professor ante essas aulas. A Escola Internacional Saci, a oferece ensino bilíngüe e integral, se adap-

ram as formas de aprender de acordo com o as pra saber o porquê daquilo. Aí elaboramos

a: “Em termos de conteúdo, elas vêem a mesnão precisam ficar pedindo autorização para

s”, ou seja, reúnem alunos da mesma fase (3 e as interações.

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Cada um no seu tempo Salas de aula compostas por grupos multi-idades não são exclusividade do método Montessori. A pedagogia Waldorf tem em suas salas de educação infantil alunos a partir de 4 anos de diferentes séries. Seu princípio básico é conhecer e respeitar cada fase da criança. A educação não é imposta ou acelerada, mas direcionada de acordo com cada uma. As atividades respeitam a capacidade de compreensão do aluno e valorizam a brincadeira. Para a pedagoga Viviam Araújo, isso é essencial para a educação dos pequenos: “a formação dos professores deve englobar discussões importantes para esta área como concepções de infância e a importância do brincar”. A pedagogia Waldorf é um ramo da antroposofia, filosofia que surgiu no início do século XX, introduzida pelo austríaco Rudolf Steiner. Inserida no modelo da Escola Ativa, de modo simplificado, pode ser definida como uma forma de conhecimento da natureza, do ser humano e do universo. É uma linha diferente e pouco conhecida. No Brasil, há 25 escolas Waldorf, das quais nove estão em Minas Gerais. Em Juiz de Fora, a escola Jardim Paineira segue o método que percebe a evolução das crianças como um espelho da evolução da humanidade. A diretora e professora Martha Krambeck Horn acredita que esse tipo de ensino é eficaz e traz resultados positivos para a educação infantil. “Desde a pré-história, o homem vai passando por diferentes níveis de consciência e isso é natural. A criança também faz esse caminho. O princípio básico da pedagogia é conhecer bastante as suas fases evolutivas, respeitá-las e ir ao encontro delas”, afirma. A escola deve incentivar o agir dos alunos em todas as aulas a partir de atividades de expressão corporal, o sentir através de trabalhos manuais e o pensar incentivando a imaginação. A pedagogia defende que as aulas devem ser um preparo para a vida. Por isso, não exige que o aluno priorize o pensamento intelectual antes do tempo. As avaliações, por exemplo, são feitas a partir de descrições dos professores, que analisam as fases do desenvolvimento do aluno. “Cada criança tem seu tempo certo e as mudanças vão sendo percebidas na forma do brincar, que é muito valorizada. Quando a fantasia deixa de preencher todos os seus desejos, já é um sinal de que seu pensamento deu um passo em direção ao abstrato. É natural que isso aconteça por volta dos 5 anos”, afirma Martha. O jardim de infância reúne crianças de 3 até 6 anos numa mesma sala e os professores direcionam atividades coletivas e individuais. Segundo Martha, cada idade se interessa por uma atividade, uma vez que já possui habilidades para tal e a interação acontece normalmente. “É como antigamente, quando existiam grandes famílias em que conviviam vários irmãos de idades diferentes. O pequeno se espelha no grande e o grande ajuda o pequeno. Isso acontece na sala de aula”, explica. O método Waldorf defende que tudo tem seu tempo certo para ser explorado e isso evita problemas futuros na educação.

Bonecos de pano feitos pelos alunos nas oficinas

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“Cada criança tem seu tempo certo e as mudanças vão sendo percebidas na forma do brincar.”

Modelo da Escola Nova

Modelo da Escola Ativa

Modelo da Escola Conducionista

Modelo da Escola Construtivista

Tipo de Gestão: animador sócio-cultural, participativo e autogestor. Relação Professor-Aluno: aluno como centro da escola, em torno do qual se desenvolvem os programas curriculares. Curriculum: diversificado, contemplando a formação integral: física, intelectual, artística, moral e social. Processo Didático: é dada grande importância aos trabalhos manuais, frisando a ligação entre a teoria e a prática. Materiais Didáticos: livros surgem como um conjunto de recursos que o aluno utiliza nas suas experiências e atividades. Avaliação: de natureza qualitativa.

Tipo de Gestão: grande interação entre os elementos que compõem a comunidade escolar. Relação Professor-Aluno: professor como facilitador do processo de aprendizagem, que é iniciativa do aluno. Curriculum: programas muito abertos e pouco estruturados. Processo Didático: aula como oficina, onde os alunos desenvolvem habilidades, hábitos e técnicas para descobrir o mundo. Materiais Didáticos: os próprios alunos constroem os seus recursos educativos, com a ajuda do professor. Avaliação: o que importa é o processo de aprendizagem.

Tipo de Gestão: centralizada, com organogramas piramidais e uma forte dependência do poder central. Relação Professor-Aluno: marcada por vários objetivos a serem atingidos pelo aluno, que o professor tem a função de interpretar. Curriculum: o saber é transmitido em pequenas unidades, previamente definidas, para que se obtenham resultados de objetivos específicos. Processo Didático: zela pela eficácia imediata da ação educativa. Materiais Didáticos: o material curricular se centra basicamente em livros. Avaliação: avaliação de cada conduta, de forma que todas as etapas do processo de ensino sejam controladas.

Tipo de Gestão: atividades escolares se centram em torno de um projeto curricular. Relação Professor-Aluno: o aluno relaciona os novos conhecimentos aos antigos com a ajuda do professor. Curriculum: corresponde ao que a escola decidir, em função das suas necessidades específicas. Processo Didático: o aluno avança no conhecimento com a mediação do professor. Materiais Didáticos: manuais escolares são transformados em projetos curriculares desenvolvidos na prática . Avaliação: a avaliação é relativa, através das capacidades adquiridas no processo.


8 Pesquisa

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INTERNET

Equipamento desenvolvido pela UFJF vai baratear a navegação Modem vai custar R$ 100 e será ligado direto na rede elétrica, sem gastos com instalação Diogo Mendes Fabricio Werneck Fabricio Werneck

Moisés desenvolve modem que vai ser patenteado por empresa paulista e UFJF

O

acesso à internet de alta velocidade vai ficar mais barato para o brasileiro graças a uma pesquisa desenvolvida pela UFJF. O projeto, inédito no Brasil, vai criar um modem para ser acoplado à rede elétrica para transmissão de dados e voz. A nova tecnologia chamada de PLC (Power Line Comunication) já é utilizada nos EUA, Alemanha, França e Japão. No Brasil, a previsão é de que o modem via rede elétrica chegue ao mercado em 2010. A pesquisa é coordenada pelo professor do curso de Engenharia Elétrica da UFJF, Moisés Ribeiro e conta com a participação de 20 alunos de doutorado, mestrado e graduação. Hoje pós-doutor, Ribeiro começou a estudar a tecnologia para a elaboração de seu trabalho final de doutorado, em 2001. No ano passado, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) aprovou recurso de R$ 1 milhão para custeio da pesquisa que teve início em abril deste ano. Uma empresa paulista é parceira no projeto, mas não quer aparecer durante a fase de elaboração do protótipo. Quando estiver finalizado, a UFJF e a empresa vão dividir a posse da patente no Brasil.

entre 50 e 60 Hz, os sinais de conexão vão ficar entre 1,7 e 30 MHz. Hoje, para implantação dos sistemas convencionais de acesso, cerca de 60% dos gastos são relativos às obras de infra-estrutura. O novo modem vai eliminar esses gastos, já que o internauta vai ligar o equipamento (ver foto) direto na tomada. Cerca de 95% das residências brasileiras já possuem energia elétrica. Atualmente, para importar um modem PLC, o usuário gasta cerca de R$ 500, o que inviabiliza a disseminação do novo sistema. O projeto da UFJF pretende criar um protótipo com a mesma tecnologia, porém com custo próximo de R$ 100. O modem utilizado no exterior possui um chip que é o responsável pelo alto preço do produto final. A maior dificuldade para a equipe de pesquisa será desenvolver um chip similar para o equipamento brasileiro. Além do baixo custo de implantação, a velocidade da conexão promete ser maior. Hoje, a maioria das conexões chegam a 200 Mbps. O modem nacional vai utilizar sinal de 500 Mbps, conforme regulamentação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). No entanto, o novo equipamento pode atingir até 750 Mbps, caso a agência libere o aumento da velocidade. Desafios O modem PLC terá que conviver

com algumas dificuldades inerentes a todos os equipamentos de comunicação de dados. Podem ocorrer interferências no sinal causadas por outros dados que também chegam às casas pelos fios da rede elétrica. Ribeiro acredita que uma regulamentação obrigatória feita pela Anatel sobre as faixas de freqüências vai diminuir o impacto de sinais coexistentes. A lentidão é outro problema que pode ser recorrente em horários de pico. Da mesma forma que acontece com outras formas de conexão, o aumento repentino do número de usuários pode causar uma diminuição na velocidade de acesso. Já o abastecimento de luz é algo que não preocupa o coordenador do projeto. “Dificuldades sempre vão existir. O desafio é disponibilizar uma forma de conexão

mais barata e que funcione bem frente aos problemas que a internet a cabo ou discada já enfrentam”, explica Ribeiro. O modelo de comercialização que será adotado pelas empresas de energia elétrica também não foi definido. O usuário poderá comprar o modem que vai garantir o acesso à internet pagando apenas uma taxa extra na conta de luz. Ou ainda seguir o modelo adotado pelas empresas que oferecem o serviço de banda larga e que cobram taxa de adesão e um mensalidade fixa. De acordo com Ribeiro, um dos requisitos para que esse novo modelo de acesso à internet sobreviva no Brasil, é que a sua mensalidade seja barata. A forma de comercialização do PLC no Brasil ainda espera regulamentação da Anatel.

“Modem será opção para quem nunca acessou a rede”

Para o coordenador do projeto, o acredita. objetivo maior é desenvolver um moPara o professor do curso de Cidem de baixo custo. “O modem bra- ência da Computação da UFJF, Marsileiro vai funcionar do mesmo jeito celo Lobosco, a popularização dessa que os já existentes. O foco é compe- nova tecnologia está ligada ao preço tir com as formas de navegação que do modem, e principalmente, à menjá estão no mercado pelo baixo custo salidade cobrada pelas operadoras de e não priorizar um melhor rendimen- energia elétrica e/ou pelos provedores. to”, declara Ribeiro. Lobosco é professor do projeto de Segundo dados do Universalização da InformáIBGE, o número de tica da UFJF e da discidomicílios brasileiros plina Arquitetura de com conexão à internet Computadores. “Os chegou a 20% no ano preços dos compupassado. Já na esfera tadores vêm caindo global, estima-se que muito com a redução 25% da população munde impostos. Se as dial tenha acesso à rede empresas cobrarem Modem PLC usado no exterior e apenas 5% possua inum preço adequado, ternet de banda larga. Ribeiro afirma entre R$ 30 e R$ 40 mensais, a tenque o novo modem pretende atingir a dência é que as pessoas migrem para parcela da população que nunca teve esse tipo de conexão”, acredita. contato com a rede mundial de comO principal atrativo da tecnoloputadores. “O modem PLC não vai gia PLC, na opinião de Lobosco, é a disputar com outras tecnologias. Vai maior velocidade de conexão que vai entrar num mercado que praticamente ser oferecida pelas distribuidoras de Inovação não existe. Para quem tem internet e energia. Para ele, as pessoas, atualA transmissão de informações será está bem assistido, não é uma tecno- mente, estão descontentes com os serfeita em uma freqüência diferente da logia nova, é apenas mais uma opção. viços de banda larga oferecidos pelas utilizada pela eletricidade. Enquanto Para quem não tem, é porque o custo empresas de telecomunicações e de a freqüência da energia elétrica varia é alto e aí sim, será uma alternativa”, TV a cabo. Com a chegada de uma nova tecnologia ao mercado, é esperado um Evolução das conexões de internet no Brasil aumento da concorrência e uma conseqüente redução nos preços pratica1998 2001 1991 1994 1995 1997 2007 2010 dos no mercado. “Uma nova opção de acesso à internet vai acirrar a compeCinco mil Embratel tição e para conquistar o consumidor Organizações Telebahia Distribuidoras UFJF inicia Previsão de Rede de usuários lança serviço Globo as empresas vão precisar oferecer realiza testes de energia computadores pesquisa com chegada do testam de internet realizam com banda elétrica fazem modem PLC interliga 11 tecnologia vantagens”, afirma Lobosco. Outra serviço de discada primeiros larga por linha primeiros ao mercado universidades PLC mudança que deverá ser sentida pelo internet comercial testes com telefônica testes com consumidor é a melhora do serviço discada internet a cabo conexão PLC oferecido. Divulgação/NetGear


Saúde 9

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ESPERA NA SAÚDE

Cirurgias eletivas do SUS estão paradas há dois meses em JF

Ivanna Aguiar

O motivo da espera é a mudança no sistema de agendamento de operações não urgentes

Ivanna Aguiar

A

s cirurgias eletivas do Sistema Único de Saúde (SUS) estão suspensas em Juiz de Fora desde 4 de setembro. Esse tipo de operação tem caráter não emergencial, como cirurgias de catarata, intervenções ortopédicas e retirada de varizes, por exemplo. Segundo a assessora de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde, Ana Goulart, a paralisação se deve à mudança no sistema de informática que coordena os agendamentos. O antigo programa precisou ser substituído porque era oferecido pelo Instituto de Gestão Fiscal – Grupo Sim, que, em 21 de agosto, teve seu contrato de prestação de serviços anulado. O grupo está sendo investigado pelo Ministério Público Estadual e pela Câmara Municipal, pois o contrato foi feito sem licitação, e, de acordo com as primeiras análises, era superfaturado. A assessora informou que o novo sistema, o SUS Fácil, já está sendo implementado, mas que ainda não há previsão de término dos trabalhos.

Enquanto isso, os agendamentos continuam sendo feitos no Pan Marechal, mas os hospitais não estão realizando as operações. Em Juiz de Fora, os hospitais que realizam esse tipo de cirurgia pelo SUS são a Santa Casa, o Hospital Doutor João Penido, o Hospital Universitário (HU), o Hospital de Pronto Socorro (HPS) e a Maternidade Terezinha de Jesus. De acordo com Ana, hoje estão na fila de espera por cirurgia cerca de 7 mil pessoas. Pacientes não sabem da suspensão O que se observa no Pan Marechal é que a população não sabe da paralisação. O número de agendamentos continua o mesmo e está sendo feito regularmente. A diferença está no prazo da realização do procedimento. Os funcionários responsáveis não dizem ao paciente em quanto tempo ele será atendido. A secretária Lucimar Dias, 38, fez um pedido de retirada de varizes no dia 2 de abril e estava na Central de Guias Eletivas para saber o motivo da demora. Para ela, a falta de informações é um desrespeito com a população: “É a quarta vez em dois meses

Lucimar Dias aguarda desde abril a liberação da cirurgia de retirada de varizes que venho à central para resolver o problema. Por que não me explicaram antes? Já era para eu estar sabendo disso”. A chefe da Central de Guias Eletivas, Vera Lourdes de Morais, explicou que o departamento vem tentando minimizar os problemas. Para isso, algumas cirurgias estão sendo realizadas. Casos em que o paciente, por motivos de dor, recebe uma prontificação do médico para operá-lo, estão saindo da fila. Foi o que aconteceu com a diarista Maria da Penha Rodrigues, 57, que no dia 6 de ou-

tubro retirou um tumor da mama. A espera foi de dois meses e ela disse não ter do que reclamar: “Fiquei surpresa com o atendimento. As pessoas me falavam que a espera ia ser longa, mas o SUS foi dez”. A chefe do departamento informou que a espera por uma cirurgia eletiva antes da paralisação podia chegar a um ano. Com o SUS Fácil, a meta é que em um mês o paciente possa ser operado. Ela garantiu que os casos mais urgentes terão prioridade quando as cirurgias voltarem a ser realizadas.

Juiz de Fora produz mais de 30 mil litros de lixo hospitalar Químico ambiental explica o que fazer com os detritos e quais os seus impactos no meio ambiente Naissa Viana Natália Rangel Natália Rangel

Júlio Reis defende a conscientização Apesar de serem pouco conhecidos, os resíduos hospitalares têm participação significativa na produção de lixo. Todos os dias, materiais são descartados nas farmácias, enfermarias, pronto socorros, CTIs, clínicas e consultórios. A cada tonelada de detrito produzido, cem quilos correspondem a materiais vindos de

centros de saúde. Mas o que pode ser considerado lixo hospitalar? Como lidar com seu descarte, separação, armazenamento, coleta e destinação? O químico ambiental Júlio César Reis, responsável pela implementação do novo sistema de lixo hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, esclareceu ao Jornal de Estudo (JE) as principais questões sobre o assunto. JE – O que é lixo hospitalar? Quais os riscos que oferecem ao meio ambiente e aos coletores? Júlio Reis (JR) – O resíduo hospitalar é todo material gerado dentro de um estabelecimento de assistência à saúde, que pode conter ou não agentes que alterem suas características. Algodão, gases, esparadrapo, frascos de medicamentos, de soro, resíduos de obra e de manutenção e restos alimentares são alguns exemplos. Os resíduos são classificados dentro de cinco grupos, cada um com

seus diferentes riscos. No grupo A, são colocados os resíduos biológicos, perigosos para os coletores internos e externos. Se houver mal manuseio, eles podem resultar em doenças e poluição dos mananciais subterrâneos ou superficiais. Já no grupo B, estão os resíduos químicos, que provocam contaminação dos lençóis freáticos, podem poluir a atmosfera e intoxicar os coletores. O grupo C é composto pelos resíduos radioativos, que podem causar mutação genética, como ocorreu em Goiânia, no caso do Césio, em 87. No grupo D, temos o resíduo comum, similar ao domiciliar, que provoca menor impacto ambiental se comparado aos demais. O grupo E corresponde aos perfurocortantes. Eles podem causar patologias, tanto químicas quanto biológicas. JE – Qual o padrão viável e ambientalmente correto de coleta e destinação? JR – Na coleta, deve-se adotar

sacos nas cores corretas, recipientes, pedal e carros coletores com tampa. Na destinação, são necessários aterros sanitários para os resíduos permitidos, tratamento térmico para os exigidos em empresas licenciadas, como alguns resíduos biológicos ou químicos, e enterramento em cemitérios para os viáveis. JE – Médicos e enfermeiros são conscientes em relação à produção e à destinação do lixo hospitalar? Como você avalia a atuação do Demlurb? JR – A conscientização é lenta. A necessidade é efetuar um trabalho de “educação continuada”, ou seja, uma massificação do assunto. O Demlurb vem trabalhando para atender à demanda e às questões técnicas. Juiz de Fora deve gerar hoje mais de 30 mil litros de resíduos no serviço de saúde por dia. A destinação correta depende muito mais da consciência dos geradores do que do órgão municipal.


10 Esporte

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JIMI

Cegos conquistam medalhas Atletas da Associação dos Cegos de JF trazem cinco medalhas dos Jogos do Interior de Minas Gerais Lívia Mautoni Thais Torres

Lívia Mautoni

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otivação, ansiedade, superação e muito treinamento. Essas foram as palavras de ordem da equipe de atletismo da Associação dos Cegos que participou dos Jogos do Interior de Minas Gerais 2008 (Jimi) entre os dias 17 e 19 de outubro. Quatro atletas especiais, juntamente com seus guias, foram em busca de medalhas para Associação e trouxeram duas pratas e três bronzes (ver quadro). Essa foi a 24ª edição do evento, que faz parte do projeto Minas Olímpica Jimi, o maior evento esportivo do estado. A etapa final dos Jogos, aconteceu na cidade de Ipatinga e contou com a participação de 5.560 atletas dos 11.868 inscritos no início das competições. As disputas aconteceram em diversas praças esportivas do município. Na etapa ipatinguense, foram disputadas foram disputadas provas de atletismo, basquete, handebol, natação, tênis de mesa, ciclismo, mountain bike, ginástica artística e de trampolim, peteca, triatlo, futsal, vôlei, xadrez, tae-kwon-do, caratê, judô, basquete para cadeirante, tênis de mesa adaptado, natação e atletismo para pessoas portadoras de deficiência. Os Jogos O Jimi é realizado desde 1985, todos os anos, por meio de uma iniciativa do Governo de Minas e organizado pela Secretaria do Estado de Esportes e da Juventude (SEEJ). O objetivo é promover o desenvolvimento da cultura esportiva em Minas Gerais. Neste ano Juiz de Fora ficou em oitavo lugar geral, com 31 medalhas. O treinador dos atletas da Associação dos Cegos, Luiz Antônio de Carvalho Letayf, trabalha com deficientes há mais de 20 anos e participou dos jogos pela primeira vez. Ele ressalta a importância da participação dos atletas especiais em atividades esportivas. “O esporte é importantíssimo para qualquer pessoa, mas para o deficiente é ainda mais. É uma forma de aparecer e ter apoio. Um meio de se integrar na sociedade, de se sentir valorizado”, afirma o treinador.

Medalha de prata: treinos no Sport Club com o guia Gilberto Roque Júnior levaram Maria da Consolação Jardim, 39, ao pódio

Esporte é principal aliado na inclusão A Associação dos Cegos lançou, em fevereiro de 2006, o projeto Visão no Esporte, em parceria com a SubSecretaria de Esporte e Lazer da Prefeitura de Juiz de Fora. O objetivo é proporcionar aos deficientes visuais a oportunidade da prática esportiva saudável, na qual limites são rompidos diante da determinação dos atletas e do incentivo da entidade. A atleta e deficiente, Maria da Consolação Jardim, viu no projeto um incentivo para voltar a praticar o esporte. “Em 1995 participei da corrida de São Silvestre, competi em Brasília, no Rio de Janeiro, em São Paulo, em vários lugares. Fiquei dez anos parada, mas eu senti muita falta. Há dois anos teve esse projeto Visão no Esporte. A Associação me convidou e essa foi a grande oportunidade para voltar às competições”, conta. A realização do Jimi foi o grande incentivo para que o deficiente visual Sebastião Natal da Silva, aos 50 anos, iniciasse sua carreira de corredor. Se-

Resultado da Associação dos Cegos no JIMI 2008 Atletismo para pessoas portadoras de deficiência na modalidade corrida Categoria 100 metros: 2º lugar com Maria da Consolação Jardim Categoria 400 metros: 3º lugar com José Maria Dias Categoria 1500 metros: 2º lugar com Sebastião Natal da Silva 3º lugar com José Maria Dias

gundo o atleta, o esporte está fazendo muito bem a sua saúde, diminuindo até mesmo o uso de alguns remédios. Ele também incentiva outros amigos da Associação a praticar esporte. As dificuldades são ainda maiores para quem não nasceu cego. A realidade de pessoas com deficiência visual é cercada de superações. “A pessoa que já enxergou, quando fica cega, tende a ficar trancada em casa, partir para bebida, para droga, e até tentar suicídio. Tudo isso é normal pela revolta com que a pessoa fica. A partir do momento que ele aceita a cegueira nos temos condição de ajudar. É nessa hora que o esporte é um grande aliado”, ressalta o presidente da Associação dos Cegos, Lucas Diniz Chaves. Investimentos e Apoio Nesta edição dos Jogos, o Governo de Minas investiu R$1,79 milhão no Minas Olímpica Jimi 2008. O valor foi usado para cobrir as despesas com arbitragem, equipe operacional, delegações e suporte durante os dez dias de competição. Segundo os organizadores, o dinheiro investido trouxe retorno benéfico principalmente para as cidades-sede dos jogos com a movimentação da economia local. Foram 112 municípios participantes do Jimi e 19 cidades sediaram o evento. Os atletas tiveram grande dificuldade para conseguir ajuda financeira que cubrisse as despesas para participar da competição já que diferente de 2007, eles não contaram com o apoio da Prefeitura. Para não deixar os atletas de fora do JIMI, a Associa-

ção dos Cegos buscou patrocínio na iniciativa privada. “A maioria dos atletas não foram porque não tiveram ajuda. Mas parece que a Associação é iluminada, nós pedimos patrocínio e levamos quatro atletas na corrida”, comemora o presidente, Lucas Diniz Chaves. O plano orçamentário para a participação da equipe de atletismo da entidade foi de cerca de R$3 mil. “Há pouco apoio, quem apóia mesmo é a Associação dos Cegos, que dá uma ajuda de custo para os guias. A prefeitura manda os professores, mas eles não podem estar presentes em todos os momentos. O guia passa a ser professor dos cegos”, revela o enfermeiro e guia dos deficientes, Gilberto Roque Júnior. Há três anos trabalhando como guia, esse ano foi sua segunda participação no Jimi. Treinamento e conquista Para treinar, os atletas da Associação usam o Sport Club Juiz de Fora e também a Avenida Brasil, mas o espaço não é adequado e o treinamento na rua oferece riscos. A grande expectativa fica para a finalização da obra da pista de Atletismo da UFJF. Segundo o professor de Educação Física da UFJF José Augusto Rodrigues Pereira, o retorno dos cegos para treinar na nova pista de Atletismo será bom para os atletas, mas também muito útil tanto no processo de aprendizagem dos alunos quanto no exemplo de vida que eles transmitem. No Jimi 2007, a Associação dos Cegos conquistou o 2º lugar masculino e 4º lugar feminino no Atletismo.


Comportamento 11

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MODERNIDADE

Mulheres entre a carreira e o altar Elas estão cada vez mais divididas entre formar uma família e se dedicar ao mercado de trabalho Cláudia Oliveira

Cláudia Oliveira Ludyane Agostini Michelle Clara

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reparar o enxoval, marcar a data, fazer a lista de convidados, escolher o vestido a dedo, organizar a melhor festa, convidar os padrinhos. Casar-se de véu e grinalda foi sempre o sonho da maioria das mulheres, inclusive da estudante Mayara Coelho. Ela tem 21 anos, cursa o 6º período de Enfermagem e casou-se este ano. Por causa dos preparativos do casamento teve que parar de estudar, mas pretende voltar no ano que vem. Mayara vivia na casa dos pais e não se preocupava em trabalhar. Com a responsabilidade do matrimônio quis ajudar no orçamento da nova casa. “Quando eu estava solteira, não tinha vontade de trabalhar, dependia do dinheiro do meu pai e da minha mãe. O meu casamento foi um estímulo para eu procurar um emprego. Comecei a trabalhar pra crescer junto com meu marido”. Ao contrário do que acontece com muitas meninas hoje, Mayara se casou porque queria viver junto com o marido e não porque estava grávida. “Minha decisão de casar foi consciente. Eu e meu marido resolvemos morar juntos porque nos amamos”. Para a estudante, não é difícil conciliar estudo, casamento e trabalho. Mayara diz que o cansaço no fim do dia é pra-

Márcia divide o seu dia entre as aulas de francês, inglês e espanhol zeroso porque se sente bem em dar conta de fazer tudo. Mas, quando o assunto é filhos, a universitária se diz aborrecida porque seu marido ainda não acha que é a hora, enquanto seu desejo é ter pelo menos quatro. “Ele quer esperar um pouco mais, quer que a gente tenha uma estabilidade financeira melhor”, justifica. Diferente de Mayara, a professora de línguas Márcia Castro preferiu conquistar o mercado de trabalho antes de se casar, aos 35, no meio deste ano. Márcia afirma que sempre se preocupou com a faculdade e, após se formar, com o futuro profissional.

Para ela, há uma grande vantagem no casamento tardio. “Se eu tivesse casado cedo, provavelmente já teria filhos e por isso não chegaria onde estou hoje. Filhos exigem dedicação total da mãe e, para a mulher, isso pesa muito”. Márcia tem certeza do que quer, por isso sabe que o casamento é para a vida toda. Mas há desvantagens. “Um problema em esperar tanto é o momento de ter filhos. O meu corpo já não está tão propenso a isso, vou precisar recorrer a uma inseminação artificial. E se vierem três filhos, vou ter que aceitar, apesar de querer apenas um”. Para a professo-

ra, criar um filho hoje é muito difícil. É preciso ter condições de oferecer a ele boas escolas e uma oportunidade de viajem ao exterior. “E isso custa caro.” Juntar as escovas ou não? A docente, que dá aula de inglês, espanhol e francês, não acredita que o mercado de trabalho seja o principal fator para adiar o matrimônio. “Para mim, o mercado é um dos fatores e não o principal. Hoje está muito difícil estabelecer relações amorosas. A juventude quer só curtição, então fica difícil encontrar uma pessoa para namorar sério e casar”. Cada uma vive à sua maneira e enxerga no casamento possibilidades diferentes de serem felizes. Afinal, não existe uma regra para saber quando é o momento ideal para subir ao altar. Márcia preferiu aproveitar a oportunidade que o mercado lhe oferecia na época de formada. “Nunca determinei a idade que eu iria me casar. Quis aproveitar a explosão por procura de professores de línguas quando me formei”. Apesar de Mayara Coelho concordar que a mulher deve se preocupar primeiro com a profissão, ela preferiu constituir uma família antes de terminar a faculdade. “A sociedade formou o modelo de mulher solteira e independente. Mas eu sempre fui mais família e quis casar cedo”, conclui a estudante.

Um país de cabelos brancos tomado pelo poder feminino A conquista do mercado de trabalho e a escolha por se casar e ter filhos mais tarde faz da mulher a grande protagonista do futuro. Devido a essas escolhas, há uma outra população que vem crescendo nos últimos anos. De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em 27 anos, o número de idosos vai aumentar de 10% para 21,1%. Juiz de Fora é considerada uma excelente cidade para se estabelecer e constituir família. É por isso que na Manchester Mineira 10, 3% das pessoas têm mais de 60 anos. A coordenadora executiva de atendimento à pessoa idosa da Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac), Maria José Sinhoroto, acredita que

esse percentual se deve à qualidade de vida e infra-estrutura que Juiz de Fora oferece aos idosos. O aposentado Antônio Martins da Silva, 81, freqüenta a Amac há dois. “Venho aqui para me distrair, jogar sinuca, fazer amigos”. Ele veio para a cidade porque encontrou mais recursos. Maria José afirma que o município vai enfrentar desafios com a divulgação desse estudo. “Juiz de Fora precisa se adequar para o envelhecimento da população. As políticas hoje atendem os idosos, mas não são suficientes”. A coordenadora indica que os maiores índices de violência registrados pela Amac são os de abusos psicológicos, econômico e financeiro. “A violência contra o idoso está dentro das famílias, é doméstica e ela é velada, escondida”, lamenta. Arte: Michelle Clara Fonte: Ipea

E volução da população brasileira

Porcentagem

80 60 40 20 0 1992

2007

2035

F aixa etária Jovens (menos de 15 anos )

Jovens (mais de 15 anos ) população em idade ativa

População com mais de 60 anos

População com mais de 80 anos

Um novo modelo de família A inserção da mulher nas mais diferente funções no mercado fez com que ela se tornasse responsável pela queda no indice de natalidade. De acordo com o sociólogo e professor da UFJF, Carlos Alberto Hargreaves Botti, nos dias atuais há um desconforto em se ter uma família numerosa e trabalhar fora. “É por isso que a maioria das mulheres está optando por casar mais tarde”. Ainda conforme o sociólogo, há uma racionalização no número de filhos. “Hoje, os casais preferem ter no máximo dois. Entre os principais motivos desta escolha está a pouca disponibilidade de tempo. A família média está reduzindo por uma série de razões. Dentre elas, a entrada da mulher no mercado de trabalho. Mas essa não é a única”, afirma. O Ipea também divulgou números relativos à conquista das chefes de família de salto alto e batom em cargos de liderança. De acordo com o estudo, o percentual de mulheres que assumem as despesas de casa pulou de 4,2% em 1992 para 32,5% em 2007. Outro dado importante é que a taxa de natalidade tende a reduzir até 2035. A previsão é de que, nessa data, o número de jovens com menos de 15 anos seja de 14%, sendo que em 2007 essa população era de 25,2%. Além disso, as mulheres estão preferindo morar sozinhas. A proporção passou de 6,2% para 8,5%, na comparação entre 1992 e 2007. Para Botti, os números da pesquisa servem para mostrar a nova tendência da sociedade. Ele afirma que a queda na taxa de natalidade também tem como razões principais os métodos anticoncepcionais e a racionalidade no planejamento familiar. O sociólogo completa: “A mulher está conquistando o mercado de trabalho, está assumindo cada vez mais posições de destaque na sociedade. É por isso que ela já não vê como viável ter muitos filhos e escolhe racionalizar e dimensionar o tamanho das famílias”.


12 Cultura

Jornal de Estudo

outubro de 2008

MÚSICA AUTORAL

Compositores descobrem público na noite juizforana

Artistas mostram seus trabalhos em eventos como o Encontro de Compositores e o Mão na Massa Minas David Gomes

David Gomes Gustavo Dore

J

uiz de Fora é conhecida por sua tradição musical. Diversos artistas e compositores da cidade tiveram seu trabalho reconhecido nacionalmente. Nomes como o sambista Mamão, a cantora Ana Carolina, Suely Costa, e a banda de rock Strike levaram a voz dos músicos da cidade para todo o Brasil. Mas, mesmo com uma produção de qualidade, a cidade ainda carece de lugares onde os compositores possam apresentar seus trabalhos. Foi nesse contexto que surgiu, como uma reunião de amigos/músicos, o Encontro de Compositores. Neste mês, o Encontro de Compositores de Juiz de Fora completou um ano de apresentações no bar Cai&Pira, no Bairro São Pedro. O evento, que surgiu primeiro no Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm), no fim de 2006, tem o intuito de abrir um espaço onde os compositores locais possam mostrar seu trabalho para um público interessado em ouvir músicas novas. Segundo Dudu Costa, um dos idealizadores do evento, havia muita música sendo feita e guardada na cidade, por não haver um local específico para mostrá-las. Para Dudu, em noites normais, nos bares em que tocam música ao vivo, o público quer ouvir os sucessos e não músicas novas. O músico lembra que a resposta das três edições do Encontro de Compositores realizadas no Mamm foi muito positiva.

A temática infantil do Grupo Trupicada também tem lugar no palco do encontro “Tinha mais gente compondo do que a gente imaginava, e o público também era maior do que esperávamos.” Porém, devido às novas políticas estabelecidas pela nova administração do espaço, o evento teve que encontrar uma nova casa, e o Cai&Pira acabou sendo o lugar escolhido. Clima intimista Júlio Satyro, letrista e freqüentador dos encontros, destaca a característica informal do evento: “O encontro é anti-indústria cultural. Não é para ser grande, ou ser vendido.” O clima do bar combinou com a proposta do evento, o que ajudou a alavancar ainda mais o projeto. Eduardo Fioravante, dono da casa, conta que foi pela amizade com os músicos que o local virou sede: “Me senti muito honrado

por ter sido escolhido.” Toda segunda segunda-feira do mês, o palco do bar fica aberto, com o equipamento à disposição. Querendo, é só entrar na fila (sim, a casa fica cheia, e a disputa pelo palco é grande) e subir no palco. Cada um tem o direito de mostrar duas músicas por vez, a única exigência é que elas sejam autorais. Como o clima é muito espontâneo, muitas parcerias acabam acontecendo ali mesmo. Gabriel Lobo, que costuma apresentar suas músicas no evento, destaca a importância da troca de experiências. “O evento é legal pois é preciso ter contato com muitas idéias para desenvolver o próprio estilo”, comenta Gabriel. O evento acaba gerando um estímulo natural para que as pessoas voltem a compor.

O Próximo Passo: Mão na Massa Minas A partir da experiência e dos bons resultados atingidos com o Encontro de Compositores, um movimento de músicos da cidade sentiu a necessidade de se profissionalizar, de apresentar um show completo do artista. Assim surgiu o Mão na Massa Minas, que acaba sendo uma continuidade do encontro.

Com essa proposta de abrir um espaço para que artista mostre seu trabalho da melhor forma possível, Kadu Mauad e Dudu Costa se juntaram para organizar o evento. Em 27 de setembro, Hudson Coelho e Roger Rezende se apresentaram na primeira edição do evento, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM).

Hudson diz que a cidade precisa de pessoas que queiram incentivar o trabalho autoral pois essa demanda existe. “É um privilégio que as pessoas saiam de suas casas e vão para um teatro (CCBM) ouvir minhas músicas. Existe em Juiz de Fora, esse público ávido por músicas novas”, explica Hudson. No dia 11 de outubro aconteceu a segunda edição do Mão na Massa Minas, no espaço Mezcla, com a apresentação de Edson Leão e Kadu Mauad em trabalhos individuais solos. Kadu explica que “o mais importante do evento é centrar toda a atenção do público na música, no artista. Com o mínimo de interferência possível.” A única exigência é que as canções apresentadas no evento sejam de autoria própria, inéditas para o grande público. Dudu Costa e Kadu Mauad esperam que o Mão na Massa Minas seja um trampolim para o compositor crescer e se profissionalizar.

Poeta ou letrista? Peça fundamental para qualquer música, o trabalho do letrista e do compositor é praticamente ignorado fora do meio musical. Os intérpretes ficam com toda a glória. Os letristas, geralmente poetas, dificilmente vivem da música que compõem. Júlio Satyro, conta que seus poemas não vêm musicados. Algum amigo compositor, que goste de suas letras, faz o trabalho. Júlio sente que o Encontro de Compoitores é um bom espaço para que as pessoas conheçam também os letristas. “Escrevo há muito tempo e sentia falta de um interlocutor, que levasse minhas letras aos músicos e ao público”, explica Júlio. Na noite do dia 13 de outubro Júlio mostrou um pouco de seu trabalho ao lado do compositor e intérprete Kadu Mauad. A música apresentada no Encontro de Compositores também tem o arranjo feito por Júlio, “O Kadu me ouviu tocando e me motivou a escrever a letra.” Gustavo Dore

Dudu, Hudson e Danniel: parceria e amizade

Internet é a saída Casas noturnas e bares cheios, muitos eventos acontecendo todo fim de semana, Juiz de Fora parece um bom lugar para os músicos divulgarem seu trabalho. No entanto, todo esse cenário parece pequeno para a grande quantidade de músicos na região. Tiago Vieira, compositor e integrante da banda Híbrida, comenta que espaços como o Encontro de Compositores são importantes, mas não satisfazem a demanda por estilos musicais diferentes na cidade. “A Internet acaba sendo o melhor meio de divulgação, pois é um reflexo das novas gerações.” O produtor musical Ricardo Rezende, Kiko, trabalha em Juiz de Fora e comenta que a quantidade de bandas e músicos individuais é grande, mas poucos apresentam boa qualidade. “Tem muito diamante bruto, falta uma boa direção musical”, explica.


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