Beijara Quimera


Beijar a Quimera é uma pequena coletânea de histórias criadas pelos alunos do ensino secundário, partindo sempre de um início comum.
As histórias agora selecionadas resultam de momentos criativos muito específicos e pontuais, distribuídos por três anos letivos.
Cansada de tanto lutar, deixou cair finalmente a sua cabeça sobre a almofada de brancos cabelos.
Lá fora, o vento beliscava suavemente os pequenos vidros da janela e nas velhas paredes do quarto espreguiçavam-se os primeiros raios da manhã. Mas Sara ainda não dormia. Tinha desfiado histórias da sua infância toda a noite. Vinha-lhe agora à memória um roçagar de cinzas, que caíam suavemente nos seus ombros e na sua cabeça. Pareciam floquinhos de neve, tão pequenos, tão delicados. Mas o fumo espesso que subia até ao céu, ultrapassando os edifícios degradados, tão, tão escuro, não trazia as costumeiras alegrias da neve. Era outra coisa.
Levantou-se de um salto. Que recordação tão estranha! Parecia ter vindo do nada, um produto da sua fértil imaginação. Tão deslocada e diferente era das outras… Sara não reconhecia os edifícios sombrios nem sabia a origem da torre de fumo que se alastrava até onde a vista não mais alcançava. A sua vida fora passada entre regatos e bosques verdejantes, no meio de flores perfumadas e das abelhas simpáticas que a visitavam. Nada de austeros prédios numa cidade da cor do negrume, onde, em vez de nevar, caíam cinzas do céu.
Abanou a cabeça, como que para se livrar daqueles pensamentos inúteis. As longas horas passadas a visitar
outros tempos, sem descanso, não a estavam a fazer pensar direito.
O sol já havia nascido por completo, estendendo os seus raios de luz a tudo aquilo a que conseguia chegar. As suas plantinhas, metodicamente colocadas no beiral da janela, apreciavam os carinhosos beijos solares. Sara observou-as durante um pouco, deixando a sua mente vaguear para coisas sem importância, para o gato vadio que lhe aparecera à porta no dia anterior, para os miosótis que havia plantado na primavera anterior, prenda do filho, e que lentamente floresciam e abriam as suas pequeninas pétalas azuis para o filho que não lhe telefonava havia meses. Que curioso! Outro nome dos miosótis era não-meesqueças! Sara riu da ironia, um riso amargo e pesaroso.
Desceu para a cozinha, onde preparou o café. Ao abrir a porta para ir para o jardim, lá estava o gato vadio. Este olhou para ela com uns olhos amarelados, o pêlo ruivo e farto a refulgir, iluminado pela luz do sol matinal. Mas não disse nada. Apenas se sentou à entrada e observou-a, como quem examina um ser desconhecido de peculiar comportamento.
E foi no jardim que Sara passou o seu dia. Regou as plantas, podou as roseiras que ameaçavam cobrir o baloiço de tinta a cascar e alimentou o patinho Barnabé, que gostava de perseguir as borboletas, andar em círculos atrás delas até que elas se fartassem da atitude do pequeno pelintra e se fossem embora, enfastiadas. Sara
repreendia o patinho uma e outra vez, mas Barnabé limitava-se a soltar um grasnido e a importunar a próxima borboleta que tivesse o infortúnio de se aproximar dele.
Ao meio-dia, Sara, o patinho Barnabé e o gato vadio almoçaram juntos. Sara tentou travar conversa, mas Barnabé preferia debicar o pão do que ouvi-la. O gato vadio, no entanto, parecia escutar atentamente cada palavra, como se percebesse a linguagem humana. Então, a senhora falou-lhe do jardim tão bonito que possuía e da alegria que lhe dava. Falou-lhe do livro desinteressante que andava a ler de momento e que só não desistia dele porque ela terminava tudo aquilo a que se propunha fazer. Falou-lhe do filho, que era muito inteligente e estava a estudar para ser médico (Não lhe contou que não a visitava há meses!). Falou-lhe da memória inusual que lhe ocorrera de manhã.
E foi nesse momento que Sara se apercebeu que estava a falar com um gato. Não, estava a falar sozinha… os gatos não falam, os gatos não compreendem. Deixou metade da frase por proferir e correu para a casa de banho.
Observou-se ao espelho. Estava velha. Mas estaria tão velha assim? Tão velha que tomava um simples gato por um ser pensante? Tão velha que inventava coisas que nunca havia vivido? Tão, tão velha que a sua própria existência parecia se ter dissipado da mente do filho?
Questionou a sua própria sanidade. Estaria a ficar senil? Talvez seja isso. Talvez só precisasse de abandonar o seu refúgio e rumar para a cidade, para junto do filho. Mas o filho…
Pegou no telefone. Pensou duas vezes. Pousou o telefone.
Não! Não podia ser! Apenas tinha passado uma noite em branco. O sono provoca as situações mais mirabolantes. Não se pensa corretamente, o cérebro fica agitado com o pouco descanso. Respirou fundo, uma e outra vez, e voltou para a companhia das suas flores e dos animais. O gato continuava ali, calmo, pensativo, a olhar para ela.
Foi então que ela percebeu o quanto sentia falta do seu futuro médico. Procurava nos animais a companhia que o seu filho lhe dava, tentando também, assim, distrair-se do facto de ele já não estar lá. Com isto, e depois de muito debate com os animais, decidiu mesmo ir à cidade fazerlhe uma cálida surpresa. Comprou mesmo uma caixinha de chocolates, típica caixinha em forma de coração.
Mas Sara tinha um grande problema: como ir para a cidade? Há muito tempo que não saía da sua casa. Decidiu perguntar ao vizinho Jorge, um jovem que andava a estudar no Porto.
– Olá, Jorge! Tudo bem? – perguntou Sara.
– Olá, Dona Sara! Está tudo bem! Que a traz por cá? –suspeitou Jorge.
Sara, um bocado constrangida, sussurrou:
– Há muitos meses que não vejo o meu filho e tenho muitas saudades… como posso ir para o Porto?
– Oh, Dona Sara, isso não é muito difícil! – disse Jorge –primeiro, tem de comprar um bilhete de autocarro e depois, ao chegar ao Porto, chama um táxi e o táxi leva-a direitinha para a casa do seu filho! – tranquilizou-a Jorge.
Sara agradeceu muito, entrou apressadamente em casa e foi logo fazer a mala com camisolas e as coisas de maior necessidade. Olhou-se ao espelho para ver se estava bem. Perguntou mesmo ao gato se estava bem. Não estava bem! O cabelo parecia um ninho de pássaros, os olhos eram olheiras e a face uma escuridão!
– Ui! Eu não posso ir com esta cara! – assustou-se Sara.
Subiu ao sótão, vasculhou nas suas memórias a sua antiga juventude. Por surpresa, no seu precioso baú esculpido com a imagem de uma sumptuosa quimera e forrado a cetim, encontrou antigas cartas de quando o seu filho foi para a universidade.
Os olhos lacrimejavam enquanto as repassava. Enquanto as apertava fervorosamente contra o peito até se esqueceu do propósito da sua visita ao sótão.
– Que amarga saudade! – suspirou.
De repente, ouve-se o toque da campainha.
– Quem será? – levantou a voz.
Dirigiu-se rapidamente para o pequeno vitral que dava para o jardim.
Um enorme raio de felicidade floresceu no seu rosto.
Desceu o mais rapidamente que conseguiu. À porta estava o seu filho e uma linda jovem, de ondulados cabelos castanhos. Mãe e filho olharam-se nostalgicamente, caindo num abraço que duraria a eternidade.
– Oh, meu filho, há tanto tempo! Entra, entra! – disse a mãe emocionada.
– Perdão, minha mãe! A medicina ocupou todos os meus dias! Quem me dera ter mais tempo para te visitar, uma vez que fosse! – lamentou-se o filho.
– Com tantas lamechices, ainda não me apresentaste, Simão! – brincou a jovem.
Agrupamento de Escolas de Melgaço – 12.º A (2014-2015) e 12.º A/B (2023-2024)
Cansada de tanto lutar, deixou cair finalmente a sua cabeça sobre a almofada de brancos cabelos.
Lá fora, o vento beliscava suavemente os pequenos vidros da janela e nas velhas paredes do quarto espreguiçavam-se os primeiros raios da manhã. Mas Sara ainda não dormia. Tinha desfiado histórias da sua infância toda a noite. Vinha-lhe agora à memória uma bela e quente tarde de verão que passara com o seu grande amigo Diogo. O dia tinha começado bem cedo, logo pela manhã acordou alegre, mal os raios de sol entraram pela sua janela e os passarinhos começaram a cantar. Há um dia que tinha chegado e já estava ansiosa por conhecer novas pessoas. Vestiu-se apressadamente e com a sensação de que o dia não poderia ter começado da melhor forma. Desceu as escadas a correr com uma vontade enorme de provar aquela famosa geleia da sua avó. Quando chegou à cozinha, reparou que já não havia geleia. Sentiu-se muito triste e desiludida... esfomeada! Aos pulos foi a correr até ao quarto da avó. Entrou silenciosamente em bicos de pés.
A avó ainda dormia profundamente. Chegou-se ao seu ouvido e sussurrou-lhe:
– Vó, estás acordada?
A avó mexeu-se ligeiramente, mas continuou a dormir. Sara acabou por abanar a avó, que, sobressaltada, exclamou:
– Assustaste-me! É tão cedo! Que queres tu, minha netinha?
– Desculpa! Bom dia, avó! Está um dia lindíssimo! Não ouviste os passarinhos a cantar? Cantam muito bem! Olha, a geleia já acabou e... Não há mais?
– Bom dia, netinha! Não ouvi os passarinhos a cantar, porque estava a dormir! Mas tu acordaste mesmo cedo! Já acabou a geleia?! Eu acho que ainda há geleia naquele pequeno e velho armário que está na dispensa. Deixa-me arranjar que já vou contigo. – Disse a avó sorridente.
Sara saiu do quarto e dirigiu-se novamente para a cozinha e aí encontrou o avô que vinha de cavar batatas. Deu-lhe um beijo e disse-lhe bom dia, não se importando com as mãos sujas de terra, a cara transpirada e empoeirada e a roupa toda estragada.
O avô, muito contente, pegou na sua neta ao colo e cobriu-lhe as bochechas de beijos.
Entretanto, encostada à porta, estava a avó a sorrir. Sentia-se muito feliz. Adorava ver a cumplicidade, o carinho, o amor que transparecia entre os dois. Aquele azul dos olhos do avô brilhava, cintilava. Naquele ambiente harmonioso, os olhos de Sara pareciam cristais, diamantes, brilhantes, transparentes como a água, puros.
De lágrimas nos olhos, a avó precipitou-se para eles, abraçando-os. Emocionado, o avô acariciou-a suavemente
no rosto. Também ela não se importou com as suas mãos sujas.
– Estou muito cansado, mas este abraço deixou-me tão contente, tão animado! Até me esqueci que trazia sede! –sorriu o avô.
– Avô, eu trago-te já um copo de água!-disse Sara aos pulos.
Alegremente, pegou num copo que estava na bancada de mármore, correu até à fonte de água fresca do jardim, encheu o copo, olhou para a água a jorrar e sentiu uma enorme vontade de beber. Inclinou a cabeça, de uma mão fez concha e bebeu. «Ah, que fresquinha! Que boa!».
Apressadamente, levou o copo de água ao avô.
A manhã passou-se assim, entre sorrisos e abraços e carinhos e alegrias! E houve geleia!
Agora o radiante sol descia sobre a tarde. Sara e os seus avós caminhavam para a pequena vila. O caminho era de terra, com muito pó e rodeado por campos de centeio. Ao longe, um pequeno aglomerado de casas... Sara ficou espantada, pois imaginava algo maior, com prédios, muitos carros, confusão!
– Avô, isto é uma vila?! – exclamou Sara.
– Sim, é a nossa vila! – sorriu o avô.
E nestas conversas chegaram.
De repente, surgiu um rapaz a correr, tão depressa como uma gazela. Mas foram os olhos que a fascinaram, grandes, verdes e brilhantes. Parecia que sorriam. Não resistiu e perguntou ao avô quem era aquele rapaz tão desajeitado.
– Desajeitado?! – ironizou o avô – É o Diogo. É filho do Sr. António, o sapateiro da nossa terra.
Sara parece ter desvalorizado esta resposta, mas os seus olhos não se despregavam de Diogo.
Mas não era a única! Diogo também estava impressionado com os seus longos cabelos de ouro.
O avô chamou-a e perguntou-lhe se afinal não queria comprar papel, envelopes e selos. Sara parece ter acordado e abanou a cabeça afirmativamente.
No centro da vila lá estava a lojinha à espera deles. Entraram e Sara ficou espantada com a sua pequenez.
Logo encontrou o que lhe fazia falta. Colocou em cima da mesa e o avô pagou. Pegou nas coisas apressadamente, pediu autorização e desatou a correr para casa. Subiu as escadas de três em três, quase sem pousar os pés, entrou no seu quarto e...
Ovide, 27 de fevereiro de 1943
Olá, meus queridos pais,
Espero que esta carta vos encontre bem, de saúde e felizes! Eu estou bem e muito contente por estar aqui com os avós. A geleia da avó continua deliciosa! Eles estão de saúde.
Hoje fui à vila com os avós comprar este papel e acabei por ver um rapaz todo desajeitado. O avô disse que era o filho do sapateiro e que se chamava Diogo. Conhecem-no? Conhecem os seus pais? Passou por nós, mas nem olá nos disse. Acham que é bom rapaz? É que não tenho amigos e é o único que tem a minha idade, pelo que sei.
Sabem: estou aqui há dois dias, estou bem, mas cheia de saudades vossas. Estou ansiosa que chegue o fim de semana para vos voltar a ver. Talvez tenha mais novidades para vos contar.
Bem, agora vou lanchar e pedir ao avô que leve esta pequena carta aos correios. É pequena mas cheia de amor e carinho!
Um beijinho da vossa querida filha,
Sara
Dobrou a carta com cuidado e em três partes e no envelope escreveu:
Para: Fernando Matos
Barreiro, Casa das Tílias
4907-620 Barreiro
– Avô, avô, – disse Sara aos pulos – podes levar esta carta aos correios ainda hoje? Por favor!
– Oh, filhinha, acabamos de chegar... Pode ser amanhã? Levo-te comigo!
Sara abriu um sorriso de orelha a orelha, tão lindo que iluminou toda a sala!
De tão ansiosa que ficou, sentia que o tempo não passava. Os segundos pareciam minutos, os minutos horas, as horas dias...
Mas a noite acabou por chegar, cheia de estrelas que a faziam sonhar. Sonhar com a ida à vila, na esperança de ver aquele rapaz.
E adormeceu!
A madrugada clareou e com ela chegaram os passarinhos e com ela o acordar de Sara.
Alegre, saltou da cama e correu para o quarto dos avós.
– Avô, avô, acorda! Temos de ir rapidamente à vila.
Sobressaltado, olhou para o relógio e disse:
– Mas são seis da manhã, rapariga! Não achas que é muito cedo?!Tu dormiste?! A esta hora está tudo fechado!
Um pouco triste, cabisbaixa, arrastando os pés, saiu do quarto. Mas logo atrás dela seguiu o avô e ela sentiu a sua mão a pousar no seu ombro...
– Não fiques assim! Ainda é muito cedo, mas se os passarinhos já cantam é hora de se levantar!
Rapidamente correu para o quarto, remexeu o armário, tirou quase toda a roupa para cima da cama e ficou a olhar, até que escolheu um lindo vestido azul que a avó lhe tinha oferecido. Saltou para o banho e logo saiu. Vestiu-se e penteou-se cuidadosamente. Os seus cabelos estavam mais brilhantes do que nunca.
Agrupamento de Escolas de Melgaço – 12.º A (2019/2020)
*3*
Cansada de tanto lutar, deixou cair finalmente a sua cabeça sobre a almofada de brancos cabelos.
Lá fora, o vento beliscava suavemente os pequenos vidros da janela e nas velhas paredes do quarto espreguiçavam-se os primeiros raios da manhã. Mas Sara ainda não dormia. Tinha desfiado histórias da sua infância toda a noite. Vinha-lhe agora à memória um serão que passou na casa dos avós. Era uma casa grande, coberta
por heras, com um jardim enorme e um lago de águas cristalinas. Uma majestosa porta de entrada dava para um corredor largo e vestido de quadros. Ao fundo do enorme corredor, uma misteriosa porta escondia um segredo.
Sempre que Sara olhava para aquela porta sentia um arrepio e a sua curiosidade invadia toda a sua mente. Nessa noite, respirou fundo, girou a maçaneta da porta, abriu ligeiramente e espreitou... Avançou com receio, silenciosamente, através daquela porta. Ficou estupefacta!
Era uma sala gigantesca, quase parecia infinita!
– Sara, – gritou a avó – sai daí imediatamente!
Assustadíssima, Sara deu um salto e fechou a porta repentinamente. Cabisbaixa, envergonhada, aproximou-se da avó. Levantou os olhos cheios de lágrimas e pediu desculpa.
A avó viu o estado destroçado em que ficou a sua neta e desculpou-a, mas pediu-lhe que não voltasse lá.
Corada, à frente da avó, arrastou-se para a sala. Mas na sua cabeça saltitavam planos para invadir aquela sala proibida.
Ao entrar na sala, tropeçou no grande tapete vermelho que estava à entrada e caiu.
Rapidamente, do meio da multidão, surgiu um rapaz... Tinha uns belos cabelos como oiro e uns olhos profundos, da cor do mar! Para Sara parecia um príncipe surgido do nada, na sua armadura cintilante! Ficou fascinada! Quase
desmaiou quando as suas mãos se tocaram. Atarantada, deixou-se levar. Parecia que estava a sonhar! Mais leve do que uma pena flutuou pela enorme sala e... tropeçaram os dois! Caíram espetacularmente sobre o bolo de chocolate.
Espalharam-se bocadinhos de bolo por toda a sala! Todos ficaram sarapintados. Todos, menos um.
– Credo, cruzes, que revolução! – afirmou a tia
Requelinda, apressando-se para ajudar a sobrinha e o rapaz.
Em passinhos de lã, aproximou-se e, com uma enorme vontade de rir, levantou-os pelas pontinhas dos dedos.
Sara, envergonhadíssima, agradeceu o gesto e correu inconscientemente em direção à misteriosa porta, esquecendo o seu belo príncipe. Mas, para seu espanto, atrás dela lá estava ele, todo sarapintado!
Não se apercebendo que era a porta proibida, entrou de rompante e arrastou consigo o seu cúmplice.
A sala estava triste, envergonhada, desolada!
No meio da sala, uma enorme poltrona, revestida a veludo vermelho, abrigava uma arca toda empoeirada.
Sara abriu-a e dentro viu um envelope.
Intrigada, receosa, mas sobretudo curiosa, pegou no envelope e espreitou. Havia uma carta. Hesitante, retirou a carta e...
14 de agosto de 2900
Querida Sara,
Hoje é um dia especial que irá mudar o rumo da nossa vida, tanto para o bem como para o mal...
Tu e eu somos a mesma pessoa. Esta carta veio do futuro. E para te provar, digo-te, foi uma pena termos estragado o bolo, devia estar delicioso!
Mas o motivo pelo qual te escrevo esta carta é porque te quero precaver para não cometeres o mesmo erro que eu cometi. E é o seguinte: em 1.º lugar, nem tudo é como tu pensas; em 2.º lugar, esta lengalenga deves decifrar:
Numa noite de luar, Num jardim a florir,
Verás uma rosa desabrochar
E a sua luz deverás seguir!
Beijos, jovem Sara
P.S.: Não te esqueças, nem tudo é como tu pensas.
Sara ficou muito intrigada e assustada. Só então se lembrou que não estava sozinha. Olhou à sua volta e viu o rapaz. Surpreendida, perguntou-lhe:
– Quem és tu? Estiveste o tempo todo aqui? – Ricardo... Chamo-me Ricardo! – disse quase gaguejando – Estive aqui o tempo todo!
– A sério?!Nem me apercebi! Desculpa lá! Estava tão concentrada nesta carta que nem me lembrei de ti!
– Não faz mal! Eu compreendo! Queres que te ajude? Posso ler a carta?
Sara receou, pensou, hesitou, mas lá acabou por lhe entregar a carta.
Ricardo leu a carta atentamente... Ficou pensativo, surpreendido, entusiasmado! Começou a olhar em redor e logo reparou num clarão de luz que entrava por uma janela francesa.
– Estás a pensar no mesmo que eu? – perguntou, entusiasmado, Ricardo.
Sara seguiu a luz misteriosa que se esbatia numa estante cheia de livros... Mas nenhum deles mostrava claramente uma pista.
Nenhum dos livros mostrava uma pista! Então decidiram seguir a luz...Abriram a janela e caminharam até que encontraram um jardim escondido. Ficaram boquiabertos!
O jardim estava cheio de ervas daninhas, completamente abandonado! Uma rosa sobressaía...Branca como a neve, parecia frágil, só, diferente, indefesa, abandonada! Mas a sua luz era tão brilhante que afastava todos os perigos.
– Estás a ver que luz se desprende daquela flor, Ricardo?!
Ricardo já não respondeu. Estava quase todo engolido pelas ervas! Aterrorizado, soltou um grito estridente, ensurdecedor. Sara, atrapalhadíssima, tentou, em vão, salvar o seu amigo. Tropeçou e também ela foi sugada.
Caíram numa sala profunda e húmida… Estava toda iluminada por tochas, o que lhes pareceu muito estranho!
Cuidadosamente, levantaram-se e olharam em redor... Não viram nada, mas ouviram uma voz... Era uma voz frágil, assustada... Sem qualquer receio, foram ao seu encontro.
Quando lá chegaram, uma coisa inesperada aconteceu: não havia pessoa, havia um gravador! Como veio aqui parar este gravador?!
Avançaram e, ao tentarem desligar o aparelho, ouviram uma última frase: «Nem tudo é o que parece!».
Ficaram num silêncio profundo. Pegaram no gravador e recuaram. Subitamente, a porta que estava atrás deles fechou-se com um estrondo e todas as luzes se apagaram!
Ficaram estarrecidos. Do fundo da sala surgiu um homem que, acendendo as tochas uma por uma, se aproximou com ar sério e malvado.
– Dá-me o gravador já!
Sara e Ricardo ficaram muito assustados, deixaram cair o gravador e fugiram em direção à porta.
Puxaram desesperadamente pela porta, mas esta recusava-se a abrir. Começaram a pontapear a dura, espessa e forte porta de madeira... Ricardo, de repente, viu
um dos seus pés preso numa pequena porta que havia no meio da grande porta. Espreitaram e atravessaram...
– Será possível?! – perguntaram ambos.
Outro túnel.
Cruzes, credo, canhoto!
Agrupamento de Escolas de Melgaço – 12.º B (2014-2015) *** Caro leitor,
Se gostou do que leu, experimente dar mais um (pequeno) impulso a estas histórias.
Para iniciar esta aventura na arte de escrever, comece por falar com a professora bibliotecária.
Seja leitor e… escritor!