Revista Agro DBO - Ed 61 - Novembro/2014

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Sumário

34 Entrevista Fabiano Ferreira

Presidente da FPA, o deputado Luis Carlos Heinze avalia o novo quadro político e apresenta as prioridades do agronegócio ao novo governo Dilma.

38 Matopiba

Em trabalho conjunto, pesquisadores da Embrapa e do Incra propõem delimitação territorial da região, abrangendo 337 municípios.

44 Safra

Em Mato Grosso e outras regiões do Brasil, o plantio de grãos atrasou por falta de chuvas. Mesmo assim, a safra 2014/15 deve ser recorde.

20 48 Café

Matéria de capa

Levantamento do Instituto Agronômico de Campinas mostra que o estado de São Paulo enfrentou até o mês passado a seca mais severa desde1890, quando as medições hidrológicas foram iniciadas. Mesmo que chova bastante, grande parte dos prejuízos sofridos no campo não será recuperado.

Produtores de conilon do norte do Espírito Santo conseguem bons resultados graças à tecnologia, manejo, gestão e clima favorável.

Artigos 8 – Rogério Arioli reclama políticas específicas para a produção de milho 28 – Daniel Glat apregoa: “O seguro rural tem que ser amplo e abrangente” 30 – Amilcar Centeno mostra que o sucesso da lavoura começa na semeadura 42 – Décio Gazzoni interpreta o livro “O mundo rural no Brasil do século 21” 54 – Antonio Azenha antevê revolução tecnológica no setor sucroenergético 66 – Fábio Lamonica destrincha a legislação sobre recuperação judicial

Seções Do leitor.............................................................. 6 Ponto de Vista................................................... 8 Almanaque.......................................................10 Notícias da terra.............................................12 Exposição..........................................................32

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Política................................................................37 Análise de mercado......................................56 Novidades no campo...................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65


Carta ao leitor

A

maior seca dos últimos 123 anos preocupa os agricultores paulistas, conforme a reportagem de capa desta edição da Agro DBO, “Paisagem paulista”, do jornalista Benê Cavechini, e também os agricultores do Sudeste e Centro-Oeste, no relato “Máquinas paradas”, da repórter Marianna Peres. Pois a falta de chuvas, que já trouxe prejuízos aos paulistas, paralisou em outubro o início do plantio da safra de verão na região central do país. Os climatologistas indicam que o mês de outubro, que já deveria ter dado início à chamada estação das águas, teve precipitações muito abaixo da média, agravando a situação em São Paulo, e provocou o atraso no plantio da próxima safra de grãos, mas isso poderá trazer ainda reflexos para o cultivo da segunda safra nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além de ter colocado a região da grande São Paulo (com população de mais de 20 milhões de pessoas) na dramática iminência de falta de água potável. Agro DBO se junta às orações dos produtores rurais, eis que não existem alternativas, para que as chuvas retornem o mais breve possível. Ensejamos orações para que, quando esta edição começar a circular, na primeira semana de novembro, já estejamos comemorando as primeiras chuvas, conforme previsão dos modelos climáticos dos meteorologistas. Nos derradeiros momentos do fechamento desta edição Dilma Rousseff foi reeleita para mais quatro anos. Esperamos que continue a dar atenção aos nossos produtores de alimentos. Que a boa política agrícola se mantenha e que o seguro agrícola receba melhoramentos; mais ainda, que a logística e transporte no Brasil-Central possam melhorar, de forma urgente. Independentemente da seca e da presidência, uma questão política de alto interesse dos produtores rurais brasileiros será a nova Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), cujos integrantes formarão a maior bancada suprapartidária do Congresso Nacional. O número de parlamentares ruralistas aumentará em mais de 30% na próxima legislatura. A FPA contava até 2014 com 203 deputados e senadores, deve ultrapassar os 270, e já tem prioridade: aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere para o Congresso Nacional a decisão sobre a demarcação de terras indígenas. Para conhecer em detalhes esses e outros planos da FPA, Agro DBO entrevistou seu atual presidente, o deputado federal gaúcho Luis Carlos Heinze (PP/RS). Que venham as chuvas.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Alfredo J. B. Luiz, Amílcar Centeno, Antonio Cesar Azenha, Antônio R. Formaggio, Ariosto Mesquita, Arnaldo Luiz Corrêa, Benê Cavechini, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Evaristo Eduardo de Miranda, Fábio Lamonica Pereira, Glauco Menegheti, Graciela Andrade, Hélio Casale, Lucíola A. Magalhães, Marianna Peres, Richard Torsiano e Rogério Arioli Silva Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta

Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: foto Delfim Martins/Pulsar Imagens DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor

DISTRITO FEDERAL Gostaria de parabenizá-los pela excelente matéria sobre Integração LavouraPecuária em solos arenosos, em especial, por alguns aspectos principais: ajudar a quebrar o mito de que a ILP é só para lavourista; pelo ganho da parceria entre pesquisa, ensino, extensão rural e produtor; pela demonstração de que a ILP é uma das melhores alternativas para recuperação de áreas degradas; por atestar que a ILP possibilita a produção de forragem de qualidade para a entressafra, com menores custos; e que a ILP, aliada ao sistema de plantio direto, promoverá a “Terceira Revolução” na agricultura brasileira e a consolidação do “Boi Verde”. Ronaldo Trecenti Brasília MINAS GERAIS A revista Agro DBO é, sem sombra de dúvida, a melhor revista técnico-científica voltada para a agricultura no mercado brasileiro. A qualidade editorial da revista se compara a grandes revistas puramente científicas, tais como Scientic American, Knowledge, da BBC (British Broadcasting Coorporation, da Inglaterra), entre outras. Porém, um diferencial enorme pode ser percebido na revista Agro DBO: a agricultura tratada de forma holística. Política, sociedade, leis, curiosidades, técnicas, pesquisas, experiências profissionais, meio ambiente e tecnologia, entre vários outros temas. Tudo isso tratado de forma séria e comprometida, trazendo, acima de tudo, reflexões e aprendizado para os leitores. Parabéns a todos os editores, profissionais e colaboradores que nos enriquecem com suas virtudes e visões. Fábio Gonçalves Villela Viçosa

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Li, na revista Agro DBO de abril de 2014, o artigo “Acabou a exigência de reserva legal?” e gostaria de esclarecer alguns pontos. A situação é a seguinte: 1– Meu pai possui uma propriedade rural em Boa Esperança, MG, com 150 hectares; 2 – Toda a área é de Cerrado; 3 – Não possui nada de Reserva Legal; 4 – A área foi desmatada para o plantio de cana-de-açúcar em 1975; 5 – Meu pai fez o CAR em junho deste ano e informou que não possui Reserva Legal e que deseja compensar a Reserva Legal e adquirir cota de Reserva Legal. Pois bem, em atenção ao artigo da revista, entendemos que ele não tem que ter Reserva Legal, pois a área de Cerrado foi desmatada antes de 1989, certo? O que foi informado por cartilhas do governo de Minas Gerais é que é necessária a Reserva Legal, pois a propriedade tem mais de 4 módulos fiscais (no município são 26 ha). Então pergunto? Tem como e devem ser canceladas as declarações do CAR? Existe a possibilidade de não ter que cumprir a exigência da Reserva Legal? O que ele deve fazer? Quais procedimentos devem ser tomados? Peço, encarecidamente, que me orientem, pois, lendo o artigo, ficamos animados por existir a possibilidade de não ter que comprar Reserva Legal, ainda mais na crise em que meu pai se encontra. Devido à seca deste ano, os prejuízos foram enormes. Por um bom tempo, ele não possui nenhuma condição de adequar a Reserva Legal na propriedade. Atenciosamente. Luiz Otávio C. Faria Boa Esperança NR: Prezado leitor, encaminhamos seu e-mail ao nosso colunista Fábio Lamonica Pereira, advogado especializado em Direito do Agronegócio, responsável pela seção “Legislação”, publicada todo mês na revista Agro DBO. Eis a resposta dele: “Caro Sr. Luiz Otávio C. Faria. A verificação de possível enquadramento nas disposições do art. 68 do atual Código Florestal implica na análise de toda a documentação e histórico da área objeto de discussão em confronto com a legislação própria para cada região, a fim de que haja a correta inserção de dados no CAR e o reconhecimento dos benefícios pelos órgãos ambientais. Caso seja necessário, é possível a retificação de dados/informações junto ao sistema.” PARANÁ Parabéns pela revista. Apresenta reportagens necessárias para o dia a

dia do produtor antenado. Gostaria de sugerir uma matéria sobre técnicas de plantio e conservação de solo no arenito, pois trabalho na Coamo e sou grande divulgador aos nossos cooperados da revista Agro DBO. Anderson Deodato Mariluz NR: Obrigado pela sugestão, Anderson. Nossa última matéria a respeito, de autoria do jornalista Fernando Yassu, da revista DBO, foi publicada na edição nº 37 de Agro DBO, de setembro de 2012, sob título “Paraná abre nova fronteira agrícola”. Em sua reportagem,Yassu mostrou que, graças a tecnologias adaptadas à região por pesquisadores do Iapar, o denominado Arenito Caiuá estava se transformando gradativamente em polo de produção agrícola. Assim que for possível, voltaremos ao assunto. Parabenizo o trabalho que vem sendo realizado pela revista Agro DBO, trazendo a tona assuntos relevantes e novos. Vejo a revista como um canal para ver o que está passando na agricultura brasileira (como a produção de etanol de milho, que eu acreditava existir apenas nos Estados Unidos), e acho interessante ver o que se passa longe de minha realidade, pois estou no Paraná e vejo assuntos de todas as regiões do Brasil. Admiro o trabalho de vocês. Renan Caldas Umburanas Guarapuava RIO GRANDE DO SUL A revista Agro DBO está de parabéns. Traz informações técnicas atualizadas de nível informativo transparente. Ricardo Redin Ijuí SÃO PAULO Recebi os exemplares da Agro DBO. Muito obrigado e parabéns pela edição. Está espetacular. Abraços. Carlos Viacava São Paulo NR: O leitor, pecuarista renomado, um dos mais festejados selecionadores de nelore mocho do Brasil, se refere à edição de outubro de maneira geral e à matéria sobre ILP (Integração Lavoura Pecuária), em particular. De autoria da jorrnalista Maristela Franco, da revista DBO, a citada reportagem trata do desafio a que Viacava se propôs: fazer ILP em área de solo arenoso.


Engenheiro Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, professorda USP e presidente do CCAS, entre outras atribuições, José Otávio Mentem escreveu artigo polêmico sobre a profissão na edição de setembro de Agro DBO. Agrupamos, a seguir, três comentários a respeito: Referente à matéria “Engenharia Agronômica ou Agronomia”, de autoria do Eng.º Agrônomo José Otávio Menten. Gostaríamos de parabenizar a ênfase dada no assunto, porém sugerir algumas correções de equívocos o qual constatamos no texto. O assunto é pertinente, tanto é que tem influência inclusive no Ministério da Educação e da Cultura. Perante o sistema Confea/Crea e segundo o decreto n.º 9.585/1946, não existe a profissão Engenharia Agronômica, mesmo ela sendo utilizada muitas vezes como sinônimo de Agronomia. O correto é Agronomia e o título do profissional é Engenheiro Agrônomo. O autor do texto citou o decreto que concede o título de Engenheiro Agrônomo (até aí correto!), mas não citou que o mesmo decreto cita em sua epígrafe “...aos diplomados por estabelecimento de ensino superior de Agronomia.” Na primeira frase do texto do autor já vem o equívoco, quando diz que Engenheiros Agrônomos são formados em cursos de Engenharia Agronômica. A profissão “Engenharia Agronômica” tradicionalmente é empregada na Esalq (de onde o autor do texto é professor) e outras universidades como sendo sinônimo de Agronomia, porém legalmente não existe. O que existe é Agronomia. Sendo assim, Agronomia é o nome do curso que forma Engenheiros Agrônomos, segundo o decreto supracitado. E ponto. Engenharia Agronômica, embora seja utilizada como sinônimo, remete mais à tradição do nome utilizado pioneiramente por algumas instituições de ensino para se referir à Agronomia. Agronomia é uma profissão abrangente, conforme citou o autor do texto (e pioneira, pois existe desde 12/10/1933), a qual derivou-se outras profissões, dentre elas a Engenharia Florestal, a Agrícola, a de Pesca, Zootecnia, etc. O Engenheiro Agrônomo possui atribuições em todas essas áreas, segundo o Decreto

n.º 23.196/1933, a Lei n.º 5.194/1966 e segundo a Resolução n.º 218/1973 do Confea. Atualmente há um consenso entre a CCEAGRO, Confea e Confaeab em padronizar o nome da profissão para Agronomia (que é o termo correto). Dessa forma, não gera confusão perante à sociedade, ao MEC ou a quem quer que seja. Tanto é que hoje a sigla Crea significa “Conselho Regional de Engenharia e Agronomia”. Se a profissão se chamasse Engenharia Agronômica, não precisaria o “A” de Agronomia na sigla. Resumindo, o curso chama-se Agronomia, e o título profissional é Engenheiro(a) Agrônomo(a). Nos dispomos a esclarecer quaisquer dúvidas. Atenciosamente. Ricardo Braido Engenheiro Agrônomo, Diretor Técnico da Associação Maringaense dos Engenheiros Agrônomos – Maringá (PR) Muito boa a explicação (NR: o leitor Tito Lívio Canto se refere à argumentação acima, de Ricardo Braido), e bem fundamentada, para acabar a desinformação que o autor do artigo está disseminando, por desconhecer o arcabouço legal que sustenta o nome Agronomia para o único curso que pode formar Engenheiros Agrônomos. Se faz mister a publicação da sua correspondência para restabelecer a verdade. Atenciosamente. Tito Lívio Canton Presidente da Associação Campograndense de Engenheiros Agrônomos - Campo Grande (MS). Ricardo, também parabenizo-o pela clareza da exposição. O entendimento da denominação do curso Agronomia (para o título Engenheiro Agrônomo) recebeu decisão plenária do Plenário do Confea nesta semana (em setembro), com aprovação da proposta emanada das câmaras especializadas de Agronomia! Kleber Santos Coordenador da CCEAGRO – Coordenadoria de Câmaras Especializadas de Agronomia – Brasilia (DF) AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Ponto de vista

O dilema do milho na fronteira agrícola O articulista sugere a instalação de agroindústrias no Centro-Oeste para viabilizar a produção de milho, com rentabilidade aos produtores. Rogério Arioli Silva *

E * O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

m condições normais de temperatura e pressão a produção de milho nas fronteiras agrícolas brasileiras não remunera o produtor rural. Mesmo tendo dominado as “janelas” de plantio, ou seja, as épocas apropriadas à semeadura em cada região específica, o custo da ineficiente logística brasileira deixa na estrada o que deveria ficar no bolso de quem produz. O que acaba acontecendo é a vergonhosa situação em que o excesso de produção incomoda o governo, pois faltam armazéns

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para estocagem, e os preços sofrem enorme aviltamento (R$ 10,50/saca na região norte do MT). Há um inegável esforço por parte do governo no sentido de garantir o preço mínimo de R$ 13,52 a saca através dos leilões de Pepro (Prêmio de Escoamento do Produto), onde consegue vender seu produto aquele que aceita o maior deságio. Entretanto, o que se tem observado é que as grandes empresas esperam o anúncio dos leilões de Pepro e acabam depreciando ainda mais o preço do produto, reajustando suas

margens. Os produtores, por sua vez, precisam aguardar toda a análise da documentação comprobatória da venda do produto através da Conab - o que pode demorar meses, para receberem sua irrisória subvenção. Em decorrência disso muitos produtores não mais se sentem motivados a cultivar este cereal, tão importante para o país. Não há dúvidas de que esse modelo está obsoleto e precisa de urgente modificação. Não se imagina que o contribuinte brasileiro - que paga impostos de primeiro mundo, se conforme em saber que os recursos que poderiam melhorar a renda do produtor brasileiro estão engordando o bolso de grandes tradings do agronegócio. Se a produção de milho das fronteiras agrícolas do Centro-Oeste de fato interessa ao país é preciso que se criem os mecanismos necessários para que o produtor seja remunerado decentemente. Enquanto aqui no Brasil se apregoava a vantagem da cana sobre o milho na produção de etanol, e alguns alarmistas denunciavam que a produção de energia para combustíveis não deveria ceder espaço à produção de alimentos, os Estados Unidos fizeram as duas coisas ao mesmo tempo. Produziram etanol à base de milho, tornando-se os maiores produtores mundiais em menos de uma década, e, de quebra, sobrou-lhes o DDG (em inglês: grãos secos por destilação) um excelente concentrado proteico


usado nas formulações destinadas à nutrição animal. Esse subproduto atualmente possui valor superior ao do próprio milho, matéria-prima que o originou, demonstrando a viabilidade do processo. Além da produção de etanol de milho, que já se mostra viável economicamente em muitas regiões do país, é preciso que esse grão seja transformado em proteína animal e com isso minimize os impactos da logística no seu preço. Esse assunto é antigo, entretanto, não prospera porque não existe uma política específica de apoio à implantação de agroindústrias nas fronteiras agrícolas. É óbvia a conclusão de que é muito mais barato ao país emprestar dinheiro a juros compatíveis para criar consumos locais das matérias-primas do que sustentar preços artificialmente como vem sendo feito. A competitividade da

agroindústria é tanto maior quanto mais próxima das matérias-primas abundantes, como é o caso da região Centro-Oeste. A agregação de valor proporcionada pela transformação do milho e dos farelos proteicos em carnes assemelha-se ao milagre da multiplicação dos pães, com o devido respeito à comparação. Uma to-

que as empresas invistam em novas plantas frigoríficas de aves, suínos e ovinos, além do aumento nos confinamentos de bovinos, gerarão a demanda regional de que o milho precisa para reverter-se em lucro ao produtor. Essa é a reivindicação inteligente para emprestar rentabilidade à produção de milho nas regiões de

Os prêmios para escoamento são passíveis de questionamentos no comércio internacional. nelada de milho está cotada atualmente no norte de Mato Grosso em torno de R$ 180,00, enquanto que a tonelada da carne de frango para exportação “in natura” encontra-se em torno de US$ 2,000.00, a carne suína em US$ 2,500.00 e a bovina em US$ 4,800.00 por tonelada. A abertura de linhas de crédito para

fronteira agrícola, e não de prêmios para escoamento, que, além de ficarem na mão de intermediários, são passíveis de questionamentos no comércio internacional. O produtor não precisa mais de paternalismo e sim de políticas de estado que tenham a necessária visão estratégica e de longo prazo do agronegócio.

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Almanaque

Você sabia? Informação é sempre útil e pode ser rentável, pois alarga os horizontes, dependendo de como se possa utilizar essa novidade. Hélio Casale *

Q

ue a frutose é o açúcar presente nas frutas? Fornece a mesma quantidade de calorias que o açúcar de cana, mas seu poder adoçante é 33% maior que o do açúcar comum.

Que a cebola faz chorar? Porque, quando cortada, o ácido propilsulfênico, derivado do enxofre, transforma-se em propanotial-S-óxido, fator lacrimogêneo volátil que irrita os olhos, provocando lágrimas.

Que o girassol é planta da família das compostas e de origem americana? É considerada planta bocífera, ou seja, muito exigente em boro. A cabeça é chamada de capítulo e quanto maior ele for maior a quantidade de boro disponível no solo, e capítulo menor significa que está faltando boro. Boa planta indicadora.

Que a parte mais nutritiva da cenoura está na casca? Portanto, evite descascar as cenouras ao prepará-las para consumo. Por outro lado, descascada, ela se oxida rapidamente, escurecendo.

Que a soja é originária das regiões frias da China e foi “tropicalizada” graças á pesquisa agronômica, permitindo seu cultivo comercial nas regiões quentes? Assim a lavoura se expandiu e está sendo cultivada em todo o Brasil. Que das sementes do gergelim se obtém óleo e farinha? Centrifugado, torna-se a tradicional pasta ou “manteiga” árabe, a tahine, usada em doces (halawi) e salgados (homus).

* O autor engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

Que milho verde até bem pouco tempo atrás era simplesmente o milho colhido antes da maturação? Hoje, foram desenvolvidas variedades específicas para consumo in natura, com grãos amarelo-claros, macios e com bom teor de açúcar e amido. O cultivo do milho verde ocupa cerca de 28.000 ha, com produção de 250.000 toneladas anuais.

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Que o gengibre é planta da família das zingiberáceas, e de origem asiática? Tem propriedades anestésicas e antissépticas, costuma ser mastigado para aliviar rouquidão, tosse, ou dores de garganta. Cantores o empregam com frequência. Além disso, o gengibre é um excepcional estimulante do nosso sistema imunológico, portanto, ajuda a prevenir e curar inúmeras infecções, especialmente as viroses, como gripes e resfriados. Que o pepino, planta de origem indiana, tem fama de ser indigesto? Está sempre na boca do povão que diz: que pepino, hein? Com isto as pessoas estão querendo dizer que a situação está difícil, e que se está com problemas à vista. Que consumir tomates, que é um produto rico em licopeno, uma substância carotenoide que dá cor avermelhada ao tomate, à melancia, à beterraba e ao pimentão e ajuda a reparar os

danos às células causados pelos radicais livres? O licopeno é um anticancerígeno natural. Que o alho apresenta propriedades antioxidantes, expectorantes e antigripais, além de anti-inflamatórias e antibióticas? Auxilia na circulação sanguínea, combate a hipertensão e reduz o colesterol ruim. Pode ser muito bom, mas deixa um bafo... Que o coentro é planta da família das umbelíferas, nativo do Japão? Semelhante à salsinha, o coentro é condimento essencial na culinária nordestina, dando sabor acentuado principalmente aos pescados. Seu consumo contribui para sequestrar metais pesados acumulados no corpo. O coentro já era conhecido e utilizado pelos egípcios, não como tempero, mas como planta medicinal (a ele se atribuíam propriedades digestivas, calmantes e, quando usado externamente, para alívio de dores das articulações e reumatismos), além de possuir efeito anafrodisíaco, ou seja, reduz a libido, portanto, moderação em seu consumo. Que as pimentas vermelhas contém o óleo volátil capsaicina, que provoca ao paladar e ao olfato o característico ardor, estimulando o cérebro a liberar endorfinas? Tais pimentas são mais consumidas em regiões de clima quente, pois seu consumo regular abaixa a temperatura do corpo, que assim suporta melhor o calor excessivo.



Notícias da Terra Safra I

Mais de 200 milhões de toneladas?

O

Brasil vai colher entre 194 milhões e 201,6 milhões de toneladas de grãos na temporada recém-iniciada, de acordo com o primeiro levantamento da Conab sobre a safra 2014/15, divulgado no mês passado. A área plantada deve ficar entre 56,2 a 58,3 milhões de hectares. A pesquisa de

campo foi feita de 21 a 27 de setembro junto a produtores rurais, agrônomos, cooperativas, secretarias municipais e estaduais de agricultura, órgãos de assistência técnica e extensão rural (oficiais e privados), técnicos do IBGE, agentes financeiros e revendedores de insumos.

Safra II

IBGE fecha safra em 193,5 milhões t

A

safra 2013/14 de cereais, leguminosas e oleaginosas deve fechar em 193,5 milhões de toneladas, 2,8% acima do colhido na temporada anterior (188,2 milhões t) e 84,7 mil t abaixo do total anunciado em setembro, de acordo com a nona estimativa do IBGE, divulgada no mês passado. Os três principais produtos – soja, ar-

roz e milho – responderam por 91,2% da estimativa da produção e 85,1% da área plantada. Os pesquisadores comprovaram acréscimo de 5,5% na produção de soja e 3,5% na de arroz. No caso do milho, houve queda de 3,1%. A área plantada chegou a 56 milhões de hectares, 5,9% maior que a de 2013 (52,8 milhões ha).

Safra III

Participação na produção nacional por regiões

Considerando as regiões em que se divide o Brasil, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas atendeu a seguinte distribuição ao final da safra 2013/14: Centro-Oeste, 81,8 milhões de toneladas; Sul, 72,8; Sudeste, 17,3; Nordeste, 16,1 e Norte, 5,4. Comparativamente à safra passada, houve incremento de 4,3% no CentroOeste, 34,9% no Nordeste e 9,2% no Norte. As regiões Sul e Sudeste apresentaram, respectivamente, recuos de 0,3% e 12,5% em relação a 2013. O estado de Mato Grosso consolidou-se como o maior produtor nacional de grãos, com 24,4% de participação, seguido pelo Paraná, com 18,6%, e pelo Rio Grande do Sul, com 15,8%.

Safra IV

Variação de 2013 para 2014

E

ntre os 26 produtos pesquisados pelo IBGE, 18 apresentaram acréscimo de produção em relação a 2013: mamona (170,4%), trigo (37,8%), feijão 1ª safra (34,5%), algodão (22,6%), café conilon (18,9%), mandioca (9,9%), feijão 2ª safra (8,8%), batata-inglesa 1ª safra (7,2%), cebola (6,7%), soja (5,5%), batata-inglesa 3ª safra (4,6%), cevada (4,5%), arroz (3,5%), cacau (3,3%), aveia (3%), milho 2ª safra (2,4%), cana-de-açúcar (1,3%) e laranja (0,9%). Um dos produtos (triticale) ficou na mesma: nem subiu nem desceu. Os demais apresentaram produção menor: amendoim 1ª safra (- 20%), amendoim 2ª safra (- 17,5%), café arábica (- 14,8%), feijão 3ª safra (- 11,3%), sorgo (-10,7%), milho 1ª safra (10,5%) e batata-inglesa 2ª safra (- 0,4%).

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Notícias da Terra Safra VI

USDA eleva previsão de soja e milho

A

s safras norte-americanas de soja e de milho em 2014, já projetadas em volumes recordes anteriormente, serão maiores do que o previsto um mês atrás, conforme reavaliação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), divulgada em 13/10. De acordo com novo levantamento da instituição, a produção de soja chegará a 106,7 milhões de toneladas e a de milho, a 367,7 milhões.

Safra VII

Números aproximados

O

Safra V

Subsídios a longo prazo

A

produção nacional de grãos deverá alcançar 252,4 milhões de toneladas em dez anos, 58,8 milhões a mais em relação ao produzido atualmente no Brasil. No que diz respeito à área plantada, deverá passar de 70,2 milhões de hectares em 2014 para 82 milhões, um acréscimo de 11,8 milhões de hectares. Os dados constam da 5ª edição do periódico “Projeções do Agronegócio – Brasil 2013/2014 a 2023/2024 ­— Projeções de Longo Prazo”, lançado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Mapa com o objetivo de fornecer subsídios aos formuladores de políticas públicas quanto às tendências dos principais produtos agropecuários. O relatório contém projeções de 26 produtos: milho, soja, trigo, laranja, suco de laranja, carne de frango, carne bovina, carne suína, cana-de-açúcar, açúcar, algodão, farelo de soja, óleo de soja, leite in natura, feijão, arroz, batata inglesa, mandioca, fumo, café, cacau, uva, maçã, banana, papel e celulose. Desta relação, os produtos com maior potencial de crescimento nos próximos anos são: soja, trigo, algodão, açúcar, celulose, carne de frango, leite e carne suína.

USDA manteve a previsão de 94 milhões de toneladas para a safra brasileira de soja no ciclo 2014/15. De acordo com a primeira estimativa da Conab para a temporada recém-iniciada, deve ficar entre 88,8 e 92,4 milhões de toneladas. Na média, analistas, corretoras e instituições fecham em 93 milhões de toneladas, considerando condições normais de clima. Porém, não foi o que ocorreu no início do plantio. Em várias regiões do país, principalmente no Centro-Oeste, as chuvas não vieram na hora certa e no volume esperado. A temporada começou em regime de seca.

Safra VIII

Atraso no campo

S

egundo projeções, Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil e tradicionalmente o primeiro estado a semear a safra de verão, deve terminar janeiro com cerca de 5% de sua área colhida, bem abaixo dos 14% de média de cinco anos. Até meados de outubro, devido à estiagem prolongada, o plantio não havia chegado a 10% da área, o índice mais baixo em várias anos. Em algumas regiões, produtores que apostaram em variedades superprecoces foram obrigados a fazer o replantio ou aguardar a chegada das chuvas que, segundo a meteorologia, viria no final do mês. De qualquer forma, o prejuízo já era evidente. Além de perder a janela ideal de plantio da safrinha, o alongamento da safra prejudicará os negócios, já que haverá poucas áreas prontas para colher em janeiro. O clima impactou o início da temporada 2014/15 no Brasil (OBS: leia a respeito na página 44 desta edição). novembro 2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra Exportações I

Saldo positivo em setembro

A

balança comercial do agronegócio brasileiro encerrou setembro com superavit de US$ 6,88 bilhões (US$ 8,3 bilhões em vendas externas e US$ 1,42 bilhão em compras). As exportações no mês caíram 7,4% e as importações subiram 3,6%, no comparativo com setembro de 2013. O complexo soja (grão, farelo e óleo), motor do crescimento nas exportações nos meses anteriores, foi o principal responsável pela retração nas vendas externas no mês passado, em função da redução da quantidade embarcada e do preço menor de comercialização. A queda deve-se também à base elevada de comparação: 2013 foi um ano atípico, em razão de antecipações de embarque de soja para a China.

Exportações II

Balanço favorável em 2014

Café

N

C

o acumulado do ano (de janeiro a setembro), o complexo soja foi o item da pauta exportadora com maior volume de vendas (US$ 29,2 bilhões), comparativamente ao resultado obtido no mesmo período de 2013. As carnes (bovina, suina e de frango) ficaram em segundo, com US$ 12,8 bilhões, à frente do setor sucroalcooleiro (US$ 7,5 bilhões), dos produtos florestais ( US$ 7,4 bilhões) e do café (4,7 bilhões). As exportações do agronegócio alcançaram US$ 75,9 bilhões, com participação de 43,7% no total das vendas externas do país no período. Considerando apenas os produtos do agronegócio, os de origem vegetal atingiram a cifra de US$ 58,9 bilhões (77,6% de participação) e os de origem animal, US$ 17 bilhões (22,4%).

Renda menor onforme dados do boletim “Ativos do Café”, elaborado pelo CIM/ Ufla – Centro de Inteligência e Mercado da Universidade Federal de Lavras, em parceria com a CNA - Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, a queda da produtividade na safra 2013/14 provocou redução na renda dos cafeicultores, especialmente em Minas Gerais, maior produtor do país. O COT - Custo Operacional Total em Guaxupé, tradicional região cafeeira, aumentou 27,9%. Considerando produção plena na safra atual (descartando-se, portanto, o impacto decorrente das adversidades climáticas nos cafezais), os custos em setembro/14 seriam de R$ 466,30/saca. Considerando a realidade até setembro, ficaram em R$596,47/saca.

VBP

Faturamento esperado de R$ 450,2 bilhões

O

VBP - Valor Bruto da Produção da agropecuária brasileira deve crescer 5,9% em 2014 e alcançar R$ 450,2 bilhões, segundo projeções da CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. O VBP da agricultura deve fechar em R$ 287,8 bilhões e o da pecuária, em R$ 162,4 bilhões. No ano passado, o VBP conjunto (considerando os 25 principais produtos de ambos os setores) foi de R$ 424,9 bilhões.

14 | Agro DBO – novembro 2014


Notícias da Terra Clube da cana

Especialistas querem reverter “atraso” da cana

N

os últimos 50 anos, a capacidade produtiva da cana-de-açúcar em todo o mundo aumentou aproximadamente 40%. No Brasil, a evolução foi maior: 76%. Enquanto isso, a produtividade de culturas concorrentes na produção de açúcar e etanol decolaram. Nas mesmas cinco décadas, o milho evoluiu 167%, e a beterraba, 132%. Os números foram apresentados pelo diretor de melhoramento do CTC – Centro de Tecnologia Canavieira, Willian Burnquist, durante o Clube da Cana 2014, evento anual realizado pela FMC no mês passado, no Guarujá (SP). O especialista chamou a atenção para o “atraso” no melhoramento genético da cana com relação a outras culturas. “Ainda acreditamos que produzir açúcar e etanol é muito mais eficiente com a cana do que com milho e beterraba. Mas já tem muita gente questionando isso e, a continuar nesta toada, vamos perder o barco”, afirmou ele, diante de uma plateia de 370 pessoas (fornecedores de cana e industriais) que, segundo a FMC, representavam mais de 50% das usinas sucroenergéticas e pelo menos 70% da área plantada de cana no Brasil. O aviso de Burnquist foi feito no momento em que a produção de etanol de milho começa a dar os primeiros passos no Brasil. Há duas usinas no Mato Grosso que já proces-

sam o cereal e cana para obter o biocombustível. São as chamadas usinas flex. No Mato Grosso do Sul, a norte-americana Biourja iniciou a construção da primeira usina full de etanol de milho do país e conta com mais quatro outros projetos, com incentivos fiscais já aprovados, aguardando licenciamento ambiental. Ao mesmo tempo em que aponta uma larga distância entre a produtividade de etanol –7.500 litros/ha (cana) e 3.500 litros/ha (milho) – Burnquist admite que o CTC está “preocupado com o etanol de cereal” diante do histórico de avanço de produtividade das diferentes matérias primas nos últimos 50 anos. Segundo o diretor do CTC, a cana está muito atrasada em melhoramento genético: “Pelo menos entre 15 e 20 anos distante da soja ou do milho”. De acordo com o Marcos Landel, coordenador do Programa Cana do IAC – Instituto Agronômico de Campinas, a forte expansão de área plantada entre os anos de 2004 e 2009 atropelou eventuais avanços genéticos e comprometeu resultados da aplicação de novas ferramentas tecnológicas. “Saímos de uma área plantada de 5,4 milhões de hectares para 9,2 milhões em praticamente sete anos; neste período, não tivemos condições de preparar viveiros e acabamos por multiplicar coisas

erradas. Nos últimos 10 anos, pelo menos 80 novas variedades de cana foram lançadas, mas as empresas em expansão não tinham onde obter mudas em quantidade suficiente, optando, assim, por usar variedades antigas”, explica. Para justificar o descompasso entre tecnologia e demanda comercial, ele cita o exemplo da mecanização do plantio: “Nestes anos, notamos um gasto excessivo de mudas e problemas com mistura varietal ao colherem, involuntariamente, plantas remanescentes”. Nos últimos anos, o IAC vem experimentando mudas pré-brotadas (MPB). O objetivo é que esta alternativa permita produção rápida de plantas, elevado padrão fitossanitário, vigor e uniformidade de plantio.

Fornecedores, empresários e técnicos, durante uma das palestras do Clube da Cana, realizado no Guarujá (SP).

*Texto do repórter Ariosto Mesquita, que viajou a convite da FMC .

novembro 2014 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Algodão

EUA quitam dívida

O

s Estados Unidos pagaram, finalmente, os US$ 300 milhões restantes do que deviam aos produtores brasileiros de algodão, liquidando assim arrastada disputa na OMC – Organização Mundial do Comércio, vencida pelo Brasil. Em 2009, a OMC autorizou o Brasil a retaliar os EUA em US$ 829 milhões, em razão de subsídios concedidos pelo governo norte-americano aos seus produtores de algodão. Os Estados Unidos passaram a pagar US$ 147,3 milhões anuais ao IBA - Instituto Brasileiro do Algodão, mas interromperam os repasses em outubro de 2013, o que levou o governo brasileiro a ameaçar impor tarifas mais altas para produtos oriundos daquele país. Ao invés de retaliar legalmente os EUA pelo descumprimento do acordo, o Brasil acabou optando pela negociação. Os US$ 300 milhões restantes foram depositados no dia 15 de outubro na conta do IBA, conforme informações do Mapa.

Estiagem

Prejuízos de R$ 30 milhões

Agroquímicos

A

P

suspensão do transporte de cargas pela hidrovia Tietê-Paraná, provocada pelo baixo volume de água resultante da estiagem sobre o estado de São Paulo, causou prejuízos de R$ 30 milhões ao agronegócio. A estimativa foi feita em meados de outubro pelo presidente do Conselho de Logística e Infra-estrutura da Abag Associação Brasileira do Agronegócio, Renato Pavan. Segundo ele, a expectativa de prejuízo potencial poderia chegara a R$ 45 milhões ou mais. “Hoje, transportar grão de São Simão pela hidrovia até Pederneiras e, de lá, por ferrovia até Santos, custa R$ 86 a tonelada. Como não foi possível continuar a navegação na hidrovia, então essa carga teve de ir por caminhão custando R$ 101 por tonelada. Essa diferença provoca a diminuição da renda do produtor e congestionamento das estradas até o porto, sem falar na quantidade de caminhões para substituir a ferrovia”, disse ele, em entrevista à Agência Brasil (Leia reportagem sobre a seca no estado de São Paulo a partir da página 20) 16 | Agro DBO – novembro 2014

Mato Grosso na liderança rincipal produtor de grãos do Brasil, Mato Grosso respondeu por 18,9% do consumo de defensivos agrícolas na última safra, considerando as culturas de soja, milho, cana, cítricos, algodão e arroz. Conforme o Sindveg – Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal, o volume de agroquímicos comercializados no estado foi de 167 mil toneladas, totalizando US$ 2,15 bilhões, contra 884 mil toneladas em todo o país (US$ 11,4 bilhões). São Paulo foi o segundo maior consumidor, com 14,5% do total nacional, seguido pelo Paraná (14,3%), Rio Grande do Sul (10,8%) e Goiás (8,8%). A aplicação de agroquímicos representa de 15 a 30% do custo de produção.

Fertilizantes

Vendas recordes

A

comercialização de fertilizantes no Brasil atingiu o recorde mensal de 3,9 milhões de toneladas em setembro, 9,4% acima do volume entregue no mesmo mês em 2013. Até então, a melhor marca fora registrada em outubro do ano passado (3,8 milhões de toneladas), segundo levantamento da Anda – Associação Nacional para Difusão de Adubos. Normalmente, as entregas em agosto, setembro e outubro – quando os produtores estão se preparando para semear a safra de verão –, costumam ser as maiores do ano De janeiro a setembro, a comercialização no país cresceu 7,3% em relação ao mesmo período de 2013 e chegou a 23,7 milhões de toneladas, caminhando para superar este ano o recorde obtido no ano passado, de 30,7 milhões de toneladas, conforme projeções da entidade.


Manejo complicador

A

Abrapos – Associação Brasileira de Pós-Colheita alerta para a necessidade de mais investimentos em infraestrutura e qualificação da mão-de-obra para reduzir problemas recorrentes no pós-colheita, como o aumento do índice de vagens e grãos verdes de soja, por exemplo. “O problema surgiu há quatro anos e vem se agravando, principalmente nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná”, afirma o pesquisador Antonio Eduardo Pipolo, um dos participantes da VI Conferência Brasileira de Pós-Colheita, realizada no mês passado em Maringá (PR). Uma das causas, segundo ele, é a prática de antecipar a colheita, em função da necessidade de aproveitar a janela ideal para o plantio da safrinha de milho. Com isso, a retirada dos grãos do campo ocorre em período chuvoso, quando a incidência de doenças fúngicas é maior. Nos últimos anos, por consequência, houve um aumento da aplicação de fungicida. “Esse insumo retarda a maturação da planta, que fica verde por mais tempo.” Embora seja difícil quantificar os prejuízos, ele diz que a indústria esmagadora é que tem absorvido esse custo. “Não se consegue pegar as vagens verdes na amostragem e descontar do produtor.” Pipolo apontou algumas soluções para o problema.

“Em primeiro lugar, o produtor deve regular melhor sua colhedeira ou lançar mão de tecnologia Axial. Em segundo lugar, melhorar o controle de pragas e doenças, para que o desenvolvimento da lavoura seja homogêneo. Na indústria, pode-se reduzir o percentual de vagem verde anexando equipamento de pré-limpeza”, disse o pesquisador. Outro destaque na conferência da Abrapos foi a palestra da professora Lêda Faroni, da UFV – Universidade Federal de Viçosa, sobre a ação de resíduos de pesticidas em grãos e sua influência na saúde humana. “Os resultados das primeiras culturas analisadas mostram que os limites permitidos de contaminação estão acima dos índices determinados pela legislação”, afirma Lêda. Autora de estudos sobre o mecanismo de ação desses agrotóxicos no ser humano, ela defende a utilização de tecnologias que possam degradar os resíduos de pesticidas, a exemplo do que ocorre em muitos países da Comunidade Europeia, onde se utiliza ozônio ao invés de cloro no tratamento da água. “O ozônio é superior ao cloro porque não deixa efeito residual na água. Além disso, é um excelente biocida, porque atua tanto no controle de microorganismos como de insetos”, compara. A pesquisadora diz que é possível gerar ozônio em laboratório e que já são comercializados no Brasil equipamentos que forne-

cem ozônio para tratamento de água. A ideia é que o usuário final adquira os produtos já detoxificados pela indústria. Em pesquisa de doutorado na UFV, a química Fernanda Heleno conseguiu remover 95% de agrotóxicos na cultura do arroz. A Conferência Brasileira de Pós-Colheita ocorre a cada quatro anos e tem como objetivo transmitir conhecimento e, com isso, reduzir perdas em logística, armazenamento de grãos, processamento e outras etapas do pós-colheita. “Os pontos altos do evento deste ano foram manejo, transporte e a segurança alimentar”, disse o presidente da Abrapos, Irineu Lorini, também pesquisador da Embrapa Soja. Segundo ele, o país precisa investir mais em infraestrutura e ampliar a capacitação técnica nas áreas de logística e armazenagem. *Texto do repórter Glauco Menegheti, que viajou a convite da Cycloar.

Vista geral da plateia, durante a Conferência da Abrapos, em Maringá (PR).

Lotes de soja, com grande concentração de vagens e grãos verdes.

Fotos Antônio Pipolo

Pós-colheita

Lebna Landgraf

Notícias da Terra

novembro 2014 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra Segurança

Operação safra O Oeste da Bahia vai à guerra contra os ladrões. Com 2,25 milhões de hectares cultivados e mais de mil propriedades rurais, o Oeste da Bahia inicia uma nova safra com um reforço de segurança. A Polícia Militar da Bahia lançou em meados de setembro a “Operação Safra”. Esta ação levará policiamento ostensivo e preventivo à zona rural, para evitar os transtornos ocorridos na safra passada, quando muitas propriedades foram invadidas para o roubo de defensivos, deixando prejuízos de R$15

milhões. A Operação deve se estender até abril de 2015. Com efetivo de 72 homens da Polícia Militar Estadual, apoio de 6 viaturas e 1 helicóptero, as patrulhas vão circular na zona rural e monitorar as propriedades. A “Operação Sa-

fra” no Oeste da Bahia faz parte de articulação, junto ao governo estadual, da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa) e dos Sindicatos Rurais, de Barreiras e Luís Eduardo Magalhães.

Sementes

Soja Inox tem patente válida nos EUA Os Estados Unidos oficializaram em setembro último o reconhecimento da patente do método

de seleção para o gene Rpp5, que confere resistência à ferrugem asiática da soja. O método, criado pela Tropical Melhoramento & Genética (TMG), facilita o desenvolvimento de variedades do grão resistentes à doença, e permite reduzir a aplicação de fungicidas com economia nos custos de produção. A ferrugem é responsável por perdas de até 80% na produtividade da soja. O número de infestações é agravado pelo segundo cultivo de soja sobre a soja de verão, que sofre incidência do problema de forma muito maior.

O método patenteado utiliza o mapeamento genético para saber a sequência do DNA da planta associada ao gene de resistência. Conforme Alexandre Garcia, gestor de Pesquisa da TMG, o processo é chamado de seleção assistida por marcadores moleculares. “O trabalho de descoberta é difícil, demorado, exige muito esforço e tecnologia”, explica. A TMG é uma empresa de capital nacional dedicada ao desenvolvimento de cultivares de soja e algodão. Sua sede é em Cambé (PR) e possui filial em Mato Grosso.

Negócios I

Arysta adquirida pela Platform A Arysta LifeScience anunciou em Dublin, Irlanda, em outubro último, que a Platform Specialty Products chegou a um acordo definitivo com a empresa Permira para adquirir a Arysta por aproximadamente US$ 3.51 bilhões, sujeito à aprovação regulatória, capital de trabalho e outros ajustes. Uma vez concluída a aquisição, a Platform combinará a Arysta com as empresas adquiridas anteriormente, Agriphar e Chemtura Crop Solutions (esta última ainda aguardando aprovações governamentais finais). A entidade combinada será operada verticalmente como uma empresa de produtos químicos agrícolas integrada, com vendas de aproximadamente US$ 2,1 bilhões, a 10ª maior da indústria. O CEO atual da Arysta, Wayne Hewett, dirigirá o novo grupo. “Há benefícios imediatos ao unir forças com a Agriphar e a Chemtura” disse Hewett. “Vamos ser capazes de oferecer a nossos clientes uma gama completa de biossoluções, proteção de cultivos e produtos de tratamento de sementes.” Espera-se a conclusão da transação no primeiro trimestre de 2015. 18 | Agro DBO – novembro 2014


Notícias da Terra Etanol

Embraer celebra 10 anos do Ipanema a etanol O avião agrícola Ipanema movido a etanol (etanol hidratado) - EMB 202A - completou em outubro dez anos de certificação. O Ipanema foi o primeiro avião de série no mundo a sair de fábrica certificado para voar com este tipo de combustível – o mesmo utilizado em automóveis – e ainda é o único. A primeira entrega do avião a etanol aconteceu em março de 2005 – coincidentemente foi também o milésimo Ipanema a ser vendido. A partir de então, a Embraer começou a oferecer tam-

bém kits de conversão para etanol aos proprietários de aviões movidos a gasolina de aviação (AvGas). Até 2014, foram 269 aeronaves vendidas e 205 kits de conversão, totalizando 474 aeronaves voando a etanol. Hoje, cerca de 40% da frota do Ipanema em operação já é movida a etanol. Produzido de forma ininterrupta há mais de 40 anos, o Ipanema já superou a marca de 1.300 unidades entregues e é líder no mercado de aviação agrícola no Brasil, com cerca de 65% de participação.

Negócios II

DuPont Pioneer completa 15 anos em soja no Brasil A DuPont Pioneer está comemorando 15 anos no segmento de soja no Brasil. Desde 1.999 tem investido e focado em soluções para os problemas dos sojicultores brasileiros. Atualmente, existem quatorze variedades de soja no portfólio da empresa, as quais podem ser combinadas com o Tratamento de Sementes Industrial da DuPont Pioneer, auxiliando no controle de pragas e doenças durante as fases iniciais da planta. Com um sólido programa de melhoramento, a DuPont Pioneer realiza testes e cruzamentos, e com isto aumenta a sua base genética e as possibilidades de desenvolver cultivares com maior rendimento, tolerância a doenças e outras características especiais. Com a biotecnologia, a DuPont Pioneer conseguiu desenvolver modernas ferramentas, as quais permitem a seleção rápida e precisa de genes de interesse para os programas de melhoramento de soja. A DuPont Pioneer tem uma capacidade de produção instalada de 6 milhões de sacos de 25 Kg. Com mais de 85 anos de melhoramento, a DuPont Pioneer é líder mundial em genética vegetal.

Estatística

Produção agrovegetal Por e-mail, o engenheiro agrônomo Fernando Penteado Cardoso, enviou-nos uma interessante tabela, que fala por si, e alguns comentários: “No final da década de 1960 (na Manah) tivemos ideia de estabelecer um valor que expressasse a produção agrícola total a fim de comparar com o uso de fertilizantes. A somatória inicial mostrou-se um tanto artificial pelas quantidades apresentadas de cana e de frutas, desproporcionais em t/ha. Foi então que nos ocorreu a ideia de ajustar esses produtos à sua matéria seca, estendendo esse critério aos tubérculos e raízes, com o que a so-

matória se mostrava mais palatável. Criamos então a expressão “Produção Agrovegetal Base Seca” para representar os volumes de grão somados aos dos demais produtos igualmente importantes, sob a responsabilidade do Sindicato da Indústria de Adubos do ESP. Do atual banco de dados com mais de 2.000 informações cobrindo os 43 anos decorridos, extraímos o quadro abaixo que submeto para análise da Agro DBO. Se o critério não é o melhor, os dados valem pela consistência. Recentemente esse banco de dados foi transmitido ao enge-

nheiro agrônomo Ricardo Shirota, do Departamento de Economia Agrícola da Esalq. E está à disposição dos interessados.” Produção Agrovegetal

Base seca 16 produtos (cana, frutas e raízes pela matéria seca) Produção milhões t

Produtividade t/ha

Fertilizante NPK kg/ha

1972

53,6

1,5

36

1982

86,9

2,0

72

Ano*

1992

113,0

2,4

71

2002

169,3

3,4

143

2013 evolução

296,2 (5,5x)

4,3 (2,9x)

181 (5,0x)

novembro 2014 – Agro DBO | 19


Capa

Paisagem paulista Os produtores rurais de São Paulo enfrentaram de 2013 até outubro de 2014 a pior seca desde 1890, quando as medições foram iniciadas. A estiagem causou enormes prejuízos no Sudeste e no Centro-Oeste. Benê Cavechini

(colaborou Graciela Andrade)

20 | Agro DBO – novembro 2014


Alexandre Tokitaka/Pulsar Imagens

A

s perdas no campo assombraram a população até o mês passado. Recordes históricos de calor foram quebrados este ano devido à massa de ar seco e quente que cobriu o Sudeste do Brasil e parte do Centro-Oeste. Em meados de outubro, a temperatura máxima oscilou entre 39ºC e 42ºC em centenas de municípios de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Desde que o IAC – Instituto Agronômico de Campinas começou as medições em 1890, esta é seguramente a seca mais grave pela qual o estado de São Paulo já passou. Neste ano, a média de precipitações foi de 550 mm no estado, contra média histórica de 936 mm (OBS: veja gráfico abaixo). A constatação é do meteorologista Orivaldo Brunini, chefe da Seção de Climatologia do IAC. Segundo ele, o que preocupa é o surgimento de uma tendência que começou a ser observada de 20 anos pra cá: “São Paulo já perdeu um mês de sua estação chuvosa. Normalmente, a temporada das águas que nós chamamos de ano hidrológico começava em setembro e escorria até março. Agora, encurtou. Está indo de outubro a março”. Brunini lembra que os paulistas já enfrentaram períodos difíceis, como os anos de 1970 e 1979. Mas, o agravante, segundo ele, é que de lá pra cá o consumo das cidades aumentou muito e a captação diminuiu. As regiões noroeste e oeste do estado de São Paulo foram as mais castigadas pela seca. As chuvas voltaram a cair no final do mês, mas de forma esparsa, de fraca intensidade - para muitos, foi apenas um refresco. Na ocasião, os produtores rurais temiam a possibilidade de não chover o suficiente em novembro e dezembro e entrar em mais um ano com elevado risco climático. Sérgio Tâmbara administra a propriedade da família no município de Salto Grande, no vale do Paranapanema, no oeste paulista. Ele conta que, na temporada passada, perdeu praticamente a metade da lavoura de soja. Esperava uma produtividade de 55 a 60 sacas por ­hectare,

Total de chuva – Ano hidrológico outubro/março – 1891-2014

Fonte: Seção de Climatologia do IAC – Instituto Agrônomico de Campinas

novembro 2014 – Agro DBO | 21


Capa A previsão para o noroeste paulista não era muito animadora: chuvas consistentes, só em dezembro (veja abaixo, nos mapas). gundo ele, até o mês passado não tinha recebido indenização”. “Muita gente tem essa dificuldade por aqui”, endossa o presidente do Sindicato Rural de Ourinhos, Eduardo Ferraro. Segundo ele, ninguém usa mais o Proagro – Programa de Garantia da Atividade Agropecuária. “Além disso, o seguro particular dos bancos é caro e está desacreditado na região”.

Sérgio Tâmbara perdeu metade da lavoura de milho. Na soja, só não perdeu mais, segundo ele, porque usou sementes GM resistentes às lagartas: “Senão, o prejuízo seria maior”.

Mapas hidrológicos produzidos pela Climatempo: como se vê, a estiagem deve perdurar em novembro no noroeste e no oeste de São Paulo, com chuvas mais consistentes apenas em dezembro.

mas colheu apenas 30. Agora, semeou 370 hectares de soja e 50 de milho na safra de verão. O milho começou a ser colocado no solo com a primeira chuva, no final de setembro: “Consegui fazer o plantio porque o milho safrinha nos deu um pouco de fôlego. Por aqui, choveu mais no inverno. A produtividade da safrinha foi melhor que a do milho verão. Além disso, tínhamos um pouco de soja guardada. Por isso, não tivemos necessidade de recorrer a financiamento em banco, mas na prática estamos queimando a gordura que a gente tinha”. Sérgio acredita que, se não tivesse plantado a soja transgênica resistente às lagartas (com tecnologia Bt), teria tido um prejuízo ainda maior. “Nos períodos secos, as lagartas ficam mais vorazes”. Ele reclama, porém, dos problemas que teve com o seguro agrícola. “Demoraram pra fazer a vistoria na lavoura prejudicada e, se-

Previsão – Novembro de 2014

Climatempo

Média histórica – Novembro

Dramas no campo Para os pequenos produtores que não têm boas condições econômicas e nem podem pensar em seguro agrícola, a seca trouxe consequências dramáticas. Nilton Cesar Alves pensa em se desfazer do sítio São João, onde nasceu e se criou. O sítio, em São José do Rio Preto, é destinado à produção de leite. “Estou vendendo as 30 vacas porque a ração ficou muito cara”. Em setembro do ano passado, Nilton plantou seis hectares de milho para alimentar o rebanho, mas a lavoura se perdeu com a falta de água. A comida destinada aos animais é racionada. Antes, Nilton colocava duas toneladas nos cochos pela manhã e duas à tarde. Agora, o alimento é servido apenas uma vez ao dia. Com isso, as vacas perderam peso e a produção de leite caiu pela metade. “Não tenho saída, vou vender antes que elas acabem morrendo”. O riacho que abastecia a propriedade agora é apenas um filete de água. Nilton lembra: “A água aqui cobria a gente, formava uma cachoeira e agora olha como está”, diz ele, apontando o “córrego” que lhe servia de fonte de abas-

22 | Agro DBO – novembro 2014


Média histórica – Dezembro

Fabiano Ferreira

tecimento para irrigar a lavoura. Ele tinha autorização pra isso desde 2001. Mas a lâmina de água baixou tanto que, desde dezembro do ano passado, a bomba de captação parou de funcionar. Sua situação financeira também se complicou. Em 2013, Nilton fez dois financiamentos no valor de R$ 350 mil. Pagou apenas uma parte e não sabe como vai quitar o restante. Formado em Geografia, voltou a dar aulas na cidade este ano: “Tenho que me virar; não posso ficar à espera de um milagre, porque agora só mesmo um milagre”. Histórias de perdas como essa se repetem pelo interior paulista. Em Mirassol, também na região noroeste do estado, José Adnaldo Faquim e o primo Cássio da Silva decidiram plantar este ano apenas 250 hectares de milho, metade do que cultivaram na safra passada. Do plantio de 2013, o que sobrou foi desgosto: por causa da seca, a produção esperada, de 120 sacas por hectare, caiu para 70. Para pagar o financiamento de R$ 220 mil, José Adnaldo diz que foi preciso vender dois tratores novinhos e um caminhão. “Seguro da lavoura? É caro e tem muita burocracia, não compensa”. Para assegurar o plantio da safra 2014/15, eles entraram no sistema de troca: compraram adubo pra pagar com parte da colheita. em abril. José Adevair, irmão de José Adnaldo, cultivou soja numa lavoura vizinha e também teve azar. Nos 400 hectares que semeou na última safra, o rendimento caiu de 50 para 25 sacas/ha. Prejuízo de 400 mil reais. Por isso, decidiu cultivar este ano a metade da área: “Vou plantar apenas 200 hectares. O tempo está cada vez mais estranho, não quero arriscar”. Na região de Itapetininga, no sul do estado, quem fez o plantio do feijão, no início de setembro deste ano, teve problemas. Em meados de outubro, quando as plantas começavam a florescer, faltou chuva. “Como a

irrigação ficou difícil com a pouca água nos córregos, os processos de pedido de seguro já começaram”, afirma o agrônomo Luiz Paulo Mendes que tem um escritório de consultoria. Ele acrescenta: “O pagamento do custeio ficou complicado. Muitos produtores da região já estão tentando renegociar as dívidas com os bancos”. Em Itapeva, onde se concentra a maior área de soja de São Paulo – 40 mil hectares –, os agricultores ainda não tinham começado a semeadura em meados de outubro. Mas, o presidente do Sindicato Rural do município, Dagoberto Mariano, é otimista: “Acho que o plantio não será difícil porque o pessoal está capitalizado com o bom resultado da safrinha de milho. Eles sabem que a previsão é de chuvas irregulares na região nos meses de novembro e dezembro. “Mas o produtor vai plantar, não podemos deixar a terra parada.Além do mais, o seguro funcionou

Nilton César Alves mostra o que sobrou do riacho que abastecia seu sítio, em São José do Rio Preto (SP): “A água aqui cobria a gente, formava uma cachoeira”.

Previsão – Dezembro de 2014

novembro 2014 – Agro DBO | 23


Capa Risco de racionamento dentro de uma área neutra. Desta vez, não deve se repetir a seca terrível de outubro de 2013 a março de 2014. A situação deve ter um alívio. No entanto, será difícil recuperar o nível dos reservatórios.” Maria Assunção complementa: “Está mais do que na hora de o governo e a sociedade adotarem medidas de convivência com a seca também no Sudeste e no Centro-Oeste. Temos que aprender a lição dos povos que vivem em outras regiões áridas do planeta, como ocorre na Austrália e no estado do Arizona, nos Estados Unidos. Nesses lugares, os períodos de seca duram anos. A sociedade tem que pressionar o governo a tomar providências. É preciso racionalizar o consumo e guardar a água para momentos mais difíceis.”

bem aqui na região. Embora, a indenização só cubra 60% dos gastos, pelo que eu tenho conhecimento, o pessoal recebeu o dinheiro”. Diante da incerteza do clima, o jeito é adotar os cuidados agronômicos recomendados e o máximo de tecnologia possível. O agrônomo Rodolfo Cirineu diz que os agricultores mais tecnificados vêm usando a gessagem, uma técnica que torna o solo mais permeável para a planta. “O gesso é mais solúvel que o calcário e penetra mais fundo no terreno. Ele elimina o alumínio, que impede o crescimento das raízes. Num solo corrigido pelo gesso, as raízes conseguem mergulhar mais fundo pra ir buscar a umidade. É por isso que uma lavoura onde foi aplicado o gesso resiste mais ao tempo seco”. A soja e o milho foram, na média, as culturas mais prejudicadas pela seca em São Paulo na safra 2013/14, circunstância que pode ser repetida na safra 2014/15, se as chuvas previstas para o final de outubro/início de novembro não forem su-

ficientes para recuperar as lavouras. A quebra de produtividade no ciclo passado foi maior no milho verão: 33%. Na soja, foi de 27% e no milho safrinha, 11%. Só não foi maior do que isso porque a produtividade cresceu 2,7%, reduzindo assim o prejuízo.

Fabiano Ferreira

Os irmãos José Adevair e José Adnaldo e o primo Cássio, parados, à espera das chuvas: “Do ano passado para cá, o que sobrou foi desgosto”.

“Corremos o risco de entrar no inverno de 2015 tendo que economizar água”. Quem faz o alerta é a meteorologista Maria Assunção da Silva Dias, da Universidade de São Paulo. Ela explica: “Para enchermos os reservatórios da região sudeste, há necessidade de chuvas fortes e contínuas. É preciso chover dias seguidos, para encharcar o solo. Só depois disso é que a água escorre para as represas. E não é o que se espera”, diz ela. Maria Assunção prevê chuvas no próximo verão dentro da média histórica. Alexandre Nascimento, meteorologista da Climatempo, endossa: “Está se configurando um ano de El Niño moderado e quando isso ocorre, as chuvas ficam mais concentradas no Sul do Brasil. O Sudeste acaba ficando

24 | Agro DBO – novembro 2014

Hidrovia parada Desde maio, a hidrovia Tietê-Paraná está fechada para navegação por falta de calado. A profundidade em muitos trechos foi reduzida de 3 metros para um metro, o que impede a passagem das grandes balsas. O Sindicato dos Armadores da Navegação Fluvial do Estado de São Paulo informa que foi transportado em 2014 apenas um milhão de toneladas de mercadorias pelo rio. A capacidade é de 6 milhões de toneladas. “O prejuízo das empresas até o mês de outubro foi calculado em cerca de 500 milhões de reais”, informa o presidente do Sindicato, Luiz Fernando Siqueira. “É a primeira vez que isso acontece desde a década de 80, quando começou o serviço pelo rio Tietê”, diz ele. “Em 2001, tivemos uma situação semelhante, mas as empresas conseguiram convencer as autoridades a não interromper a navegação comercial”. O grande problema é que, sem o rio, o transporte dos grãos do Centro-Oeste fica mais caro. Cálculos das consultorias especializadas indicam que o frete de uma tonelada de soja de Sorriso (MT) ao porto de Santos é 38% mais barato pela hidrovia do que no lombo dos caminhões. E o calo aperta para as empresas que já tinham contratos de exportação, com preço fechado, e agora estão tendo que arcar com o custo maior para cumprir o compromisso. A Caramuru Alimentos, por exemplo, chegou a entrar na Justiça contra a Cesp – Companhia Energética de São Paulo, pleiteando uma indenização de R$ 24 milhões. Outras empresas afetadas são as multinacionais ADM e Louis Dreyfus.


A seleção campeã de produtividade na Safrinha. NS

50 PRO

,0 163

NS

90 PRO

sc/ha

Sebastião M.Teixeira Filho

Conceição das Alagoas - MG

,0 187 sc/ha

Geraldo Remigio Condé

46,0 ha

sc/ha

Itaberá - SP

1,0

176,0

Itapeva - SP

2,0

166,7

40,0

165,0

Costa Rica - MS

400 M²

165,0

Nelson Alcides Lottermann

Costa Rica - MS

1,00

164,2

150,0

Fundação Chapadão

Chapadão do Sul - MS

3,6 M²

164,0

0,5

149,3

Luiz F. Espindula de O. e outros

Pedrinópolis - MG

30,0

162,8

Planaltina - DF

30,0

149,0

Milton Fries (espolio)

Mineiros - GO

200,0

161,3

Lucas Ruela

São Gabriel do Oeste - MS

23,0

140,0

Roberto Dietrich

Costa Rica - MS

50,00

160,0

Celso Rottilli Filho

Campo Grande - MS

50,0

138,4

Hartmut V. Germendorff

Unaí - MG

30,0

159,0

Roberto Junior

Maracaju - MS

3,0

137,8

Marcelo Swait

Montividiu - GO

4,4

158,8

Sirlei Luiz Ely

Toledo - PR

1,4

137,5

Gil Bedin

Sorriso - MT

100,0

157,0

Danilo Aimi

Jataí - GO

EXP

156,9

Leonildo P. e Outros

Nova Ponte - MG

30,0

155,8

Mauricio Scholten

Rio Verde - GO

105,0

155,6

Edvaldo Mendes Teixeira

Paracatu - MG

30,0

155,0

Pedro Nilson Leite

Unaí - MG

50,0

153,0

Delmiro do Prado

Rio Verde - GO

110,0

152,0

Koji Watanabe

Montividiu - GO

137,0

151,5

Helmult Otto Molke

Lagoa Grande - MG

40,0

151,0

Sebastião Condé e Outros

Paracatu - MG

27,0

151,0

Adriano Donega

Piracanjuba - GO

140,0

150,0

Massão Yamamoto

Paracatu - MG

25,0

150,0

EMPAER

Tangará da Serra - MT

0,1

149,9

CIDADE

sc/ha

80,0 0,3

33,0 ha

ÁREA (ha)

PRODUTOR

ÁREA (ha)

Paracatu - MG

PRODUTOR

CIDADE

161,0

Leandro Aparecido dos Santos

159,0

Sandro Rodrigues dos Santos

120,0

158,0

Aremor Mazzutti

Santa Juliana - MG

10,0

157,9

SLC Agricola S/A

Santa Mariana - PR

2,0

153,2

Luis C. Gusatti

Nova Ubiratã - MT

50,0

Roberto Carlos Dalla Libera

Nova Mutum - MT

Flávio Benete

Darci L. Gobbi

Serranópolis - GO

Koji Watanabe

Rio Verde - GO

Gil Bedin

Sorriso - MT

José Antonio Corazza

São Jorge do Ivaí - PR

Amarildo Lopone

Média produtiva superior a 153,0 sc/ha HÍBRIDO

NS 50 PRO

NS

92 PRO

Nº de áreas

ha

13,0

416,2

média sc/ha

153,9

173 ,0 sc/ha

Fundação Chapadão

Chapadão do Sul - MS

3,6 M2 ha ÁREA (ha)

sc/ha

1,0

172,7

30,0

170,0

400 M²

170,0

Jataí - GO

1,0

165,9

Marcelo Swait

Montividiu - GO

5,2

165,3

Claudio Balzan

São Gabriel do Oeste - MS

1,1

161,6

Milton Fries (espolio)

Mineiros - GO

25,0

158,1

Luis Carlos Pazzinato

Serranópolis - GO

50,0

156,3

Gil Bedin

Sorriso - MT

80,0

154,0

Vitor Quist

Rio Verde - GO

20,0

153,0

Rogerio Caetano Guimarães

Jataí - GO

20,0

151,8

PA C. Agronomica - Plantio 1º epoca

Tangará da Serra - MT

1,0

151,5

PRODUTOR

CIDADE

Nelson Alcides Lottermann

Costa Rica - MS

Adroaldo Pompermaier

Buritis - MG

SLC Agricola S/A

Costa Rica - MS

Danilo Aimi

Média produtiva superior a 156,0 sc/ha HÍBRIDO

NS 90 PRO

Média produtiva superior a 157,0 sc/ha HÍBRIDO

NS 92 PRO

ha

234,2

Nº de áreas

13,0

média sc/ha

157,1

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ha

1.185,5

Nº de áreas

25,0

média sc/ha

156,4

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Artigo

Safrinha gaúcha de grãos é a novidade no cenário agrícola Órgãos federais como Conab e IBGE não reconhecem oficialmente a existência de safrinha no Rio Grande do Sul. Mas existe, sim. Isaque Daniel Rocha Eberhardt1, Alfredo José Barreto Luiz2 e Antonio Roberto Formaggio3

S

egundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2013/14, o milho e a soja ocuparam áreas de 1,0 e 4,8 milhões de hectares, respectivamente, no RS. O estado teve a terceira maior área de soja e a segunda maior de milho na chamada primeira safra ou safra de verão, que coincide com o início da estação das chuvas na maior parte do país, a partir de setembro. No primeiro semestre, no final da estação das chuvas, acontece o plantio da safrinha, ou safra de inverno. Em geral, a maior parte das áreas da safra é ocupada pela soja e a da segunda safra, ou sa-

Exemplo de uma imagem de satélite mostrando a diferença na aparência de alguns tipos de uso e ocupação do solo no meio rural.

* Os autores são engenheiros agrônomos, sendo: 1, mestrando em sensoriamento remoto no INPE; 2, pesquisador na Embrapa Meio Ambiente; e 3, pesquisador no DSR/INPE.

26 | Agro DBO – novembro 2014

frinha, pelo milho. As estimativas oficiais das áreas cultivadas no Brasil são elaboradas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pela Conab, e nenhum dos órgãos aponta valores de área cultivada de milho ou soja em safrinha no RS. Contudo, durante uma viagem dos autores, de inspeção de campo, de 8 a 15 de fevereiro de 2014, na qual foram percorridos quase 3.000 km de estradas na mesorregião noroeste do RS, microrregião de Santo Ângelo (segundo a divisão do IBGE), foi constatada a existência significativa de áreas com safrinha, tanto de soja

como de milho, cultivadas em regime de sequeiro ou irrigado, um fato novo em termos da agricultura local. Foi constatada a ocorrência de todas as combinações entre as culturas de soja e milho, ou seja, soja após soja ou milho e milho após milho ou soja. A região apresenta expansão das áreas cultivadas sobre áreas anteriormente ocupadas por pastagens, aumento da irrigação, com muitos pivôs centrais em funcionamento ou em fase final de instalação, e a construção de barragens de pequeno porte para o abastecimento dos pivôs. Observou-se ainda a implantação de novas unidades de armaze-


namento próximas às regiões produtoras, o que possibilitará aos agricultores decidir o melhor momento da comercialização, com melhoria na eficiência logística. Os plantios em safrinha estão fora dos períodos delimitados pelo zoneamento de risco climático, situação que traz risco, pois implica na ausência de seguro agrícola para os agricultores. O Zoneamento Agrícola de Risco Climático, elaborado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), é referência para os cultivos com crédito e seguro rural e delimita as cultivares e a época de semeadura das mesmas para cada região. A ausência de estimativas oficiais das áreas cultivadas em safrinha na região pode mascarar as estimativas de produção e, principalmente, da produtividade destas culturas no estado. Por outro lado, se a prática se tornar comum, será mais um fator

Soja sobre soja

a influir na expansão da produção destas commodities na mesorregião noroeste do RS que, segundo o IBGE, colheu em 2012 perto de 3,2 milhões de ha de soja e milho. Isso poderá incrementar a produção de grãos e, desde que adotadas as boas práticas agrícolas, o estabelecimento de um sistema economicamente viável de rotação de culturas. Entretanto, são necessários estudos com relação aos problemas fitossanitários que podem advir da adoção dessa prática sem critérios técnicos. Por exemplo, foram vistas várias

Soja sobre milho

lavouras tomadas pela planta invasora buva (Conyza canadensis e C. bonariensis). Outras lavouras se encontravam em terrenos declivosos, algumas sem práticas de conservação do solo e água visíveis ou até plantadas “morro abaixo”, facilitando a erosão e acentuando os efeitos dos veranicos. O sensoriamento remoto é uma ferramenta relevante para o monitoramento em tempo real da safra agrícola de commodities, mas visitas ao campo são fundamentais para permitir uma visão atualizada da situação da agricultura.

Safrinha de soja após soja e após milho, na microrregião de Santo Ângelo, RS.

novembro 2014 – Agro DBO | 27


Opinião

Seguro rural, o drama de cada safra. A maturidade do seguro rural (e de renda) no Brasil depende de vontade política do governo federal e dos produtores rurais. Daniel Glat•

E

ntre os grandes desafios do agronegócio brasileiro está a falta de um seguro rural amplo e abrangente, em função da grande volatilidade climática a que estamos sujeitos a cada safra e do alto custo de produção. Diferentemente de outras modalidades de seguro, o seguro agrícola apresenta uma série de desafios que o torna pouco atrativo para as seguradoras; não é por acaso que menos de 1% de todos os seguros feitos no Brasil são seguros rurais. Entre os grandes desafios do seguro rural podemos listar:

• Por essa mesma razão, as segu-

radoras têm que poder cobrir grandes extensões geográficas e diferentes culturas, para poderem assim “espalhar o risco”; • Dificuldade de separar o impacto de um evento climático do impacto de um manejo inadequado por parte do produtor; • Outras coisas sendo igual, o preço de uma apólice de seguro rural deve ser inversamente proporcional à quantidade de apólices vendidas; e aí temos uma situação “do ovo e da galinha”: poucos produtores fazem seguro porque acham o prêmio caro, e

O seguro agrícola apresenta desafios que o torna pouco atrativo para as seguradoras • Necessidade de se ter um histó-

*O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural no estado doTocantins

rico de produtividade por produtor para que cada um faça seguro baseado em seu nível de produtividade e não por grandes médias estaduais / regionais; • Necessidade de se elaborar uma matriz de risco agrícola que leve em consideração a cultura, a região, a época de plantio e o nível técnico do produtor; • Dificuldade de se definir probabilidade de diferentes eventos climáticos acontecerem nas diversas micro regiões brasileiras; • Necessidade de a seguradora ter uma grande equipe a campo para avaliação dos sinistros, pois quando acontecem numa determinada região, englobam muitos produtores simultaneamente.

28 | Agro DBO – novembro 2014

o prêmio é caro porque poucos produtores fazem seguro; • O fato de o seguro só pagar quebras acima de 30% desanima muito produtores de regiões de quebras históricas moderadas; por exemplo, um produtor que tem média histórica de 60 sc/ha, seu seguro só é acionado de 42 sc/ha para baixo; se, por um problema climático, esse produtor colher 45 sc/ha o seguro não o reembolsa; e se colher 40 sc/ha o seguro reembolsa 2 sc/ha. Por todas essas razões um bom programa de seguro rural só é possível com forte e contundente participação governamental; basta ver o exemplo dos Estados Unidos, o país com o melhor programa de seguro rural do mundo. Lá, toda gestão do seguro rural está sob a responsabili-

dade de um órgão governamental, o FCIC – Federal Crop Insurance Corporation, ligado ao USDA (Departamento de Agricultura); sua principal função é gerenciar e administrar toda política ligada ao seguro rural. É o FCIC que define e publica os preços e condições do seguro rural a cada safra que é então vendido apenas por seguradoras credenciadas pelo FCIC. O governo subsidia em média 60% do custo da apólice, os valores disponíveis para o FCIC são definidos por 10 anos pelo Farm Bill, o FCIC está sempre capitalizado, e em caso de sinistros o processo flui com rapidez e agilidade. Além disso, a maior parte do seguro rural vendido nos EUA é seguro de renda, onde tanto a produção como os preços são segurados. Importante dizer que os EUA estão nesse estágio porque começaram a discutir seguro rural há mais de 50 anos... Aqui no Brasil, por sua vez, o seguro rural existe há menos de 10 anos, e podemos dizer que seu início está atrelado a duas iniciativas: 1 - A criação do FESR – Fundo de Estabilidade do Seguro Rural – que destina verbas para o Programa de Subvenção do Prêmio Rural – PSPR – Criado em 2003, só começou operar em 2005. 2 - A criação do IRB – Instituto de Resseguros do Brasil, empresa de capital mista ligada ao Ministério da Fazenda. O resseguro é essencial para desenvolvimento do seguro rural e por vários anos o IRB foi a única resseguradora de seguro rural no Brasil; atualmente, as resseguradoras internacionais já estão operando aqui


o que aumenta muito a base de sustentação do programa. Segundo o ex-ministro Luís Guedes Pinto, um especialista em seguro rural, o seguro rural em 2013 no Brasil cobriu aproximadamente 9,6 milhões de hectares, ou pouco mais de 10% da área plantada; o valor total segurado foi por volta de R$ 13,8 bilhões, o que representa menos de 5% do valor da produção agrícola brasileira; o valor total dos prêmios pagos foi por volta de R$ 960 milhões, dos quais o governo através do PSPR subsidiou por volta de R$ 550 milhões, ou 60% do valor total. Em comparação, em 2009 nos EUA, segundo o Economic Research Center do USDA, o seguro rural cobriu mais de 100 milhões de ha, e o valor total segurado foi por volta de US$ 80 bilhões, o valor total dos prêmios pagos por volta de US$ 9 bilhões, dos quais o governo subsidiou os mesmos 60% do Brasil, ou US$ 5,5

bilhões. Em outras palavras, igualando as moedas, o recurso que o governo americano destinou em 2009 à subvenção direta do seguro rural é mais do que 20 vezes o valor que o Brasil destinou em 2013. Assim, o seguro rural no Brasil ainda engatinha, mas seus números vêm crescendo ano a ano. Segundo os principais especialistas do setor as principais ações que deveriam ser tomadas para incrementar o seguro rural no Brasil são: • Dar estabilidade e previsão de longo prazo ao PSPR garantido os recursos anunciados, sem contingenciamentos, e liberados em dia. • Criar um banco de dados com históricos de produtividade dos produtores e uma matriz de risco, incluindo cultura / região / época de plantio / nível tecnológico. • Criar comissão permanente formada por representante dos produtores, seguradoras, ressegurados, e

Ministério da Agricultura, para monitorar e gerenciar o PSPR. • Vincular obrigatoriedade do se­ guro rural para contratação de qualquer tipo de financiamento de custeio. • Negociar participação de estados e municípios em programas de seguro rural. • Eventualmente, criar um Fundo de Catástrofe, de aproximadamente R$ 4 bilhões para garantir a fluidez do sistema de seguro rural no Brasil. Esse fundo já foi aprovado pelo Congresso Federal, mas ainda não foi regulamentado, e não está em funcionamento. Acredito que o tema do seguro rural é essencial para a sustentabilidade do agronegócio brasileiro em longo prazo, e deve ser tratado com a maior relevância tanto pelos governos federais e estaduais, como também pelas lideranças do setor rural.

novembro 2014 – Agro DBO | 29


Mecanização

Você tem o controle do plantio? Executar uma semeadura que garanta bom desenvolvimento da lavoura, com elevada produtividade, é o segredo do sucesso. Amílcar Centeno *

E

m nosso artigo do mês passado discutimos sobre como fazer um bom plantio, porém cabe a pergunta: você sabe se está realmente fazendo um bom plantio? Uma coisa é fazer. Outra, muito diferente, é saber o que se está fazendo! Para resolver esta questão o agricultor conta hoje com um grande aliado: o monitor de plantio. Porém, como em toda novidade, existem propostas de soluções de todos os tipos, algumas excelentes e outras nem tanto.

tividade do milho em cerca de 1,5 sacos/ha. • População: a quantidade de sementes que está sendo plantada por hectare. Esta população normalmente é pré estabelecida com o objetivo de maximizar a produtividade da lavoura. Um bom monitor deve apresentar estas informações para cada linha de plantio, e não para seções da plantadeira, pois só assim podemos ter certeza de que todas as unidades estão entregando a precisão adequada e de que não existem problemas numa linha em particular.

Um bom monitor de plantio deve fornecer com precisão as informações que interessam

* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

Um bom monitor de plantio deve fornecer com precisão aquelas informações que realmente interessam para avaliar o bom andamento da operação e deve ser simples, intuitivo e fácil de usar. Vamos então debater sobre as características de um bom monitor de plantio. Três informações são fundamentais em um bom monitor: • Singulação: ou seja, a percentagem de falhas ou duplos. Um bom plantio deve ter uma singulação acima de 95%. • Espaçamento: a variação da distância entre sementes ao longo da linha. Experimentos de campo demonstraram que um desvio de 10% no espaçamento pode reduzir a produ-

30 | Agro DBO – novembro 2014

Além disso, é preciso que as informações fornecidas pelo monitor sejam precisas e confiáveis. Para garantir isto é preciso ficar atento ao ponto mais importante do sistema: o sensor de sementes. A maior parte dos monitores de plantio utiliza sensores óticos, pois são mais baratos. Esses sensores utilizam um feixe de luz que, quando cortado por um objeto, contabiliza-o como “uma semente”. Desta forma, qualquer outro objeto pode ser confundido com “uma semente”. Um dos principais problemas com o sensor ótico é a poeira, pois ao cortar o feixe de luz, acaba sendo confundida com as sementes. Outro problema com a poeira é que ela poderá cobrir o sensor

ótico, bloqueando o seu adequado funcionamento. Para minimizar essas limitações do sensor ótico, os fabricantes costumam montá-lo bem acima da saída do tubo de sementes, porém isso reduz a precisão do sistema, pois a maior parte do ricocheteio da semente acontece na parte inferior do tubo e o sensor acaba não medindo a distância real entre sementes junto ao solo. O sensor ótico também apresenta dificuldades de medir duplos, pois detecta “duas sementes” juntas como “um único objeto”. Os sensores mais modernos e precisos são os sensores de ondas de rádio de alta frequência. Esses sensores medem a massa e não a superfície das sementes. Desse modo, não são sensíveis à poeira, distinguem duplos e podem ser montados na porta do tubo da semente, contando a semente junto ao solo. Como mencionamos na edição anterior, tão importante quanto a padronização de espaçamento na linha é a uniformidade na profundidade de plantio, com o objetivo de obter uma emergência simultânea e um estande de plantas no mesmo estágio de desenvolvimento. Plantas que germinam depois produzem menos, e uma emergência desuniforme pode reduzir a produtividade de 9% a 22%. O controle da profundidade de plantio é feito pelas rodas de profundidade, porém as condições operacionais podem afetar significativamente o resultado final. Va-


riações de densidade, umidade, vibrações e irregularidades na superfície do solo são algumas das causas de variabilidade. Alguns monitores mais modernos oferecem recursos que permitem medir e controlar a profundidade de plantio. Uma das formas de se fazer isso é através da medição da pressão de contato, sendo que algumas plantadeiras que utilizam sistemas pneumáticos de pressão sobre as linhas possibilitam o ajuste dessa pressão durante a operação. Outro recurso é o monitoramento da vibração das linhas, o que permite ao operador reduzir a velocidade de plantio para minimizar essa oscilação. Um recurso interessante oferecido por alguns monitores é a verificação do funcionamento das transmissões da plantadeira, permitindo avaliar se existe algum

eixo patinando ou algum mecanismo bloqueado. Alguns monitores permitem armazenar dados, relacionando-os com as coordenadas medidas por um sistema de GPS. Assim, é possível correlacionar a qualidade do plantio com os mapas de solo ou de produtividade. Caso estejam equipados com sistemas de telemetria, os dados poderão ser transmitidos à distância, para computador ou celular, o que permite acompanhar e gerenciar a colheita à distância, e com isso avaliar o desempenho de várias plantadeiras simultaneamente, corrigindo a performance pelos ajustes das máquinas mais eficientes. A qualidade do plantio é muito afetada pela velocidade de operação, normalmente deteriorando-se quando um dos mecanismos da plantadeira atinge seu limite opera-

cional (por exemplo, os dosadores de semente). Com o uso dos monitores de plantio é possível acelerar a plantadeira até o limite aceitável de precisão, e otimizar a performance do plantio. Esta é uma boa forma de plantar o máximo de hectares por dia e manter a semeadura dentro da janela ideal de plantio para maximizar a produtividade. Portanto, com um bom monitor de plantio você estará de fato no controle da operação, e poderá agir antes que problemas técnicos se transformem em perdas de produtividade ou aumento de custos. Caso contrário, quando você se der por conta já será tarde, talvez já no estágio de emergência ou desenvolvimento das plantas. O plantio é como aquele momento em que você tem apenas uma bala no revólver. Portanto, é melhor caprichar na pontaria!

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novembro 2014 – Agro7/2/14 DBO 31 4:24| PM


Exposição

O desafio de vencer a fome Produzir comida é um desafio gigantesco da atual geração humana: para evitar que se cumpram as recomendações malthusianas. Richard Jakubaszko

EXPO MILÃO 2015: O presente e o futuro dos alimentos é o tema da Expo Milão 2015

FOTO UNISG

“A política pública mais importante passa pela comida”

A

Expo Milão 2015 será a maior mostra do planeta nesta década. Inicia-se em 1º de maio e irá até 30 de outubro, com expectativa de visitação de mais de 20 milhões de pessoas em seus 110 hectares de área. O tema da Expo Milão será a produção futura sustentável de alimentos, problema que o planeta tem de começar a resolver nos dias de hoje, tendo em vista que teremos 9,3 bilhões de bocas para alimentar em 2050. Tradição, criatividade e inovação. São as palavras-chave através das quais mais de 150 países ao redor do mundo darão uma leitura do passado e presente da alimentação, com o objetivo de traçar cenários futuristas da nutrição. «Nutrir o Planeta, Energia para a Vida» é o título da Expo Milão. O Brasil estará presente com um estande, mostrando sua impor-

32 | Agro DBO – novembro 2014

tância e liderança no cenário da produção de alimentos. Nos espaços expositivos serão cinco pavilhões temáticos, em que se vão desenvolver os temas de nutrição e sustentabilidade de acordo com diferentes cenários: a experiência dos alimentos e o futuro, a ligação entre a nutrição e infância, a possibilidade de uma alimentação sustentável, a relação entre comida e arte, o modo de produção dos alimentos. Além dos pavilhões das nações individuais e dos mistos, a Expo 2015 também terá a participação de empresas numa área de 21.000 metros2. Uma das patrocinadoras do evento é a CNH Industrial. Em Pollenzo, na Itália, visitamos a Unisg, a 1ª Universidade das Ciências Gastronômicas. Lá nasceu o conceito de slow food (e também em Trento), idealizado pelo sociólogo e jornalista italiano Carlo Petrini, que se propagou mundo afora, em oposição (em todos os sentidos) ao contemporâneo e insustentável fast food. Petrini afirmou que “A política mais importante passa pela comida”. Foi assim que alimento virou uma questão política. Ele diz que quando começou o movimento, não sabia disto, era apenas um protesto indignado contra o McDonalds que instalara uma loja no centro de Roma. Na Unisg, mesmo sendo uma casa de ensino da gastronomia, entendem que a política mais importante neste momento no mundo passa pela produção de comida. Não a comida espetacular e criativa

dos chefs, mas a comida dos camponeses, dos cidadãos, das crianças, dos doentes. Lá se percebe a comida como instrumento de justiça social. Assim, é também sob este prisma que se realizará a Expo Milão 2015, cujo tema é “a sustentabilidade pelo alimento”, hoje indiscutivelmente o maior problema a ser resolvido para viabilizar o futuro da humanidade. A questão é uma variável do que vimos debatendo na Agro DBO há muito tempo: o crescimento populacional vai trazer problemas de abastecimento alimentar, a produção de alimentos não vem crescendo de forma suficiente a dar segurança alimentar. Onde há terra para se fazer agricultura não existe água ou sol, e agricultura precisa dos três para se viabilizar. Nos países ricos os alimentos já são commodities e o mercado financeiro especula sobre essa necessidade humana. Na Unisg, alimento não é commodity, faz parte do todo, do prazer e da saúde (inclusive na cura de doenças), da relação com o meio ambiente, interage com os produtores rurais, aliás, produtores de alimentos, com o consumidor e sua saúde, e também seu equilíbrio físico e mental, é um movimento até mesmo ideológico, portanto, multidimensional, conceito ao qual aderiram personalidades internacionais como o Papa Francisco e Barack Obama, e até mesmo Eric Smith, presidente da Google. *Agro DBO viajou a Turim (Itália) a convite da CNH Industrial (Grupo Fiat / New Holland).



Entrevista

“É urgente um marco regulatório para a questão indígena”.

O

deputado federal Luis Carlos Heinze, 64 anos, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), aponta as prioridades de trabalho para os próximos meses: colocar a demarcação de terras indígenas sob responsabilidade do Congresso Nacional, sem dúvida, é a principal delas. Mais do que nunca, as outras demandas (trabalho escravo, legislação trabalhista, Código Florestal) continuam importantes, e foram esses os temas abordados na entrevista concedida para Agro DBO, conduzida pelo editor-executivo Richard Jakubaszko. Gaúcho, natural de Candelária, Heinze (PP/RS) vai para a Câmara dos Deputados pela quinta vez consecutiva, desta feita como o deputado federal mais votado em seu estado, quando superou os 160 mil votos. Engenheiro agrônomo, formado pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), Heinze é torcedor do Internacional de Porto Alegre, produtor rural no município de São Borja (RS), na fronteira com a Argentina, cidade em que já foi prefeito, e onde planta arroz e tem um pouco de pecuária. Ele não sabe ainda quem o substituirá na liderança da FPA, depois de março próximo, e tanto pode ser um deputado como um senador, pois a frente é mista. A partir de 1º de fevereiro de 2015, a FPA recomeça seus trabalhos, com cerca de 270 parlamentares, eis que o grupo de defensores do agronegócio cresceu mais de 30% nessa legislatura e será a maior bancada do Congresso Nacional, mais multipartidária do que nunca.

34 | Agro DBO – novembro 2014

Agro DBO – Na próxima legislatura a FPA – Frente Parlamentar de Agropecuária deverá ter 270 deputados e senadores, a maior do Congresso. Isto, por si só, já é uma vitória do agronegócio? Heinze – Sem dúvida, mas esses números ainda serão contabilizados com mais exatidão somente na próxima legislatura. De outro lado, vale como ordem de grandeza, pelo fato de a Frente ser multipartidária, ou seja, inclui deputados e senadores da grande maioria dos partidos que compõem o Congresso. É importante registrar ainda que, em casos de votação de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional), o que vale é a orientação partidária, e não a vontade individual do parlamentar ou de


grupos que representa. Seria um exagero afirmar, como já ouvi falar, que a FPA pode aprovar o que bem entender, seja na Câmara ou no Senado. Há, ainda, o fato de que alguns parlamentares, membros da FPA dessa legislatura, não se reelegeram, como Moreira Mendes (PSD/RO), Carlos Magno (PP/RO), Geraldo Simões (PT/ BA), Junji Abe (PSD/SP), Mendes Thame (PSDB/SP), ou não se candidataram, como Abelardo Lupion (DEM/PR), entre outros, e vão fazer falta, pela experiência e pela importância das lideranças exercidas por eles. Em compensação, entraram a Tereza Cristina (/MS), e o senado foi reforçado com Ronaldo Caiado (GO), onde já tem a Kátia Abreu (TO), e permanecem Blairo Maggi (MT), Ana Amélia (RS) e Waldemir Moka (MS). Agro DBO – Quais serão as principais pautas da FPA no próximo governo? Heinze – A principal é aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere para o Legislativo a decisão sobre a demarcação de terras indígenas. Temos que ter um marco regulatório para isso, temos que ter uma definição para o resto da vida. É um assunto que traz muita agonia a diversos produtores rurais, pelo Brasil inteiro, e essas reclamações vêm do Maranhão, do Mato Grosso do Sul, de Santa Catarina, Rondônia, Mato Grosso, e por isso precisa ser resolvido, dando segurança jurídica a esses produtores. Essa política do governo federal tem muita conversa e nenhuma decisão ou definição, e não queremos mais isso. Não é apenas o marco regulatório, o que precisa é definir um marco temporal, o que está em cima da terra é meu, o que está embaixo não vale, não pode prevalecer a ideologia nesses casos, pois muitas injustiças têm sido cometidas na questão indí-

gena. Nós estamos no momento transcrevendo as 19 condicionantes para esses casos, caso contrário, cada governo que aparece no plantão quer fazer do seu próprio jeito e isso não é possível num país democrático como o nosso. Quando o governo chegar à conclusão de que determinada área é para ser entregue aos índios, que compre e pague o que vale, porque desapropriar só com existência de vestígios e sem indenização não pode, isso não existe em nenhum lugar do mundo.

realidade essas NRs, e essa é uma das nossas demandas mais importantes, para que seja um processo de bom senso, e razoável, dentro da realidade do Brasil, em vez de tornar cada fiscal ou auditor uma autoridade expropriadora. Agro DBO – E o Código Florestal, CAR e Reserva Legal? Heinze – Temos vários projetos andando. Agora tem que aplicar o CAR – Cadastro Ambiental Rural, que era para 5 de maio de 2015 e foi prorrogado para 5 de maio de

Se o produtor quiser fazer um reservatório de água para irrigação, para ter água, mas em área de reserva legal ou APP, não pode. Agro DBO – E os objetivos na questão trabalhista? Como fica o trabalho escravo? Heinze – Essa questão está quase definida, faltam pequeno detalhes. Falta definir o processo crime no trabalho escravo, e isso tem que ser resolvido o quanto antes. O trabalho escravo já foi votado na Câmara dos Deputados e no Senado, falta regulamentar a lei. Mas existem as emendas na lei. O problema são as “pegadinhas” genéricas embutidas nas emendas das leis, caso contrário cada fiscal vira um intérprete da lei, e as coisas não podem ser assim. De outro lado, tem a legislação trabalhista específica para as necessidades rurais, e o problema está nas NRs (Normas de Regulamentação), existem 257 normas em vigor a que cada produtor tem que se adequar. A Kátia Abreu, na CNA – Confederação Nacional da Agricultura fez um levantamento em cerca de 10 mil propriedades rurais e apenas 30 produtores no Brasil inteiro se adequaram, e 9.970 não conseguiriam jamais se adequar às normas. Ora, se isso sujeita a expropriação da propriedade, tem que ajustar à

2016, e só tem de ser implementado, isso já está normal. Na questão do Código Florestal a gente tem que acertar o uso da água para irrigação. Se o produtor quer fazer um reservatório de água para irrigação, um açude, uma barragem para estocar água em área de reserva legal ou APP, não pode. A gente já tinha acertado tudo isso, mas a ministra Izabella Teixeira, do ministério do Meio Ambiente, na última hora resolveu tirar esse quesito do acordo, e a sanção da lei pela presidente Dilma Roussef foi em cima do que a ministra decidiu. O incoerente na lei é que se alguém resolve fazer um projeto de turismo em áreas de reserva legal ou AP, pode fazer, porque acharam que tem interesse social, mas se for para irrigação para não perder a lavoura, aí não pode, porque eles entendem que isso não é de interesse social. Agro DBO – E na questão dos agrotóxicos, o que anda pendente? Heinze – Tínhamos combinado com o ministro Antônio Andrade, da Agricultura, e agora com Neri Geller, que precisamos acertar a novembro 2014 – Agro DBO | 35


Entrevista

aprovação dos defensivos genéricos, temos que facilitar e agilizar os registros dos produtos, temos que mexer na própria legislação e nas responsabilidades hoje divididas entre ministérios da Agricultura, Meio Ambiente (Ibama) e Saúde (Anvisa), para decidir em definitivo esses problemas, dos quais o maior é a demora para o registro dos produtos, não dá para esperar de 7 a 8 anos para sair o registro de um produto. Com a velocidade que aparecem os problemas temos que ser mais ágeis nas soluções. Agro DBO – Com o próximo governo federal eleito quais as facilidades e dificuldades de negociação? Heinze – As ideologias nós já enfrentamos nos dois governos do Lula e no primeiro governo da Dilma. Tudo bem, faz parte, vamos trabalhar, só espero que as questões ideológicas não tenham mais avanços ou que se ampliem. Na verdade, a gente precisa é fortalecer mais o Ministério da Agricultura, seja o Neri Geller que permaneça, ou o próximo ministro, tem que ter mais força política para atuar. 36 | Agro DBO – novembro 2014

Agro DBO – A FPA é mais oposição ou será base de governo? Heinze – Não somos nem uma coisa e nem outra na FPA. É uma bancada suprapartidária, esse é o espírito e a filosofia. Nós vamos batalhar politicamente pelas nossas bandeiras, e respeitaremos as decisões do STF – Supremo Tribunal Federal, quando for o caso. Agro DBO – Quem será o próximo presidente da FPA? É permitida a reeleição? Ela pode ser exercida por um senador(a)? Heinze – Como estávamos em um período meio complicado, foi ano de eleições, a gente combinou, depois da morte do Homero Pereira no ano passado, que eu ficaria na presidência até março de 2015. Depois, ninguém sabe, aí nós vamos ver o que acontece, temos de esperar a chegada dos novos membros, até porque a bancada será ampliada, e então vamos resolver quem será o futuro presidente da FPA, não há regra que proíba reeleição, e o próximo presidente da bancada tanto pode ser um deputado como um senador.

Agro DBO – Qual foi a maior vitória da FPA até hoje? O Código Florestal? Ou a luta contra o MST, nos tempos de Ronaldo Caiado como presidente da UDR? A UDR foi a precursora da FPA? Heinze – Foi o Código Florestal, sem dúvida alguma. Como estava aquela lei, ela eliminaria uma quantidade absurda de milhares de propriedades no Brasil inteiro. O resultado não foi de todo feliz, mas pelo menos já dá para os produtores poderem trabalhar com alguma segurança jurídica, agora só falta aparar algumas arestas. Já a UDR – União Democrática Ruralista era naquele momento um pessoal mais radical, que resolveu pelo enfrentamento contra o MST – Movimento dos Sem Terra. Depois, já em 1.999, quando entrei no assunto, junto a um grupo de parlamentares conseguimos denunciar as irregularidades e atividades ilícitas do MST, já no tempo do Fernando Henrique Cardoso, e isso amainou o ímpeto deles. Agro DBO – Quais os partidos majoritários na composição da FPA? Heinze – Há parlamentares de todos os partidos, PP, PMDB, PSDB, PT, PSB, menos os partidos da extrema esquerda radical, como PCdoB, PSOL, esses estão de fora. O que é importante é fortalecer a Frente Parlamentar de Agropecuária, por exemplo, o pessoal de máquinas, as empresas de defensivos e fertilizantes, todos esses segmentos tinham que conhecer melhor o que nós fazemos, as nossas dificuldades de enfrentar certas situações políticas, por isso, se eles se aliassem com a gente, o trabalho da FPA poderia trazer inúmeras contribuições positivas para o agronegócio, para proveito de todos, especialmente dos produtores rurais.


Política Frente Parlamentar da Agropecuária

O

engenheiro agrônomo Valdir Colatto, finalmente, vai assumir em fevereiro próximo como deputado federal eleito (PMDB/ SC), tendo sido o 6º mais votado no estado, pois antes havia assumido em outras legislaturas, mas sempre como suplente. Colatto é membro ativo da FPA – Frente Parlamentar da Agropecuária, e poderá assumir até mesmo a pre-

Café, a verdade curta e grossa.

“O

valor da saca de café, hoje, não compensa as quebras das safras 2014 e 2015. A seca já definiu tanto a safra que se colheu, quanto a safra que iremos colher em 2015. Dúvidas tenho sobre a safra 2016. Os custos de produção vão explodir novamente. Pra quem tem controle de seus custos de produção, e está altamente mecanizado, caso o mercado mantenha os preços a 2 cents de dólar por libra peso, será um sonho! Cafeicultura será para poucos”. Arnaldo Reis Caldeira Júnior, cafeicultor.

sidência daquela que é hoje considerada a maior bancada dentro do Congresso Federal, suplantando, teoricamente, mais da metade da Câmara dos Deputados. Só em teoria, conforme registra Colatto, pois se forem leis ordinárias a ser aprovadas. A FPA aparentemente é uma rocha invencível, mas se forem leis de alteração constitucional a decisão é das lideranças partidárias.

Indicações Geográficas

O

INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial concedeu registro de Indicação de Procedência a um produto e analisa mais doze solicitações. Nos últimos meses, doze pedidos de Indicação Geográfica (IG) – Denominação de Origem ou Indicação de Procedência para produtos agropecuários foram depositados no INPI. Em outubro, a aguardente de cana da região de Abaíra, na Bahia, recebeu o registro de Indicação de Procedência. Conhecida como a “cidade da cachaça”, a localidade conta agora com o reconhecimento da sua singularidade, o que lhe confere um diferencial competitivo. O INPI analisa pedidos de IG para o vinho de Farroupilha, na serra gaúcha; a linguiça de Maracajú (MS); o açafrão de Mara Rosa (GO), café de Mogiana, de Pinhal (SP) e oeste da Bahia, além do mel da região do Pantanal (MT/MS).

Conferência Datagro etanol e açúcar

A

14ª edição da Conferência Datagro debateu o setor em meio à crise sucroenergética em 20 e 21 de outubro, em São Paulo. As estimativas da safra 2015/16 foram anunciadas por Plinio Nastari, presidente da Datagro e curador do evento, quando apontou para uma

menor oferta de cana em resposta à falta de chuvas, enquanto baixos investimentos em renovação impactarão negativamente os canaviais na próxima safra. “Além disso, a oferta de cana não deverá superar 560 milhões de toneladas na região Centro-Sul”, disse Nastari.

Kátia Abreu volta a presidir a CNA

A

Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil tem nova diretoria. A chapa única liderada pela senadora Kátia Abreu obteve o apoio de 21 dos 22 participantes da eleição realizada por voto secreto, depositado em urna cedida pelo Tribunal Regional Eleitoral

do Distrito federal (TRE-DF). Dos 27 representantes das Federações estaduais de Agricultura e Pecuária que compõem o Conselho de Representantes da entidade, 22 participaram da eleição na sede da CNA, em Brasília, e apenas um votou em branco. novembro 2014 – Agro DBO | 37


Matopiba

Uma nova fronteira agrícola? Embrapa e Incra, em trabalho conjunto, definem com clareza os limites da região, o que vai facilitar políticas públicas.

Tocantins e Oeste da Bahia, especialmente, são estados da região do Matopiba com alto uso de pivôs.

Evaristo E. de Miranda1 Lucíola A. Magalhães2 Richard Torsiano3

A

expressão Matopiba designa uma realidade geográfica que recobre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, marcada pela expansão de uma fronteira agrícola baseada em tecnologias de alta produtividade. Ela resulta de um acrônimo criado com as iniciais dos quatro estados. Existem outras denominações equivalentes, menos utilizadas como Mapitoba. As mudanças no uso e ocupação das terras no Matopiba possuem características diferenciadas do processo de expansão da agricultura na calha sul da Amazônia, nas décadas de 1970 e 1980. Salvo algumas exceções, não ocorreram desmatamentos significativos e sim mudanças no uso e na condição fundiária das terras. As pasta38 | Agro DBO – novembro 2014

gens extensivas em áreas de cerrados estão sendo substituídas por culturas intensificadas com novas tecnologias de produção, incluindo a irrigação. A riqueza nesses polos de desenvolvimento na Bahia, no Maranhão e Piauí transformou as áreas urbanas vizinhas com a chegada de indústrias e serviços integrados na montante e na jusante da produção agropecuária. No Tocantins, centros de aprovisionamento e apoio logístico, ligados às atividades agrícolas, também se consolidaram nos últimos anos. Ao lado desses polos agrícolas modernos existem milhares de hectares de uma agricultura que difere no grau de desenvolvimento, com menor produtividade e rentabilidade. São milhares de estabelecimentos agrícolas em contato com uma nova dinâmica socioeconômica e fundiária. A localização territorial desses proces-

sos, dinâmicas e impactos decorrentes é insuficientemente conhecida. Delimitar geograficamente o que pode e deve ser considerado como território do Matopiba era fundamental para apoiar as políticas públicas e privadas na região. A demanda por uma delimitação territorial do Matopiba surgiu como uma necessidade de diversos órgãos governamentais em 2013. Quais os limites do Matopiba? A delimitação territorial do Matopiba era uma das atividades previstas num acordo de cooperação técnica celebrado entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, através do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e a Embrapa, através do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite). Em face da dinâmica e da complexidade geográfica dessa região, a equipe do Gite aplicou uma série de pro-


cedimentos numéricos e cartográficos, apoiados no uso de imagens de satélites, para integrar e conjugar na análise territorial os dados agroecológicos e socioeconômicos de diversas fontes de informação. Os resultados obtidos traduzem uma conjugação hierarquizada e criteriosa de informações estratégicas sobre o quadro natural, agrário, agrícola e de infraestrutura relevantes na delimitação do Matopiba. Essa delimitação buscou ser operacional para o futuro planejamento e a modelagem integrada de políticas públicas e privadas na região. Ela permite diversos subrecortes territoriais (bacias, microrregiões, municípios, biomas etc.), conforme a necessidade operacional dos diversos órgãos que a utilizarem. Foram estudadas e analisadas as interseções territoriais entre os estados, as microrregiões e o bioma Cerrado, com o apoio de dados orbitais, bem como os limites cartográficos decorrentes. Obteve-se uma primeira qualificação territorial e a indicação da localização de vetores de expansão territorial da intensificação no uso agropecuário das terras. Essas análises territoriais foram confrontadas e qualificadas com dados sobre a concentração e a dinâmica da produção agropecuária nas microrregiões graças ao uso das informações estruturadas sobre esses fenômenos disponíveis na base de dados Agrotec desenvolvida na Embrapa/SGI. Isso levou à inclusão de microrregiões adicionais, com base nos impactos regionais da dinâmica socioeconômica atual. A delimitação proposta O primeiro critério dessa delimitação geográfica teve como base as áreas de cerrados existentes nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Elas representam apenas parte dos territórios desses estados, qualificados com o uso de imagens de satélite e outras informações sobre o ambiente natural e antropizado dessas áreas (dinâmi-

Valor total da produção nos censos agropecuários de 1996 e 2006 no conjunto dos quatro Estados e na região do Matopiba. Ano

Valor total (mil R$)

Conjunto dos quatro Estados

1996

3.499.026,68

Matopiba

1996

1.226.405,46

Entidade geográfica

% de contribuição da região do Matopiba no valor total da produção agrícola no conjunto dos quatro estados, no ano de 1996.

35,05%

Conjunto dos quatro estados

2006 12.612.638,30

Matopiba

2006

% de contribuição da região do Matopiba no valor total da produção agrícola no conjunto dos quatro estados, no ano de 2006.

ca do uso e ocupação das terras). O segundo critério territorial foi a dimensão socioeconômica, principalmente os dados relativos à produção agropecuária e florestal das pesquisas anuais do IBGE, retrabalhados na base Agrotec da Embrapa-SGI e dados do acervo fundiário digital do Incra. Na infraestrutura, além de dados sobre a malha viária e logística na região, foram utilizadas informações do banco de dados de monitoramento das obras do PAC, sob a coordenação do Gite. A análise dos dados dos quadros natural, agrário, agrícola, socioeconômico e de infraestrutura, integrados no SIG, levou à integração de áreas que cumprem um relevante papel no aprovisionamento de insumos para a atividade agropecuária e também são o destino logístico no escoamento e transformação de parte significativa da produção agropecuária. A delimitação geográfica proposta para o Matopiba abrange 31 microrregiões do IBGE, reúne 337 municípios e uma área de 73.173.485 ha. A repartição do Matopiba entre os quatro estados é a seguinte: 33% no Maranhão (15 microrregiões, 135 municípios, 23.982.346 ha); 38% no Tocantins (8 microrregiões, 139 municípios e 27.772.052 ha); 11% no Piauí (4 microrregiões, 13 municípios e

5.102.407,19 40,45%

8.204.588 ha) e 18% na Bahia (4 microrregiões, 30 municípios e 13.214.499 ha) (Fig. 1). A delimitação proposta já é utilizada em trabalhos de pesquisa da Embrapa e no planejamento dos processos de governança fundiária do Incra, entre outras instituições, e já foi incorporada na Wikipédia. Características do Matopiba Em termos de população, segundo o Censo Demográfico de 2010 (IBGE) o Matopiba reúne cerca de 6 milhões de habitantes, sendo o estado do Maranhão, o mais populoso, com cerca de 60% da população total. Aproximadamente 65% da população total do Matopiba residem na área urbana e 35% na área rural. Tocantins é o estado do Matopiba com o menor percentual de população residente na área rural, com apenas 22%. Do ponto de vista agrário, o território engloba 46 unidades de conservação (8.334.679 ha), 35 terras indígenas (4.157.189 ha) e 781 assentamentos de reforma agrária e áreas quilombolas (3.033.085 ha) num total de 13.967.920 ha de áreas legalmente atribuídas, excluídas as sobreposições. De acordo com os dados do censo agropecuário de 2006 a região reúne 324.326 estabelecimentos agrícolas em uma área de 33.929.100 ha. Quanto à agropecuária, entre 1996 e 2006, por exemplo, a contribuição do Matopiba ao valor total da produção nos quatro estados, passou de 35% para 41%, um aumento de 5 pontos percentuais em 10 anos (Tabela 1). Considerando as médias trienais (2006 a 2008), das 31 microrregiões do Matopiba, 13 garantem 75% do valor da produção agropecuária. A contribuição da produção animal e vegetal nos dois censos do IBGE registrou uma mudança significativa no valor da produção total. Em 1996, a produção animal contribuía com 45,6% ante aos 54,4% da produção vegetal. Em novembro 2014 – Agro DBO | 39


Matopiba A delimitação geográfica proposta para o Matopiba abrange 31 microrregiões do IBGE e 337 municípios dos quatro estados 2006, ocorreu uma inversão e a produção vegetal passou a contribuir com 87,4% enquanto a produção animal caiu para 12,7%. Nas séries anuais do IBGE, considerando-se a média trienal (2006 a 2008), seis produtos juntos

somaram 75% do valor da produção agropecuária no Matopiba: soja, bovinos, algodão herbáceo, milho, arroz e leite de vaca. Em termos espaciais, treze microrregiões somaram 75% do valor total da produção na média trienal (2006-2008): Alto Me-

Matopiba – proposta de delimitação territorial

arim e Grajaú, Chapada das Mangabeiras, Gerais de Balsas, Imperatriz e Médio Mearim (MA); Araguaína, Dianópolis, Miracema do Tocantins e Rio Formoso (TO); Alto Parnaíba Piauiense (PI); Barreiras, Bom Jesus da Lapa e Santa Maria da Vitória (BA). Barreiras respondeu por cerca de 30% da produção na região. O Produto Interno Bruto a preços correntes do Matopiba em 2011, segundo os dados do IBGE, foi de R$ 53 bilhões. Juntos, os estados do Maranhão e Tocantins foram responsáveis por 75% do PIB da região. A Bahia foi a terceira maior contribuição, que alcança 95% do PIB total junto com os outros dois estados. O PIB gerado pelo Piauí, nos municípios abrangidos pelo Matopiba, representou somente 4% do valor total. Conclusão A delimitação territorial do Matopiba proposta e adotada pelo Incra e pela Embrapa incluiu num território geograficamente coerente a dinâmica de expansão da agricultura moderna nessa região, o crescimento econômico decorrente, observados nas últimas décadas e as novas áreas emergentes, como Chapadinha no norte do Maranhão, por exemplo. Ela pode ser usada, integral ou parcialmente, na formulação de políticas e investimentos públicos e privados na região, em particular em programas de desenvolvimento agrário e de inovação tecnológica. Em breve, o Incra e a Embrapa disponibilizarão na Internet um site e um geoweb do Matopiba para o uso de todos interessados na região. 1 Doutor em ecologia, pesquisador e coordenador da Embrapa - Gite 2 Mestre em geociências e analista de geoprocessamento da Embrapa - Gite 3 Diretor de Ordenamento da Estrutura Fundiária do Incra

40 | Agro DBO – novembro 2014


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O mundo rural no Brasil do século 21 Tão importante quanto adivinhar o futuro do agro é fazer uma análise realista do presente, conforme interpreta o articulista. Décio Luiz Gazzoni *

N * O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

o decorrer do último quarto do século passado, o Brasil assombrou o mundo ao transmutar-se de importador a protagonista da exportação de produtos agrícolas, cultivando áreas tropicais ou subtropicais, onde o processo agrícola é muito recente. Contrasta fortemente com a disponibilidade de conhecimentos e experiências acumuladas ao longo de milênios, nas áreas frias e temperadas do planeta. Entrementes, a apropriação das oportunidades foi diferenciada entre regiões brasileiras – Cerrado ou Caatinga, por exemplo – e entre os atores principais – grandes produtores e agricultores familiares. Será o futuro uma continuidade do passado? Sobrevirá uma nova quebra de paradigma? O

42 | Agro DBO – novembro 2014

agronegócio nacional será locomotiva ou vagão, na grande composição que pretende atender a demanda global de produtos e serviços originados no espaço rural? Quatro excelentes profissionais, dos quais muito me orgulha ser amigo – Zander Navarro e Eliseu Alves, da Embrapa, e Antônio Márcio Buainain e José Maria Silveira, da Unicamp – organizaram uma obra de fôlego, um livro com 36 capítulos, escritos por 51 autores, distribuídos em 1.182 páginas, cujo título é o mesmo deste artigo. Trata-se de leitura obrigatória para quem deseja entender o passado recente e o que nos reserva o futuro, fascinante espaço rural brasileiro. Obra profunda, analítica, diversificada, um clássico, uma referência. Múltiplas visões O desafio dos editores foi organizar uma abordagem transdisciplinar, entremeando as visões das Ciências Naturais (como as Engenharias ou a Biologia) e das Ciências Sociais (como Economia ou Sociologia), desprovida de vieses ideológicos. A análise decorrente é muito enriquecedora e cobre todas as facetas do agronegócio nacional, com seus sucessos e desafios. A diretriz para a obra pode ser visualizada em um artigo pioneiro publicado em 2013. Os autores alinhavam temas como a evolução do financiamento da atividade

agrícola, e o eixo revolucionário da inovação em regiões tropicais. Completa o conjunto a diferença social no campo; o espaço do pequeno produtor; o esvaziamento do meio rural e o decorrente avanço da mecanização; a reforma agrária e o papel do Estado no desenvolvimento das regiões rurais. Um dos editores, o professor Antônio Buainain, aponta um emaranhado crescente de regras, formais e informais, que condicionam o comércio, a segurança alimentar e o uso sustentável dos recursos naturais. Chama a atenção para a sofisticação das regras de comércio internacional, fruto da imposição dos consumidores, cada vez mais exigentes e preocupados com a inocuidade e qualidade dos alimentos. É a via da certificação, seja ela técnica, sanitária, social ou ambiental e sua decorrente rastreabilidade. No novo cenário, decresce a importância relativa de fatores de produção que eram pedras angulares – como terra e trabalho – cedendo espaço para maior intensividade de capital e tecnologia. No livro surge o número que sintetiza essa mudança: no período de 2000 a 2012 houve redução de 9,7% no uso de terras pela agricultura e de 9% na mão de obra empregada. Porém, a produtividade dos fatores trabalho (5,4%), terra (4,9%) e capital (3,1%) evoluiu no período. A melhor gestão dos fatores de


produção, com uso mais intensivo de novas variedades, fertilizantes, máquinas e equipamentos, controle de pragas e irrigação explica o ocorrido. Reforma agrária sempre será um tema polêmico. O Dr. Zander Navarro alerta que reforma agrária, entendida como a transferência compulsória dos direitos de propriedade da terra de privados para produtores sem-terra, é um ato difícil de ser levado a cabo em sociedades democráticas. Ele aponta que o assentamento de 1,26 milhão de famílias, ocorrido entre 1994 e 2012, ocorreu em terras públicas, adquiridas pela União. Dessa forma, conceitualmente, trata-se de um processo de colonização promovido pelo governo, e não de reforma agrária. O Dr.

zootécnicos da nossa exploração bovina intensiva, quando comparados à agricultura, e até à criação de pequenos animais, como frangos. Os melhores pecuaristas do Brasil auferem alta rentabilidade, com índices zootécnicos muito superiores aos demais. Um pequeno ganho, por hipótese de 20%, na rentabilidade dos fatores de produção na pecuária, liberaria quase 40 milhões de hectares para a agricultura, mais do que se estima seja necessário incorporar até 2050. A outra faceta do desafio é irmã siamesa da anterior. Apesar dos ganhos de produtividade recente, os melhores agricultores - de soja, trigo, arroz, milho ou frutíferas - obtém produtividades que, por vezes, superam em 100% a média

Leitura obrigatória para quem deseja entender o passado e o futuro. Zander chama a atenção que os assentamentos demandaram 87,8 milhões de hectares, constituindo uma área muito maior do que toda a área plantada no Brasil, sendo seus impactos pouco estudados, analisados e conhecidos. Por outro lado, a demanda social por terra diminui a passos lépidos, pois a urbe se torna cada vez mais atrativa como local de moradia, de trabalho e lazer, e com oferta de serviços como educação, saúde, transporte, energia e saneamento, o que provoca a escassez da mão-de-obra na área rural, criando, inclusive, problemas de sucessão nas pequenas propriedades. O diferencial da assistência técnica Em nosso ponto de vista, apesar do enorme avanço da produtividade agrícola no país, transversal a todos os cultivos, um desafio se coloca à frente dos demais, quando se examina o Brasil do futuro. Sua primeira faceta descortina o descompasso nos índices

brasileira – sendo sua rentabilidade muito superior à média. Conclusão: a produtividade é boa, mas pode ser muito maior. Corolário: a tecnologia existe, está disponível para todos. Precisamos lubrificar as engrenagens de transmissão de tecnologias e conhecimentos, para que estejam democraticamente acessíveis a todos os produtores, reduzindo as desigualdades e amplificando as oportunidades. Igualmente impõe-se acelerar a velocidade das correias de transferência de tecnologia, porque a dinâmica de geração de inovações não comporta mais atrasos entre a disponibilização de uma nova tecnologia, eficiente e adequada, e a sua ampla adoção nos sistemas produtivos. Finalizando, para os interessados o livro se encontra disponível em https://www3.eco.unicamp.br/ nea/images/arquivos/O_MUNDO_RURAL_2014.pdf Desejo boa leitura a todos, a minha tem sido ótima e proveitosa. novembro 2014 – Agro DBO | 43


Safra

Máquinas paradas Apesar da perspectiva de preços baixos, o Brasil deve bater novo recorde na produção de grãos. No entanto, a temporada 2014/15 começou mal. Marianna Peres

Plantadeiras encostadas na propriedade de Endrigo Dalcin, em Nova Xavantina, à espera das chuvas.

P

ara os produtores do Mato Grosso, o clima nunca preocupou tanto quanto este ano. Até às vésperas do plantio da safra 2014/15 de grãos, nenhuma bolsa de apostas computava medo de estiagem nas projeções de renda para o ano que vem. Assim como ocorreu na temporada 2013/14, o temor dos agricultores restringia-se às perspectivas de custo alto e preço baixo nos primeiros meses de 2015, época de colheita. O clima sempre foi um componente de risco para os agricultores, mas não tanto quanto agora. Até o início do plantio, em setembro, o foco estava concentrado na rentabilidade. Com o decorrer do tempo, as coisas, porém, mudaram. Aos poucos, o equilíbrio entre receita e despesas estimadas virou miragem.

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As chuvas desejadas não vieram e a estiagem se prolongou até a terceira semana de outubro, fazendo com que os produtores perdessem a janela ideal de semeadura de soja, fechada em 20 de outubro com menos de 10% da área prevista semeada – no ano passado, na mesma data, 27,4% da área dedicada à oleaginosa já estavam cobertos. Além da perda agronômica direta, o atraso no plantio reduziu o tempo hábil para o cultivo da safrinha, em especial a do milho. Sem a umidade necessária, o plantio da safra de verão começou a perder ritmo no início do mês e foi diminuindo gradativamente. A região médio-norte, que concentra 35% das lavouras de soja do estado, era a mais atrasada. Dos 3,03 milhões ha destinados à oleaginosa, apenas

10,3% estavam cobertos, contra 38% há um ano. Paralisados pela estiagem, os agricultores passaram a fazer outro tipo de pergunta: “Quanto posso deixar de colher a cada dia que passa sem chover?” Mato Grosso, maior produtor da oleaginosa do Brasil e responsável por 10% da oferta mundial, começou então a fazer as contas das sequelas. Conclusão: cerca de R$ 2 bilhões devem deixar de circular na economia local, levando em conta apenas as perdas físicas imputadas pela quebra do potencial produtivo das plantas, impactadas pela seca. Considerando a safra nacional, estimada entre 88,8 e 92,4 milhões de toneledas de soja, segundo levantamento da Conab, houve quem apostasse em quebra de 10 milhões de toneladas,


mesmo diante da possibilidade de regularização do regime de chuvas na virada de outubro para novembro, como apontavam os serviços meteorológicos. Planejamento prejudicado Produtor em Sinop (503 quilômetros ao norte de Cuiabá, Mato Grosso), ex-presidente do sindicato rural do município e membro da Aprosoja/MT, Antônio Galvan banca a conta dos R$ 2 milhões citados na página ao lado, considerando perda média de cinco sacas por hectare a um valor médio de R$ 50 a saca. “A janela ideal foi de 1º a 20 de outubro e não tivemos chuva para plantar. Quem plantou ainda em setembro terá de replantar, aumentando o custo de produção”. Segundo ele, a necessi-

dade de replantio foi comprovada pela Aprosoja e pelo Imea em todas as regiões do estado, embora ainda não tivesse sido quantificada, pois somente após o retorno das chuvas é que se poderá avaliar de fato o estado geral das lavouras em brotação e a capacidade de reação das plantas germinadas. De todo modo, além de aumentar o custo (o mais alto da história, de R$ 2,4 mil por hectare) de R$ 250 a R$ 300, o replantio será feito com o que o produtor tiver de semente disponível. “Ele vai perder potencial produtivo de qualquer maneira. Afinal, o que ele tinha de melhor se perdeu”, endossa o presidente da Aprosoja/MT, Ricardo Tomczyk. Preparado para começar a plantar na segunda semana de outubro, Galvan permanecia de braços cruzados no dia 20, data de fechamento desta edição. “Há exatamente um ano eu tinha 50% da área plantada e não tenho como plantar sem chuva. Me vejo agora, aos 45 minutos do segundo tempo, com toda a estratégia de ação abortada. Todo mundo faz planejamento para evitar a concentração de plantio, em condições de cadenciar a colheita e driblar o período de chuvas para evitar maiores perdas de produção. No entanto, com menos de 10% da área plantada, a maior parte da safra será cultivada às pressas em novembro. Tudo o que for plantado de agora em diante estará no ponto de colheita em meados de fevereiro, quando chove demais, quando a ferrugem ataca mais e quando a janela de safrinha ao milho se fecha”, lamenta. Galvan lembra que, nos dois últimos anos, as chuvas incessantes do final de janeiro até meados de fevereiro inviabilizaram durante dias a colheita, induzindo plantas ao apodrecimento em alguns talhões de sua propriedade e rebrota na própria vagem em outros – situação reportada pela Agro DBO no início deste ano.”Eu desafio qualquer um a me provar que soja plantada em novembro não perde entre três a cinco sacas

de rendimento por hectare em Mato Grosso”. Como destaca o produtor, essa perda de produtividade leva em conta apenas o impacto direto da perda da janela. “Temos muito chão pela frente. Temos um cenário de pragas e doenças, podemos sofrer com chuvas incessantes na colheita e se houver mais um atraso (na colheita), a safrinha com milho estará completamente comprometida. Plantar a gente vai plantar, mas o que vai render no final é mais do que nunca uma incógnita”, exclama. Galvan calcula que de 400 mil a 500 mil hectares de soja, justamente o volume que deverá ser acrescido de uma safra para outra, boa parte dos quais devidos à expansão das lavouras sobre pastagens degradadas à leste do estado, pode deixar de ser plantado se as chuvas não forem suficientes. “Essa superfície é exatamente aquela ocupada pelo algodão. O produtor tem entre 15 de dezembro e 15 de janeiro o melhor período para o cultivo da fibra como opção de primeira safra. Quem faria agora a safrinha com soja precoce para plantar algodão certamente vai deixar de fazê-lo porque não dá tempo de plantar e colher antes de a janela da pluma se fechar. Creio que esses hectares poderão deixar de receber soja, o que amplia as perdas à produção e à economia do estado”, diz ele, lembrando que o PIB de Mato Grosso é calcado no agronegócio. “O prejuízo é geral. Não é só

Antônio Galvan em outubro, examinando o solo seco em sua propriedade em Sinop (MT): “Perdemos a janela ideal de plantio”.

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Safra

Endrigo Dalcin em sua lavoura, no ano passado: “A soja já deveria estar assim (foto ao lado) não fosse a estiagem”.

dinheiro que vai deixar de entrar no bolso dos produtores; é dinheiro que não vai chegar ao comércio, aos serviços. Além disso, não afeta apenas a cadeia do agronegócio. Será expansivo ao país”. Como mostrou a Agro DBO na edição de outubro, a redução na rentabilidade do produtor mato-grossense, conforme levantamento da INTL FCStone, poderá ser de apenas 11% do valor investido por hectare. A consultoria levou em consideração a média de preços da soja até a primeira quinzena de setembro, em R$ 45. Nesse cenário

a margem operacional seria de R$ 83,89, o que, para Mato Grosso, será o menor lucro das últimas cinco safras. Conforme a analista Natália Orlovicin, até o final da colheita dos Estados Unidos, ainda em curso, será possível registrar quedas das cotações no mercado internacional (caso haja produtividades muito boas, surpreendentes), mas nada brusco. “No geral, o mercado já precificou essa safra gigante de mais de cem milhões de toneladas. Acho que o mercado está vendo os US$9/bushel cotados recentemente como piso. Não deve cair mais do

que isso”, dsse ela, lembrando, a título de comparação, que esse mesmo mercado registrou teto de US$ 17,71/bushel em setembro de 2012. O Imea mostra que o atual valor gasto para a produção de uma saca no estado (R$ 46 em meados de outubro) está muito longe do ponto de equilíbrio, porque o custo não cobre nem o valor de mercado nos contratos com entrega em março de 2015, de R$ 36. Apesar da perspectiva geral de margem negativa ou empate entre receita e despesa no início do ano que vem, os mato-grossenses continuam apostando

Condições diferentes nos estados De acordo com levantamento da consultoria AgRural, a semeadura também foi dificultada pelo clima em Mato Grosso do Sul, especialmente em Dourados e Maracaju. Em Goiás, que sofreu com episódios de estiagem ao longo da safra passada, ninguém arriscou plantio no pó, como muitos o fizeram em Mato Grosso. Em Rio Verde, no sudoeste goiano, antes mesmo da virada do mês e da retomada das chuvas, parte do que havia sido plantado necessitava de replantio. O Paraná, também com atraso em relação ao ano passado, viu as plantadeiras, no norte e no sudoeste, reduzirem o ritmo por força do calor e

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da falta de umidade. No norte do estado, região que concentra 20% da produção paranaense, alguns produtores já falavam na necessidade de replantio. Conforme José Rocher, da Expedição Safra, “o clima pegou o povo de surpresa porque em ano de El Niño não se esperava por essa estiagem”. No Rio Grande do Sul, o granizo é que pegou os produtores de surpresa. Entre 14 e 16 de outubro, as pedras atingiram em cheio a produção de hortifruti e a triticultura, cuja colheita estava em pleno andamento. “Tudo o que estava fora do solo, ou seja, germinando, foi afetado”, disse o economista-chefe da Farsul – Federação da

Agricultura do Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, ainda sem condições de mensurar o impacto do fenômeno (incomum nesta época do ano) em culturas já estabelecidas nem sobre a soja e o milho, que começaram a ser semeados no mês passado. Mesmo assim, a Farsul manteve a projeção para a safra de verão no estado. Para a soja, a expectativa é de produção de 13,5 a 14 milhões de toneladas, o que representa crescimento de 4% a 7,5% em relação ao ano passado, quando o Paraná enfrentou período de calor muito intenso e escassez de chuvas em janeiro, o que determinou perdas importantes em algumas regiões.


Dos 500 mil novos hectares de soja que devem ser agragados à produção em Mato Grosso, a maior parte virá do leste do estado. na soja, ampliando a área dedicada à lavoura, especialmente no leste do estado. Dos cerca de 500 mil novos hectares que deverão ser agregados à sojicultura em Mato Grosso, a maior parte está no leste. O produtor Endrigo Dalcin, de Nova Xavantina (645 quilômetros de Cuiabá), explica que o leste costuma plantar mais tarde, em relação a outras regiões do estado. “Quando os preços da soja começaram a despencar, o planjamento da safra 2014/15 já estava feito, já estávamos convertendo áreas de pecuária para a agricultura. As compras de insumos, bem como os contratos de arrendamento, foram feitos há tempo e sobre uma saca de até R$ 72, valor que pagava muito bem todo o investimento”. Ele acredita, porém, que se o bushel não reagir, a região vai perder o ritmo. “No ano passado, pagavam R$ 60 pela saca futura para entrega em março de 2014. Agora, a oferta é de R$ 40/42, o que não paga a conversão”, compara. Segundo ele, Na região oeste da Bahia, o plantio teve início em outubro com a antecipação do fim do período de vazio sanitário: de 15 de outubro para o dia primeiro. Conforme levantamento da Aiba - Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, 1,4 milhão de hectares de soja deverão ser plantados, o que, se confirmado, ampliará a área dedicada à oleaginosa em 6,8%, comparativamente à safra passada. A expansão se dará sobretudo em áreas antes ocupada por lavouras de milho e algodão. De acordo com as previsões do conselho técnico da entidade, os produtores devem colher 4,7 milhões de toneledas do grão, ante 3,3 milhões de toneladas na safra 2012/13.

o custo para conversão de um hectare de pastagem em superfície agricultável é o dobro do necessário para plantar a soja em superfície já consolidada. “Precisa-se de mais de R$ 2,5 mil para fazer um reaproveitamento bem feito, com gesso, fosfato e extração de raízes”. Ele acredita que o revés da queda brusca dos preços e da alta dos custos será mais sentido na safra 2015/16, não nesta. Logística precária Para a família Giacomolli, pioneira em outra ponta do leste mato-grossense, em Água Boa (730 quilômetros de Cuiabá), a possibilidade de crise e da consequente trava de investimentos na região preocupa porque a cidade se tornou polo do vale do Araguaia e vive um histórico recente de pleno desenvolvimento. “Nos dois últimos anos, tivemos uma dobradinha de ganhos na soja e no boi, atividades de destaque aqui na região”, pontua César Giocomolli, que, juntamente com o pai, Valmor, e mais dois funcionários, toma conta de 700 hectares de lavoura e do rebanho bovino na fazenda Anderson. “Antes dos preços caírem, havia projeções do próprio Imea de que a área de Água Boa, com 140 mil hectares, pudesse dobrar em menos de cinco anos. Todo o vale do Araguaia poderia, no mesmo período, passar de 1,2 milhão de hectares para 3 milhões”. Como sublinham os dois produtores, além de um gasto maior para conversão de terras, o leste mato-grossense é a região com a menor infraestrutura de logística do estado. “Essa deficiência nos rouba renda porque encarece a chegada do insumo e o transporte da produção. Estamos no meio do continente”, frisa Dalcin. César Giacomolli calcula que, pela MT 240, a principal via de acesso à região, não asfaltada, são transportados anualmente

um milhão de toneladas de calcário, insumo que sai de uma usina a 90 quilômetros de Água Boa. “E os caminhões ainda têm que pegar uma balsa para atravessar o rio das Mortes e chegar até aqui”. Outro agravante é a falta de armazéns. “Só há espaço para 40% da produção”. Para o presidente da Aprosoja/ MT, os produtores não têm muitas opções nesse momento, a não ser frear os investimentos em custeio, arrendamentos, conversões e compra de maquinários. “O tempo de duração dessa provável retração do setor vai depender de quanto tempo o cenário de super oferta se sustentar. Como não há recuo de demanda, não acredito em algo de longo prazo, como na crise de 2004/05, que reverberou por algumas safras. Creio que possa durar, dentro do contexto atual, uns três anos. Tivemos quatro anos muito bons, que levaram a investimentos em tecnologia, expansão em áreas de pecuária e maior adesão à integração lavoura-pecuária”. Em sua opinião, a crise é passageira. Questão de tempo.

Terra pronta para o plantio. No leste do estado, o problema maior é a logística e a falta de armazéns.

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Fotos Ariosto Mesquita

Café

O conilon avança Produtores do norte do Espírito Santo conseguem aumentar a produção, a produtividade e a qualidade do grão graças à adoção de boas práticas na lavoura, investimentos em tecnologia e condições climáticas favoráveis. Ariosto Mesquita

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U

ma atípica seca no início do ano, pouca precipitação nos meses seguintes e uma inesperada e intensa estiagem entre setembro e outubro, aliada a um forte calor nas principais regiões produtoras, transformaram em “incógnita” o desempenho da cafeicultura brasileira para a safra a ser colhida em 2015, com possíveis efeitos também em 2016. Analistas afirmaram em meados de outubro, quando o tempo quente e seco ainda prevalecia, que a variedade arábica (71,2% do café produzido no país) deve a ser a mais prejudicada, mas não arriscaram previsões. Afinal, na ocasião a meteorologia previa precipitações mais intensas na virada de outubro para novembro em regiões cafeeiras do Sul e do Sudeste, embora sem quantificar volumes e frequência. Independentemente do quadro climático no dois últimos meses deste ano, a safra de arábica em 2015 já está comprometida. Quem afirma é o presidente da Cooxupé, Carlos Paulino. “O que será colhido no ano que vem nasce e se desenvolve nos ramos crescidos em 2014. A deficiência hídrica no solo comprometeu o desenvolvimento destes ramos e dos frutos. Em outubro, o café se apresentava na forma chumbinho. Ainda não dá pra saber quantos vão crescer e quantos vão cair”. Com relação à colheita em 2016, dependerá da florada em 2015, segundo ele. A floração é o principal termômetro para se avaliar como será a próxima safra. Geralmente acontece nos meses de setembro e outubro com a chegada das chuvas, o que não ocorreu de forma efetiva este ano. “Tivemos uma ligeira florada no início do semestre e só teremos outra a partir da volta das chuvas. Com isso, a safra a ser colhida em 2015 apresentará frutos com diferentes estágios de maturação o que pode trazer uma qualidade mais baixa para o café”. Quanto à

safra em curso, deve atingir 45,1 milhões de sacas, quatro milhões a menos que no ano passado, conforme o terceiro levantamento da Conab, relativo a dados colhidos no campo em agosto – ou seja, não foi computado o impacto da estiagem em setembro e outubro. O baque de 8,2% sobre a safra nacional só não foi maior graças ao bom desempenho do conilon, cuja produção saltou 19,9% entre uma safra e outra, em função, segundo a Conab, da renovação de cafezais, tecnificação, adoção de boas práticas na lavoura e condições climáticas mais favoráveis no Espírito Santo, maior produtor de café conilon do Brasil. No estado, o ano seco não bateu tão duro na variedade por dois motivos: boa parte da área cultivada no estado é irrigada e um bom número de cafeicultores, sobretudo na região norte, está investindo forte em tecnificação, boas práticas e em manejo sustentável, ampliando a produtividade, a produção e a qualidade do grão, de demanda crescente no mercado internacional.

pode ser creditado a uma mudança de postura, com a adoção de métodos e ferramentas de manejo racionais e sustentáveis. Histórias interessantes não faltam. O produtor Paulo Campana, dono do Sítio Nossa Senhora das Graças, em Nova Venécia, na região conhecida como Chapadinha, é protagonista de uma delas. Ele passou 10 anos trabalhando com bovinocultura de corte em Rondônia, mas diante de pouco retorno e dificuldades de comercialiação, acabou largando tudo para investir em café e pimenta do reino na propriedade de 29 hectares adquirida no norte do Espírito Santo, no final da década passada. Nos 11 hectares ocupados com conilon irrigado (possui pouco mais de dois hectares de pimenta), ele obteve este ano produtividade média de 175 sacas por hectare, diante de um custo de produção de R$ 65,00 por saca, o que lhe permitiu ganho de R$ 25,8 mil por hectare (R$ 235,00 a saca). O desempenho é significativamente alto, sobretudo levando-se em conta que a produtividade média do conilon no estado é de

Paulo Campana saboreia um de seus cafés, produzido na região da Chapadinha, em Nova Venécia (ES).

Situações opostas No começo de outubro, enquanto produtores de arábica lamentavam as perdas na lavoura, temendo prejuízo financeiro (com a seca, o preço subiu, mas a lucratividade dependia da produtividade alcançada), cafeicultores do norte do Espírito Santo comemoravam os resultados da safra 2014, de olho no que podem conseguir em 2015. A Conab projeta uma produção de 12,8 milhões de sacas nos cafezais capixabas na safra atual, o que representa aumento de 9,8% sobre a produção de 2013. São 2,9 milhões do arábica (22,5% do total) e 9,9 milhões do conilon (77,4% do café do estado). De acordo com a companhia, enquanto o primeiro amargou um desempenho de -16,8% em relação a 2013, o conilon festeja um salto de 21,2%. Muito do sucesso dos produtores de conilon no Espírito Santo novembro 2014 – Agro DBO | 49


Café anos em 2014). “De 2013 para 2014, meus gastos para produção de uma saca de 60 kg recuaram de R$ 102 para R$ 65”, garante.

Verônica Krüger mostra parte de seu cafezal no sítio Morro da Pera, em Vila Pavão. Ela conseguiu 90 scas por hectare em 2013, em plantio morro acima.

35,02 sacas/ha (Conab/set/2014). A receita, segundo ele, não é complexa, mas exige determinação. Campana simplesmente apostou em se profissionalizar na atividade adotando boas práticas agrícolas com foco na sustentabilidade. Assim, ele vem reduzindo seu custo de produção, o que pode ser constatado mesmo levando em conta o momento de maturidade produtiva do seu cafezal (cinco

Programa de apoio Paulo Campana não é uma andorinha tentando fazer o verão na cafeicultura capixaba. Ele integra um grupo de 365 propriedades – entre pequenas, médias e grandes – que, nos últimos dois anos, recebeu assistência técnica do “Programa Agro +: por uma agricultura mais sustentável”. A iniciativa é da Ufes – Universidade Federal do Espírito Santo, em parceria com a gerência de educação da Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal. De acordo com as duas organizações, o programa já atingiu 1.354 pessoas no norte do Espírito Santo, maior região produtora de café conilon do estado. “Há 20 anos cultivar uma lavoura era diferente. Nem se sabia o que se estava plantando. Hoje, tenho de me informar corretamente sobre a variedade que melhor vai se adaptar ao perfil de minhas terras”, salienta o produtor. Outra participante do programa é Verônica Krüger, da comunidade pomerana (originária do

norte da Alemanha e da Polônia) de Vila Pavão, município próximo a Minas Gerais. Ela deixou a atividade de cuidadora de pré-escola para plantar 4,8 hectares de café conilon nas terras da família, no sítio Morro da Pera, de 15 hectares. Hoje, divide o tempo entre os tratos operacionais da lavoura e as funções de mãe (tem dois filhos: uma garota de 12 anos e um menino de nove) e de esposa – seu marido é físico e projetista, mora com ela no sítio, mas trabalha em uma empresa na vizinha cidade de São Gabriel da Palha. A tarefa de Verônica não é fácil. A propriedade fica em região acidentada, com muitos morros. Ela aproveitou as pequenas áreas de baixada para colocar o café, mas não teve como escapar do cultivo nas escarpas. Mesmo com as dificuldades, quer ampliar a área plantada em mais dois hectares. Esta meta tem explicação lógica. Em cinco anos de café, conseguiu produtividade de 90 sacas por hectare, mesmo com boa parte da lavoura em aclive, mas com irrigação por gotejamento. “Não tinha plano de adquirir nada neste momento, mas a partir da primeira colheita, em 2013, consegui comprar um tra-

Deficit hídrico histórico Os problemas climáticos deste ano, ao contrário de ciclos anteriores, devem produzir efeitos de curto a longo prazos, afetando negativamente pelo menos as duas próximas safras brasileiras. A avaliação é do agrônomo Rodrigo Naves Paiva, da Fundação Procafé, órgão de pesquisa sediado em Varginha e com atuação em Minas Gerais e São Paulo. Ele classifica a situação como “catastrófica”, em função de um deficit hídrico “sem precedentes” nas últimas décadas. “A escassez de água no solo teve início em final de janeiro deste ano e prosseguiu até outubro. Geralmente começa em julho e vai até meados de setembro. Desde que entrei na Fundação, em 2001, nunca vi coisa igual. Mesmo colegas que trabalham há mais de 40 anos não se lembram de algo semelhante. O café na próxima safra é uma incógnita”, afirma. Segundo Paiva, o estoque hídrico normal (média histórica) para o final da primeira quinzena de outubro no município

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de Varginha (MG) seria de 75 milímetros de armazenamento. Entretanto, no dia 14 de outubro o deficit era de 198 mm. “Ou seja, apenas para repor a carência e atingir o nível adequado nesta data seria necessária uma chuva de 273 mm”, compara. Em outras regiões produtoras, o quadro não era diferente. Conforme registros da Fundação Procafé em 14 de outubro, os níveis de carência de água no solo atingiam -185 mm em Carmo de Minas, – 275 mm na região de Furnas (Boa Esperança) e chegava a – 200 mm em Franca, SP. Indagado sobre uma possível compensação de produtividade em áreas irrigadas de Minas Gerais, Paiva descartou: “Apenas 3% do café arábica é cultivado com irrigação no estado; além disso, nas primeiras semanas de outubro a disponibilidade de água para regadura nas áreas de lavoura já estava sensivelmente limitada em quase todas as regiões de cultivo”.


Um dos pilares do programa de apoio aos produtores é a redução de custos. Campana gastava R$ 102 por hectare. Agora, R$ 65.

tor”, conta.Na safra atual, teve um custo de R$ 129,00 para cada saca produzida, comercializada a R$ 232,00, em média. Grandes produtores do Espírito Santo também aderiram ao programa Agro + e não têm do que reclamar. Jarbas Alexandre Nicoli Filho, dono de 14 propriedades no estado, todas elas com lavouras de café, diversificadas com outras atividades produtivas, é um deles. Possui 500 hectares ocupados com bovinocultura de cria, 1.400 destinados à recria e engorda de gado, 30 hectares cultivados com pimenta do reino, 5 com maracujá, 15 com cacau e 84 com mamão, além de 450 hectares cobertos com conilon. Para mostrar seus resultados, o agricultor cita o exemplo do sítio Nicoli, de 55 hectares, em Jaguaré, onde mantém 30 hectares de café. Ele aderiu ao programa em 2012 e ainda não fez as contas na ponta do lápis. Entretanto, sente claramente os efeitos das mudanças: “Meu custo de produção já caiu pelo menos 20%”. Em pouco

Jarbas Nicoli Filho planta café em 14 propriedades, “um pouquinho ali, um pouco mais acolá”. Diz que “ainda não fechou a matemática”, mas conseguiu reduzir em 20% seu custo de produção.

Grãos maduros e verdes: pesquisa também busca uniformidade de maturação, além de outras características de interesse de produtores e consumidores.

menos de dois anos, conseguiu produtividade média de 60 sacas/ ha, com pico de até 106 sacas/ha. Este ano, vendeu toda a sua produção para a cooperativa local a um preço médio de R$ 245,00/saca. Nicoli prepara uma planilha de custos para o café com o objetivo de usá-la a partir do próximo ano. Aí, sim, pretende “fechar a matemática”. Enquanto isso, vem investindo em tecnologia e novos pro-

cedimentos. Dentre eles, destaca o controle e a regulagem do material de aplicação de defensivos, com os quais conseguiu reduzir despesas e ganhar produtividade. O pulo do sapo Segundo o engenheiro mecânico e agricultor José Bonomo, dono do sítio Bamburral, em São Mateus. “a necessidade faz o sapo pular”. Diante de considerável gasto na colheita manual de seus 48 hectares de café, ele decidiu pela mecanização da operação. “Quase 50% do meu custo de produção vai para o pagamento do pessoal. A mão de obra aqui é cara. Um colhedor ganha entre R$ 3 mil a R$ 4 mil líquido por mês de trabalho”, revela. Para reduzir este desembolso, estuda investir em uma máquina que vai lhe custar entre R$ 60 mil a R$ 70 mil. “Com ela, pretendo fazer o serviço de mais de 20 pessoas em um mesmo intervalo de tempo”, prevê. Bonomo garante que, após ingressar no Agro +, já enxugou outras despenovembro 2014 – Agro DBO | 51


Café O programa Agro +, conduzido pela Ufes em parceria com a Andef, já atingiu 1.354 pessoas na região norte do Espírito Santo. sas. “Meu custo de produção deve ter caído entre 10% e 20% em dois anos. Em uma das últimas safras, minha produtividade atingiu 160 sacas por hectare”, garante. Dentre as medidas adotadas por ele estão o controle de aplicação de defensivos, recolhimento e correta destinação das embalagens destes produtos, além do uso regular de EPI (equipamento de proteção individual). O Programa Agro + é basicamente uma iniciativa de educação voltada para os indivíduos envolvidos na produção agrícola. Foi elaborado a partir da detecção de generalizada desinformação sobre procedimentos agrícolas na cafeicultura. Em sua estruturação, a An-

def, através do seu gerente de educação, Fábio Kagi, é o organismo investidor ( R$ 460 mil já alocados). Enquanto isso, o professor da Ufes, Marcelo Barreto da Silva, organiza as ações práticas. Tudo começou com a aplicação de um questionário de 51 perguntas em centenas de propriedades abordando cinco diferentes tópicos: procedimentos fitotécnicos, desenvolvimento social, ambiental, econômico e fitossanitário. “Observamos que, em geral, não havia preocupação com tratamento de esgoto, técnicas de preservação do solo, ferramentas tecnológicas diversas, critérios para aplicação de defensivos, gestão financeira e muito menos com planos de saúde familiar”, conta o

representante da Ufes. A partir de 2013, foram montadas ações educacionais para repassar conhecimento sobre boas práticas agrícolas. Além disso, os questionários indicaram raros procedimentos efetivos para o manejo de pragas. “Estamos hoje trabalhando duro para fazer o controle da fusariose e no combate às altas infestações de nematoides”, conta o professor, que é fitopatologista da Ufes lotado no campus de São Mateus, mas reside em Nova York, EUA, de onde gerencia toda a parte operacional do programa. “O nosso grande problema ainda é a falta de pesquisa na região. Demos alguns passos, mas o caminho ainda é longo”, avisa.

AGENDE-SE PARA A 7° EDIÇÃO! 02/09/2015 Mais informações Dolaimes Comunicação e Eventos SAE BRASIL (54) 3223-8677 (11) 3287-2033 regoinais@saebrasil.org.br saebrasil-poa@dolaimes.com.br

Confira fotos da 6ª edição

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REALIZAÇÃO


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Tecnologia

Cana: o salto para o futuro já começou. Para sair da crise o setor sucroenergético vai aplicar um rol de novas práticas, pois soluções políticas podem demorar. Antonio Cesar Azenha*

N

a última década, observamos o notável desenvolvimento de tecnologias inovadoras em cereais, resultando em expressivo ganho de produtividade e rentabilidade nessas culturas. A comparação imediata com o nível de adoção tecnológica na cultura canavieira parece desleal nesse mesmo espaço de tempo. Por se tratar de uma cultura regional, o desenvolvimento de tecnologias por parte da iniciativa privada sempre nos pareceu, erroneamente, destinado a não ser uma prioridade na agenda. Felizmente, as aparências enganam e a percepção de que inovações em cana-de-açúcar não são prioritárias é tão equivocada quanto a condução das políticas macroeconômicas atuais destinadas ao setor. A cultura da cana-de-açúcar no Brasil está passando por uma revolução silenciosa com a disponibilização de novas tecnologias específicas para esse cultivo. O portfólio de tecnologias desenvolvidas para a cultura nunca foi tão extenso, de alto impacto e inovador em sua concepção. Arrisco-me a afirmar que estamos à frente da maior mudança tecnológica que a cultura já viu desde a mecanização, movimento este que é capaz de interromper o nefasto ciclo de baixa produtividade responsável, em parte, pela desesperança observada no setor.

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A força motriz da inovação não está nos laboratórios de pesquisa das empresas, muito menos nos corredores da capital federal. Ela está no dia a dia do agricultor, na usina em sua inexorável necessidade por matéria prima de qualidade, no acionista em seu monólogo de retorno sobre

o capital empregado. A necessidade é a mãe da inovação e foi dessa necessidade da cadeia de valor canavieira que muitas das inovações recém-lançadas nasceram. Enfim, a inovação já se faz presente no campo e o que era futuro já se concretiza no presente. Foco esse artigo em um tema


que tem consumido boa parte dos esforços das empresas e institutos pioneiros em pesquisa. Os sistemas de propagação e plantio, especialmente por meio de mudas sadias pré-brotadas, que são capazes de habilitar o agricultor a retomar uma antiga prática há muito esquecida no setor: a construção de bons viveiros. O viveiro saudável e com boas variedades é a base de um canavial de alta rentabilidade. Porém, manejar viveiros requer planejamento varietal sério, equipe qualificada, equipamentos de ponta e cálculo de risco / retorno sobre o investimento para suportar o projeto. E sua construção não é algo trivial e não pode ser tratada como tal. A boa notícia vem dos próprios agricultores que já adotaram uma nova gama tecnológica. O custo de formação do canavial é reduzido quanto maior a adoção tecnológica e maior o planejamento. Sim, esse é um tema de custo. Vale lembrar que o custo é uma função de decisões e não uma consequência geográfica do setor. Vale um exemplo: um bom viveiro, planejado para ser construído com alguns meses de antecedência, formado a partir de mudas sadias de variedades nobres, adaptadas ao solo e ao clima do local, que utilize equipamentos específicos para o plantio de mudas de cana pré-brotadas,

tratadas com fungicidas, inseticidas e herbicidas de ponta, georreferenciado e irrigado é capaz de prover em média 40% mais gemas viáveis para o plantio do canavial. A unidade de medida não é mais a mesma. Viveiros não produzem cana, produzem gemas viáveis. Qualquer semelhança com o índice de fertilidade de cereais não é mera coincidência. O plantio mecanizado requer cerca de 20 toneladas de cana por hectare e uma operação complexa que envolve frentes de trabalho extensas. Com mudas sadias, o mesmo cultivo, mais produtivo e de melhor qualidade, requer cerca de duas mudas por metro. Simples assim. A tecno-

dativamente construindo o cenário do canavial que produz mais de 120 toneladas ao ano, ano após ano, com elevados teores de Açúcar Total Recuperável (ATR). Além disso, a tecnologia também propiciou para que o agricultor identifique rapidamente pontos de baixa biomassa e de falhas de stand, sendo possível a correção que visa unicamente elevar a longevidade desse canavial. Que tal manter um canavial altamente produtivo por 6 ou 7 cortes e ainda constatar que ele pode ir além disso? Ao mesmo tempo, a agroindústria canavieira observa e avalia a evolução das tecnologias para a viabilização do etanol de

A boa notícia vem dos próprios agricultores que já adotam uma nova gama tecnológica logia liberou a área agrícola das usinas para focar naquilo que ela faz de melhor, planejamento. A matéria prima de qualidade é somente o passo inicial dessa revolução que inicia um ciclo de maior produtividade nas lavouras de cana. Uma nova classe de defensivos agrícolas, capaz de prover efeitos fisiológicos positivos, cria o ambiente de produtividade elevada que vai além da proteção de cultivos. Novos fertilizantes e micronutrientes, específicos para as demandas da cultura, vão gra-

2ª geração, o que, sem dúvida, trará maior rentabilidade e competitividade ao setor. Não se trata de futuro, mas de tecnologias que já estão disponíveis e em uso pelos pioneiros do setor. A adoção gradativa dessas tecnologias, longe de ser um sonho, já nos é realidade e o principal fator que nos faz acreditar no futuro promissor que a cana-de-açúcar tem no Brasil. * o autor é Gerente de Cultivos Especialidades e AgMusa da Basf

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Análise de mercado

Crise anunciada Política governamental de subsídio à gasolina foi desastrosa para o setor sucroenergético, complicando ainda mais o mercado de açúcar.

O

setor sucroenergético passa por uma de suas mais rigorosas crises. O preço do açúcar no mercado internacional chegou ao ponto mais baixo dos últimos três anos. O mercado físico expõe sua fraqueza, com a commodity sendo vendida praticamente ao custo de produção. E se o açúcar não vai bem, o etanol consegue ser ainda pior. A política de subsídio à gasolina foi desastrosa para o setor. Há cinco anos, nossas estimativas indicavam que, na safra 2014/15, dado o crescimento da demanda por etanol hidratado e o sólido crescimento da frota nacional de veículos leves, chegaríamos a moer no Centro-Sul 720 milhões de tone-

ladas de cana. Este ano, a região deve moer 550 milhões t. Se o setor quiser manter o que tem hoje para suprir o mercado internacional de açúcar sem ganhos de mercado (mantendo o mesmo percentual de etanol na frota de automóveis e veículos leves), precisa produzir pelo menos 180 milhões de toneladas de cana a mais nos próximos cinco anos, o que exigirá investimentos na ordem de US$ 30 bilhões. O crescimento na exportação de açúcar vem se sustantando acima de 5% ao ano. Graças a isso, o Brasil chegou a arrecadar (em 2010) mais de US$ 15 bilhões, contribuindo sobremaneira ao superavit nas exportações nacionais. Além disso,

temos um mercado de consumo de combustível com enorme potencial sustentável. Em passado recente, 55% do combustível usado nos automóveis leves era etanol. Um mercado consumidor pujante que cresceu a taxas de 7,3% ao ano no último decênio mostra onde o setor poderia ter chegado. Lamentavelmente, essa expansão vigorosa foi interrompida pelo governo federal, congelando o preço da gasolina para controlar a inflação e sufocando as usinas, que amargam dívidas de mais de R$ 65 bilhões. O preço justo da gasolina durante muito tempo esteve defasado justamente em razão dessa (não) política. Até início de setembro, o preço da gasoli-

SOJA –

O quadro climático adverso nos EUA (atraso na colheita devido às fortes chuvas) ajudou a sustentar as cotações do grão no mercado internacional. Lá, o aumento na demanda por derivados também contribuiu para a alta. No Brasil, o impulso veio dos baixos estoques no mercado spot, da firme demanda e do atraso no plantio da safra de verão, provocada pela estiagem até meados de outubro. No médio prazo, as projeções de safras recordes podem reverter a tendência altista.

* Em 15/10, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 61,56 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO –

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Conforme levantamento do Cepea, os preços subiram na primeira quinzena de outubro no mercado de lotes (negociação entre empresas) graças ao aumento da demanda dos moinhos pelo trigo de qualidade. A umidade excessiva (choveu bastante no Rio Grande do Sul, principal produtor do país) danificou parte da lavoura, comprometendo a qualidade do grão. Os negócios com farinha aumentaram no mês passado, ajudando a sustentar as cotações.

* Em 15/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 529,84 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ARROZ – Os preços oscilaram na primeira quinzena do mês, mas sempre na faixa dos R$ 36 a saca. Preocupados com a semeadura, dificultada pelas chuvas no sul do país, os orizicultores ofertaram poucos lotes. Por sua vez, abastecidos por compras anteriores e por arroz dos estoques do governo, os compradores também se retraíram. O Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias/ BM&FBovespa fechou a R$ 36,89/sc no dia 21. No curto prazo, a tendência é levemente altista.

* Em 15/10, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 36,76 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado na, apenas para se alinhar aos preços internacionais, deveria estar em R$ 3,126 o litro, ou seja, pelo menos 11% acima do valor nas bombas. O mercado futuro do petróleo tipo Brent sofreu uma reviravolta em meados de outubro e, para entrega imediata, acumulou queda de 19,5% no trimestre, negociando o barril a US$ 84,50. Com isso, pela primeira vez em muito tempo, o preço justo do litro da gasolina no Brasil passou a coincidir com o preço praticado na bomba, ou seja, R$ 2,835, aproximadamente. Embora não tenha mais defasagem – afinal, o que passou, passou – o fato é que, se o setor esperava uma luz com um possível ajuste nos preços dos combustíveis para que o etanol voltasse a ser competitivo, agora vai ter que conviver com os níveis atuais, que não remuneram as usinas. Petróleo mais baixo significa que o etanol precisa ser mais barato para não perder mercado, que, remunerando mal, implica em mais cana sendo transferida para o açúcar no mix do próximo ano, o que se

traduz em mais oferta de açúcar no mercado, ou seja, preços mais baixos, num círculo perverso que inflige ao setor sucroenergético brasileiro apenas as agruras, sem ter aproveitado as vacas gordas, porque a gasolina está congelada. No açúcar, se compararmos os dados do USDA para a safra 2014/15 com a média das três safras anteriores, verificaremos que a produção mundial está estagnada. Já o consumo, cresceu 6,8 milhões de toneladas. No Brasil, o subsídio à gasolina distorce o valor do etanol, paralisa o fluxo de investimentos para o setor sucroalcooleiro, que se vê de mãos amarradas, impossibilitado de planejar seu futuro. Uma vez que não é dado saber a formação de preços do combustível no país, milhares de empregos são perdidos com várias unidades industriais fechando ou deixando de ser criadas. Arnaldo Luiz Corrêa Diretor da Archer Consulting, especialista no setor sucroalcooleiro.

AÇÚCAR – Os preços seguiram em trajetória altista na primeira quinzena de outubro, empurrados por conjuntura favorável, incluindo entressafra alongada e menor produção interna. De abril até o final de setembro deste ano, o volume total de açúcar cristal negociado no mercado spot paulista foi 24% menor que o do mesmo período do ano passado, conforme levantamento do Cepea. O aumento das exportações (o Brasil deve fechar outubro com remessas 26,2% maiores em relação a setembro, segundo estimativas do MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio) também ajudou a sustentar os preços.

* Em 15/10, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 47,40 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

ALGODÃO – As cotações da pluma cairam

* Em 15/10, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 166,06 centavos de real por libra-peso.

na primeira quinzena de outubro, dada a menor demanda, mas reagiram na terceira semana do mês. Em Mato Grosso, principal produtor do país, o contrato futuro para dezembro/14 fechou com alta de 1,3%, segundo o Imea, graças à movimentação da indústria e à liquidez do óleo de algodão – o produto obteve valorização de 7,2%. No curto prazo, porém, a tendência é baixista no mercado nacional.

CAFÉ – A incerteza quanto ao tamanho real da

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

* Em 15/10, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 498,88 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

safra brasileira, impactada pela seca, sustentou os preços na primeira quinzena do mês passado. Muitos cafeicultores restringiram a oferta, na expectativa de alta ainda mais expressiva. Entre as regiões acompanhadas pelo Cepea, a Zona da Mata (MG) e a Mogiana (SP) registraram os menores volumes negociado até meados de outubro, não chegando aos 20% da produção. A perspectiva de quebra na safra 2015/16 deve sustentar as cotações .

MILHO – A forte alta nos preços, mesmo com

* Em 15/10, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 22,78 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

estimativas de estoques recordes, surpreendeu analistas aqui e lá fora. Embora o atraso no plantio da safra brasileira tenha influenciado o mercado, a recuperação nas cotações foi sustentada pela demanda mundial aquecida e pelo atraso na colheita nos EUA, por causa das chuvas. O Indicador Esalq/ BM&FBovespa, referente à região de Campinas (SP), subiu 6,43% entre 13 e 20 de outubro, fechando a R$ 23,83/saca de 60 kg no dia 20.

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Novidades no campo Sorgo de alta produtiviade

A Ceres Sementes lançou três híbridos da marca Blade: dois de sorgo de alta biomassa (BD7605 e BD7607) e um de sorgo sacarino (BD5404). Matéria-prima das usinas do setor sucroenergético para cogeração de energia elétrica, geração de calor ou fabricação de etanol celulósico (2G), o sorgo de alta biomassa atinge 50% de umidade ainda no campo, podendo ser colhido e consumido imediatamente nas caldeiras. O BD5404 é um híbrido com excelente desempenho agronômico e altamente resistente ao tombamento. As novas variedades já estão disponíveis para a safra 2014/15 da cultura

Manejo de mariposas

Lançamento recente da Arysta, o Noctovi é produto formulado à base de substâncias voláteis e açúcares, capaz de atrair mariposas a até 50 metros de distância do local da aplicação. Adicionado a uma baixa quantidade de inseticida à base de Methomil, torna-se uma isca com rápido efeito de atração e controle, reduzindo a geração de lagartas de diversas culturas.“Noctovi é atrativo para divers espécies de mariposas, como as Spodópteras, Plusias e Helicoverpa. O produto controla as pragas sem causar qualquer dano à cultura”, diz Sérgio Chidi, gerente de produtos e mercado da empresa

Extensão de uso de herbicida

O Select 240 EC, da Arysta, foi aprovado pelo Ministério da Agricultura para controle de capim-amargoso na soja. Herbicida seletivo, com princípio ativo à base de Clethodim, controla várias espécies de plantas daninhas resistentes ao glifosato em diversas culturas. Outro produto da empresa, o Inseticida sistêmico Orthene 750 BR, usado no combate a pragas sugadoras e mastigadoras, recebeu registro do Mapa para aplicação aérea.

Diagnóstico das lavouras

Pulverizador costal de alavanca

Aplicativo da Yara para smartphones e tablets, o CheckIT foi estendido às culturas de citros, batata e tomate. Desde agosto, servia aos produtores de soja, milho, algodão e girassol. O CheckIT permite acesso a um banco de dados sobre nutrição vegetal e a um acervo fotográfico mostrando sinais físicos de deficiência das plantas“. Através dele, o agricultor pode fazer um diagnóstico da lavoura, aplicar corretamente nutrientes e fertilizantes ou corrigir a aplicação. Para baixar o aplicativo, basta acessar a Play Store (Android), a App Store (iOS) ou o Windows Store (Windows Phone) e procurar por “CheckIT”.

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A Guarany apresentou na Expofruit 2014, realizada em Mossoró (RN), seu Pulverizador Costal de Alavanca 12L PRO com tanque de 12 litros de capacidade, reforçado com polietileno para diminuir vazamento e sistema de filtragem para reduzir entupimentos. Para aumentar a segurança ao usuário, a tampa do pulverizador possui um copo dosador acoplado que facilita a dosagem e diminui o risco de contato do operador com os defensivos. Segundo a empresa, o Pulverizador Costal de Alavanca 12L PRO é o único no mercado com cinco anos de garantia.


Novidades no campo Adesão instantânea

A Henkel apresenta o Loctite 4090, adesivo híbrido de larga aplicação. Segundo a empresa, o produto combina a alta força de adesão de um epóxi e a rapidez de aplicação de um cianoacrilato em grande variedade de substratos, tais como metais, plásticos e borrachas. Caracteriza-se também pela rapidez no tempo de fixação, mesmo em baixas temperaturas (5ºC), resistência à umidade e à temperaturas de até 150ºC e aos raios UV. O Loctite4090 é oferecido em cartucho de 50 ml, com cinco bicos aplicadores.

Fertilizante de alta performance

A Produquímica aproveitou o Congresso Mundial de Fertilizantes, realizado no mês passado no Rio de Janeiro, para lançar o Sulfurgran B-Max. Segundo a empresa, o produto traz uma série de benefícios para os agricultores, como uniformidade de aplicação, redução de hora/máquina e aplicação em qualquer época do ano. “Como a maior parte dos solos brasileiros tem níveis baixos de boro, o Sulfurgran B-Max será de grande valia, uma vez que, com somente uma aplicação, será possível fertilizar o solo com enxofre e também boro, liberados em pequenas porções”, disse o gerente de produtos da Produquímica, Guilherme Sá.

Virabrequins em aço forjado

A Susin Francescutti lançou dois tipos de virabrequim para o mercado de reposição, produzidos em aço forjado. O VB 329 é utilizado em motores da série 12 (X12), aplicados em caminhões Volvo VM 260 e VM 310, de seis cilindros. O VB 061 destina-se a motores Perkins 1006/1006T usados em tratores agrícolas. Localizada em Caxias do Sul (RS), a empresa produz peças para motores a gasolina e diesel nos mercados agrícola, aeronáutico, construção e outros.

Termômetro infravermelho digital

Especializada em equipamentos de medição, a Instrutherm apresenta o TI-430, termômetro digital com mira laser que permite efetuar medições através de um sensor infravermelho. Compacto e portátil, o aparelho possui display de cristal líquido (LCD) com função luz de fundo, escala de - 50 a 1000ºC, precisão de ±2,5ºC, indicação de duplo laser para determinação de foco (área medida), desligamento automático, coeficiente de distância de 30:1, emissividade ajustável, alarme alto e baixo e função de temperatura máxima.

Manutenção de máquinas agrícolas

Empresa de matriz inglesa, especializada em retroescavadeiras e manipuladores telescópicos, a JCB apresenta sua linha de manutenção de máquinas composto por 22 produtos, entre os quais graxa líquida, desengripantes e silicone spray. “Esses produtos são os mesmos utilizados nas fábricas da JCB em todo o mundo. São testados e homologados pela equipe de engenharia como os mais adequados para as nossas máquinas em campo, para aumentar a durabilidade e produtividade da operação”, diz Rene Witzke, gerente de peças da empresa.

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Biblioteca da Terra Controle de pragas via QR

Podridão de carvão

O livro Macrophomina phaseolina em soja reúne estudos sobre a podridão negra da raiz, ou podridão de carvão, conduzidos desde 1985 pela Embrapa, em parceria com a Coamo. Agente causador da doença, o fungo M. phaseolina ataca o sistema radicular das plantas. Na falta de cultivares resistentes, a única opção de controle da podridão é manejar o solo para evitar compactação – sem condições de aprofundamento, as raízes ficam expostas à ação do fungo. A publicação custa R$ 5 e pode ser adquirida através do fone (43) 3371-6119 ou pelo e-mail cnpso.vendas@embrapa.br

Paradoxos do Brasil

A Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal aproveitou a realização da Frutal 2014/21ª Semana Internacional da Fruticultura, Floricultura e Agroindústria, realizada em setembro em Fortaleza (CE), para lançar o QR-Livro#03 – Pragas de Frutas Tropicais, destinado a produtores em geral, agrônomos e técnicos. Afinal, a obra serve à assistência técnica, emissão de receituário agronômico e manejo integrado das pragas. O livreto traz imagens e fichas técnicas de 100 espécies de pragas de 10 fruteiras cultivadas em regiões tropicais do Brasil, códigos QR, através dos quais é possível acessar as informações via internet, e instruções para operar esses códigos. Os interessados podem visualizar ou baixar gratuitamente o livreto no site www.issuu. com/reginasugayama/docs/ livreto_frutas_tropicais_final. Anteriormente, a Andef lançara outras duas edições similares: a primeira sobre tomate, pimentão, batata, pepino e cenoura, e a segunda, sobre milho e sorgo. Todas estão disponíveis através do link www.defesavegetal.net

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Lançamento da Cultura Acadêmica Editora, pela coleção Vozes do Campo, a publicação Os usos da terra no Brasil oferece uma abordagem histórico-geográfica dos paradoxos do Brasil agrário por meio de análise das políticas fundiárias, dos modelos de desenvolvimento e das formas de apropriação e utilização da terra. “O livro destina-se aos interessados em compreender o Brasil agrário real,” enfatiza Bernardo Mançano Fernandes, um dos autores, ao lado de Clifford Andrew Welch e Elienai Constantino Gonçalves. O preço de capa é R$ 24. O link de acesso para compra é www.livrariaunesp.com.br

A trajetória do algodão

Editado pelos pesquisadores Aluízio Borém e Eleusio C. Freire, o livro Algodão do Plantio à Colheita resume a história da cultura no Brasil, desde sua introdução no país até os dias atuais, passando pela crise no Nordeste, devastada pelo bicudo, e pela posterior expansão da cultura por áreas de Cerrado. O foco, porém, é agronômico. A obra destaca o que há de mais recente em tecnologia de produção. Traz informações técnicas atualizadas sobre cultivares, preparo da terra, semeadura, controle de doenças e pragas, manejo, etc. Com 312 páginas, custa R$ 55. Os interessados devem entrar em contato com a livraria UFV pelos telefones (31) 3899-3551 ou (31) 3889-2234 ou pelo site www.editoraufv.com.br

Tratado das espécies

Lançado na última Bienal do Livro, realizada na cidade de São Paulo, a publicação Espécies arbóreas brasileiras reúne o conhecimento acumulado pelo pesquisador Paulo Ernani Ramalho Carvalho em 40 anos de trabalho e pesquisas a campio. Com 600 páginas, ilustrações, fotos e mapas com locais de maior ocorrência, traz informações relacionadas à ecologia, silvicultura, aproveitamento alimentar, madeireiro, ecológico e medicinal de 60 espécies, grande parte das quais desconhecidas do grande público brasileiro, como açoita-cavalo, caujujão, cuvitinga, voadeira, marizeiro e muquém. O livro está disponível para venda na Livraria Embrapa (www.embrapa.br/livraria) por R$ 160.


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Calendário de eventos

NOVEMBRO

3

2º Congresso Brasileiro de Patologia Pós-Colheita

De 3 a 6 – Hotel Fazenda Fonte Colina Verde – São Pedro (SP) Fone: (19) 3307-7475 – Site: cbpatologiaposcolheita2014.com.br

11

6ª Agrocampo – De 11 a 23 – Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro – Maringá (PR) – Fone: (44) 3261–1700 – Site: www.srm.org.br – E-mail: mario@srm.org.br

12

Encontro Nacional da Soja – De 12 a 13 – Parque

de Exposições Governador Ney Braga – Londrina (PR) – Fones: (19) 3429-8824 e (19) 34176604 – Site: www.gelq.com.br E-mail: soja@gelq.com.br

10

VII Seminário Nacional de Saneamento Rural e II Encontro Latino-Americano de Saneamento Rural – De 10 a 13 Auditório da Federação das Indústrias do Espírito Santo – Vitória (ES) Site: www.abes-es.org.br

18

– 3º Simpósio de Estudos

e Pesquisas em Ciências Ambientais na Amazônia – De 18

a 20 – Centro de Ciências Naturais e Tecnologia da Universidade do Estado do Pará – Belém (PA) – Site: www.uepa.br/paginas/pcambientais/ simposio – E-mail: simpambientais@ gmail.com

18

III CBRG/Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos – De 18 a 21 - Mendes Convention Center – Santos (SP) Fone: (19) 3243-0396 Site: www.cbrg.net.br

18

7º Geonordeste/ Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto – De

18 a 21 – Hotel Mercure Aracaju Del Mar – Aracaju (SE) – Fones: (79) 3243-0537 e (79) 41413611 – Site: www.resgeo.com.br/ geonordeste2014

19

19/11 – 22º Encafé/ Encontro Nacional da Indústria de Café De 19 a 22 – Enotel Porto de Galinhas (PE) – Fone: (21) 2206-6161 – Site: www.abic.com.br e-mail: encafe@abic. com.br

VII Reunião Brasileira sobre Promovido Indução de Resistência em pela Abic – Associação Plantas a Patógenos – De 19 a

Brasileira da Indústria de Café, o Encafé, atualmente em sua 22ª edição, é o maior evento do setor no Agroecol 2014/1º Seminário país. Da programação deste ano constam de Agroecologia da exposições e debates América do Sul, 5º Seminário de sobre o cenário Agroecologia de Mato Grosso do político-econômico Sul, 4º Encontro de Produtores brasileiro pós-eleições, Agroecológicos de Mato oferta e demanda no Grosso do Sul, 1º Seminário de mercado mundial, Sistemas Agroflorestais em Bases tendências de Agroecológicas de Mato Grosso consumo no Brasil e do Sul – De 19 a 21 – Auditório no exterior, programas da Universidade Federal da Grande de valorização da Dourados (BR-163, Km 235,6) – bebida, além de Dourados (MS) – Fone: (67) 3416palestras, workshops 9754 – E-mail: agropecuaria-oeste. e da tradicional eventos@embrapa.br feira de máquinas, equipamentos, 5ª CNDA/Conferência produtos e serviços. Nacional de Defesa Agropecuária – De 25 a 28 CentroSul – Florianópolis (SC) Site: www.vcnda-sc.com.br E-mail: contato@vcnda-sc.com.br 21 – Associação dos Funcionários da Universidade Estadual de Maringá Maringá (PR) – Fone: (44) 3011.5942 E-mail: inducao2014@gmail.com

19

25 26

7º Congresso Brasileiro de Tomate Industrial/ Feira de Produtos e Negócios – De 26 a 28 – Centro de Convenções – Goiânia (GO) Fone: (62) 3241-3939 –E-mail: tomate@ wineventos.com.br

26

Renex South America/ Feira Internacional de Energias Renováveis – De 26 a 28 – Centro de Eventos Fiergs – Porto Alegre (RS) – Fone: (41) 3027-6707 Site: www.renex-southamerica.com.br

DEZEMBRO

2

25ª Feira Nacional de Artesanato – De 2 a 7

Expominas – Belo Horizonte (MG) Fone: (31) 3282-8067 Site: feiranacionaldeartesanato.com.br

8

II RNCS/Reunião Nordestina de Ciência do Solo – De 8

a 12 – Campus da Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus (BA) Fone: (73) 3680-5254 – Site: www.rncs2014.org

8

24ª Jornada de Atualização em Agricultura de Precisão

De 8 a 12 – Departamento de Engenharia da Esalq/USP Piracicaba (SP) – Site: www.fealq. org.br – E-mail: cdt@fealq.org.br

JANEIRO

21

Showtec 2015/19ª Feira de Tecnologias Agropecuárias

– De 21 a 23 – Maracaju (MS) –

Fone: (67) 3454-2631 – E-mail: comunicacao@fundacaoms.org.br

28

– 17º Itaipu Rural Show – De 28 a 31 – Centro de Treinamento e Difusão de Tecnologias da Cooper Itaipu (BR 282, Km 580) – Pinhalzinho (SC) – Fone: 3366-6537 – Site: www. itaipururalshow.com.br

novembro 2014 – Agro DBO | 65


Legislação

Recuperação judicial para produtores rurais A Justiça reconhece os direitos dos agricultores, mas existe muita desinformação sobre o que pode ser feito em cada caso. Fábio Lamonica Pereira *

H

á muito debate e pouca informação sobre a possibilidade de recuperação judicial, tratada pela Lei nº 11.101/2005, por parte de produtores rurais. Trata-se de mecanismo legal posto à disposição do empresário para que seja viabilizada a reestruturação de sua atividade produtiva, observando o interesse dos credores, evitando-se a falência. Os benefícios para o empresário são a suspensão dos feitos

bem como o cumprimento do plano de recuperação, prestando contas ao juízo. Após apurada e judiciosa análise da situação do devedor, o que inclui dívidas vencidas e vincendas de acordo sua natureza (civil, fiscal ou trabalhista) e títulos representativos (com ou sem garantia constituída); patrimônio líquido e imobilizado (bem como sua liquidez), capacidade de pagamento presente e futura etc., sendo constada que a possibilidade e viabilidade de tentativa de

A recuperação judicial dá prazos e condições especiais para pagamento dos débitos

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

executivos (com exceção para os de natureza fiscal), a concessão de prazos e condições especiais para pagamento dos débitos, equalização de encargos financeiros atrelados aos débitos etc. O mecanismo legal, apesar de oferecer benefícios, tem alto custo, e é demorado e complexo, eis que depende da apresentação de um plano de recuperação por parte do devedor e da respectiva aprovação por parte da assembleia de credores. Também é necessária a nomeação, mediante remuneração fixada pelo juiz e a ser paga pelo devedor, de um administrador judicial que será responsável, dentre outras coisas, por fiscalizar as atividades do devedor

66 | Agro DBO – novembro 2014

Recuperação Judicial passa a ser interessante, resta a dúvida sobre a possibilidade de enquadramento por parte do produtor rural. A questão foi debatida por alguns tribunais sendo que, em princípio, houve diversas decisões entendendo pela possibilidade de enquadramento do produtor rural pessoa física ou jurídica no procedimento de recuperação judicial, especialmente pelo fato de que o atual Código Civil estende a condição de empresário aos produtores rurais, sendo desnecessária a inscrição formal no Registro Público de Empresas Mercantis, as Juntas Comerciais (Lei nº 8934/1994). Contudo, pela lei de recuperação judicial, é requisito que o

empresário exerça suas atividades há mais de dois anos e que (dentre outros) esteja regular e previamente inscrito na Junta Comercial. Poucos são os empresários rurais inscritos formalmente nos referidos órgãos, eis que há implicações legais a serem cumpridas, burocratizando e onerando ainda mais o exercício de sua atividade. De toda forma, recentemente o Superior Tribunal de Justiça – STJ analisou um caso típico em que havia a participação de produtores rurais pessoas físicas em pedido de recuperação judicial e entendeu pela necessidade de atendimento taxativo e formal ao que a lei determina. É bom frisar, não houve unanimidade no entendimento dos próprios ministros que julgaram o caso, mas como não se trata de questão Constitucional a palavra final é do próprio STJ. Logo, considerando o atual posicionamento do STJ (que pode sofrer alteração) e até que haja alteração legislativa a respeito, para os produtores que pretendem se precaver ante eventual necessidade de utilização do mecanismo de recuperação, é recomendável (após a mensuração dos custos e dos benefícios) a formal inscrição junto à competente Junta Comercial a fim de eliminar possíveis obstáculos judiciais.


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