Catálogo exposição Diálogo Bardi Bill

Page 1

A Casa Zalszupin é uma casa que conta histórias. Não apenas do arquiteto e designer Jorge Zalszupin, projetista e morador da residência construída em 1962, mas também de um tempo específico na cidade de São Paulo. Hoje é metamorfoseada em espaço cultural pela manutenção das nossas memórias. Um palco modernista para diálogos entre arquitetura, design e arte.

Idealizada por Lissa Carmona, administrada pela ETEL e pela Almeida & Dale galeria de arte, a Casa Zalszupin tem o prazer de sediar a mostra Diálogo Bardi Bill com curadoria do arquiteto e escritor Francesco Perrotta-Bosch, e o apoio do Instituto Bardi. Diálogos racionalistas contrapõem-se a emotividade e organicidade da casa. Tais relações permitem uma compreensão mais rica, ampla e dinâmica de uma era. Por isso, permita-se navegar pelas diferentes narrativas, às vezes congruentes, às vezes contraditórias, de um tempo que passou.

Boa jornada e bem-vindo(a) a Casa Zalszupin. Se quiser saber mais sobre a vida, a casa e outros projetos de Jorge Zalszupin, obras e documentos expostos nesta exposição, acesse:

Max Bill pertence àquela categoria de artistas contemporâneos (especialmente, arquitetos) cujo insofrimento para as soluções fáceis, do não controlado, do não exato, é absoluto. A matemática está na base de toda sua concepção. Não a matemática imaginada pelos leigos (isto é, “fria”), mas a matemática como pode ser hoje considerada em toda a resplandecência de sua poesia integral.

Admirando as pinturas e as esculturas, as arquiteturas e as composições gráficas de Max Bill, um amigo inteligente, dedicado aos problemas da arte moderna, observava suas pinturas “conferirem” nas provas, como as operações simples que sempre “concluem” de qualquer lado. Observando-as, confrontava-as às composições musicais dos mestres primitivos.

Entretanto, há outro aspecto nas obras de Max Bill naquelas suas telas que parecem “caçoar” dos sisudos, naquelas suas arquiteturas extremamente controladas e propositalmente não originais, não tortuosas, não vistosas, mas que maravilham o observador cuidadoso, pela seriedade continua e absoluta das soluções. Em todas essas obras, há uma intransigência moral, um martelar pertinaz e continuado acerca da importância do não compromisso, uma tamanha acusação à leviandade que o observador acaba percebendo sua mensagem. O que pareciam, à primeira vista, jogos abstratos de formas, assume ago-

ra um aspecto definido e concreto, torna-se profecia de um tempo novo, capaz de se manifestar naquela intransigência, naquela consciência matemática, naquele anseio determinante do não deslizar.

São estes os valores concretos da arte de Max Bill. É natural que sua arte desagrade à geração conciliante, fácil, que não quer encarar problemas. É natural que a sua arte desagrade também aos autores da velha cultura, para os quais ela representa uma acusação.

Max Bill é representante de uma geração que quer explicar os fatos: de uma geração que assistiu à catástrofe da guerra e à falência da cultura tradicional. Como pesquisador cuidadoso e solitário de novas possibilidades, Max Bill não as procura em “evasões” abstratas, mas sim colocando concretamente os problemas. Parece-nos ouvir a esta altura a voz de uma senhora, que diligentemente frequenta as exposições, perguntando:

— Mas, meu Deus, como é possível chamar de pintura aqueles tracinhos vermelhos sobre um fundo completamente branco? Onde estão os famosos problemas da arte?

Os problemas da arte não existem, pois os problemas da arte como fins em si transcendem, passam para o campo dos problemas universais e humanos. É mister não esquecer: Max Bill é antes de mais nada um arquiteto.

LINABOBARDI,ABRILDE1951

ODIÁLOGOBARDIBILL ocorre de duas maneiras. Uma é comprovada documentalmente: Max Bill não teria iniciado o contato com o Brasil caso Pietro Maria Bardi não o tivesse convidado para uma exposição no Masp da rua Sete de Abril. Este convite chegou por carta datada em 30 de junho de 1949. Dezenas de outras correspondências se seguiram até a abertura da mostra em 1 de março de 1951. Foi a primeira grande exposição individual do suíço. Como dezenas de pinturas, esculturas e cartazes de Bill aqui se encontravam, a primeira edição da Bienal de São Paulo reapresentou ao público a Unidade Tripartida e a laureou com o Grande Prêmio de escultura. Segue a troca de mensagens com o professor Bardi e, em 1953, Max Bill vem ao Brasil para fazer suas notórias e polêmicas conferências. É devido a essa sequência de fatos que neste país floresceu o concretismo de Waldemar Cordeiro e Luiz Sacilotto com o grupo Ruptura, de Ivan Serpa e Abraham Palatnik com o grupo Frente.

Entretanto, o diálogo Bardi Bill desenvolveu-se também numa outra dimensão intelectual: sem palavras, somente formas. Nesta, Lina Bo Bardi explicitou seu encanto pelo suíço cuja arte e arquitetura fundamentou-se na matemática “em toda a resplandecência de sua poesia integral”. Uma linha pôde ser matriz de esculturas de Max e estrutura das cadeiras de Lina. Nos trabalhos do primeiro, planos em torção intercalam o dentro e o fora; no mobiliário da arquiteta, superfícies igualmente complexas funcionam como moles moldes ao corpo. Semiesferas aqui tocam o piso encontrando um delicado equilíbrio, sejam elas esculpidas em granito ou madeira, sejam assentos de couro. Não se trata tão somente de geometria descritiva: cada um ao seu modo, Lina Bo Bardi e Max Bill desenharam formas para, com rigor, materializar sua postura ética. Naquela virada dos anos 40 e 50, Bardi e Bill tratavam o raciocínio humanista e o desenho técnico como complementares.

FRANCESCOPERROTTA-BOSCH[CURADOR]

Cadeira de Beira de Estrada, 1967

Autor desconhecido [Arquivo Instituto Bardi]

Konstruktion aus drei Gleichen prismen, 1975 Max Bill [Coleção Particular, São Paulo]

Realização CASA ZALSZUPIN, ALMEIDA & DALE GALERIA DE ARTE, ETEL DESIGN | Apoio INSTITUTO LINA BO E P. M. BARDI | Curadoria Francesco Perrotta-Bosch Expografia Marilia Franco Desenho de iluminação Charly Ho Design Lia Assumpção Pesquisadora Luisa Zucchi Tradução Carla Montealperto Cal Fotos Fernando Laszlo (cadeira MASP) Sergio Guerini (escultura Max Bill) Agradecimento Pascal Christian Duclos | CASA ZALSZUPIN Administração e mediação Elisa Arruda Acervo Nathalia Reys Equipe Arlivan Simões de Sousa, Pedro Rosário R. da Silva | ETEL DESIGN Sócias-proprietárias Etel Carmona, Lissa Carmona e Camilla Carmona Diretora Maria Eugênia Clemente Comercial Alessandra Torres, Cristiani Guessi, Luciana Colesanti, Sheila Furtado e Sofia Villela Borges Equipe de montagem Gabriel Costa, Nascimento Cavalcanti, Jandir Santos, Josemir José dos Santos e José Augusto Martins de Souza | ALMEIDA & DALE GALERIA DE ARTE Sócios-proprietários Antonio Almeida e Carlos Dale Jr. Diretora Erica Schmatz Acervo Carolina Tatani, Carollinne Akemy Miyashita, Sophia Maria Quirino Sawaya Donadelli, Malu Villas Bôas e Morgana Viana Equipe Alan Catharino, Alexandre Pedro, Ana Maria Torres da Silva, Antonio Gustavo Dias Castro, Anna Luisa Veliago Costa, Cristiane Ribeiro, Danilo Campos, Eduardo da Silva Lima, Eli Carlos da Silva, Georgete Maalouli Nakka, Guilherme Carvalho Gonzales, Karoline Freire, Leonardo Panucci, Luciana Vukelic, Luzianete Ribeiro Silva, Maria Cecília Silva Lima, Mariana Rollo, Paul Jenkins, Tatiana Kallas, Verônica Souza, Verônica Tomaz da Silva, Victor Lucas e Vitor Werkhaizer INSTITUTO LINA BO E P. M. BARDI Presidente Giuseppe d’Anna Vice-presidente Alberto Mayer Conselheiros Anna Carboncini, Bruno Simões, Eugenia Gorini Esmeraldo, Lucien Belmonte, Maria Cattaneo, Nelson Aguilar, Renato Anelli, Sandra Papaiz, Geraldo Alonso Filho, Matteo Arcari e Renzo Regini Diretor executivo Lorenzo Gemma Equipe Ana Carolina Buim, Heloisa Ribeiro, Victor de La Rocque, Daniel Manoel, João Bittar Fiammenghi, Vitor Lima, José Ribamar dos Anjos Santos, Célia Arroio da Silva e Danilo Paixão de Sousa A fonte utilizada na identidade

de exposição de 1949. Todas as formas, com exceção da letra ‘o’, foram construídas usando apenas linhas retas e triângulos, em uma base puramente matemática que continuou a influência de seu treinamento anterior na Bauhaus e o princípio do alfabeto universal. [texto extraído de www.thefoundrytypes]

visual da exposição foi desenvolvida a partir das poucas formas de letras criadas por Max Bill para um pôster Vistas da exposição Max Bill, no Masp, 1951 | Peter Scheier [Acervo do Centro de Pesquisa do MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand] Lina Bo e P. M. Bardi recepcionando o casal Binia e Max Bill na biblioteca do Masp, junho de 1953 | Autor desconhecido [Acervo do Centro de Pesquisa do MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand] Cadeira auditório MASP, 1948 Reedição ETEL 2015 Cadeira auditório MASP, 1948 fotógrafo desconhecido
FRANCESCOPERROTTA-BOSCH [CURADOR] 17.10>10.12.2022 CASA ZALSZUPIN DIÁLOGO APOIO REALIZAÇÃO www.casazalszupin.com portal.institutobardi.org
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.