Revista Agro DBO - Ed 55 - Maio/2014

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Sumário

30 Entrevista

Ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Conab, o Eng. Agrônomo Luís Carlos Guedes Pinto defende a obrigatoriedade do seguro agrícola.

36 Erosão

Pesquisadores da Embrapa propõem práticas adequadas de manejo e o uso do capim Vetiver para proteger o solo nas enxurradas

42 Safra

Polêmica sobre o cultivo de soja sobre soja na segunda safra e preços baixos do milho favorecem aumento do plantio de algodão

48 Aviação

Segmento aeroagrícola brasileiro começa a certificar empresas para elevar a eficácia das pulverizações e reduzir riscos de impacto ambiental

52 Milho 20

Matéria de capa A tecnologia dos drones, ou Vants – Veículos Aéreos Não Tripulados, desenvolvida com fins militares, passou a domínio publico e chegou, finalmente, ao campo. No Brasil, vêm se destacando como instrumento auxiliar em agricultura de precisão

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Agricultores do Rio Grande do Sul conseguem índices expressivos de produtividade nas lavouras ao implantar sistemas de irrigação

Artigos 9 – Rogério Arioli prega bom senso no debate sobre produção de alimentos 10 – Daniel Glat trata do aumento da resistência de insetos e ervas daninhas 40 – Amilcar Centeno relaciona alguns critérios para escolher um bom trator 51 – Décio Gazzoni relata experiências com multiplicação de abelhas rainhas 66 – Fábio Lamonica alerta os agricultores contra os perigos da usucapião

Seções Do leitor.............................................................. 6 Ponto de Vista.................................................10 Notícias da terra.............................................12 Opinião..............................................................26

Análise de mercado......................................58 Novidades no campo...................................60 Biblioteca da terra..........................................62 Calendário de eventos.................................64


INFORME TÉCNICO

Produtos ISOESTE têm forte presença no agronegócio.

Painéis e telhas ISOESTE trazem grandes benefícios também ao campo. A Isoeste é líder de mercado de construtivos isotérmicos e tem forte presença em segmentos farmoquímico e construção civil, oferecendo sempre as melhores soluções para o seu negócio. Seus produtos estão, cada vez mais, presentes na atividade do agronegócio. Este setor já utiliza em grande escala a Isotelha Agro Industrial e incorpora diversos produtos que garantem benefícios para todo o complexo produtivo. A Isoeste fornece materiais para construção de alojamentos para trabalhadores temporários e casas

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Do Leitor mento e Controle da Produção Agrícola, com o intuito de auxiliar os produtores rurais na gestão das propriedades. Flavio Duran Altimari Maringá NR: Obrigado pelo interesse, Flávio. Por gentileza, envie-nos o texto, será analisado pelo Conselho Editorial e informaremos a você se foi aprovado ou não. Há 4 pressupostos: 1 – tema novo/ antigo, mas com abordagem/enfoque inédito; 2 – texto exclusivo, ou seja, não publicado; 3 – de interesse de agricultores profissionais; e 4 – não remuneramos artigos de colaboradores eventuais. ACRE Coordeno no estado do Acre o programa de fortalecimento da cafeicultura a fruticultura junto a produtores da agricultura familiar. Desta forma, necessito de informação voltada à gestão de propriedades, diversificação de produção e novas tecnologias. Rômulo Brando Assis Ribeiro Rio Branco GOIÁS Excelente. Os exemplares, a cada edição, vêm com um tópico/matéria melhor que o outro. George de Paula Souza Jataí MARANHÃO Boa revista; os artigos são de ótima escrita e boa recomendação. Genilson de Souza Oliveira Codó PARANÁ Sou Engenheiro de Produção, e trabalho na Cocamar – Cooperativa Agroindustrial de Maringá. Faço um trabalho de gestão das nossas unidades (área de atuação, planejamento da produção, etc.), tenho sobre minha responsabilidade a área de geoprocessamento e sou responsável pela análise das informações de campo, para a elaboração do planejamento agrícola da cooperativa. Muito do trabalho que realizo pode ser aplicado pelo produtor rural na gestão de suas respectivas propriedades (análise de custos, estimativas de produção, rentabilidade das lavouras, planejamento de insumos, etc.) Gostaria de saber de vocês sobre a possibilidade de eu ter um espaço na revista para que, periodicamente, possa escrever um artigo sobre Planeja-

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PIAUÍ Informação técnica de qualidade, com estreita relação com as inovações aplicadas no campo. Recomendo a Agro DBO para profissionais, produtores, empresários e estudantes. Fernando Silva Araújo Parnaíba RIO GRANDE DO SUL Hoje estamos vivendo uma evolução tecnológica na agricultura e nós, técnicos e agricultores, devemos estar atualizados para realizarmos os manejos adequados para atingir os nossos objetivos e alcançarmos o máximo de produtividade com rentabilidade. A revista Agro DBO é uma ferramenta fantástica, que nos traz informações atualizadas sobre o que está acontecendo na agricultura. Antônio Gilmar de Almeida Coronel Bicaco Buenos dias. Soy ingeniero agrónomo de Argentina y me gusta mucho su publicación, la encuentro muy informada y provechosa: aprendo mucho de la realidad productiva del hermano pais brasilero. Cómo debo hacer para poder contar com vuestras publicaciones? Muy agredecido. Matias Paez Monte Cristo, Argentina NR: Obrigado pelos elogios, Matias. Vamos lhe enviar por e-mail as instruções para que você possa receber as nossas revistas – além da Agro DBO, editamos a DBO, publicação voltada à pecuária de corte, e Mundo do Leite, à pecuária leiteira.

Venho através deste parabenizá-los pelo belo trabalho que a revista vem realizando para a agricultura brasileira, mostrando todo o empenho do agricultor brasileiro para nos tornar os maiores produtores mundiais de grãos. Devemos muito a vocês, que vêm mostrando a cada exemplar da revista as últimas tecnologias para nossos agricultores poderem superar as dificuldades encontradas no dia-a-dia no campo. A revista trata de assuntos atuais e interessantes. Flavio Bernardi Sananduva SÃO PAULO É uma revista muito completa na área de agricultura. Ivâ Agulhão Paiva Maracaí Estou muito satisfeito com a qualidade do material que assino, rico em informações, contribuindo de forma mais positiva para o meu conhecimento sobre técnicas empregadas no campo. Gustavo Pinheiro Cavallari Buritizal Os assuntos técnicos tem profundidade e os temas são muito bem escolhidos. Gilberto Marques Soares Ribeirão Preto O rei está nú!. Cabe agora pegar documentos anteriores dos diversos órgãos (existem arquivos) e comparar com os pífios números apresentados. Por exemplo: as 1.723 toneladas de sementes produzidas seriam equivalentes a cerca de 86 mil sacas de sementes de milho, em tese suficientes para 86 mil ha., porém devemos considerar que em 2013, segundo o IEA, a área de milho em São Paulo era de cerca de 500 mil ha. e sendo assim esta produção não seria capaz de suprir nem 20% da demanda interna. Mas tem outros fatores a considerar como o fato de essas 1723 t. não se tratarem apenas de sementes de milho mas também de arroz, trigo, triticale, cevada, feijão, aveia, dentre outras, o que derruba ainda mais estes números. Outro fator é que o milho do DSMM é tão bom que é procurado por interessados de outros estados da federação, o que diminui ainda mais a oferta interna. O interessante é que a resposta fala que o nosso público quer milho transgênico e ao mesmo tempo coloca as sementes para agricultura orgânica como prio-


ridade. Com relação às mudas informo que a procura por nossas mudas é intensa e crescente por nossa tradicional boa qualidade, porém o que se observa são estoques baixíssimos nas unidades, produção em queda vertiginosa e iminente desabastecimento. Assim o produtor rural que buscava as mudas do DSMM para pomares e para recuperação de áreas degradadas em breve não poderá satisfazer suas necessidades. Basta conferir os estoques atuais das diversas unidades e compará-los com o de cerca de cinco anos atrás. Victor Branco de Araújo Tietê NR: O e-mail acima, enviado ao jornalista José Maria Tomazela, trata da reportagem intitulada “Institutos sucateados”, publicada na edição de março da Agro DBO, na qual o citado jornalista denuncia o descaso oficial em relação à várias instituições de pesquisa e extensão rural do estado de São Paulo. No caso, o leitor é pesquisador do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da Cati – Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Olá, meu nome é Lilian e sou assinante da Agro DBO. Gosto muito da revista, especialmente dos artigos do Dr. Fábio Lamonica Pereira. Por causa de um deles, publicado na edição nº 21, de julho/agosto de 2009 (NR: na época, a revista Agro DBO era denominada DBO Agrotecnologia), eu recebi restituição financeira do antigo Plano Collor. Antes de ler a revista, eu não sabia que tinha esse direito. Por este motivo, gostaria de comprar dois exemplares desta citada edição. Quero guardá-los de lembrança, pelo simples fato de que o artigo em questão mudou a minha vida. Gostaria de parabenizá-los pelo excelente trabalho. Lilian Ferreira da Silva Tarumã Lendo a Agro DBO de fevereiro/2014, encontrei diversos artigos e matérias interessantes. A começar pelo artigo sobre a bioadversidade (“Cidade e campo contra a bioadversidade”), que traz um arrazoado tratado de forma abrangente, mas que, se analisarmos com mais profundidade é, de forma genérica, uma ocorrência por falta de biodiversidade equilibrada. Biodiversidade não é sinônimo de bioadversidade; em geral é o oposto. Certamente, com o aumento de áreas naturais vai

haver presença de maior número de animais silvestres em ambiente antrópico, mas que, num balanço econômico, em geral traz menos problemas frente às vantagens da presença dos ambientes naturais. A reportagem intitulada “Troca de Lagartas” é um exemplo de desequilíbrio (destruição dos inimigos naturais e, certamente, também um estresse intenso sobre o metabolismo das plantas já debilitadas), em que se propõe reintroduzir as esquecidas praticas de manejo integrado de pragas, que prega o uso controlado de diferentes técnicas agrícolas complementares, aumentando a eficácia e lucratividade dos sistemas de produção. O próprio artigo sobre transformações de fósforo e a fração na biomassa microbiana do solo (“A produtividade está na profundidade”), em que a diversidade biológica do solo é determinante para a nutrição eficiente das plantas. Em artigos anteriores, citou-se casos de maior produtividade de cafeeiros próximos de matas naturais e a produtividade maior em campos agrícolas margeados por renques de cobertura arbórea diversificada. As diversidades agrícola e natural são altamente desejáveis para se ter lucratividade. Outro ponto de destaque é o de se preocupar com a fertilidade do solo em profundidade, em especial as condições que permitem ao desenvolvimento radicular abundante em profundidade. Deve ser facilitado o “acesso” das raízes a um maior volume de solo e em profundidade. Aumentar a fertilidade sem haver o desenvolvimento radicular adequado não resulta em vantagens. Esse texto vem reforçar outros anteriores que versavam com a irrigação branca (gessagem) e similares. Isso tem muito a ver com o sucesso dos que também aplicam a agricultura de precisão. Não se deve monitorar a fertilidade somente na camada superficial. Odo Primavesi São Paulo A Agro DBO é uma revista muito bem redigida, que traz informações precisas de como anda o agronegócio e as novas tecnologias disponíveis para melhorar a produtividade agrícola. Rodrigo Duarte De Bello Tanabi AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.

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Carta ao leitor

N

esta edição Agro DBO traz muitas novidades e análises sobre a agricultura brasileira. A matéria de capa registra a invasão aérea da nova tecnologia sobre as lavouras, os chamados drones, ou Vants (Veículos Aéreos Não Tripulados), em texto do jornalista Ariosto Mesquita. A julgar pelas promessas e declarações dos usuários, fabricantes e pesquisadores, daqui para a frente tudo será diferente no monitoramento de nossas lavouras. O jornalista Gustavo Paes registra os avanços e conquistas do milho na busca por aumentar a produtividade através da irrigação, e conquistar rentabilidade para o grão, como forma de compensar os preços ainda baixos. A jornalista Marianna Peres trata do fechamento da safra de verão 2013/14. Com novo recorde de produção em grãos, apesar da quebra no final do ciclo, mostra que o algodão conquistou espaços antes reservados ao milho. Nossos colunistas trazem opiniões abalizadas sobre diversos temas, como os cuidados que se deve ter com o plantio dos transgênicos, para não tropeçarmos num clima aterrorizante de resistências dos insetos e ervas daninhas, conforme artigo de Daniel Glat. Outro colunista, Amílcar Centeno, faz sugestões práticas sobre o próximo trator a ser adquirido para aumento da frota nas fazendas, e que deveriam pautar os leitores na hora de tomar decisões de compra. Na entrevista do mês, o ex-ministro da Agricultura Luís Carlos Guedes Pinto dá opiniões sobre o Seguro Agrícola praticado no Brasil, diferente do que se faz nos EUA, e apregoa a necessidade de se tornar obrigatório o seguro para quem toma créditos agrícolas, além de reivindicar a regulamentação do Fundo de Catástrofe para fazer decolar essa atividade no Brasil, ainda incipiente. Em sua edição número 55, a vigésima desde que se tornou mensal, Agro DBO sente-se honrada com a avaliação de seus leitores, cuja amostra das opiniões aparece regularmente na seção Do Leitor. Além do acompanhamento do cenário agrícola nacional mês a mês, temos nos empenhado em oferecer conteúdo igualmente relevante sobre novas tecnologias para o campo e reflexões importantes de quem vive o dia a dia do setor. Por tudo isso, a Agro DBO agradece aos leitores que antes recebiam a publicação gratuitamente e hoje nos prestigiam com sua assinatura, ao mesmo tempo em que convida os que não aderiram para que efetuem sua assinatura, evitando assim a interrupção da remessa. Para assinar, basta ligar 0800 11 0618, no horário comercial. Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Aluísio Granato de Andrade, Amilcar Centeno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Gustavo Paes, Marianna Peres, Maurício Lima Muruci, Rogério Arioli Silva e Tiago de Andrade Chavez. Arte Editor Edgar Pera Editoração Edson Alves e Célia Rosa Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: foto de Ariosto Mesquita DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Artigo

Democratizemos os alimentos Produzir mais comida, com redução de preços e melhoria da renda dos produtores, é um dos maiores desafios do século XXI. Rogério Arioli Silva *

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eriodicamente ressurge a polêmica do consumo exacerbado de alimentos por parte da população, principalmente a europeia que, graças à sua robusta renda per capita, possui condições para essa prática. Ambientalistas alemães recentemente alertaram para os efeitos do aumento no consumo de carnes e suas consequências negativas tanto socioeconômicas como ambientais. Números divulgados demonstram que a produção mundial de carnes precisará aumentar de 300 para 470 milhões de t até 2050.

mundial situava-se em US$ 2,700 e no ano de 2013 atingiu US$ 12,500. Nesse período, o consumo de carne per capita mundial saltou de 30,6 kg para 43,1 kg, ou seja, 41% a mais. A questão reside na distribuição deste consumo pelo mundo. Enquanto os países europeus consomem 80 kg/habitante/ano, a média do consumo asiático situa-se abaixo de 10 kg e do africano em torno de 18 kg. Alguns países da África Subsaariana mostram números ainda mais desconcertantes, entre eles Nigéria, Moçambique e Etiópia, em torno de 8 kg.

No tempo gasto para ler este artigo, cinquenta crianças morreram de desnutrição no planeta.

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

É sabido que o consumo de carne anda estagnado nos EUA e na Europa, e é crescente nos países em desenvolvimento, uma vez que se encontra diretamente ligado ao aumento do poder aquisitivo destes e da recessão econômica daqueles. Também é corriqueiro que novas recomendações de “alimentação saudável” preconizem o aumento do consumo de vegetais e grãos em detrimento das carnes, como forma de minimizar os danos à saúde que seriam incrementados pela ingestão excessiva de proteínas animais. Embora controversos, alguns dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) vinculam o aumento da probabilidade de doenças cardíacas ao consumo de carnes e derivados. As estatísticas confirmam que quando a população melhora sua renda passa a consumir mais carnes: em 1980 a renda per capita

No tempo gasto para ler este artigo (cerca de dez minutos) cinquenta crianças morreram de desnutrição no planeta. Já foi amplamente divulgado que cerca de 840 milhões de pessoas passam fome no mundo, enquanto que em alguns países ricos a obesidade também segue matando milhares de pessoas. Como resolver essa equação, tão mórbida quanto desafiadora? Certamente não será criando restrições à produção nos países competitivos, como o Brasil, nem tampouco alardeando abordagens ridículas, como aquela que deseja imputar às eructações e flatulências bovinas a responsabilidade pelos gases de efeito estufa. Aumentar a produção de carne em 170 milhões de t será necessário para atender a demanda dessas populações que têm direito a uma alimentação adequada. Todavia,

diferentemente do que é apregoada, essa produção de carnes não acontecerá ocupando o espaço da produção de alimentos. No Brasil acontece justamente o contrário: a produção de grãos aumenta usando áreas destinadas tradicionalmente à pecuária, onde as pastagens se encontram em diferentes níveis de degradação. Os bovinos que perdem espaço para a agricultura são produzidos de maneira intensiva, através da suplementação alimentar e dos confinamentos. Indubitavelmente, teremos uma carne mais cara no futuro. A falta de remuneração da pecuária de corte contribuiu sobremaneira para o atual nível de degradação dessas pastagens. De outro lado, para os famélicos, a produção de alimentos precisa aumentar e tornar-se acessível, a despeito de sua renda miserável. Cabe aos países ricos atuarem de maneira responsável, assumindo os erros do passado, como a própria colonização africana, por exemplo, e ajudarem aqueles países a melhorar sua renda. Criticar a expansão do agro tornou-se rotina entre aqueles que desconhecem a realidade de custos do campo. A produção orgânica, apesar de importante, não consegue abastecer o mercado, além de possuir custos mais elevados, sendo inacessível às populações de menor renda. Demonizar o aumento da produção de carne em larga escala é, portanto, contraproducente. O recomendável seria permitir que as pessoas tivessem condições de consumir, de maneira responsável, sem perder de vista a remuneração justa do produtor rural. maio 2014 – Agro DBO | 9


Ponto de vista

OGMs: como proteger melhor As resistências que estão surgindo, tanto de insetos como de ervas daninhas, indicam que precisamos reavaliar o manejo. Daniel Glat *

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* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

m 2013 foram plantados globalmente 170 milhões de hectares com sementes transgênicas (OGMs), em 27 países, por aproximadamente 16 milhões de produtores, de acordo com o ISAAA (International Service for the Acquisition of Agri-Biotech Applications – www.isaaa.org). O Brasil, com cerca de 40 milhões de ha é o segundo maior plantador, atrás apenas do EUA. Obviamente que essa adoção mundial deve-se aos inegáveis benefícios de controlar ervas daninhas com glifosato, e controlar lagartas e larvas da diabrótica geneticamente, em vez de usar inseticidas. Porém, verdade seja dita, abraçamos rápida e intensamente a soja RR e o milho Bt, sem dar a devida atenção ao tema da resistência. Acredito que a responsabilidade sobre as práticas de manejo que prolonguem a durabilidade dos eventos biotecnológicos seja de todos, comunidade científica, agrônomos, produtores e

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suas associações, e não apenas das empresas detentoras da tecnologia. Na soja RR, nunca fizemos absolutamente nada para conter o aparecimento de ervas resistentes ao glifosato, nem nos EUA e nem no Brasil. Aqui, ainda tivemos o disparate técnico de querer recomendar e plantar milho RR na safrinha em cima de soja RR. Abusamos do glifosato e da tecnologia. Apesar de se tratar, por vários aspectos, da melhor molécula química já desenvolvida para agricultura, o glifosato também tem limites; a Buva e o Capim Amargoso resistentes já estão aí se espalhando Brasil adentro, milho RR voluntário na soja já é uma realidade em várias regiões, e nos EUA um tipo de Amaranthus (Caruru) resistente a glifosato avança rápido pelo meio oeste americano. Em todos esses casos, a grande vantagem prática e econômica da soja RR, que era poder controlar ervas daninhas com um produto só, de baixo custo, pode se perder. Na tecnologia Bt, notadamente no milho, apostamos todas as fichas no refúgio como forma de prevenir o aparecimento de resistência; a ideia do refúgio é que se plante uma parte da área com milho não Bt para, no caso do surgimento de lagarta resistente, a mariposa cruze com outra mariposa suscetível oriunda do milho não Bt, e assim os descendentes sejam suscetíveis. Para esse fato ser verdade, é obrigatório que o gene da resistência seja recessivo, ou seja, é preciso estar presente no pai e na mãe para haver resistência nos descendentes. Apesar de ser um conceito elegante cientificamente, a eficácia do refúgio nunca foi comprovada em

nível de campo; até porque, não esperamos os anos necessários para observar e avaliar sua real funcionalidade nas lavouras. Nos EUA, houve bastante discussão sobre a percentagem da área de refúgio a ser utilizada; enquanto as empresas de biotecnologia queriam, por razões óbvias, que fosse o menor possível, entomologistas insistiam que a área de refúgio deveria ser mais significativa. Em 2002 um painel de conselheiros científicos sugeriu ao EPA (Agência de Proteção Ambiental americana) que se adotasse 50% de refúgio, como forma de evitar aparecimento da resistência, mas a EPA acabou deixando as percentagens de 5% a 20% dependendo da região e do número de genes. Hoje, apesar da lagarta militar (European corn borer) ainda se manter suscetível, a larva da diabrótica já apresenta resistência ao milho Bt em várias regiões dos EUA. O entomologista Aaron Gassmann, professor da universidade de Iowa tem conduzido inúmeros estudos sobre resistência nesse inseto e afirmou recentemente que “é preciso haver uma mudança significativa na forma que usamos essa tecnologia, ou a situação só vai piorar.” (Proceedings of National Academy of Sciences, March 07, 2014). Na África do Sul, de 5 a 6 anos após introdução da tecnologia Bt, observou-se a população de Buciiola fusca, tipo de lagarta local, crescendo agressivamente em determinado milho Bt; quando cruzaram essas lagartas com lagartas suscetíveis obtidas em Zâmbia (onde não havia milho Bt) a prole foi toda


resistente, indicando que aquela resistência era oriunda de um gene dominante (Institut de Recherche pour le Développement – IRD. “African caterpillars resistant to GM maize”. ScienceDaily – 19 September 2013); nesse caso, o refúgio nunca teve chance de funcionar. Aqui no Brasil, aprovamos, com atraso de vários anos, o que estava aprovado nos EUA e na Argentina; a CTNBio autorizou plantio de milho Bt com 10% de refúgio, recomendado, mas não obrigatório. O desenlace todo mundo sabe: a tecnologia foi adotada rapidamente, e o impacto na produtividade foi imediato; porém, com os anos, a lagarta do cartucho veio criando resistência aos diferentes genes Bt, de acordo com a data de introdução da tecnologia e extensão de uso dos híbridos com aquela tecnologia; e não podemos afirmar que o apare-

cimento da resistência se deve aos produtores que não fizeram o refúgio; mesmo em áreas isoladas, onde o refúgio foi feito continuamente, a resistência apareceu no quarto ou quinto ano de uso da tecnologia. Na verdade, o desenvolvimento da resistência era tão previsível, apesar do conceito do refúgio, que uma empresa da Califórnia, a American Vanguard, comprou diversas empresas de inseticidas na última década; em 2012 suas vendas cresceram 50% e em 2013 mais 42% graças a aumento de vendas de inseticidas para milho nos EUA devido à resistência da larva da diabrótica ao milho Bt. Em minha opinião, esquecemos com os transgênicos a lição que há muito tínhamos aprendido com os agroquímicos: é preciso fazer rotação de princípios ativos para não permitir o surgimento da resistên-

cia por uso continuo de um mesmo princípio ativo! Usar em 90% da área de soja o mesmo herbicida por mais de 10 anos consecutivos, ou plantar milho Bt no verão e na safrinha, num país onde a lagarta faz umas 10 gerações por ano, era receita infalível para a criação de resistência. Acho que ainda podemos evitar que se crie resistência à soja Intacta que se está introduzindo agora no mercado, ou a alguns eventos Bt ainda funcionais no milho, como o Viptera, Power Core ou VTPROMax; mas é preciso repensar e rediscutir as técnicas de manejo da resistência, como já começou a ser feito nas universidades americanas e na Bahia; e, principalmente, precisamos ouvir mais os nossos entomologistas, em vez de insistirmos em trazer soluções importadas que não se adaptam nem foram desenvolvidas para o nosso ambiente tropical.

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Notícias da Terra Safra I

Colheita de 190,6 milhões de toneladas

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e acordo com o 7º levantamento da Conab, divulgado no mês passado, o Brasil vai colher 190,6 milhões de toneladas na safra 2013/14 de grãos, 1,1% acima do obtido na temporada passada (188,7 milhões). Em relação à estimativa anterior, tal número indica colheita de 1,9 milhão t a mais, graças à recuperação das lavouras de soja e do milho segunda safra, menos afetadas pelo clima hostil do que as lavouras de verão. Os destaques do 7ª levantamento, em termos percentuais, foram

o feijão, com produção esperada de 3,5 milhões de toneladas, 25,1% superior a do ciclo anterior; e o trigo, com 6,7 milhões e 21,5%, respectivamente. A produção de soja deve alcançar 86,1 milhões de toneladas, 5,6% a mais do que em 2013 e a de arroz, 12,6 milhões t (+ 6,7%). Quanto ao milho, a safra estimada é de 75,5 milhões, 7,4% abaixo do colhido no ano passado (81,5 milhões). A área destinada ao plantio de grãos deve chegar a 56,4 milhões de hectares em 2014, 5,3% maior em relação à 2013.

Safra III

Distribuição regionalizada

N

a divisão por regiões, a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, conforme o IBGE: Centro-Oeste, 77,4 milhões de toneladas; Sul, 72,2; Sudeste, 16,9; Nordeste, 18; e Norte, 5. Comparativamente à safra passada, os pesquisadores do instituto projetam incremento de 50,2% no Nordes-

te e redução de 1,3%, 1,1% e 14,7% no Centro-Oeste, Sul e Sudeste, respectivamente. A produção no Norte manteve-se estável. Mato Grosso mantém a liderança no ranking nacional, com 23,9% de participação, seguido pelo Paraná, com 18,6%, e Rio Grande do Sul, com 16,1%. Somados, os três estados representam 58,6% do total nacional previsto.

Safra II

IBGE sai com número menor

A

terceira estimativa do IBGE sobre a safra nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, divulgada no mês passado, aponta produção de 189,4 milhões de toneladas, 0,7% superior à da safra passada (188,2 milhões) e 0,5% inferior ao previsto no segundo levantamento (190,3 milhões), anunciado em março. A soja, o arroz e o milho são os três principais produtos deste grupo. Juntos, respondem por 91,4% da estimativa da produção e 85,3% da área plantada. Em relação à safra 2012/13, o IBGE prevê colheita 6,2% maior de soja e 7,7% de arroz. Em relação ao milho, a produção será 8,5% menor. No que diz respeito ao tamanho das lavouras, a de soja crescerá 7,5% e a de arroz, 1,8%; a de milho será reduzida em 0,9%. A área total em 2014 deve chegar a 55,6 milhões de hectares, 5,3% maior que a do ano passado (52,8 milhões) e 1% maior do que a estimada em março (55,1 milhões).

Safra IV

Produtos em ascensão e queda

E

ntre os 26 principais produtos pesquisados pelo IBGE, 15 apresentaram incremento de produção, em relação ao ano anterior: mamona (372,3%), feijão 1ª safra (56,6%), algodão (23,5%), trigo (17,3%), café conilon (13%), cebola (12,9%), arroz (7,7%), batata-inglesa 1ª safra (7,7%), mandioca (6,9%), soja (6,2%), sorgo (2%), feijão 2ª safra (1,8%), batata-inglesa 3ª safra (0,8%), batata-inglesa 2ª safra (0,5%) e laranja (0,2%). A cana-de-açúcar não saiu do lugar (0,0%). Com variação negativa foram 10 produtos: amendoim 1ª safra (-17,6%), triticale (-14,2%), amendoim 2ª safra (-10,7%), milho 2ª safra (-9,1%), cevada (-8,4%), café arábica (-8,1%), milho 1ª safra (-7,8%), feijão 3ª safra (-2,8%), cacau (-2,1%) e aveia (-1,3%).

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Notícias da Terra Safra V

USDA reduz safra brasileira de soja

O

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês) reduziu sua projeção para a safra brasileira de soja e elevou a do milho. Em seu relatório de oferta e demanda, divulgado no mês passado, previu 87,5 milhões de toneladas de soja no ciclo 2013/14, contra 88,5 milhões no relatório de março. Quanto ao milho, as estimativas indicam 72 milhões de toneladas, dois milhões a mais em relação ao anunciado anteriormente. As projeções para a safra argentina de soja e milho foram mantidas em 54 milhões e 24 milhões de toneladas, respectivamente.

Safra VI

Mais oleaginosas, menos cereais

E

m relação às intenções de plantio em casa, o relatório do USDA confirmou as expectativas do mercado, com poucas diferenças nos percentuais projetados. Os agricultores norte-americanos vão plantar neste ano de 2014 a menor área de milho desde 2010 e reduzir a semeadura de outros cereais, priorizando o cultivo de oleaginosas. O plantio de soja foi estimado em um recorde de 33 milhões

de hectares, alta de 6%, sugerindo colheita acima de 97 milhões de toneladas. O de canola e amendoim deverão subir 29% e o de girassol, 1%. Por outro lado, o plantio de milho deverá cair 4% e ficar em 37,1 milhões de hectares, um milhão abaixo da média estimada pelo mercado. Ainda assim, a safra norte-americana deverá ultrapassar 350 milhões de toneladas, cinco vezes maior que a do Brasil.

Safra VII

Trigo pode bater recorde

A

o contrário do que aconteceu com parte das culturas de verão no Sul do Brasil, o clima ajudou os triticultores, especialmente no Paraná, onde choveu na virada de março para abril, quando se inicia o plantio, e em volume adequado. “Podemos ter safra recorde se o clima continuar normal”, afirmou Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Ocepar – Organização das Cooperativas do Paraná, estado responsável, juntamente com o Rio Grande do Sul, por 90% da produção nacional. Se tudo correr bem (se as geadas não quebrarem a safra, como ocorreu no ano passado), o Brasil pode colher quase 7 milhões de toneladas, ainda longe da autossuficiência (11 milhões t). A maior safra já colhida no país foi a da 1987/88, de 6,12 milhões t. Segundo projeções, a área plantada com trigo deve crescer 23% este ano no Paraná, e 10% no Rio Grande do Sul graças aos bons preços em fevereiro (época de definição de plantio), comparativamente ao do milho, cultura concorrente no sul do país.

Cotonicultura

Mais algodão

D

e acordo com a Conab, a produção nacional de algodão deve chegar a 1,64 milhão de toneladas na safra 2013/14. Ou seja, 333 mil toneladas a mais. O levantamento registra crescimento de 22% da área destinada à pluma no Brasil. Ao todo, 1,09 milhão de hectares foram reservados para os algodoais, com incremento de 197,8 mil hectares em relação à safra anterior. Em 2012/13, a área total destinada à cultura foi de 894,3 mil. Em Mato Grosso, maior produtor do país, muitos agricultores optaram por plantar soja sobre soja, contra todas as recomendações agronômicas, ou algodão no lugar do milho segunda safra. A Bahia também plantou mais, mas, diferentemente do que aconteceu em outros estados, as perdas decorrentes da estiagem serão pequenas, segundo estimativas da Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia. No auge da seca, as plantas estavam no início do ciclo vegetativo. Além disso, o algodão é mais tolerante a deficits hídricos, comparativamente à soja (OBS: leia reportagem sobre a safra na página 42). maio 2014 – Agro DBO | 13


Notícias da Terra VBP I

Maior valor da história

C

onforme projeções da AGE/Mapa – Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o VBP – Valor Bruto da Produção da agropecuária brasileira deve atingir R$ 445,75 bilhões em 2014. O VBP das lavouras crescerá 3,2% em relação a 2013, alcançando R$ 293,43 bilhões, e o da pecuária, R$ 152,32 bilhões. Entre as regiões, o Centro-Oeste responderá pelo maior VBP do país, com R$ 110,7 bilhões, seguido pelo Sul, com R$ 108,7 bilhões, e Sudeste, com R$ 107,3 bilhões. Entre os estados, a liderança deverá continuar com São Paulo (R$ 57,4 bilhões), seguido por Mato Grosso (R4 56,2 bilhões). Depois, pela ordem, vêm Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás. Os cinco estados respondem por 62,4% de toda a riqueza produzida nos campos brasileiros. A projeção é feita mensalmente, com base nos levantamentos da safra da Conab e do IBGE, na pesquisa trimestral do IBGE sobre abate de animais do e nos estudos dos preços médios pagos aos produtores realizados por institutos de pesquisa de mercado.

VBP II

Mato Grosso busca a ponta

M

aior produtor de grãos e fibras do Brasil, Mato Grosso pode tornar-se em 2014 o estado de maior renda agrícola do Brasil, superando São Paulo. As projeções indicam receita de R$ 44,7 bilhões, que, se confirmada, representará acréscimo de 6,2% sobre o faturamento de 2013. São Paulo deve obter 43,6 bilhões, abaixo, portanto, dos R$ 45,2 bilhões gerados no ano passado. Segundo especialistas, a evolução na renda agrícola mato-grossense deve-se, sobretudo, aos ganhos com soja e algodão, as principais culturas do estado, cujo VBP é formado basicamente pelas receitas com soja, algodão, milho, arroz e cana-de-açúcar. O milho, estrela da safra passada, quando chegou a ultrapassar o algodão em renda (houve quem apostasse que suplantaria inclusive a soja, tanto em volume quanto em receita), voltou a ceder a vice-liderança à fibra e despencou para a terceira posição no pódio.

14 | Agro DBO – maio 2014

Protecionismo

Subsídios disfarçados

O

estudo Política Agrícola dos Estados Unidos e da União Europeia: Impacto no Agronegócio Brasileiro, encomendado pela CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil à consultoria Agroícone, mostra que a Farm Bill 2014 – a lei agrícola norte-americana, sancionada no início do ano pelo presidente Barack Obama –, modificou alguns programas de subsídios aos produtores rurais daquele país, mas, na essência, manteve a política protecionista, incluindo uma versão do programa de pagamentos diretos aos cotonicultores considerado ilegal em 2009 pela Organização Mundial do Comércio, em ação movida pelo Brasil. A Farm Bill 2014 prevê um período de transição até a implementação do novo mecanismo de ajuda aos produtores, um sistema de seguro conhecido pela sigla Stax (Stacked Income Protection Program), com o qual os EUA esperam encerrar a disputa legal com o Brasil, e representará US$ 558 milhões em subsídios no biênio 2014/15. Segundo André Nassar, diretor da Agroicone, no caso da fibra, os produtores norte-americanos têm apenas 20% de diferença entre o custo variável e a receita. “O seguro implementado como Stax cobre tudo. É 90% da renda e 80% de subsídio do prêmio. Não há perda”, afirma Nassar Os senadores brasileiros marcaram para o dia 8 deste mês de maio uma audiência pública para debater a situação do contencioso do algodão entre EUA e Brasil. O montante anual da retaliação estabelecida pelos árbitros da OMC em favor do Brasil totalizan US$ 829,3 milhões. Os cotonicultores brasileiros aguardam ansiosamente o desfecho (OBS: Leia a entrevista com o ex-ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, na página 30).


Notícias da Terra Café II

Cenário preocupante

O

Café I

Safras comprometidas pela estiagem

E

studo da Fundação Procafé, sediada em Varginha (MG), mostra que a safra 2014/15, com produção estimada entre 40,1 e 43,3 milhões de sacas de 60 quilos, será a menor dos últimos cinco anos – em 2009, o país colheu 39,5 milhões de sacas. Na safra 2013/14, foram 49,2 milhões. A queda deve-se, sobretudo, aos efeitos da seca prolongada e das altas temperaturas registradas no Centro-Sul do Brasil no início deste ano. Conforme pesquisadores da entidade, as perdas foram mais acentuados nos cafezais com menor nível tecnológico, nos quais o produtor utilizou poucos insumos, principalmente fertilizantes, devido aos preços aviltados do mercado antes da estiagem. A safra do ano que vem (2015/16) também será comprometida pela seca deste ano, segundo o estudo

utro estudo sobre os efeitos da estiagem – desta vez, do professor Alemar Braga Rena, especialista em fisiologia e nutrição de plantas, cafeicultor na Zona da Mata mineira e engenheiro agrônomo formado pela Universidade Federal de Viçosa (MG) – indica perdas de 15% a 50% da produção de café arábica na safra em curso. No documento intitulado Seca e Alta Temperatura nos Cafezais Brasileiros: Um Estudo de Caso e sua Amplitude Nacional, o professor considerada este período como “a segunda maior anomalia climática na produção cafeeira brasileira”, sendo superado apenas pela “geada negra” de 1975. O levantamento define quatro cenários. No primeiro, tendo como base lavouras situadas em altitudes elevadas, com solos férteis e ricos em matéria orgânica, as perdas deverão ficar em 15%. Nessas mesmas condições, mas onde a estiagem não foi tão prolongada nem tão agressiva,, entre 20% e 30%. Já em regiões de baixa altitude, com poucas chuvas e solos arenosos, as perdas vão variar de 30% a 50%. Nas lavouras jovens, com quatro anos ou menos, poderão ultrapassar 50%, dependendo dos índices pluviométricos e do teor de matéria orgânica no solo.

Café III

Não ao desabastecimento

A

Abic – Associação Brasileira das Indústrias de Café garante o cafezinho nosso de cada dia. A entidade descartou problemas de oferta, assegurando que a safra 2014 e os estoques existentes no país serão suficientes para abastecer o mercado interno e cumprir os contratos de exportação, mesmo com possível quebra na produção em função do clima quente e seco. A Abic também contestou as estimativas de queda generalizada na qualidade do café, induzida pela estiagem. “Pode haver problemas de qualidade, mas pontuais”, disse o diretor-executivo da entidade, Nathan Herszkowicz, admitindo, contudo, que a extensão dos estragos só poderá ser definida nos próximos meses. A safra nacional, recém-iniciada, deve ficar em 47 milhões de sacas de 60 kg, com perdas de 14% ante o potencial inicial calculado pelo Cecafé – Conselho Nacional do Café. maio 2014 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra OGMs I

Soja transgênica ocupa 91,8% das lavouras

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evantamento da Céleres Consultoria, divulgado no mês passado, mostra que 91,8% das áreas de soja do Brasil na temporada 2013/14 foram cultivadas com sementes geneticamente modificadas, ou seja, 27,4 milhões dos 29,9 milhões de hectares plantados. No comparativo com a safra 2012/13, a lavoura de soja GM cresceu 11%. “Ao longo dos últimos anos, a evolução da curva de adoção da transgenia no Brasil tem se estabilizado devido à alta taxa de adoção de biotecnologia nas culturas de soja e milho inverno. A tecnologia convencional não é mais o padrão utilizado pelo agricultor brasileiro, exceto para a cultura do algodão, onde ainda é atrativa”, anunciou a consultoria, em nota distribuída à imprensa“. Conforme analistas da Céleres, a tecnologia convencional se tornará um nicho de mercado, com alto valor agregado, como é o caso da soja GMO-free demandada por países europeus e asiáticos como França, Alemanha, Japão e Coreia do Sul”. O milho GM ocupa 81.5% da área plantada no Brasil e o algodão, 65%.

OGMs II

Laranja modificada em fase de testes

D Legislação

Licenciamento de máquinas agrícolas

A

Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou projeto de lei da Câmara Federal desobrigando o registro e licenciamento anual de tratores, colheitadeiras e outras máquinas agrícolas nos departamentos estaduais de trânsito. O texto foi encaminhado à sanção presidencial e se tornará lei, caso não haja veto. O licenciamento se tornou obrigatório em 1997, com a aprovação do novo Código de Trânsito Brasileiro, para desalento e, em muitos casos, revolta dos produtores rurais, já agastados com inúmeras exigências legais. Lideranças do agronegócio calculam que as despesas com licenciamento, emplacamento, seguro obrigatório e itens de segurança como cinto e extintores representam 3% do valor de cada máquina, em média, onerando ainda mais a produção agrícola.

Agroquímicos

As seis maiores de 2013 Segundo a revista AGROW (EUA), o ranking mundial está assim:

1. Syngenta = US$ 10,92 bilhões 2. Bayer = US$ 10,42 bilhões 3. Basf = US$ 6,94 bilhões 16 | Agro DBO – maio 2014

4. Dow = US$ 5,54 bilhões 5. Monsanto = US$ 4,52 bilhões 6. Du Pont = US$ 3,55 bilhões

e acordo com o Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Biotecnológicas (ISAAA, na sigla em inglês), o Brasil dispõe de 40,3 milhões de hectares de cultivos transgênicos, ficando atrás em área somente dos Estados Unidos. Se os testes com laranja geneticamente modificadas vingarem, os brasileiros poderão ultrapassar os norte-americanos. Afinal, somos o maior produtor mundial de laranja. Considerando o último levantamento da Conab, a safra 2013/14 no chamado citrus belt (inclui as regiões produtoras de São Paulo e do triângulo mineiro, responsáveis por 90% da produção nacional), rendeu 13,8 milhões de toneladas. A primeira plantação de laranjeiras transgênicas ao ar livre, trazidas da Espanha pelo Fundecitrus – Fundo de Defesa da Citricultura, está sendo cultivada no município paulista de Ibaté. A expectativa da entidade – de todos os produtores do país – é de que sejam resistentes ao cancro cítrico e à pinta preta, duas das principais pragas da cultura. Embora possam produzir em dois anos e meio, serão necessários mais de sete para medir a produtividade e avaliar a resistência às doenças.


Notícias da Terra Fitossanidade I

Fitossanidade II

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A

Nova ameaça às bananas Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) emitiu alerta contra a TR 4, nova versão do fungo que dizimou plantações de bananas no mundo inteiro na primeira metade do século 20. A nova subespécie do agente patogênico causador do mal-do-panamá, presente em alguns países da Ásia e da África, pode chegar ao Brasil. Segundo especialistas, é mais agressiva do que as outras raças do fungo: ataca mais de 50 variedades de bananas, entre as quais a nanica, a nanicão, a prata e a maçã. “O fungo pode entrar no Brasil por diferentes vias, como solo contaminado em sapatos, ferramentas, mudas de bananeira aparentemente sadias, mas infectadas, e outras plantas transformadas em hospedeiras”, diz o pesquisador Miguel Angel Rodriguez, da Embrapa.

Fitossanidade III

Alerta contra a mosca da carambola

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ortaria publicada no Diário Oficial da União em 17/4 estabelece zona tampão em algumas cidades do estado do Pará para evitar a disseminação da mosca da carambola (Bactrocera carambolae), detectada nos municípios de Curralinho e Almeirim. A praga ataca também outras frutas, como manga, goiaba, tangerina, laranja, jaca, abiu, tomate, caju, etc. A mosca fêmea cruza com o macho e bota seus ovos dentro dos frutos. Dos ovos nascem as larvas, que se alimentam da polpa, estragando os frutos. Após a queda do alimento, a larva se enterra no chão, transforma-se em mosca e então sai voando atrás de mais frutas. A praga traz enormes prejuízos aos produtores – os países compradores não aceitam frutas de regiões com mosca da carambola.

E também aos bananicultores... Instrução Normativa n° 3 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa libera a importação de bananas do Equador, onde a atividade é subsidiada por empresas multinacionais. O Brasil é o quarto maior produtor do mundo, com 550 mil hectares de área plantada e mais de 500 mil bananicultores, a maioria pequenos agricultores. “A importação vai, comprovadamente, trazer pragas para o Brasil. Os bananicultores tem um relatório técnico que apontou a presença de insetos, fungos e bactérias, todas pragas quarentenárias, nas bananas do Equador. Não podemos admitir que entrem no nosso país”, declarou o deputado Valdir Colatto, um dos que intermediaram a entrega de um documento ao Ministro da Agricultura, Neri Geller, pedindo a revogação imediata da Instrução Normativa.

Fitossanidade IV

Paraguai proíbe benzoato

O

Serviço Nacional de Qualidade e Sanidade Vegetal e de Sementes do Paraguai proibiu o registro, importação, síntese, formulação, comercialização e aplicação de produtos ou misturas que contenham benzoato de emamectina, alegando falta de estudos conclusivos sobre os riscos à saúde humana, animal e vegetal. Produtos com a substância devem ser direcionados a depósitos, centros de recolhimento de agroquímicos, revendas e outros locais sob responsabilidade do proprietário. Especialistas acreditam que, com a proibição, o contrabando de benzoato para o Brasil pode aumentar bastante. maio 2014 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra Pesquisa I

A

Embrapa e a empresa Total Tecnologia vêm desenvolvendo a tecnologia da coinoculação, capaz, segundo a pesquisadora Mariangela Hungria, da Embrapa Soja, de aumentar significativamente o rendimento na soja e no feijão – as espécies testadas. A tecnologia consiste, basicamente, na inoculação de sementes com bactérias Bradyrhizobium para a soja e Rhizobium para o feijão, simultaneamente com Azospirillum, bactéria mais usada como promotora de crescimento em gramíneas. “É a primeira vez em mais de 50 anos que se recomenda um novo tipo de bactéria para as culturas da soja e do feijão, que não sejam rizóbios”, diz Mariangela. Segundo a pesquisadora, a inoculação das sementes com rizóbios dispensa a adubação nitroge-

nada na cultura da soja e, total ou parcialmente, também no feijoeiro. “É uma prática que deve ser feita anualmente, para garantir a maximização dos benefícios. Os estudos confirmaram que a reinoculação anual da soja proporciona incremento médio de 8,4% no rendimento, em relação às áreas não inoculadas anualmente. “A surpresa veio do resultado da nova tecnologia: os ensaios de campo com a coinoculação mostraram aumento médio de 16,1% no rendimento da soja, em relação às áreas não inoculadas. No caso do feijoeiro, a reinoculação anual proporcionou aumento de 8,3% e a coinoculação com Azospirillum, de 14,7%., em relação às áreas não inoculadas. A Total Biotecnologia já registrou o primeiro produto com a nova tecnologia, o Azototal Max.

Pesquisa II

Concentrados zeolíticos

O

Instituto Nacional da Propriedade Industrial deferiu pedido de patente de nova tecnologia de produção de fertilizantes de liberação lenta, à base de concentrados zeolíticos (grupo de minerais com estruturas porosas). O requerimento foi feito em conjunto pelo Centro de Tecnologia Mineral, Serviço Geológico do Brasil, Universidade Federal do Rio de Janeiro e Embrapa. Os pesquisadores cotejaram resultados obtidos com a utilização de material comum incorporado com ureia (amônia) e com o novo composto. “Descobrimosu que o concentrado zeolítico podia reduzir em 80% a perda de nutrientes na volatização, por causa da liberação lenta”, explicou a pesquisaora Marisa Monte, do Cetem. O composto mineral foi testado com sucesso em mudas de plantas cítricas, tomate, alface e arroz.

18 | Agro DBO – maio 2014

Marianna Rabelatto/Fundação Pró-Sementes

Coinoculação de soja e feijão

Pesquisa III

Aveia preta como cobertura

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trabalho Decomposição de palhada de aveia preta como subsídio para seleção de materiais para cobertura de solo em plantio direto venceu o concurso da Comissão Brasileira de Pesquisa de Aveia, reunida em Castro (PR). O objetivo principal do trabalho, parte de tese de doutorado da pesquisadora Sílvia Ortiz Chini, é selecionar caracteres fitoquímicos, bromatológicos, anatômicos e físicos de germoplasma de aveia preta para subsidiar o melhoramento genético da espécie para aptidão forrageira e/ou produção de palhada para o sistema de plantio direto. O material genético avaliado é oriundo de uma parceria entre a Agroalpha e a Fundação Pró-Sementes. De acordo com a coordenadora da unidade de cultivos de inverno da Fundação Pró-Sementes, Kassiana Kehl, a aveia preta está deixando de ser vista apenas uma opção para não deixar o solo descoberto nos meses frios, passando a ter representatividade comercial cada vez maior. Vem sendo usada para a produção de forragem verde, feno, silagem e cobertura de solo, além de sementes.


Notícias da Terra Pesquisa IV

Alta atividade antioxidante

A

pesquisadora Isabel Louro Massaretto, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP – Universidade de São Paulo, comprovou que os arrozes vermelhos e pretos têm 15% mais proteínas e 2,5 vezes mais fibras comparativamente ao branco, o mais consumido no Brasil. Entre os integrais, alguns nutrientes variaram de acordo com o formato do grão, nais do que com a coloração. A pesquisadora explica que grãos integrais mais alongados tendem a apresentar mais proteínas, fibra e lipídeos do que os menos alongados. Massaretto também avaliou o efeito do cozimento no arroz e descobriu que o processo provoca perda dos compostos fenólicos. Mesmo assim, o arroz preto e o vermelho ainda permanecem com alto teor destas substâncias. O chamado arroz selvagem (na verdade, não é arroz e, sim, a semente de uma gramínea aquática do gênero Zizania) tem a composição química que mais se diferencia dos demais grãos analisados. Tem o maior teor de proteína, menor quantidade de lipídeos e a menor atividade antioxidante, por apresentar um teor menor de compostos fenólicos.

Curso

Atenção, candidatos

A

s inscrições para o curso de mecanização em agricultura de precisão da Fatec – Faculdade de Tecnologia da Fundação Shunji Nishimura, sediada em Pompéia (SP), encerram-se no dia 14 deste mês de maio. A taxa de inscrição para o vestibular custa R$ 70,00. O curso, porém, é gratuito e dura três anos. A Fatec oferece 40 vagas no período diurno e 40 no período noturno. A prova está marcada para o dia 16 de junho em Pompéia, com início das aulas previsto para o dia 21 de julho. Para obter mais informações e se inscrever, acesse www.vestibularfatec.com.br

maio 2014 – Agro DBO | 19


Capa

O avanço dos drones

Criados com objetivos militares, os Vants – Veículos Aéreos Não Tripulados vêm sendo utilizados no Brasil por agroindústrias, empresas e, recentemente, fazendas, como instrumento de monitoramento e análise das lavouras. Ariosto Mesquita 20 | Agro DBO – maio 2014


Ariosto Mesquita

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Drone octocóptero fotografa lavoura de milho safrinha no município de Sidrolândia, no Mato Grosso do Sul.

arece até coisa de ficção científica saída das telas de cinema. E era bem isso algum tempo atrás. Hoje, porém, deixou de ser fantasia, mas manteve o caráter científico, com uma nova dimensão prática. Para espanto de muita gente, é cada vez maior o número de aeronaves não tripuladas sobrevoando as lavouras brasileiras. Quem vê pode pensar se tratar de um brinquedo ou hobby, como aeromodelismo. No entanto, é a mais recente ferramenta de apoio para agricultura de precisão, diferencial importante considerando o desafio de produzir cada vez mais, com eficiência e sustentabilidade. No Brasil, esta máquina é chamada Vant – Veículo Aéreo Não Tripulado) ou “drone” (zangão, na língua inglesa), miniaturas derivadas dos aviões não tripulados produzidos de forma contínua pela indústria bélica há pelo menos 20 anos, principalmente nos Estados Unidos. Os primeiros a surgirem (em meados do século passado) funcionavam como aeronaves de inspeção, instrumento estratégico de espionagem norte-americana durante a chamada “guerra fria”. Na década de 1990, começaram a carregar armas e, na virada do século 20, passaram a ser utilizados em combate. Nascidos como instrumentos de defesa e ataque, os drones agora ganham uma pacífica e nobre função: ajudar no aumento da oferta mundial de alimentos e demais produtos originários do campo. Há pelo menos um ano estes aparelhos monitoram extensas culturas industriais como eucalipto e cana-de-açúcar, registrando imagens de plantio, cultivo e corte. Nos últimos meses, passaram a ser vistos em fazendas, sobrevoando áreas de soja, milho e algodão. O Brasil é um dos pioneiros no uso de drones na agricultura. Muitos agrônomos, administradores e empresários estão apostando a vida profissional na utilização destes aparelhos. Algumas empresas importam aparelhos, equipamentos de apoio e análise de dados, mas pelo menos uma dezena delas já constroem modelos no país, seja para comercialização ou utilização própria. Em sua aplicação básica, com o registro de fotos convencionais, um Vant permite que um produtor ou empresa rural faça avaliações visuais da evolução do cultivo, mapeamento de falhas no plantio ou na adubação, identificação de reboleiras, etc. Através de câmeras e recursos mais avançados, um drone pode substituir aviões ou satélites na produção de fotos georreferenciadas de propriedades rurais e de suas lavouras, permitindo o dimensionamento das áreas de reserva legal ou de proteção permanente. Suas imagens e dados permitem ao produtor rural gerar mapas topográficos e modelos para nivelamento e drenagem, medir a altura das plantas e condições gerais da lavoura, localizar plantas daninhas, infestações de pragas e até mesmo detectar deficiências de macronutrientes, como o nitrogênio. maio 2014 – Agro DBO | 21


Embrapa/Agrossilvipastoril

Capa

O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Luciano Shozo Shiratsuchi, com um drone eBee.

“O potencial é enorme! Recentemente, com apenas 15 minutos de vôo, fiz o mapeamento de clorofila em uma área de 120 hectares de feijão, coberta por pivô central, na Fazenda Lagoa Vermelha, em Sorriso, aqui no Mato Grosso”, revela o agrônomo e pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Luciano Shozo Shiratsuchi, responsável por estudos de sensoriamento remoto e agricultura de precisão na unidade. Esta, segundo ele, seria atualmente uma das principais virtudes deste instrumento para a agricultura de precisão, desde que seja possível a captação de imagens NIR (infravermelho próximo). “A clorofila está linearmente relacionada com a quantidade de nitrogênio na planta, portanto posso calcular a demanda deste macronutriente para a produção de um volume determinado de grãos por hectare de uma determinada lavoura. A clorofila também é um indicador de ren-

dimento, ou seja, me permite estabelecer a produtividade que vou obter em uma determinada área”, explica o pesquisador. No entanto, um eventual mapeamento de clorofila é considerado, por enquanto, uma função avançada de um Vant para a agricultura brasileira, sobretudo pela existência de poucos programas (softwares) capazes de auxiliar na leitura e interpretação das imagens. “Em todo o país, o uso dos drones no campo está, em sua maioria, limitado ao que o olho humano vê”, ressalta Shiratsuchi. Esse trabalho hoje está sendo oferecido às propriedades rurais por um número crescente de pessoas físicas e jurídicas através da acoplagem de máquinas semiprofissionais aos Vants. Durante o vôo, um operador controla o trabalho da aeronave e o acionamento da máquina fotográfica para a captação das fotos. Posteriormente, estas imagens são entregues ao produtor ou grupo agrícola. O trabalho que Shiratsuchi executa, ainda experimentalmente, no médio norte do Mato Grosso, exige tecnologia bem mais apurada, a começar dos drones. São máquinas mais robustas, com maior autonomia de vôo e geralmente equipadas com sistemas de registro de imagens RGB (convencional) e NIR (infravermelho próximo) e que geralmente exige um software adequado para auxílio na leitura da imagem. “No nosso caso, assim como em todo o Brasil, este serviço ainda se encontra em fase de calibragem, de validação; ainda não se sabe, por exemplo, qual a altitude de vôo correta para o mapeamento de nematoides ou de nitrogênio na lavoura”, admite. A Embrapa Agrossilvipastoril ainda está em processo de aquisição de seu Vant. Por enquanto, trabalha em parceria com a empresa mato-grossense Soloplan-

Ariosto Mesquita

Fotógrafo troca avião por drone

22 | Agro DBO – maio 2014

Durante os meses de dezembro de 2013 e janeiro de 2014, o fotógrafo Roberto Ajala alugou um avião para fazer imagens aéreas de 42 fazendas em Mato Grosso do Sul, propriedades parceiras no plantio de cana para a Usina Eldorado, da Odebrecht, em Rio Brilhante (MS). Para isso conseguiu um preço camarada: 280 reais/hora/vôo, contra 700 de outras aeronaves particulares e entre 1,5 mil e 2 mil por um taxi aéreo. Nesse período, voou 17 horas para fazer o serviço. Gastou quase 5 mil reais com o aluguel da aeronave e cobrou 13 mil pelo trabalho completo (entregue através de apresentação em html). A alegria de Ajala, porém, durou pouco. Dias depois, um acidente inutilizou o avião – não poderia mais alugá-lo. Foi quando ouviu comentários, dentro da pró-


Fotos Divulgação/XMobots

Grosso modo, os drones em uso no campo estão limitados ao que o olho humano vê, mas alguns já enxergam em infravermelho.

Negócio crescente Quem também começa a utilizar a eBee é a Eldorado Brasil, a maior unidade industrial de celulose em linha única do mundo, localizada em Três Lagoas (MS). Há pelo menos um ano a empresa já utiliza Vants para monitorar as florestas plantadas próprias e de produtores parceiros. Com o eBee, a Eldorado procura aumentar a área de cobertura e trabalha em um software próprio para leitura e detalhamento das imagens. Serviço não vai faltar por lá. O monitoramento envol-

ve mais de 160 mil hectares cultivados com eucalipto, matéria-prima da celulose. A operação de Vants no Brasil ainda não está regulamentada, mas a Anac – Agência Nacional de Aviação Civil exige registro de autorização de vôo para as aeronaves não tripuladas no Brasil. No entanto, a ausência de uma rígida fiscalização, favorece a operação informal destes aparelhos. Até o final de fevereiro apenas cinco modelos estavam registrados. Um deles é o Echar 20 (em língua Tupi “ver, avistar”) desenvolvido em São Carlos (SP) e fabricado pela brasileira XMobots, focado diretamente no mercado agrícola. Lançado em dezembro do ano passado, é indicado para cobertura de áreas de um a dois mil hectares. De acordo com a empresa, é adequado para agricultura

pria usina, sobre a utilização de drones em projetos da Odebrecht em Angola, na África. De tanto navegar em plataformas de compra e venda pela Internet, acabou encontrando um fabricante avulso de drones em Sorocaba (SP). Depois de negociar um pouco, pagou 25 mil reais por um Vant de oito hélices, com capacidade de se distanciar até 2,5 km do controle e voar a 50 km/hora. “Uma aeronave nestas configurações, similar a um Cinestar 8, importada ou fabricada por uma empresa brasileira, custa entre 30 mil e 40 mil, sem baterias”, calcula. Segundo ele, cada bateria custa mil reais e permite autonomia de vôo de 15 minutos. Ajala já fechou acordo para nova leva de imagens aéreas das lavouras de cana da Usina Eldorado e começou a apostar suas fichas no monitoramento de lavouras de grãos. Procurado pelo agrônomo Renato André Sena Souza e pelo produtor rural Rogério Luis Poiatti, operou um vôo piloto de seu octocóptero em Sidrolân-

dia (MS), sobre a lavoura de milho safrinha (1.750 hectares) da Fazenda São José, arrendada em parte por Poiatti. Sócios em uma empresa de insumos na cidade, Souza e Poiatti gostaram do que viram e pensam em usar e até oferecer este serviço para outros agricultores da região, contratando o trabalho de Ajala. “De início será fundamental para detectar falhas no plantio e na adubação, mas vamos estudar a possibilidade de obtermos um software que ajude a fazer uma leitura mais completa das imagens”, disse o agrônomo. O agricultor compactua com o sócio e também pensa na ampliação das possibilidades: “Quanto mais cedo identificarmos problemas, mais lucro teremos lá na frente; e quem sabe não conseguimos fazer, através dos drones, um amplo controle de aplicações de defensivos, reduzindo substancialmente nossos custos e aumentando a eficiência?”

ta, de Lucas do Rio Verde, que disponibiliza a aeronave importada eBee. O equipamento permite a tomada de fotos de alta resolução com funcionamento via GPS e sensores de movimento embarcado.

Imagem captada pelo drone Echar; parte do mosaico onde foram percebidas falhas no plantio; e zoom em alta resolução, para melhor observação destas falhas.

maio 2014 – Agro DBO | 23


Fotos: PSG Tecnologia Aplicada

Capa

Modelo Liberty, da PSG, em vôo de detecção de falhas no plantio de canade-açúcar (ao lado).

de precisão (detecção de plantas invasoras, doenças, falhas no plantio, exposição de solos, conteúdo de palha) e para cálculos de previsão de produções. No seu portfólio, a XMobots – que atua no mercado de drones desde 2004 – oferece ainda um Vant mais potente para a agricultura: o Nauru 500 (em Tupi “herói, bravo”), próprio para atender áreas entre dois mil e 60 mil hectares, o que envolve demandas de fazendas agrícolas e pecuárias, usinas de cana-de-açúcar, cooperativas e áreas de plantio de florestas. De acordo com o presidente da empresa, Giovani Amianto, a agricultura foi a responsável pelo grande impulso de vendas de drones nos últimos dois anos, com pouco mais de 30% da demanda: “Em 2013, vendemos 13 aeronaves; já neste ano, até março, já foram sete unidades comercializadas”. Dentre os clientes estão usinas de cana no Sudeste e Centro-Oeste além de

fazendas de algodão e soja na Bahia e Maranhão. O preço básico do Echar 20 é R$ 140 mil reais. O Nauru 500 parte de R$ 220 mil e pode chegar próximo a R$ 400 mil com a aquisição de opcionais (câmera infravermelho próximo, terminal remoto de comunicação, vídeo, telemetria, etc). Além do equipamento, a empresa também fornece software e treinamento específico para operadores. Mercado promissor De olho no potencial do mercado agrícola, empresas estrangeiras de tecnologia de ponta começam a aterrissar seus drones no Brasil. A mais recente é a norte-americana Trimble, que anunciou em abril a chegada do Vant UX5, voltado para a captação de imagens aéreas e mapeamentos. Desde 2012 no Brasil, a empresa de geoposicionamento tem equipamentos utili-

Alerta contra os oportunistas Mesmo ainda em seus “primórdios”, a utilização de aeronaves não tripuladas no monitoramento de lavouras no Brasil já começa a acender debates. Discute-se, por exemplo, os riscos da operação, a necessidade ou não de habilitação para pilotos e principalmente a ética na prestação de serviços. “O produtor tem de ficar atento contra a picaretagem, pois tem gente vendendo alternativas e ferramentas para agricultura de precisão que na verdade revelam-se completas imprecisões”, alerta o diretor técnico da Aprosoja/MT, Luiz Nery Ribas. Ele não discute a funcionalidade da tecnologia dos drones para a agricultura, mas considera que a adesão no campo tem de ser gradual e responsável. “É uma ferramenta fantástica, mas ainda em desenvolvimento, portanto não é a salvação da lavoura”, avisa. Ribas desconfia

24 | Agro DBO – maio 2014

de promessas muito generosas na prestação de serviço de monitoramento aéreo nas áreas de cultivo: “Identificar nematoide não é fácil; quantificar pragas só mesmo com monitoramento in loco, por isso tenho dúvidas quanto à calibragem destes sistemas”. Quem concorda com o diretor da Aprosoja MT é o administrador João Alexande Ventorini, idealizador das aeronaves da PSG, em Campo Grande (MS). “Tem muito aventureiro prostituindo o mercado”, avisa. Segundo ele, o ideal é que o produtor rural investigue a idoneidade da empresa ao adquirir um drone ou contratar serviços. Além disso, adverte que “há uma parte obscura ainda não debatida” sobre a utilização de Vants: “Essas aeronaves têm potencial para serem usadas no bem ou no mal; podem ser verdadeiros mísseis nas mãos de criminosos”.


PSG Tecnologia Aplicada

zados em mais de 140 países e espera iniciar as vendas do seu drone agrícola até o início do segundo semestre deste ano. “Estamos em fase final de registro da aeronave na Anac e assim que iniciarmos a comercialização, o agronegócio brasileiro terá uma ferramenta ágil nas mãos”, afirma o representante técnico de vendas da Trimble no Brasil, Rodrigo Lampert. Segundo ele, o equipamento oferecerá imagem NIR (infravermelho próximo), filtros e software adequados para detectar índices de matéria verde nas plantas, medir altura das plantas, detectar falhas em plantios, elaborar mapas topográficos, além de detectar evidências de plantas daninhas, insetos e nematoides. A distribuição nacional será feita pela empresa Geo Agri que, de acordo com Lampert, ficará responsável em ministrar curso e fornecer, posteriormente, um certificado de piloto de UX5 ao comprador. O modelo é voltado para utilização, sobretudo, em áreas de plantio de grãos, cana e florestas. Além das fabricantes comerciais nacionais e estrangeiras, há quem construa Vant para uso próprio na prestação de serviço ao produtor rural. É o caso da PSG Tecnologia Aplicada, empresa sediada em Campo Grande (MS). Em processo de registro junto à Anac, suas aeronaves, denominadas Liberty, já sobrevoam áreas de cultivo de cana-de-açúcar nas usi-

Divulgação/XMobots

A agricultura foi responsável por um grande impulso na venda de drones nos dois últimos anos, com mais de 30% da demanda.

Giovani Amianti, presidente da XMobots, junto a um modelo Echar 20, na catapulta de lançamento.

Foto aérea feita pelas câmeras do Vant Liberty para mapeamento da APP do rio Sucuri, em Bonito (MT).

nas São Fernando, no município de Dourados (MS), e Santa Helena, em Nova Andradina (MS). O serviço prestado para as indústrias serve como uma espécie de laboratório para geração de material visando à validação de um software de leitura e interpretação de dados. O programa está sendo desenvolvido também em parceria com a Facom – Faculdade de Computação da UFMS – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. “O termo de cooperação estabelece a responsabilidade de professores e alunos no desenvolvimento do sistema e da empresa no fornecimento de computadores e equipamentos necessários para a parte de inteligência artificial. Ao final, o programa ficará de posse das duas partes”, explica a engenheira ambiental e gerente de Vants da PSG, Carla Fernandes de Barros. Os drones da empresa sul-mato-grossense operam com peso médio de sete quilos, movidos a combustível de aviação, com autonomia de vôo de 90 minutos, carregando uma câmera Sony semiprofissional com lente de 16 milímetros. Até que o software seja validado, o trabalho ainda se resume à fotografia digital convencional. “Hoje, entregamos imagens, mas em breve vamos oferecer ao cliente o que a imagem diz”, observa o administrador João Alexandre Ventorini, responsável pelo desenvolvimento e operação das aeronaves da PSG. O serviço de mapeamento fotográfico da PSG custa hoje ao interessado entre R$ 2,00 e R$ 8,00 por hectare, dependendo da distância, da área total a ser coberta e do nível de emergência do trabalho. maio 2014 – Agro DBO | 25


Opinião

A judicialização do país Causam insegurança e espanto as ações do Ministério Público, que parece atuar em nome de ambientalistas e de causas ideológicas. Richard Jakubaszko

A

atuação do Ministério Público Federal (MPF), por mais incrível que possa parecer, ao invés de trazer segurança jurídica aos cidadãos brasileiros, provoca insegurança de toda ordem, especialmente no segmento do agronegócio. Por serem insólitas e radicais essas interferências, que extrapolam as funções do MPF, deduzimos que pretendem proibir o plantio direto no Brasil. Ou, pior ainda, desconhecem totalmente o que seja fazer agricultura em um país tropical. Os leitores devem ter tomado conhecimento que, em abril último, o MP no Distrito Federal pediu a interdição de 9 ingredientes ativos (que são usados em 180 marcas de produtos), apontados como “suspeitos de causar danos à saúde humana e ao meio ambiente”. São os seguintes produtos: 2,4 D, paration metílico, lactofem, forato, carbofuran, emamectina, tiram, paraquat e glifosato. O ato do procurador também requer a suspensão do processo que envolve a liberação de sementes tolerantes a esses produtos. Os pedidos de suspensão têm como base as reavaliações de registros de 14 ingredientes que estão em exame pela Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, desde 2008. O caso foi parar na Justiça por causa da morosidade da Anvisa em reavaliar estes agroquímicos. A lei, todavia, determina prazo de 120 dias para que a agência informe os resultados, trabalho que até o mês passado não se concluiu. 26 | Agro DBO – maio 2014

Ainda em abril a Justiça Federal manteve o registro do ingrediente ativo 2,4 D, mas adiou a decisão em relação aos demais produtos. A decisão do juiz Jamil Rosa, titular da 14ª Vara Federal, autorizou ainda a suspensão dos processos que envolvem a liberação de sementes OGMs tolerantes a estes produtos pela CTNBio, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, até que se conclua a reavaliação toxicológica da molécula pela Anvisa.

Se a Justiça já era cega, agora anda estupefata.

No texto em favor do herbicida 2,4D, o juiz argumenta que “não se pode excluir do mercado um produto de largo uso na agricultura e reconhecidamente eficaz no combate às ervas daninhas, sendo responsável, inclusive, pelos atuais ganhos produtivos na agricultura”. O juiz afirma ainda ser “temerária a suspensão dos registros deferidos pelos órgãos e entidades competentes na área de agrotóxicos sem os estudos técnicos conclusivos, e que está sendo empreendido pela agência especializada, a título de reavaliação”. Conforme Neri Geller, ministro da Agricultura, a decisão do juiz da 14ª Vara Federal reconhece o cuidado do governo federal na análise e aprovação de defensivos agrícolas. “Não se pode simplesmente proibir o uso de um produto já analisado pelo governo e por dezenas de outros países, e que não é proibido em nenhuma nação. A agricultura brasileira não pode ser prejudicada com a proibição do uso de ingredientes largamente testados”, enfatizou. O Mapa, Ministério da Agricultura, encaminhou notas técnicas à justiça em defesa dos produtos que se pretende proibir. De acordo com a defesa do Mapa, o autor da ação contra o 2,4 D confundiu esse produto com o agente “laranja” (2,45 T), que nunca teve registro para uso no Brasil. Diz a nota técnica que “o 2,4 D já está em uso no Brasil desde a década de 60 e foi avaliado pelo Mapa, Anvisa e Ibama, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, nos termos da Lei


7.802/1989. O 2,4 D é usado nas culturas da soja, cana-de-açúcar, milho, trigo, café e pastagens, e é fundamental na prática do plantio direto”. De outro lado, a CNA, Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, oficiou à Justiça demonstrando os potenciais prejuízos que a agricultura teria com a proibição do glifosato, do 2,4-D e de outros agroquímicos. A CNA se diz “preocupada com os prejuízos ao produtor rural e ao consumidor, ao reduzir a produtividade das lavouras e incentivar a inflação dos alimentos”. A CNA cita como exemplo o glifosato e o 2,4-D: “Estes são os dois herbicidas mais utilizados no Brasil”. Ambos são estratégicos para diferentes tipos de manejos, principalmente no sistema de plantio direto. É bom lembrar que produtos como Endosulfan e Metamidophós, também eram estratégicos. Foram proibidos pela Anvisa, após longa e polêmica revisão técnica. Diante das dificuldades, o Mapa decretou “Estado de Emergência” para importar substitutos. Mas alguns MPs estaduais entraram em cena e proibiram o uso. A importação da emamectina, para controle da Helicoverpa armigera, foi outra emergência que alguns MPs estaduais também proibiram. E assim a agricultura vai se judicializando... Relembrando A Constituição Federal de 1988, vigente até os dias de hoje, denominada “Constituição Cidadã” pelo então deputado federal Ulysses Guimarães, que presidiu a Assembleia Constituinte, estabeleceu a criação do Ministério Público Federal. As funções do MP “incluem a fiscalização da aplicação das leis, a defesa do patrimônio público e o zelo pelo efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição”. E mais: o MP tem autonomia na estrutura do Estado: não pode ser extinto ou ter atribuições repassadas a outra instituição. Seus membros (procuradores e promotores) têm

liberdade para atuar segundo suas convicções, com base na lei. São as chamadas autonomia institucional e independência funcional do MP, asseguradas pela Constituição. Tem alguma coisa muito errada... Em bom português, apesar de os poderes executivo, judiciário e legislativo serem independentes, conforme a Carta Magna, o MPF entende que não se deve debater e tampouco legislar, quando as questões não estão a contento de seus procuradores. Nos últimos anos, e cada vez de forma mais intensa, o MP interfere na vida pública e nas atividades públicas e privadas. Por exemplo: em decisão judicial, suspendeu, em abril/2014, a revisão do Plano Diretor Estratégico da cidade de São Paulo, um dos principais projetos de gestão da prefeitura paulistana. Com isso, barrou as audiências públicas

já andava pré-julgando as coisas e desejava legislar... O Ministério Público extrapolava funções, e ainda fazia ameaças ao Poder Legislativo, e chantageava, na base do “muda essa lei aí ou nóis vai complicar ôceis!” (grifos nossos) O Ministério Público Federal acreditava que o relatório do Código Florestal lido em 22/11/2011 no Senado, ainda precisava de ajustes. De acordo com o subprocurador-geral Mário Gisi, caso os temas mais sensíveis não sejam atendidos, existe o risco de o Ministério Público entrar com ações para cobrar a preservação do meio ambiente por via judicial. Um grande jornal noticiou na época: “O projeto da Câmara dos Deputados saiu com inúmeras imperfeições e no Senado já teve uma melhora, mas, todavia, vemos como insuficiente para atender àquele delineamento

São radicais as ações do MPF, daí deduzimos que querem proibir o plantio direto no Brasil. realizadas para debater as características do Plano Diretor na Câmara Municipal. Ou seja, interferiu em processos de decisão do legislativo municipal. Em 2012, durante o intenso debate nacional, que ocorria em todos os níveis da sociedade, sobre o Código Florestal, a mídia informava que “o Ministério Público poderia contestar na Justiça o novo texto do Código Florestal”. De acordo com o subprocurador-geral, “caso os temas mais sensíveis não sejam atendidos”, existe o “risco” de o Ministério Público entrar com ações. (grifos nossos) Pois o Ministério Público (MP) resolveu atacar de poder judiciário, e julga, ele próprio, se um projeto de lei ainda em discussão no Senado, que ainda seria votado, e depois deveria voltar à Câmara dos Deputados, e aí iria à sanção (ou veto) presidencial, pois o Ministério Público

que a Constituição estabelece em relação ao meio ambiente”, disse Gisi, ao comentar o parecer da Comissão de Meio Ambiente do Senado. Para o subprocurador-geral Mário Gisi, a “abertura para debate no Senado tem sido melhor que na Câmara”. Nova interferência do MP nos debates e decisões do legislativo, o que seria uma flagrante inconstitucionalidade. Mais ações desastrosas do MPF O TRF, Tribunal Regional Federal da 1ª Região ordenou em 17 de dezembro 2013, a suspensão das obras da usina de Belo Monte, em Vitória do Xingu, no Pará. A suspensão foi a segunda em dois meses. Os juízes atenderam pedido de procuradores do MP do Pará, que declararam “descumprimentos de exigências na licença ambiental”. Conforme os procuradores, “as obras terão que permanecer paralisadas até que maio 2014 – Agro DBO | 27


Opinião os responsáveis pela construção atendam as exigências técnicas feitas pelo Ibama”. Nos últimos anos, até outubro 2013, o MPF apresentou 20 processos pedindo a paralisação de obras por denúncias de que os construtores cometeram irregularidades. A construção de Belo Monte gera a oposição de ambientalistas, que consideram que os impactos sobre as comunidades da região, como índios e ribeirinhos, serão irreversíveis. As ações do MPF nos indicam questões para reflexão: qual é o custo disso aos cofres públicos? Quem arca com esse gigantesco prejuízo? A Justiça não avalia os interesses políticos e ideológicos dessas manobras? Se demorar a decisão de retomada das obras, o que é rotina, quantos funcionários serão demitidos? Depois, quando sair nova ordem permitindo as obras, a empreiteira

28 | Agro DBO – maio/2014

torna a recontratar funcionários, treinar, realocar, elevando os custos do empreendimento, custos que serão pagos pelo governo, ou seja, nós, os contribuintes. Um desastre a ação de procuradores que se consideram ambientalistas. Podiam multar a(s) empreiteira(s), pela falta do papel burocrático, mas não é democrática a exigência, a insana suspensão das obras. Ou a justiça se faz de forma desinteressada, equilibrada e justa, ou não pode ser chamada de Justiça. Mais do mesmo Em setembro 2013 o Tribunal Regional Federal da Primeira Região determinou a suspensão da construção da hidrelétrica de Teles Pires. Alegava-se agressão à natureza e aos povos indígenas. Mas essa decisão deveria ter sido tomada antes que fossem investidos os quatro

bilhões de reais gastos até agora. Ou não? Para que serviram, afinal, os estudos de impacto ambiental realizados, que permitiram a realização das obras? O que o consórcio vai fazer? Demitir os 6.000 trabalhadores que contratou, treinou, instalou no meio da selva? Quando a obra terminar, com o dobro de tempo esperado e duas ou três vezes o custo original aprovado, muita gente colocará a culpa na corrupção e no “desgoverno”. Sobre a mais nova ação do MP do DF, que pretende proibir os agroquímicos que ainda não foram reavaliados pela Anvisa, os agricultores e as indústrias aguardam agora a decisão, que deve sair a qualquer momento, sobre os demais produtos. Até o fechamento desta edição da Agro DBO nada havia se decidido. O Juiz titular entrou em gozo de férias.



Entrevista

O seguro agrícola deveria ser obrigatório. Os prêmios são caros porque poucos fazem seguro? Ou se faz pouco seguro porque é caro? O entrevistado analisa essa questão.

L

uís Carlos Guedes Pinto, 72, é engenheiro agrônomo da turma de 1965 da Esalq (Piracicaba, SP), denominada “turma de ouro” por Roberto Rodrigues, da qual saíram dois Ministros da Agricultura, ele e Guedes. Guedes foi presidente da Conab, antes de ser ministro, e depois esteve como vice-presidente de Agronegócios do Banco do Brasil, assumindo, na sequência, a presidência do Grupo Segurador Banco do Brasil/Mapfre (Mapfre – Mútua de Agricultores de Pequenas Fincas Rústicas de Espanha, fundada em 1933, e que atua em 46 países), empresa de seguros, uma multinacional espanhola, da qual o Banco do Brasil é sócio no Brasil, e que é líder na área de seguros agrícolas no país. Como especialista na área, Guedes, que deixou a Mapfre em final de março último, concedeu entrevista para Agro DBO, conduzida pelo editor-executivo Richard Jakubaszko, em que analisa o atual estágio do seguro agrícola no Brasil, atividade que anda muito aquém do que se observa nos EUA, apesar de as empresas de seguros que atuam no Brasil serem as mesmas de lá, demonstrando que as diferenças entre as deficiências brasileiras e o sucesso americano nesse segmento deveriam ser debitadas aos agropecuaristas ou ao governo, ou a ambos.

30 | Agro DBO – maio 2014

Agro DBO – Como foi o setor de Seguro Agrícola na Safra 2013/14? Guedes – A cultura do seguro no Brasil ainda é relativamente pouco desenvolvida, falta a cultura de fazer seguro e falta tradição. Tivemos mais ou menos 1,5 milhão de apólices de seguros nesta safra. Mas a grande maioria é agricultura familiar (AF), acima de 1,3 milhão, que não é seguro agrícola, é Proagro. No caso da AF, o Banco do Brasil tem 75% de participação de mercado, e na agricultura empresarial fica entre 60% e 65%. Na AF é maior a parte do Banco do Brasil porque os bancos privados não trabalham com esse segmento. As cooperativas de crédito e o Sicredi trabalham bem e muito forte com a AF. O volume total de seguro agrícola na safra, só em subvenções, foi de mais ou menos R$ 550 milhões. O relevante é que o valor total da produção agrícola, excluindo a pecuária, está em torno de R$ 280 bilhões e o valor segurado é da ordem de 5%, ou seja, estamos engatinhando ainda, como se pode ver. Agro DBO – Quanto do total foi subsidiado pelo Governo Federal? Guedes – O Governo Federal subsidia o seguro agrícola empresarial entre 30% e 70% do custo do prêmio, na média temos 50% de subsídio.


Agro DBO – O que cobre esse seguro? Somente parte ou o total dos insumos? Guedes – Cobre prejuízos com danos climáticos, mas o valor a ser segurado depende da seguradora. O seguro é calculado com base no custo de produção. Tem seguradora que faz pelo valor do crédito tomado pelo agricultor ou por base do custo de produção. Quando se faz o seguro é porque há uma estimativa da produção, e da produtividade. No passado, essa discussão foi muito difícil, porque toda vez que uma apólice é vendida a seguradora repassa parte do prêmio e do risco para as resseguradoras, através do IRB, o Instituto de Resseguros do Brasil. Mas o Brasil também está aberto ao mercado internacional, e operam aqui as resseguradoras internacionais, que é também o caso da Mapfre. Na discussão, as resseguradoras exigiam que se aplicassem os números de produtividade do IBGE, que são muito defasados, e isso deu muita briga, porque o produtor tinha média de quase 50 sacos por ha de soja e o IBGE dizia que a média era de 30. Mas, hoje em dia, essas médias estão muito próximas da realidade. Normalmente, o Seguro Agrícola cobre 70% da expectativa de produção, e isso depende da média regional onde está cada segurado. O seguro cobre tanto valores de recursos próprios, porque tem agricultor que usa muito pouco crédito de banco, bem como os créditos de custeio tomados nos bancos. Representando isso em números, se a média de uma re-

gião é de 50 sacos/ha de soja, e o agricultor colher 35 sacos/ha, nada existe para pagar, mas se ele colher 30 sacos/ha recebe 5 sacos/ ha como indenização. Agro DBO – E o Seguro de Renda Agrícola? Quanto representou? Guedes – É quase nada, oscila em 1%, mas existe a opção. Nesses casos é um adicional ao seguro agrícola, evidentemente. A se-

guradora faz o seguro pela renda prevista, digamos R$ 60,00 a saca, depois do seguro feito ela trava o preço no mercado futuro e trava também o câmbio futuro no mercado de resseguros, porque senão o risco é muito grande para a seguradora correr sozinha. Agora, o que interessa ao produtor é a renda, e então ele pode associar a produção no seguro de renda, e não temos dúvidas de que nos

Resultado Geral por Estado Apólices

(Unidade)

Área Segurada (ha)

Importância Segurada (R$)

Prêmio (R$) Subvenção (R$)

Total

101.850

9.603.429

16.843.679.547

1.001.347.383

557.852.228

PR

30.856

2.580.583

3.207.137.087

237.631.884

143.197.605

RS

22.922

1.800.797

3.330.978.310

206.870.367

120.335.049

SP

16.178

959.152

2.606.239.840

135.345.292

69.791.247

MG

9.318

677.731

2.192.425.820

70.221.541

33.058.369

UF

SC

7.257

231.177

758.641.531

68.257.410

38.711.831

GO

5.112

825.962

1.311.531.013

62.566.579

35.485.646

MS

5.002

1.050.188

1.200.939.531

113.471.338

65.152.314

MT

2.045

728.741

1.098.442.792

47.929.778

25.737.475

BA

1.004

288.614

561.580.020

31.535.319

13.902.137

ES

885

19.676

140.032.150

2.421.038

1.337.400

TO

355

88.066

119.771.704

6.480.441

2.981.551

PI

322

97.284

141.754.925

9.135.522

3.998.563

MA

274

82.480

106.249.060

7.405.062

3.195.118

AL

116

13.098

24.806.943

341.076

143.986

DF

88

11.408

18.253.528

989.276

445.859

RO

56

6.775

8.620.708

478.824

273.405

PE

23

2.062

5.635.183

94.497

37.674

PB

15

2.187

4.222.900

44.332

19.503

SE

9

901

1.893.495

28.956

11.582

RJ

7

216

1.300.389

22.885

9.613

CE

4

136.311

3.136.352

73.288

25.094

PA

1

-

38.000

2.000

800

RN

1

20

48.265

677

406

maio 2014 – Agro DBO | 31


Entrevista vezes o produtor colhe bem, a safra é ótima, mas o preço cai, e o seguro de renda serve para isso também. No caso da Mapfre, esse produto é chamado de “seguro faturamento”. Agro DBO – Quantos agricultores pediram ressarcimento pelos prejuízos climáticos (seca no Sul e Sudeste e chuvas no Centro-Oeste)? Guedes – Ainda é cedo para ter esse número, porque a safra está terminando. Mas calculo que deve ser alto.

encaminhamos para isso, o seguro da renda é o futuro. É assim que funciona nos EUA, onde ele é o principal seguro na agricultura. O importante, nesse caso, é que o produtor também pode fazer seguro contra os maus humores das bolsas de mercadorias, pois, como a gente sabe, muitas

Agro DBO – Quanto isso representa em dinheiro? Guedes – Não existe ainda esse número, ainda não foi fechada a contabilização, mas deve passar de R$ 200 milhões de reais em indenizações. É um volume de dinheiro alto, sem dúvidas, mas isso faz parte do negócio, há anos de ganhos e anos de perdas. O ideal seria fazer seguro de vida e nunca ter de pagar, não é? Agro DBO – Qual a importância do IRB, Instituto de Resseguros no Seguro Agrícola? Guedes – Até a 4 ou 5 anos o IRB tinha exclusividade no resseguro, mas hoje o Brasil está aber-

to ao mercado internacional, e o IRB responde por 40% a 50% do mercado. No caso do seguro patrimonial, os repasses são menores, evidentemente, porque o risco das seguradoras é bem menor, assim como o seguro de vida. O que se deve entender é que sem as empresas de resseguros seria impossível para uma seguradora bancar isoladamente o seguro agrícola, pois no caso de uma região inteira resolver fazer seguro agrícola e acontecer uma calamidade com muita ou nenhuma chuva a seguradora quebra. Agro DBO – Muitos agricultores reclamam do custo do Seguro Agrícola. Isso tem razão de ser? Guedes – Há uma questão conceitual na sua observação. Temos de entender que na agricultura, pelas variabilidades climáticas, o risco é muito maior quando comparado a outros tipos de seguros. Como consequência disso o custo do prêmio é maior. Essa é a razão pela qual, no mundo inteiro, onde existe o seguro agrícola, existe subvenção do governo, e parte do prêmio é coberta, portanto, pelo governo e pela sociedade. O seguro é caro, sem dúvida. Agora, os agricultores

Sugestões para melhoria do seguro rural no Brasil As seguradoras pleiteiam junto ao Governo Federal algumas medidas que consideram importantes para o seguro agrícola crescer e se consolidar: 1. Recursos da subvenção por ciclo agrícola: atualmente a distribuição de recursos da subvenção é dada por ano civil, dificultando o planejamento das seguradoras; 2. Liberação de recursos considerando o calendário agrícola: a disponibilização do seguro ao produtor deve ser realizada no momento em que produtor rural estiver adquirindo seus insumos ou contratando operações de custeio antecipado junto a instituições financeiras; 3. Juros menores para operações financeiras com seguro: para os produtores que contratarem seguro agrícola, os juros seriam menores;

32 | Agro DBO – maio 2014

4. Participação dos estados: dar maiores condições ao produtor rural implantando subvenções estaduais; 5. Estabilidade ao Seguro de Renda: gerar melhores condições ao mercado segurador e ressegurador para o planejamento em longo prazo para a continuidade de investimentos em produtos, tecnologia e pessoal no seguro agrícola; 6. Seguro para máquinas e equipamentos: criar “subvenção” para contratação de seguro para os pequenos produtores; 7. Regulamentar o Fundo de Catástrofe: criar estabilidade no mercado segurador e ressegurador;


Falta no Brasil o fundo de catástrofe. Isso já está aprovado por lei, há quase quatro anos, mas não foi ainda regulamentado.

questionam o valor do prêmio sem razão, primeiro porque não existe no Brasil a cultura do seguro, em especial do agrícola, e o agricultor vê o seguro como um custo extra, uma despesa adicional, quase um luxo, mas em minha opinião o seguro deveria entrar na contabilidade como um custo semelhante ao do combustível, do adubo e do agroquímico. É um custo de produção que o produtor tem de incorporar. De outro lado, o preço de seguro é fixado pelas estatísticas das variações climáticas, o que faz com que o seguro seja mais caro no Rio Grande do Sul do que no Brasil Central. No Sul, as possibilidades de secas são maiores do que no Mato Grosso, por exemplo, onde o clima é mais estável, e isso impacta no preço do prêmio, pois o risco é menor. Mas isso é pouco em termos de variação, oscila entre 2% e 12% entre uma e outra região. Há variáveis ainda que reduzem os preços dos prêmios, como a tradição do agricultor, o uso de tecnologias, como irrigação. De outro lado, ninguém tenha dúvidas, o valor do seguro agrícola vai cair bastante quando houver um número maior de agricultores segurados, pois as seguradoras atingirão uma economia de escala, uma zona de conforto de boa lucratividade, o que estimula a concorrência entre elas, e os preços

caem, isso é regra de mercado para o mundo inteiro. Agro DBO – Considerando ainda como baixa a adesão da agricultura empresarial ao Seguro Agrícola, o que falta para que ele seja feito por quase a totalidade desses produtores? Guedes – Talvez a obrigatoriedade. Inegavelmente, o Governo Federal estuda isso. Veja, o crédito agrícola, apesar de não ser utilizado por todos, possui taxas muito baixas, hoje é de 5,5% a.a. e há taxas de até 3,5% a.a., abaixo da Selic, portanto, que é o dobro disso. Voltamos a ter subsídios. Quando há um problema climático, fica a discussão sobre prorrogar as dívidas, o que acaba acontecendo quase sempre, porque a pressão política é muito grande. Aí, quando se prorroga a dívida, há um custo embutido nisso que é gigantesco, e quem paga isso é o Tesouro Nacional, ou seja, a sociedade como um todo. Então, quando há crédito a taxas controladas, e muito baixas, que é o que temos hoje, o seguro deveria ser obrigatório. Aliás, no ano passado o CMN, Conselho Monetário Nacional, chegou a baixar uma resolução nesse sentido, e o seguro obrigatório vigoraria a partir de 1º de julho de 2014, mas agora há uma discussão para postergar essa decisão. Então, quanto mais gente fizer seguro, mais barato o

seguro vai ficar. E é claro que isso exigiria uma subvenção compatível, porque o volume de dinheiro colocado à disposição para isso nem sempre atende a toda a demanda do mercado. Agro DBO – Entre o seguro subsidiado brasileiro e o seguro dos EUA (também subsidiado) quais as diferenças fundamentais? Guedes – A primeira e mais importante diferença é o seguro de renda. Dois anos atrás houve uma seca brutal nos EUA, ninguém quebrou e nem se desesperou, e no ano seguinte todo mundo plantou. Além disso, o que falta no Brasil para completar o sistema é o fundo de catástrofe. Isso já está aprovado por lei, há quase 4 anos, mas não foi ainda regulamentado. O fundo de catástrofe cobriria os riscos das seguradoras e resseguradoras em casos de grandes calamidades climáticas, secas ou enchentes generalizadas, e as seguradoras não correriam o risco de não poder honrar os compromissos com tantos agricultores ao mesmo tempo. Agro DBO – Os brasileiros, efetivamente, são avessos a fazer seguro? Guedes – Ainda são, mas lutamos para que essa idiossincrasia mude. Está mudando, aliás, somos otimistas nesse sentido. maio 2014 – Agro DBO | 33




Erosão

Vetiver, o capim campeão contra a erosão. Com raízes densas e profundas e sementes que não germinam, ele garante ótima barreira contra enxurradas.

Detalhe das mudas de capim Vetiver plantadas em terraço em área a montante de encosta degradada que sofreu deslizamento devido as fortes tempestades de janeiro de 2011 no município de Nova Friburgo, RJ.

Aluísio Granato de Andrade 1 Tiago de Andrade Chavez 2

A

s chuvas torrenciais, comuns na maior parte do território nacional, ao atingirem terras onde não são aplicadas práticas de conservação do solo e da água, acarretam a formação de enxurradas e a perda de até mais de 100 toneladas de solo/ha/ano dependendo da cultura, do sistema de manejo, do solo e do clima da região. Em mui36 | Agro DBO – maio 2014

tas situações, apenas mudando algumas técnicas de cultivo pode-se reduzir estas perdas para menos de 1 t, se aproximando do que ocorre normalmente em solos sob vegetação preservada. Apesar de ser um processo natural a erosão pode aumentar de intensidade devido ao uso de áreas de alta suscetibilidade à erosão e/ou de práticas agrícolas inadequadas. Para reverter esta situação é necessário aplicar práticas de manejo que possibilitem a manutenção e/

ou melhorias na estrutura do solo e na sua capacidade de infiltração de água. Dessa forma, deve-se evitar revolver o solo, mantendo-o sempre coberto, seja com cobertura morta ou viva. Isso reduz o impacto das gotas de chuva e impede que as partículas que compõem os agregados se separem e acabem entupindo os poros naturais do solo ou sendo transportadas para as partes baixas do terreno ou ainda para dentro de rios, lagos e reservatórios.


Além de buscar formas de cultivo que mobilizem o mínimo possível o solo, como o sistema de plantio direto, é importante também implantar barreiras ao escoamento superficial, visando evitar a formação de corredeiras d’água e aumentar a infiltração e o armazenamento de água no solo. Mesmo em áreas onde o sistema de plantio direto é adotado, a partir de determinado comprimento de declive, a capacidade da cobertura do solo em dissipar a energia erosiva da enxurrada pode ser superada, facilitando o arraste de plantas, restos culturais e de partículas do solo. A formação de barreiras vivas com o capim Vetiver tem se mostrado uma alternativa de baixo custo e de fácil adoção pelo agricultor para conter a ação nociva das enxurradas sobre o solo. Erosão: um dos maiores inimigos da agricultura tropical A erosão compreende o processo de desagregação, transporte e deposição de partículas do solo podendo ser diferenciada entre erosão geológica ou natural e erosão antrópica ou acelerada. A erosão geológica ocorre em condições naturais, no decorrer de longos períodos de tempo (milhões de anos) modificando a geomorfologia da superfície terrestre. Já a erosão antrópica ou acelerada é provocada por atividades humanas que causam aumento na velocidade dos processos erosivos, causando a degradação do solo e dos recursos hídricos em curtos períodos de tempo (meses ou anos). O processo erosivo pode se tornar mais intenso quando o solo fica desprotegido de cobertura vegetal (após desmatamento) e/ou quase sem nenhum resíduo (após queimada) e ainda recebe aração e gradagem morro abaixo ou já se encontra compactado, devido ao superpastoreio ou ao excesso de tráfego de máquinas. As gotas de chuva, ao atingirem solos com estas práticas inadequadas, acarretam a desagregação das partículas do solo

e o entupimento dos poros, formando um encrostamento na superfície. Estas alterações na estrutura e na porosidade do solo promovem redução na taxa de infiltração de água e, consequentemente, um aumento do escoamento superficial, causando a formação de enxurradas e o assoreamento dos recursos hídricos e enchentes em áreas rurais e urbanas. Dependendo da forma de atuação dos processos de transporte de partículas do solo a erosão pode ser denominada de laminar, em sulcos, ravinas e até mesmo voçorocas. A erosão laminar acarreta perdas mais superficiais, de forma mais homogênea. Já a erosão em sulcos ocorre em locais de concentração da enxurrada, escavando o solo em canais. Esses canais ou sulcos podem aumentar de tamanho devido à continuidade do processo, podendo formar ravinas e voçorocas, as quais são consideradas a expressão mais grave da erosão. Dentre as principais causas da formação de enxurradas e consequentes danos causados pela erosão, pode-se destacar: • falta de planejamento de uso agropecuário das terras, onde áreas inaptas para a agricultura, de alta suscetibilidade à erosão, são utilizadas indiscriminadamente;

• desmatamento seguido de queimada, deixando o solo exposto à chuva, ao sol e ao vento; • preparo do solo e plantio feitos morro abaixo, o que facilita o direcionamento das águas do escoamento superficial aumentando a quantidade e o volume das enxurradas sobre o terreno; • superpastoreio, ou o excesso de tráfego de máquinas, que acabam acarretando a compactação do solo, redução da infiltração de água e aumento das enxurradas. Barreiras vivas contra as enxurradas Para se garantir maior eficiência na proteção do solo e reduzir a ação da enxurrada é necessário compartimentalizar o comprimento do declive em áreas menores, seja através de barreiras físicas, como terraços e valetas, ou com barreiras vivas, como o plantio em faixas e os cordões vegetados. As barreiras vivas são estruturas vegetais dispostas no sentido transversal ao fluxo descendente das águas pluviais superficiais que se formam sobre o solo em períodos de chuvas intensas. Sua função principal é reduzir a velocidade e o volume do escoamento superficial, impedindo a formação de enTouceira de capim Vetiver com 20 meses após plantio.

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Erosão vivas, auxiliam na demarcação de divisas e também como abrigo de inimigos naturais de pragas das outras culturas.

Barreira com capim Vetiver e paliçada de bambu 30 meses após plantio em encosta degradada que sofreu deslizamento devido as fortes tempestades de janeiro de 2011 no município de Nova Friburgo, RJ.

xurradas e/ou reduzindo sua ação em solos já degradados. Estas barreiras formam um terraço natural, contribuindo também para reter sedimentos, restos culturais, defensivos e fertilizantes e aumentar a infiltração de água no solo, evitando a contaminação e o assoreamento dos recursos hídricos. Podem também estar associadas a outros dispositivos que auxiliam na dissipação da energia erosiva e no ordenamento das águas pluviais superficiais, como terraços, valetas, muros de pedra e paliçadas. A combinação dessas Detalhe da coroa do sistema radicular do capim Vetiver parcialmente exposto após escavação superficial em solo arenoso.

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medidas físicas com as barreiras vivas, como os cordões com capim Vetiver são mais eficientes do que quando utilizadas isoladamente, principalmente em áreas com limitações para construção de terraços, com impedimentos à mecanização, como as de declividade acentuada, com solos rasos ou com alta pedregosidade. Além de exercer função importante para o controle da erosão, as barreiras vegetais também atuam como quebra vento, reduzindo o ressecamento do solo e o tombamento de plantas; como cercas

O capim Vetiver O capim Vetiver apresenta papel de destaque em relação a outras plantas usadas para a formação de barreiras em função principalmente de sua alta rusticidade e adaptabilidade a diferentes condições de solo e clima, crescimento rápido e enraizamento profundo. Originário da Índia, o capim Vetiver foi classificado inicialmente como Vetiveria zizanioides pertencente a família das Gramíneas, posteriormente foi reclassificado como Chrysopogon zizanioide, da família das Poaceas. É uma planta perene e pode alcançar entre 1,5 a 2,0 metros de altura, com colmos finos, eretos e resistentes, que funcionam como retentores de sedimentos e resíduos e dispersores de enxurrada. Possui grande densidade de raízes, em formato de cabeleira, podendo chegar a 5 metros de profundidade, com resistência a trações equivalentes a 1/6 da resistência do aço doce. Essa caracteristica auxilia na fixação do solo e na formação de uma barreira ao fluxo descendente subsuperficial, garantindo maior infiltração de água e também incremento de matéria orgânica ao solo através da degradação das raízes mortas. A parte da coroa de seu sistema radicular fica abaixo da superfície do solo, possibilitando maior resistência a queimadas, a geadas ou ao pisoteio de animais. Apesar de produzir floração e sementes, estas não germinam, são estéreis, o que mantém o capim Vetiver somente na linha de plantio onde se deseja formar a barreira viva, eliminando possibilidades de se tornar uma planta invasora. É considerado bastante tolerante a condições adversas, na qual a maioria das plantas apresentaria dificuldades para se estabelecer e


A erosão pode se tornar mais intensa quando o solo fica desprotegido de cobertura vegetal ou sem nenhum resíduo. se desenvolver, como longos períodos de seca e inundações, em solos bastante ácidos (pH 3,5) até muito alcalinos (pH 12,5), temperaturas muito baixas (-15° C) até bem elevadas (55° C) e ampla faixa de altitude, desde 0 até 2800 metros. Além de sua função no controle da erosão o capim Vetiver também apresenta potencial para exploração comercial. O óleo extraído de suas raízes é bastante utilizado pela indústria de perfumes, apresentando também propriedades medicinais, com bom valor de mercado. Suas folhas são utilizadas para fabricação de artesanato e cobertura de casas. Manejo de barreiras com Vetiver Para a formação das barreiras deve ser realizado o plantio do capim Vetiver preferencialmente no início da estação chuvosa por meio de mudas sadias produzidas em sacolas espaçadas de 15 a 20 cm em linha. Caso se tenha dificuldades para produzir ou obter mudas em sacolas, o plantio também poderá ser feito através de mudas retiradas de touceiras com pelo menos dois perfilhos e parte da coroa e plantadas diretamente em covas ou sulcos, sendo recomendado reduzir o espaçamento entre mudas para 10 cm. O plantio deve ser realizado em sulcos, ou em covas, adubados de acordo com as necessidades identificadas na análise do solo. Em geral se recomenda adubar com 40-60 kg/ha de P2O5 e 30-40 kg/ha de K2O, e 30 kg/ha de N, em cobertura três meses após o plantio. Para solos mais degradados incluir de 0,5 a 1 litro de esterco bovino ou composto por cova. As barreiras com o capim Vetiver devem ser instaladas seguindo as curvas de nível do terreno, dependendo da situação, como áreas com voçorocas onde se deseja desviar o escoamento superficial

Barreira com capim Vetiver instalada junto a fruteiras na região serrana fluminense.

a montante; estas barreiras podem ser implantadas com um pequeno desnível (3% a 5%), direcionando as águas do escoamento superficial para bacias de captação e/ou para locais de drenagem natural. Para se definir a distância entre os cordões vegetados deve-se analisar um conjunto de informações, como a inclinação do terreno, a taxa de infiltração de água no solo, os índices pluviométricos, o estado de degradação do solo, seu uso atual e futuro. Quanto mais inclinada ou mais degradada for a área mais cordões com capim Vetiver deverão ser instalados. Em geral pode se seguir as mesmas recomendações para os terraços de base estreita, variando de 5 a 10 m. Para áreas destinadas a recuperação ambiental e/ou manejo agroflorestal a função principal dos cordões vegetados com capim Vetiver é propiciar condições para o estabelecimento inicial das mudas de espécies arbóreas e/ou arbustivas. Posteriormente, com o crescimento das árvores e/ou arbustos o capim Vetiver reduz seu desenvolvimento e pode até morrer depen-

dendo do grau de sombreamento sobre as touceiras. Em locais onde se deseja que as barreiras fiquem de forma permanente é necessário o controle de plantas de espécies trepadoras e das espécies de porte alto, que podem sombrear as barreiras e prejudicar seu desenvolvimento. Uma vez ao ano podem ser submetidas a poda, devendo ser realizada adubação em cobertura de acordo com interpretações de análise do solo. O material extraído da roçada ou poda pode ser utilizado para artesanato, produção de composto ou para formação de cobertura morta sobre o solo. Em geral, após 6 meses do plantio as mudas já se transformaram em touceiras que vão fechando os vazios entre elas e formando uma barreira contra a erosão, sendo observado resultados mais eficazes após 1 ano. Por todas as razões apresentadas, o Vetiver é o capim campeão contra a erosão. * os autores são engenheiros agrônomos, sendo (1) pesquisador da Embrapa Solos (Rio de Janeiro), e (2) consultor do Programa Rio Rural-Pesagro-Rio.

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Mecanização

Selecionando seu futuro trator Se você vai comprar mais um trator, conheça critérios práticos; nem sempre a melhor solução é um trator de grande porte. Amílcar Centeno *

N

* O autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

a edição anterior discutimos sobre a real necessidade de adquirir ou não um trator, bem como as alternativas para evitarmos, ou pelo menos adiarmos, um investimento dessa ordem. Caso após uma boa avaliação a decisão seja mesmo a de adquirir um novo trator, a principal questão passa a ser a seleção da melhor alternativa. Não existe uma receita pronta ou uma resposta padrão para esta questão, uma vez que a melhor escolha dependerá das condições específicas da operação, como as culturas envolvidas, o sistema de manejo, a disponibilidade e a qualificação da mão de obra e, muito importante, a qualidade dos serviços de assistência técnica da marca escolhida do trator na região. Tudo isso deve ser muito bem avaliado e comparado com o preço e condições de pagamento, de modo a poder comparar preço e valor e tomar a melhor decisão. Mesmo entendendo que a decisão é muito pessoal e específica, podemos oferecer alguns pontos para reflexão e avaliação. Certamente, uma das primeiras questões é quanto à potência do trator a ser adquirido. Um ponto fundamental é manter em perspectiva o fato de que o trator não se paga com dinheiro ou crédito: o trator se paga trabalhando, e quanto mais horas você colocar no seu trator ao longo do ano, mais rapidamente ele irá se pagar, retornando o capital empatado na sua aquisição. Isso se deve ao fato de

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que as despesas fixas (depreciação, juros, seguro, garagem etc.) são diluídas no número de horas trabalhadas ao longo do ano. Dessa forma, um trator muito potente, que executa com folga as operações, mas trabalhando poucas horas por ano, será um trator muito caro e que demorará muitos anos para se pagar. Por outro lado, um trator muito pequeno poderá aumentar muito o risco de não se realizar todas as operações no perío­do recomendado. Para resolver esta questão é fundamental entender qual a operação crítica dentro de todo o seu processo de produção, ou seja, qual a operação que demanda toda a capacidade do seu trator. No plantio direto, esta operação costuma ser a

semeadura, que deverá ser executada dentro de uma janela ideal, que normalmente não é maior do que 3 a 4 semanas. Desse modo, deve-se dimensionar as plantadeiras para executar a operação dentro deste prazo e depois selecionar os tratores necessários para tracionar estas plantadeiras na velocidade adequada. Caso esta seja de fato a sua operação crítica, as demais operações deverão ser realizadas com folga pelos mesmos tratores. Cabe uma observação adicional: caso seja possível, evite a aquisição de um trator pequeno para as atividades leves e outro de grande porte para as operações pesadas. Geralmente isso é possível quando não se executam duas atividades simultâneas com o mesmo trator.


Isto porque, eventualmente, este trator pequeno será provavelmente muito caro, pois terá poucas horas de operação ao longo do ano. Quando visitamos o Meio Oeste dos Estados Unidos, paradigma mundial de bom uso de máquinas, frequentemente é possível encontrar tratores de grande porte, mesmo os grandes tratores articulados, tracionando implementos tão leves quanto uma capinadeira ou um pulverizador. Conversando com estes produtores, eles facilmente demonstram que um pequeno incremento no consumo de combustível é mais do que compensado pelo aumento nas horas de operação e a consequente diluição dos custos fixos. Isto é ainda mais evidente nos dias de hoje, pois os tratores de grande porte, principalmente os de origem norte-americana, já são projetados também para estas tarefas mais leves. Normalmente, apesar do grande porte, possuem excelente vão-livre e pequeno raio de giro, de modo a permitir o trabalho de cultivo ao longo da safra. O uso de sistemas de controle eletrônico na injeção de combustível também permite ajustar o motor para operações leves, aproximando o consumo destes tratores daqueles de menor porte. A introdução dos pilotos automáticos também permitiram a operação precisa destas grandes máquinas em operações de cultivo, evitando o pisoteio das plantas. Caso se pretenda operar estes grandes tratores na pulverização, é importante obter uma tomada de potência econômica (TDP-E), que permite obter a rotação nominal (540 ou 1000 rpm) com o motor em rotação e consumo reduzidos. Definidas as operações a serem executadas, e a potência do trator, é preciso decidir sobre outras especificações fundamentais, das quais gostaríamos de enfatizar duas: a transmissão e os rodados. Ao selecionar a transmissão mais adequada é preciso observar o escalonamento de marchas. Um

bom trator deve ter o número e a sobreposição de marchas necessárias a executar todas as tarefas numa rotação e velocidades adequadas. Analise o gráfico de marchas e veja se é possível obter a velocidade adequada com o motor num regime de operação apropriado. Cuidado com alguns gráficos de marchas que são preparados com uma faixa muito ampla de rotações, dando a falsa ilusão de que é possível operar o trator a qualquer velocidade. Para as operações mais leves, observe as velocidades que você pode obter nas diversas marchas com o motor num regime um pouco acima da rotação de torque máximo, algo entre 1700 a 2000 rpm. Para as operações mais pesadas esta rotação deverá estar mais próxima da potência máxima, acima das 2000 rpm.

dos rodados mais adequados, pois estes se constituem na principal engrenagem do trator. São eles que transformam a potência e o torque do motor e da transmissão em força de tração. Não faz o menor sentido investir em motores e transmissões de alta performance e economizar nos rodados. Além do tamanho apropriado, eles devem ter um desenho adequado às operações a serem realizadas. Por exemplo, se estamos buscando um trator que faça tanto operações pesadas como também o cultivo, devemos optar por rodados mais altos e estreitos. Caso a potência seja muito elevada, podemos utilizar estes rodados em configuração dupla. Mesmo nas operações pesadas os rodados mais altos e mais estreitos são mais eficientes do que os rodados baixos e largos.

Um trator pequeno pode aumentar muito o risco de não se realizar todas as operações Quanto ao sistema de troca de marchas, é importante levar em consideração o preparo de seus operadores. Caso seu operador tenha experiência e saiba ajustar a marcha e a rotação do motor para obter a melhor performance, vale a pena investir numa transmissão servo-assistida (powershift), pois assim ele conseguirá manter as condições mais adequadas para operar com a maior velocidade e o menor consumo de combustível. Caso seus operadores não estejam preparados para isso, é melhor economizar e adquirir uma transmissão mecânica; assim, defina a melhor marcha para cada operação, mantendo-a fixa ao longo do trabalho. Uma alternativa para compensar esta falta de preparo é investir numa transmissão automática, em que a melhor marcha é definida pelos sistemas inteligentes do trator, sem a interferência do operador. Uma última recomendação: coloque muita atenção na seleção

Caso sua preocupação seja a compactação do solo, não olhe para o formato do pneu, mas para a pressão de inflação, pois esta é que será proporcional à pressão de contato do pneu com o solo. Analise ainda a possibilidade de usar pneus radiais, estudos dos fabricantes indicam menor compactação e redução de consumo de combustíveis. Para finalizar, procure avaliar se você está utilizando a potência do trator de forma eficiente, ou se você se encontra sub ou super mecanizado. Um bom índice geral para essa avaliação é o que chamamos de potência específica, ou seja, o número de ha que você cultiva com a quantidade de hps disponíveis na sua frota de tratores. Compare este índice de sua propriedade com o de seus vizinhos, e veja como você está. Numa operação de produção de grãos em plantio direto, com uma jornada diária de 10 horas de trabalho, este valor normalmente está entre 2,5 e 3,0 ha/hp. maio 2014 – Agro DBO | 41


Safra

A escalada do algodão A pluma ganhou área do milho e da soja na segunda safra, marcada pela polêmica sobre os riscos do plantio da “sojinha” Marianna Peres

42 | Agro DBO – maio 2014


Felipe Barros/Ampa

Q

uem pôde fugir do milho no Centro-Oeste, especialmente como opção de cultivo de segunda safra, fugiu à cata de alternativas mais rentáveis. E mais por eliminação, do que propriamente condições ideais de mercado, os produtores optaram preferencialmente pelo algodão. Os três maiores produtores nacionais – Mato Grosso, Bahia e Goiás, pela ordem – ampliaram a superfície semeada com a pluma, acreditando que, mesmo com problemas climáticos, registros de ataques de pragas e incidência de doenças nas lavouras, a safra vai fechar a contento, tanto em expansão territorial quanto em volume de produção e qualidade da pluma. Quanto às cotações, caíram nos últimos meses, mas muitos cotonicultores garantiram a rentabilidade ao travar os preços no segundo semestre do ano passado, quando obrigados a definir o que plantar em sucessão à soja na safra em curso. Foi o que fez Alexandre Schenkel, produtor de grãos e fibra em Campo Verde (MT), a 139 quilômetros ao sul de Cuiabá. Ele aumentou em 52% a safrinha de algodão e reduziu na mesma proporção a de milho. A área cultivada com algodoeiros passou de 210 para 320 hectares. “Fiz essa opção pela garantia de preços para a pluma na hora em que fiz as travas. Não havia no segundo semestre do ano passado negócios para o milho”. Muitos produtores adotaram a mesma estratégia de Schenkel, fazendo com que o algodão voltasse a ser a segunda cultura de maior VBP – Valor Bruto da Produção em Mato Grosso, estado responsável por quase 56% da oferta nacional neste ciclo. Na virada de 2012 para 2013, os preços do milho indicavam rentabilidade certa ao produtor, fazendo com que a área destinada ao algodão na segunda safra fosse reduzida em mais de 26%, em favor do milho. A alteração levou o cereal a ultrapassar pela primeira vez o VBP do algodão, ao atingir receita de mais de R$ 9

Como muitos agricultores, Alexandre Schenkel fez travas no ano passado para garantir a rentabilidade.

bilhões, ante R$ 7 bilhões da pluma. Agora, o algodão retomou seu lugar e deve faturar quase R$ 10 bilhões em 2014, com o milho voltando à casa dos R$ 7 bilhões. Porém, nem tudo são flores – ou plumas, em Mato Grosso. Para obter o máximo desempenho no algodão, o trabalho no campo tem sido intenso, frisa Schenkel. Em relação ao desenvolvimento da lavoura, ele teve problemas com ervas daninhas, o que resultou em aumento de 5% no custo de produção, mesmo plantando 100% de variedades transgênicas. Conforme o Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária, o custo de produção nos algodoais foi recalculado em R$ R$ 7,79 mil por hectare, ante estimativa de R$ R$ 6,50 mil feita em novembro passado. Sobre pragas e doenças, Schenkel conta que a lagarta falsa-medideira (Pseudoplusia includens) foi a que lhe deu mais trabalho. “Mas tudo transcorreu bem; tive muito cuidado no manejo, fiz aplicações preventivas contra pulgões e ramulária”. Com a lavoura sob controle, espera por produtividade de 100 arrobas por hectare, sua média nos últimos anos. Ele cultiva algodão desde 1999. Em junho, começa a colher. Como explica o diretor executivo do IMAmt – Instituto Mato-Grossense do Algodão, Álvaro Salmaio 2014 - Agro DBO | 43


Fotos: Felipe Barros/Ampa

Safra

Opção estratégica Segundo entendimento entre produtores, a expansão do algodão, tanto em Mato Grosso como no restante do Brasil, nada tem a ver com a mudança no preço mínimo da arroba, “porque o preço é um seguro, não um motivador para se plantar mais”, como diz Álvaro Salles. O preço mínimo ficou ‘congelado’ por mais de dez anos. Recentemente, passou de R$ 44,60 para R$ 54,90 a arroba. “Plantar soja e milho era menos arriscado e oferecia margens melhores em 2012, quando a safra foi planejada e plantada. Para a safra plantada em 2013 e colhida em 2014, foi o inverso; a melhor garan44 | Agro DBO – maio 2014

tia de liquidez estava com a soja e o algodão”. O secretário executivo da Ampa – Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão, Décio Tocantins, afirma que o algodão virá com pluma de qualidade. “A planta adora sol, água e calor em sua fase vegetativa e teve isso tudo, especialmente na safrinha. Espero por uma boa safra em volume e qualidade, com micronaire (índice conhecido como “finura da fibra”), resistência, uniformidade, comprimento e brancura. Tudo nos leva para uma safra de qualidade, tão boa quanto ou até melhor que a do ano passado”. Como justificativa para seu otimismo, Décio alega que há um conjunto de fatores para se acreditar em produção de qualidade, como bom

Os cotonicultores esperam pluma com alta qualidade, resistência, uniformidade, comprimento e brancura.

Soqueira de algodão mal manejada: porta aberta para a entrada de doenças e pragas.

Wanderlei Dias Guerra

les, cerca de 70% da área plantada no estado é de safrinha. A cultura está se desenvolvendo com cerca de 15 a 20 dias de atraso, porque as fortes chuvas registradas entre fevereiro e março retardaram a colheita da soja, atrasando, consequentemente, o plantio da fibra em relação ao seu histórico. “O algodão não tolera muito o excesso de chuvas e alagamentos, e fica muito suscetível à mela e fungos de solo, pois as chuvas aterram a folha. Do final de março a meados de abril, o clima normalizou e agora todos acreditamos numa safra muito boa, especialmente em qualidade de pluma”, avalia.

manejo de herbicidas e reguladores de crescimento. “A pluma da safra passada teve excelente qualidade, elogiada no mercado internacional. Mas o diferencial do algodão é que não existe produto ruim. Tem comprador pra todo tipo de fibra. É claro que quando ela tem qualidade superior se obtém preços superiores”. Para o presidente da Cooperfibra – Cooperativa dos Cotonicultores de Campo Verde, José Carlos Dolphine, é o preço o que mais preocupa no momento. No ano passado, a arroba estava entre R$ 65,00 e R$ 66,00 no disponível e R$ 62,00 e R$ 65,00 no futuro. Nesse ano as médias estão abaixo desse patamares, com o futuro entre R$ 54,00 e R$ 55,00. De acordo com a Conab, a área de algodão no país será de 1,09


O bicudo é a praga mais temida pelos produtores, devido ao seu poder de destruição, dificuldade de controle, rápida multiplicação e proliferação.

Produção e pragas Como explica o assessor de Agronegócios da Aiba – Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia, Luiz Stahlke, o estado não faz safrinha. “A área varia em virtude de mercado e a rotação é sempre respeitada pelos cotonicultores. A safra de algodão está em andamento e a Helicoverpa presente, dando trabalho para controle e gerando aumento no custo de produção”. No ano passado, a praga quase que devastou a safra no estado, impondo perdas de mais de R$ 1 bilhão. “De lá pra cá, seguimos sem acesso ao benzoato de emamectina, que seria o princípio químico ideal ao combate à lagarta. O que mudou de uma safra para outra foi o nosso aprendizado. Aqui, nós aprendemos a lidar com a lagarta na marra, com erros e acertos. Mas temos toda uma lavoura de algodão a se desenvolver

Agopa/Divulgação

e na medida em que a soja e o milho vão deixando o solo, todas as pragas dessas culturas vão migrando para a pluma, incluindo mosca branca e bicudo. No ano passado, a quantidade mínima de agroquímicos que a pluma recebeu contra a Helicoverpa foi de 15 aplicações de inseticidas”. Os baianos estão finalizando a safra de grãos e devem começar a colher algodão no final deste mês de maio ou início de junho. Em Goiás, as lavouras de algodão estão se desenvolvendo bem de forma geral, como aponta o gerente executivo da Fundação Goiás, Davi Laboissiére. “Ainda é cedo para especular sobre a produção. No nosso estado, boa parte da área é semeada como segunda safra, portanto as lavouras são relativamente novas. A expectativa é que produzamos mais pluma, comparando-se com a safra 2012/13, pois a área semeada aumentou cerca de 12%. A estiagem castigou algumas áreas semeadas como primeira safra, e, no início de fevereiro, detectamos algumas regiões com índices pluviométricos insatisfatórios, prejudicando o desenvolvimento inicial do algodão de segunda safra”, disse Laboissiére, ressaltando, porém, que os índices de precipitação voltaram ao normal a partir de março, ajudando a recuperar as lavouras. Segundo ele, os

Bicudo em ação: em muitas regiões, é a praga mais persistente nos algodoais e a mais difícil de controlar.

Agopa/Divulgação

milhões de hectares, 22,4% acima dos 894,3 mil cultivados na safra 2012/13. Mato Grosso apresenta incremento de 30% na área, passando de 475,3 mil para 617,9 mil hectares. A Bahia, segundo maior produtor nacional, revela incremento de 17,3%, saindo de 271,4 mil para 318,4 mil. Em Goiás, a lavoura deve crescer 12%: de 46,1 mil hectares para 51,6 mil.

Lavoura de algodão destroçada, com maçãs apodrecendo por excesso de umidade após longo período chuvoso.

goianos tiveram dificuldades para controlar as infestações de bicudo, lagartas, mosca branca, pulgões e ácaros. “Atualmente, a praga que tem demandado maior atenção por parte dos produtores é o bicudo, devido ao seu poder de destruição, dificuldade de controle, rápida multiplicação e proliferação. Os índices vêm aumentando em algumas regiões, principalmente nas propriedades com grandes quantidades de algodão germinado em beira de rodovias e no interior das propriedades (carreadores e em talhões de soja principalmente). Outra praga que vem demandando frequentes aplicações é a falsa-medideira, que já veio provocando danos e prejuízos aos cotonicultores”. Ele acrescenta que as lagartas do gênero Helicoverpa estão presente nas propriedades, mas sem causar grandes prejuízos. “De qualquer forma vale o alerta ao produtor, pois trata-se de uma praga de difícil controle e com alta capacidade de dispersão”. Embora a área de algodão tenha crescido no estado, a cultura de maior prevalência na segunda safra goiana é o milho, conforme o consultor da Faeg – Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, Cristiano Palavro. “Os casos de soja sobre soja foram raríssimos, pois os produtores sabem dos problemas que esta prática pode causar”. Ele explica que, apesar de o milho não estar com mercado atrativo, o algodão é maio 2014 - Agro DBO | 45


Safra tos, mais baixo neste ano, frente às incertezas do mercado”. Mato Grosso do Sul é a única exceção entre os produtores de algodão do Centro-Oeste, já que a lavoura encolheu do ano passado para cá. Conforme a Conab, a área caiu 5,1%, passando de 39,5 mil hectares para 37,5 mil Apesar do tombo, é a cultura que domina a segunda safra dos sul-mato-grossenses. Conforme levantamento da Famasul – Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul, houve quem

Lagartas resistentes Segundo levantamento do IMAmt – Instituto Mato-Grossense do Algodão, de 20% a 30% da safra cultivada no estado é convencional e esta porção está sofrendo ataque severo das lagartas falsa-medideira (Pseudoplusia includens) e do cartucho (Spodoptera spp), aumentando as despesas dos cotonicultores. Até a primeira dezena de abril, cerca de cinco aplicações haviam sido registradas, em média, nessas lavouras. Conforme o IMAmt, menos de 1% da safra é de algodão Bollgard II (Bt2), tolerante à lagarta. Não houve relatos de aplicações. Mas a maioria do algodão cultivado o estado é WideStrike, o chamado WS, que tem dado trabalho aos cotonicultores, com registro de incidência e danos consideráveis provocados por ataques de lagartas-do-cartucho. Segundo muitos produtores, está sobrando lagarta no milho transgênico e ela está migrando para o WS. Além da Spodoptera, há registros de incidência da falsa-medideira, de Helicoverpa zea e Helicoverpa armigera, as duas últimas espões sob controle nesta safra. Na opinião do diretor executivo do IMAmt, Álvaro Salles, “é cedo para estimar o real custo de produção desta safra. O que se sabe é que o atraso no plantio vai demandar mais aplicações e é ai – até pela possibilidade de mais pragas e doenças – que o custo segue em aberto, mas com certeza será maior que o da safra passada”. E geral, cada aplicação custa entre US$ 30 e US$ 50 por hectare, dependendo do produto utilizado. A região sul de Mato Grosso é atualmente a mais castigada por essas pragas.

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Agopa/Divulgação

Wanderlei Dias Guerra

“Cabelos” de milho, com intensa postura de Helicoverpa (os pontinhios brancos).

Agopa/Divulgação

Wanderlei Dias Guerra

uma cultura limitada a um pequeno nicho de produtores – é opção apenas para quem possui equipamentos e estruturas suficientes. “Por isso, não tivemos mudança na configuração da nossa safra, apesar da incerteza causada pelos preços baixos do milho no ano passado, no momento da tomada de decisão sobre o que plantar no ciclo 2013/14. Em geral, a área destinada ao milho foi praticamente a mesma do ano passado, em torno de 850 mil hectares. Uma diferença foi o nível de investimen-

Milho guaxo, onde a Helicoverpa se abriga para depois atacar outras culturas, como o algodão e o sorgo (acima, da esquerda para a direita).

plantasse soja sobre soja, mas foram poucos – a área não chega a 10 mil hectares. O milho segunda safra ocupa 1,5 milhão de hectares no estado, praticamente a mesma área do ciclo passado. A polêmica safrinha O coordenador da CDSV – Comissão de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, alerta: a situação fitossanitária no estado é preocupante e deve ficar pior a cada safra. “A segunda safra está infestada de lagartas. O plantio de soja sobre soja, o milho e a soja guaxos e a má destruição das soqueiras de algodão estão dando sobrevida ao fungo da ferrugem, à Helicoverpa e às pragas de modo geral. A CDSV estuda proibir o plantio de soja a partir de 31 de dezembro”, anuncia, inconformado com a decisão de muitos produtores de cultivar soja na safrinha, “sinônimo de perdas, seja do ponto de vista financeiro, seja produtivo”, segundo ele.


(tais plantas tornam-se hospedeiras do fungo causador da ferrugem e o perpetuam), temos uma doença cada vez mais agressiva e virulenta”. A Aprosoja/MT – Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso estima que cerca de 120 mil hectares tenham sido cultivados com a oleaginosa na segunda safra, um recorde para o estado no período. “Não queremos tirar o direito do produtor de exercer a atividade que melhor lhe convier. Mas é preciso ter responsabilidade com sua propriedade e com a vizinha. Esse plantio não pode ser motivo para propagar doenças. Agronomicamente, até esse momento, eu não vejo impedimento em fazer soja sobre soja. Até porque é soja sobre soja sobre soja. Ele plantou soja no ano

Folhas de soja com alta taxa de infecção por ferrugem e plantas guaxas à beira da estrada - moradia e alimentação gratuita para fungos e insetos.

Desolado, Wanderlei Dias Guerra examina uma lavoura de “sojinha” tomada pela ferrugem.

Wanderlei Dias Guerra

Dias Guerra lembra do peso que a safrinha de soja carrega. No final da safra normal, as plantas já estão com cinco ou seis aplicações de fungicida, a contar de novembro, quando em geral recebe o primeiro tratamento. “O cenário que se desenvolve é o seguinte: os esporos que sobreviveram ficam mais resistentes. A ferrugem é uma doença policíclica, a cada 15 dias tem um ciclo novo, ou seja, durante o desenvolvimento da safra temos oito ciclos de 15 dias; então são oito aplicações. A soja safrinha vem de uma sequência de aplicações, com fungos menos sensíveis ao fungicida e que vão se desenvolver e esperar pelo novo ciclo da soja principal. É esse esporo menos sensível ao produto que sobrevive na safrinha. E é esta ferrugem menos sensível ao fungicida que fica se multiplicando e gerando esporos cada vez mais agressivos, que exigirão mais aplicações a cada safra. O problema é que, além do maior desembolso financeiro, a safrinha de soja começa a ficar estressada pela quantidade de aplicações e acaba não tendo a eficiência precisa e a produtividade esperada. Com esse quadro, agravado pelas plantas guaxas na entressafra

Wanderlei Dias Guerra

Wanderlei Dias Guerra é taxativo: “Em poucos anos, os produtos que plantaram soja sobre soja vão pagar pelo que estão fazendo agora”

passado, plantou na safrinha e no segundo semestre vai plantar de novo. Mas não vamos debater isso de forma aleatória e na base do achismo. Vamos pedir a intervenção de técnicos do Ministério da Agricultura e dai nos posicionarmos quanto a essa questão”, frisa o presidente da entidade, Carlos Fávaro. Para Dias Guerra, a grande questão é a diferença entre a visão de curto e longo prazos. “Hoje a Aprosoja/ MT argumenta que a sojinha (soja na segunda safra) permite a viabilidade financeira do produtor. Isso no curto prazo é verdadeiro, mas até quando a viabilidade econômica será permitida? A visão da entidade é de curto prazo. Os nematoides dependem de raiz verde para se multiplicar, a Helicoverpa e a mosca branca também dependem de planta verde para se multiplicar, pode até haver renda, mas a que custo, já que a safrinha de soja potencializa as doenças e pragas presentes na cultura?”. O que tem de ficar claro, segundo ele, é que 5% de área plantada de soja põe em risco e compromete 100% dos hectares plantados na safra. “E tem mais: não temos muitas opções de combate à ferrugem; deve haver cerca de 30 produtos no mercado e desses, uns seis funcionam mais ou menos. E um fungo mais resistente ao fungicida vai colocando por terra os únicos produtos que ainda funcionam. A sojinha está matando a possibilidade de renda”. maio 2014 - Agro DBO | 47


Aviação

Rasante contra mitos Sistematicamente criticado por ONGs e ambientalistas, o segmento aeroagrícola brasileiro abandona a posição defensiva e contra-ataca. Ariosto Mesquita

A

aviação agrícola partiu para o combate com uma arma de eficiência qualitativa para ganhar pontos com a opinião pública: a certificação. Com isso, ela busca destruir ou pelo menos reduzir conceitos e mitos, como a suposta relação direta entre aplicação aérea de defensivos e envenenamento de alimentos, animais e até seres humanos. Esta ofensiva conta com a participação de um pequeno exército de organizações, uni-

O professorr João Paulo da Cunha, da UFU, lamenta a desinformação: “Infelizmente, as pessoas acham que defensivo agrícola é veneno”.

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Fotos Ariosto Mesquita

Vinte empresas do Brasil já foram chanceladas com o CAS - Certificado Aeroagrícola Sustentável , Nível I.

versidades e entidades diretamente envolvidas nos estudos e práticas da atividade. Entre eles estão o Sindag – Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola, a Andef – Associação Nacional de Defesa Vegetal, a Unesp/Botucatu – Universidade Estadual Paulista (campus de Botucatu), a Fepaf – Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais, a UFLA – Universidade Federal de Lavras e a UFU – Universidade Federal de Uberlândia. A mobilização e a organização legal do processo para a concessão das certidões começaram em 2013 e culminaram no dia 10 de abril deste ano, com a divulgação oficial da lista com as primeiras 20 empresas brasileiras chanceladas com o CAS – Certificado Aeroagrícola Sustentável em Nível I. São prestadoras de serviço aéreo de pulverização de lavouras sediadas em setes estados brasileiros: RS, SP, MS, MT, TO, RR e GO, totalizando 90 aeronaves e 87 pilotos. Das primeiras 25 organizações inscritas no programa, cinco não conseguiram aprovação. Neste primeiro nível as empresas são avaliadas quanto

à documentação legal para operação. No segundo semestre deste ano aquelas já certificadas podem pleitear a patente de Nível II (aplicação de curso e avaliação da qualidade tecnológica). O documento de Nível III e último será concedido a partir de 2015 para aquelas que já tiverem conquistado as duas primeiras certidões. Nesta etapa, a avaliação será concentrada em equipamentos, instalações e procedimentos, com inspeção a campo. A qualificação do setor aeroagrícola brasileiro através da certificação tem pelo menos três focos primários: responsabilidade e sustentabilidade das operações, elevação da qualidade e eficácia das pulverizações e redução de riscos de impacto ambiental. A adesão ao CAS é voluntária, mas objetiva se constituir em um diferencial de mercado para as empresas e de segurança para o agricultor e a sociedade. “Ao contratar serviços aeroagrícolas certificados, o produtor rural leva também um pacote de boas práticas, de cumprimento da legislação e de eficácia nos resultados”, afirma o gerente de Educação da


Andef, Fábio Kagi. De acordo com o integrante da coordenação do CAS, professor Wellington Pereira Alencar de Carvalho (UFLA), para obter a certificação a empresa tem de se inscrever e obedecer a uma série de procedimentos, custos e a um cronograma de atividades. “Para a obtenção do Nível I a taxa é de R$ 300,00, com renovação anual; no Nível II o valor é de R$ 3.000,00, incluído o curso. Neste caso não há renovação, a não ser que a empresa perca o funcionário que tenha passado pelas etapas do curso com a devida aprovação. Para o Nível III a certificação está estimada em R$ 3.000,00, com renovação a cada dois anos”, explica. O professor João Paulo Rodrigues da Cunha, da UFU, um dos coordenadores do CAS, admite que é seguidamente questionado por trabalhar diretamente com uma área que, supostamente, seria prejudicial

ao ambiente e ao homem: “Infelizmente, as pessoas consideram defensivos agrícolas como venenos, e o que é pior: espalhados em grande volume e com grande alcance por aviões”. Cunha não descarta riscos. “Estes produtos podem ter efeitos bons ou maus, dependendo da forma como são utilizados. Perigo existe dentro da nossa própria casa se a gente não souber usar um inseticida ou fazer uma dedetização”. No caso da aplicação aérea, o professor lembra que o foco deve ser sempre a praga e não o ambiente. “Em resumo, temos de gerar gotas que atinjam o alvo”. Neste sentido, a atividade lida com alguns fatores limitantes, como vento, temperatura e umidade. Um desequilíbrio entre eles pode provocar a evaporação da gota antes de chegar ao alvo ou mesmo a chamada “deriva”, que acontece quando as gotas são deslocadas para longe do

alvo, atingindo outras áreas. Essas variações podem, neste caso, provocar danos em culturas próximas e sensíveis ao produto, contaminação de águas superficiais e contato com animais e pessoas. “Por isso, diante de algumas situações climáticas, não se deve fazer aplicações agrícolas”, avisa Cunha. A situação ideal para operação, segundo ele, estaria dentro do seguinte quadro: umidade relativa do ar mínima de 55%, velocidade do vento de até 12 km/hora e temperatura abaixo de 30 graus. Para a tomada de decisão sobre fazer aplicação terrestre ou aérea, o produtor rural é orientado a levar em consideração uma série de fatores. “Ele deve avaliar a disponibilidade do serviço, presença de pista de pouso, alvo, cultura, possibilidade de entrada de pulverizadores terrestres, tempo disponível, tamanho da área, condições de trafegabilidade e

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Aviação O segmento aeroagrícola fatura cerca de R$1 bilhão ao ano, gera R$ 250 milhões em impostos e oferece 8 mil empregos diretos.

urgência do serviço”, diz o professor da UFU. A coordenação do CAS estima que hoje o custo de aplicações agrícolas varie entre R$ 20,00 a R$ 50,00 por hectare coberto. Dentre as eventuais vantagens da operação aérea estãoo custo proporcionalmente mais baixo na cobertura de grandes áreas, menor tempo de aplicação e a não ocorrência de amassamento da lavoura e compactação do solo. Além da aplicação de defensivos agrícolas líquidos e sólidos (em pó ou granulados – como a isca inseticida, por exemplo), a aviação agrícola também é utilizada para semeadura, fertilização, inspeções de propriedades, na disseminação de maturadores, no combate a incêndios rurais e como ferramenta para serviços de previsão de safra. O anúncio das primeiras empresas certificadas mesclou um pouco de teoria e prática. Aconteceu no dia 10 de abril no hangar da Sana Agro Aérea, em Leme (SP). Enquanto os

professores do CAS detalhavam os procedimentos, pilotos e técnicos cuidavam dos detalhes de uma exibição de aplicação aérea dentro das normas estabelecidas em lei, com controle de eficiência e de segurança. Foi utilizada uma aeronave Ipanema movida 100% a etanol carregada com 500 litros de água (somente para exibição). Em terra, a eficiência da aplicação em vôos rasantes foi medida através de papéis hidrossensíveis. Neles ficam registrados os tamanhos das gotas. As menores, por exemplo, geralmente têm um nível melhor de penetração em vários estágios do alvo, mas estão sujeitas a maior deriva. Uma das principais observações foi quanto à capacitação para operação da aeronave. “Primeiro você tem de ser um profissional de aviação comercial, para só depois pensar em entrar na área agrícola, onde se voa a 200 km por hora a uma distância de três metros do solo”, alerta Leonar-

Painel do Ipanema, linha de aplicação de gotas sob a fuselagem do avião e papel hidrosensível, para medir as gotas.

Verdades sobre a aviação agrícola* Mito: Aplicação aérea não permite boa deposição de calda no alvo.

Verdade: A aplicação aérea é uma ferramenta técnica viável e que permite bons resultados quando feita dentro dos critérios técnicos.

Mito: Aplicação aérea é cara e somente é viável em grandes áreas.

Verdade: O preço da aplicação depende de vários fatores e em diversos caos pode ser mais viável economicamente do que a aplicação terrestre.

Mitos: Aplicação aérea gera muita deriva

Verdade: A aplicação aérea é segura quando feita seguindo os critérios técnicos e a legislação. *Segundo o professor João Paulo Rodrigues da Cunha (UFU)

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do Coronet, há sete anos piloto da Sana. Coronet classifica a atividade como de “alta responsabilidade ambiental” e, por isso mesmo, garante que conhecimento nunca é demais dentro do ofício: “não precisa, mas facilita muito entender um pouco de agricultura”.Para os interessados na atividade, o profissional da Sana avisa que a remuneração está longe de ser desprezível: “Hoje se paga ao piloto de 15% a 20% do faturamento da aeronave, o que varia entre R$ 80.000 a R$ 160.000 anuais, dependendo da empresa”. De acordo com o Sindag, o segmento aeroagrícola no Brasil fatura perto de R$ 1 bilhão/ano, gerando em torno de R$ 250 milhões em impostos e oferece cerca de oito mil empregos (pilotos, agrônomos, técnicos agrícolas, auxiliares, mecânicos, etc). Existem 227 empresas registradas na Anac, proprietárias de 1.214 aviões regularizados em operação que, juntos, voam aproximadamente 500 mil horas/ano. Levantamento feito junto ao RAB pelo Portal Agronautas contabiliza em dezembro de 2013 um total de 1.925 aviões agrícolas (entre regulares e irregulares), sendo 1.187 de fabricação nacional (61,66%). Mato Grosso é o primeiro colocado no ranking dos estados com maior número de aeronaves agrícolas: 446 aviões. Na sequência aparecem Rio Grande do Sul (411), São Paulo (268), Goiás (234), Paraná (138), Mato Grosso do Sul (95) e Bahia (92).


Artigo

Produção de rainhas As ciências agrícolas começam a encontrar soluções para ajudar a natureza a sobreviver, diante de tantos desequilíbrios.

Foto Cristiano Menezes

Décio Luiz Gazzoni *

A

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

agricultura, tal qual a conhecemos, não existiria sem polinizadores. Eles são responsáveis por garantir a reprodução de muitas plantas, com intercâmbio genético entre indivíduos, permitindo a produção de grãos ou frutos. Na Europa, o serviço ambiental de polinização foi estimado em 150 bilhões de euros, que o agricultor deixa de pagar a cada ano. O avanço das cidades e das áreas agrícolas está diminuindo o espaço para os polinizadores e os cientistas se preocupam cada vez mais, com este problema. Um exemplo de polinizador ameaçado é o de abelhas sem ferrão, como a jataí (Tetragonisca angustula) e a uruçu (Melipona scutellaris) que, além de produzir mel, são importantes polinizadoras de plantas de berinjela, morangueiro, tomateiro e cafeeiro, entre outras culturas. É muito difícil produzir colônias para atender à grande demanda, já que

uma característica dessas espécies é a baixa produção de novas rainhas. Entretanto, dois cientistas, meus amigos, encontraram uma fórmula que deve solucionar o problema. A Dra. Vera Imperatriz Fonseca é professora aposentada da USP, mas continua muito ativa. Ela orientou a tese de pós-graduação do Dr. Cristiano Menezes, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Jaguariúna (SP), que desenvolveu uma metodologia de produção artificial, em larga escala, de rainhas da espécie Scaptotrigona depilis, conhecida como mandaguari. As colônias se compõem de 10 mil operárias, medindo 5 mm cada, e por uma rainha, com 1,5 cm, a única com capacidade de pôr ovos. Tradicionalmente, uma colônia é dividida ao meio para originar outra, com uma nova rainha. Mas isto só é possível de ser feito uma vez a cada ano. O trabalho do Dr. Menezes consistiu em fornecer a larvas recém-nascidas uma quantidade seis vezes maior de alimento do que o inseto está acostumado a ingerir. Dessa forma, todas as abelhas fêmeas, superalimentadas, se tornam rainhas, e 98% das novas rainhas formaram colônias.

O conceito está demonstrado. Agora, o Dr. Cristiano se dedica a aprimorar o método e desenvolver uma tecnologia simples, barata e eficiente, que permite a agricultores, ou a empresários interessados em um novo negócio, produzir continuamente novas rainhas, que darão origem a novas colônias de mandaguari. Uma das preocupações é automatizar o processo, conferindo escala industrial. Assim, métodos de criação, não apenas da mandaguari, mas de outras espécies de abelhas sem ferrão serão desenvolvidos. A primeira cultura a ser trabalhada foi o morangueiro, mas será necessário estudar a sua aplicação para outras culturas. Também é fundamental ter certeza que os agrotóxicos mais utilizados na cultura não afetarão o desenvolvimento das colônias e a prestação de serviços ambientais. Para tanto, testes estão sendo realizados em estufas, com a cultura do morango, para que o agricultor disponha da informação. Segundo o Dr. Cristiano, o uso das colônias para polinização do morango aumentou a colheita entre 20% e 40%, e diminuiu em até 80% a má formação de frutos. Quando poucas abelhas visitam a flor do morango, elas realizam a polinização de apenas uma parte da inflorescência, fazendo com que os frutos fiquem deformados. Resultados semelhantes são esperados para outras culturas que necessitam de polinizadores, permitindo aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos agrícolas. maio 2014 – Agro DBO | 51


Milho

C Recordes com irrigação Apesar da estiagem no final de 2013 e calor excessivo em determinados momentos, os gaúchos colheram 5,3 milhões de toneladas. Gustavo Paes 52 | Agro DBO – maio 2014

conforme levantamento da Emater/RS, o total obtido na safra de verão representa queda de 0,78% em relação à safra passada. A notícia não é ruim, dado que houve recuo de 9,9% na área cultivada. A boa produtividade é explicada pelo uso de tecnologia de ponta, com o emprego de sementes apropriadas, adubação pesada e sistemas de irrigação. Comparativamente à temporada anterior, o rendimento foi 10% superior. A pequena propriedade do agricultor Benjamin Sartori, na localidade de Linha Vista Alegre, em Pejuçara, município situado no noroeste do estado, serve de exemplo de como a irrigação pode alavancar a produção de milho. Há dois anos, Benjamin, de 72 anos, e os filhos Flávio, 37, Tiago,


Pedro Revillion/Palácio Piratini

31, e Moacir, 28, usam pivôs para irrigar as lavouras de milho, soja, cevada e trigo. Na propriedade de 300 hectares, eles irrigam 120. A família Sartori foi a primeira a financiar equipamento de irrigação pelo programa Mais Água, Mais Renda, do governo estadual. Eles investiram R$ 954,9 mil em um sistema de aspersão, financiados pelo Badesul, e estão comemorando os resultados. “É o segundo ano que trabalhamos com irrigação e já sentimos bastante a diferença. As lavouras não irrigadas apresentaram uma quebra de quase 50% na produtividade”, afirma Tiago, que continuou o trabalho junto com os irmãos depois que o pai se aposentou. O milho foi semeado entre 29 de agosto e 3 de setembro. As variedades escolhidas foram a P1630, da

DuPont Pioneer, um híbrido simples hiperprecoce indicado para os plantios na região Sul, e a DKB 240, da Dekalb, divisão de sementes de milho da Monsanto. A P1630 foi plantada em 20 hectares, enquanto a DKB 240, uma variedade precoce, foi semeada no restante da área. Os Sartori realizaram a colheita entre 30 de janeiro e 5 de fevereiro. A produtividade média da lavoura irrigada foi de 233 sacas por hectare para o híbrido da Pioneer e 221 para o da Dekalb. “A média foi muito boa. Tivemos um ano positivo e o cereal se comportou bem”, avalia Tiago. No estado, o rendimento médio em lavouras irrigadas variou de 200 sacas/ha (12 mil quilos) a 220 sacas (13,2 mil quilos), segundo a Apromilho – Associação dos Produtores de Milho do

Rio Grande do Sul. Na safra 2012/13, no primeiro ano em que usaram irrigação, os Sartori colheram uma média de 201 sacas/ha. “O investimento para a compra dos sete pivôs e uso de genética está se pagando”, observa o produtor. Ele lembra que o rendimento da plantação de milho sequeiro não ultrapassava as 100 sacas/ha. “A nossa média oscilava de 88 a 100 sacas. Com a irrigação, podemos aumentar a nossa produção de 90 a 100 sacas por hectare. Com esse resultado, o milho deixa de ser apenas um cultivo para rotação e se torna economicamente viável”, festeja Tiago. O uso de irrigação deu mais segurança aos Sartori, que só de oito anos para cá começaram a investir mais em tecnologia. “Além do risco, o custo da lavoura de milho é mais alto do que a de soja”, compara Tiago. Segundo ele, na safra 2013/14, um hectare de milho irrigado exigiu R$ 2,2 mil em insumos. “Já a soja variou de R$ 1,4 mil a R$ 1,6 mil”. A área cultivada com o cereal não ultrapassava 30 hectares, mas a boa produtividade nos últimos anos fez com que os Sartoti fossem aumentando o espaço destinado ao milho. “Para a próxima safra, vamos ampliar a área em mais 10 hectares”, adianta Tiago, mostrando que a família prefere a cautela na hora de planejar os negócios. A produção dos Sartori é entregue à Cotripal – Cooperativa Agrícola de Panambi. Neste ano, por conta da oferta do milho safrinha de Mato Grosso, eles tiveram dificuldades na hora da venda e receberam R$ 24,00 por saca, R$ 5,00 a menos do que na safra anterior. Mas nada que desestimule os três irmãos de Pejuçara. “Mesmo assim, o milho ainda é a melhor alternativa para pagar o investimento com novas tecnologias, já que ele permite dobrar a produção e ainda possibilita implantar uma safrinha de soja após a lavoura de milho”, diz Tiago, que espera uma boa colheita da oleaginosa. “Se o tempo colaborar, vamos colher um safrão de soja, porque a plantação, de 40 hectares, está muito bonita”, festeja. maio 2014 - Agro DBO | 53


Milho

Pedro Revillion/Palácio Piratini

A família Dallazen conseguiu 411,6 sacas/ha em condições excepcionais, em talhão experimental. A meta “pé no chão” é chegar a 300 sacas/ha.

Os Sartori posam para fotógrafos e cinegrafistas na cerimônia de abertura oficial da colheita, realizada na propriedade da família, em Pejuçara.

A combinação do uso do híbrido P1630H, adubação e irrigação também foi a receita do sucesso na propriedade da família Dallazen, de Palmeira das Missões, na região norte do estado. A colheita alcançou produtividade média de 411,6 sacas/ha em uma pequena área experimental. Dos cerca de 4,5 mil hectares plantados pela família, 1,2 mil são irrigados por pivô central e, destes, 750 foram destinados ao milho nesta safra, conforme o representante comercial da DuPont Pioneer, Álvaro Beck. Além do milho, na propriedade também são cultivados soja e trigo. Para a adubação e manejo da área de milho, Beck relata que a família utilizou sete toneladas por hectare de esterco de aviário, 400 quilos da formulação 12-30-20, 100 de cloreto e 500 de ureia super N (duas aplicações a lanço), além de duas aplicações de fungicida e outras duas de inseticida. Em condições normais, e com a irrigação disponível, os resultados já seriam considerados excelentes, visto que

54 | Agro DBO – maio 2014

essas áreas de pivô atingiram médias entre 255 e 270 sacas por hectare. Porém, o destaque desta área está em 6,5 hectares com transpasse de pivôs, em área duplamente irrigada. Acreditando no potencial genético do híbrido que seria plantado, o produtor decidiu fazer um experimento, aumentando ainda mais os níveis de adubação. Ele utilizou cerca de 650 quilos por hectare de adubo no plantio, 200 de cloreto e 750 de ureia super N (50% a mais do que no restante da área). Ao iniciar a colheita da área, notou que sete minutos eram suficientes para encher o graneleiro de 180 sacas de sua máquina. Então resolveu colher esta área separada do restante e se surpreendeu com a produtividade: 411,6 sacas/ha. “Foi uma colheita impressionante”, ressalta. “Plantada com espaçamento de 45 centímetros entre linhas e com população inicial de 88 mil plantas, as espigas se cruzavam, impedindo a passagem pela lavoura”. O produtor pretende buscar uma média de 330 sacas/ha para a safra 2014/2015.

Beck acredita que é possível alcançar esta produtividade, já que existem pivôs na propriedade onde já são colhidas médias de 270 sacas/ ha por hectare. “O agricultor vai colocar mais ureia e adubo e irrigar a área com mais frequência para alcançar o rendimento de 330 sacas por hectare, tendo o cuidado de manter o solo sempre úmido, mas sem encharcá-lo”, adianta. O P1630 é um híbrido simples hiperprecoce com elevado potencial produtivo e responsivo ao incremento de tecnologias de manejo, recomendado para o período normal de plantio na região sul do Brasil, incluindo RS, SC e PR. Apresenta alta estabilidade dentro do segmento hiperprecoce com excelente qualidade de grão e sanidade de colmo. Metas alcançadas A irrigação também vem mostrando excelentes resultados em Seberi, na região do Médio Alto Uruguai, próximo à divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Na propriedade do agricultor Fábio Fabris Hulk, 350 hectares são irrigados com pivôs. A maior área – 250 hectares – é ocupada com milho, e o restante, com soja. Na safra 2013/2014, o agricultor, que há cinco anos integra o Clube da Irrigação, usou o híbrido DKB 240 PRO 2, da Dekalb. A média de produtividade foi de 285 sacas/ha (17,1 mil quilos), mas a colheita teve picos de 340 sacas (20,4 mil quilos). “Não tivemos problema com a falta de chuvas e a nossa produtividade foi muito boa”, comemora. Em 2009, Hulk ingressou no projeto “Desafiando os Limites da Produtividade”, da Dekalb, que tinha como objetivo produzir 300 sacas/ha de milho. A iniciativa foi um sucesso e, um ano mais tarde, deu lugar ao Clube da Irrigação, uma parceria entre o Sistema Far-


Safra auspiciosa Com cerca de 1,3 milhão de hectares plantados na safra 2013/2014, os gaúchos deverão colher 5,3 milhões de toneladas do cereal. Mesmo com a estiagem e o forte calor ocorrido no começo deste ano, muitas regiões do estado vêm obtendo produtividades médias acima do esperado pelos analistas. Exemplo dessa situação é a região administrativa da Emater de Santa Rosa, que abrange 45 municípios da Fronteira Noroeste e das Missões, com 152,5 mil hectares cultivados. A estimativa inicial apontava 3,8 toneladas/ha (64,6 sa-

Pioneer/Divulgação

versificação de culturas e é o maior ingrediente para a produção de ração de aves e suínos. Embora venha perdendo espaço para a soja (a estimativa é de que cerca de 700 mil hectares de milho foram ocupados pela oleaginosa no estado nas últimas duas décadas), o milho ocupa 20% do total das áreas semeadas com cultivos de primavera-verão, conforme números da Emater-RS. No Rio Grande do Sul, a cultura é típica da pequena propriedade rural: mais de 80% dos estabelecimentos que cultivam milho possuem menos de 50 hectares. Esses estabelecimentos respondem por 67,9% da área total cultivada e por 62,7% da produção, de acordo com o último levantamento do IBGE. Além do peso econômico, o milho tem grande importância social: no Rio Grande do Sul, a maioria das propriedades tem menos de 50 hectares de área.

A irrigação pode multiplicar os índices de produtividade, dependendo dos níveis de tecnologia usados na lavoura.

cas), mas a média atual gira ao redor dos 5,3 toneladas/ha (88,3 sacas). Na região administrativa de Ijuí, que abrange 46 municípios das regiões Celeiro, Nordeste Colonial e Alto Jacuí, houve prejuízos com a seca. Em Catuípe, Ajuricaba e parte de Condor, alguns produtores não colheram mais do que 30 sacas/ha. A falta de recursos para investir em tecnologia e, principalmente, a ausência de chuvas, foram os grandes vilões. “A estiagem pegou a lavoura na fase de floração e espigamento e provocou uma queda na produção”, explica o engenheiro agrônomo Gilberto Bortolini.

Fockink/Divulgação

sul, Universidade Federal de Santa Maria e as empresas Fockink, Stara, Dekalb e Mosaic. O Clube da Irrigação tem por objetivo integrar tecnologias para o aumento da eficiência do campo, reunindo empresas e produtores para buscar grande produtividade. Antes de entrar no programa, o produtor colhia, em média, 180 sacas/ha de milho em áreas irrigadas. A média saltou para 280 sacas. “Com um custo de 50 sacas de milho a mais por hectare, nós conseguimos agregar 100 sacas em produtividade”, calcula. “A lavoura de milho irrigado é altamente viável, porque o produtor tem uma garantia”, diz Hulk, lembrando que o estado costuma sofrer com longas estiagens durante os meses de verão. Nos primeiros anos, foram implantadas áreas experimentais irrigadas com pivô central em propriedades rurais na Metade Norte do estado, onde foram obtidos picos de produtividade de até 280 sacas/ha de milho. Na safra de grãos 2013/14, o grupo realizou intervenções em quatro lavouras de milho nos municípios de Nonoai, Bagé, Seberi e Cachoeira do Sul, e em quatro lavouras de soja em Seberi, Santo Augusto, Pejuçara e Cachoeira do Sul, todas em áreas irrigadas por pivô central. O objetivo era alcançar produtividade de 300 sacas/ ha de milho e 120 sacas/ha de soja. O presidente do Clube da Irrigação, João Augusto Telles, do Senar-RS, comemora os bons resultados com o uso da tecnologia. “Essa é a quarta safra do Clube e o nosso desafio esse ano era superar 300 sacas de milho por hectare e estamos satisfeitos de ter batido esta meta”, explicou Telles. “O uso da irrigação é uma garantia de aumento da produtividade. Nós tratamos a água não apenas como algo para combater a seca, mas como um insumo de alta produtividade e tecnologia”, acrescenta. A cultura do milho para o Rio Grande do Sul apresenta significativa importância socioeconômica. O cereal é usado na rotação e di-

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Fotos Pioneer/Divulgação

Milho

No entanto, a média de produtividade na região – onde foram plantados 110 mil hectares com o grão –, ficou em 120 sacas por hectare. “A média foi elevada para cima pela produtividade alcançada pelas lavouras de milho irrigado”, avalia Bortolini. Em Santo Augusto, produtores chegaram a colher 150 sacas/ ha (9 toneladas). Já em Fortaleza dos Valos, a média ficou em 183 sacas (11 toneladass) e em Cruz Alta, 133 sacas (8 toneladas). Estudos mostram que, em cada dez anos no Rio Grande do Sul, ocorrem estiagens em sete, com seca de grande proporção em dois destes sete anos. A estimativa é de que, nos últimos 25 anos, o estado perdeu 50 milhões de toneladas de grãos. Por conta desse problema, há dois anos o governo do estado vem estimulando os produtores a irrigar suas lavouras. O desafio não é pequeno, já que dos 429,9 mil estabelecimentos agrícolas existentes, apenas 26,8 mil (6,2%) utilizam algum tipo de irrigação. Hoje, o estado possui 100 mil hectares irrigados (sem contar a área de arroz, com mais de um milhão de hectares) em cultivos de grãos, como soja, milho e feijão, além de hortifrutigranjeiros e pastagens para o gado. Os programas Mais Água, Mais Renda, da Secretaria da Agricultura, e Irrigando a Agricultura Fami56 | Agro DBO – maio 2014

liar, da pasta de Desenvolvimento Agrário, têm aquecido a indústria gaúcha. Tanto que uma empresa que fabrica pivôs esteve operando em três turnos para atender a demanda dos produtores de milho e soja. Aproximadamente 1,3 mil pivôs saíram da linha de montagem e foram adquiridos por produtores com financiamento do governo. Atualmente, existem quase três mil projetos de irrigação em análise no estado, pleiteando as facilidades oferecidas pelo Mais Água, Mais Renda. Somente na região de Ijuí, a Emater-RS elaborou 257 projetos de irrigação, dos quais 194 eram do programa Irrigando a Agricultura

A safra de verão no Rio Grande do Sul foi calculada em 5,3 milhões de toneladas de milho. Se toda a área fosse irrigada, o estado produziria cerca de13 milhões.

Os gaúchos dispõem hoje de 100 mil hectares irrigados e quase três mil projetos em análise, pleiteando financiamento.

Familiar e 63 do Mais Água, Mais Renda, que oferece financiamento para açudes até 10 hectares e área irrigada até 100. Em Pejuçara, onde ocorreu a abertura da colheita, 13 pequenos produtores rurais tiveram seus projetos concluídos pela Emater/RS-Ascar, segundo o técnico agrícola da instituição, Gustavo Basso. “Cinco pivôs já estão funcionando, quatro estão em fase de instalação e os demais estão sendo analisados pelo Badesul”. Para o presidente da Apromilho, Cláudio Luiz de Jesus, o governo acerta ao complementar com políticas públicas os esforços empregados na lavoura de milho. “Irrigação, tecnologia de semente e assistência técnica são fundamentais para melhorar a produção”, destaca o dirigente. Jesus garante que o estado tem potencial para sair do patamar aproximado de 5,4 milhões de toneladas, projetadas para a atual safra de milho. “As áreas irrigadas estão se destacando aqui no Rio Grande do Sul, com potenciais de 12, 15, 17 toneladas por hectare. Outras áreas, com menores índices, tiveram rendimento em torno de 9 e 10 toneladas”, revela. “Não é sonhar demais. Se tivéssemos toda a área de milho irrigada, iríamos colher 13 milhões de toneladas”. Transgênicos em alta Na safra 2013/14, foram disponibilizadas aos produtores de milho brasileiros 467 cultivares (12 a menos do que na safra anterior), das quais 253 transgênicas e 214 convencionais. Pela primeira vez, o número de cultivares transgênicas foi maior do que o de convencionais. “O uso de OGMs já é uma realidade no Brasil. Os produtores estão preferindo as novas tecnologias como forma de aumentar a produtividade de suas lavouras, com o controle das lagartas”, afirma a pesquisadora Jane Machado, da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas (MG). A especialista observa que a adoção de sistemas de irrigação é uma


No Brasil, planta-se milho em 2,03 milhões de propriedades, a maioria, pequenas. As médias e grandes respondem por 40% da produção. to será essa redução. “Ainda é cedo para fazer previsão, mas se a soja seguir valorizada, os produtores vão preferir plantá-la”, argumenta.. A resposta é produtividade Os agricultores brasileiros mais tecnificados conseguem produtividades em torno de nove toneladas/ ha com milho irrigado, sementes apropriadas, uso de plantio direto e condução da lavoura em sistema de rotação milho-soja. Rendimento semelhante ao alcançado pelos produtores norte-americanos, de 9,5 toneladas/ha. Para a safra 2014/15, os Estados Unidos esperam melhorar este número e colher, em média, 9,6 toneladas/ha. “O problema é que no Brasil há uma desuniformidade das médias, ao contrário dos Estados Unidos”, salienta Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômicas. “Aqui, uns produzem muito e outros, pouquíssimo”, completa o analista. Jane Machado, da Embrapa Milho e Sorgo, concorda. “Estamos bem atrasados se formos comparar as nossas médias com as dos EUA. O produtor de milho no Brasil colhe, em média, de 6 a 7 toneladas por hectare”, diz Jane. Na safra 2013/14, a produtividade média

O produtor brasileiro colhe de 6 a 7 toneladas de milho por hectare, em média. O norteamericano, 9,5.

foi ainda menor, de 5,2 toneladas. A explicação, segundo ela, é que boa parte do milho brasileiro é cultivado em pequenas propriedades, sem o uso de tecnologia, e se destina à produção de silagem ou ração para os animais. “Muitos produtores ainda estão naquela produção mais antiga, convencional. Poucos enxergam a propriedade como uma empresa. Precisamos especializar estas propriedades”, frisa. No Brasil, 2,03 milhões de propriedades se dedicam à produção de milho. Deste total, 1,3 milhão possuem até 20 hectares. Na safra 2013/14, cerca de 50 mil propriedades com área superior a 200 hectares concentram quase a metade da produção brasileira. “Essas médias e grandes propriedades são responsáveis por 40% da produção. Esta discrepância é o que explica a diferença entre as produções do Brasil e a dos EUA”, conclui Cogo. O consultor Paulo Molinari, da Safras & Mercado, entende que os produtores brasileiros devem apostar em tecnologia. “O resultado do milho vem inicialmente da produtividade. Milho de baixa tecnologia não consegue competir com outras culturas. A resposta é investir em produtividade”.

Pedro Revillion/Palácio Piratini

tendência em todo o Brasil, especialmente nos estados do Sul, que sofrem com longos períodos de seca. “A estiagem, dependendo da época de plantio, pode provocar danos irreparáveis na lavoura de milho, com perdas de 60% a 80% da produção, conforme a duração e a gravidade do fenômeno”, diz Jane. “O uso da irrigação traz mais segurança e permite maior produtividade”, acrescenta. Além da implantação de sistemas de irrigação, os produtores têm de fazer um manejo adequado para escapar das secas. “A época de semeadura deve ser observada”, explica Jane. No Sul do Brasil, o milho geralmente é plantado de agosto a setembro e, à medida que segue para os estados do Centro Oeste e Sudeste, a época de semeadura varia de outubro a novembro. “No Rio Grande do Sul, é mais comum o plantio do cedo – de agosto a setembro –, com a colheita entre fevereiro e março, mas alguns agricultores, como os produtores de fumo, plantam milho em dezembro ou janeiro”, destaca. A pesquisadora diz que a safra 2012/13 foi marcada pelos ataques da lagarta Helicoverpa armigera nas lavouras de milho. Na safra 2013/14, o problema foi o excesso de chuvas durante a implantação e a fase de vegetação das lavouras de milho safrinha no Mato Grosso, o que deve reduzir a produtividade. O atraso da soja fez com que os produtores plantassem milho fora da janela ideal. “Os tratos culturais foram prejudicados”, explica Jane. Em função destas adversidades e da opção dos produtores pela soja, ela vislumbra uma nova redução da área plantada com milho no Brasil. “Nos últimos anos, tivemos pequenas reduções da área e essa tendência deve continuar na safra 2014/15”, projeta a especialista. Ela, contudo, não arrisca dizer de quan-

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Análise de mercado

Briga por território Mágoas e interesses políticos à parte, os preços do açúcar devem subir em 2015, após quatro anos consecutivos com excedente de produção.

O

ano de 2014 representa um ponto de inflexão importante para o mercado de açúcar. Isto ocorre por vários motivos. Basicamente, vimos que, desde 2011, os preços no mercado internacional oscilam dentro de uma Linha de Tendência de Baixa (LTB) de longo prazo. No ano passado, completamos o terceiro ano deste ciclo de baixa. Este ano de 2014 é definido como o quarto ano, período no qual o ciclo deve começar a esboçar uma reação, visto que a transição de um ciclo de baixa de quatro a cinco anos não ocorre da noite para o dia. O gráfico do contrato continuo da Bolsa de Nova York mostra que os preços encontraram

um suporte ao redor de US$ 0,16, o qual representa exatamente o ponto de inflexão da curva de baixa. A fase em que nos encontramos no momento – segundo trimestre de 2014 –, é a de estabilidade pós-queda. Podemos dizer que agora estamos nos recuperando e deixando para trás a LTB do início de 2011. O próximo passo passa a ser o de construção de uma escalada altista nos preços, a qual deve ser de longo prazo. Porém, ela será vista somente a partir de 2015. É exatamente isto que as entidades representativas de classe e empresários do setor (com algumas exceções) não entendem, ou fingem não entender. Um exemplo disso é o pessimismo generaliza-

do quanto aos investimentos do setor em renovação e expansão, feitos atualmente em níveis mínimos, mais em função de redução dos custos marginais de produção do que por expectativa de rentabilidade do açúcar ou do etanol. Outro exemplo é o que ocorreu com a Bunge no inicio do quarto trimestre de 2013. O segmento de açúcar representou a única fonte de prejuízo para a trader norte-americana em 2012 e 2013. O simples fato de a Bunge anunciar venda de seus ativos em açúcar é emblemático, porém a falta de compradores para estes ativos deu um tom ainda mais dramático para o segmento – não para a Bunge, que certamente sobreviverá aos prejuízos com seus

SOJA –

Os preços oscilaram bastante em abril. O clima quente e seco em abril favoreceu os trabalhos a campo, fazendo com que safra fechasse ao redor de 87 milhões de toneladas, pressionando os preços para baixo. A estimativa de redução nas exportações, feita pela Abiove, e a desvalorização do dólar frente ao real, contribuiram para o viés de baixa. Os estoques, porém, continuam apertados e devem ajudar a sustentar as cotações.

* Em 17/4, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 72,00 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

TRIGO – Apesar do fraco movimento do mer-

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cado interno, os preços domésticos continuaram firmes em abril, sustentado por estoques baixos. Segundo analistas do Cepea, esse cenário deve se manter até o final da entressafra. Na próxima temporada, no entanto, pode haver aumento da oferta, com expectativa de crescimento da área no Brasil e na Argentina. A proximidade da colheita de inverno nos EUA pressiona os preços para baixo, mas a tendência ainda é altista.

* Em 17/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 843,10 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor à prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ARROZ – Os preços subiram em abril, graças a demanda firme no mercado interno. O clima ruim no Rio Grande do Sul atrasou os trabalhos de colheita, limitando a oferta. Sem massa de manobra, os produtores optaram por fazer caixa com outros produtos agropecuários – soja e carne (gado), por exemplo. Na parcial da primeira quinzena de abril, o Indicador Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias-BM&FBovespa (Rio Grande do Sul, 58% grãos inteiros) registrou alta de 3,35%.

* Em 17/4, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 35,30 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado investimentos em açúcar. Esses fatos, ocorridos no final do ano passado, ainda encontram equivalentes neste inicio de 2014. Prova disto é o bate-boca unilateral entre o setor e o governo federal, o qual é acusado de prejudicar a cadeia produtiva sucroalcoleira. O ponto alto desse imbroglio foi uma entrevista da presidente executiva da Unica, Elizabeth Farina, ao jornal Folha de São Paulo, publicada na primeira quinzena do mês passado, com acusações de que a política federal está – praticamente de forma deliberada –, provocando a “quebra” do setor, juntamente com insinuações de “mágoa” do governo federal com o segmento. Para quem gosta de ver o circo pegar fogo, melhor impossível. Ao que parece, o setor tem culpado o governo federal por priorizar uma fonte de recursos energéticos de maior eficiência, valor agregado e demanda do que o etanol, e isto aconteceu exatamente em um momento de ciclo de baixa nos preços do açúcar. Esta infeliz

coincidência fez com que o setor sucroalcooleiro ficasse sem saída, prejudicado pela queda nos preços do açúcar de um lado, e pelo controle dos do combustível fóssil de outro. O setor se viu flanqueado, atacado por dois lados ao mesmo tempo, sendo que um destes ataques, na visão míope da categoria, era causado pela mudança de rumo na condução da política de combustíveis. Na verdade, o problema central e foco de toda esta confusão é o ciclo de baixa dos preços internacionais do açúcar, o qual fez o estresse com a política de combustíveis se acentuar ao nível de tensão máxima no mercado doméstico brasileiro. A expectativa é que, com a retomada do ciclo de alta para o açúcar em 2015, estas tensões se amenizem, mesmo com a eventual continuidade política a partir de outubro deste ano. Maurício Muruci Analista da CMA/Safras&Mercado

AÇÚCAR – Os preços médios no mercado spot paulista mantiveram-se

estáveis em abril, com demanda restrita e oferta limitada pelo clima chuvoso – a colheita parou em algumas regiões produtoras de cana, obrigando as usinas a paralisar as atividades. Especialistas projetam melhora nas cotações a médio e longo prazos. A produção nacional de açúcar será menor na safra 2014/15, a moagem também cairá e a safra será, mais uma vez, alcooleira, abrindo cenário de recuperação das cotações do cristal. No curto prazo, a tendência é de estabilidade nos preços, com pequena variação para cima.

* Em 17/4, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 51,77 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

ALGODÃO – As cotações preços seguiram

* Em 17/4, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 207,58 centavos de real por libra-peso.

em trajetória de queda na primeira quinzena de abril, devido a maior oferta da pluma no mercado internacional, estoques elevados e perspectivas de alta produção no Brasil – desolados com os preços baixo do milho, os produtores aumentaram a área de algodão. A tendência é baixista também a médio prazo, dada a expectativa de ofertas volumosas nos próximos meses, com a entrada da safra 2013/14.

* Em 17/4, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 473,80 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

CAFÉ – Os preços do arábica oscilaram bastante em abril, interna e externamente, devido as incertezas sobre o tamanho da safra brasileira. Na parcial do mês (até 23/4), o menor preço registrado pelo Indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, foi o dia 2, de R$ 391,08, e o maior, o do dia 23, de R$ 494,95. Se a produção for menor do que o projetado, vai impactar os estoques e a oferta, provocando uma explosão nos preços. MILHO – Os fundamentos do mercado em

* Em 17/4, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 31,18 por saca de 60 kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

abril lembraram uma gangorra. A oferta mais elevada, derivada da entrada do milho verão, derrubou as cotações, mas o anúncio do USDA de estoques mundiais baixos segurou a queda. A produção maior nos estados do Sul (fator de baixa) foi contrabalançada pela safra menor no Centro-Oeste e perspectivas de quebra no Sudeste. Resultado: empate. Os preços no curto prazo dependerão muito da demanda internacional.

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Novidades no campo Caçamba para o agronegócio

Gotejador de alta turbulência

A Fusco-Motosegura, empresa especializada no desenvolvimento de triciclos para transporte de cargas, criou a Caçamba Agro, projetada para facilitar os serviços em sítios, chácaras, fazendas ou áreas não asfaltadas. A carroceria é feita com chapas de aço fixadas em um assoalho de madeira. A estrutura pode ser acoplada a uma moto de 125 cilindradas. Segundo a empresa, o triciclo faz 25 km por litro, em média, e tem custo de manutenção reduzido: “80% das peças de reposição são do mercado automotivo e 20% de fabricação própria. Tivemos a preocupação em montar uma estrutura com componentes que podem ser adquiridos em qualquer região do país”, diz o diretorpresidente, Vladimilson Reis.

Anticorrosivo agroindustrial

Empresa do setor químico, há 31 anos no mercado brasileiro, a Quimatic Tapmatic apresenta o Protetivo Agro, um anticorrosivo para máquinas e implementos agrícolas, isento de substâncias tóxicas e metais pesados em sua composição. O produto forma um filme ceroso seco com alto ponto de fusão e adesão ao substrato metálico, de forma que não é removido mesmo quando exposto a altas temperaturas e fortes chuvas. Além disso, não atrai poeira, segundo a empresa. Depois de aplicado, seca em 12 horas. Não é necessário a sua remoção antes da utilização do equipamento.

A Netafim, empresa especializada em irrigação, lançou no Brasil o gotejador integral Aries, com tecnologia TurbuNext, capaz, segundo a empresa, de aumentar a turbulência na passagem da água, evitando que partículas de sujeira se acumulem e causem o entupimento dos tubos. Conforme texto de divulgação do produto, o emissor de égua conta com a maior área de filtragem da categoria, o que garante ótimo desempenho com água em condições adversas. “Outra vantagem do gotejador é possibilidade de uso em múltiplas safras, pois apresenta maior resistência a danos mecânicos. O Aries também é resistente a raios UV e aos nutrientes de uso padrão na agricultura”

Bomba contra estiagem

A Anauger apresentou na Agrishow 2014, realizada em Ribeirão Preto (SP), uma bomba submersa vibratória movida por energia solar. “Vimos nos primeiros meses do ano muitas culturas prejudicadas pela estiagem. O sistema Anauger Solar figura como solução, pois trabalha em potência máxima nos dias de clima quente e sol intenso, fazendo com que os agricultores possam obter até 8 mil litros de água/dia”, diz Marco Aurélio Gimenez, diretor comercial da empresa. A tecnologia funciona através de módulos solares fotovoltaicos, que transformam a energia solar em energia elétrica para acionar a bomba, que retira água de lençóis freáticos e a transporta até caixas d´água, reservatórios e cisternas.

Prensa para sucos

A VoranMachinery, empresa austríaca representada no Brasil pelo Grupo Kranz, de Treze Tílias (SC), lançou dois modelos de prensa de cinta para processamento de frutas. O equipamento está sendo importado em capacidades de processamento que vão 300 quilos por hora, com o modelo EBP 350, a seis mil quilos, no modelo BP 1200. De acordo com a Kranz, a nova prensa de cinta é econômica, versátil, durável, capaz de realizar prensagens de forma universal, com pequenos ajustes de uma fruta ou vegetal para outra, ou espremer simultaneamente diversos tipos de produtos, como morangos e maçãs, por exemplo, para produzir “mix” de frutas.

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Novidades no campo Algodão WideStrike

▶ TMG Divulgação

A TMG – Tropical Melhoramento & Genética apresentou seis novas cultivares de algodão transgênico com tecnologia WideStrike (resistente às lagartas) no Parecis SuperAgro, realizado de 13 a 16 do mês passado em Campo Novo do Parecis (MT): a TMG 11 WS, super precoce, para fechamento de plantio; a TMG 41 WS, de ciclo médio, resistente à ramulária, para plantio no meio (da janela de plantio); a TMG 42 WS, também de ciclo médio e resistente à ramulária; a TMG 81 WS, de ciclo tardio, com tolerância à nematoides, para abertura de plantio; a TMG 43 WS, de ciclo médio, resistente à ramulária, para plantio no meio(da janela de plantio), e a TMG 82 WS, de ciclo tardio, com tolerância à nematoides, para abertura de plantio.

A BlackSoil trouxe para o Brasil um novo conceito de plantio – a semeadura líquida –, sistema que permite a irrigação de arranque, aplicando água e/ ou fertilizante líquido diretamente ao sulco, logo após a inserção das sementes. Para atingir esse objetivo, a empresa desenvolveu um acessório que se encaixa em qualquer plantadeira. Os resultados foram “mais do que excelentes”, segundo a empresa: aumento de até 20% da produção com nível de germinação de 99,2%.

Opção para a rotação de culturas

A Embrapa Milho e Sorgo oferece aos agricultores nova cultivar de milheto, a BRS 1501, com ciclo de florescimento de 50 dias, maturação fisiológica de 80 a 100 dias, ótima capacidade de perfilhamento, altura média das plantas de 180 cm, grãos semiduros e 12% de teor de proteína, com potencial de produção de 1,5 tonelada por hectare. A BRS 1501 é recomendada para o CentroOeste, Sul e Sudeste do Brasil, mas pode ser cultivada em qualquer região. Um dos mais importantes benefícios do milheto é o controle de nematoides, por ser uma planta com baixo fator de reprodução desses microrganismos, diz Huberto Paschoalick, técnico da Embrapa Produtos e Mercado (escritório de Dourados, MS),

Embrapa Milho e Sorgo

Semeadura liquida

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Biblioteca da terra Alimentação sem glúten

Tomate orgânico irrigado

Obra dos pesquisadores Waldir Marouelli e Marcos Braga, da Embrapa Hortaliças, e Daniel Lage, da Agrícola Wehrmann, o livro Irrigação da cultura do Tomateiro Orgânico – Enfoque no manejo de doenças e insetos-pragas também aborda métodos de irrigação, critérios para escolha do sistema mais adequado, manutenção do equipamento, avaliação da necessidade de água e determinação de quando e quanto irrigar. A publicação, ao custo de R$ 8,40, mais despesas de postagem, está disponível na livraria virtual da Embrapa. O link é www.vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/consultaProduto.do?metodo=deta lhar&codigoProduto=00053760.

Uso de resíduos agrícolas

Lançamento da Embrapa Soja, o livro Orientações e receitas

para uma alimentação com soja e livre de glúten destina-se principalmente aos celíacos, pessoas com intolerância ao glúten, proteína encontrada em diversos cereais e seus derivados – massas, pizzas, bolos, pães, biscoitos, cerveja, uísque, vodka e alguns doces, por exemplo. Autoimune, a doença celíaca afeta o intestino delgado, interferindo na absorção de nutrientes essenciais ao organismo como carboidratos, gorduras, proteínas, vitaminas, sais minerais e água. “O único tratamento é a dieta”, afirma a pesquisadora Vera de Toledo Benassi, autora do livro. Ela explica que algumas farinhas permitidas na dieta sem glúten, como as de arroz, milho e mandioca, são geralmente ricas em amido, mas pobres em proteínas. “Por isso, as receitas contem soja, fonte de proteína de alto valor nutricional, além de vitaminas e minerais”, ressalta. O livro apresenta informações sobre a doença e 39 receitas adaptadas e testadas na Cozinha Experimental da Embrapa Soja. Com 80 páginas, custa R$ 10,00, além do valor do frete. Os interessados podem encomendá-lo através do fone (43) 3371-8119 ou do e-mail vendas@cnpso.embrapa.br.

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Lançamento recente da Editora UFV, da Universidade Federal de Viçosa (MG), o livro Tratamento e Aproveitamento Agrícola de Resíduos Sólidos é direcionado a profissionais das áreas de engenharia agrícola e ambiental, técnicos, pesquisadores e estudantes. Nos capítulos referentes ao tratamento de resíduos, seu autor, Antônio Teixeira de Matos, trata dos processos de desaguamento e higienização, com ênfase na compostagem. Na parte relativa à deposição final no solo, procura identificar sua vocação como condicionador, corretivo ou fertilizante. O livro custa R$ 45,00. Os interessados podem adquiri-lo junto à Editora UFV através do fone (31) 3899-3551 ou do site www.editoraufv.com.br

Negócios à vista

A Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás aproveitou a 12ª TecnoShow Comigo, realizada em Rio Verde, para lançar o livro Empreender é a saída: inclusive para quem não tem o dinheiro da entrada, de autoria do presidente da entidade, José Mário Schreiner. Ao longo das 117 páginas, ele relaciona exemplos práticos de desafios e soluções e dicas para administrar o tempo, economizar dinheiro, apostar em inovação e construir parcerias. A publicação é gratuita. Os interessados devem acessar o site www. empreendereasaida.com.br ou entrar em contato pelo telefone (62) 3096-2200.

A redescoberta do guar

O Documento IAC 112 sobre o guar está disponível para leitura online no site do Instituto Agronômico de Campinas. Os autores apresentam um histórico de introdução da espécie (Cyanomopsis tetragonoloba L.Taub) no Brasil, resultados de pesquisas agronômicas e um levantamento sobre os diversos tipos de uso. De origem indiana ou paquistanesa, também conhecido como feijão-da-ìndia, é uma leguminosa múltipla: de ciclo anual, serve tanto a alimentação humana quanto animal, presta-se para adubação verde ou cobertura e tem inúmeras utilidades como matéria-prima industrial – está presente em margarinas, iogurtes, cremes dentais, shampoos, etc. Para saber mais, acesse www. iac.sp.gov.br/publicacoes/publicacoes_online/pdf/Documento_IAC_112.pdf



Calendário de eventos

MAIO

6

Agrotins/14ª Feira de Tecnologia Agropecuária do Tocantins – De 6 a 10 – Centro Agrotecnológico de Palmas – Palmas (TO) – Fone: (63) 3218-2112 – Site: www.agrotins.to.gov.br – E-mail: agrotins@seagro.to.gov.br

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Senace 2014/XXVI Seminário Nacional de Cebola e XVII Seminário de Cebola do Mercosul – De 13 a 15 – Mansão Country House – Brasília (DF) – Fone: (19) 3243-0396

13

AgroBrasília 2014/7ª Feira de Tecnologias e Negócios

– De 13 a 17 – Parque Tecnológico

Ivaldo Cenci (BR-251, km 5, sentido Brasília-Unaí – Brasília (DF) – Fone: (61) 3339.6516 – Site: www.agrobrasilia. com.br – E-mail: agrobrasilia@ agrobrasilia.com.br

15

Expocoop 2014/Feira de Negócios para o Setor Cooperativo – De 15 a 17 – Expo

Unimed – Curitiba (PR) – Fone: (11) 3042 3413 – E-mail: marta@ wexbusiness.com

16

VII Simpósio de Microbiologia Aplicada/III Encontro Latino Americano de Microbiologia – De 16 a 18 – Salão de Atos da UFRGS – Porto Alegre (RS) – E-mail: microufrgs2014@yahoo. com.br

19

3º Encontro Brasileiro de Silvicultura – De 19 a 20

21

Expoforest 2014/Feira Florestal Brasileira – De

21 a 23 – Mogi-Guaçu (SP) – Fone: (41) 3079-1088 – E-mail: expoforest@ expoforest.com.br

26

I Workshop sobre Fitossanidade na Cultura da Bananeira – De 26 a 30 – Embrapa Mandioca e Fruticultura – Cruz das Almas (BA) – Fone: (75) 3312-8077 – Site: www.cnpmf. embrapa.br

28

Hortitec 2014/21ª Exposição Técnica de Horticultura, Cultivo Protegido e Culturas Intensivas – De 28 a 30 – Recinto

da Expoflora – Holambra (SP) – Fone: (19) 3802-4196 – Site: www.hortitec. com.br

29

Seminário Nacional de Aviação Agrícola – De 29 a

30 – Aeroporto Municipal Nero Moura – Cachoeira do Sul (RS) – Fone: (51) 8182-1716 – E-mail: babila@ aviacaoagricola.com

29

VIII Workshop Agroenergia: Matérias Primas – De 29

a 30 – Centro de Cana do Instituto Agronômico – Ribeirão Preto (SP) – Site: www.infobibos.com/agroenergia

JUNHO

3

VI Simpósio Sul de PósColheita de Grãos – De 3 a 5

– Royal Palm Plaza – Campinas (SP) – Site: www.expoforest.com.br/silvicultura

de junho – Chapecó (SC) – Fone: (43) 3345-3079 E-mail:abrapos@abrapos. org.br

20

5

Fenarroz 2014/Feira Nacional do Arroz – De 20 a

25 – Parque de Exposições Ivan Tavares – Cachoeira do Sul (RS) – Fone: (51) 3722-2425 – Site: www.fenarroz.com.br – E-mail: fenarroz@fenarroz.com.br

64 | Agro DBO – maio 2014

Bio Brazil Fair/Biofach América Latina/10ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia – De 5

a 8 – Pavilhão da Bienal – São Paulo (SP) – Site: www.biobrazilfair.com.br

27/5 – Bahia Farm Show/10ª Feira de Tecnologia Agrícola e Negócios – De 27 a 31 – Complexo Bahia Farm Show – Luís Eduardo Magalhães (BA) – Site: www. bahiafarmshow.com. br – E-mail: aiba@ aiba.org.br Maior feira de tecnologia agrícola e negócios do Norte e Nordeste brasileiros – e uma das maiores do país –, a Bahia Farm Show pretende atingir a marca de R$ 1 bilhão em comercialização e superar o número de visitantes registrados no ano passado, de 63 mil pessoas. Na opinião de seu presidente, Júlio Cézar Busato, que também dirige a Aiba – Associação dos Irrigantes e Agricultores da Bahia, a produção esperada de sete milhões de toneladas de grãos e fibras no oeste do estado nesta safra vai possibilitar o aumento de 50% na comercialização, em relação à feira passada. Atualmente em sua 10ª edição, a Bahia Farm Show vem crescendo ano a ano em número de expositores e infraestrutura de apoio e visitantes, a maioria dos quais empresários, investidores brasileiros e estrangeiros, técnicos, agrônomos e produtores rurais do Mapitoba – ou Bamapito, como preferem os baianos.

24

Fispal Café/9ª Feira de Negócios para o Setor Cafeeiro – De 24 a 27 – Expo Center Norte – São Paulo (SP) – Site: fispalcafe.com.br – E-mail:visitante.fc@btsmedia.biz

JULHO

10

Expo Azeite 2014/Exposição e Encontro Internacional da Cadeia Produtiva da Olivicultura – De 10 a 11 – Palacio do Anhembi – São Paulo (SP) – Site: www.expoazeite.com.br – E-mail: info@expoazeite.com.br

16

EnerSolar/3ª Feira Internacional de Tecnologias para Energia Solar – De 16 a 18 – Centro de Exposições Imigrantes – São Paulo (SP) – Fone: (11) 5585-4355 – Site: www. enersolarbrasil.com.br

16

Simpósio Desafios da Fertilidade do Solo na Região do Cerrado – De 16 a 18 – Goiânia (GO) – Fone: (19) 34172138 – Site: www.simposiocerrado. com.br

22

Workshop Sobre a Cadeia Sucroenergética

– De 22 a 24 – Piracicaba (SP) – Fone: (19) 3429-4132 – E-mail: hugotbioenergia@yahoo.com.br

22

Conafe/11º Congresso Nacional de Pesquisa de Feijão – De 22 a 24 – Londrina (PR)

– Fone: (43) 3025-5223 – E-mail: conafe2014@fbeventos.com

27

Conbea/43º Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – De 27 a 31 – Campo

Grande (MS) – Fone: (16) 3203-3341 – E-mail: sbea@sbea.org.br


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maio 2014 – Agro DBO | 65


Legislação

A usucapião O proprietário que não zela por seu imóvel pode perdê-lo, em alguns casos, a partir do quinto ano de ocupação, diz o colunista. Fábio Lamonica Pereira *

A

usucapião é uma das formas de aquisição da propriedade, sendo aplicável tanto para bens móveis quanto para imóveis, sejam urbanos ou rurais, sendo que vamos tratar especificamente sobre estes. De início, cabe registrar que o atual Código Civil reduziu significativamente os prazos necessários para a configuração da usucapião. A posse, respeitadas determinadas características, é o elemento principal para a caracterização do direito à aquisição da propriedade pela usucapião. Em regra, “aquele que por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé”.

Veja-se que em ambas as situações não há limitação quanto ao tamanho da propriedade, bastando o preenchimento dos citados requisitos. Mas existe, também, a possibilidade de aquisição da propriedade em prazo ainda menor, ou seja, cinco anos. Neste caso, além dos requisitos exigidos para as outras modalidades, o posseiro não poderá ser proprietário de imóvel rural ou urbano; a área não poderá ser superior a 50 hectares; deverá manter a área produtiva por meio de seu trabalho ou de sua família, e deverá firmar na área sua moradia. Além desses casos, o Código Civil ainda permite a aquisição da propriedade daquele que possuir imóvel, por dez anos, “contínua e incontestavelmente, com justo títu-

O judiciário entende que ação possessória julgada improcedente não interrompe os prazos.

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

Esse é o prazo máximo estabelecido pelo atual Código Civil e exige posse seja sem interrupção e sem oposição, independentemente de título e boa-fé. Logo, diante da lei, determinado ato extrajudicial ou judicial do legítimo proprietário que busque a defesa de sua posse poderá romper com o prazo estabelecido em lei e permitirá frustrar possível pretensão do posseiro. Nas condições já citadas e desde que o posseiro tenha estabelecido no imóvel “sua moradia habitual” ou tenha nele “realizado obras ou serviços de caráter produtivo” o prazo para a aquisição da propriedade será de dez anos.

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lo e boa-fé”. O prazo será reduzido para cinco anos “se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os posseiros nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico”. É possível ao posseiro, a fim de completar os prazos previstos em lei, somar o tempo de sua posse a dos antecessores, desde que ostentem as mesmas características, ou seja, contínuas e sem oposição e, quando exigido, com justo título e boa-fé. Preenchidos os requisitos legais, o posseiro poderá propor

ação judicial buscando a declaração de aquisição da propriedade mediante usucapião. O legítimo proprietário precisa zelar por seu imóvel, defendendo-o a todo custo, passando pela delimitação específica de sua área por meio de laudo de profissional devidamente habilitado, além da verificação periódica quanto a possíveis invasões que possam levar à futura perda de propriedade. A verificação detalhada dos registros vinculados à matrícula do imóvel, assim como documentos arquivados no Cartório de Registro de Títulos e Documentos são também medidas preventivas recomendadas. Acrescente-se que ao instituto da usucapião se aplicam as causas de suspensão e interrupção da prescrição previstas no Código Civil, cabendo ao legítimo proprietário adiantar-se e tomar as medidas cabíveis como, por exemplo, a propositura de uma medida judicial possessória que levará ao impedimento, enquanto em trâmite, de eventual ação de usucapião. Veja-se que o judiciário entende que eventual ação possessória julgada improcedente não tem força para interromper o prazo necessário para o preenchimento dos requisitos da aquisição por usucapião. Conclui-se que a diligência por parte dos legítimos proprietários é essencial para evitar eventual perda de propriedade em função de usucapião. Além disso, ações desta natureza são custosas, complexas, desgastantes e demoradas, exigindo a produção de provas delicadas, especialmente documental e testemunhal.




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