Revista Agro DBO - Ed 39 - Novembro/2012

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Sumário

22 Café

Indicativo de safra, as floradas vieram bonitas, mas a cor esbranquiçada fez muita gente cruzar os dedos no cafezal.

25 Pulverização

Afinal, pode-se pulverizar cafeeiros durante a fase de florescimento? Os pesquisadores J. B. Matiello e S. R. Almeida afirmam que sim.

32 Entrevista

O presidente da Única, Antônio de Padua Rodrgues, discute erros e acertos da indústria canavieira e fala do futuro do setor sucroalcooleiro.

36 Tecnologia

A receita do norte-americano Kip Cullers, recordista mundial em produtividade em soja (173 sacas/ha) e milho (390 sacas).

26 40 Milho

A evolução das doenças está intimamente relacionada às mudanças nos sistemas de produção. A cada safra surgem novos problemas na lavoura.

Matéria de capa 46 Soja Cada vez mais, a produtividade na lavoura depende do uso intensivo de insumos de alto rendimento, manejo adequado e máquinas e implementos agrícolas dotados com equipamentos de última geração em agricultura de precisão.

O plantio cruzado ainda não é a solução para incrementar a produtividade. O caminho pode estar no adensamento.

Artigos

55 – Rogério Arioli comenta a lei que regulamenta o trabalho dos motoristas 56 – Daniel Glat avalia três fatores que influenciarão os preços da soja em 2013 66 – Fábio Lamonica discute as APPs sob a ótica do novo Código Florestal

Seções Do leitor............................................................. 6 Ponto de vista.................................................. 8 Política...............................................................10 Notícias da terra............................................14 Marketing da terra........................................44

Deu na imprensa..........................................52 Análise de mercado.....................................58 Novidade no campo....................................60 Biblioteca da terra.........................................62 Agenda.............................................................64 novembro 2012 – Agro DBO | 3


A

Carta ao leitor

Agro DBO de novembro traz mais uma edição focada na análise do que acontece na agricultura brasileira e internacional, onde se destacam o registro de tecnologias e inovações que já estavam no mercado, mas não decolavam por problemas diversos, e este é o caso da Agricultura de Precisão, tema de capa da edição, onde fazemos uma radiografia das razões do seu atual sucesso de compras entre os agricultores. A atual edição contempla ainda a florada extemporânea do café, em um instigante texto recheado de comentários da lavra do membro de nosso Conselho Editorial, o agrônomo e cafeicultor Hélio Casale, com recomendações agronômicas sobre como ter e manter o cafezal bem nutrido. Fazemos, através das páginas da Agro DBO, uma “visita” aos redutos do agricultor americano Kip Cullers, lá no Missouri, ele que é campeão mundial de produtividade em milho e soja, e explicamos as suas fórmulas mágicas do bem produzir, aspectos que estão ilustrados por fotos de tirar o fôlego de qualquer produtor brasileiro de soja e milho. Trazemos um interessante debate sobre o polêmico plantio da soja cruzada, em reportagem da jornalista Marianna Peres, que entrevistou produtores rurais e pesquisadores em várias regiões do Brasil. Há gente contra e a favor, e há gente que ganhou concurso de produtividade usando essa técnica de plantio. Nossos colunistas aprofundam a análise daquilo que acontece na agricultura brasileira e tratam de temas relevantes para o agricultor, mantendo uma diversificada abordagem. As demais seções fixas da Agro DBO retratam notícias e análises de questões pontuais do interesse dos agricultores e dos nossos leitores, pois são nítidas fotografias digitais do conturbado momento por que passa a humanidade, eis que ainda temos elevado crescimento demográfico no planeta, o que causa um aumento do consumo de alimentos, mas temos a perspectiva extravagante de nos depararmos, no futuro breve, com a existência de édens e paraísos ambientais exemplarmente preservados por leis alieníginas, e de não termos áreas para plantar mais alimentos. O tempo confirmará isso, caro leitor. Seria o caso de dizer, “queira Deus que estejamos totalmente equivocados”. Aos que desejarem manifestar suas opiniões sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra, Luiz Fernando Coelho de Souza e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Dagma Dionísia Silva, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamônica, Hélio Casale, J.B. Matiello, Luciano Viana Cota, Marianna Peres, Paulo Miguel Nedel, Rodrigo Veras da Costa, Rogério Arioli da Silva e S.R. Almeida

Richard Jakubaszko

Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Sergio Escudeiro Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Gerente: José Geraldo S. Caetano Vendas: Andrea Canal, Heliete Zanirato, Marlene Orlovas, Naira Barelli, Sérgio Castro e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: Foto Shutterstock DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor contribuir para minimizar a erosão acelerada dos solos brasileiros. Maurício Carvalho de Oliveira Engenheiro Agrônomo - Fiscal Federal Agropecuário - Chefe da Divisão de Agricultura Conservacionista do Ministério da Agricultura Brasília Maranhão Parabéns! Revista com boa apresentação, conteúdo e qualidade. Luiz Carlos Schwingel Balsas

Distrito Federal A revista Agro DBO de outubro/2012 dá mais um show de qualidade. Apresenta uma diversidade de temas relevantes para o agronegócio, como é o caso dos silos-bag, que mostra grande versatilidade e supre a nossa crônica falta de armazéns na propriedade. A irrigação, outro tema que nos leva a uma reflexão: por que um país com tanta disponibilidade de água doce sofre tamanha letargia no que tange ao crescimento da agricultura irrigada? São cultivos seguros, é a produtividade melhorada, são áreas marginais que podem ser preservadas – creio que sabemos os motivos, mas nos falta movimentação política e planejamento estratégico para o setor. Por fim, mas não menos importante, são as palavras do Dr. Fernando Penteado Cardoso sobre a responsabilidade pelo manejo e conservação dos solos brasileiros. A erosão em áreas agrícolas, mesmo com o plantio direto, continua acontecendo de forma acelerada, desgastando o patrimônio maior do agricultor, o solo, e impactando negativamente o ambiente, recursos hídricos incluso, com prejuízos econômicos à toda sociedade. Não podemos ficar alheio ao processo erosivo. É preciso rever conceitos e trabalhar a terra com inteligência, de forma planejada. Aplicar a ciência, as pesquisas disponíveis para fazer frente ao danoso desgaste dos solos brasileiros. E, principalmente, incentivar o agricultor a experimentar novos arranjos e sistemas produtivos em suas propriedades. Dos agricultores saem alternativas engenhosas que podem

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Minas Gerais A Agro DBO é a melhor publicação dirigida ao meio rural que temos em nosso país. Nilson Ferreira da Cunha Uberaba Parabéns, Agro DBO. A revista está excelente. Matérias e conteúdos de qualidade e com ótimos argumentos. Há 4 anos sou leitor. Espero que a revista também coloque em discussão não só o cultivo, mas também a agregação de valor aos produtos agrícolas, seja como forma de processamento ou organização sócio politica e econômica do setor agrícola. Fábio Gonçalves Villela Viçosa NR: Fábio, como você deve ter percebido, temos abordado questões sobre a agregação de valor desde a edição nº 1 da revista, e também sobre a necessidade de se solucionar conflitos associativos dos agricultores, profissionais com notório desinteresse nos aspectos políticos que impulsionam entidades associativas. Vamos continuar cobrindo o tema. A reportagem sobre o milho (capa da edição de agosto) ressalta a importância do Brasil no cenário mundial. Yes, nós temos tecnologia! Emidio Batista de Morais Janaúba Paraná Gosto de ler a coluna do Fábio Lamônica (Legislação). Gostei de ler a do Décio Gazzoni sobre gases de efeito-estufa. Gosto também da coluna do Richard Jakubaszko. Enfim, leio a revista toda. Ela nos traz muita coisa boa. Devanir Fernandes Assis Chateaubriand

Excelentes matérias a cada edição. Edson da Silva Boa Esperança Considero a revista Agro DBO a mais completa que existe. Wilhem Marques Dib Senges A revista publica artigos muito bons, técnicos e, ao mesmo tempo, bastante acessíveis e bem dirigidos. Carlos Eduardo de Almeida Santos Palmeira Rio Grande do Sul É uma revista muito boa, pois apresenta várias opiniões sobre os assuntos, apresenta máquinas, técnicas atualizadas e variedade de assuntos. Márcio André Zemolin Doutor Maurício Cardoso Muito boa a Agro DBO, com informações essenciais para a atualização dos produtores rurais. Douglas Marangon Trindade do Sul É de grande utilidade para o homem do campo e suas atividades, tanto no planejamento quanto no manejo. Rômulo Reuwssat Não-Me-Toque Revista de suma importância para profissionais da área, bem como pequenos e grandes produtores da nossa agricultura. João Paulo Pígatto Ivorá É uma publicação bem específica em sua proposta, abordando assuntos importantes e oportunos. Excelente qualidade informativa e gráfica. Como sugestão, aponto reportagens que incluam ações práticas comparativas, técnicas, pesquisas e tendências no Brasil e no exterior. Agropecuária Capão Alto Panambi Tudo bem, amigos da Agro DBO? Sou leitor assíduo da revista, muito boa, por sinal. Parabéns! Queria ver se é possível conseguir alguns exemplares da número edição nº 27, ano 7 (na época, DBO Agrotecnologia) sobre bior­reguladores. Paulo Miguel Nedel Giruá


São Paulo A revista está bastante interessante e dinâmica. Sugiro matérias sobre a crise na citricultura paulista, a produção de café na Serra da Mantiqueira e os programas de pagamento por serviços ambientais prestados. Diego de Toledo Lima da Silva Limeira NR: Obrigado pelos elogios e pelas sugestões, Diego. Muito boa, a revista. Leio todas e gosto muito, pois é uma publicação cujo conteúdo condiz muito com a realidade dos fatos. Sempre comento com meu filho, que é engenheiro agrônomo. Vocês estão de parabéns. José Geraldo Lotti Adamantina Achei a edição de setembro do Agro DBO realmente excelente, pois traz alegrias, tristezas, esperanças, soluções utópicas e realistas para nossa agricultura. Um ponto que me preocupa é que, com a falta de tempo, o pessoal está abandonando todas as boas praticas conservacionistas e de manejo ambiental, divulgadas insistentemente também pela Agro DBO, de conservação de solo, água e árvores, de produção de palhada, de rotação de culturas, de manejo integrado de pragas, para praticar o monocultivo, que lentamente encarece as produções, inviabilizando-as, pois os insumos deixam de fazer efeito. O que se vê são solos encrostados, compactados, erodidos, sem arejamento, em que as patogenias, pragas e nematoides explodem. E o que me surpreende é que o melhoramento promete milagres (sem necessidade de manejo ambiental adequado). Falta planejamento e melhoria de processos (vê-se piora nos processos – na reportagem da grande safra de Peres), como sugerido por Guerra & Santana, e o uso de boas práticas como a rotação (veja arroz-soja, do Menegheti)), ou como os tomates sem resíduos, ou como a integração lavoura-pecuária no arenito Caiuá (de Yassu). Miranda mostra dados do IBGE em que as médias (R$408/ha) e grandes (R$318/ha) propriedades geram um valor total de produção muito baixo,

comparado com a pequena propriedade (R$1.084/ha), o que mostra que já estamos com ganho pequeno por área. Apesar de toda a atividade de divulgação de boas práticas de manejo por publicações como a Agro DBO, essenciaos para a extensão rural, essas atitudes dos produtores preocupam. Lembro-me que o professor Guerra, da Universidade Federal de Pelotas, já nos anos 70 alertava para a intensa atividade de lavagem cerebral dos produtores pelas companhias vendedoras de insumos, e que praticamente inutilizava o trabalho da extensão rural oficial. Solução? As empresas de insumos incluírem em seu pacote de divulgação e desenvolvimento de produtos um tempo igual para divulgar boas práticas de manejo e conservação de solo-água e árvores, para que os insumos possam funcionar a contento. Fazíamos isso pela Basf, com excelentes resultados, e me lembro que o colega Scaléa fazia um excelente trabalho na área pela Monsanto. As empresas de insumos precisam acordar para esse fato, de que o solo encrostado, compactado, reduz drasticamente o efeito dos insumos (adubos, irrigação, defensivos), pois as raízes são prejudicadas. As raízes são os intestinos e pulmões das plantas. Em solo compactado, a irrigação pode piorar a condição da cultura por falta de ar (oxigênio). E não adianta a pesquisa prometer 90 scs de soja/ ha com melhoramento genético e biotecnologia. Soja não desenvolve sobre pedra seca e quente. Temos que colocar as mãos na cabeça e refletir seriamente sobre essa atitude de se eliminar boas práticas agrícolas, por falta de tempo. E as empresas de insumos estão convidadas a colaborar, não somente financiando eventos científicos, mas incluindo em suas palestras de campo aspectos básicos de manejo ambiental, que lamentavelmente até mesmo escolas de agronomia estão começando a relegar ao segundo plano. Odo Primavesi São Paulo

A Agro DBO é ótima. Sempre com assuntos atuais e relevantes sobre o agronegócio. Vocês estão de parabéns, principalmente por defenderem nosso setor e mostrarem questões para reflexão e aprimoramento. Taís Thesolin Passoni Divinolândia

Revista objetiva, de excelente conteúdo. Valentim Ocimar Gavioli Taquaritinga

AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

Mais uma vez recebo a revista e vejo que a mudança (NR: o leitor se refere ao design da Agro DBO, comparativamente ao da DBO Agrotecnologia) veio para ficar e fazê-la crescer no meio rural. Parabéns a todos. Acompanho as revistas do setor desde 1993 e vejo uma grande evolução na agricultura, na pecuaria e, hoje, no agronegócio. O Brasil mostrado nas revistas agrícolas há muito deixou de engatinhar. É um exemplo para o mundo. Quanto à Agro DBO, vejo em seus quadros profissionais capacitados e vividos do meio rural. As matérias publicadas pela revista mostram que estou vendo os ‘’homens do campo” de forma correta. Não são burocratas, mas profissionais discutindo de forma clara como produzir mais e melhor, atentos à rentabilidade que os prende ao campo, não pela falta de condições de mudar para atividade melhor e, sim, pelo instinto e dom de serem produtores de alimentos. Cassio Bueno, Conquista Pro Agropecuária e Agronegócios São Paulo A revista é atraente, com assuntos de interesse. Gostaria de deixar uma sugestão: que ela trouxesse cotações da soja, arroz e gado. Assim, teríamos um panorama de quanto regrediram ou progrediram os preços. Antônio Marcos Mancastroppi Tremembé NR: Obrigado pelos elogios, Sr. Antônio. E pelas sugestões. A seção “Análise de mercado” atende, em parte, seu pedido. Talvez possa ser mais específica – vamos pensar a respeito. Só não podemos atendê-lo quanto ao pedido para publicar cotações de boi porque nosso universo é agricultura. Gado é assunto da revista DBO.

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Ponto de vista

A produtividade necessária Cenário internacional impõe aos produtores rurais uma agenda de sustentabilidade ambiental, social e econômica, com ênfase na tecnologia. Decio Luiz Gazzoni *

N

essa safra, se depender do agricultor, e São Pedro colaborar, o Brasil será o líder mundial de produção de soja, respondendo por um terço da oferta de grãos e derivados, no comércio internacional. Este salto extemporâneo, motivado pela forte seca que reduziu a produção de grãos nos EUA, pode, eventualmente, ser transitório. Porém, no médio prazo, resulta inexorável que o Brasil seja o protagonista da produção, processamento e comércio internacional de soja. Então, que seja sustentável, posto que inevitável! A liderança brasileira impõe decisões para atrelar a produção brasileira de soja – e, por osmose, o restante do agronegócio – a uma agenda de sustentabilidade ambiental, social e econômica, que consolide a liderança setorial, expandindo-a para outros setores, inclusive além do agronegócio. Holofotes e lupas do mundo estarão assestados sobre nós, para ribombar qualquer deslize, como parte do complexo jogo de xadrez que é a geopolítica e o comércio internacional. Uma forma inteligente de melhorar nossa competitividade é expan-

Tabela 2 Lucro a maior (em R$) obtido nas áreas vencedoras do Desafio Cesb, comparadas com o restante da área da mesma propriedade. Região

Lucro na área total

Lucro na Área Cesb

Diferença

Norte – Nordeste

2.852,15

4.286,40

1.434,25

Sul

2.007,83

3.216,98

1.209,15

Sudeste

2.818,00

3.084,00

266,00

Centro Oeste

2.051,50

2292,31

240,81

dir, em bases sustentáveis, a produtividade. O seu incremento reduzirá os impactos ambientais adversos e ampliará a margem de lucro do agricultor. Com esta visão de futuro, à época de sua criação, o Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil (www.cesbrasil.org.br) antecipava a expressiva demanda mundial de soja, as dificuldades para seu atendimento, e a necessidade de fazê-lo em bases sustentáveis. Sua principal linha de atuação tem sido mostrar que é possível duplicar a produtividade de soja, com as tecnologias atualmente disponíveis, evitando a expansão da fronteira agrícola e aumentando o lucro do agricultor. A tabela 1 (abaixo) mostra os resultados obtidos pelos vencedores do Desafio de Máxima Produtividade de Soja em cada uma das regiões brasileiras, nas safras

Tabela 1 Vencedores do Desafio Soja de Máxima Produtividade Região

% Acima da média brasileira

2010/11 3.315

2009/10 -

2010/11

N/NE

5.048

6.037

72

60

CO

5.188

5.304

76

79

SE

5.288

5.938

80

82

S

6.501

6.027

121

82

Média

5.506

5.826

87

76

Brasil - Conab * O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja

Produtividade kg/ha 2009/10 2.941

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2009/10 e 2010/11, e quanto cada vencedor produziu acima da média brasileira Na safra 2011/12, devido à seca que afetou o Sul e parte do CentroOeste, a produtividade brasileira reduziu 15% entre 2011 e 2012 – de 3.115 para 2.655 kg/ha. Assim mesmo, nessa safra foi estabelecido um novo recorde de produtividade de soja para o Brasil, de 6.522 kg/ha. Porém, o fato mais importante foi que a média dos 10 melhores produtores inscritos no desafio superou em 117% a média brasileira. Ou seja, nos anos de clima adverso, o uso de tecnologia adequada demonstrou ser a chave para o sucesso do agricultor. Finalmente, e muito importante, a tabela 2 (acima) mostra que, incrementando a produtividade, o agricultor aumenta a sua margem de lucro, independente da região. Em 2012, o recordista brasileiro de produtividade de soja lucrou R$1.434,25 a mais por hectare, quando comparado o resultado da área de alta produtividade com o restante de sua lavoura. Essa é a trilha que a sojicultura deve seguir: sustentabilidade na produção, com produtividade crescente, respeito ao ambiente e maior margem para o agricultor.



Política

Agricultores x Monsanto

N

ota da Famato, sindicatos rurais do estado de Mato Grosso e da Aprosoja: “Tribunal de Justiça de MT nega pela segunda vez recurso da Monsanto contra liminar que suspendeu cobrança de royalties. Os desembargadores não conheceram do Agravo Regimental interposto pela empresa contra a liminar e cobrança de royalties para a soja RR continua suspensa. O Tribunal de Justiça de Mato Grosso negou o Agravo Regimental interposto pela empresa Monsanto contra a liminar concedida pelo tribunal a favor da ação coletiva proposta pela Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e sindicatos rurais do estado. A liminar suspendeu a cobrança por parte da empresa dos royalties pelas tecnologias Bollgard I (BT)

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e Roundup Ready (RR). Esta é a segunda derrota da empresa, que além do Agravo Regimental também havia interposto um pedido de reconsideração da decisão, ambos negados. O recurso foi julgado pelo atual relator do processo, desembargador José Zuquim Nogueira, que compõe a 4ª Câmara Civil do Tribunal. Também votaram unanimemente pelo não conhecimento do recurso os desembargadores Luiz Carlos da Costa e Maria Aparecida Ribeiro. Desta forma, como explica o advogado e vice-presidente da Aprosoja, Ricardo Tomczyk, que coordena pelas entidades a equipe jurídica que vem conduzindo a ação, a liminar continua valendo e a cobrança dos royalties para estas duas tecnologias nesta safra está suspensa. “No enten-

dimento dos desembargadores o pleito da Monsanto não era cabível e a liminar continua plenamente válida”. Integram a equipe jurídica os escritórios Guilherme Advogados Associados, de Cuiabá, e Reis e Souza Advogados, de São Paulo. Entenda o caso – Em meados de setembro, a Famato, em conjunto com 64 sindicatos rurais de Mato Grosso protocolou uma ação coletiva solicitando a suspensão da cobrança de quaisquer valores a título de royalties e/ou indenizações pelas tecnologias Bollgard I (BT) e RR da empresa Monsanto. A ação foi baseada em um estudo técnico e jurídico, contratado pela Famato e


Aprosoja, que confirmou que o direito de propriedade intelectual relativo às tecnologias venceu em 01 de setembro de 2010, tornando-as de domínio público. No início de outubro, o juiz convocado da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Elinaldo Veloso Gomes, concedeu liminar favorável suspendendo imediatamente a cobrança dos boletos. Segundo cálculos das entidades, só os produtores mato-grossenses economizarão cerca de R$ 150 milhões ao ano por não pagarem as taxas pelas tecnologias RR, para soja, e BT, para algodão.

O produtor Mauro Luiz, que cultiva 610 hectares no município de Santa Carmem, economizará 4% do custo de produção com o não pagamento dos royalties, cerca de R$ 16 mil por safra. “A suspensão é um custo operacional a menos para a fazenda e com este dinheiro poderemos investir em outras coisas, como na frota de maquinários”, disse. O vice-presidente da Aprosoja e um dos advogados da ação, Ricardo Tomczyk, ressaltou que os produtores rurais de Mato Grosso não são contrários à biotecnologia e nem ao pagamen-

to dos royalties. “Acreditamos na biotecnologia como ponto fundamental para o incremento da produção agrícola do estado, mas queremos que o pagamento por ela seja justo, dentro do que determina a legislação brasileira de patentes”, afirmou. Cálculos feitos pela Famato apontam que nestes dois anos de patente vencida, a Monsanto cobrou R$ 300 milhões ilegalmente dos produtores de Mato Grosso. A ação coletiva solicita ainda a devolução em dobro dos valores pagos indevidamente desde o vencimento das patentes.

Aprosoja ou Mapa? Glauber Silveira, presidente da Aprosoja/BR, também conhecido como Maguila, não vai mais para a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, decisão tomada em outubro último.

Depois de muito refletir, o empresário declinou do convite para assumir tal cargo. Ele informa que na Aprosoja/BR vai continuar defendendo o setor produtivo rural. Entusiasmo não lhe falta.

Durante a posse do novo presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, em 15 de outubro último, o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, reiterou a importância em dar continuidade e expansão às pesquisas da empresa em nível internacional. “A futura Embrapa Internacional primeiro seguirá todos os trâmites necessários para a sua criação. Em seguida, a empresa auxiliará no desenvolvimento de projetos de cooperação internacional, com o devido reconhecimento”, destacou ele. Em discurso durante a posse, Mendes Ribeiro, comentou a escolha do nome. “Lopes tem 30 anos de empresa, é extremamente conceituado. Precisamos de alguém desse porte no cargo. A Embrapa tem quase 40 anos e precisa continuar trabalhando para o futuro do agronegócio brasi-

foto: Tadeu Santos

Toma posse o novo presidente da Embrapa

leiro, para a capacidade da nossa produção”, frisou. Na ocasião, Maurício disse que a Embrapa tem papel importante, o de dar suporte e conhecimento para a construção de políticas públicas para o fortalecimento do ministério, bem como produzir informação e conhecimento para a agricultura. “Pretendemos buscar uma aproximação muito forte com o Mapa para refor-

çar as nossas estratégias. A Empresa está em desenvolvimento e apresenta soluções para a agricultura o tempo todo”, disse. O novo presidente também comentou sobre a atuação internacional da empresa que deverá ser intensificada. “A cooperação técnica internacional é importante para desenvolver pesquisas voltadas ao aumento da produtividade no campo. O treinamento dos nossos profissionais em outros países permitiu que o Brasil mantivesse estreitas relações com pesquisadores no exterior”, lembrou. Lopes é mineiro de Bom Despacho, engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa desde 1989, já foi diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da empresa, seu cargo anterior, e antes disso atuou como pesquisador em genética e melhoramentos de plantas. novembro 2012 – Agro DBO | 11


Política Seguradoras farão seguro para maçã

O deputado federal Valdir Colatto (PMDB/SC), em conversa com o secretário executivo do Ministério da Agricultura, José Carlos Vaz, foi informado (em 24/10) que as seguradoras cumprirão o acordo para contratação do seguro agrícola do setor da maçã. Durante audiência entre o Mapa e as seguradoras foi fechado um acordo, destinando R$ 35 milhões do seguro agrícola, exclusivamente para a cultura de maçã.

Conforme Colatto, os seguros devem ser feitos nas próximas duas semanas. “O valor disponibilizado pelo Mapa atenderá as necessidades dos produtores da Serra Catarinense que hoje sofrem com as condições climáticas”, disse Colatto. O parlamentar já informou ao diretor da ABPM – Associação Brasileira dos Produtores de Maçã, Moisés Albuquerque, e ao presidente da

Amap - Associação dos Produtores de Maçã e Pera de Santa Catarina, Volnei Nunes, que comemoraram a decisão. Para este ano, foram disponibilizados R$ 274 milhões, e deste valor, R$ 174 milhões foram repassados às seguradoras. “Porém, até o momento o setor da maçã estava aguardando as contratações, já que as seguradoras escolheram outras culturas de menor risco para fazer o seguro. Com a decisão, R$ 35 milhões dos R$ 100 milhões que ainda faltam para pagamento serão exclusivos para maçã”, disse Colatto. Entenda como funciona a subvenção – O governo federal libera todo ano um valor para subsídio agrícola para todas as culturas. Deste valor, o produtor recebe 60% e investe 40%. Em caso de não liberação do subsídio pelo governo, o produtor que optar pelo seguro terá que pagar 100% do valor contratado.

Unica anuncia nova diretora-presidente A Única – União da Indústria de Cana-de-Açúcar anunciou em 2 de outubro último a contratação da economista Elizabeth Farina para o cargo de diretora-presidente da entidade. Ela substitui o engenheiro agrônomo Marcos Jank, que deixou o cargo em abril deste ano. Professora Titular do Departamento de Economia da FEA–Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, Farina é chefe do Departamento de Economia da USP desde 2011, e foi presidente do Cade 12 | Agro DBO – novembro 2012

– Conselho Administrativo de Defesa Econômica, ligado ao Ministério da Justiça, de 2004 a 2008. Foi também Coordenadora Adjunta do Pensa – Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, ligado à USP. Segundo o Presidente do Conselho Deliberativo da Unica, Pedro Parente, Farina traz para a função credenciais técnicas e experiência acumulada em posições relevantes no Governo Federal. “Ela reúne condições excepcionais para liderar a Unica e contribuir para a

superação dos enormes desafios que a indústria de açúcar, etanol e bioeletricidade enfrenta atualmente.” Elizabeth Farina assume suas novas funções na Unica a partir de 1º de dezembro, quando deixará suas atuais funções na USP.


Debate

Inovação é primordial “O Brasil pode assumir o papel de principal protagonista na busca de soluções para a necessidade de combater a fome no mundo”.

E

ntre os objetivos do Fórum Inovação está o de lembrar a importância crucial do alimento para a humanidade, disse Helder Muteia (foto), representante da FAO no Brasil, durante sua palestra na 4ª edição do Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos para um Futuro Sustentável, realizado pela FAO, Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, com apoio da Andef, Associação Nacional de Defesa Vegetal e da Abag, Associação Brasileira de Agronegócio. O fórum fez parte das atividades alusivas à Semana Mundial da Alimentação, iniciativa da FAO promovida mundialmente em mais de 160 países, e que aconteceu em 19 de outubro, na sede do Ital – Instituto de Tecnologia de Alimentos, em Campinas (SP). O fórum teve a presença de inúmeras lideranças do agronegócio, além de pesquisadores científicos. O ex-ministro Roberto Rodrigues, homenageado deste ano pelo Fórum Inovação, registrou em sua palestra, durante o evento, que “o Brasil tem todas as condições de assumir o papel de principal protagonista na busca de soluções para a necessidade de combater a fome no mundo”. Desafios para enfrentar a fome No Fórum Inovação, Muteia, afirmou que, devido à seca, a safra americana de milho deve ficar entre 10% e 12% menor que a do ano anterior, reduzindo os estoques globais e aumentando a volatilidade dos preços dos alimentos. Em decorrência deste quadro, a FAO pediu aos EUA que fosse dado um relaxamento no mandato da política de biocombustíveis dos americanos, para que 40%

da colheita americana fossem destinados à fabricação de etanol e 60% para consumo humano e animal. O presidente da Abag, Luiz Carlos Carvalho, destacou que as oportunidades estão claras para o Brasil e que a inovação é o ponto focal da discussão para garantir a segurança

Top Ciência Evento da BASF realizado em Campinas, SP, reuniu 400 especialistas em agricultura, na 7ª edição do Top Ciência. O objetivo é promover o engajamento da comunidade científica em relação à proteção de cultivos e selecionar os melhores trabalhos, desenvolvidos no último ano, que indicaram alternativas para o aumento da produtividade no campo. “Queremos trazer as melhores tecnologias aos nossos clientes. Para isso precisamos ampliar nossa oferta de soluções”, afirmou Maurício Russomanno, vice-presidente da BASF. Do Top Ciência participaram pesquisadores, cientistas, agricultores e consultores de diversos países da América Latina que se destacaram com trabalhos científicos inovadores em prol da agricul-

alimentar e energética. “Precisamos diminuir a insegurança através da obtenção de maiores índices de produtividade, que só serão alcançados com investimentos em inovação e tecnologia”, disse ele. Para Roberto Rodrigues, “o mun­do está pedindo ao Brasil para produzir mais alimentos e liderar este processo, mas vejo que o país está de costas para esta demanda”. “Já fizemos a lição de casa aumentando a produção através de tecnologia e produtividade, mas não estamos exercendo este papel em termos globais”, confirmou. De toda forma, diz Rodrigues, “há sinais de avanços. Sinto que algumas coisas estão melhorando”. tura na região. Em 2012 o prêmio já passou pela Argentina (julho), pelo México (agosto), pela Colômbia (setembro) e encerrou-se no Brasil no dia 4 de outubro. “O Top Ciência é uma das iniciativas mais importantes da BASF no que se refere ao fomento de pesquisas com aplicação prática”, afirma Eduardo Leduc, vice-Presidente Sênior da BASF para a América Latina. O evento está atrelado ao conceito da campanha “Um Planeta Faminto e a Agricultura Brasileira”, lançada pela BASF em 2010.

novembro 2012 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Safra I

Soja e milho em curva ascendente

A

safra nacional de grãos 2012/ 13 pode chegar a 182,27 milhões de toneladas, 10% acima do que foi colhido na safra anterior, conforme dados do primeiro levantamento de intenção de plantio da Conab. Com relação à área plantada, a projeção aponta algo entre 50,93 e 52,21 milhões de hectares, ante os 50,8 milhões da safra 2011/12. A soja deve ocupar de 26,42 e 27,33 milhões de hectares, contra 25,04 milhões cultivados no ciclo 2011/12. Quanto à produção, a oleaginosa pode alcançar de 80,1 a 82,8 milhões de tonela-

das, o que representa aumentos de 20,6% a 24,8%. Estrela da safra 2011/12 por conta das quebras na soja devido à seca e à expansão da safrinha, o milho vai ocupar de 14,6 milhões a 14,9 milhões de hectares em 2012/13, ante os 15,2 milhões da temporada passada. As estimativas apontam produção de 71,9

milhões a 73,2 milhões de toneladas, contra 72,6 milhões na safra 2011/12. Com o avanço da soja e do milho sobre outras lavouras, o arroz, o feijão e o algodão terão redução no cultivo, especialmente no caso do algodão, cuja área plantada deverá recuar de 20,2% a 27,4% em relação ao ciclo 2011/12 (1,4 milhão de hectares).

de toneladas; Nordeste, 12,7 milhões de toneladas e Norte, 4,5 milhões de toneladas. Comparativamente à safra passada, foram constatados incrementos

nas regiões norte (+ 3,6%0, sudeste (+12,0%) e centro-oeste (+26,0%) e decréscimos nas regiões sul (-16,7%) e nordeste (-13,0%) do Brasil.

Safra II

Números quase fechados

A

produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas em 2012 deve chegar a 163,7 milhões de toneladas, 2,2% superior à de 2011 (160,1 milhões de toneladas), segundo estimativas do nono LSPA – Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE, divulgado no mês passado. Considerando as cinco regiões em que se divide a federação, a produção seguirá a seguinte distribuição, em volume: Centro-Oeste, 70,7 milhões de toneladas; Sul, 56,5 milhões de toneladas; Sudeste, 19,3 milhões

Safra III

Valorização das lavouras O VBP – Valor Bruto da Produção das principais lavouras brasileiras em 2012 é de R$ 232,5 bilhões, com base em dados de setembro. Descontada a inflação, esse montante é 2% maior do que o registrado no mesmo mês, no ano passado. O cálculo foi feito a partir 14 | Agro DBO – novembro 2012

dos levantamentos de safra da Conab e do IBGE, divulgados em 9/10. Na opinião de José Garcia Marques, da Assessoria de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, a combinação de preços e produção gerou resultados favoráveis para o mi-

lho (+29,2), o algodão (+23,5%), o feijão (+16,6%), a soja (+16,4%), a cebola (+14%) e o trigo (+7,3%). Os produtos com redução na produção foram laranja (-45,4%), tomate (-45,4%), batata-inglesa (-32,8%), mandioca (-13,6%), uva (-12,2%) e arroz (-8,6%).


Notícias da Terra Alimentos

A fome no mundo

L

evantamento da ONU – Organização das Nações Unidades indica que, em cada oito pessoas sobre a face da Terra, uma está cronicamente desnutrida. Segundo as agências da ONU,e 868 milhões de pessoas passaram fome entre 2010 e 2012­– cerca de 12,5 por cento da população. “Isso é inaceitável, especialmente quando vivemos em um mundo de abundância”, disse o brasileiro José Graziano da Silva, diretor-geral da FAO – Organização de Alimentação e Agricultura da ONU. Em seu relatório sobre segurança alimentar, a organização critica o aumento da demanda por biocombustíveis (que tomam espaço de cultivos alimentícios), a especulação financeira nos mercados de alimentos e os gargalos na oferta e distribuição de alimentos, levando ao desperdício de quase um terço da produção. Nas últimas duas décadas, o número de famintos caiu em todos os continentes, exceto na África, onde a população de pessoas cronicamente desnutridas passou de 175 milhões no ciclo 1990-92 para 239 milhões em 2010-12. Os agricultores, nos quatro cantos do planeta, produzem o suficiente para alimentar todo mundo e os produtores brasileiros rurais tem ampla participação na oferta global. O problema, em muitos casos, é de ordem política: em várias regiões africanas, quando a comida produzida no local não é suficiente, a ajuda não chega.

Soja

Estoques maiores

D

e acordo com a Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais, os estoques nacionais de soja para a safra 2012/13 devem crescer 206% na comparação com a temporada 2011/12 e chegar a 3,7 milhões de toneladas. Segundo a entidade, a alta é resultado do aumento da produção e queda na importação. A projeção é que a produção nacional supere 81 milhões de toneladas, crescimento de 22% sobre as 66,6 milhões da temporada 2011/12. Com uma

produtividade também em alta, estima-se que o Brasil reduza em pelo menos 50% suas importações de soja. Os números da Abiove referentes aos estoques final (3.712 toneladas) e inicial (1.212 toneladas) apresentam-se, pela ordem, inferior e superior na comparação com os números projetados pela Conab. No tocante à exportação, a Abiove prevê embarques de 38,5 milhões de toneladas e a Conab, 36,2 milhões de toneladas.

Grãos

Centro-Oeste ultrapassa o Sul De acordo com o IBGE, a região centro-oeste do país liderou a produção de grãos na safra 2011/12, com 43% de participação, superando o Sul, que teve 34,6%. Mato Grosso se destaca como o maior produtor nacional de grãos, com 40 milhões de toneladas, respondendo por aproximadamente 25% da produção nacional. Os aumentos mais significativos no estado ocorreram na produ-

ção de milho, com crescimento de 103,35% em relação à safra anterior, e na produtividade – o cereal ultrapassou o patamar de 95 sacas/ha, resultado bem superior ao da safra passada, em que a média de produtividade ficou em 66 sacas/ha. O clima ajudou no desenvolvimento das demais culturas, inclusive no algodão, com produtividades boas tanto na primeira quanto na segunda safra. novembro 2012 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Máquinas agrícolas

Frota supera um milhão de unidades

Agroquímicos

Liberação temporária

O

D

ados do IBGE mostram que, até 2006, havia 820 mil tratores e 116 mil colheitadeiras nas áreas agrícolas brasileiras. Desde então, os produtores rurais compraram mais 229 mil tratores e 20 mil colheitadeiras, fazendo com que a frota nacional ultrapassasse a marca de um milhão de unidades. Ou seja, 22% do total de máquinas agrícolas no país foram adquiridas nos últimos cinco anos. No que diz respeito às exportações, a Anfavea – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores registrou queda de 11%

de janeiro a setembro de 2012. Foram embarcadas 12,1 mil unidades, contra 13,5 mil no mesmo período do ano passado. Segundo Milton Rego, diretor da Anfavea, várias razões justificam o recuo, destacando-se entre elas as barreiras comerciais levantadas pelos compradores, especialmente os argentinos.. “O negócio com a Argentina não é igual ao tango, dois para lá, dois para cá. A coisa é complicada. Eles fecharam o mercado e estão focando na estratégia industrial de produzir por lá mesmo”, diz Rego.

Ministério da Agricultura autorizou o uso por 24 meses de defensivos à base de espinosade (inseticida comercial para aplicação foliar em vários produtos agrícolas) para as culturas da manga, uva, acerola e goiaba, conforme ato publicado em 4/10 no Diário Oficial da União. Baseada em parecer técnico da Embrapa, a medida tem como propósito controlar o crescimento das pragas conhecidas como mosca-das-frutas (Ceratitis capitata e Anastrepha spp) no polo produtor de Petrolina/Juazeiro e outras regiões frutícolas do vale do São Francisco. As ações envolvem controle cultural e monitoramento. As empresas interessadas na venda dos agroquímicos deverão requerer registro para uso emergencial do produto junto aos órgãos competentes, acompanhado de modelo de rótulo e bula e de comprovante de cadastro nos estados, no Distrito Federal e na Coordenação de Agrotóxicos e Afins do Mapa. Também devem apresentar termo de compromisso para geração e apresentação dos estudos necessários à realização do registro definitivo. A licença será cancelada caso seja constatado problemas de ordem agronômica, toxicológica ou ambiental.

Pulverização

Produtores querem prazo maior

O

Ibama e a SDA – Secretaria de Defesa Agropecuária, órgão do Ministério da Agricultura, liberaram a pulverização aérea nas lavouras de soja em Mato Grosso entre 20/11/2012 e 1/1/2013. Os produtores rurais consideram o período insuficiente e cobram prorrogação da medida até o final de fevereiro, pelo menos. Dependendo das condições climáti-

16 | Agro DBO – novembro 2012

cas, são feitas até cinco pulverizações nas lavouras, podendo se prolongar até fevereiro, quando se encerra a colheita no estado. “Mato Grosso tem grandes extensões de terras e não é viável fazer a aplicação por via terrestre”, afirma Nery Ribas, da Aprosoja Em julho deste ano, o Ibama proibiu a pulverização aérea com agrotóxicos contendo as substân-

cias imidacloprido, clotianidina, fipronil e tiametoxam, alegando que elas interferem na polinização das abelhas. Porém, voltou atrás depois que o setor produtivo relatou dificuldades em atender à proibição em curto espaço de tempo. No Sul do país, a pulverização pode ser feita de 1/12/2012 a 15/1/2013. No Norte, de 1/1/2013 a 20/2/2013.


Notícias da Terra Cana

Safra cheia de problemas

P

roblemas climáticos, falta de renovação dos canaviais, baixo investimento em tecnologia e ampliação dos custos de produção. Esses são alguns dos motivos para a perda de produtividade no setor sucroalcooleiro e margens de lucro negativas na safra 2011/2012 em São Paulo, Paraná, Alagoas, Paraíba e Pernambuco, segundo relatório da Esalq – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo. O estudo contemplou

também as regiões que ganharam destaque na cultura nos últimos anos, como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Segundo o relatório, apenas estas localidades tiveram receitas superiores aos custos. No Centro-Sul, a margem foi de -16% na produção de cana e de – 3,8% no etanol hidratado. No Nordeste, a margem foi negativa em 15% na atividade canavieira, enquanto as usinas de etanol hidratado tiveram prejuízo de 10,2%.

Agricultura familiar I

Crédito para camionetes

O

Pronaf Mais Alimentos, programa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, vai financiar quatro modelos de camionetes com 750 quilos de capacidade de carga cada, com descontos de aproximadamente 15% em relação ao preço de mercado. As especificidades técnicas estão disponíveis no site www.mda.gov.br/portal/ saf/maisalimentos. O interessado deve selecionar a unidade da federação, informar se é contribuinte do ICMS e clicar em “Veículos de Transporte de Carga”. O financiamento é efetivado nos bancos que operam a linha de crédito do Pronaf Mais Alimentos. Porém, antes de ir ao banco, o agricultor deve procurar a empresa local de assistência técnica e extensão rural e pedir ajuda para desenvolver um projeto técnico simplificado, onde especificará como o veículo será usado.

Agricultura familiar II

Pronaf Jovem já pode ser contratado

E Juizados especiais

Justiça itinerante no campo

C

onforme lei complementar publicada em 17/10, os governos estaduais e o do Distrito Federal têm seis meses para instalar juizados especiais itinerantes para atuar nas áreas rurais do país. Com a decisão, pequenos conflitos no campo poderão ser resolvidos com mais rapidez do que na justiça comum. Os juizados especiais tratam as divergências de forma mais

simples e sem despesas, buscando acordo entre as pessoas envolvidas, mas não podem julgar causas de natureza alimentar, familiar, fiscal e processos que tratam de acidentes de trabalho. As pequenas causas, como são definidos os processos cíveis de menor complexidade, não podem envover valores superiores a 40 salários mínimos.

m vigor desde o dia 15 do mês passado, a linha Pronaf Jovem permite financiamento até R$ 15 mil por pessoa, com juros de 1% ao ano, prazo de reembolso até dez anos e três de carência. Os candidatos devem ter até 29 anos de idade, possuir a DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf e preencher pelo menos um dos seguintes requisitos: ter concluído ou estar cursando o último ano em centros familiares rurais de formação por alternância ou em escolas técnicas agrícolas de nível médio; ter participado de curso ou estágio de formação profissional; e ter recebido orientação de instituição prestadora de serviços de assistência técnica e extensão rural, reconhecida pello MDA. O Pronaf Jovem é operacionalizado pelo Banco do Brasil, Banco da Amazônia e Banco do Nordeste.

novembro 2012 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra Café

Operação mecanizada

M

aior cooperativa de café do mundo, com 12 mil associados e produção estimada em 5,5 milhões de toneladas (10% da safra brasileira), a Cooxupé – Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé, em Minas Gerais, inaugurou no mês passado o Complexo Industrial Japy, sistema totalmente mecanizado de processamento do grão. Ao custo de R$ 7,5 milhões, o complexo ocupa área de 40 mil metros quadrados, com 80 silos para processamento e armazenagem. “O

Censo

Tecnologia

D

A

Capital intelectual os seis biomas brasileiros, o que mais sofre pressão da agropecuária é o Pampa (71% ocupado com estabelecimentos agropecuários). Em seguida vêm o Pantanal (69%), a Mata Atlântica (66%) e o Cerrado (59%). A informação integra o Atlas do Espaço Rural Brasileiro, lançado em 19/10 pelo IBGE com base em dados do Censo Agropecuário 2006. Se somadas, as áreas das propriedades destinadas a esse tipo de atividade chegam a 2,1 mi de quilômetros quadrados. Quando comparadas com o território brasileiro, o total é de 25% das terras nacionais. Entre o Censo 1996 e o de 2006, foi constatada uma redução de 19,9 milhões de hectares na área total dos estabelecimentos de produção rural. Tal queda, destacam os pesquisadores, considera as áreas transformadas em unidades de conservação ou em terras indígenas. A pesquisa mostra como o processo de modernização do campo passou de um momento de grande mecanização para um de investimento em capital intelectual, com interesses crescentes em técnicas de irrigação, uso de sementes certificadas e transgênicas, no acesso a assistência técnica e no plantio direto.

18 | Agro DBO – novembro 2012

café passa pelo Complexo Japy sem ter nenhum contato humano. Os grãos chegam por caminhões graneleiros, são despejados por meio de rampas para carretas de até 30 toneladas e, finalmente, ensacados em grandes sacolas (big bags) de 1,2 tonelada”, explica o presidente da Cooxupé, Carlos Paulino. O evento abrigou o XXVI Fórum ABAG Desenvolvimento da Cafeicultura Nacional com o tema Café e Saúde,. Entre os palestrantes , estavamos médicos Miguel Moretti e Dráuzio Varella.

Pesquisa de resíduos Agilent e a UFSM – Universidade Federal de Santa Maria (RS) firmaram parceria para desenvolver pesquisa sobre presença de pesticidas e outros contaminantes em frutas, cereais, sucos, vinhos e água. Uma das maiores empresas em tecnologia de medição analítica do mundo, a Agilent fornecerá à universidade equipamentos de espectrometria de massas e cromatografia líquida de última gera-

ção, e um sistema cuja base de dados abrange informações sobre mais de 1600 pesticidas reunidas de laboratórios de segurança alimentar em todo o mundo – os sistemas utilizados pelos laboratórios nacionais avaliam, em geral, menos de 400 compostos. A parceria se estende até junho de 2013, podendo ser prorrogada, dependendo das necessidades da universidade.

Cacau

Condições privilegiadas

O

cacau produzido no município de Linhares (ES) conquistou para a cacauicultura brasileira – e para a agricultura capixaba - uma certificação inédita: a IG – Indicação Geográfica. O registro de IG reconhece a reputação, o valor e a identidade ca-

racterística da região de origem, cujas especificidades são definidas de acordo com as condições locais de clima e solo. O processo de registro é concedido para a região e não para o produto diretamente. Assim, os produtores terão o direito exclusivo de vincular o nome da região ao produto notório após o registro, distinguindo-o dos similares existentes no mercado. O cacau é cultivado em 23 mil hectares no Espírito Santo. O município de Linhares abriga 90% da área plantada e produz cerca de oito mil toneladas da amêndoa por ano.


Notícias da Terra Abacaxi

Zoneamento agrícola

P

ortaria do Mapa, divulgada em 17/10, orienta o plantio da safra 2012/2013 em 24 estados, onde as condições são mais favoráveis à produção. Espécie típica de regiões tropicais e subtropicais, o abacaxizeiro produz melhor em locais com temperaturas altas. O ideal, segundo estudos técnicos, é de 24ºC, em localidades com chuvas constantes no ano todo. O fruto tolera situações extreo

Saldo positivo

E

mbora não seja o setor que mais emprega no país, o agronegócio é um dos maiores quanto ao saldo proporcional – diferença entre admissões e desligamentos – de trabalhadores empregados em 2012. De janeiro a setembro, foram contabilizados 1,051 milhões de novos postos de trabalho, contra 914,9 mil desligamentos, resultando num saldo proporcional de 8,76%. O valor só não é maior que o da construção civil, com 9,48% e saldo líquido de 273,9 mil empregos. Entre os setores que mais empregaram, segundo dados do Ministério do Trabalho, em primeiro lugar está o de serviços, com 6,2 milhões de admissões e 5,6 milhões de desligamentos, com diferença de 4,33%. Em seguida, vem o comércio (3,7 milhões de admisões e 3,5 milhões de desligamentos; 2,1%) e a indútria de transformação (3,1 milhões e 2,8 milhões).

mas, como temperatura mínima de 5ºC e precipitações anuais de 600 mm, mas tais condições afetam diretamente o seu crescimento. O ciclo do cultivo do abacaxizeiro varia conforme a região escolhida. No Sul do Brasil, a cultura tem um ciclo de 24 meses (do plantio à colheita). Nas regiões próximas à linha do Equador, esse período é reduzido para 18 meses.

Mosca-da-carambola

Praga erradicada

O

estado do Pará será declarado livre da mosca-da-carambola, praga que atinge principalmente as frutas. O anúncio será feito pelo Mapa e pela Adepará – Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará em cerimônias no dia 6 deste mês de novembro, em Belém, e dois dias depois, no município de Almeirim. Atualmente, as áreas consideradas de alto risco para a disse-

minação da mosca-da-carambola são Amapá, Amazonas, Maranhão, Pará e Roraima. Na zona de risco médio estão os estados do Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins. Os demais estados estão classificados como de baixo risco. As principais formas de disseminação são o transporte de frutos contaminados e os locais de comercialização.

Biocombustível

Ônibus híbrido começa a circular

C

omeçaram a circular em Curitiba (PR) os primeiros “Hibribus”, ônibus híbridos movidos a biodiesel e a eletricidade. “Os novos coletivos emitem 90% menos gases poluentes e menos ruídos,” afirma Erasmo Battistella, diretor presidente da BSBIOS, empresa fornecedora do biodiesel. O modelo, com capacidade para acomodar até 80 passageiros, funciona com dois motores (elétrico e a biodiesel) independentes. O elétrico é usado para arrancar o veículo e acelerá-lo até uma velocidade de 20 km/h. O motor a biodiesel entra em funcionamento em velocidades

mais altas. Quando os freios são acionados, a energia de desaceleração é utilizada para recarregar as baterias.

novembro 2012 – Agro DBO | 19


Notícias da Terra Sorriso I

Sorriso II

O

que antes era apenas simbólico – fruto da ousadia dos imigrantes gaúchos que desbravaram a região na década de 1970 – agora é legal: a presidente Dilma Roussef assinou lei no mês passado concedendo a Sorriso (MT) o título de ‘Capital Nacional do Agronegócio”. Situado na região norte do estado, a 412 quilômetros de Cuiabá, o município foi criado há 26 anos. Maior produtor de soja do país (e segundo em milho), deve plantar cerca de 633 mil hectares na safra 2012/13, segundo estimativas do Imea - Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Balanço realizado no dia 25 de outubro mostra que, até então, cerca de 70% da área total destinada à oleaginosa já fora semeada.

J

ustificando o título de Capital Nacional do Agronegócio, Sorriso lidera o ranking nacional (por municípios) de produção agrícola desde o ano passado. Em 2010, caiu para o terceiro lugar, mas, com um crescimento de 105,4%, reassumiu a primeira colocação. É o que mostra a pesquisa Produção Agrícola Municipal 2011, divulgada no final de outubro pelo IBGE. São Desidério, no estado da Bahia, foi o segundo município brasileiro com maior valor de produção agrícola. Depois, na lista dos 10 primeiros, vêm Sapezal (MT), Campo Novo dos Parecis (MT), Formosa do Rio Preto (BA), Cristalina (GO), Jataí (GO), Nova Mutum (MT) e Primavera do Leste (MT).

Perdas na soja

Moratória

O

A

Reconhecimento oficial

Desperdício total Brasil perde cerca de 12,5% da soja produzida no país nas fases de pré-colheita, colheita, padronização, armazenagem e transporte, segundo estimativas da Aprosoja. Considerando as projeções recentes para a safra nacional, tal percentual representaria 10 milhões de toneladas. Esses números foram apresentados em workshop realizado nos dias 24 e 25 de outubro na Embrapa Agrossilvipastoril, em Sinop (MT). Do total desperdiçado, 4% fica na própria lavoura, segundo informações coletadas pelo Rally da Safra, da empresa Agroconsult. Perde-se 1% no processo de pré-colheita e mais 1% em transporte e armazenagem. Os outros 6,5% referem-se a perdas econômicas (não físicas) decorrentes do atual modelo de classificação de grãos e descontos praticados pelas empresas compradoras.

20 | Agro DBO – novembro 2012

Campeão em produção

Prazo prorrogado Moratória da Soja foi renovada por mais um ano (até 31 de janeiro de 2014), conforme anúncio feito pelo Ministério do Meio Ambiente no final do mês passado. Em 2006, empresas associadas à Abiove – Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais e à Anec – Associação Nacional dos Exportadores de Cereais comprometeram-se com organizações da sociedade civil a não negociar ou financiar partidas de soja oriundas de áreas desmatadas na Amazônia. O pacto deveria durar dois anos mas, com a adesão do governo federal, via MME, e outras entidades, perdura até hoje. As lavouras de soja em áreas desmatadas no período da moratória correspondem a 0,41% de todo o desmatamento ocorrido na região. O Brasil tem 25 milhões de hectares de soja, dos quais, 2,1 na Amazônia.


Notícias da Terra Zoneamento agrícola

Redução de riscos

O

Diário Oficial da União publicou em 25/10 o Zoneamento Agrícola de Risco Climático para a produção de gergelim, girassol, mamona e milheto, na safra 2012/13. O zoneamento identifica os municípios aptos e os períodos de plantio com menor risco climático, levando em consideração as características de cada região. Também apresenta análises hídricas e tipos de solos e indica cultivares e municípios mais habilitados em cada estado para o cultivo. Os interessados podem acessar as portarias referentes às culturas acima relacionadas através do site http://www. in.gov.br/visualiza/index.jsp?data=25/10/2012&jornal=1 &pagina=2&totalArquivos=136

Cooperativismo

Pulverização

F

A

undamentais para o desenvolvimento do campo e presentes nas principais regiões produtoras do Brasil, as cooperativas não acompanham, porém, o avanço das fronteiras agríolas. A conclusão é de pesquisadores da Fearp – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (SP). Conforme o Programa de Estudos e Pesquisas em Cooperativismo, a região centro-oeste, principal fronteira agrícola do país, possui apenas 18% dos estabelecimentos rurais cooperativados, enquanto na região sul esse número de 38%. Embora a área de lavouras de grãos e algodão no Centro-Oeste tenha crescido mais de 400% desde 1975 (no Sul, cresceu 43%), mais de 92% das exportações são efetuadas por cooperativas sediadas nos estados do Sul e Sudeste. Entre outras causas, os pesquisadores apontam o custo de deslocamento das cooperativas tradicionais, o tamanho das propriedades, a escala nos negócios e a concorrência das grandes empresas transnacionais no fornecimento de assistência técnica e venda de insumos.

Controle biológico Adapar – Agência de Defesa Agropecuária do Paraná anunciou que vai adotar a prática do controle biológico como política pública para reduzir a incidência de resíduos químicos nos alimentos. Segundo a ABCBio – Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico, os produtos de baixa toxicidade têm prioridade nos registros do governo federal e eles solicitaram o mesmo procedimento no Paraná. O controle biológico é feito com produtos compostos à base de bactérias e fungos que reduzem a incidência de resíduos químicos nos alimentos e aliviam o impacto ambiental provocado pelos produtos químicos. São menos agressivos ao meio ambiente e ao homem. “Se for reduzido o uso de apenas uma aplicação de agroquímicos nas lavouras, o ganho ambiental e de sanidade dos produtos será significativo”, diz Allan Pimentel, da Adapar. Juliano Ribeiro

Longe das fronteiras

Heveicultura

Borracha estendida

O

estado do Tocantins aprovou lei dispensando o licenciamento ambiental para cultivo de seringueira em áreas já consolidadas, degradadas ou subutilizadas na atividade agropecuária. De acordo com Ruiter Padua, da Secretaria da Agricultura, da Pecuária e do Desenvolvimento Agrário, a medida “vai beneficiar pequenos, médios e grandes produtores, uma vez que o plantio de seringueira é viável nos diversos tipos de propriedades rurais do estado. O objetivo do governo estadual, segundo ele, é que a heveicultura cresça 590% no Tocantins até 2017. Atualmente, a área plantada de 1.840 hectares.. novembro 2012 – Agro DBO | 21


Café

Como foi a florada? Foi bonita, mas não convenceu nosso articulista, o cafeicultor Hélio Casale: as flores vieram brancas e não verde-garrafa, como esperava

À

Hélio Casale é engenheiro agrônomo, cafeicultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

falta de chuva regular em fevereiro, as chuvas anormais que caíram em junho-julho contribuíram fortemente para que a primeira florada do cafeeiro fosse concentrada. Veio cheirosa e com flores muito brancas. Essas duas características eram observadas pelos antigos como indicativo de qualidade: se tivesse cheiro e cor verde garrafa, a colheita tinha grandes chances de ser das melhores. Cheirosa ela veio, mas sem cor. Outras floradas abriram desde então premiando as lavouras estabelecidas em zonas mais al-

22 | Agro DBO – novembro 2012

tas, as que receberam poda de renovação dos galhos produtivos e estavam bem enfolhadas e aquelas que vinham sendo muito bem tratadas. Desde maio do ano passado os cafeeiros prepararam-se para esse espetáculo, valendo lembrar que já estão se preparando para a safra de 2014. Cafeeiro é planta que trabalha no longo prazo, não é imediatista. Dados da pesquisa do Joel Fahl, do IAC - Instituto Agronômico de Campinas (SP) nos mostra que para sustentar 1 fruto são necessários 20 cm² de folhas; para sustentar uma flor, 4,7 cm² de folhas; e

para sustentar 10 a 13 botões florais, nada menos que uma folha. Dessa informação se pode imaginar a importância de se ter um bom IAF – Índice de Área Foliar durante todo o ano. Para se conseguir essa façanha, aí entram os defensivos e os adubos foliares, Os primeiros, protegendo as folhas do ataque de pragas e de doenças e os fertilizantes, nutrindo equilibradamente. O cafeeiro, agradecido, fica enfolhado por mais tempo e consequentemente as flores bem nutridas não abortam nem caem prematuramente. Cafeeiro, para produzir plena-


Foto: Hélio Casale

mente fica no tempo, a descoberto, sem proteção, ao sabor de cerca de 52 fatores de produção. Além dos fatores já citados, deve-se levar em conta a temperatura do solo, pois quando esta atinge 32 graus centígrados, as raízes superficiais começam a morrer. Como as raízes representam a metade escondida da planta, é fácil imaginar sua importância como sustentáculo da parte aérea. A prática mostra: não existe planta boa com fraco sistema radicular. Vejam na foto acima, à direita, um exemplar de neve da montanha (Arrabidaea florida), plantada ao lado de um terreiro de café: de um lado, massa asfáltica, e do outro, um carreador de terra. Flores apenas de um dos lados, ou seja, onde a temperatura era menor.

Num experimento sobre a repartição de nutrientes nos ramos, folhas e flores do cafeeiro, os professores Eurípedes Malavolta, Laércio Favarin e outros estudaram o quanto de nutrientes estava acumulado nessas diferentes partes da planta e em dois cultivares de arábica: mundo novo 388-7 e catuaí amarelo 62. Na tabela (abaixo) estão resumidos os dados obtidos e as conclusões práticas. São os seguintes:

1.º – As flores do cafeeiro constituem um forte dreno temporário de nutrientes, variável de acordo com a cultivar.

2.º – A acumulação de magnésio pelas flores das cultivares catuaí amarelo e mundo novo representam 52% em relação ao total extraído pelas partes da planta (flores, folhas, ramos).

3.º – A adubação do cafeeiro deve

Neve da montanha em área urbana, exemplo da influência do calor. Na foto menor, detalhe da florada deste ano.

começar antes do florescimento.

4.º – Na prática, o que se observa? Animais são muito bem nutridos durante a gestação. Isso ninguém discute. O bezerro nasce forte, a vaca sai do parto sem se definhar. Já os cafeeiros só recebem a primeira adubação depois das primeiras chuvas e, invariavelmente, depois

Repartição de Nutrientes nos Ramos, folhas e flores do cafeeiro Macronutrientes Cultivar

Micronutrientes

N

P

K

Ca

Mg

S

B

Cu

Fe

Mn

Mo

Catuaí

30,80

3,04

30,15

29,69

16,56

2,31

37,33

24,25

677

186,20

0,08

M.Novo

26,63

2,32

31,20

23,76

13,52

1,88

36,41

28,50

405

99,75

0,04

Catuaí

28,70

1,14

24,45

16,37

3,04

1,90

63,84

11,25

481

384,25

0,05

M.Novo

29,33

1,47

28,95

16,76

2,62

2,42

41,77

17,00

576

224,75

0,04

Catuaí

17,19

1,87

18,60

15,82

3,31

1,58

35,77

29,25

297

188

0,05

M.Novo

16,07

0,86

17,85

15,82

2,90

1,41

32,21

52,75

298

96,50

0,04

FLORES

FOLHAS

RAMOS

novembro 2012 – Agro DBO | 23


Café ABSORÇãO DE NUTRIENTES EM MUDAS DE CAFEEIRO Modo de aplicação Quantidade absorvida da aplicada, em % Raízes solo Raízes o que caí das folhas Folhas – lado superior Folhas – ambos os lados Folhas – lado inferior

da primeira florada. Dá flor de barriga vazia. Desculpas mais comuns: “Nem bem acabei a colheita”; “O solo está muito seco e haverá perda do adubo nitrogenado”; “A Cooperativa ainda não disponibilizou o adubo”, e assim por diante. Deve-se também atentar para os níveis de cálcio e magnésio nas folhas por ocasião da florada. Se a

24 | Agro DBO – novembro 2012

calagem não foi feita a tempo, se foi feita com calcário não reativo ou por outra razão qualquer, os teores de cálcio e magnésio não estiverem adequado nas folhas por ocasião da florada a pulverização foliar é um recurso que deve ser praticado. Ao se fazer uma adubação foliar, se quiser maximizar o efeito positivo dessa prática, deve-se procurar que a solução ou suspensão empregada atinja preferencialmente a parte inferior das folhas. No quadro acima se pode ver a absorção de nutrientes em mudas de

0,3 0,5 12 20,5 42

cafeeiro, em função do método de aplicação com a quantidade absorvida do aplicado, em percentagem. Com essas e mais outras não citadas, nossa cafeicultura está crescendo lentamente mesmo diante das fortes amarras quando os preços internacionais estão sendo controlados impiedosamente pelos comerciantes de plantão com dados estatísticos mirabolantes. O cafeicultor brasileiro é um grande distribuidor de renda e poucos o reconhecem, mas o seu dia virá, é só aguardar pacientemente.


Artigo

Pulverização na florada do cafeeiro - pode-se ou não fazer? O título acima repete pergunta frequente feita aos pesquisadores J. B. Matiello e S. R. Almeida. A resposta deles é sempre a mesma:

S

J.B.Matiello e S.R.Almeida são engenheiros agrônomos da Fundação Procafé

im, podemos pulverizar na época da florada, pois a pulverização não vai atrapalhar em nada o pegamento dos frutos da floração. Nossa afirmação se baseia no conhecimento da estrutura dos botões e flores e nos experimentos efetuados. A formação dos botões e flores do cafeeiro ocorre nos nós, nas axilas das folhas. Ali eles são bem protegidos e possuem seu tecido coberto por camada cerosa, capaz de resistir a possíveis queimas por produtos, especialmente por sais aplicados. São tão resistentes quanto o tecido foliar. Portanto, a calda de pulverização adequada, aquela que não causa problema nas folhas, igualmente não causa distúrbios sobre os botões e flores. Outra hipótese de danos seria no ato da abertura das flores, pois a calda poderia atrapalhar a sua fecundação. No entanto, sabe-se que os órgãos masculino e feminino das flores estão aptos e a fecundação do cafeeiro arábica ocorre com o botão ainda fechado, sem problemas de interferência de fatores externos. Além disso, nosso lema é procurar, sempre, testar aquilo que poderíamos ter dúvidas. Pois é, assim foi feito com a avaliação do efeito de pulverizações no período de florada. Foram testados quatro tratamentos, sendo o primeiro com a pulverização na pré-florada, sobre os botões. O segundo, com a pulverização no dia da abertura da florada; o terceiro, uma semana após à floração; e o quarto, este sem pulverização(testemunha). Na

calda foram colocados os produtos mais comuns empregados: sais de zinco, ácido bórico, fungicida cúprico e um inseticida. Os resultados foram aferidos através da produção das plantas do ensaio, dos quatro diferentes tratamentos, chegando-se a produtividades semelhantes, sem diferenças significativas entre eles, mostrando que as pulverizações na época da florada não interferem no seu pegamento, ou seja, não causam problemas na frutificação. Falamos sobre o que ocorre nos cafeeiros arábica. Com relação ao robusta-conillon, valem as mesmas considerações feitas nas aplicações na pré e pós florada. Varia ligeiramente quanto à oportunidade de pulverizar no dia da abertura da florada, pois nesse tipo de cafeeiro, a fecundação é cruzada, ocorrendo depois da abertura das flores. Aí, então, deve-se evitar essa aplicação no dia da florada, pois

alguns produtos poderiam espantar insetos polinizadores, se bem que grande parte da fecundação ocorre pelo vento. Neste aspecto, uma pequena molhação do pólen tornaria os grãos mais pesados, e com mais dificuldade no seu deslocamento pelos ventos, embora por curtíssimo período, pois logo secariam, sendo muito diferente de uma chuva, ou mesmo irrigação, estas, sim, muito prejudiciais ao pegamento da frutificação, quando ocorrem durante a abertura das flores. Fica, então, clara a nossa resposta inicial. Podemos, quando necessário, aplicar produtos via pulverização sem causar problema à floração. Ainda mais, nas regiões mais frias e úmidas, onde ocorrem fungos que atacam botões, flores e chumbinhos, onde as aplicações, de fungicidas adequados, podem é aumentar a produção, não diminuí-la. novembro 2012 – Agro DBO | 25


Capa

Agricultura de precisão, a tecnologia decolou. De alguns meses para cá os equipamentos de agricultura de precisão – GPS, piloto automático, controladores – desandaram a vender, muito acima das médias dos últimos anos. A causa está na renda aumentada dos agricultores, e, talvez, na perda do medo em lidar com as modernidades da informática. Se algumas dificuldades foram superadas, outras permanecem, quando se faz uma análise dos últimos 10 anos. Richard Jakubaszko

Os operadores podem controlar todas as etapas de produção confortavelmente instalados, dentro de cabines climatizadas, livres de poeira e ruídos.

26 | Agro DBO - novembro 2012


A

s tecnologias estão na moda, e a agricultura de precisão (AP), em especial, foi a escolhida na decisão individual tomada pelos agricultores para se modernizar e conquistar a tal elevação da produtividade. Dos especialistas de fabricantes de máquinas e equipamentos para agricultura entrevistados nesta edição pela revista Agro DBO, entre eles a John Deere, a Agco, CNH e TeeJet Technologies, todos se destacaram no reconhecimento desse crescimento da AP. Tiago Oliveira, engenheiro agrônomo e coordenador da John Deere na área de AP, informa que os equipamentos de AP da empresa cresceram de um faturamento de cerca de US$ 3 milhões para mais de US$ 80 milhões de dólares por ano nos últimos 3 anos, especialmente o de piloto automático. Na TeeJet, maior fabricante mundial de bicos para pulverização, o gerente geral para a América do Sul, o engenheiro agrônomo Sérgio Santos, não declara valores, mas enfatiza que o segmento cresceu muito, a ponto de sair do zero e de hoje representar quase 30% do faturamento da empresa. A “AP vai de vento em popa”, conforme Gregory Riordan, Gerente Latino América de Agricultura de Precisão da CNH, que engloba as marcas New Holland e Case, especialmente com a comercialização de piloto automático e do mapeamento para aplicações a taxas variáveis. A CNH vendeu, só em 2012, até meados de outubro, mais de 600 equipamentos de piloto automático, cujo custo varia entre R$ 30 mil e R$ 60 mil. Ou-

tros números a CNH não revela, como é comum entre multinacionais, por se tratar de informação comercial estratégica. AP e competitividade Em um evento no Rio Grande do Sul, o uso da AP como tecnologia foi ressaltado pelo presidente da Stara, Gilson Trennepohl. “Produzir mais com menos”, esta é a frase, segundo ele, que melhor define o atual estágio da agricultura brasileira, que passa por um momento até de euforia ao usufruir alta renda e por incluir cada vez mais tecnologias na rotina e logística das lavouras. Nesse cenário, ganha destaque a agricultura de precisão (AP), em comparação a outras tecnologias, ao permitir o aumento da produtividade a partir do melhor uso dos recursos existentes. O agrônomo Niumar Aurélio Dutra, coordenador de marketing de agricultura de precisão da Massey, do Grupo AGCO, diz que 90% das colheitadeiras classe VI e VII já são vendidas com sistemas de mapeamento de produtividade. Estes custam de 5% a 15% do valor de máquinas como tratores, colheitadeiras e pulverizadores autopropelidos, cujo valor total está na faixa de R$ 300 mil a R$ 700 mil. “Em tratores acima de 215 cv o piloto automático é opcional, mas 30% a 40% dessas máquinas têm o equipamento incorporado, enquanto nos tratores de 320 a 379 cv os equipamentos de GPS já são acessórios padronizados”, revela Dutra. O início do uso da AP tem se dado tanto pelo mapeamento de solo como da colheita, para conhecer a variabilidade, mas não tem importância por onde se começa, comenta Dutra, “porque o importante é começar, eis que, depois, não se para mais de evoluir”. Hoje se aplica fertilizante por taxa variável a lanço, mas aplicação em linha será a novidade de um acessório da Massey a ser lançado no primeiro trimestre de 2013, informa Dutra. Fatores limitantes Em reportagem de capa sobre a AP, publicada pela DBO Agrotecnologia, revista que antecedeu a Agro DBO, na edição de nº 1, em abril 2003, os entrevistados apontavam que um dos gargalos para o crescimento da AP estava nos softwares, que não se comunicavam na mesma linguagem, e com isso traziam-se problemas e não soluções aos agricultores. Agora, os entrevistados são unânimes em registrar que os problemas de softwares incompatíveis serão coisa do passado, dentro em breve, pois os fabricantes em geral estão aderindo ao sistema Isobus, que é uma plataforma de comunicação universal. Outro gargalo apontado no passado estava na inexistência e indisponibilidade de mão de obra especializada para trabalhar com a AP, na época talvez o seu mais importante fator limitante. O problema foi novembro 2012 - Agro DBO | 27


Capa

reduzido proporcionalmente, mas continua a existir, em vista do notável crescimento das vendas. Sérgio Santos, da TeeJet, de outro lado, analisa que um dos fatores importantes que permitiu e facilitou a adoção da AP por parte dos agricultores foi a disseminação do uso do telefone celular, aparelho que hoje em dia todo mundo tem, e isso reduziu os medos (dos agricultores e operadores) de não saber operar as sofisticadas máquinas que interagem com computadores e softwares de última geração, além de envolver comunicação com satélites. Atualmente, entre os entrevistados também houve unanimidade na opinião de que preço e crédito já não são mais fatores limitantes para os agricultores aderirem às tecnologias de AP. Em comparação com o passado recente os preços caíram em média de 20% a 40%, conforme o equipamento e a empresa fornecedora.

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A estação-base RTK pode ter repetidoras, tudo controlado via rádio na sede da fazenda.

Tiago Oliveira, (à esq), da John Deere, e Niumar Aurélio Dutra, da Massey/AGCO.

Certamente, os processos de arrendamento de terras, conforme analisa Riordan, da CNH, têm dificultado o crescimento e difusão da AP, especialmente em áreas degradadas, naqueles arrendamentos onde o tempo de contrato é por uma ou duas safras, pois impede o investimento do arrendatário em análise de solo e também no mapeamento da colheita. Esses investimentos são de alto custo, e só podem trazer retorno no médio e longo prazo. Nesses casos, perdem ambos, arrendadores e arrendatários. Formação de mão de obra Alberto Issamu Honda, Diretor Executivo da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, de Marília, SP, informa que a 1ª turma de tecnólogos em Agricultura de Precisão terá a formatura de 40 alunos agora em dezembro próximo, de um curso com duração de 3 anos. “A maioria já está com emprego garantido em empresas de máquinas agrícolas e propriedades rurais”, diz ele. Em 9 de dezembro próximo haverá outro vestibular, abrindo 80 vagas para esse curso gratuito com equivalência de curso superior. Fora a Fundação Nishimura, apenas a Universidade Federal de Lavras, UFLA, e a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Esalq, em Piracicaba, SP, mantêm a disciplina da Agricultura de Precisão na grade curricular, porém como matéria opcional. Uma tendência, apontada por Riordan, da CNH, e também por Dutra, da Massey, é que nos dois últimos anos tem aumentado o número de empresas de prestação de serviços, algumas, inclusive, com o diferencial de oferecer ciclo completo de AP. Há cooperativas, especialmente no Sul do país, que também têm oferecido


As empresas especializadas de prestação de serviços de AP têm crescido, hoje é de 30% do mercado, e na Argentina é de 90%. esse tipo de serviço aos cooperados. Riordan comenta que “usa-se 1 ponto a cada 5 ha, e o mapeamento ajuda a reduzir a adubação nessa área, mas nem sempre isso é possível, pois o ideal é fazer mapeamentos de 1 ha”. Riordan também argumenta que a compactação de solo em plantio direto pode ser minimizada com o uso de AP. O maior uso é em grãos, no Sul e Centro Oeste, e depois na cana. A AP permite que se crie a compactação localizada, nos trilhos, em linha planejada, para plantio, manejo e colheita mecânica. O erro existe, mas é inferior a uma polegada, com o uso da estação base RTK, que tem um método mais preciso, controlado via rádio, na sede da fazenda, através de uma torre que capta o sinal do satélite e faz a correção, tendo por base o posicionamento dos satélites e as informações de latitude – longitude e altitude. Assim, o operador fica com outras funções na cabine do trator. No Brasil as empresas especializadas de prestação de serviços de AP com máquinas têm crescido, hoje é de cerca de 30% do mercado, enquanto na Argentina é de 90%. Vem novidade por aí A Massey tem o Agcomand, e a informação estará disponível via PC, através de aplicativos via Ipad e Iphone. Dá para configurar alarme para denunciar mais de ½ hora de máquina parada. Assim, os recursos tendem a evoluir para diagnóstico remoto de falhas de máquinas, facilitando a reposição de peças. Cada cliente terá sua senha, e a Massey vai ter um dispositivo móvel. O Agcomand facilitará, ainda, as seguintes operações: 1 – no direcionamento automático existem recursos que tiram a necessidade de decisão humana de tarefas repetitivas e o operador pode se concentrar em operações de outras tarefas. 2 – monitoramento de trator e da frota sobre o que acontece com os equipamentos. Diminui o delay (tempo de sincronia) para tomadas de decisão. 3 – piloto automático – serve para grãos no plantio direto, sempre nas mesmas linhas, e de como o tempo de trabalho traz benefícios.

Infográfico feito pela CNH, mostra a interatividade entre satélite, sede da fazenda e máquinas no campo.

Controlador de vazão da Teejet (abaixo, à esq.) e GPS/Piloto automático da Massey/AGCO.

A TeeJet vai lançar em fevereiro de 2013, na ShowCoopavel, o controlador eletrônico de vazão, o Radion 8140, conforme antecipa Sérgio Santos. O Radion vai controlar o tamanho das gotas de pulverização, operação que poderá ser previamente programada para cada pulverização, ajustando as necessidades de cada operação, reduzindo de forma significativa as perdas por deriva. A John Deere lançou este ano o piloto automático hidráulico, mas para uso exclusivo da marca, e a partir dos próximos meses irá lançar a versão para uso em qualquer outra marca, usada ou não. Benefícios A grande vantagem, conforme Riordan, da CNH, é que a AP traz eficiência operacional, além de melhoramento do uso da terra. Por exemplo: aumenta em 5% o número de linhas em cana, e permite de 10% a 15% de redução de combustível. Na CNH usam os equipamentos da Trimble, o maior fabricante mundial de equipamentos para AP. Juntas, possuem uma parceria estratégica mundial que desenvolve equipamentos para usos específicos. A jogada, atualmente, conforme argumenta Riordan, é ter 2 equipamentos trabalhando coordenadamente, sendo 1 equipamento de GPS em cada trator, para trabalhar coordenado, sendo que o 1º trator cria a linha e envia a referência só da linha de trabalho, no plantio ou colheita, com isso a plantadeira ou adubadeira não sobrepõe trabalho. A padronização de softwares tem aumentado, e a norma Isobus já é uma realidade, permitindo que os novembro 2012 - Agro DBO | 29


Capa Problemas de softwares incompatíveis serão coisa do passado, dentro em breve: os fabricantes aderiram ao sistema Isobus.

diversos equipamentos “conversem” entre si, e a CNH já lançou equipamentos com essa tecnologia, pois até alguns meses atrás os softwares da empresa não tinham essa compatibilidade. O carro chefe da AP tem sido o uso de aplicação de fertilizantes a taxa variável, que cresceu em grãos, cana e também em café. O uso de taxa variável em agrotóxicos ainda não é viável, pois não entra na variabilidade, e porque contraria as recomendações dos fabricantes de agrotóxicos. Nem nos EUA se usa hoje a taxa variável para aplicação de agroquímicos, seja em inseticidas ou fungicidas, ou mesmo herbicidas. Mas nas aplicações de fertilização foliar é o mesmo critério da adubação de cobertura. Santos, da TeeJet, por sua vez, questiona

30 | Agro DBO - novembro 2012

Teste de campo com plantio cruzado (acima, à esq.). À direita “AutoTrac RowSense”, da John Deere, para colheitadeiras de milho.

Sérgio Santos (à esq), gerente geral da Teejet e Gregory Riordan, da CNH (New Holland/Case).

a viabilidade econômica do uso de taxa variável em defensivos, e até mesmo como decorrência do perigo de se fazer pulverizações incorretas. Difusão da tecnologia O desafio é disponibilizar a tecnologia da AP também aos pequenos e médios produtores, defende o presidente da Stara – Gilson Trennepohl. Com sede no município de Não-Me-Toque, a Stara criou há 12 anos um projeto de agricultura de precisão – o Aquarius, o primeiro no país, em parceria com a Massey e a Universidade Federal de Santa Maria, RS. Nesse período, alcançou-se uma produtividade 60% maior em relação à média das lavouras gaúchas, de acordo com Trennepohl. “Temos que crescer a produção verticalmente, o que significa produzir mais na mesma área”, reafirma o empresário. Trennepohl enfatizou que os benefícios da agricultura de precisão precisam ser difundidos independentemente do tamanho da propriedade rural. A tecnologia permite a distribuição de fertilizantes em taxas variadas no solo, a partir de um mapeamento prévio. Com o auxílio de sensores de rendimento, é possível saber quais as áreas com melhor rendimento. Os produtores são orientados sobre a melhor maneira de plantar, o que evita o desperdício de fertilizantes, aperfeiçoa a colheita e, consequentemente, traz competitividade à agricultura brasileira. Não são poucas, como vemos, as razões para a decolada que os equipamentos de AP obtiveram em vendas e generalização de uso nos últimos meses.


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Entrevista

Etanol hidratado só precisa ter rentabilidade Em entrevista à Agro DBO, o presidente da Unica defende uma política governamental para incentivar as indústrias a retomar os investimentos.

A

ntonio de Padua Rodrigues, 60 anos, presidente interino da Unica desde maio último, acumulando o cargo de diretor técnico da entidade, administrador de empresas, e que atua no setor há 36 anos, é especialista em cana-de-açúcar, um dos maiores conhecedores do setor sucroalcooleiro. Para ele não há pergunta difícil, como se percebe na presente entrevista exclusiva, conduzida por nosso editor executivo. Nem titubeia, tampouco, quando precisa propor sugestões ao governo para dar solução a impasses do setor. A Unica – União das Indústrias da Cana de açúcar tem 130 usinas associadas que produzem anualmente 270 milhões toneladas de cana, 50% da produção do país. Agro DBO – A indústria sucroalcooleira passa por dificuldades, tem reduzida rentabilidade, baixos investimentos e poucas perspectivas no curto prazo. O que acontece, como é o nome dessa crise? Padua – Não consigo entender como crise, mas a indústria perdeu rentabilidade no etanol hidratado. O que de fato acontece é que 25% a 30% da cana de açúcar é destinada para o etanol hidratado, que tem uma perspectiva enorme de crescimento, em função de um alto potencial de demanda, e que hoje está sendo financiada pelos outros 75% da cana, ou seja, a cana que é destinada para açúcar no mercado interno e exportação e o etanol de exportação, que trazem algum nível de rentabilidade, e compensam o prejuízo que existe hoje na produção do etanol hidratado. O que falta é recuperar 32 | Agro DBO – novembro 2012

essa rentabilidade, para explorar todo o potencial de produção e de investimentos com o objetivo de atender a demanda dos carros flex no mercado interno. É importante destacar que todos os produtores conhecem os riscos do mercado, seja do açúcar ou do etanol, sabem da volatilidade do mercado de açúcar, que é uma commodity, cotada em bolsas, seja em New York ou em Londres, por isso as empresas se protegem, fazem hedge, fazem vendas antecipadas, e administram essa variabilidade de preços. Agro DBO – Que propostas e soluções, em sua opinião, resolveriam esses impasses? Padua – É resolver o problema do etanol hidratado. É resolver o problema que é 25% da cana, que tem, quem sabe, no futuro breve, a oportunidade de ser 50%

do negócio da cana. Hoje, o potencial de mercado ultrapassa 30 bilhões de litros, e nós, na última safra, ofertamos 11,3 bilhões de litros. O mercado do estado de São Paulo, que tem alto potencial de produção e consumo, que tem uma tributação reduzida em relação a outros estados, sofre com a concorrência de outros estados. Se Goiás aumenta a produção, e não tem como consumir, eles veem vender em São Paulo. Da mesma forma MS ou MT. A solução seria o governo federal definir de forma clara qual seria a participação do hidratado na matriz de combustíveis dos motores de ciclo Otto, com mandatos de longo prazo e volumes pré-determinados, e criar uma política para o etanol hidratado que traga rentabilidade e estabilidade ao produto. Agro DBO – No que consistiria uma boa política governamental para incentivar as indústrias a retomarem os investimentos? Padua – Recuperar essa rentabilidade é fundamental. Poderia ser através de uma ação federal, ou poderia ser uma ação federal juntamente com os estados, para unificar as alíquotas de ICMS, eis que São Paulo tem 12% de tributação no ICMS, no Paraná é 18%, é 19% em Goiás, 21% em Minas Gerais e os demais estados cobram na faixa de 25%. E a gasolina é tributada em 25% de ICMS em todo o país.


Nesse caso, o único estado onde o etanol é beneficiado é São Paulo. Agro DBO – Quando o setor volta a crescer? Padua – O setor volta a crescer quando conhecer quais as regras do jogo para o etanol. Diria que, se o governo estabelecer qual vai ser a regra, a sua política de preços nos próximos 15 ou 20 anos, a credibilidade é criada, e os investimentos vão reaparecer, porque vão retomar a confiança. Não haveria nem mesmo a necessidade de aumentar os preços da gasolina. Agro DBO – Em 1973 houve o primeiro choque do petróleo, quando o barril foi a US$ 11.00 e no segundo choque, em 1978, ultrapassou os US$ 30.00 viabilizando o Proálcool, mesmo com subsídios fiscais como incentivo. De lá para cá a produção e o consumo cresceram de forma notável, porém sempre o etanol com

70% do preço da gasolina. Hoje, com o barril de petróleo em preços superiores a US$ 90.00 questionamos se 70% disso não permitiria bons lucros à indústria? Por que o desânimo? Padua – A verdade é que não se praticam esses preços internacionais da gasolina no mercado interno. Essa é a primeira discussão. E ainda, por que houve um grande crescimento da oferta de etanol entre 2004 e 2008? Primeiro, porque a política de preços dos combustíveis no Brasil tinha certa parametrização em relação ao mercado internacional de preços do petróleo. Isso foi corrigido parcialmente ao longo do tempo. Havia um tributo, a Contribuição de Retenção do Domínio Econômico, que, quando foi instituída para regular o mercado de combustíveis, era de R$ 0,28 e isso desapareceu na formação de preços da gasolina na bomba. Esses R$ 0,28 significariam hoje, nos níveis de preços da gasolina, a oportuninovembro 2012 – Agro DBO | 33


Entrevista “O setor vai deslanchar quando conhecer as regras do jogo, quando o governo definir política de preços para os próximos 15, 20 anos”

dade do produtor vender o etanol hidratado em R$ 0,17 melhor do que ele vende hoje. Atualmente, o preço médio praticado do etanol na usina é de R$ 1,03. Em vista do preço de bomba da gasolina, dada a paridade dos preços, que não chegam aos 70%, dada a tributação, dada as margens, não há quem sobreviva ao preço líquido na usina de R$ 1,03. A diferença, entre o R$ 1,03 recebido pelo produtor e o preço médio do etanol na bomba, hoje de R$ 1,80, fica na margem de 30% com que opera o posto, e a distribuidora trabalha com R$ 0,10 a 0,12 de margem. Mesmo em São Paulo, quando se define uma tributação de 12% na bomba, sobre R$ 1,80 – chega a quase R$ 0,22 de tributos por litro. E ainda tem R$ 0,12 de PIS/ Cofins! Soma e tira tudo isso e veja o que sobra para o produtor. Isto em São Paulo, que tem a menor tributação do Brasil, pois nos outros estados a situação é pior. E tem outra coisa, sobre os subsídios, importantíssima nessa questão. O governo federal tinha 34 | Agro DBO – novembro 2012

um programa forte de incentivo no setor, que incentivou a produção. Em 1985 se acabou com isso, com a queda dos preços do petróleo. Ao mesmo tempo em que o governo incentivou com preços viáveis para o etanol, porque o custo era muito alto, o preço do etanol no início do programa era de 49% do preço da gasolina, mas os custos lamentavelmente subiram. Aí, quando a então ministra Dorothea Werneck eliminou todos os incentivos, havia uma paridade de 83% dos preços da gasolina. Como isso foi permitido? Primeiro, porque o etanol tinha uma paridade com os preços do açúcar, era um regime governamental intervencionista, e o setor saiu de 2.600 litros de etanol por hectare, para 7.100 litros/ha. A partir dos ganhos de produtividade no canavial e na indústria, o governo foi retirando os subsídios, até chegarmos a condições de mercado, dada aquela política de precificação da gasolina. Hoje poderia se repetir isso, melhorando a produtividade? Sim, é claro que poderia.

Agro DBO – Onde as usinas podem melhorar a produtividade e rentabilidade? No plantio ou nos processos industriais? E a logística de distribuição? Padua – Em vista das tecnologias que existem hoje temos condições de ter um salto de qualidade na produtividade. Tem variedades, tem cana transgênica, as mudanças do melhoramento genético, encurtando o tempo de melhoramento, que hoje é de 10 ou 12 anos, com desenvolvimento de novas variedades adaptadas para os novos ambientes de plantio, que não são mais em Ribeirão Preto ou Piracicaba, em São Paulo, mas desenvolver variedades para Goiás, Minas Gerais e outras regiões. Temos a fermentação que pode aumentar muito a produtividade, e ainda a previsão do etanol celulósico. As tecnologias para essa melhoria existem, mas precisam ter um custo compatível, além de competitivas com o etanol. O CTC – Centro de Tecnologia da Cana tem projetos que podem triplicar os 7.100 litros/ ha que temos hoje. E quando chegar o etanol celulósico, conforme projeções, poderemos atingir até 12 mil litros/ha. Agro DBO – É procedente a crítica de “concentração” de usinas produtoras de etanol e açúcar (com cerca de 450 usinas no Brasil), ou é uma falácia? Padua – Depende de como se enfoca isso. Se pegarmos a Coopersucar, ela tem 42 usinas em São Paulo, e outras poucas fora do estado. Cada usina é dona da Coopersucar, cada um produz e cada um tem a sua tecnologia, e existe apenas a concentração de comercialização, não é uma concentração de produção. O maior grupo associado, que é o Grupo Zillo,


da Usina da Pedra, não chega a 10 milhões de toneladas. Ou seja, não existe concentração de produção. Agro DBO – Para quando se prevê a produção em escala do etanol celulósico? Padua – O CTC prevê para 2016. Já existe uma planta operacional colocada anexa a uma usina do CTC, aqui em São Paulo, com tecnologia desenvolvida pelo CTC, e que está se mostrando viável na produção em escala, e competitiva nos preços. Agro DBO – A entrada de multinacionais, como investidoras do setor, trouxe quais mudanças político-econômicas? Padua – Não houve grandes alterações. Nenhuma delas mudou o ambiente de produção agrícola. A maior parte assumiu os arrendamentos que

já existiam e manteve os fornecedores, e ninguém comprou terras. Então, o ambiente de produção agrícola basicamente se manteve igual ao do proprietário anterior. Já no ambiente institucional, é evidente, houve mudanças, inclusive na Única. Tudo porque o perfil das pessoas que participam hoje do ambiente da Única é diferente de antes. Hoje temos indústrias de petróleo, temos produtores brasileiros que dependem exclusivamente da cana, alguns dos sócios têm tradings, e outros industriais de outros setores também têm cana... Agora, de todos ali reunidos o interesse e o objetivo continua o mesmo, que é o de ganhar dinheiro com cana de açúcar. Não vejo ninguém interessado em perder dinheiro com cana de açúcar porque ganha dinheiro com outra atividade. Uns têm

muito mais capital para suportar a crise, e outros menos. Todos estão lá reunidos com o interesse de serem remunerados com a atividade da cana de açúcar e de voltar a crescer. O importante é que não dá para perdermos este patrimônio que o país tem, do tamanho do mercado de etanol hidratado que existe hoje, em vista do carro flex. Nós começamos em 2003 com carros na paridade de 60% de consumo de etanol versus gasolina, mas hoje já temos carros com paridade de consumo superior a 70% e aí sim, também precisamos de uma política pública planejada, com metas para a indústria automobilística, de melhorar o consumo de etanol, de torná-lo mais eficiente, e essa também seria uma política fundamental e até mesmo primordial.

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Tecnologia

Receita de campeão O que o produtor rural brasileiro deve fazer para ser um recordista mundial de produtividade em soja e milho?

Kip Cullers mostra sistema radicular de um pé de soja bem nutrido, apesar da seca.

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E

m princípio, deve fazer como Kip Cullers, 47 anos, americano, e plantar soja e milho dentro do figurino dele. O problema está em que este campeão mundial de produtividade em soja e milho não revela em detalhes quais são os seus segredos, afora o fato de que cuida muito bem da parte nutricional de suas lavouras, cultivadas em cerca de 8 mil hectares no condado de Purdy, no estado do Missouri, no Corn Belt americano. Kip Cullers é caboclo do interior, pessoa muito simples, não tem formação acadêmica, mas é um pesquisador nato, e que chegou aos recordes de produtivida-

de de 173 sacos de soja por hectare e de 392 sacos de milho/ha, e ficou conhecido mundialmente. Evidentemente que as médias de produtividade nas lavouras desse produtor rural americano são menores (milho, 292 sc/ha, e soja 112), e correspondem à safra de 2011, pois a atual sofreu com a maior seca dos últimos 70 anos, conforme amplamente noticiado pela mídia, e que alçou os preços dessas commodities a níveis nunca antes vistos. Os recordes de Kip Cullers são de “parcelinhas” de 40 ha, para efeito de demonstração. E nisso ele é campeão mundial faz 10 anos, batendo seus próprios recordes, e por isso mesmo uma


Fotos: Paulo Miguel Nedel

Lavouras de milho de Kip Cullers ficaram amareladas por causa da estiagem (maior estiagem e recordes de temperatura dos últimos 116 anos, desde que começaram a medir). A soja ainda não estava em fase de pré-colheita, e as vagens estavam verdes. O pivô ao fundo irriga parcialmente a área de lavouras, em aproximadamente 300 ha.

espécie de “queridinho” das empresas de insumos, como Pioneer, Du Pont, Monsanto, Basf e John Deere, seus parceiros de longa data, e que o levam como vitrine pelo mundo afora para palestras e demonstrações. Conforme nos revelou o engenheiro agrônomo e agricultor brasileiro, Paulo Miguel Nedel, 37 anos, de Giruá (RS), e que esteve em agosto último visitando as lavouras de Kip Cullers no Missouri, “é impressionante o respeito e reconhecimento dele lá nos EUA”. Nedel diz ainda que “Kip Cullers foi entrevistado pela revista Times e destaque em incontáveis jornais, revistas e TVs, em forma

de entrevistas”. Tanto que a principal palestra na Farm Progress Show 2012 foi a dele, sobre “Manejo para altas produtividades de soja e milho”, organizada pela Pioneer, muito concorrida por quem partiicipou da mostra. Visita ao Brasil Em outubro último Kip Cullers veio ao Brasil, e voltou a encontrar-se com Nedel, que foi convidado a ser seu tradutor em palestras que proferiu por aqui, especialmente no Rio Grande do Sul. “Ajudei”, revela Nedel, “não tanto pelo inglês, mais pela agronomia, e por conhecer esse produtor rural americano”. Um

dos objetivos de Kip Cullers ao visitar o Brasil é o de divulgar os fertilizantes foliares que está produzindo, com formulações especiais, criadas e aperfeiçoadas por ele mesmo ao longo dos últimos anos, para atender necessidades nutricionais de soja, trigo, milho, feijão, arroz, cana e citros. Nedel explica que Kip Kullers tem duas fábricas em São Paulo, na região de Orlândia, em sociedade com empresários do setor agrícola, mas “isso é hobby pra ele, pois a área dele nos EUA é de 8 mil ha, sendo 6 mil ha de milho e 2 mil ha de soja”. Miguel Nedel confidenciou para a redação da Agro DBO que “ele me falou lá novembro 2012 – Agro DBO | 37


Fotos: Paulo Miguel Nedel

Tecnologia

Cullers mata a cobra e mostra o milho (acima, espiga de 26 cm e “túnel” limpo, com plantas de grande porte; ao lado, raízes bem alimentadas).

Espigas formadas conforme a regra de ouro do bom agricultor: “deve-se produzir milho, não sabugo”.

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nos EUA: Miguel, o que me deixou famoso foram esses recordes mundiais sucessivos por 10 anos, mas o que me deixou rico são as médias de produtividade nos meus 8 mil ha de lavoura”. Nedel explica ainda que Kip Cullers tem uma atuação muito diversificada: tem ainda produção de vegetais e de frango, e quem cuida é a Michele, esposa dele. Nas palestras proferidas no Brasil, Kip Cullers mostra genuína preocupação com a produção de alimentos para atender as necessidades dos atuais 7 bilhões de habitantes do planeta. Ele consi-

dera o Brasil um país privilegiado pelos nossos níveis de insolação, que possibilitam um período mais longo de fotossíntese. Mas Kip Cullers demonstra sua sede por conhecimento, ao conversar sempre que pode com agricultores brasileiros, pois, conforme diz ele, “está sempre aprendendo com as trocas de ideias e experiências de cada um”. Nesse sentido Kip Cullers nem parece americano, pois divide com outros, com vizinhos ou quem o visita, as tecnologias desenvolvidas, à exceção da fórmula secreta de seus fertilizantes foliares, evidentemente. Na experiência dele, está a convicção de que o sistema radicular é a parte mais importante de todas as plantas, já as folhas devem fazer o seu melhor para absorver a energia solar. Por isso, suas pesquisas práticas sempre procuraram fortalecer as raízes para propiciar saúde às plantas, que costumam exibir sua saúde num tom de verde mais forte e mais escuro, sempre que bem tratadas no aspecto nutricional, além de mais resistentes às doenças e pragas. Paulo Miguel Nedel, além de terras em Giruá, planta em São Borja, também no Rio Grande do Sul e em Formosa, Goiás. No RS planta soja, trigo, milho e aveia.


Um dos fundamentos da metodologia de Kip Cullers é a convicção de que o sistema radicular é a parte mais imporante das plantas.

Em GO tem ainda muito feijão. No trigo, no RS, obteve 9 sacos a mais por ha com adubação foliar usando o sistema de Kip Cullers. Nedel explica que tem MBA em fisiologia das plantas, seu pai e avô foram agricultores, e que a família tem quase meio século de tradição como produtores rurais. Formulações secretas A fórmula é segredo de estado, Kip não divulga, e segue a legislação brasileira, pois divulga apenas os elementos usados, com as quantidades expressas na “garantias mínimas” da composição. As formulações foram obtidas depois de muitas experiências de Kip, que, mesmo sem formação acadêmica, é muito compeente em suas observações e estudos práticos. Nedel obtém em soja, no RS, média de 60 a 65 sc/ha e em GO de 68 sc/ha. Já em milho tem 200 a 220 sc/ha em GO e 120 sc no RS, em anos normais. Nedel usa bioestimulantes, como o Stimulate, da Stoller, e garante que está muito satisfeito. E está experimentando algumas das fórmulas exclusi-

vas desenvolvidas por Kip Cullers nos EUA. Nedel possui ainda uma empresa de aviação agrícola em Luziânia (GO), com 5 aeronaves pulverizando, que chegam a tratar mais de 100 mil ha por ano. Kip Cullers já veio ao Brasil diversas vezes e, na mais recente, em outubro último, veio a convite da empresa Camera, que é uma rede com 40 anos de atividades, 60 filiais no estado do RS, tem 1.800 funcionários, e comercializa sementes, defensivos e fertilizantes. José Alberto Nunes da Silva, engenheiro agrônomo e secretário executivo da Abisolo – Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal, diz que Kip Cullers segue a legislação brasileira ao “manter o segredo industrial” de suas fórmulas. Ele é obrigado a citar todos os ingredientes utilizados, diz Nunes da Silva, informando nos rótulos as garantias mínimas de conteúdo, que não são exatamente nas mesmas proporções da mistura, esta sim, considerada uma fórmula secreta. Como é fácil perceber, para tornar-se um

Pé de milho de sete espigas (no geral, se produz de 3 a 4) e pé de soja carregado de vagens.

Nedel ainda produz pouco, comparativamente, mas já está experimentando fórmulas de Cullers.

campeão mundial de produtividade como Kip Cullers, basta seguir suas recomendações de usos de tecnologias, num total superior a 40 itens, e, em destaque, os cuidados especiais com a nutrição das plantas. Texto de Richard Jakubaszko, com base em depoimentos do engenheiro agrônomo e agricultor Paulo M. Nedel.

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Milho

Manejo de doenças na lavoura Olímpio Filho

A incidência dos patógenos está relacionada à evolução dos sistemas de produção no Brasil. A cada safra, surgem novos problemas.

Luciano Viana Cota, Rodrigo Veras da Costa, Dagma Dionísia Silva *

N

* Os autores são pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo

os últimos anos, notadamente a partir do final da década de 1990, as doenças têm se tornado uma grande preocupação por parte de técnicos e produtores envolvidos no agronegócio do milho. Têm sido frequentes, nas principais regiões produtoras do país, relatos de perdas de produtividade devido ao ataque de patógenos (microrganismos causadores de doenças). Nesse contexto, vale destacar a severa epidemia de cercosporiose ocorrida na região sudoeste do estado de Goiás no ano 2000, na qual foram registradas perdas superiores a 80% na produtividade. É importante entendermos que a evolução das doenças do milho está estreitamente relacionada à evolução do sistema de produção da cultura no Brasil. Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da produtividade, foram também responsáveis

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pelo aumento da incidência e severidade das doenças. Desse modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de culturas e o uso de materiais suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura, relacionados à ocorrência de doenças. Dentre as doenças que atacam a cultura do milho no Brasil, merecem destaque a mancha branca, a cercosporiose, a helmintosporiose, a ferrugem polissora, a ferrugem tropical, a ferrugem branca, os enfezamentos vermelho e pálido, as podridões de colmo e os grãos ardidos. Além dessas, nos últimos anos, algumas doenças consideradas de menor importância têm ocorrido com elevada

severidade em algumas regiões produtoras, como a antracnose foliar e a mancha foliar de diplodia. A importância dessas doenças é variável de ano para ano e de região para região, em função das condições climáticas, do nível de suscetibilidade das cultivares plantadas e do sistema de plantio utilizado. No entanto, algumas dessas doenças são de ocorrência mais generalizada nas principais regiões de plantio, como é o caso da mancha branca. As doenças que ocorrem na safra de verão são as mesmas que ocorrem na safrinha e com o mesmo grau de importância. Não há distinção entre elas. As condições ambientais de cada safra podem influenciar na ocorrência das doenças, a exemplo do que ocorreu com a ferrugem polissora na região sul do Brasil na safra 2009/2010. As principais medidas recomendadas para o manejo de doenças na cultura do milho são: 1) utilização de cultivares resistentes; 2) plantio


Controle químico A mais atrativa estratégia de manejo de doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma vez que o seu uso não exige nenhum custo adicional ao produtor, não causa nenhum tipo de impacto negativo ao meio ambiente, é perfeitamente compatível com outras alternativas de controle e é, muitas vezes, suficiente para o controle da doença. Nos últimos anos, a utilização do controle químico está cada vez mais comum na cultura do milho. Os resultados de pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo e outras

Fotos: Luciano Viana Cota

em época adequada, de modo a se evitar que os períodos críticos para a cultura não coincidam com condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença; 3) utilização de sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas; 4) rotação com culturas não suscetíveis; 5) rotação de cultivares; 6) manejo adequado da lavoura – adubação equilibrada (N e K), população adequada de plantas, controle de pragas e de plantas invasoras e colheita na época correta. Essas medidas, além de trazerem um benefício imediato ao produtor por reduzir a população dos patógenos presentes na lavoura, contribuem para uma maior durabilidade e estabilidade da resistência genética presente nas cultivares comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos.

instituições demonstram que o uso de fungicidas tem se mostrado uma estratégia viável e eficiente de manejo de doenças na cultura do milho. Entretanto, alguns fatores devem ser observados para que a relação custo/ benefício seja positiva, ou seja, para que o benefício do controle das doenças com o uso de fungicidas seja superior ao custo da sua utilização. Dentre esses fatores, destacam-se: o conhecimento das principais doenças que ocorrem tanto em nível regional quanto na propriedade, o nível de resistência das cultivares às principais doenças, as condições de clima durante o período do ciclo da cultura, o sistema de produção (plantio direto, rotação de culturas, etc.) e a disponibilidade de equipamentos para pulverização. O uso de fungicidas na cultura do milho é recomendado nas situações de elevada severidade de doenças, que são resultantes da com-

binação de todos, ou alguns, dos seguintes fatores: uso de genótipos suscetíveis, condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças, plantio direto sem rotação de culturas e plantio continuado de milho na área. Tem sido demonstrado que alguns fungicidas, notadamente aqueles pertencentes ao grupo das estrobilurinas, apresentam efeitos que vão além do controle de doenças, denominados de efeitos fisiológicos. Dentre esses efeitos, estão: maior resistência a vários tipos de estresses, como o nutricional e seca; aumento da capacidade fotossintética; redução da respiração foliar; e maior eficiência do uso de água. Os estudos sobre os efeitos fisiológicos de fungicidas foram bem desenvolvidos na cultura da soja. No milho, entretanto, esses efeitos não têm sido tão evidentes, sendo detectada, em algumas situações, menor produtividade em áreas pulverizadas com

Exemplos de patógenos da cultura do milho: mancha branca (acima, à esquerda), helmintosporios e mancha turcicum 1.

Plantas atacadas por cercosporiose (primeira foto), ferrugem polissora (foto do meio), helmintosporios e mancha turcicum 2 (foto ao lado).

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Décio Karam

Milho

Aspersão de fungicida na lavoura: de maneira geral, não se recomenda aplicação para cultivares resistentes.

fungicidas quando comparadas a áreas não pulverizadas. Desse modo, mais estudos são necessários para definir a existência e a magnitude dos efeitos fisiológicos de fungicidas em plantas de milho. Por outro lado, considerando também a possibilidade de surgimento de populações de patógenos resistentes às moléculas fungicidas, em função do seu uso intensivo, e os efeitos negativos desses produtos ao meio ambiente, é coerente enxergarmos os fungicidas como ferramenta importante, especificamente para o manejo de doenças, e buscarmos elevar os níveis de produtividade da cultura através de melhorias e adequações em seu sistema de produ-

ção. No processo de tomada de decisão sobre a necessidade de aplicação de fungicidas na cultura do milho, o primeiro fator a ser observado é o nível de resistência da cultivar em relação às principais doenças presentes na região e na propriedade. De modo geral, não se recomenda a aplicação de fungicidas para cultivares resistentes. Outro fator importante a ser considerado para a tomada de decisão, tanto da necessidade de aplicação quanto da escolha do produto a ser utilizado, é a ocorrência, normalmente de modo simultâneo, das doenças no campo, o que pode influenciar a eficiência da aplicação. Por exemplo, os fungicidas do gru-

po químico dos triazóis apresentam baixa eficiência no controle da mancha branca, doença de ampla ocorrência nas principais regiões produtoras do país. Desse modo, para garantir maior eficiência das aplicações, é fundamental a realização do monitoramento da lavoura na fase de pré-pendoamento, antes da aplicação do fungicida. Considerando que as folhas acima da espiga contribuem em média com mais de 90% da produção das plantas de milho e que as doenças foliares, na sua maioria, aparecem inicialmente nas folhas baixeiras e progridem em direção às superiores, a folha abaixo da folha da espiga representa uma boa referência para a realização de inspeções de campo. A presença de sintomas de doenças nessa folha, em cultivares suscetíveis, associada a condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças, representa uma indicação de aplicar fungicidas. Quanto à decisão sobre a melhor época de aplicação de fungicidas para o controle de doenças na cultura do milho, dois pontos devem ser considerados: 1) a fase do ciclo da cultura na qual as plantas são mais sensíveis ao ataque de patógenos; 2) o período de ocorrência das principais doenças. Na fase compreendida en-

Novas opções no mercado de sementes Na safra 2012/13, os produtores rurais têm à sua disposição 479 cultivares de milho (dez a menos do que na safra anterior), das quais 263 são convencionais e 216, transgênicas. O levantamento foi feito pelos pesquisadores José Carlos Cruz e Luciano Rodrigues Queiroz, da Embrapa Milho e Sorgo, e Israel Alexandre Pereira Filho, bolsista pós-doutorado da Capes/PNPD/Embrapa, com base no Zoneamento Agrícola, informações de empresas produtoras de sementes, materiais de divul-

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gação e promoção das empresas do ramo, da própria Abrasem e outras fontes. De acordo com o estudo, entraram no mercado 87 novas cultivares transgênicas (42 deixaram de ser comercializadas) e apenas seis cultivares convencionais (61 não são mais oferecidas). Considerando todas as cultivares (transgênicas e convencionais), 60,96 % são híbridos simples; 21,50%, híbridos triplos; 10,23%, híbridos duplos; e 7,31% são variedades. Predominam as culti-

vares de ciclo precoce (70,98%), seguidas pelas de ciclo superprecoce ou hiperprecoce (22,33%). As de ciclo semiprecoce e as normais representam apenas 6,69%. Dentre as cultivares transgênicas, 78,24% são híbridos simples, e o restante (21,76%), híbridos triplos. Quanto às convencionais, 46,77% são híbridos simples; 21,29%, híbridos triplos; e 17,49%, híbridos duplos. O restante compõe-se de uma cultivar “top cross” e dois híbridos intervarietais.


Luciano Viana Cota

Nos últimos anos, doenças consideradas de menor importância têm ocorrido com elevada severidade em algumas regiões

Dois casos de incidência de podridão (na espiga e nos colmos): produtires devem ter conhecimentos sobre as doenças que ocorrem tanto em nível regional quanto na propriedade.

tre o pendoamento e grãos leitosos, as plantas de milho necessitam do máximo de sua capacidade fotossintética para a formação e enchimento dos grãos. Nessa fase, qualquer fator que interfira negativamente reduzindo a área foliar e, consequentemente, a capacidade fotossintética, resulta em reduções significativas na produtividade de grãos. Essa é a fase crítica para a cultura do milho e que deve ser considerada quando se pretende proteger as plantas via aplicação de fungicidas. Se considerarmos que o período residual máximo dos fungicidas dos grupos das estrobilurinas e triazóis está em torno de 15 a 20 dias e que a fase de enchimento de grãos no milho dura em média 60 dias, deve-se ter cuidado com as aplicações realizadas muito cedo, ainda na fase vegetativa da cultura (como exemplo, no estágio de oito folhas, como é feito nas aplicações com pulverizadores de arrasto), pois quando as plantas realmente necessitarem da proteção química, os produtos não estarão mais efetivos. Por outro lado, é necessário considerar também o momento do aparecimento das doenças na la-

voura. Algumas doenças, como as ferrugens e, em algumas situações, a mancha branca, podem incidir ainda na fase vegetativa da cultura e, numa situação de uso de cultivares suscetíveis e de predominância de condições ambientais favoráveis, o controle químico deve ser considerado de modo a evitar que elevados níveis de doenças alcancem as folhas acima da espiga na fase de florescimento da cultura. Fica, portanto, evidente que a época ideal para a realização das aplicações de fungicidas na cultura do milho depende de um monitoramento da lavoura que deve ser iniciado ainda na fase vegetativa da cultura e todos os aspectos acima mencionados devem ser considerados para a tomada de decisão. Eficiência de manejo A disponibilidade de equipamentos para pulverização é outro fator que influencia a eficiência do manejo de doenças na cultura do milho através de fungicidas. De modo geral, os equipamentos utilizados são os pulverizadores de arrasto, principalmente em pequenas propriedades, e autopropelidos, e aeronaves, em grandes propriedades. No

caso dos pulverizadores de arrasto, as pulverizações podem ser realizadas em plantas com até 100 cm de altura, aproximadamente, ou seja, por volta do estágio de oito a nove folhas definitivas. Nesse caso, deve-se dar preferência para o plantio de cultivares que apresentem bom nível de resistência às principais doenças, pois, em situações de condições favoráveis ao desenvolvimento das doenças e uso de cultivares suscetíveis, a aplicação de fungicidas muito cedo provavelmente será insuficiente para o controle adequado das doenças, com consequentes perdas de produtividade. Os equipamentos autopropelidos, cuja altura de eixo é de, aproximadamente, 120 cm, permitem a realização de aplicações em fases mais avançadas do ciclo, quando comparados aos pulverizadores de arrasto. As pulverizações realizadas com aviões, embora apresentem um custo mais elevado, não apresentam as limitações mencionadas anteriormente e os resultados de trabalhos de pesquisa têm mostrado que a eficiência dessa modalidade de aplicação é equivalente àquela observada nos pulverizadores terrestres. novembro 2012 – Agro DBO | 43


Marketing da terra

A sustentabilidade do agricultor Richard Jakubaszko

Pesqueiro em São Paulo: Além de agregar valor aos produtos, o marketing pode agregar valor à propriedade

N

o marketing do produtor rural, há três caminhos muito bem definidos para que se consiga a sustentabilidade do ponto de vista econômico, ou seja, a agregação de valor ao que se produz. A primeira é a fixação de objetivos para o aumento da produção através da melhoria da produtividade. Esta, por sua vez, exige investimentos em tecnologias, melhoria nos processos de gestão e produção, como o manejo, escolha de tecnologias adequadas, colheita, armazenamento, logística do transporte, e implica sempre em reduzir custos e maximizar lucros. E ainda cuidados especiais nos investimentos em novas tecnologias, geralmente de custos mais elevados, pois nem sempre essas tecnologias funcionam de forma igual para todos.

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Justamente por serem tecnologias novas sempre algo poderá dar errado, e todo cuidado é pouco. Entretanto, o mundo precisa de comida. Para produzir mais alimentos, espera-se o aparecimento de novas tecnologias salvadoras da pátria, para aumentar a produtividade, mas salvo um ou outro produto pontual, em especial nos agroquímicos, ou estimulando especialmente a fisiologia das plantas, através de bioestimulantes, por exemplo, não existe uma perspectiva concreta de algo novo no curto prazo. Poderemos ter aperfeiçoamentos e avanços pontuais em máquinas, novos cultivares, quem sabe alguma evolução dos transgênicos, e ainda novas técnicas de manejo, mas nada significativo ou excepcional se vislumbra no horizonte. Daqui pra frente o aumen-

to da produção terá de ser pela incorporação de novas áreas (com as limitações impostas pelo Código Florestal) e pela melhoria das nossas produtividades médias, que ainda andam baixas perto das médias americanas e argentinas. Será ver para crer. A segunda alternativa para a sustentabilidade do produtor rural está em diversificar atividades, ou seja, abrir o leque em termos de plantios diferentes, maximizando o uso das terras disponíveis. Evidentemente que os maquinários precisam ser compatíveis para as múltiplas atividades dessa diversificação, mas isso nem sempre é obrigatório. A diversificação objetivada deve garantir renda em épocas diferentes do ano agrícola, e reduzir os riscos de desastres financeiros, pois uma das atividades poderá ter ano ruim, por problemas de mercado ou de clima, mas a outra ajuda o produtor a se recuperar mais rapidamente. Agregando valor pelo marketing A terceira alternativa cabe sempre em qualquer das situações acima citadas, e implica em se fazer marketing, seja em termos individuais ou coletivos, em parceria com outros produtores da região, para agregar valor ao que se produz e se vende. Assim, só através do marketing se poderá agregar valor ao que se produz. Os produtores devem a todo custo procurar sair do círculo vicioso existente, pois quando compram perguntam “quanto custa”, e quando vendem perguntam “quanto quer pagar”. É uma atividade passiva, e que em nada contribui para a sustentabilidade do setor. Para fazer marketing, a premissa básica é trabalhar com profissio-


nais da área, dispense-se os amadores e os de pouca prática. Dão mais prejuízo, pois os investimentos para que se possa fazer um bom ou mau marketing custa quase a mesma coisa. A segunda premissa é que o produto que se pretende vender com maior valor agregado pressupõe sempre a existência de um diferencial desejado pelo mercado, ou que o mercado consumidor valorize. Mesmo em commodities isso é possível de se fazer através de um marketing competente. Esses diferenciais podem estar na qualidade em si do produto, na sua aparência ou sabor, enfim, em algo tangível, que o consumidor perceba de forma clara essa diferença, para que se disponha a pagar um valor a mais.

ção de um pesqueiro, a ser oferecido aos urbanos, ou de criação de cachorros de raça, seja de cães de guarda como de companhia, que agradam profundamente o público urbano. Ou espaços para cavalgar, chalés turísticos para fim de semana, degustação de comidas regionais. Tudo isso é parte do rural, possui apelos emocionais fortes junto ao público urbano, o que já é uma garantia prévia de sucesso, mas só deve ser feito quando o produtor rural está com a poupança positiva e sem dívidas e pode financiar a nova atividade com recursos próprios. Iniciativas de diversificação que exigem alta especialidade na nova atividade devem ser planejadas com tempo e em profundi-

O marketing funciona muito bem, e traz notáveis resultados na agregação de valor. Uma diferença real, do ponto de vista do consumidor, é a de se ofertar produtos sazonais fora de época tradicional, por exemplo, disponibilizar ao mercado durante o inverno uma fruta que só se produz de forma tradicional durante o verão, ou vice versa. Se a região de origem tiver a mesma característica de produzir esses produtos, e com qualidade, temos nesse exemplo a típica oportunidade de se criar uma IG, conhecida como Indicação Geográfica, o que necessitaria esforços coletivos dos produtores dessa região para o registro e depois divulgação dessas qualidades diferenciadas. Estas são apenas algumas estratégias que garantem agregação de valor. Há que se considerar ainda a produção de produtos diferenciados que não façam parte diretamente do dia a dia dos produtores, apenas como objetivo de diversificar atividades e renda. São estratégias que estariam interligadas ao meio rural, especialmente pela localização, seja a instala-

dade, talvez procurando um sócio que seja especialista, porém sem recursos próprios. Seria o caso da criação de cachorros ou de turismo na fazenda, ou mesmo de uma estufa para produção de hortaliças. A existência de um sócio com amplos conhecimentos no novo negócio reduz previamente a chance e o perigo de tomar decisões estratégicas consideradas como erros primários, típicos de novas atividades. Enfim, como cada região do país possibilita um leque interessante de alternativas possíveis, há que se pensar estrategicamente nas possibilidades existentes. Como já registramos antes neste mesmo espaço, o marketing é a ciência das diferenças. Melhor explicando essa “teoria”: o marketing funciona muito bem, e traz notáveis resultados, especialmente quando se propõe divulgar a existência de um produto ou serviço que já contenha em si um diferencial qualitativo, aceito e conhecido pelos consumidores, mesmo que sejam commodities. novembro 2012 – Agro DBO | 45


Soja

Plantio cruzado

Vale ou não vale?

Produtores mostram que a técnica é promissora, mas o custo é alto. Por enquanto, o caminho para aumentar a produção é o adensamento Marianna Peres

Lavoura em Mato Grosso: o cruzamento de linhas foi usado por vencedores do Desafio Cesb de Produtividade

E

m busca de maior produtividade na lavoura, os sojicultores brasileiros estão arregaçando as mangas e se antecipando aos resultados da pesquisa científica. Atrás de respostas satisfatórias no campo, eles estão desafiando os estudiosos no assunto a encontrar meios que multipliquem a produção e, consequentemente, a rentabilidade, sem a necessidade de expansão de áreas. A adoção maciça de tecnologias de ponta nos últimos anos em sementes, máquinas, equipamentos e agroquímicos deixou um vácuo justamente na essência do negócio da soja – o plantio. E é o produtor,

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arriscando parcelas de seus investimentos – e deixando de lado o comodismo do segmento com técnicas de semeaduras consolidadas e, para muitos, imutáveis – quem está mostrando que é preciso redesenhar o compasso das plantadeiras para que a produtividade aumente em pelo menos 20%. Buscando uma solução “caseira”, o sojicultor Leandro Sartoreli Ricci, de Mamborê (PR) está fazendo história: é um dos pioneiros da nova revolução que está nascendo Brasil afora atrás de mais e mais sacas por hectare. Ele foi o primeiro vencedor do “Desafio Nacional de Máxima Produtividade”, promovido pelo

Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil. Na safra 2009/10, colheu 108,4 sacas por hectare (ha) no sítio Santo Antônio ao cultivar 84 hectares. Na temporada seguinte, colheu 100,4 sacas. Esse ganho de 54% (frente ao rendimento médio de 70 sacas/ha) foi fruto de testes com plantio cruzado, técnica que possibilita o aumento da população das plantas na mesma área e que se transformou em um marco, já que a partir daí, coincidência ou não, os ganhadores do Cesb também adotaram o sistema de cruzamento de linhas em parcelas de suas fazendas. Ricci, de 32 anos, foi pioneiro ao provar que a distribuição das semen-


José Medeiros

desenho, as lavouras perdem as tradicionais linhas paralelas para dar lugar a um ‘tabuleiro de xadrez’. De acordo com quem já experimentou a técnica, por meio do plantio nas duas direções cabem mais plantas, sem que uma sufoque a outra. No entanto, é preciso estar atento à variedade usada, que não pode acamar e nem ter folhas muito grandes. O plantio direto e cultivares mais eretas dão bons resultados, já que plantar duas vezes na mesma área leva mais tempo do que na maneira usual. Ricci explica que, entre receitas e despesas, teve lucro de 10 sacas por alqueire, ou cerca de 5 sacas/ha. Nesta temporada (safra 2012/13), no entanto, não está cruzando as linhas porque a entrega de sementes atrasou e ele, como dez entre dez produtores nacionais de grãos, está de olho na segunda safra. “Estou com pressa e, por isso, não vou plantar cruzado, mas vou adensar as linhas e aumentar a população de plantas”, diz.

tes e o arranjo espacial das plantas característico do plantio cruzado – receita que não tem a recomendação de nenhuma entidade de pesquisa e varia de propriedade para propriedade – rendem resultados, apesar dos problemas inerentes ao adensamento. No caso dele, o retorno foi de 38 sacas a mais por hectare, ou como gosta de frisar, “90 sacas a mais por alqueire”. A “invenção” de plantar cruzado não tem nada de fenomenal, segundo ele. “É plantar duas vezes a mesma área”, explica. Nesse sistema, a plantadeira passa em direções opostas formando “quadrados”, o que faz com que haja muito mais pés de soja por hectare. Neste novo

Cuidados essenciais Tradicionalmente, a tecnologia de semeadura consagrada (remonta há 30 anos) é o plantio com 50 centímetros (cm) de distância. Muitos agricultores plantam, porém, com espaçamento de 22,5 a 25 cm. Atualmente, há ensaios nada científicos com 17. Ricci usou no plantio cruzado a cultivar 3358 RR da Syngenta, resistente ao acamamento e com ciclo de 120 dias. Outra precaução foi antecipar a aplicação de fungicidas, para que as plantas, antes de se fecharem – pela proximidade uma das outras – estivessem protegidas com esse reforço químico. “No cruzado não podemos deixar pragas e doenças se instalarem”, avisa. Ele não esconde que a técnica é extremamente trabalhosa, porque requer cuidados adicionais, como não afundar demais a semente plantada e investir pesado na adubação. “Seguimos a lógica. Se aumentamos a população, temos de aumentar também a nutrição, o adubo”. O uso de potássio passou de 300 quilos na cobertura tradicional, para

600 quilos no cruzado. Ricci lembra que, da safra passada para a atual, a tonelada do adubo subiu de R$ 800 para R$ 1,2 mil, e a saca de R$ 78 para R$ 60. Em 2012, o vencedor do Desafio Cesb na região sudeste foi Frederik Jacobus, de 29 anos, da fazenda Ponte Alta, em Itararé (SP), com 83,9 sacas/ha. Jacobus – em pleno plantio da nova safra – contou que 10 ha dos seus 1,4 mil foram reservados, tanto no ano passado quanto neste, ao plantio cruzado. A parcela experimental rendeu 84 sacas, ante 95 em outra área sem cruzamento de linhas, mas com população de plantas aumentada pelo adensamento do espaço. A média com semeadura tradicional foi de 66 sacas. A operação de plantio direto teve custo de R$ 70, mais R$ 60 com sementes e R$ 100 com adubo por ha. Fora isso, o tratamento fitossanitário exigiu, ao invés de 150 litros por aplicação de químicos, aumentou para 200 litros. Jacobus admite que, no experimento com plantio cruzado, não escolheu a variedade adequada – preferiu não revelar a cultivar porque, segundo ele, ela tem qualidade mas não indicação para espaçamentos menores – e por isso houve engalhamento e concorrência entre as plantas, o que impediu melhores condições de desenvolvimento. “Na área com maior população, sem cruzar, a melhor distribuição de plantas favoreceu e gerou melhor resultado, mesmo com população aumentada”. O estado de Mato Grosso, maior

Frederik Jacobus obteve melhores resultados com adensamento em áreas não cruzadas

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Claudinei Kappes/Fundção MT

Soja

A semeadura deve ser feita sem interrupções, para evitar que algumas linhas germinem antes das outras

produtor de soja do Brasil e que tem projeção de bater seu próprio recorde e oferecer 24,13 milhões de toneladas de soja nesta safra, ainda não tem um representante no desafio do Cesb, mas tem experimentos com plantio cruzado, como os dois que mostramos a seguir: um, deu certo; o outro não surtiu o efeito desejado. O catarinense Avelino Gasparin, radicado na região de Lucas do Rio Verde (360 quilômetros ao norte de Cuiabá) desde 1977, destinou 25 dos

420 ha da fazenda São Francisco ao plantio direto na safra 2011/12 e colheu 70 sacas, 12 a mais do que no sistema tradicional (numa temporada em que a média mato-grossense foi de 50 sacas/ha). Os custos aumentaram 20% – ele colheu 70 sacas e “gastou” 58. Gasparin usou a cultivar TMG 132 RR, que, segundo ele, respondeu bem ao adensamento. Sobre tratamento fitossanitário, disse não ter tido dificuldades. “As variedades precoces são menos suscetíveis a pra-

gas e doenças”. Apesar da avaliação positiva, ele não persistiu no plantio cruzado na temporada 2012/13 “por imposição do clima”. Como o plantio teve início sob um regime bom de chuvas no médio norte mato-grossense, não teve tempo de cruzar a área. “Preciso de uns três dias de estiagem para poder plantar tudo no cruzado sem que as primeiras linhas germinem antes das outras. Qualquer agressão à semente põe tudo em risco. Para o cruzado, a gente planta uma parte, não molha a região cultivada e depois tudo nasce junto”, explica. Mesmo sem o cruzado, Gasparin também está reduzindo o espaço entre as plantas para aumentar a população da mesma área e, assim, ganhar em produtividade, mesmo com custos maiores. Aos 62 anos, segue ávido por experimentos que possam ampliar a produção em uma equação que supere, em pelo menos duas vezes, a despesa exigida pela intensificação da operação agrícola. “Cruzando linhas ou não, sabemos que o aumento na população das plantas é o caminho para se produzir mais”. Se para Gasparin foi o clima que impediu seu segundo ano consecutivo de plantio cruzado, para o produtor Antônio Galvan foram os resultados

Proposta: repensar a agricultura. O engenheiro agrônomo que ajudou Leandro Ricci na obtenção da máxima produtividade com soja cruzada, Vitor Colman Otano, afirma que, na comparação com cultivo tradicional, há de fato maior rendimento por hectare no cruzado, “mas não há pesquisa pública voltada para os seus resultados”. Em sua opinião, chegou a hora de repensar no novo modelo e, mais que isso, pensar na agricultura de forma micro – atendendo regiões dentro de um mesmo estado – e não mais de maneira macro. “Sem

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isso, ficaremos limitados em relação aos ganhos dentro de campo”. O gerente geral da Fundação ABC, de Castro (PR), Eltje Jan Loman, concorda que o sistema cruzado não é o mais viável, mas abriu caminho na pesquisa. Nos dois últimos anos, vários experimentos nas regiões produtoras mostram ganhos de produtividade entre 4% e 10% somente com arranjo diferente de plantas sem ampliar muito a população, reduzindo o espaçamento e sem intensificar adição de adubos. “Oitenta por cento dos re-

sultados têm mostrado rendimento superior médio de 5% a 6%, com registros de 4% a 10%. Faltam resultados amplos, mas é um indicativo de que estamos no caminho certo”. Loman acredita que em cerca de dois anos, o cruzamento de linhas possa ter recomendação para a sua região de abrangência, do município de Castro até São Paulo. “O segredo do sucesso está na regionalização da pesquisa”. Ele acredita que a ciência trará soluções mais baratas e práticas de plantio visando aumento de produtividade.


Hoje em dia existem mais perguntas do que respostas ao comportamento do plantio cruzado em grandes extensões forma tradicional. “Minha média na safra passada ficou abaixo de 50 sacas porque tive muito problema com a ferrugem asiática. Mas, comparando as duas técnicas com cultivares precoces, vê-se que o ensaio não me gerou retorno”. Ele também preferiu não revelar a variedade usada no experimento. O insucesso de Galvan não corroeu suas iniciativas em busca de produtividade, mesmo deixando de lado o cruzado. Em pleno plantio na fazenda Dacar, quando conversou com a Agro DBO, estava utilizando o máximo de tecnologia que detém em máquinas e insumos e, por sua conta e risco, reduzindo o espaçamento da lavoura. Cerca de 300 ha, ou 15% da área total destinada à leguminosa, estava sendo semeada com 25 cm de distância entre linhas, “mesmo sob uma plantadeira que não permite uma redução tão abrupta de espaçamento”. Galvan compensa a limitação da plantadeira com o uso de GPS e do piloto automático do trator. “Sem essas tecnologias eu não conseguiria ser preciso, já que planto uma linha e, na volta, a má-

quina calcula a metade do espaço e volta semeando. Por isso, consegui reduzir para 25 cm. Essa regulagem permite passar no meio do que foi plantado. Não só eu, como muitos, estamos indo além do cruzamento de linhas, para achar uma nova receita que possibilite o tão sonhado ganho de produtividade”. Janela aberta Apesar da satisfação com os ganhos em produtividade possibilitados pelo cruzamento, os produtores são unânimes em dizer que esse sistema não pode ser usado em toda a propriedade devido ao alto custo e à morosidade que imporia aos trabalhos no campo. Além disso, a técnica ainda é considerada uma experiência e, não, uma recomendação agronômica – justamente pela ausência de mais informações – e que existem mais perguntas do que respostas ao comportamento do plantio cruzado em grandes extensões. Agro DBO conversou com autoridades no assunto na Embrapa Soja, Fundação ABC, Fundação MT, Cesb, Aprosoja/MT, Aprosoja Brasil e com

Case/Divulgação

da safra passada que o demoveram da ideia de um ‘bis’ no ciclo recém-iniciado. A menos de 300 quilômetros de Lucas do Rio Verde, no município de Vera, o saldo dos ensaios na fazenda Dacar “não correspondeu à expectativa”, como sintetiza o próprio produtor. Galvan deixa claro que o problema não está no método de cruzar as linhas e, sim, na escolha errônea da variedade. “Eu utilizei uma que dá muitas folhas e, portanto, aumenta a sombra entre as plantas, e sabemos que sem luz adequada não há desenvolvimento satisfatório. Nas áreas em que cruzei, obtive menos sacas em comparação às outras porções onde segui a técnica tradicional, é claro, sempre comparando resultados de precoce com precoce”. Considerando o aumento dos custos – e a trabalheira a mais na lavoura – o cruzado tem de ampliar “em pelo menos 15%” a produtividade. “Perdemos tempo para plantar talhões duas vezes, com gastos maiores em óleo diesel, sementes, adubos”., justifica. Dos dois mil ha cultivados com soja, Galvan reservou 130 para o cruzamento de linhas e colheu média de 57 sacas, ante 60 sacas semeadas de

Na opinião de Antônio Galvan, a produtividade no cruzado tem de ser pelo menos 15% maior do que no sistema convencional (ao lado), para compensar os custos de produção.

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Soja Além dos resultados a campo, é preciso avaliar a sustentabilidade ambiental, fitossanitária e econômica no sistema de plantio cruzado. agrônomos, e ninguém recomenda cientificamente o cruzamento. Produtores e pesquisadores afirmam que o plantio cruzado abriu uma janela para se buscar novo – e necessário – desenho na maneira de plantar. Mudança estrutural O pesquisador de Manejo de Solo e Cultura da Embrapa Soja, Sérgio Procópio, sentencia: “o plantio cruzado é e será, por um tempo, apenas um experimento, mesmo já revelando resultados promissores. A avaliação é de longo prazo e a curiosidade do produtor é sempre bem-vinda”. Segundo ele, o plantio exige duas operações da plantadeira na mesma reta e isso, em grande escala, pode atrasar o plantio. Os relatos mostram que há aumento de consumo de sementes e que a intensificação das plantas vai sugar o máximo o que a terra tem. “Essa maior movimentação no solo vai compactar mais? Deixa-o mais suscetível à erosão? As sementes precisarão de mais tratamento? Para a realidade de

Mato Grosso, onde o relevo é plano, temos um resultado. “E no Paraná, onde o plantio se dá morro abaixo? E o tratamento fitossanitário? Muitas plantas juntas vão permitir a distribuição igualitária das aplicações até o baixeiro?”, questiona. Para haver recomendação de uso, o pesquisador destaca que, além de resultados a campo, é preciso avaliar a sustentabilidade ambiental, fitossanitária e econômica do sistema. “É claro, recordes de produtividade acima de 100 sacas/ha movimentaram a pesquisa no Brasil, e isso é excelente. No entanto, experimentos não trazem resultados a curto prazo com rigor científico. São pelo menos mais três safras para se investigar, porque precisamos que ele seja feito em rede, ou seja, nos principais polos produtores de soja”. Por meio dos experimentos, os pesquisadores já sabem que variedades engalhadoras e de folhas grandes não devem ser usadas e, sim, cultivares com ramificações mais eretas e materiais com perfis morfológicos que respon-

dam bem à técnica de cruzamento e adensamento. Procópio adverte que, à parte a busca científica em si, havendo recomendação seja ao cruzado ou ao adensamento, existe uma nova etapa a ser cumprida: ofertar máquinas e equipamentos que promovam a prática da pesquisa, seja para cruzar linhas, plantar em fileira dupla – como nos Estado Unidos – ou apenas reduzindo espaçamento. “Tudo aponta para uma mudança estrutural no sistema atual. Não podemos abonar uma técnica sem avaliar seu conjunto a campo, desde questões fitossanitárias, adubação e seus impactos ambientais e econômicos, pelo menos”. E como completa, o aumento de produtividade não pode estar atrelado ao aumento, na mesma proporção, de custos com defensivos, por exemplo. Em Mato Grosso, a Fundação MT também não valida esse tipo de semeadura para a cultura da soja. Como explica o pesquisador e doutor em sistema de produção, Claudinei Kappes, “não existem resultados

Receita de produtividade O presidente do Cesb – Comitê Estratégico Soja Brasil, Orlando Martins, afirma que, após três edições do Desafio da Máxima Produtividade, não é coincidência que os vencedores do concurso tenham se utilizado do cruzamento de linhas. “Quem mexeu na forma de plantar, colheu mais”. Ele admite que não é possível apontar a técnica como garantia de rendimento maior por hectare plantado, já que as áreas inscritas no concurso recebem maiores cuidados e mais adubação, de modo que a produtividade acaba sendo resultado de vários tratos

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adicionais. “Não dá para separar o que é efeito apenas do cruzamento das linhas, com o plantio perpendicular”. O que se sabe é que nas áreas de soja cruzada, a planta recebeu mais nutrientes, ou porque teve mais adubação ou foi cultivada em área nobre da propriedade. Foram utilizadas variedades de alto potencial produtivo sob excelente controle fitossanitário. “Na verdade, se fez tudo aquilo que precisa ser feito, com capricho e cuidados”. O vencedor nacional do Desafio Cesb ano passado foi Demétrio Guimarães Parreira, da fazenda

Serrana, no município de Correntina, na Bahia. Conforme relato de Martins, Demétrio obteve lucro de R$ 1.434,00 por hectare onde cruzou as linhas, superando em quase três vezes o adicional de custo. Na área em que venceu o concurso, chegou à rentabilidade de 108,7 sacas e na área tradicional, 76. Na opinião de Martins, o Desafio Cesb mostrou nestes três anos que o rearranjo de plantas resulta em ganho de produtividade. “Agora, cabe à indústria caminhar nesse mesmo ritmo e permitir que esses experimentos possam ser estendidos às áreas comerciais”.


Case/Divulgação

para validar essa técnica e diante disso, não podemos falar em indicações, tratos culturais, adubação, etc. Porém, uma coisa é certa: o ambiente mais fechado entre linhas propicia um microclima favorável ao desenvolvimento de doenças. Portanto, pode ser um diferencial em relação ao espaçamento tradicional que ainda se tem uma maior circulação de ar entre linhas da cultura”. Na última safra (2011/12), a Fundação MT realizou um experimento em Itiquira, no sul mato-grossense, comparando semeadura cruzada x tradicional e, em termos de produtividade, não obteve diferença entre os sistemas de semeadura avaliados. Foi utilizado o espaçamento entre linhas de 45 cm e a mesma densidade de semeadura. “Na prática, o que notamos no sistema de semeadura cruzada: maior dificuldade de penetração da calda de pulverização dos produtos fitossanitários no dossel, ambiente muito fechado, provocando queda precoce de folhas do terço inferior e médio, principalmente durante as fases de enchimento de grãos, pouca penetração de luz solar no dossel da cultura, microclima favorável

ao desenvolvimento de doenças e plantas “caneludas”, ou seja, elevada altura de inserção das primeiras vagens. Quando avaliamos a produtividade, concluímos que o sistema de semeadura tradicional produziu 8,5% a mais que o cruzado, porém, sem haver diferença estatística entre os sistemas. Como esses resultados restringem-se à apenas um ano agrícola, uma cultivar, uma condição de solo, não posso condenar 100% o sistema de semeadura cruzada”. Novo arranjo espacial A Fundação MT segue com reservas sobre a prática do cruzamento de linhas. “A mensagem que a técnica da semeadura cruzada nos passa é que devemos rever o que chamamos de arranjo espacial de plantas na cultura da soja, ou seja, testar espaçamentos entre linhas e densidades de semeadura não tradicionais. Isso para as diversas cultivares, considerando as diferenças de grupos de maturação e hábitos de crescimento”. Kappes conta que, nesta safra (2012/13), a Fundação MT não estará realizando mais testes com semeadura cruzada em

soja, porque os experimentos realizados atá agora indicam caminho mais promissor. “Estamos fazendo alguns testes com semeadura adensada e espaçamentos duplos entre linhas”. Em resumo, ele acredita mais na viabilização agronômica e operacional do sistema de semeadura em espaçamentos duplos do que na semeadura cruzada, devido à maior facilidade no manejo de insetos, pragas e doenças, e facilidade de implantação, pois em uma única operação a lavoura está instalada. “O mesmo não acontece na semeadura cruzada”. O presidente da Aprosoja/MT, Carlos Fávaro, nunca se utilizou do plantio cruzado. Em sua opinião, um dos entraves ao sistema é a janela de plantio da oleaginosa. “Está cada vez mais curta e ninguém abre não da safrinha”. Em função disso, quem opta pelo cruzamento perde área para abrigar a segunda safra. “Será que a troca vale à pena?” O presidente da Aprosoja/Brasil, Glauber Silveira, concorda. Ele acha que, neste momento, o melhor caminho para aumentar a produtividade ainda é a agricultura de precisão.

Independente do sistema de produção adotado, a indústria terá que fazer o que sempre procurou fazer: adequar as máquinas às necessidades do produtor rural

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Deu na imprensa

Código sem fundamentalismo Kátia Abreu *

O

filósofo Arthur Schopenhauer, em sua “Dialética Erística”, demonstrou que é possível vencer uma discussão mesmo sem ter razão. Para tanto, alinhavou uma série de estratagemas que partem do pressuposto de que “ter razão” não é o mesmo que “estar com a verdade”. Ter razão, segundo ele, é triunfar perante a plateia, iludindo-a e confundindo o adversário. A verdade, nesses termos, é um detalhe a ser evitado. É desse pragmatismo, aético e predador, que se nutrem aqueles que atacam o novo Código Florestal e os produtores de alimentos. Há anos, certa corrente ambientalista busca desconstruir a imagem de quem produz, ensejando torná-lo o vilão do país. Ignora os benefícios econômicos e sociais que a produção rural tem trazido ao Brasil, os anos de

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superavit da balança comercial e que, em quatro décadas, o gasto do brasileiro com alimentos foi reduzido de 48% para 13%. São fatos, não opiniões. Insistir em condenar o novo Código Florestal, sustentando as mesmas afirmações, já exaustivamente refutadas em todos os fóruns nos quais o tema foi abordado, é a estratégia recorrente. É simples - e ocupa pouco espaço – afirmar que o novo código “é um texto que nasceu ruim e só tem piorado”. Ou ainda: as mudanças que traz foram “feitas por ruralistas”. E, por fim: “Ganhou quem desmata e perdeu a sociedade”.Não é preciso provar nada. Basta erguer a bandeira sagrada da defesa da natureza e afirmar que o código aumentará o desmatamento e anistiou infratores. Duas menti-

ras, ditas com o maior cinismo. Em recente artigo, a ex-senadora Marina Silva, que vocaliza esse lobby, exibiu a plenos pulmões a força de sua erística. Mesmo que o Código Florestal tenha sido debatido, emendado e aprovado por ampla maioria no Congresso Nacional, em certos momentos por unanimidade, insiste em que é uma obra dos “ruralistas”. O termo “ruralista” é por ela submetido a tal estigma que sua simples enunciação já traz um conteúdo moral condenatório. Ruralistas são os que vivem no meio rural --e é de lá que vem o alimento indispensável ao ser humano. Combatê-los por esse “mal” de origem é levar o preconceito a um grau irracional. O novo Código Florestal substitui o de 1965 e uma colcha de retalhos de medidas provisórias, decretos, portarias e regulamen-


tos, impostos, durante anos, sem nenhum debate público, por burocratas do Ministério do Meio Ambiente. Nunca havia sido votado pelo Congresso Nacional. Novamente, são fatos, não opiniões. Por isso, considero que os dois maiores ganhos do novo Código Florestal não são de ordem técnica. O primeiro - e mais importante – é a segurança jurídica para os produtores.O segundo é acabar com a hegemonia das ONGs ambientalistas sobre o tema do ambiente. Nunca mais a sociedade e seus representantes no Congresso Nacional serão excluídos desse debate. O Brasil é o único país do mundo que produz o seu alimento em menos de um terço do território --27%. É, também, o único a manter into-

cados nada menos que 61% dos seus biomas. E os produtores rurais, em nenhum momento, postularam a redução dessa área de vegetação nativa. É bom lembrar que o termo “reserva legal” só existe na legislação brasileira. O mesmo se dá com as áreas de preservação permanente (APPs), que também não existem nos países que nos pressionam a tê-las. A propósito, não apenas defendemos como propusemos, na recente Rio+20 e em outros fóruns multilaterais, que as APPs sejam adotadas em todo o mundo. Por que só aqui os rios devem ser defendidos se a questão da água é mundial? A erística, claro, aconselha os ambientalistas a evitar essa questão, substituindo-a por adjetivações inflamadas. A FAO tem afirmado, reiteradas vezes, que o mundo precisa

• Kátia Abreu é senadora pelo PSD-TO. Formada em psicologia, preside a CNA

aumentar em 40% a produção de alimentos e que o Brasil é um dos países mais qualificados a dar essa contribuição. Se depender do fundamentalismo ambiental que se estabeleceu em torno do novo Código Florestal - que continua sendo o mais rigoroso do mundo -, não poderá fazê-lo. É um fato, não opinião. Fonte: Folha de S. Paulo - 20/10/12

A nova Embrapa Xico Graziano *

G

rande empresa de pesquisa agropecuária, a Embrapa procura sua identidade. Com passado brilhante, precisa definir uma estratégia de futuro, conectada ao atual processo do desenvolvimento nacional. Novos desafios do campo. Tarefa difícil, mas fundamental. Começa por rememorar a criação da entidade, há 40 anos. Naquela época, na década de 1970, a agricultura brasileira começava a intensificar o uso de capital, modernizando suas antigas relações de produção, herdadas do período latifundiário. A crescente industrialização requeria braços para o trabalho e a consequente urbanização demandava alimentos na cidade. A melhor saída seria o aumento da produtividade no campo. Caminho da tecnologia. Havia, já disponível, boa carga de conhecimento gerada nos tradicionais institutos de pesquisa do Estado de São Paulo, principal-

mente o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) e o Instituto Biológico. Materiais genéticos desenvolvidos no IAC, bem como estudos de pragas e doenças realizados no Instituto Biológico, foram essenciais para o primeiro arranque tecnológico da agricultura brasileira, nos anos 1950. Até hoje as variedades IAC formam a base genética da agricultura nacional. Ante a rapidez do crescimento econômico, entretanto, era insufi-

ciente o desempenho produtivo no campo. Puxadas pela capital paulista, as metrópoles brasileiras trouxeram o drama do abastecimento popular. Antes, o armazém rural, a galinha caipira, a vaquinha, a horta e a roça davam conta de fartar a mesa. Depois, com a explosão populacional e o êxodo rural, todo mundo correndo para morar na cidade, virou um problema alimentar o povo. Chegou a carestia ao asfalto. Foi quando os agricultores descobriram o potencial produtivo do Cerrado. Uma bênção. Solos arenosos e ácidos, clima seco, vegetação dominada por arbustos pequenos, retorcidos, jamais se imaginara que aquelas terras do Centro-Oeste, aparentemente inférteis, pudessem servir à produção. Dominadas pelas novas tecnologias, porém, elas se mostraram extremamente fecundas. Sorte do País. novembro 2012 – Agro DBO | 53


Deu na imprensa

Nesse momento surgiu a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Cirne Lima, então ministro da Agricultura, coordenou os trabalhos de criação da nova empresa pública, cujos estatutos foram decretados em 28 de março de 1973. Seu primeiro presidente, José Irineu Cabral, contava com um braço direito que, no decorrer dos anos, e até hoje, se mostrou o mais aplicado e inteli-

no conhecimento aplicado à terra. Mudou o paradigma. Se anteriormente a pesquisa nacional buscava tecnologia no exterior, vinda dos Estados Unidos especialmente, para aqui adaptá-la, após a criação da Embrapa conseguiu-se gerar tecnologia própria: agricultura tropical. Por meio do melhoramento genético, variedades de plantas oriundas de climas frios, como a soja, aclima-

Quais devem ser as prioridades da nova Embrapa? Qual sua função no mundo de hoje? gente estudioso do desenvolvimento tecnológico no Brasil: o agrônomo e economista rural Eliseu Alves. A conquista agronômica do Cerrado centralizou um salto tecnológico na agricultura. E a Embrapa cumpriu um papel inigualável nesse momento. O impulso governamental, decisivo, ganhou qualidade ao ser liderado pelo competente e criativo agrônomo Alysson Paulinelli, inesquecível ministro da Agricultura. Uma das estratégias bem-sucedidas da Embrapa foi a organização da pesquisa em centros especializados por produto. Regionalizando a experimentação agropecuária, obteve-se enorme impulso 54 | Agro DBO – novembro 2012

taram-se ao calor tupiniquim. Mais produtivas, as variedades Embrapa começaram a dominar o mercado de sementes agrícolas. Aos poucos foi surgindo no Brasil um modelo único de agricultura. Com os modernos herbicidas, a evolução da engenharia agrícola possibilitou um pacote tecnológico que maravilha o mundo: o plantio direto. Esse sistema de cultivo, que já domina na safra nacional de grãos, dispensa a aração e a gradação do solo para efetuar a semeadura. Menos custo, maior produtividade. Fim da erosão. Não se resumiu, porém, ao Cerrado, muito menos às atividades ve-

getais, a atuação da Embrapa. Em todos os biomas, de norte a sul do País, nas criações e na horticultura, no monitoramento ambiental, amplo foi o leque de atuação dos pesquisadores. Animada, a Embrapa fortaleceu-se e agigantou-se, abrigando cerca de 10 mil funcionários, movimentados por um orçamento anual de R$ 2,1 bilhões. Resumo da história: o conhecimento gerado nos laboratórios e campos experimentais da Embrapa ajudou, decisivamente, a revolucionar a roça e a vencer o desafio do abastecimento popular. Fértil trabalho. Vieram os problemas. A primeira geração de cérebros entrou na aposentadoria e os novos concursados ingressam sem a cultura institucional colhida em sua rica história. Perde-se parte do espírito de equipe, tão caro à boa gestão. O viés corporativista, típico do governo petista, fortaleceu-se internamente, prejudicando o mérito profissional. Certo grupo pretendeu pôr a ciência agronômica a serviço da ideologia, comprometendo a pesquisa de ponta, freando a engenharia genética. Disputas internas acirraram-se. Acabou o período de vacas gordas da Embrapa. A notável empresa pública passa pela crise típica dos quarentões: perdeu a juventude, mas não pode envelhecer cedo demais. Seu dilema maior não reside na falta de dinheiro, nem no tamanho do quadro de pessoal, muito menos na perda relativa do mercado de sementes. A essência da crise brota de seu âmago: qual sua função no mundo de hoje? Quais devem ser as prioridades da nova Embrapa? Caberá ao pesquisador Maurício Lopes, recém-nomeado presidente da empresa, conduzir a busca da contemporaneidade da Embrapa. Se ouvir o emérito Eliseu Alves, descobrirá que na difusão do conhecimento tecnológico mora o xis da questão na agropecuária nacional. Texto publicado originalmente no jornal O Estado de São Paulo em 29/10/2012.


Artigo

Cinquenta tons desafinados A chamada “lei do descanso” causou expressivos aumentos nos preços do frete em todo país, em alguns casos atingindo 40%. Rogério Arioli Silva *

A

o surfar na onda do best seller “Cinquenta tons de cinza”, da escritora E.L. James, este artigo não se propõe a realizar uma incursão ao mundo sadomasoquista e, sim, a divulgar a desarmonia entre os ritmos de certas ações propostas pelo Executivo frente à realidade das situações encontradas. É sabido que, assim como Anastasia, a jovem protagonista do livro da moda que deixou-se seduzir pelos calientes caprichos de sua paixão, não é raro que pessoas deixem-se embevecer pelas marquetizadas propostas dos governos. Um dos exemplos disto refere-se à lei 12.619/2012, a chamada Lei do Descanso. Segundo

ela. A propósito, a lista destas estradas ainda demorará seis meses para sair, o que dirá a adequação das mesmas. Segundo as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho e Emprego, os pontos de parada precisarão ter condições sanitárias e de repouso confortáveis, além de refeitórios adequados, o que atualmente configura-se em exceção e não regra. O resultado desta assimetria entre leis e a dura realidade encontrada já causou expressivas altas nos preços dos fretes em todo país, em alguns casos atingindo aumentos de 40% nestes valores. Mesmo havendo a prorrogação da fiscalização, os produtores já estão vendo boa par-

O modal rodoviário jamais foi competitivo, impondo custos adicionais aos agricultores.

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

ela, os caminhoneiros seriam obrigados a parar trinta minutos a cada quatro horas trabalhadas, além de descansar onze horas, no mínimo, a cada jornada, sendo nove delas ininterruptas. De fato já era passada a hora de regulamentar a abusiva jornada de trabalho dos motoristas, muitas vezes explorados pelas empresas transportadoras, principalmente pelo fato de possuírem remunerações vinculadas apenas ao rendimento dos seus caminhões. Assim sendo, muitos trabalhavam exaustivamente colocando em risco sua saúde e também a dos demais usuários das estradas nacionais. Embora a fiscalização desta lei tenha sido prorrogada por mais 180 dias, a mesma ocorrerá apenas nas estradas que estejam adequadas a

te da sua receita sendo transferida para outros setores. O modal rodoviário jamais foi competitivo em longas distâncias, impondo custos adicionais aos que produzem nas fronteiras agrícolas brasileiras. Também é um exemplo de falta de afinação a dicotomia existente entre a rapidez necessária às obras de infraestrutura, capazes de diminuir o custo Brasil, e a burocracia reinante nos processos de LAUs, LIs, LPs, LOs, Eia-Rimas e outras exigências do aparato ambiental instituído na República. O impacto causado na vida sexual dos quelônios da margem esquerda do afluente de determinado rio tornou-se mais importante do que a economia de bilhões de reais em logística, gerando empregos e ren-

da para as populações. Processos de duplicações de estradas, construções de viadutos, hidrelétricas, pontes e trilhos jazem moribundos nas gavetas mofadas da burocracia instituída. A pureza dos ecologistas resta desvirginada pelo viés da concorrência estrangeira desleal. O mercado tornou-se o “Christian” do livro de James, ao mesmo tempo atraente e deflorador. Outro aspecto que escapa ao diapasão oficial reside na incapacidade das decisões técnicas conseguirem impor-se sobre as decisões políticas. Não importa o que a pesquisa recomende, tem valor apenas aquilo que possui apelo popular. Ficar de bem com os artistas novelescos, hoje considerados formadores de opinião e capazes de influenciar grande número de pessoas, tornou-se mais importante do que agir com coerência e imparcialidade nas questões ligadas ao meio ambiente. Hoje, já se tem plena convicção, e a própria ciência já demonstrou que os grandes problemas ambientais brasileiros estão nas cidades, e não no campo. Enquanto não ocorrer este enfrentamento, deixando-se a demagogia de lado, a conta da preservação ambiental será debitada apenas ao produtor rural e não a toda sociedade, como recomendaria o bom senso. Acordes desafinados maltratam o bom gosto além de passarem a impressão de que a orquestra não entende o gestual do maestro, levando à desarmonia e comprometimento do espetáculo. Corre-se o risco de esvaziamento da plateia, nem sempre submissa à estridência de novos ritmos. novembro 2012 – Agro DBO | 55


Artigo

Cenários para 2013 Daniel Glat avalia três fatores que influenciarão os preços da soja: a safra sulamericana, o plantio nos EUA e a situação financeira mundial.

D

esde meados de setembro, a soja caiu mais de 1,5 dólar por bushel em Chicago. O relatório do USDA de 11 de outubro elevou a produtividade esperada da safra americana para 37,8 bushel por acre. Mesmo com aumento no esmagamento e nas exportações, esses números deixaram os estoques finais americanos acima do mês anterior. Por aqui, os mais preocupados, como eu, perguntam: o que será que nos aguarda em termos de preços para 2013? Felizmente, já fechamos boa parte da soja que estamos plantando esse ano a preços que garantem boa rentabilidade, mas é sempre bom pensar no que pode vir por aí.

que a média de produtividade da soja no EUA não mude mais: 1 – Produção safra 2012/13 da América do Sul Sem dúvida, o mais importante. A área plantada no Brasil, Argentina e Paraguai deve subir uns 8 a 10% e atingir cerca de 50 milhões/ha – Os Estados Unidos plantaram 30 milhões em 2012, área que, por si só, representa um potencial na faixa de 12 a 14 milhões de toneladas a mais de soja, mantidas as médias históricas. O outro lado da equação é a produtividade: no ano passado o Sul do Brasil e boa parte da Argentina tiveram quebras grandes por conta da seca. Se tivermos um clima

O que farão os norte-americanos, essencialmente “milhocultores”: vão para a soja ou para o milho?

Daniel Glat é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural no estado doTocantins.

Grandes empresas costumam usar um processo chamado Planejamento de Cenários. A ideia desse processo é não tentar adivinhar o que vai acontecer, mas, sim, identificar que fatores influenciarão o assunto em questão nos próximos meses/anos; estimar como eles poderão variar e qual o impacto dessas variações; acompanhar o desenvolvimento de cada um desses fatores o mais próximo possível; preparar estratégias para cada um dos possíveis cenários e ir ajustando de acordo com o desenrolar dos fatos. Se pensarmos em termos de soja 2013, são três os principais fatores que definirão os rumos dos preços no Brasil, assumindo

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sem desastres na América do Sul, o aumento de produtividade pode aportar mais uns 10-15 milhões de toneladas; ou seja, se tudo correr na normalidade na América do Sul, esse ano poderemos ter uma oferta de 25 a 30 milhões de toneladas a mais de soja. A expectativa de quebra da safra americana, que alavancou os preços em agosto/setembro deste ano, foi da ordem de 10 a 12 milhões de toneladas. 2 – Situação financeira mundial Pode impactar o mercado de três maneiras: através de eventual diminuição da demanda, o que não está ocorrendo, mesmo com os níveis de preços de agosto/setembro; ou se uma forte crise financeira

obrigar os fundos a saírem em parte das commodities para cobrir outras posições e assim derrubar as cotações em Chicago; ou se por alguma razão o Real volte a se valorizar, o que não achamos muito provável. 3 – Área de soja no EUA em 2013 Parte dos analistas acredita que os produtores americanos são essencialmente “milhocultores”. Com os atuais níveis de preço, eles irão plantar a maior safra da história do cereal; em consequência, a área de soja pode ficar estável ou até ter um pequeno declínio. Outros afirmam que há 2 ou 3 safras muitos americanos vêm plantando milho sobre milho. Neste ano, com a seca, diferenças de milho sobre soja versus milho sobre milho chegaram a níveis de até 50sc/ha de diferença. Com isso, os americanos poderão dar uma freada no milho e aumentar a área de soja em 2013. Na minha opinião, eles vão ficar de olho na safra de soja sul-americana; se estiver correndo bem por aqui, irão mais um ano para o milho. Porém, se houver sinais de problemas climáticos por aqui, eles podem realmente favorecer a rotação e avançar na soja. Em resumo, poderemos até ver um fortalecimento do preço de soja nos próximos meses por falta de produto para entrega física na América do Sul; mas é certo que, se o clima correr bem por aqui nessa safra, deverá haver um aumento significativo na oferta de soja no mercado global em 2013; e como bem definiu Adam Smith nos primórdios do capitalismo, volume de oferta e preços geralmente tem direções contrárias.



Análise de mercado

Expectativas elevadas O mercado doméstico de trigo segue buscando um patamar de preços em que o interesse do comprador convirja com o do vendedor

A

os poucos, a indústria terá necessidade de retornar ao mercado. Olhando-se apenas pelo lado da demanda, esta maior presença de compradores teria como resultado uma elevação nos referenciais de preços, buscando o patamar de paridade de importação. Porém, no lado da oferta, é preciso considerar que estamos em plena colheita no Brasil e dos países do Mercosul (Argentina, Uruguai e Paraguai). O efeito sazonal da entrada de safra da região sul sempre é sentido sobre os preços, devendo manter as cotações nacionais subvalorizadas em relação à paridade de importação. Para vislumbrar a tendência as longo prazo, é preciso se-

guir de olho na dinâmica de formação de preços, cujo ponto de partida é o cenário internacional. O relatório de oferta e demanda mundial de outubro, divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), confirma a perspectiva de preços elevados no âmbito global. A safra mundial na temporada 2012/13 foi calculada em 653,05 milhões de toneladas, os estoques mundiais em 173,70 milhões e o consumo global em indicam 678,22 milhões. O segundo ponto para mensurar tendências de preços no Brasil é analisar o quadro de oferta e demanda nos fornecedores do Mercosul. A temporada 2011/12 foi iniciada com 4 milhões de tone-

ladas em estoques, em 1/12/2011. Com uma produção de 18 milhões de toneladas, a oferta total no trio de países do Cone Sul foi de 22 milhões de toneladas. O consumo interno estimado é de 6,65 milhões e as exportações de 13,95 milhões. Assim, os estoques reduzirão para 1,424 milhão de toneladas (-2,591 milhões). A produção estimada para 2012/13 é de 14,1 milhões de toneladas (-3,909 milhões), derrubando a oferta total para 15,529 milhões de toneladas (-6,5 milhões). O consumo doméstico nos três países é estimado em 6,676 milhões de toneladas. O volume exportado deve ficar por volta de 7,98 milhões, derrubando a previsão de

Soja –

As chuvas de outubro não foram suficientes para acelerar o plantio da safra 2012/13. Com os agricultores em plena semeadura, foram registradas apenas negociações pontuais, porque não havia muita soja disponível. Os valores domésticos foram influenciados por contratos futuros da soja na Bolsa de Chicago. Há grande expectativa quanto à nova safra da América do Sul, que pode melhorar os estoques mundiais e provocar tendência de baixa.

* Em 18/10, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 75,73 pela saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento ela taxa NPR.

MILHO – Após oscilações no mercado interno, os preços voltaram a subir em outubro em algumas regiões do país, empurrados pelos reajustes ocorridos nos portos, decorrentes das altas cotações externas. Na segunda quinzena, produtores consultadas pelo Cepea sinalizaram não ter necessidade imediata de caixa, ao mesmo tempo em que apostavam em reação da demanda para a alimentação de animais neste último trimestre de 2012.

* Em 18/10, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 31,26 à vista pela saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

arroz – Em 2/10, o Indicador do Arroz em

Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa fechou a R$ 39,39/sc de 50 kg, o maior patamar, em termos nominais, se considerada a série histórica do Cepea, iniciada em 2005. Nos dias seguintes, registrou ligeiras quedas mas, no geral, as cotações se mantiveram firmes. A comercialização foi lenta. A baixa venda percentual do último leilão do governo federal contribuiu na retração dos negócios.

58 | Agro DBO – novembro 2012

* Em 18/10, o Indicador Esalq/Bolsa de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 38,73 à vista pela saca de 50 kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado * Em 18/10, o Preço Médio do Trigo Cepea/ Esalq registrou R$ 616,84 por tonelada, mercado disponível, à vista, posto Paraná.

Trigo – A menor produção mundial e a redução dos estoques pelo

terceiro ano consecutivo ajudaram a sustentar os preços internos em outubro. A perspectiva é de que, também no Brasil, a safra seja bem menor do que a do ano passado. Preocupados com o incremento nas exportações e possível queda na oferta interna, os compradores saíram a campo atrás do produto, ajudando a elevar as cotações. A tendência no curto prazo é de preços firmes, apesar do avanço da colheita.

estoques para o final de novembro de 2013 para 873 mil toneladas. Este quadro enxuto de oferta de trigo se estende ao Brasil. Considerando que a safra no Rio Grande do Sul recue 10% em relação à previsão inicial, o volume a ser colhido no país ficará por volta de 5 milhões de toneladas, contra 5,656 milhões na safra anterior. Os estoques iniciais (em 1/8/2012) eram de 1,058 milhões de toneladas, contra 1,285 milhão da temporada anterior, elevando a necessidade de importação,

de 6,784 milhões de toneladas no ciclo 2011/12 para 6,950 milhões de toneladas no 2012/13. Mesmo assim, a oferta total recuará de 13,724 para 13,008 milhões de toneladas. No lado da demanda, o consumo interno está estimado em 10,910 milhões de toneladas e as exportações em 910 mil, fechando uma demanda de 11,860 milhões de toneladas. Com isso, os estoques ao final de agosto de 2013 seriam de 1,148 milhão de toneladas. Tais números podem sofrer eventuais alterações, mas não o sufi-

ciente para descaracterizar o quadro sugerido, com redução da oferta no mundo, no Mercosul e no Brasil. Diante disso, e mantida a relação cambial acima de R$ 2,00 por dólar, os preços praticados neste momento no mercado nacional devem estar próximos ao piso esperado para o período de ingresso de safra no Mercado Comum do Sul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). Elcio A. Bento Analista da CMA/Safras&Mercado

ALGODÃO – A liquidez no mercado brasilei-

* Em 18/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou 153,59 centavos de real por libra-peso.

ro continuou baixa no início de outubro. Na expectativa de queda acentuada nos preços, as indústrias permaneceram na moita até a segunda quinzena do mês, pressionando ainda mais as cotações. Do outro lado, os produtores também se afastaram, na expectativa de reação do mercado neste início de entressafra. Com margens de lucro pequenas, ou no prejuízo, muitos pre feriram aguardar para retomar as negociações.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

CAFÉ – Em outubro, os cafeicultores dedica-

* Em 18/04, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 361,51 pela saca de 60kg de arábica, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, descontado o prazo de pagamento pela taxa NPR.

ram parte do tempo às floradas – consistentes, indicam boa safra no ano que vem, descontada a questão da bianualidade (2013 é ano de produção menor). Quanto à safra atual, os preços internacionais seguem em patamares inferiores aos de 2011, pressionado a receita exportadora brasileira. Muitos produtores restringiram a oferta de grãos mais finos no mercado interno, na expectativa de alta nos preços.

* Em 18/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 52,49 pela saca de 50 kg de açúcar cristal, com impostos, sem frete.

AÇÚCAR – Os preços permaneceram em alta no início de outubro, influenciados pelas cotações internacionais, que estavam remunerando melhor do que a interna, e pela necessidade de compra de algumas indústrias. Segundo a OIA - Organização Internacional do Açúcar, a perspectiva para as cotações internacionais nos próximos meses continuará “baixista”. No entanto, não devem ter queda tão acentuada por causa do crescimento da demanda.

novembro 2012 – Agro DBO | 59


Novidades no campo Trigo precoce para moagem

Cana maturada

A FMC trouxe para o mercado seu primeiro maturador para cana-de-açúcar, o Strada, capaz, conforme a empresa, de aumentar em 40% o potencial de produtividade nos canaviais. “Ele acelera a maturação natural da cana e incrementa o teor da sacarose sem perder a produtividade”, diz Jonas Cuzzi, gerente de produtos herbicidas da FMC. Segundo ele, o Strada mantém a produtividade, pois não mata a gema apical, responsável pelo crescimento da planta, não afeta a brotação da soqueira e possibilita o menor encurtamento dos entrenós da cana. “Por ser um maturador sistêmico com solução hidrossolúvel, permite melhor manejo fitossanitário do canavial”.

Pragas informatizadas

▶ ▶

Em fase de multiplicação, a nova cultivar da Fundação Pró-Sementes, o FPS Nitron, estará à disposição dos produtores no ano que vem. Os resultados a campo são excelentes, segundo produtores que a plantaram experimentalmente nesta safra. O FPS Nitron é um trigo precoce, com boa reação às principais doenças e ampla adaptação. Apresenta estatura e perfilhamento médios, é moderadamente resistente ao acamamento e ao oídio. A cultivar atende às exigências da indústria moageira estabelecidas pela nova classificação do cereal, apresentando pH de 80, força média de glúten de 260 a 270 e peso de mil sementes de 36 gramas. Em ensaios, a produtividade média foi de 5.600 kg/ha. Desenvolvido pela Biotrigo Genética, resulta do cruzamento das cultivares ORL 04300 e Ônix. O FPS nitron é similar ao TBIO Seleto, da Biotrigo, porém, responde em torno de 5% a mais quanto à produtividade. É indicado para todas as regiões do RS, SC, PR e SP, além de parte de MS.

A Basf estendeu para os tablets o Digilab 2.0, serviço de assistência técnica com diagnóstico de doenças, pragas e plantas daninhas por computador. O sistema dispõe de um GPS acoplado ao hardware, que possibilita o georreferenciamento das lavouras. “Com esse serviço pioneiro, o produtor não precisa mais enviar amostras de plantas e pragas ao laboratório e esperar para obter o diagnóstico. Basta capturar imagens da possível praga ou doença com seu telefone ou seu tablet e, com a versão 2.0 do serviço, acessar nosso banco de dados para obter respostas de forma precisa e rápida”, diz Dieter Schultz, da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf.

tomate híbrido de Alta resistência

A Topseed Premium, linha de sementes da Agristar, acaba de lançar no mercado o tomate híbrido Predador, de alta sanidade, qualidade de fruto e resistência ao Geminivírus e ao Vira Cabeça. Segundo Evandro da Silva Leme, produtor em Catalão (GO), os resultados com a nova cultivar superaram os que ele vinha obtendo com as demais variedades plantadas em sua propriedade, que possui cerca de 350 mil pés de tomate. “Iniciamos os testes com apenas 10 mil pés. Agora, a ideia é plantar 200 mil pés da cultivar em 2013”, explica ele. Segundo Evandro, o Predador tem agradado não só aos agricultores da região, como também aos compradores de tomate. “Os frutos são muito grandes, com cor bonita. A resistência às viroses e o desenvolvimento do produto até o ponteiro também chamaram a atenção dos meus vizinhos”.

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Novidades no campo novidade em Nutrição de plantas

Lançamento da Arysta, o fertilizante foliar Pilatus é recomendado para soja, algodão, tomate, batata, frutíferas e outras culturas. Sua aplicação deve ser feita de acordo com a recomendação para cada cultivo e na fase de formação da lavoura ou pomares. Composto com extrato vegetal e zinco, o novo fertilizante integra o conceito “Pronutiva”,que alia soluções em proteção e nutrição das plantas visando gerar condições mais favoráveis ao estabelecimento, desenvolvimento, longevidade e produtividade das culturas. “O emprego da nutrição vegetal, ao lado do uso racional do solo e da água em quantidades corretas pode levar a índices de produtividade elevados”, diz Flavio Irowaka, responsável pela área de marketing para cultura de nutrição da Arysta.

sorgo Para corte e pastejo

Nova cultivar de batata Foto: Arione Pereira

Com presença forte em milho no Sul do Brasil, a Santa Helena Sementes aposta agora no sorgo para ampliar sua participação na região. No caso, através de uma variedade específica de sorgo capaz de melhorar a produtividade de carne e leite. “A SHS 615 pode ser usada para corte ou pastejo e tem entre suas principais características menor teor de lignina, o que significa melhor digestibilidade da planta e uma dieta de melhor valor nutritivo”, afirma o engenheiro agrônomo Cláudio Zago, diretor superintendente da empresa. A nova semente foi desenvolvida especialmente para os estados do Sul. “Ela tem alta produção de massa, uma rebrota vigorosa e permite fazer cortes ou pastejos em intervalos de aproximadamente 30 dias”.

O Iapar - Instituto Agronômico do Paraná, em parceria com a Embrapa, lançou a BRSIPR Bel, voltada preferencialmente aos mercados de “chips” e de batata palha. De acordo com os primeiros experimentos a campo, a cultivar apresenta potencial produtivo elevado e altos teores de matéria seca nos tubérculos, o que lhe confere rendimento e qualidade de fritura. A apresentação ocorreu no XIV Encontro Nacional de Produção e Abastecimento de Batata, realizado em setembro em Uberlândia (MG). Planta com hábito de crescimento semi-ereto e porte médio, é uma cultivar de ciclo médio, com bom aspecto vegetativo, boa cobertura do solo e alta percentagem de tubérculos comerciais.

Ferramentas movidas A bateria

A Stihl acaba de lançar uma nova linha de produtos movidos a bateria, entre os quais cortador de grama, roçadeira, soprador, motosserra e podador. De acordo com o vice-presidente de marketing e vendas da empresa, Romário Britto, esse é apenas o início da era dos motores elétricos. ‘’No futuro, as ferramentas serão todas nessa diretriz’’, diz ele. A nova linha da Stihl visa atender tarefas básicas, tanto no âmbito doméstico (pequenos serviços, jardinagem, etc) quanto na agricultura. O podador, por exemplo, pode ser boa opção para a cafeicultura. A motosserra, para a silvicultura. A bateria AP 160, com 36 volts de potência e tecnologia de íon de lítio, capaz de lhe proporcionar vida útil maior, pode ser utilizada em todos os produtos – não é preciso adquirir uma bateria para cada produto.

novembro 2012 – Agro DBO | 61


Biblioteca da Terra Corrida atrás do Jabuti

Você conhece o mercado?

Dividido em duas partes, o livro AgroPerformance apresenta um método de planejamento e gestão estratégica para auxiliar empreendedores rurais na condução dos negócios. A primeira parte descreve as três etapas da metodologia: Diagnóstico, Visão & Direcionamento, e Implementação. A segunda é composta por capítulos baseados no conceito “3 Ps”, desenvolvido nos EUA: People (gestão de pessoas), Planet (sustentabilidade), e Profit (análise de investimento). Os autores são Eduardo Sandrini Simprini, Frederico Fonseca Lopes, Marcos Fava Neves, Vinícius Gustavo Trombin, Janaína Gagliard Bara, Adriano Vecchiatti Lupinacci e Marco Antônio Tibério. A publicação tem 224 páginas, custa R$ 47,00 e pode ser adquirida através do site da Editora Atlas (www.atlas.com.br) ou pelo telefone (16) 3977-6060.

O livro “Irrigação e Fertirrigação em Fruteiras Tropicais e Hortaliças”, da Embrapa, é finalista do 54º Prêmio Jabuti, um dos mais importantes do mercado editorial brasileiro, promovido pela Câmara Brasileira do Livro. O júri avaliou 2.203 títulos inéditos editados no Brasil em 2011. A obra concorre na categoria “Ciências Naturais”, que reúne pesquisas, ensaios, textos profissionais, acadêmicos ou científicos. Os vencedores serão anunciados no dia 28 deste mês de novembro. Produzido por meio de parceria técnica e editorial entre várias unidades da Embrapa, apresenta parâmetros técnicos, informações e recomendações para irrigação e fertirrigação em oito fruteiras (abacaxi, banana, caju, citros, mamão, manga, maracujá e uva) e oito hortaliças (batata, cebola, cenoura, melancia, melão, pimentão, pepino e tomate). O livro custa R$ 130,00. Para adquiri-lo, basta acessar a página eletrônica da Livraria Embrapa (www.embrapa.br/liv), ligar para (61) 3448-4236 ou, ainda, entrar em contato com a empresa pelo e-mail vendas@embrapa.livbr/liv

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Plantio direto no Sul do Brasil

Iapar – Instituto Agronômico do Paraná lançou em parceria com a FAO, entidade das Nações Unidas para agricultura e alimentação, o livro “Plantio Direto no Sul do Brasil”, dos pesquisadores Ruy Casão Júnior, Augusto Guilherme de Araújo e Rafael Fuentes Llanillo. Segundo Araújo, a publicação surgiu por demanda da FAO, interessada no desenvolvimento da agricultura conservacionista na África. “Não foi pretensão nossa resgatar a totalidade dos acontecimentos, mas compreender o processo evolutivo do plantio direto e das máquinas específicas para a atividade”, esclarece. O texto está organizado em ordem cronológica e destaca os fatores determinantes para a consolidação do sistema. Os autores também produziram uma versão em inglês, para distribuição em países de clima tropical. Com 77 páginas, o livro tem distribuição gratuita e pode ser encomendado através do site www.iapar.br ou pelo telefone (43) 33762373. Os interessados pagam apenas as despesas de correio.

Cuidados com o gramado

O livro “Nutrição, Adubação e Calagem para Produção de Gramas já está à venda na Fepaf – Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais, órgão da Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual Paulista. De autoria dos professores Roberto Lyra Villas Bôas, Leandro José Grava de Godoy, Clarice Backes e Alessandro José Marques Santos, aborda o uso de micronutrientes, corretivos, fertilizantes e composto de iodo de esgoto na produção de grama e traz um panorama do cultivo no Brasil. O livro tem 146 páginas, custa R$ 40,00 e pode ser encontrado na sede da Fepaf, em Botucatu (SP), ou encomendado pelo e-mail publicacoes@fepaf.org.br



Calendário de eventos

NOVEMBRO

4

22º Conrid/Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem De 4 a 9 – Centro de Eventos Cascavel (PR) Site: www.abid.org.br

5

XIV Encob/Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas De 5 a 9 – Centro de Eventos do Pantanal – Cuiabá (MT) Fone: (18) 3642-3655 E-mail: comitesdobrasil@ig.com.br

6

Simpósio Estadual de Agroenergia/IV Reunião Técnica de Agroenergia De 6 a 8 – Centro de Eventos da AMRIGS – Porto Alegre (RS) E-mail: simposio.agroenergia@cpact. embrapa.br.

8

Simpósio Internacional de Águas Residuárias na Agricultura De 8 a 9 – Fazenda Experimental Lageado – Botucatu (SP) Site: fepaf.org.br E-mail: eventos@fepaf.org.br

8

5º Simpósio Brasileiro de Citricultura

De 8 a 9 – Anfiteatro Dr. Urgel de Almeida Lima, da Esalq/USP Piracicaba (SP) E-mail: gelq2013@yahoogroups.com

10

Agrotec 2012/1ª Mostra Catarinense de Tecnologias para a Agricultura de Pequena Escala/12ª Exposição de

64 | Agro DBO – novembro 2012

Orquídeas, Cactos, Bromélias, Bonsai e Plantas Ornamentais De 10 a 11 – Pomerode (SC) E-mail: agrotecpomerode@ hotmail.com

11

12 - II Simpósio Nacional de Áreas Protegidas

De 12 a 14 – Universidade Federal de Viçosa (UFV) Viçosa (MG) Site: www.snap2012.com.br

11

24ª Conferência Internacional sobre Ciência do Café (Asic 2012) De 11 a 16 – San José, Costa Rica Site: www.asic2012costarica.org

12

III Conac/Congresso Nacional de Feijão-Caupi

De 12 a 14 – Mar Hotel Recife Recife (PE) Site: www.conac2012.org/congresso

22

VII Ciclo de Palestras sobre Heveicultura Paulista De 22 a 23 – Ipê Park Hotel São José do Rio Preto (SP) Site: www.apabor.org.br E-mail: apabor@apabor.org.br

26

VI Geonordeste/ Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto De 26 a 30 – Hotel Mercure Aracaju (SE) www.vigeonordeste.com.br

28

20º Encafé/Encontro Nacional das Indústrias de Café

11 - III Congresso Brasileiro do Cacau - De 11 a 14 - Centro de Convenções Ilhéus (BA) E-mail: 3congressocacau@ ceplac.gov.br Por questões climáticas (chuvas regulares), o cultivo do cacaueiro tem se limitado a determinadas regiões da Amazônia, sul da Bahia e norte do Espírito Santo. No entanto, experiências bem sucedidas na Chapada Diamantina e no Sul da Bahia (Tabuleiros Costeiros), onde o cacaueiro atinge elevadas produtividades em áreas consideradas escapes para as principais doenças, ampliaram as possibilidades do setor. A expansão das lavouras para áreas não tradicionais é um dos temas básicos do III Congresso Brasileiro do Cacau. No contexto da inovação tecnológica, os participantes vão discutir estratégias técnicas, financeiras, políticas e institucionais para dar suporte ao cultivo comercial do cacaueiro e nortear o futuro da cacauicultura brasileira.

De 28/11 a 2/12 – Iberostar Bahia Salvador (BA) E-mail: encafe@abic.com.br

28

6º CBTI/Congresso Brasileiro de Tomate Industrial/Feira de Produtos e Negócios De 28 a 30 – Centro de Convenções de Goiânia – Goiânia (GO) Site: www.tomatecongresso.com.br

DEZEMBRO

4

FNA/ 23ª Feira Nacional de Artesanato

De 4 a 9 – Centro de Exposições Expominas – Belo Horizonte (MG) Site: www.feiranacionaldeartesanato. com.br

6

Cajumel/7ª Feira do Agronegócio do Caju e do Mel De 6 a 8 – Praça da Matriz Ocara (CE) Site: www.ce.sebrae.com.br E-mails: erbaturite@ce.sebrae.com.br e fna@centrocape.org.br

10

XX Jornada de Atualização em Agricultura de Precisão De 10 a 14 – Departamento de Engenharia Rural da Esalq Piracicaba (SP) www.fealq.org.br

12

5º Simpósio Brasileiro de Qualidade de Arroz

De 12 a 14– Universidade Federal de Pelotas – Pelotas (RS) simposioarroz@labgraos.com.br


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novembro 2012 – Agro DBO | 65


Legislação

O Código Florestal e as APPs O produtor deve buscar informações a fim de se adequar às novas regras ambientais, de forma que não seja prejudicado em sua atividade. Fábio Lamonica Pereira *

O

novo Código Florestal, instituído pela Lei n. 12651/2012, passou pela primeira reforma com a edição da Medida Provisória nº 572/2012, a qual foi convertida na Lei 12727/2012, esta publicada em 18 de outubro, contemplando nove vetos. Na mesma data, foi publicado o Decreto nº 7830/2012 que regulamenta, em parte, o novo Código Florestal. Polêmicas à parte, vale fazer uma reflexão sobre a legislação vigente que, possivelmente, passará por novas reformas, adaptações, além da interpretação dada pelo judiciário com a discussão de conflitos que certamente surgirão.

lei a fim de que se possa compreender sua aplicação. Nesse sentido, a lei determina como áreas rurais consolidadas aquelas “com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris”. Esse enquadramento determina o tratamento diferenciado, por exemplo, quanto à obrigatoriedade de recuperação das APPs – Áreas de Preservação Permanente. A regra, já conhecida da redação do código revogado, é a de que os imóveis rurais e urbanos devem manter as faixas marginais dos cursos d’água natural, desde a borda da calha do leito regular, com as seguintes lar-

Todas as propriedades rurais deverão contar com inscrição no CAR – Cadastro Ambiental Rural

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

Todas as propriedades rurais deverão, obrigatoriamente, contar com a inscrição no CAR – Cadastro Ambiental Rural, o que incluirá os dados dos proprietários e/ou possuidores, além de especificações quanto às áreas de preservação permanente, reserva legal, etc. O prazo para a inscrição será de um ano a contar da implantação do sistema. O cadastro será requisito para a participação no Programa de Regularização Ambiental, o qual visa a adequar e promover a regularização ambiental com vistas ao cumprimento dos preceitos do próprio Código Florestal. É essencial observar os conceitos estabelecidos pela própria

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guras mínimas a título de área de preservação permanente: 30 metros, para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura, 50 metros para aqueles que tenham de 10 a 50 metros de largura; 100 metros, para os que tenham de 50 a 200 metros de largura; 200 metros para os que tenham de 200 a 600 metros de largura e 500 metros para os cursos d’água que tenham largura superior a 600 metros. Restou autorizada a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em APPs de áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008. Quanto à necessidade de recuperação das APPs ao lon-

go dos rios, o código estabeleceu uma regra para recomposição que varia de acordo com o tamanho do bem. Assim, para imóveis com área de até 1 módulo fiscal, será obrigatória a recomposição de 5 metros, contados da borda da calha do leito regular; entre 1 e 2 módulos, recomposição de 8 metros; entre 2 e 4, recomposição de 15 metros e aqueles com área superior a 4 módulos, recomposição entre 20 e 100 metros, de acordo com as determinações do PRA – Programa de Recuperação Ambiental, que será editado pelos estados, segundo suas peculiaridades. O módulo fiscal, que é diferente de módulo rural, consta do CCIR – Certificado de Cadastro de Imóvel Rural, estabelecido pelo Incra (www.incra.gov.br) de acordo com diversas diretrizes, sendo que cada município possui uma classificação própria que varia de 5 ha a 100 ha. Quanto à recomposição das APPs, restou suprimida, mediante veto presidencial, a possibilidade de plantio de árvores frutíferas, diferente do que ocorre com as áreas de reserva legal. O argumento para o veto foi o de que “(...) o dispositivo compromete a biodiversidade das APPs, reduzindo a capacidade dessas áreas desempenharem suas funções ambientais básicas.(...)”. Com essas definições, é importante que o produtor busque informações a fim de se adequar às novas regras ambientais de forma que não seja prejudicado em sua atividade econômica.



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