Lina Bo Bardi Design ETEL reeditions

Page 1

Lina e o Design |

Lina Bo Bardi teve a rara oportunidade de atuar profissionalmente em várias áreas além da arquitetura de edifícios. Paisagismo, design de mobiliário, cenografia, ilustração e gráfica estendem o campo da arquitetura e urbanismo, onde está situada a maior parte dos arquitetos brasileiros.

Sua produção construída não é numericamente extensa, o que é compensado pela intensidade de alguns projetos. No Museu de Arte de São Paulo, no Museu de Arte Moderna da Bahia e no SESC Pompéia, Lina participou da definição e implementação dos seus usos, concebendo não apenas as formas expositivas, como desenvolvendo pesquisas, propondo programas e mesmo dirigindo suas atividades. Nessas ocasiões, Lina demonstra que entende o projeto de modo amplo, não como uma mera integração das artes, mas como um plano de ação definido de modo estratégico. Ação no campo cultural, com clara consciência do seu papel social, político, produtivo e econômico.

Sua produção como designer insere-se nesse quadro amplo. Antes mesmo de conseguir construir suas primeiras obras de arquitetura, trabalhou em várias revistas italianas das quais se destacam Lo Stile e Domus. Talentosa ilustradora, também projetava interiores especialmente para serem publicados em artigos em co-autoria com Carlo Pagani. Neles surgiam móveis e modos de ocupação dos interiores posteriormente desenvolvidos e construídos no Brasil, para onde se transfere no final de 1946, após casar-se com Pietro Maria Bardi.

Seus primeiros trabalhos construídos em design de mobiliário e arquitetura de interiores ocorre no Museu de Arte de São Paulo, implantado e dirigido por Pietro a partir de 1947 a convite de Assis Chateaubriand. Ali projeta a adaptação dos primeiros andares do edifício dos Diários Associados na Rua 7 de Abril para receber o museu. Concebe os suportes das exposições de acordo com sua experiência italiana, além de cadeiras e outros móveis necessários. Entre as cadeiras destacam-se as do auditório, que iniciam a série de cadeiras dobráveis e armazenáveis.

Na parceria com Giancarlo Palanti no Studio de Arte Palma entre 1948 e 1950, projeta móveis e arquitetura de interiores para lojas, escritórios, consultórios. Juntos fundam também uma pequena fábrica de móveis, a Pau Brasil, na qual permanecem até a extinção da sociedade.

Habitat - Revista das Artes no Brasil (1950) Cadeiras Dobráveis e Empilháveis | MASP Divulgação © Instituto Lina Bo e P.M. Bardi

No primeiro número da revista Habitat as cadeiras são apresentadas com autoria definida. O grande destaque foi a “poltrona de três pés” na sua versão em cabreúva e em tubo de ferro leve, publicada ao lado de uma foto de redes no interior de um navio “gaiola” que navega pelo rio São Francisco. De origem indígena e disseminada pelo interior do país, esses tecidos pendurados pelas extremidades servem de assento, cama ou divã e inspiram as primeiras interpretações da cultura brasileira no seu design. Usam técnicas acessíveis ao parque industrial brasileiro: tubos de aço dobrados, chapas de madeira compensada, couros e tecidos locais. Os primeiros configuram interpretações próprias do “sentar no ar”, das cadeiras de Mies Van Der Rohe e Marcel Breuer. Já as chapas de madeira estruturam lateralmente o assento e o encosto através de um plano desenhado e recortado, que vincula a cadeira ao piso. Com formas assemelhadas às ameboides usadas tanto na arquitetura de Niemeyer, quanto no organicismo promovido por Bruno Zevi, o destaque foi dado à cadeira de balanço produzida com compensado de pinho.

Poltrona de Três Pés - ferro Cadeira de Balanço Croquis - Cadeira de balanço e poltrona de três pés, abaixo Divulgação © Instituto Lina Bo e P.M. Bardi

Projeta a reforma e ampliação do Masp, inaugurada no final de 1950, onde cria e dirige o Instituto de Arte Contemporânea. Entre os programas de formação em várias áreas, o IAC promove o primeiro curso de Desenho Industrial moderno do país.

No ano seguinte, inicia o projeto de sua própria residência no Morumbi, conhecida como Casa de Vidro. A integração dos móveis com a arquitetura da casa é nova para o contexto brasileiro, pois trata-se de peças passíveis de serem industrializadas. Móveis com desenho simples de tubo dobrado, pintados da mesma cor que os pilares de aço, povoam o plano do piso elevado do salão envidraçado em meio ao jardim tropical. A cor azul celeste do piso de pastilhas de vidrotil dá leveza e complementa a transparência, mas exige um desenho do mobiliário capaz de soltar no espaço os planos e volumes do assento e do encosto.

Entre as cadeiras da Casa de Vidro, a cadeira com bola de latão é a mais enigmática. A estrutura de tubo dos pés frontais se eleva, sendo acabada com a esfera dourada no topo, sem se dobrar para encontrar o encosto. É a disposição dos membros de quem senta que complementa os braços. Surge aqui a pose de um sentar ereto, majestático, de forte caráter cenográfico.

Várias das tentativas de produzir séries industriais foram frustradas por dificuldades em combater o plágio ou de manter regularidade de demanda. Também não teve continuidade o curso de Desenho Industrial do Masp, encerrando suas atividades em 1953. Mais do que uma coincidência, ambos insucessos revelam características estruturais do processo de industrialização brasileira naquele momento.

Cadeira com Bola de Latão Casa de Vidro Divulgação © Instituto Lina Bo e P.M. Bardi / Foto: Peter Scheier Divulgação © Instituto Lina Bo e P.M. Bardi / Foto: Peter Scheier Divulgação © Instituto Lina Bo e P.M. Bardi

Lina transformou-se muito nos anos seguintes, aproximando-se progressivamente do pensamento intelectual brasileiro e da compreensão da situação de subdesenvolvimento do Brasil. O longo período que passou em Salvador, entre 1960 e 1964, permitiu a elaboração de uma nova concepção de design ao mesmo tempo moderno e popular, baseada nas suas pesquisas etnográficas no interior da região. Concepção que foi aprofundada nos anos seguintes, em escritos e nos poucos trabalhos que realizou, em especial os de cenografia.

Contudo, apenas na década de 1970 encontrou a oportunidade de aplicar suas concepções em projetos construídos, entre os quais se destaca o SESC Pompéia.

Junto com seu marido, decidiu fundar um instituto com objetivo de incentivar a cultura brasileira, o Instituto Lina Bo e P. M Bardi. Fundado em 1990, o instituto acabou por assumir a responsabilidade de preservação e difusão do legado do casal após a morte de Lina em 1992 e de Pietro em 1999. Recentemente sua obra vem recebendo grande atenção, com exposições e publicações em todo o mundo. A reedição de seus móveis permite que novas gerações tenham contato com sua produção como designer, além de gerar fundos para a manutenção do próprio Instituto.

Renato Anelli é doutor pela FAU-USP, tendo realizado pesquisas no Instituto Universitário de Arquitetura de Veneza. Atualmente, é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em São Carlos, diretor do Instituto Lina Bo e P. M. Bardi e coordenador da Área de Arquitetura e Urbanismo da FAPESP. É autor do livro Architettura Contemporanea: Brasile, Ed. Motta, e da publicação Rino Levi: Arquitetura e Cidade Ed. Romero Guerra.

Foi Secretário Municipal de Obras, Transportes e Serviços Públicos de São Carlos [2001-2004] e Presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Carlos [2011-2013].

Sobre o Instituto

O Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, no início Instituto Quadrante, foi criado em 1990 com objetivo de promover o estudo e a pesquisa em especial nas áreas de arquitetura, design, urbanismo e arte popular brasileira.

Lina Bo e seu marido Pietro Maria Bardi foram responsáveis por intervenções significativas no cenário cultural brasileiro. Pietro estruturou o MASP e investiu na profissionalização da área no país. A arquiteta Lina atuou em diferentes áreas: design, educação, cinema, moda, meio ambiente e artes cênicas.

A Casa de Vidro, primeira obra construída da arquiteta italiana naturalizada brasileira Lina Bo Bardi, tornou-se um ícone da arquitetura moderna e representa de forma atemporal o pensamento inovador e o modo de vida do casal: simples, engajado, recheado de diversidade, possibilidades e beleza. A Casa de Vidro, concluída em 1951 e tombada pelo CONDEPHAAT como patrimônio histórico em 1987, abriga, hoje, a sede do instituto e o acervo do casal Bardi.

- Jardim América - São Paulo - SP - 55 11 3064 1266 SÃO PAULO BELO HORIZONTE BRASÍLIA RIO DE JANEIRO NEW YORK LOS ANGELES MIAMI TORONTO LONDRES www.etelinteriores.com.br
Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1834
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.