Revista Agro DBO - Ed 60 - Outubro/2014

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Sumário

34 Entrevista

José Vicente Ferraz, da Informa Economics FNP, fala à Agro DBO sobre a procura por terras no Brasil: “O valor subiu muito, mas agora estabilizou”. Epitácio Pessoa

38 ILP

Criador de gado, Carlos Viacava demonstra na prática que a Integração Lavoura-Pecuária pode ser conduzida, sim, em solos arenosos.

44 Safra

Produtores mato-grossenses e paranaenses iniciam o plantio da safra 2014/15 de grãos, preocupados com a baixa geral nos preços.

50 Citricultura

Agricultores do norte do Paraná investem no cultivo de laranja e conseguem rentabilidade acima da obtida este ano na lavoura de soja.

22 54 Café

Matéria de capa

O uso de drones, robôs e sistemas a laser aplicados na atividade agrícola já não é novidade no Brasil. Cresce o número de agricultores com produção totalmente automatizada, onde todas as operações são monitoradas por sensores e controladas de longe.

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Hélio Casale relaciona conhecimentos científicos e experimentos práticos na defesa da análise foliar, fundamental, segundo ele, em qualquer cultura.

Artigos 8 – Rogério Arioli mostra porque o controle de custos é vital no agronegócio 30 – Amilcar Centeno sugere procedimentos técnicos na semeadura 36 – Daniel Glat lembra que a renda na lavoura depende da administração 42 – Décio Gazzoni critica a falta de incentivo oficial ao uso de biocombustíveis 66 – Fábio Lamonica trata das leis de proteção da pequena popriedade rural

Seções Do leitor.............................................................. 6 Ponto de Vista................................................... 8 Almanaque.......................................................10 Notícias da terra.............................................12

Política................................................................48 Análise de mercado......................................56 Novidades no campo...................................58 Biblioteca da terra..........................................60 Calendário de eventos.................................65


Carta ao leitor

U

m dos maiores sonhos da humanidade sempre foi o de conhecer o futuro. Assim, para todos nós que atuamos no agro, seria um desejo natural saber como serão as futuras propriedades rurais. Pois Agro DBO, na reportagem “Conexão total”, matéria de capa desta edição, autoria do jornalista José Maria Tomazela, antecipa uma visão real do que será uma fazenda do futuro, com a diferença de que esta propriedade não é um projeto virtual ou uma maquete de pesquisadores científicos embalados por fértil imaginação, pois esta fazenda futurista existe, está localizada no município de Altair (SP), e já tem até mesmo histórias e exemplos para comprovar a viabilidade do que está sendo realizado. Do Paraná, o jornalista Ariosto Mesquita nos conta na matéria “Laranja bate soja”, exemplos de produtores que andam plantando laranja e conseguem lucros superiores a aqueles que obtinham antes com a soja, amparados no sistema cooperativista, agregando valor ao que produzem nas lavouras. A reportagem “E agora, Anilson?”, da jornalista Marianna Peres, revela os temores e as estratégias dos produtores de grãos para o plantio da próxima safra de verão, já iniciada por alguns, mas que deve tomar impulso no transcorrer deste mês de outubro. De forma unânime, os entrevistados revelam preocupação com os baixos preços das commodities, mas guardam a esperança de ter lucros, mesmo que reduzidos, diante dos aumentos dos custos. O assunto também é tema de dois de nossos colunistas, Daniel Glat e Rogério Arioli. Com a perspectiva de nova safra recorde, uma notícia interessante foi registrada com timidez pelos jornais, o fato de que o Brasil saiu do Mapa Mundial da Fome em 2014, segundo relatório global da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), divulgado dia 16 de setembro último em Roma. De 2002 a 2013, caiu em 82% a população de brasileiros considerados em situação de subalimentação. O relatório mostra que o Indicador de Prevalência de Subalimentação, medida empregada pela FAO há 50 anos para dimensionar e acompanhar a fome em nível internacional, atingiu no Brasil nível menor que 5%, abaixo do qual a organização considera que um país superou o problema da fome. A conquista desta vitória deveria ser creditada, com toda justiça, pelo menos em parte, aos produtores rurais brasileiros, responsáveis pelo aumento da produtividade e consequente baixa dos preços dos alimentos. Não satisfeitos com esses positivos resultados internos, devemos ter a certeza de que o Brasil caminha para consolidar a sonhada posição de celeiro do mundo, produzindo alimentos, gerando empregos e riquezas, robustecendo a balança comercial do país.

é uma publicação mensal da DBO Editores Associados Ltda. Diretor Responsável Demétrio Costa Editor Executivo Richard Jakubaszko Editor José Augusto Bezerra Conselho Editorial Décio Gazzoni, Demétrio Costa, Evaristo Eduardo de Miranda, Hélio Casale, José Augusto Bezerra e Richard Jakubaszko Redação/Colaboradores Amílcar Centeno, Ariosto Mesquita, Daniel Glat, Décio Luiz Gazzoni, Fábio Lamonica Pereira, Hélio Casale, José Maria Tomazela, Marianna Peres, Maristela Franco, Miguel Biegai Jr. e Rogério Arioli Silva Arte Editor Edgar Pera Editoração Célia Rosa e Edson Alves Coordenação Gráfica Walter Simões Marketing/Comercial Gerente: Rosana Minante Departamento Comercial Andrea Canal, José Gonzaga Dias, Marlene Orlovas, Tereza Helena Virginia e Vanda Motta

Aos que desejarem manifestar suas opiniões, sugerimos enviar e-mail para redacao@agrodbo.com.br Richard Jakubaszko

Circulação Gerente: Edna Aguiar ISSN 2317-7780 Impressão Log&Print Gráfica e Logística S.A. Capa: foto Case/Divulgação DBO Editores Associados Ltda Diretores: Daniel Bilk Costa, Odemar Costa e Demétrio Costa Rua Dona Germaine Burchard, 229 Perdizes, São Paulo, SP 05002-900 - Tel. (11) 3879-7099 redacao@agrodbo.com.br www.agrodbo.com.br

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Do Leitor SÃO PAULO Gostaria de parabenizar a revista pela qualidade das matérias e entrevistas. Apenas um pequeno “typo” na entrevista do Dr. Fernando Penteado Cardoso (edição de agosto): os filhos da Esalq são esalqueanos e não “esalquianos”. Daniele Balestrin São Paulo NR: A leitora tem razão. Pedimos desculpas pela falha, particularmente aos esalqueanos.

PARANÁ Li nesta conceituada revista, na seção Almanaque (Dicas de caipiras) uma sugestão – como desatolar um trator amarrando um pedaço de pau no pneu traseiro - que me deixou preocupado. É que esta é uma forma conhecida de fazer o trator capotar para trás, o que, em geral, resulta na morte do tratorista por amassamento. Está certo que as cabines de hoje em dia protegem, teoricamente, o operador nesta situação, mas ainda assim o estrago deve ser grande. Consultem algum fabricante de tratores ou especialista no assunto para confirmar a informação. Sugiro corrigir o assunto em próxima edição; é melhor do que alguém vir a processar a revista por esta dica “suicida”. Simon Veldt Itaí NR: Prezado Simon, divulgaremos seu alerta aos nossos leitores, pois realmente pode ocorrer capotamento se a operação não for feita com o devido cuidado. Entretanto, vimos alguns vídeos, disponíveis na internet, e a “gambiarra” funciona, sim. Há que se ter o cuidado de fazer devagar o desatolamento e não usar uma sobra de madeira (maior do que o pneu) superior a 30 cm. PIAUÍ Revista (a Agro DBO) de conteúdo diversificado e atrativo ao leitor. Cyro Henrique Lima dos Santos Parnaíba RONDÔNIA A revista Agro DBO é altamente informativa e atualizada. Adrieli Bertolini dos Santos Espigão do Oeste

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Boa tarde, Casale. Gostei do seu artigo na revista Agro DBO de setembro. Digitalizei e gostaria de enviar aos nossos colegas; é proibido pelos direitos autorais? Abraços. Kunio Nagai São Paulo Parabéns, Casale, Li, gostei e recordei-me de muitos fatos já deletados. Vou imprimir e encaminhar para meus netos que, com certeza, muito irão se beneficiar. Grande abraço. Arnaldo Coelho São Paulo NR: Os leitores acima (Kunio Nagai e Arnaldo Coelho) se referem à seção Almanaque, onde, sob o guarda-chuva “Você sabia?”, nosso colaborador Hélio Casale, engenheiro agrônomo, cafeicultor, consultor e membro do Conselho Editorial da Agro DBO, relaciona informações gerais de interesse do agricultor, fatos e curiosidades. Quanto à pergunta do Sr.Nagai, a resposta é: “Não. Não é proibido pelos direitos autorais”. Ele pode enviar o artigo aos amigos, citando, naturalmente, as fontes (a revista e o autor, Hélio Casale). Muito interessante o artigo de José Otavio Menten, na edição de setembro, intitulado Engenharia Agronômica ou Agronomia? Por ora, persistem algumas polêmicas nesta questão. A profissão denominada Engenheiro Agrônomo tem terminologia similar na França, Portugal, Argentina e América Latina, mas inexiste nos EUA. Lá, o Agronomist é quase sinônimo de extensionista e o substantivo engenheiro não parece ter relação com Agronomia ou Ciência Agronômica. O Agricultural Engineer equivale ao nosso Engenheiro Agrícola. Por sinal, talvez o mais famoso agrônomo norte-americano, Norman Borlaug, Prêmio Nobel da Paz pelo seu trabalho na luta contra a fome, tinha como formação acadêmica

Fisiologia da Planta. Eu, como semi-leigo em Agricultura e ex-jornalista agrícola com alguns anos de atuação nesta especialidade, sempre fiquei intrigado pela insistência no uso dessa palavra, já que as engenharias clássicas, tais como a mecânica, civil, elétrica, têm pouco conteúdo na grade agronômica. Talvez não chegue a 30% da massa crítica da Engenharia Agronômica e boa parte de seus conteúdos deve estar mais presente nas disciplinas de engenharia rural, irrigação ou engenharia agrícola. Já as matérias ligadas à defesa vegetal, nutrição de plantas e pedologia, entre outras, que possivelmente sejam o cerne da Engenharia Agronômica, não têm ligação estreita com o conceito da engenharia tradicional. O termo Engenharia Agronômica provavelmente foi cunhado na chamada “República dos Bacharéis”, quando tudo girava em torno das carreiras clássicas do Direito, Medicina e Engenharia. É bom ressaltar que a Arquitetura e a Geologia abandonaram há décadas o termo engenheiro que antecediam o nome de suas profissões. Talvez o mesmo ocorra se um dia a Agronomia ou Engenharia Agronômica deixar de fazer parte do sistema Crea/CFEA. Acredito que os engenheiros “tradicionais” não permitiriam o uso desse substantivo se os agrônomos não fizerem mais parte daqueles conselhos e criarem sua própria autarquia, como fizeram recentemente os arquitetos. Outra denominação que poderia ser empregada é a da Alemanha e do Japão: ‘Cientista Agrícola’. O dicionário Michaelis define engenheiro como Profissional que, diplomado por curso de Engenharia, se dedica à arte de construções civis e públicas, como edifícios, estradas, pontes, redes de distribuição e usinas elétricas e a invenções, construções e instalações de máquinas e equipamentos. Paulo Sérgio Pires São Paulo Parabéns pela edição desse dinâmico veículo de comunicações, voltado para as questões do agronegócio. Em particular, gostaria de comentar da oportuna e completa matéria veiculada na Agro DBO de agosto sob o título “1OO anos de paixões”, a respeito do natalício do colega Engenheiro Agrônomo Fernando Penteado Cardoso. Nota 10 para a mesma. Nelson Matheus São Paulo AgroDBO se reserva o direito de editar/resumir as mensagens recebidas devido à falta de espaço.



Ponto de vista

A manutenção do padrão tecnológico É fundamental manter elevada a produtividade para assegurar lucro pela escala da produção, mas regular os custos é vital. Rogério Arioli Silva *

A

* O autor é engenheiro agrônomo e produtor rural em Mato Grosso

sequência de quedas nas cotações de algumas commodities verificada nas últimas semanas parece ser o prenúncio de um ciclo de baixa rentabilidade na agricultura brasileira. Como consequência da supersafra norte-americana as cotações da soja caíram abaixo de US$ 10 o bushel (27,2 kg) e o milho seguiu o mesmo rumo, ficando abaixo de US$ 4 por bushel (25,4 kg). Também a cotação da pluma de algodão em torno de US$ 0,70 por libra peso (0,45 kg) não será suficiente para garantir rentabilidade na maioria das unidades de produção. O aumento da produtividade agrícola no Brasil tem se mantido bem acima dos outros países do

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mundo. A média brasileira deste índice nos últimos anos ficou em 3,6%, número que, quando comparado com os 2,6% da América Latina e os 0,86% dos países desenvolvidos, torna-se bastante significativo. O conjunto dos países em desenvolvimento cresce, em produtividade agrícola em torno de 2%, o que é quase metade do crescimento nacional. Os principais fatores que provocaram esse crescimento foram a pesquisa agropecuária, o aumento das exportações e a ampliação do crédito rural. Nestes três quesitos houve avanços, todavia há que se caminhar com mais rapidez buscando compensar o desajuste logístico, seja em armazenamento, seja em transporte. O que costuma ficar

fora dessa análise é o componente preço, como agente desencadeador do ciclo virtuoso formado pelo vetor do aumento da rentabilidade e sua resultante no incremento do padrão tecnológico das lavouras brasileiras. O desafio que agora se impõe é continuar crescendo num ambiente de custos inflacionados e de preços depreciados. Dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos, demonstram, com o devido ar de empáfia, que de 1975 até 2010 o índice de produtividade da agricultura brasileira cresceu o dobro da norte-americana. Entretanto, nesta safra em que “os gringos” tirarão dos campos 380 milhões de t de milho e 106 milhões de t de soja, certamente nossos gargalos logísticos voltarão à tona, com o nosso aumento de produção cobrando muito caro pela nossa falta de competitividade depois da porteira. Segundo informam os pesquisadores, o incremento da produtividade agrícola brasileira tem como principais características o plantio direto, agricultura de precisão, rotação de culturas, manejo integrado de pragas, uso de defensivos agrícolas e novos pacotes tecnológicos representados pelos OGMs. É necessário pontuar que o Brasil é o paraíso mundial do mercado de defensivos agrícolas, menos por opção ou negligência dos produtores e mais pela característi-


ca de ser a maior agricultura tropical do planeta. Sol e chuva são insumos excelentes para o desempenho das lavouras, embora também o sejam para o desenvolvimento de pragas e doenças, sócios contumazes das produções agrícolas. O custo médio dos defensivos no país chega em US$ 10,57/kg o que, em conjunto com a necessidade de altas doses de fertilizantes, encarece o sistema produtivo brasileiro. Na Europa e nos EUA, graças ao rigoroso inverno que antecede os cultivos de verão, a pressão exercida por pragas e doenças é significativamente menor. A volatilidade dos mercados já é velha conhecida de quem trabalha com commodities agrícolas e o produtor brasileiro já demonstrou uma camaleônica capacidade adaptativa em épocas de vacas magras. Contudo, ao intensificar

o pacote tecnológico em busca de produtividades crescentes, os desafios se tornam ainda maiores num cenário de preços baixos, especialmente se esses perdurarem por dois ou mais ciclos de safras. O nome do jogo é a surrada, porém atualíssima, equação do custo/ benefício, onde aquele somente se justifica se o retorno for garantido,

safras. No atual ciclo, a margem de manobra encontra-se em parte comprometida, uma vez que a maioria dos insumos já havia sido adquirida antes da queda dos preços. Além disso, o percentual dos grãos comercializados antecipadamente encontra-se num dos patamares mais baixos da história recente.

O desafio é crescer num ambiente de custos inflacionados e de preços depreciados. emprestando lucratividade ao sistema. Novas experiências e testes devem aguardar para quando as margens melhorarem. Escolher e adequar estrategicamente o nível de investimento, sem perder o foco numa boa performance de resultados, é a diretriz que deverá nortear as próximas

Neste momento, fica ainda mais evidente que o produtor precisa ser eclético e multidisciplinar, além de estar muito bem assessorado, reduzindo custos sem diminuir o padrão tecnológico da sua lavoura, mantendo-se desta forma competitivo e assegurando a necessária lucratividade do seu negócio.

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Almanaque

Você sabia? Saber mais é sempre interessante. Nosso cérebro possui a incrível capacidade para selecionar e “arquivar” o que nos é útil. Hélio Casale *

O

gesso é coisa velha? Num escrito de 1871, Theodoro Peckolt, estudioso alemão, nos deixou o seguinte: “Tempos virão em que a influência humana se fará sentir nestes mesmos terrenos em sentido inverso: a destruição dos matos será seguida por outra que, forçada pelas circunstâncias, procurará restabelecer pela cal, o gesso, ou por outros meios indicados pela química, a força antiga dos terrenos esgotados. Certamente a regeneração progredirá com muito mais vagar do que a destruição; ela terá que fazer grandes despesas de tempo e de dinheiro para, por um tratamento melhor, por um aproveitamento judicioso das propriedades químicas do terreno, por uma cultura apropriada a sua origem geognóstica e ao clima, regenerar a fertilidade destruída pelo primeiro colono”.

* O autor engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

As abelhas estão sumindo? De uns tempos para cá observamos facilmente a redução de abelhas melíferas e até a morte de colmeias. As causas ainda estão por serem definidas. Uns falam em mudanças climáticas, outros, no emprego de defensivos, outros que estamos acabando com as plantas melíferas, e fala-se também do desrespeito ao meio ambiente e no “troco da natureza”, enfim, é achismo por todo lado, mas o fato é realidade. Um jeito prático de se fazer “pasto” para abelhas é adotar o plantio do Eucalyptus torelliana, espécie criada pelo Conde

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Torelli, na Itália, por ocasião da 2ª Grande Guerra Mundial. A história registra que o Conde selecionou plantas de eucaliptos que davam diversas floradas por ano, sendo que as flores sempre recebiam a visita de abelhas. Selecionou plantas que dificultavam a vida dos alemães invasores na hora da “divisão” da comida. Uma visão humana bem inteligente. Os alemães ficavam com medo das abelhas, e nem chegavam por perto. Pode-se plantar o Eucalyptus torelliana nos arredores de lavouras, na arborização de pastos, nas entradas das fazendas. A espécie tem aparência verde limão, muito bonita, folhas peludas e grandes, com muitos galhos e boa sombra, e pode ser utilizada no sombreamento de pastagens. As abelhas de lá como as de cá sempre visitam as flores, produzindo, com o pólen, mel de qualidade. Enfim, uma planta abençoada que mereceria, para o bem de todos, ser mais difundida. Que o cravo da Índia é planta originária da Indonésia? Por seu aroma, o cravo da Índia funciona como repelente natural de insetos. Em residências, é utilizado para espantar formigas doceiras. Que o guaraná é planta originária da Amazônia? Foi descoberto pelo naturalista Alexander von Humboldt, em 1821. O teor de cafeína do guaraná supera o do café. Em relação ao peso seco, o guaraná apresenta entre 2% e 5% de cafeína, enquanto no café essa proporção se situa entre 1% e 2% apenas.

Que somente em 1921 surgiu o famoso guaraná Antártica? Desde sua criação a fórmula se mantém a mesma, guardada em absoluto sigilo. Dizem que somente duas pessoas dentro da companhia conhecem o segredo. Que o Brasil é o sexto maior consumidor mundial de borracha (natural e sintética), com 3,3% do total? A China lidera com 26,3%, seguida dos EUA com 10,5% e Japão, com 9,1%. Que o Brasil começou a importar borracha em 1951? Hoje, o país produz apenas 29,8% da demanda interna de borracha natural, onerando a balança comercial em cerca de 1 bilhão de dólares. Espaço e clima para o plantio de seringueira é o que não nos falta. No Brasil funcionam 12 fábricas de pneus. O país é o sétimo maior produtor mundial de pneus para automóveis e o quinto em pneus para caminhões, ônibus e caminhonetes. Fábricas de pneus consomem 70% da borracha mundial. Até 1950 o Brasil liderava a produção mundial de borracha natural. Hoje, esse quadro se inverteu: a produção interna alcança apenas 108 mil toneladas, o que corresponde a 1,36% do mundo. A nona posição. Que é do urucum que se extrai a bixina? E que dos corantes naturais utilizados em todo o mundo, 70% provêm da bixina do urucum? Que o etanol anidro tem 99,5% de pureza? E contém, portanto, muito pouca água? Já no etanol hidratado a pureza cai para 94,4%.



Notícias da Terra Safra I

Conab eleva estimativa de produção

A

produção brasileira de grãos na temporada 2013/14 chegará a 195,5 milhões de toneladas, 3,6% acima (6,8 milhões t a mais) do obtido no ciclo anterior (188,7 milhões t), de acordo com o 12º e último levantamento da Conab sobre a safra recém-encerrada. A soja apresentou incremento de 5,7% (+ 4,6 milhões t, chegando a 86,1 milhões t)); o trigo, 38,7% (+ 2,1 milhões t, alcançando 7,7 milhões t); e o feijão, 22,7% (+ 637,8 mil t, totalizando 3,4 milhões t). A produção de milho (primeira e segunda safras) caiu 2%

(- 1,6 milhão t) e ficou em 79,9 milhões de toneladas. A Conab não pretende fazer novo levantamento para comprová-los, mas os números finais devem mudar um pouco. O fechamento do ciclo se dará no mês que vem, ao se encerrar a colheita das culturas de inverno (aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale) e de feijão e milho do Nordeste. Ainda segundo a instituição, a área plantada na safra 2013/14 de grãos somou 56,9 milhões de hectares, 6,3% superior à do ciclo 2012/13.

Safra II

IBGE fica praticamente na mesma

A

8ª estimativa do IBGE sobre a safra 2013/14 de cereais, leguminosas e oleaginosas, divulgada em setembro, aponta produção de 193,6 milhões de toneladas, 2,8% superior à da safra passada (188,2 milhões t) e 0,2% maior do que o anunciado em agosto. A soja, o arroz e o milho respondem por 91,2% da estimativa da produção e 85,1%

da área plantada. Os técnicos apontaram crescimento de 6% na produção de soja, 3,6% na de arroz e queda de 3,7% na de milho comparativamente a 2013. As lavouras ocuparam 56,2 milhões de hectares, 6,4% a mais em relação à temporada passada (52,8 milhões ha). A área de soja aumentou 8,6%; a de arroz, 0,3%; e a de milho diminuiu 0,5%.

Safra III

Cálculo de variações por cultura

E

ntre as 26 principais culturas agrícolas relacionadas no levantamento do IBGE, 20 apresentam variação percentual positiva de produção em relação a 2013: mamona (173,2%), trigo (37,6%), feijão

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1ª safra (36,5%), algodão (25,7%), café conilon (18,5%), mandioca (10,6%), feijão 2ª safra (9,4%), cebola (7,9%), batata-inglesa 1ª safra (7,3%), soja (6%), aveia (5%), cevada (4,9%), cacau (3,7%), arroz (3,6%), batata-inglesa 3ª safra (3,4%), cana-de-açúcar (1,2%), batata-inglesa 2ª safra (1,1%), triticale (1,1%), milho 2ª safra (1%), e laranja (0,9%). Com variação negativa foram seis culturas: amendoim 1ª safra (-19,5%), amendoim 2ª safra (-17,4%), café arábica (-13,1%), feijão 3ª safra (-11,4%), sorgo em grão (-10,3%) e milho 1ª safra (-10,1%).

Safra IV

Comparativo por regiões

A

produção de cereais, leguminosas e oleaginosas apresenta a seguinte distribuição, de acordo com o 12º levantamento do IBGE: Centro-Oeste, 81,3 milhões de toneladas; Sul, 72,7; Sudeste, 17,3; Nordeste, 17,1; e Norte, 5,1. Comparativamente à safra passada, os pesquisadores constataram produção 3,6% maior no Centro-Oeste; 43% no Nordeste e 3,4% no Norte. As regiões sul e sudeste apresentaram quebra de 0,4% e 12,6%, respectivamente, em relação à 2013. O estado de Mato Grosso segue no topo do ranking dos maiores produtores do país, com 24,2% de participação, seguido pelo Paraná, com 18,5%, e pelo Rio Grande do Sul, com 15,8%.


Notícias da Terra Safra VI

Brasil na frente em exportações

S

egundo o USDA, o Brasil deverá manter o posto de maior exportador global de soja na temporada 2014/15, com embarques de 46,7 milhões de toneladas, contra 46,3 dos Estados Unidos. Na temporada 2013/14, os números são 46,4 e 44,8, respectivamente. Conforme avaliação dos pesquisadores norte-americanos, o Brasil vai colher 94 milhões t de soja e 75 milhões de milho no ano que vem. Para a Lanworth, empresa norte-americana de previsão de safras, a produção brasileira de soja alcançará 98,1 milhões de toneladas e a de milho, 79,1.

Safra VII

Lavouras transgênicas em expansão

E

studo da Consultoria Céleres prevê expansão de 3,9% da área cultivada com variedades geneticamente modificadas no Brasil na safra 2014/15. Os OGMs cobrirão 42,2 milhões de hectares, o equivalente a 89,2% das lavouras de soja, milho e algodão do país. No caso da oleaginosa, o incremento será de 6,1%. Ou seja, 29,1 milhões de hectares (93,2% da área total) serão semeados com variedades transgênicas. Em relação ao milho, a Céleres aponta queda de 2,3% no uso de OGMs na safra de verão. Considerando também a segunda safra, o recuo será de 0,2%. No algodão, a área será praticamente a mesma.

Safra V

Colheita plena nos EUA

D

e acordo com o último relatório de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), divulgado em 11 de setembro, os Estados Unidos vão colher 106,4 milhões de toneladas de soja na safra 2014/15, acima, portanto, do previsto pela instituição em agosto (103,8 milhões de toneladas). Quanto ao milho, a safra norte-americana deverá chegar a 365,6 milhões de toneladas, superando largamente a estimativa anunciada pelo USDA em agosto (356,6 milhões).

Safra VIII

Perspectivas ruins

C

onforme projeções da Agroconsult, o faturamento dos produtores brasileiros de soja, milho, trigo e algodão cairá para R$108,3 bilhões ao final da temporada 2014/15, contra R$ 112,7 bilhões no ciclo atual, em meio ao ce-

nário global de colheitas abundantes, ampla oferta de commodities e forte retração nos preços. Considerando desembolsos com insumos, mão de obra, operações, administração, arrendamento, depreciações, amortização de dívidas, terras e investimentos, o prejuízo chegará a R$ 1,9 bilhão, ante R$ 4,2 bilhões de lucro no ciclo 2013/14 e R$ 10,7 bilhões em 2012/13. Segundo a consultoria, a última vez em que houve prejuízo foi na temporada 2009/10, de R$ 13,8 bilhões.

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Notícias da Terra VBP

Crescimento reduzido

O

Ministério da Agricultura reduziu de 2,1% para 2% a estimativa de crescimento do Valor Bruto da Produção da agropecuária brasileira em 2014. O VBP deve fechar o ano em R$ 441,8 bilhões, dos quais R$ 288 bilhões correspondem à agricultura e R$ 153,8 bilhões à pecuária. No levantamento anterior, divulgado em agosto, o Mapa previa R$ 442,4 bilhões, 2,1% acima do obtido em 2013 (R$ 433 bilhões). Os destaques neste ano serão algodão (58,6% de crescimento), laranja (26,2%), cacau (25,9%) e pimenta do reino (21%).

PIB

Agronegócio tem expansão modesta

O

PIB – Produto Interno Bruto do agronegócio brasileiro fechou o primeiro semestre com alta de 1,90% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da CNA sobre dados do Cepea – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. O aumento foi puxado principalmente pelo setor primário, que teve expansão de 4,04%. Os setores de insumos e de distribuição cresceram 1,84% e 1,57%, respectivamente. Já o PIB das agroindústrias subiu apenas 0,10%. Com cotações e volumes em alta, a pecuária de corte, de leite e a avicultura de postura registraram expressivo crescimento no período, de 16,24%, 18,88% e 11,39%, respectivamente. A suinocultura cresceu 5,81%.

Exportações

Alimentos

Trajetória de queda

Baixa generalizada

O

s preços mundiais dos alimentos atingiram o nível mais baixo desde setembro de 2010. De maneira geral, todos eles caíram, com a exceção das carnes. O índice da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) que mede as mudanças mensais de preços para uma cesta de cereais, oleaginosas, laticínios, carnes e açúcar, atingiu 196,6 pontos, queda de 3,6% ante julho. Ao mesmo tempo, a FAO elevou suas estimativas para a safra global de cereais

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em 2014 para 2,5 bilhões de toneladas, 14 milhões acima do previsto anteriormente. Ou seja, a produção mundial este ano será 0,5% menor do que o recorde atingido no ano passado.

A

balança comercial do agronegócio brasileiro encerrou agosto (os números de setembro não haviam sido computados até o fechamento desta edição) com superavit US$ 7,5 bilhões -US$ 8,9 bilhões em vendas externas e US$ 1,41 bilhão em compras no exterior –, de acordo com levantamento do Mapa, divulgado no mês passado. A receita com exportações despencou 12,5% na comparação com o mesmo mês de 2013. A do complexo soja (grão, farelo e óleo) caiu 14,1%, passando de US$ 3,6 bilhões para US$ 3,1 bilhões.


Notícias da Terra Café I

Café II

Safra mais robusta

O

Brasil deve produzir este ano 45,1 milhões de sacas de café beneficiado (arábica e conilon), de acordo com o 3º levantamento da Conab sobre a safra 2014, divulgado em 16/9. Ou seja, 4,1 milhões de sacas a menos (queda de 8,2%) em relação a 2013, quando o país colheu 49,2 milhões de sacas. A redução deve-se, sobretudo, ao arábica, cuja produção foi prejudicada pela seca no início de 2014, inversão da bienalidade em algumas regiões produtoras e geadas no Paraná. Segundo a Conab, a quebra no arábica chegará a 16,1%, em média. Os estados com maior redução foram

o Paraná (-69,1%), Minas Gerais (-18,22%) e Espírito Santo (-16,8%). Em contrapartida, a produção de conilon crescerá 19,9% graças à renovação dos cafezais, maior produtividade e condições climáticas favoráveis no Espírito Santo, maior produtor da espécie. A safra de arábica chegará a 32,1 milhões de sacas, o equivalente a 71,2% do volume de café produzido no Brasil. A de conilon, 13 milhões de sacas, 28,8% do total nacional. A Conab não divulgou projeções sobre a safra 2015, que, segundo muitos pesquisadores, também será impactada pela estiagem de 2014.

Café III

O

s mineiros conquistaram os cinco primeiros lugares da VI Prova de Cafés Certificados Imaflora – Rainforest Alliance Certified, realizada no mês passado em Belo Horizonte (MG) durante a SIC 2014 – Semana Internacional do Café. Com nota 88,08, a fazenda Dona Nenem, da cidade de Presidente Olegário, integrante do projeto Educampo, do Sebrae, foi a grande vencedora, com o primeiro lugar na categoria “natural” e o terceiro na “cereja descascado”. O segundo ligar no pódio foi para a fazenda Santa Lúcia, do grupo AC Café, também do Cerrado, com nota 87,42, na categoria cereja descascado. A quarta colocação coube à Ipanema Agrícola, do Sul de Minas, com nota 86,13, e em quinto lugar, o Sítio da Torre, de Álvaro Pereira Coli, localizado na Serra da Mantiqueira, com 85,88, ambos na categoria cereja descascado.

Café IV

Previsão contestada A estimativa oficial sobre a próxima safra brasileira de café foi contestada por agricultores e associações de produtores, que a consideraram superestimada e realizada com base em critérios questionáveis, conforme texto distribuido no mês passado pela Reuters. De acordo com prognóstico da Conab - parte do relatório com perspectivas para a agropecuária no país na próxima temporada, divulgado pela entidade em setembro – o Brasil deverá colher 48,83 milhões de sacas de 60 kg no ano que vem, 9,6% acima do projetado para a 2014. O

Minas Gerais arrebata prêmio

CNC e a CNA afirmam que a seca registrada no início deste ano, em um período que deveria ser chuvoso, afetou não apenas a produção de 2014, como terá efeitos em 2015. “É incabível que um órgão federal divulgue dados para o ciclo cafeeiro futuro com base em tendências e estatísticas históricas, sem visitas ao campo”. Até 19/9, a Conab não havia se manifestado a respeito. Em agosto, o CNC calculava a produção brasileira de café em 40 milhões de sacas, volume que deveria ser repetido em 2015, segundo a entidade

Colômbia aumenta produção

G

raças à incorporação ao seu parque cafeeiro de plantas resistentes à ferrugem e à broca e condições climáticas favoráveis, a Colômbia, maior produtor de café arábica lavado do mundo, vai colher 12 milhões de sacas este ano, contra 10,9 milhões em 2013. Na avaliação de dirigentes da Federação Nacional de Cafeicultores, trata-se do melhor resultado em mais de três décadas, após quatro anos consecutivos de problemas nas lavouras, entre os quais chuvas intensas, doenças e pragas. outubro 2014 – Agro DBO | 15


Notícias da Terra Cana-de-açúcar

Estragos prolongados

C

onforme estimativas da Datagro, a produção de açúcar no Centro-Sul do Brasil, principal região produtora do país, deverá cair para 32,8 milhões de toneladas na temporada 2014/15, ante 34,3 milhões t na safra passada, em decorrência da estiagem prolongada sobre os canaviais no início de 2014. “Essa seca afetará não só nos rendimentos e a produção de 2015, mas também a colheita em 2016”, afirmou o presidente da consultoria, Plinio Nastari. Segundo especialistas, o mercado pode apresentar deficit neste ano-safra internacional (começa sempre em outubro) após três anos de superávit, com a demanda suplantando a oferta em 2,45 milhões t. Até o mês passado, as usinas continuavam priorizando a produção de etanol, vendido em termos equivalentes com o açúcar VHP entre 17,3 e 17,6 centavos de dólar por libra-peso. O VHP (Very High Polarized) estava cotado em setembro em 15,3 centavos.

Soja I

Produção alta, preço baixo.

O

ministro da Agricultura, Neri Geller, participou em 19/9, em Sorriso (MT), da cerimônia de lançamento da safra 2014/15 de grãos. “Esperamos que a produção seja rentável para todos os produtores e para o Brasil”, disse o ministro. Os agricultores não se animaram muito, já que as projeções para 2015 são ruins, mas participaram da solenidade. Eles esperavam uma reunião com o ministro para tratar das reivindicações do setor, mas ela foi adiada. O plantio da safra de verão começou no mês passado em Mato Grosso e Paraná com perspectivas de preço baixo, estoques acima da demanda e pouca ou nenhuma rentabilidade durante o período de colheita (OBS: veja matéria sobre a safra 2014/15 na página 44).

Soja II

Final de colheita

E

Combustível

Gasolina com mais etanol

C

onforme texto publicado no Diário Oficial da União de 11/9/14, a ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis autorizou a Petrobras Distribuidora a comercializar mistura de 72,5% de gasolina e 27,5% de etanol anidro para testes de avaliação da viabilidade técnica. A autorização tem prazo de vigência de 190 dias. A lei atual permite misturar 25% de etanol anidro a gasolina.O aumento de 2,5 pontos percentuais interessa tanto ao setor sucroalcooleiro quando ao governo. No primeiro caso, representa fonte adicional de recursos para as usinas, já que o anidro é mais caro do que o hidratado, usado pelos veículos flex. No segundo, diminuiria as importações de derivados de petróleo.

16 | Agro DBO – outubro 2014

m oposição ao que acontece no restante do Brasil, a colheita está praticamente encerrada em Roraima e outras regiões do país situadas no hemisfério norte. De acordo com estimativas, a safra no estado chegará a 50 mil toneladas de soja este ano, quase nada diante da realidade de Mato Grosso (2,07 milhões de toneladas apenas em Sorriso, por exemplo), mas o potencial de crescimento é grande. Afinal, além de ter soja para negociar nesta época do ano, tem uma vantagem e tanto: a distância – os principais importadores, seja na América do Norte, na Europa ou na Ásia (via Canal do Panamá) estão mais perto. A logística, porém, ainda é critica. O escoamento ideal seria por Georgetown, na Guiana Inglesa, a 650 quilômetros de Boa Vista, mas não há asfalto que permita chegar lá.


Notícias da Terra Pesquisa

Visões diferentes (agricultores x consumidores)

N

o mundo inteiro, agricultores e consumidores diferem no entendimento de agricultura sustentável, conforme o estudo Farm Perspective Study, promovido pela Basf. Os pesquisadores entrevistaram 2,1 mil agricultores e 7 mil consumidores em sete países (Brasil, China, França, Alemanha, Índia, Espanha e Estados Unidos) entre março a abril deste ano, questionando-os sobre sustentabilidade, métodos de produção de alimentos e tendências futuras na agricultura. Consumidores (81%) e agricultores (78%) afirmam que se importam com a sustentabilidade na agricultura. Os agricultores entendem que é um tema multidimensional, enquanto os consumidores definem o termo no contexto de aspec-

tos ambientais. Os consumidores definem a sustentabilidade na agricultura com uma visão relativamente limitada, descrevendo o tema como “ambientalmente correto” (22%) ou como “condição de produzir alimentos suficientes para a população” (18%). Os consumidores listaram um ou dois pontos quando perguntados sobre o significado de agricultura sustentável. Os agricultores apresentaram um entendimento mais específico, destacando aspectos ambientais como “proteção do solo” (40%), “utilização da terra” (27%), “utilização da água” (27%) ou “proteção da biodiversidade” (25%), além de mencionarem aspectos econômicos como “remuneração justa para a agricultura” (25%). Conclusão: agricul-

tores e consumidores não entendem a sustentabilidade da mesma forma e isso faz com que os produtores rurais enfrentem mais desafios para satisfazer as necessidades da sociedade.” Ainda que exista um entendimento comum de que a produção de alimentos esteja se tornando mais desafiadora – devido a expectativas dos consumidores cada vez mais acentuadas, mercados globalizados e escassez de recursos – 76% de todos os agricultores afirmaram que se sentem satisfeitos com a situação atual da sua profissão (em comparação a 62% em 2011). O estudo mostra também diferenças de percepção entre os países. O texto completo pode ser acessar através do link www. farmperspectivesstudy.com

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outubro 2014 – Agro DBO | 17


Notícias da Terra Negócios

Tratores

Landini instala fábrica no Brasil

A

tradicional empresa italiana anunciou que vai instalar fábrica no Brasil. A nova fábrica fica na região de Betim, próximo a Belo Horizonte (MG), e a partir deste ainda entrará em funciona-

mento, numa área de 10 mil m2. Até o início deste ano a Landini operava no Brasil com importação de tratores, numa joint venture com a Montana. Agora, a Landini decidiu por investimentos próprios no Brasil.

anuncia aquisição da Cheminova Por US$ 1,8 bilhão de dólares a FMC Corporation deve adquirir a Cheminova, multinacional de defensivos agrícolas com sede na Dinamarca. Com isso, a FMC amplia o acesso ao mercado nas principais regiões geográficas, expande posição em segmentos de cultura existentes e acelera vendas a novas culturas, além de melhorar o portfólio com produtos e tecnologias complementares.

Armazenagem

Aeração na medida certa

A

Fazenda Ponte de Pedra, de São Gabriel do Oeste (MS), obteve economia de energia de até 80% graças a um projeto de eficiência energética para a aeração de silos na armazenagem de grãos, com um inovador sistema de ventilação, desenvolvido pela WEG. A solução consiste no motor WMagnet acionado pelo Inversor de frequência CFW11 e interligado ao Controlador de Aeração EF-

18 | Agro DBO – outubro 2014

-ENERGY, sem substituição do sistema de termometria usualmente já presentes nos silos. A expectativa é de retorno do investimento em 10 meses, e ainda pela melhoria da qualidade do produto, com uso de adequada precisão na temperatura e umidade nos silos. “Estamos muito satisfeitos com o uso do motor WMagnet integrado com o sistema automático de aeração e estação climatológica.

Os motores só funcionam havendo necessidade e variam a rotação dependendo do produto e do nível de enchimento do silo”, disse o sócio-administrador da Fazenda, João Rafael Deiss. Com 700 hectares, a Fazenda Ponte de Pedra possui dois silos, máquina de pré-limpeza e secador de grãos, para armazenar da safra e safrinha, com volume anual de cinco mil t de grãos.


Notícias da Terra Etanol

Milho como fonte única de combustível

A

tecnologia norte-americana para produção de etanol a partir do milho aterrissou no Brasil. Os diretores da multinacional BioUrja Trading – responsável por 10% de todo o etanol produzido nos Estados Unidos – anunciaram no dia 17 de setembro, na sede da Fiems – Federação das Indústrias do Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, o início das obras de implantação da primeira biorrefinaria de milho do país. A indústria pioneira está sendo construída em uma área de 40 hectares em Chapadão do Sul (333 km de Campo Grande), no norte do estado. “A ideia é implantar mais biorrefinarias de milho no Brasil, desde que a primeira se mostre rentável. Ainda não definimos os municípios que receberão estas unidades industriais”, revelou o vice-presidente da Biourja do Brasil, Marcos Machado. Ele expôs o projeto da indústria para empresários e investidores e apresentou os dois principais diretores da Biourja no mundo: o fundador e presidente, Amit Bhandari, e o vice-presidente sênior, Abhishek Jani Diferente das duas únicas usinas brasileiras flex (Usimat e Libra, implantadas no estado do Mato

Grosso) que hoje produzem etanol tanto a partir do milho quanto da cana, a Biourja trabalhará apenas com o cereal, focada no que foi batizado de “Projeto de fracionamento de milho”. A estratégia é ganhar viabilidade econômica através da produção de vários subprodutos. “A nossa previsão é produzir anualmente 150 milhões de litros de etanol, 110 mil toneladas de DDG/ DDGS, 80 mil toneladas de CO2 e 20 mil toneladas de óleo de milho”, conta o vice-presidente. A indústria ofertará etanol combustível e etanol industrial, utilizado por empresas químicas e fabricantes de etanol gel, desodorizadores e saneantes. Já a produção de CO2 será ofertada para alguns setores industriais, como os de refrigerantes e cervejas. De olho no grande rebanho bovino do Centro-Oeste (mais de 70 milhões de cabeças) e na crescente verticalização da pecuária, sobretudo no Mato Grosso do Sul e Goiás, a Biorrefinaria disponibilizará o chamado DDG (do inglês Dried Distillers Grains) e o DDGS (Dried Distillers Grains with Solubles). Para o Brasil, a empresa norte-americana quer rebatizar estas expressões co-

mo ‘farelo de milho proteico’ (solúvel e não solúvel). Trata-se de uma espécie de substituto do farelo de soja na composição das rações animais. “Vamos focar nossa venda para pecuaristas mais verticalizados e confinamentos. O DDG pode, eventualmente, diminuir o custo de produção de carne e leite no Brasil”, afirma Machado. Com faturamento global de US$ 5,2 bilhões ao ano. a Biourja investirá nesta primeira unidade mais de R$ 300 milhões. A construção deve demandar 18 meses. A previsão é de início das operações em 2016. A capacidade de processamento é para 350 mil toneladas de milho/ano, mais da metade da produção do município de Chapadão do Sul, atualmente ao redor de 540 mil toneladas/ano.

Apresentação da biorrefinaria de milho em Campo Grande (MS)

outubro 2014 – Agro DBO | 19


Notícias da Terra Expointer I

Feira fecha com balanço positivo

U

de do Sul vivia em plena supersafra, com preços bons e produtores capitalizados. “Diferentemente do ano passado, 2014 é o número da estabilidade e sustentabilidade”. O vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira, endossou a argumentação de Fioreze: “O produtor já tomou muito crédito e a conjuntura internacional é desfavorável. Portanto, são números fantásticos”, disse ele, em coro com Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul: “O ano passado foi atípico, teve uma série de fatores que facilitaram a antecipação de negócios. Mesmo assim, nesta edição superamos em 34% o ano de 2012”. Quase 450 mil pessoas visitaram o Parque Assis Brasil de 30/8 a 7/9,

interessados nas máquinas, implementos agrícolas e utilitários, apresentações, leilões e julgamento de animais, provas do Freio de Ouro, envolvendo cavalos da raça crioula, típica do Rio Grande do Sul, mostras de artesanato e produtos da agricultura familiar, fóruns, palestras, seminários, etc. Um das atrações da feira foi a Casa da Embrapa, reunindo 11 unidades da empresa. Além de publicações e farto material demonstrativo sobre pesquisas e produtos, a Embrapa lançou na feira uma linhagem suína, três cultivares de leguminosas forrageiras e uma cultivar de abóbora, a BRS Estrela, de dupla finalidade – serve tanto a uso ornamental quanto culinário (OBS: leia em Novidades no mercado, no final desta edição). Tiago Francisco

m dos mais tradicionais e importantes eventos agropecuários do Brasil, realizado anualmente em Esteio (RS), a Expointer movimentou R$ 2,7 bilhões na comercialização de máquinas e implementos agrícolas, 17% a menos que no ano passado (R$ 3,2 bilhões). Apesar da queda, o balanço foi positivo, segundo seus realizadores. “Houve redução, sim, mas não foi nada extraordinário. O agronegócio está crescendo, pois 2013 foi um ponto fora da curva”, justificou o Secretário da Agricultura, da Pecuária e Agronegócio, Claudio Fioreze, lembrando que, no ano passado, o corte da taxa de juro para 2,5% do Programa de Sustentação do Investimento ocorreu bem no meio da feira, inflando a intenção de compra. Além disso, o Rio Gran-

Expointer II

Renovação simplificada

O

Banco do Brasil lançou na Expointer a linha de crédito “custeio renovável”, destinada ao financiamento de despesas da produção agropecuária como aquisição de sementes, defensivos agrícolas, insumos, medicamentos, vacinas, sais minerais e ração, entre outras. O diferencial é que o financiamento, formalizado por meio de cédula rural, permite a renovação 20 | Agro DBO – outubro 2014

do custeio para as safras futuras e admite a alteração da cultura e do valor financiado num período de cinco anos. O financiamento pode ser renovado até seis meses antes da data de vencimento do contrato relativo ao ciclo anterior ou após a liquidação da operação. A nova linha do BB tem prazo de cinco anos para pagamento, com juros de 6,5% ao ano no ca-

so de operações com recursos controlados. Para operações cujo empreendimento esteja localizado em município da área de abrangência da Sudene, com decretação de estado de calamidade ou situação de emergência em função de seca ou estiagem reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional, a taxa é de 6% ao ano durante o ano agrícola 2014/215.


Notícias da Terra Mecanização

CNH é 100% na Usina da Mata

A

demanda por alta produtividade exige cada vez mais tecnologia aplicada no agro. Em Valparaíso, região oeste de São Paulo, a Usina da Mata, com 30 mil hectares de plantio de cana-de-açúcar, utiliza 52 equipamentos da CNH Industrial, entre máquinas agrícolas Case IH (tratores e colhedeiras), máquinas de construção CASE Construction Equipment para sistematização do solo e caminhões e ônibus Iveco. A Usina da Mata atingiu este ano 100% de mecanização na produção de cana-de-açúcar, de açúcar e álcool e na geração de energia a partir do bagaço da cana. “Somos a única companhia no mundo capaz de fornecedor

soluções com tamanha sinergia, pois engloba marcas que oferecem produtos para todos os segmentos fundamentais ao desenvolvimento econômico e social do país: máquinas agrícolas, equipa-

mentos de construção, caminhões e ônibus para transporte e logística e os motores que geram energia”, informa Vilmar Fistarol, presidente da CNH Industrial para a América Latina.

outubro 2014 – Agro DBO | 21


Capa

Representação esquemática do conceito “Connected Farm”, de integração das operações numa propriedade agrícola.

Conexão total

Produtor de Altair (SP) adota o conceito de fazenda conectada, onde tudo é monitorado por sensores e gerenciado à distância. José Maria Tomazela

N

a fazenda Santa Rosa, em Altair, extremo norte do estado de São Paulo, tratores, colheitadeiras, plantadeiras e pulverizadores autopropelidos percorrem os campos de produçao agrícola com a sincronia de uma orquestra. Cada equipamento tem seu operador, mas as tarefas e o ritmo em que serão executadas partem de um “maestro” que pode estar a quilômetros de distância. As ordens de serviço são enviadas do escritório central ou de um tablet, notebook ou celular para o computador de bordo dos equipamentos e seguidas à risca pelo piloto automático. Cada equipamento in-

20 | Agro DBO – outubro 22 setembro2014 2014

forma o que já fez e quanto ainda vai produzir. É como se as máquinas estivessem acompanhando a batuta ou ouvindo a voz de comando do dono. A automação da atividade agrícola tornou possível a agricultura de precisão e ajudou o país a obter expressivos aumento da produtividade nas últimas décadas – só a produção de grãos cresceu 60% nos últimos dez anos. Máquinas com piloto automático e posicionamento por satélite (GPS) já não são novidade nos campos do Brasil. As fazendas agora têm drones, robôs e sistemas de laser aplicados à produção. Pesquisadores e empresas do setor


Epitácio Pessoa

Os Campanelli: Ricardo, Victor e Fábio (da esquerda para a direita) checam o desempenho das máquinas durante a colheita de cana na fazenda Santa Rosa.

estimam que até 30% das propriedades rurais brasileiras já adotam algum tipo de tecnologia em grau suficiente para aumentar a produtividade. Os equipamentos se tornaram tão avançados que são capazes até de “conversar” entre si. O novo desafio está em gerenciar os recursos de forma adequada e integrada para obter da tecnologia todo o potencial que ela pode oferecer. A Agropastoril Paschoal Campanelli, com sede em Bebedouro e dona da fazenda Santa Rosa, é uma das pioneiras na adoção do conceito de “fazenda conectada”. O sistema, desenvolvido pela Trimble, combina hardware e software para fazer com que máquinas, equipamentos e pessoas trabalhem de forma integrada em todos os setores do negócio. De acordo com o gerente comercial da Trimble para o Mercosul, José Bueno, o grupo agropecuário já estava num patamar tecnológico elevado, o que ajudou a implantação do modelo. A Agropastoril foi fundada em 1932 pelo imigrante italiano Paschoal Campanelli e está na terceira geração da família. O patriarca a constituiu para que ele e os irmãos continuassem trabalhando juntos. Durante décadas, toda a propriedade esteve voltada à citricultura, tornando-se uma das maiores

produtoras de laranja de São Paulo. Em 2001, teve início a mudança que marcou o fim dos laranjais e o início de novos negócios focados na pecuária e na cana-de-açúcar. Dos atuais gestores, sete são da família, entre eles os irmãos Victor, 33 anos, e Fábio, 46, e o primo Ricardo, 33, netos do patriarca Paschoal. Nas duas últimas décadas, a Agropastoril passou por um processo de profissionalização, porém, ao invés de repassar a direção dos negócios a gestores externos, foi mantida a gestão familiar. Os Campanelli é que buscaram formação compatível com as funções que passaram a exercer na empresa. Victor é administrador de empresas, Ricardo e Fábio são engenheiros agrônomos. Cada um cuida de setores de acordo com suas habilidades. Os negócios estão divididos em quatro blocos de produção, nos municípios de Altair, Severínia, Olímpia e São José do Rio Preto, na região norte do estado de São Paulo. Nessas áreas, a Agropastoril destina 8 mil hectares à cana-de-açúcar, dos quais 2 mil são reformados anualmente com milho, e confina 40 mil bois/ano. A Santa Rosa concentra metade das atividades da empresa. Ali está o confinamento que fornece esterco paoutubro 2014 – Agro DBO | 23


Epitácio Pessoa

Capa

Colheitadeira com piloto automático e computador de bordo, em alinhamento automático com o veículo de transbordo.

ra adubar a cana, que tem suas áreas reformadas com o plantio direto do milho, que, por sua vez, fornece silagem de grão úmido para o gado. “É um processo sustentável e sinérgico, em que uma atividade auxilia e potencializa o resultado de outra”, afirma Victor. Ele conta que a empresa adotou a mecanização dos canaviais muito antes da exigência legal de acabar com o uso do fogo na colheita da cana. O primeiro passo foi dado para resolver um problema decorrente da alta produtividade da cana: o acamamento das plantas. “Fomos conhecer colheitadeiras com pilotos automáticos e vimos que podia ser a solução. Iniciamos com duas colheitadeiras e quatro veículos de transbordo com essa tecnologia. Não paramos mais.” A conexão entre escritório e máquinas é feita via celular,

por rádio ou através de satélites. Com o sistema da Trimble, as operações de campo são armazenadas num software e enviadas para o computador das máquinas. Os equipamentos memorizam as áreas trabalhadas e, mesmo que o operador queira, não repetem as operações já realizadas, evitando desperdício. A colheitadeira de cana, por exemplo, tem ajuste automático de altura de corte e trabalha em sincronia com o transbordo. As duas máquinas seguem alinhadas no canavial e fazem a colheita na velocidade programada sem sair um milímetro do percurso traçado. O sistema possibilitou a criação de linhas de tráfego, em que os pneus se encaixam sempre nas entrelinhas da lavoura – em alguns tratores as bitolas foram adaptadas. “A prática evita a compactação do solo, pro-

Monitoramento aéreo com drones Estima-se que mais de 200 drones estejam sobrevoando lavouras em todo o país. Em geral, os modelos levam câmeras acopladas para captar imagens. Alguns são equipados com sensores infravermelho que permitem fazer um raio X da planta. No mapeamento das lavouras, embora percam em amplitude, os drones têm sobre os satélites a vantagem de não sofrerem a interferência das nuvens, por exemplo. Além disso, proporcionam imagens com maior definição.

24 | Agro DBO – outubro 2014

A Embrapa e a Universidade de São Paulo trabalham com parceiros privados para ampliar as aplicações dos equipamentos de forma a torná-los competitivos. As regras para o uso civil dos chamados Vants – Veículos Aéreos Não Tripulados, como o modelo UX5 (ao lado), estão sendo definidas pela Anac – Agência Nacional de Aviação Civil. Serão permitidos drones de até 25 quilos e voando a no máximo 120 metros de altitude, em razão do risco de interferir em rotas de aviões comerciais. Com um pouco de treino, qualquer produtor pode usar drones na propriedade. O pesquisador Lúcio André de Castro Jorge, da Embrapa Instrumentação, afirma que o custo não é elevado. Atualmente, várias empresas disponibilizam o equipamento para locação. As informações captadas pelo drone podem ser repassadas em tempo real para um computador remoto. Uma das principais vantagens é permitir a visualização geral das atividades no campo sem a necessidade de estar


A Campanelli usa drones para elaborar mapas de adubação, detectar a presença de pragas e identificar falhas na lavoura.

Tecnologias testadas A distribuição programada de palhada no solo produziu curvas de nível naturais ao longo dos canaviais, acompanhando a topografia levemente ondulada da fazenda. Com as camadas de palha bem distribuídas, as curvas tradicionais, produzidas com intervenção no solo, foram abolidas. “Foi um avanço, pois o solo está mais protegido e não temos problemas de erosão que tínhamos quando fazíamos a curva de nível convencional”, conta Fábio. O solo retém umidade, nutrientes e responde com produtividade, segundo ele. “Num ano super seco como este, estamos com 104,5 toneladas/ha de produtividade média, o que seria impossível sem tecnologia.” Os Campanelli já pesquisam um sistema para enfardar o excesso da palha do canavial e usar na alimentação do gado. O cultivo do milho para reformar os canaviais surgiu da necessidade de atender à necessidade do grão para o confinamento do rebanho. “Tínhamos demanda de no local. O dono pode administrar seus negócios a mil quilômetros de distância como se estivesse na fazenda. A Rede Pesquisa em Agricultura de Precisão da Embrapa orienta os produtores sobre os passos iniciais nessa tecnologia. A rede dispõe de 214 pesquisadores, 19 centros e 15 campos experimentais com variabilidade regional para culturas anuais e perenes. Além dos drones, pesquisadores da Embrapa Instrumentação e da Faculdade de Engenharia da Universidade de São Paulo vêm desenvolvendo no campus de São Carlos uma espécie de robô para colher amostras e fazer análise química do solo. O projeto é inspirado no jipe-robô Curiosity utilizado pela Nasa para analisar rochas em Marte. Um protótipo de pequeno porte foi testado em laboratório. Atualmente, a equipe se debruça na montagem de um aparelho maior, com 1,5 m de comprimento por 1 de largura. O projeto deve estar concluído até 2017, mas ainda não se sabe quando o robô será transformado em produto para o mercado.

450 mil sacas de milho ou derivado por ano e esta região não é produtora. Foi preciso pesquisar e experimentar, pois até então não havia tecnologia disponível para plantar milho sobre a resteva do canavial”, conta. Já nos primeiros plantios, a partir de 2009, o milho amarelou após a brota. O problema era causado pela palha da cana que, ao se decompor, absorvia nitrogênio do solo e foi preciso alterar a formulação do adubo. Foi a deixa para a adoção do sistema de taxa variável para aplicação de adubo e calcário. Com essa tecnologia, o adubo vai para o solo na dose certa, conforme os mapas elaboradas a partir da análise de cada segmento. “Em 2011 desenvolvemos uma máquina para fazer a mistura de fósforo e potássio em tempo real, durante a aplicação. O sistema controlado por computador passou a ser aplicado em toda a fazenda e não trabalhamos mais com adubo pronto”, disse Victor A plantadeira usada para semear o milho tem piloto automático e sensores para gerenciar a distribuição de adubo e semente. Com o plantio direto, a produtividade média tem sido de 170 sacas por hectare, elevada para a região. O milho, colhido com umidade entre 35% e 40%, vira silagem de grão úmido para alimentar os bois. A palha da gramínea enriquece ainda mais o solo. “Atrás da colhedora do milho, entra a plantadeira de cana. O canavial volta forte, bem formado. O sistema é maravilhoso”, resume Fábio. A Campanelli utiliza aviões e drones na elaboração de mapas para adubação, detecção de pragas e identificação de falhas no desenvolvimento da cana, em Epitácio Pessoa

blemática numa cultura de ciclo longo como a cana”, afirma Victor. O novo processo facilitou também a operação das máquinas. Embora a colheitadeira se mova automaticamente pelo canavial devorando as touceiras de cana-de-açúcar, e de toda a tecnologia embutida no processo, a agricultura de precisão não dispensa a ação do homem. O piloto automático conduz a máquina com acerto milimétrico, mas o operador acompanha as manobras para intervir se for preciso.

Piloto automático instalado numa colheitadeira: o equipamento mantem a máquina na linha programada para a colheita.

outubro 2014 – Agro DBO | 25


parceria com universidades. Na aplicação dos insumos, o pulverizador tem sensores que regulam automaticamente a altura da haste de aspersão. A dosagem é controlada através de mapas orientados por GPS. “Os aspersores fecham se a máquina passar numa área já pulverizada”, explica Bueno, da Trimble. A alta produtividade não é o único ganho produzidos pela incorporação da tecnologia à rotina de produção. Com adubação orgânica em 50% da área, os canaviais da fazenda chegam a sete cortes, um a mais que a média regional. “O melhor é que estamos elevando a vida útil da cana sem perda de produtividade, ou seja, é cana mais velha e mais produtiva”, afirma Ricardo. Como ainda há sobra de palha, a Agropastoril estuda a instalação de uma termoelétrica na propriedade. Em vista dos resultados, os Campanelli acreditam que o uso da tecnologia na fazenda é um caminho sem volta. Enquanto a faixa etária dos funcionários baixou, subiu o número de colaboradores com curso superior, sobretudo em tecnologia. “Nos últimos seis anos, a média de idade caiu dez anos e aqueles mais experientes decidiram estudar e aprender. A empresa respira tecnologia”, diz Victor.

Tablet e monitor: duas opções para acompanhamento das operações a campo e checagem de dados.

26 | Agro DBO – outubro 2014

Para Rubens Augusto Camargo Lamparelli, pesquisador da Universidade Estadual de Campinas e especialista em sensoreamento remoto, a agricultura de precisão brasileira ainda está numa fase incipiente, mas a expansão de seu uso é apenas questão de tempo. “As modificações na cadeia canavieira nacional certamente implicarão numa expansão exponencial da agricultura de precisão.” Ele se refere à exigência legal de eliminação da queimada da palha da cana e à superação dos inconvenientes gerados pela colheita da cana crua. “A colheita mecânica pressupõe maior controle de perdas e a correta distribuição da palha no solo que demandam novos métodos de condução do sistema. Agregar a tecnologia de produção ao cultivo canavieiro manterá o Brasil como maior produtor mundial de cana-de-açúcar e, sem dúvida, contribuirá para reduzir os impactos ambientais.”

Trimble/divulgação

Aplicativo (acima, na tela do Iphone), permite visualizar a posição de cada veículo e o histórico de trabalho; na outra foto, operador a postos na cabine da colheitadeira, pronto para intervir, se necessário.

Epitácio Pessoa

Trimble/divulgação

Capa

Correção das diferenças Numa área cultivada de quatro hectares, técnicos da Embrapa encontraram quatro tipos diferentes de solo, cada um com um potencial produtivo também diferente. Na agricultura convencional, essa área vinha recebendo insumos de maneira uniforme. Com a adoção da agricultura de precisão, foram usadas técnicas para identificar e dimensionar as diferenças entre uma área e outra, e definido o tratamento para que cada uma delas apresentasse o melhor resultado. Nos quatro hectares, a produtividade de soja cresceu 20% e a de milho, 40%, sem aumento no custo de produção. De acordo com o pesquisador Ricardo Inawasu, coordenador da rede de pesquisa da Embrapa, a agricultura de precisão permite que o produtor aumente a produtividade apenas com a correção das diferenças que existem no campo. “Costumo dizer que a agricultura de precisão respeita as diferenças”, resume. No Brasil, o sistema se desenvolveu a partir da década de 1990, quando a abertura de mercado possibilitou


“Se o agricultor não souber tomar a decisão correta, não vai acertar. Ao lado da tecnologia, é preciso gestão. Esse é o grande ponto”.

Aplicação de adubo com controle automático de dosagem por GPS

calcário, adubos e defensivos. O processo evita a aplicação excessiva de insumos que, além de aumentar o custo da produção, pode acarretar danos ambientais. “Muitos também já a empregam na irrigação para dar apenas a quantidade de água de que a planta necessita.” A técnica está ao alcance dos pequenos produtores mesmo que não disponham de softwares sofisticados. “O que recomendamos é que o agricultor olhe a lavoura e veja se há diferenças que precisam ser trabalhadas. Se tiver áreas mais úmidas, outras mais arejadas, é bom fazer análise de solo. Quanto maior a diferença entre as áreas, maior é o retorno econômico com a agricultura de precisão.” Segundo ele, o pequeno agricultor não precisa sair comprando equipamentos caros. “Às vezes basta uma folha de papel e um lápis. Identificadas as diferenças, ele pode traçar as divisões nas áreas e, com as análises, iniciar o tratamento.” O uso de ferramentas adequadas de georreferenciamento contribui para aumento na produtividade e diminuição de perdas. É possível obter dados precisos sobre as propriedades físicas do solo e sobre a necessidade de aplicação de defensivos e irrigação a partir da análise de pequenas áreas. “Quanto mais subdividida a propriedades rural, mais útil será a informação georreferenciada. O controle das variáveis que influenciam o cultivo depende dessas informações”, diz Inawasu. . Adesão tardia O agricultor Nelson Schreiner, 73 anos, de Itapeva, sudoeste paulista, sempre foi adepto da agricultura tradicional bem trabalhada. Ele adota o plantio direto em 100% dos 850 hectares cultivados na estância São Carlos, mas dispensa a irrigação. “O regime de chuvas é bem reEpitácio Pessoa

a importação de máquinas que antes estavam indisponíveis para a maioria dos agricultores brasileiros. “Muitas vieram já equipadas com GPS que nem os carros tinham”, lembra o pesquisador. Segundo ele, hoje o mercado oferece ao produtor o que há de melhor no mundo em tecnologia para aplicação no campo. “O grande ponto é que, mesmo tendo máquinas, se o agricultor não souber tomar a decisão correta, ele não vai acertar. Ao lado da tecnologia, é preciso gestão”, afirmou. O manejo integrado de informações e tecnologias tem como ferramentas mais utilizadas o GNSS (Global Navigation Satelite System), o SIG (Sistema de Informações Geográficas), geoestatística e mecatrônica, além de sensores de medidas. O Sistema de Mapeamento de Colheita é usado para gerar informações sobre produtividade, armazenando os dados mapeados durante a colheita. A técnica de taxas variáveis permite que o produtor, através da análise dos mapas de produtividade, regule a aplicação de adubos, sementes e corretivos conforme as necessidades do solo. Imagens aéreas ajudam a reconhecer as áreas mais claras ou escuras numa lavoura, fornecendo indícios de diferenças nutricionais do solo. Sensores adaptados às máquinas agrícolas com GPS emitem feixes de luz e, pelo teor de clorofila das folhas, conseguem determinar quanto a planta precisa de fertilizante, especialmente o nitrogênio. A aplicação do insumo ocorre em tempo real, na mesma entrada da máquina na lavoura, e na dose determinada pela leitura do sensor, sem a necessidade de interferência do agricultor. De acordo com Inawasu, as culturas de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e uva são as que mais usam sistemas de precisão, sobretudo para dosar a aplicação de

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Capa Coletar informações para uso em sistemas inteligentes de tomada de decisão virou realidade em vários países, inclusive no Brasil.

Fernando Moraes

gular na região”, afirma. Com sua experiência, Schreiner é capaz de desvendar as carências de nutrientes no solo apenas apertando a terra com a mão. A fazenda dispõe de máquinas modernas e silos próprios para armazenar a produção. Na safra 2013/14, ele se rendeu à tecnologia do manejo integrado da nutrição oferecida pela Nutriceler, empresa que tem seu filho, Schreiner Junior, entre os diretores. Em toda a área, a adubação convencional com nutrientes granulados foi substituída por fertilizantes líquidos concentrados. A soja foi tratada no momento do plantio com produtos à base de fósforo e potássio, além de um composto que ajuda a retenção de água pela planta. “Fizemos uma adaptação na plantadeira para instalar os tanques e possibilitar a aplicação no solo, junto com as sementes, no momento do plantio”, conta o produtor. Num período de estiagem, em que as lavouras da região foram fortemente afetadas, enquanto outros produtores colheram de 20 a 40 sacas por hectare, Schreiner obteve produtividade de 75 sacas por hectare. “A aplicação da tecnologia realmente deu um retorno muito positivo e imagino que, se não fosse a seca, a produtividade seria ainda maior”, disse. Schreiner Junior explica que a aplicação é baseada em análise prévia do solo e a quantidade variou entre 10 e 40 litros por hectare. Na adubação convencional, o agricultor aplicava de 250 a 300 kg de adubo só-

Nelson Schreiner, com o filho, Schreiner Júnior: agricultor tradicional, ele acabou se rendendo às tecnologias de manejo integrado em nutrição vegetal.

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lido por hectare. Ele conta que o processo é inovador, pois o produto ainda ajuda a recuperar o fósforo e o potássio retidos no solo durante a adubação convencional. Um dos componentes da fórmula, o ácido húmico, retém umidade no solo e favorece a absorção dos nutrientes pela planta. O manejo integrado inclui aplicação de fonte de nitrogênio, de liberação controlada na folha, na floração e enchimento de grãos, quando a planta mais precisa do nutriente. “Como as doses são reduzidas, é necessário que as máquinas também tenham tecnologia para garantir uma aplicação eficiente.” O futuro já chegou O desenvolvimento de softwares também ajuda a vencer os desafios no campo. A empresa Olearys desenvolveu uma plataforma que reduz em até 60% a aplicação de defensivos, resultando em número 52% menor de pulverizações, menor custo e menos poluição. O sistema foi instalado com bons resultados nas regiões de Mutum (MT) e São João da Aliança (GO) para prevenir a ferrugem da soja. A tecnologia integra uma estação meteorológica a um sistema de informática que analisa se as condições climáticas são favoráveis à disseminação de determinadas pragas ou doenças. Além da análise de risco, o sistema antecipa em até 15 dias as mudanças no clima. No ano passado, a Embrapa inaugurou o Lanapre – Laboratório de Referência Nacional em Agricultura de Precisão numa área de cinco hectares da Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP). Única no país, a unidade desenvolve processos, conhecimentos e equipamentos para tornar as tecnologias acessíveis aos agricultores brasileiros. A Monsanto desenvolveu nos Estados Unidos um sistema que avisa com precisão qual semente plantar, em que quantidade e com quais fertilizantes em cada parte do terreno para se obter a melhor produtividade. O sistema de plantação prescritiva, denominado Field Scripts, foi testado pela primeira vez nos Estados Unidos em 2013 e começa a se estabelecer naquele país. O sistema usa um banco de dados com informações climáticas, aliado a simulações das condições meteorológicas, em conjunto com mapas de solo e do desempenho das lavouras. Os fazendeiros de quatro estados americanos que o testaram relataram ganhos de produtividade de 5% em dois anos. Não há previsão de quando a plantação prescritiva estará disponível no Brasil. Especialistas do setor acreditam que, independentemente do nome que o sistema possa ter, o futuro da agricultura de precisão dependerá cada vez mais do processamento das informações via web com simulações em tempo real de cenários de cultivo e produção para cada agricultor.


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Mecanização

Diga-me como plantas que te direi quem és! Uma lavoura uniforme é uma obra de arte. O autor traz dicas de como obter estandes com uniformidade horizontal e vertical. Amílcar Centeno *

P

ara o momento do plantio, um ditado popular expressa bem a importância deste momento: “diga-me como plantas que te direi quem és”. Um plantio bem executado resulta numa lavoura com boa emergência, com plantas bem distribuídas e altura uniforme. Este desenvolvimento inicial da lavoura é fundamental para a obtenção de uma alta produtividade, enquanto que um desenvolvimento precário trará problemas ao longo de toda a safra. Como dizem alguns produ-

quantidade certa de sementes num espaçamento preciso, evitando duplas e falhas, uma vez que o espaçamento irregular entre plantas pode resultar em perdas de 2% a 4% na produtividade. Normalmente damos menor atenção à uniformidade no desenvimento vertical das plantas. Isto se explica pelo fato de ser muito mais complexo gerenciar esta variável durante o plantio. Por outro lado, a obtenção de uma uniformidade no desenvolvimento inicial das plantas é mais crítico do que

Pesquisas indicam que a emergência desuniforme reduz a produtividade de 9% a 22%. tores: “os pecados do plantio te assombrarão ao longo de toda a safra”. Quando se fala em uniformidade do estande de plantas, é preciso diferenciar duas dimensões, que exigem soluções diferentes para serem obtidas: a uniformidade horizontal, representada pelo espaçamento uniforme entre sementes e plantas, e a uniformidade vertical, defininida pela uniformidade na altura e o estágio de desenvolvimento das plantas após a emergência. Tanto os fabricantes de plantadeiras como os agricultores tendem a colocar muito foco na obtenção de uma boa distribuição de sementes, utilizando soluções avançadas e fazendo ajustes cuidadosos com o objetivo de colocar a 30 | Agro DBO – outubro 2014

a obtenção de um espaçamento uniforme. Pesquisas indicam que a emergência desuniforme reduz a produtividade de 9% a 22%. Plantas com diferentes velocidades de desenvolvimento terão impactos diversos na produtividade da lavoura. No milho, por exemplo, as plantas que estiverem com uma ou duas folhas a menos que as plantas mais desenvolvidas consumirão nutrientes e água como se fossem plantas normais, porém utilizarão apenas parte do seu potencial produtivo. Já as plantas mais atrasadas, com três (ou mais) folhas a menos, se comportarão como invasoras, competindo por nutrientes e água, porém sem contribuir para a produção da lavoura.

As estimativas aqui apresentadas são para a lavoura de milho, porém outras culturas, como a soja, também terão produtividade afetada pelas práticas de plantio, incluindo a data de semeadura e as variações na população de sementes. Para que se obtenha emergência e desenvolvimento uniforme deve-se atentar para três fatores: – Profundidade correta da semente; – Uniformidade da profundidade, ao longo e entre as linhas; – Contato da semente com o solo. Antes de iniciar o plantio é preciso que os mecanismos de pressão das linhas estejam ajustados de modo a garantir a profundidade de plantio desejada, principalmente quando o solo se encontra seco e compactado. Além disso, é preciso verificar o ajuste das rodas de controle da profundidade em cada linha de plantio, assegurando que todas apresentem a regulagem adequada. É fundamental, também, revisar cada uma das linhas de plantio para identificar folgas excessivas nos mancais destas rodas, desgastes nos discos sulcadores da semente ou danos nos mecanismos de pressão das linhas. Durante a operação, a profundidade de trabalho pode variar em função das condições do solo, aprofundando a semente em solos mais úmidos e soltos, ou colocando-a mais superficialmente em solos mais secos e duros. Algumas


das plantadeiras mais avançadas estão equipadas com mecanismos ativos, hidráulicos ou pneumáticos, que ajustam a pressão sobre cada linha de plantio, de modo a manter a profundidade adequada nas condições de solo encontradas por cada uma destas linhas ao longo da sua operação. Em condições muito úmidas é preciso cuidar para que a aderência de solo sobre a superfície das rodas de profundidade não alterem a profundidade de trabalho. Outro ponto a ser observado com cuidado é o corte da palha pelo disco de corte (coulter), pois se estes resíduos não forem totalmente cortados poderão interferir no trabalho dos sulcadores ou dos mecanismos de controle da profundidade. Para que uma semente germine, precisa de calor e umidade, e para que isso aconteça adequadamente é preciso que tenha um bom contato com o solo. É importante que o solo esteja solto e levemente compactado em torno da semente, sem torrões ou espaços vazios. Para garantir isso, as rodas cobridoras devem estar bem ajustadas, de modo a trazer de volta para o sulco o solo afastado pelos sulcadores. Além disso, as rodas compactadoras devem receber a pressão adequada para firmar o solo sobre a semente, porém sem compactá-lo excessivamente e sem criar uma crosta alisada e compactada, quando em condições de alta umidade. Outro recurso disponível são os mecanismos firmadores, que aplicam uma leve pressão sobre a semente antes do fechamento do sulco. A forma mais rápida de avaliar a qualidade do estande que está sendo plantado é retirar algumas das primeiras plântulas que emergirem, comparando o comprimento do mesocotilo, aquela conexão tubular branca entre a coroa da planta e a semente. Plantas emergidas de modo uniforme

terão o mesocotilo de mesmo comprimento. Por outro lado, uma variação muito grande neste comprimento indica que a plantadeira necessita de ajustes para melhorar o estande das áreas que ainda serão plantadas. Um dos grandes desafios durante o plantio é conseguir obter toda esta qualidade da operação dentro do prazo adequado. De uma forma geral, uma mesma variedade precisa ser semeada num prazo de cerca de três semanas, sendo que cada dia de atraso compromete aproximadamente 1% do potencial produtivo das plantas. Deste modo, é preciso dimensionar a frota de máquinas de modo a executar esta operação no prazo adequado para a cultura com maior área e menor janela de plantio. No caso de eventuais atrasos no plantio, um dos recursos que se pode utilizar é aumentar a velocidade de plantio. Os produtores atentos a isso preferem executar a operação a velocidades reduzidas. Neste caso, é preciso ter em mente que a maior parte dos dosadores de sementes permite uma dosagem precisa mesmo com velocidades mais elevadas. Os dosadores mecânicos, com discos alveolados, normalmente apresentam pouca alteração na sua precisão com velocidade entre 6 e 8 km/h. Já os dosadores a vácuo permitem operar de 8 a 12 km/h com praticamente a mesma eficiência.

A principal limitação ao aumento de velocidade está de fato nos mecanismos de solo. Um sulcador tipo haste, por exemplo, poderá lançar o solo a uma distância tão grande que as rodas cobridoras não conseguirão trazê-lo de volta para cobrir a semente. Já os sulcadores de discos podem reduzir a profundidade de trabalho em velocidades mais altas. Portanto, mantenha olho vivo no trabalho das linhas de plantio para avaliar a possibilidade de acelerar a operação. Caso seja possível, use o máximo de velocidade. Isso aumentará proporcionalmente o seu rendimento horário, praticamente sem custos adicionais. Um recurso adicional para acelerar a operação de plantio sem perda de qualidade é o uso do piloto automático, que permite aumentar a jornada de trabalho, já que a tecnologia permite plantar à noite, num regime de 24 horas/dia. Muitos agricultores já trabalham desta forma. E comprar um piloto automático custa muito menos do que adquirir um trator adicional e uma nova plantadeira para aumentar a capacidade de trabalho. Outro aliado para a execução de uma boa semeadura é o monitor de plantio. Falaremos sobre eles em nosso próximo artigo. * o autor é engenheiro agrícola e especialista em máquinas agrícolas.

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Entrevista

Valor da terra subiu muito, mas já estabilizou.

O

engenheiro agrônomo José Vicente Ferraz, 57, diretor técnico da consultoria Informa Economics FNP, concedeu entrevista para Agro DBO, conduzida pelo editor-executivo Richard Jakubaszko, quando detalhou sutilezas do mercado de terras para agricultura no Brasil, sobre causas e consequências dos elevados preços hoje praticados. Ferraz falou também sobre o CAR – Cadastro Ambiental Rural, questão que traz dores de cabeça aos produtores pelo baixíssimo nível de informações existentes. A Informa Economics, é uma multinacional inglesa, que passou a atuar no mercado brasileiro a partir da aquisição, em 2005, de uma empresa nacional de consultoria, a FNP, da qual Ferraz foi um dos sócios-fundadores.

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Agro DBO - Os preços das terras para agricultura subiram muito nesses últimos anos. A que se deve isso? José Vicente Ferraz – Como previmos, já perdeu força esse movimento altista, e tende para uma acomodação. O principal fator altista foi o de que se formou a consciência de que os países com capacidade de produção agrícola, entre eles o Brasil, deveriam produzir alimentos para o mundo, para atender à crescente demanda, especialmente dos países que tinham tendência de evoluir para a inclusão social das suas populações, e que criaram novos consumidores ao redor do mundo, com destaque para China e Índia. As projeções de organismos internacionais, como FAO e OCDE, indicam que existe uma taxa de crescimento alta e constante na demanda de produtos agrosilvipastoris e de biocombustíveis. Isso vai exigir enorme aumento na produtividade e também na expansão de áreas para plantios, para atender essa demanda. Essa consciência é que levou ao fato de que o valor da terra, por ser recurso limitado no planeta, tivesse uma valorização significativa. Agro DBO – Onde foram essas altas? José Vicente Ferraz – No Centro-Oeste, basicamente Mato Grosso, e na região do Mapitoba (Maranhão – Piauí – Tocantins e Bahia), houve um impulso muito forte nos preços. Agro DBO – De quanto foi o incremento de preços no Mapitoba? José Vicente Ferraz – Os preços médios evoluíram na faixa de 17% a 18% ao ano. Na composição isso chega a mais de 300%, quase 400%

de valorização nesses últimos 12 anos. Isso se deve também ao fato de que nesses anos nós evoluímos para uma tecnologia muito boa, que permitiu o uso dessas terras, antes consideradas “terra de ninguém”, que eram sem valor, porque se considerava que eram improdutivas. Hoje, em 2014, um hectare de terra em Balsas está na ordem de R$ 15 mil reais, com gente produzindo mais de 50 sc/ha de soja. Agro DBO – Qual cultura mais influenciou essa valorização? José Vicente Ferraz – Na região do Mapitoba, no Brasil Central e no Sul do país, foi a dobradinha soja-milho, e no Sul do país. A cana influenciou mais os preços em São Paulo, e em microrregiões de Minas Gerais e Goiás. Historicamente, os mercados mais maduros de terras, como os do Sudeste e Sul, tendem a refletir a taxa interna de retorno que se pode obter com a exploração dessa terra, essa é a lógica! Agro DBO – O Código Florestal, mais as questões de Reserva Legal e APPs, influenciou essa alta? José Vicente Ferraz – Influenciou muito pouco nos preços vigentes. Dependendo de como essas questões evoluam, poderá trazer uma instabilidade muito grande nos preços futuros, é claro, mas ainda sem previsão de quando isso vai acontecer. Vai depender da demanda por novas áreas, impulsionada por preços futuros das commodities, e também de como se vai fazer as compensações de terras para Reserva Legal. Há muita desinformação no mercado, os órgãos públicos responsáveis, especialmente os ligados às questões ambientais, não têm es-


clarecido os produtores sobre o que deve ser feito ao pé da lei, ou seja, do Código Florestal. Agro DBO – Qual o exemplo mais gritante dessa desinformação? José Vicente Ferraz – É a compensação, para quem desmatou, de áreas de Reserva Legal, dentro do mesmo bioma, como determina a lei. A questão é que um bioma avança em diversos estados ao mesmo tempo, mas as burocracias dos estados, que não conversam entre si e nem com o governo federal, não aceitam que as compensações sejam feitas dessa forma. Dentro de um prazo não longo no horizonte, de cinco anos a dez anos, precisará haver uma reavaliação do Código Florestal, caso contrário as gerações futuras serão engessadas para a produção de alimentos. Como foi aprovado, é uma aberração, só no Brasil e no Paraguai temos esse instituto da Reserva Legal, que não faz nenhum sentido, seja em termos agronômicos, ambientais ou biológicos, e se explica por que não existe no resto do mundo. A classificação óbvia e mais elementar seria determinar terras aptas ou inaptas, nada mais do que isso. Agro DBO – A compra de terras por estrangeiros, há uma definição jurídica do assunto? José Vicente Ferraz – Há o parecer da AGU – Advocacia Geral da União, que é contrário à com-

pra de terras por estrangeiros, e que não tem força de lei. Na prática, os cartórios e outros órgãos, federais ou estaduais, que regulam os registros de terras, não aceitam oficializar. Enquanto o Congresso não definir a questão vamos levando “à brasileira”, no jeitinho. Os chineses não têm mais projetos de compra de terras no Brasil, mas alguns investidores internacionais, especialmente fundos de pensões, se associam ou têm adquirido empresas brasileiras proprietárias de terras, mas como estrangeiros não podem ter participação acionária superior a 49,9% do capital social. Agora, a maior aberração que se discute no Brasil, é que os gringos têm preocupação com a segurança alimentar deles, e que produziriam aqui para mandar alimentos para eles mesmos. Isso não existe, nenhum investidor viria aqui com essa preocupação, o que eles querem são retornos financeiros na produção de alimentos, nada mais. E, claro, não podem “levar embora” essa terra adquirida aqui, como acusam alguns nacionalistas, de que iriam “invadir e dominar” o Brasil através da compra de terras. Para se ter uma ideia, os fundos de pensões, hoje em dia, que dispõem de bilhões de dólares em caixa, são donos da maior parte das terras na Europa, especialmente as áreas de vinhedos e olivais, na Itália, França, Grécia Espanha e Portugal, são áreas arrendadas por 100 anos, onde os antigos proprietários con-

tinuam produzindo. São investimentos de baixo risco e longo prazo, mesmo que proporcionem renda baixa, pois eles querem retorno garantido, e não estão especulando como entendem alguns brasileiros. Agro DBO – O CAR - Cadastro Ambiental Rural, há desinformação entre os produtores. Ninguém sabe o que deve ser feito. José Vicente Ferraz – O que se precisa é fazer um levantamento georreferenciado de cada propriedade, definição das áreas averbadas, da Reserva Legal definida, se está na propriedade ou no mesmo bioma, mas em outra região, preencher o cadastro e entregar o cadastro. Quem tem ajudado muito nesse processo são as cooperativas e os sindicatos rurais, mas não há necessidade de se ter um técnico ou especialista para preencher o cadastro e homologar o mesmo nas secretarias de meio ambiente local ou estadual, apesar de ser um material complexo. Evidentemente que cada propriedade tem sua característica única, e é normal existirem dúvidas. Na Informa Economics a gente presta serviços nessa área, usando tecnologias de ponta, satélite, e mesmo assim tomamos sufoco diante de certas exigências legais, mas não é um bicho de 7 cabeças. O que precisa é cadastrar até maio de 2015, para não ficar a mercê de multas, e lá pode haver prorrogação de prazo, mas é bom não contar com isso.

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Artigo

Vacas magras ou gordas? A próxima safra depende dos custos administrados de cada produtor, pois os preços das commodities e do dólar não sabemos. Daniel Glat *

C

om a colheita americana confirmando todas as previsões otimistas, e o preço futuro da soja já se situando nos US$ 9.5 a US$10/bu, fica claro para todos que 2014 vai ser um ano no mínimo complicado. Verdade que estamos vindo de últimas 5 safras altamente favoráveis economicamente, excluindo-se os atingidos por intempéries climáticas. Essas últimas safras foram muito favoráveis economicamente porque nesse período os preços aumentaram proporcionalmente até mais do que os custos de produção; quando preços e custos aumentam por um mesmo percen-

tual a margem também aumenta por esse mesmo percentual, e isso já é um ótimo negócio. Quando os preços aumentam percentualmente mais que os custos de produção, aí se dá o “paraíso astral” que vivemos na soja nos últimos anos. De fato, quando analisamos os dados das últimas 5 safras numa típica propriedade agrícola do Cerrado, no caso da minha fazenda no Tocantins (quadro 1), observamos que os custos de produção em reais subiram 75% em média enquanto nesse período os preços médios subiram por volta de 90%; essa relação faz as margens, para um mesmo nível de produtivida-

de, subirem mais de 100%. Nesse caso, também o aumento de custos com insumos, incluindo diesel, foram maiores que os aumentos dos custos operacionais, fixos e administrativos, sendo os dois últimos beneficiados pelo ganho de escala devido ao aumento da área plantada no período. Importante lembrar que custo de produção é igual nariz, cada um tem o seu; pode ser com ou sem custo de oportunidade da terra neste caso é sem esse custo e sem arrendamento - pode ser baseado no custo de hora/máquina ou com despesas de manutenção, diesel e depreciação, rateados pelos hectares plantados; podemos ratear as despesas fixas com o milho safrinha ou podemos deixar só na soja e formar os custos da safrinha só com custo de insumos e operações. Além do mais, cada produtor usa um pacote tecnológico diferente e o momento e forma da compra de insumos também influencia os custos finais. No caso do preço médio, depende-se muito do momento de cada fechamento de lote, futuro ou entregue. Assim, é normal que cada propriedade tenha um custo e um preço médio dife-

Quadro 1 - Variação custos de produção e preços médios, fazenda Boa Sorte (TO) 2009 a 2013 Ano

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e produtor rural em Tocantins.

“Custo de produção total (exclui frete)”

Custo de Insumos

“Custos fixos/operacional administrativo”

Preços FOB Fazenda

2009

R$ 1.324,00

R$ 760,00

R$ 564,00

R$ 30,90

2010

R$ 1.369,00

R$ 798,00

R$ 571,00

R$ 37,00

2011

R$ 1.528,56

R$ 885,00

R$ 643,56

R$ 43,40

2012

R$ 1.920,00

R$ 1.260,00

R$ 660,00

R$ 56,50

2013

R$ 2.300,00

R$ 1.470,00

R$ 830,00

R$ 59,00

Aumento percentual >

74%

93%

47%

91%

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rente. No entanto, acreditamos que a variação através dos anos seja relativamente similar entre produtores e é esse ponto que queremos demonstrar. Nos custos de insumos, o maior aumento foram nas pulverizações, causados não somente pelo aumento dos custos dos produtos, mas principalmente pela necessidade de se fazer mais aplicações, ou usar maiores doses de produtos, devido à maior pressão a cada ano de ferrugem, mancha alvo, antracnose, falsa medideira, helicoverpa e percevejos. Agora, quando começamos o plantio da safra 2014, sabemos que os custos de produção vão se situar de 3% a 7% mais caros que 2013, no mínimo. E os preços? Nesse momento, acho que só por um milagre os preços médios em reais cairão menos que uns 15% a 20%.

Só mesmo uma forte aceleração do dólar em relação ao real poderá melhorar essa relação. Assim, depois de 5 anos, poderemos ter um descasamento severo entre variação nos custos de produção e nos preços médios; e mais, fica claro que os custos de produção atuais, incluindo aí tanto o pacote tecnológico que usamos como os preços dos insumos, são viáveis ou com-

final. O cenário não é animador para soja nessa safra e o milho e algodão não podem ajudar muito, pois também estão por baixo. Receio que, tal qual na passagem bíblica, depois de vários anos de “vacas gordas”, possamos ter uma safra de “vacas magras” pela frente, economicamente falando. 2014/15 será a safra para diferenciar novamente os produtores

2014/15 será a safra para diferenciar os produtores amadores dos profissionais patíveis para soja acima de US$12/ bu e/ou dólar a partir de R$ 2,40 ou mais; na relação custos/preços que se vislumbra para a safra 2014/15, somente altas produtividades médias (acima de 55 sc/ha) e muito critério no que e quando aplicar, poderá ajudar no resultado

amadores dos profissionais, já que com preços altos essa diferença se confunde, pois todo mundo ganha. Vamos torcer para São Pedro fazer a parte dele, e, mais do que nunca, teremos que fazer a nossa com muita qualidade e eficiência. Boa sorte e boa safra para todos nós!

outubro 2014 – Agro DBO | 37


ILP

A saga de um “integrador” de primeira viagem O pecuarista Carlos Viacava enfrenta o desafio de fazer integração em solos arenosos. Agro DBO acompanha essa experiência. Maristela Franco

Soja sobre um tapete de braquiária: promessa de maior rentabilidade para Viacava (ao lado).

U

m dos maiores especialistas do País em integração lavoura-pecuária, o pesquisador da Embrapa João Kluthcouski, mais conhecido como João K, costuma dizer que a adoção da ILP (Integração Lavoura Pecuária) é um desafio maior para os pecuaristas do que para os agricultores. Faltam-lhes, muitas vezes, conhecimento agronômico, mão de obra especializada e infraestrutura para produção (máquinas, silos, galpões), além de familiaridade com os riscos inerentes à atividade, enquanto, para o agricultor, o pasto é uma cultura a mais, sendo necessário apenas aprender a manejar o gado, que pode ser introduzido no sistema apenas no inverno. “Quando o pecuarista decide encarar o desafio da ILP, contudo, passa a ter pastagens mais produtivas e a produzir

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uma arroba mais barata. Não larga mais o sistema”, assegura. O pecuarista Carlos Viacava, 73 anos, um dos principais selecionadores de Nelore Mocho do Brasil, confirma a tese de João K. Em 2013, preocupado com a baixa lucratividade da pecuária, ele decidiu fazer ILP em duas de suas fazendas: a Campina, de 2.480 ha, em Caiuá, próximo a Presidente Venceslau, sudoeste de São Paulo, e a São José, de 847 ha, em Paulínia (SP). “Não foi um começo fácil. Tivemos de mudar toda a rotina das propriedades, desfazer cercas e módulos de rotacionado, vender gado para destinar área à agricultura, montar uma infraestrutura específica para ela e principalmente aprender a conviver com os humores de São Pedro. Mas não pensamos em desistir”, garante o “integrador” de primeira viagem.

No caso da Fazenda Campina, em Caiuá, Viacava teve de enfrentar o risco de plantar soja em terras impróprias para a cultura, devido à predominância dos chamados argissolos, que são pouco férteis e compostos por uma camada de 40 a 80 cm de textura arenosa, seguida por outra argilosa, o que favorece a erosão e dificulta a infiltração de água em profundidade. Para o projeto na Fazenda Campina, o nelorista gastou R$ 700.228 em recursos próprios na compra de insumos agrícolas e R$ 797.900 em conjuntos mecanizados, adquiridos com recursos do Finame, Fundo de Financiamento para Aquisição de Máquinas e Equipamentos Novos. “Nosso principal objetivo com a ILP é melhorar a rentabilidade da fazenda, mas também queremos contribuir para o desenvolvimento da região, ajudando a validar


um modelo que sirva de exemplo para outros produtores”, justifica. Batismo de fogo Inspirando-se nas ideias de João K e no trabalho pioneiro do agrônomo Edinaldo Auri Mathias, que há 10 anos faz plantio direto em argissolos, colhendo de 60 a 70 sacas de soja/ha, em Rancharia (sp), Viacava seguiu em frente, mas passou por um batismo de fogo: a pior seca já registrada em São Paulo nos últimos 70 anos. “Plantamos 358 ha de soja na Fazenda Campina e 105 ha na São José em 2013/2014, mas colhemos apenas 156,4 ha na primeira e 85 ha na segunda. Conheci de perto a angústia do agricultor que vê sua lavoura morrendo por falta de chuva”, lembra o pecuarista, que não se deixou levar pelo pessimismo. Nesta safra, pretende fazer 494 ha de lavoura em Caiuá. “Apesar dos prejuízos com a soja, o saldo foi positivo em experiência e em produção de alimento para o gado na safrinha”. Viacava não decidiu fazer ILP na Fazenda Campina porque ela estava degradada. Cerca de 914 ha (46% da área de pastagem) já eram rotacionados e adubados regularmente. “Quando João K esteve aqui pela primeira vez, em 2013, perguntei que nota dava à fazenda e ele disse: nota 9. Fiquei surpreso, mas, segundo João, em comparação com outras propriedades pelo Brasil, a minha estava em boas condições”, relembra Viacava. Por que, então, aventurar-se em uma atividade de risco tão alto como a agricultura? “Porque a pecuária sozinha já não dá receita suficiente para o produtor, mesmo quando se trabalha com animais de seleção; nem remunera o preço da terra na região de São Paulo. Quero deixar aos meus filhos e netos um negócio sustentável”, explica o nelorista, que já conta com a parti-

Faltou palhada para o plantio direto.

cipação do filho Ricardo (o Cadão) na administração dos negócios da família. Segundo João K, a coragem e a persistência demonstradas por Viacava são fundamentais para o sucesso da ILP. “Muitos pecuaristas desistem no primeiro ano quando se deparam com dificuldades, pois têm medo de novos prejuízos”, explica o pesquisador, salientando que não há outra forma de se viabilizar projetos agrícolas em solos arenosos, cuja fertilidade precisa ser gradativamente construída por meio da incorporação de matéria orgânica e adubos químicos, em plantios diretos sucessivos. “Com o tempo, esse solo se tornará mais estruturado fisicamente e a lavoura mais produtiva, além de menos sujeita a perdas por veranicos, pois é protegida por um colchão de palha”, diz o pesquisador. Faltou palha “Sabíamos da importância de produzir palhada para o plantio direto, mas o clima foi carrasco conosco em 2013/2014”, lamenta Viacava. Assessorado por Edemar Moro, professor da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), entidade parceira do projeto, ele fez tudo direitinho: em maio de 2013, limpou a área destinada ao plantio e distribuiu 2 t de calcário, 500 kg de gesso e 400 kg de supersimples por ha, conforme análise de solo, deixando o pas-

to em repouso por dois meses para acumulação de massa. Mas, quando o capim já estava alto, pronto para dessecação em agosto, veio uma geada forte e queimou boa parte das pastagens. “O capim não conseguiu rebrotar direito, pois muitas plantas-mãe haviam morrido com o frio, então semeamos milheto na tentativa de obter palha para o plantio direto”, conta Juliano Roberto da Silva, gerente da Fazenda Campina. Chegou outubro, e nada de chuva. “Em novembro, conseguimos plantar alguns talhões, mas depois de uma chuvinha em dezembro e outra em janeiro, São Pedro se esqueceu da gente”, diz Viacava. Na região de Caiuá, chove em média 1.200 mm por ano, quantidade mais do que suficiente para o desenvolvimento da leguminosa, que exige cerca de 500 a 700 mm por ciclo, com precipitações mais concentradas na fase de enchimento dos grãos. Segundo Juliano Silva, alguns talhões de soja não receberam nem 160 mm de chuva em 2013/2014, enquanto outros foram mais “afortunados”, recebendo 238 mm em fases de maior exigência hídrica. Quando Agro DBO visitou a Fazenda Campina, em fevereiro deste ano, a tensão era grande, pois a leguminosa estava na fase em que mais necessitava de água e já apresentava aspecto murcho, por causa do estresse hídrico. Semanas depois,


ILP “Não decidi plantar soja para me transformar em um agricultor, mas para produzir comida para o gado, cuja demanda é alta na seca.” do plantel de 2.600 matrizes puras Nelore Mocho pertencentes ao selecionador, que faz quatro leilões por ano, tem 15 reprodutores em centrais e comercializou 800 touros e 300 matrizes em 2013. “Esse rebanho, de alto potencial genético, não pode passar fome”, salienta.

Animais, em pasto proveniente de ILP, ganharam mais peso do que os suplementados com ração.

61,7 ha de lavoura seriam transformados em silagem de soja para evitar perda total. Na área mais arenosa (139,8 ha), onde faltou palha por causa da geada, a soja não suportou o calor e morreu degolada. Já nos talhões onde o capim forneceu algum suporte à cultura (156,4 ha), ela aguentou mais o tranco, fornecendo entre 21 e 35 sacos/ha. “Sem a camada protetora propiciada pelo capim dessecado, é muito difícil fazer agricultura em solos arenosos”, explica Edemar Moro, da Unoeste. “Na Fazenda São José, em Paulínia, também sofremos alguns percalços, como chuvas pesadas na fase de germinação, seguidas de seca, mas o resultado foi melhor e colhemos 45 sacos/ha”, informa Viacava. Grata surpresa Apesar do sufoco vivido com a soja, Viacava teve uma grata surpresa com a ILP. Nos 61,7 ha onde a leguminosa foi transformada em comida para o gado (silagem), aproveitou-se o retorno das chuvas em fevereiro/março para plantar milho consorciado com braquiária. Depois de colhido o milho para silagem, o capim cresceu, ficando pronto para receber animais no inverno. Já nos 140 ha onde a soja foi degolada, semeou-se braquiarão junto com milheto e guandu anão, que também garantiram boa silagem, seguida de

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posterior pastejo. Parte dos talhões efetivamente colhidos (97,2 ha) foram plantados, em safrinha, com milheto, braquiária e aveia, e outra parte (59,2 ha) com milheto e braquiária, ambos para pastejo direto. “Nos quatro casos, obtivemos forragem de qualidade para os animais no período mais crítico da entressafra”, informa Juliano. “Os pastos provenientes da ILP salvaram a fazenda neste ano tão difícil”, acrescenta Viacava, lembrando que, sem eles, teria gasto muito dinheiro com ração. Em 22 de agosto (pico da seca), quem participou do dia de campo organizado pelo produtor na Fazenda Campina, em Caiuá, pôde observar os animais comendo milheto ou capim de primeiro ano (verde e farto, como no período das águas), enquanto em boa parte das fazendas vizinhas os pastos se apresentavam secos e com pouca massa. “Não decidi plantar soja para me transformar em um agricultor, mas para produzir comida para o gado, cuja demanda é alta na seca. Já chegamos a encher cinco silos de 800 t cada com silagem de milho, capim ou sorgo, para sustentar os animais nesse período a um custo alto. Com a ILP, espero que essa produção de alimentos se torne mais barata”, diz Viacava. A Fazenda Campina é especializada em cria e sustenta parte

Projeções futuras Convicto de que a ILP é a melhor alternativa para melhorar a produtividade da fazenda, Viacava já se prepara para plantar a próxima safra de soja. “Dessa vez, fiz seguro, embora ele não dê muita cobertura porque a região de Caiuá não é considerada um polo agrícola. Em função do maior risco, o seguro garante apenas reembolso equivalente a 19 sacas/ha em caso de sinistro, enquanto, pelos nossos cálculos, o custo somente com insumos é de R$ 1.320/ha, ou 22 sacas vendidas a R$ 60 cada”, pondera o criador. Nesta safra, Viacava vai plantar soja apenas em parte dos 357 ha que cultivou em 2013/2014. “Decidimos destinar os talhões mais arenosos, onde a soja não vingou no ano passado, exclusivamente à pecuária por algum tempo e converter outros 170 ha de pastagem em lavoura. Apesar do custo alto do plantio de primeiro ano, essa medida nos permitirá melhorar mais rapidamente a fazenda e minimizar riscos”. Segundo o produtor, a área nova demandará um esforço extra no preparo, pois está desnivelada e cheia de tocos, que precisam ser arrancados com trator de esteira. “Normalmente, o pecuarista não precisa efetuar essas operações para formar pastagens, pois as sementes de capim são distribuídas a lanço. Já na agricultura, elas são fundamentais, pois as máquinas não transitam em áreas com tocos”, explica Edemar Moro. “Compramos os insumos e estamos animados com as previsões


climáticas para 2014/2015”, diz Viacava, ressaltando que um dos saldos positivos desse primeiro ano de ILP foi uma maior compreensão da dinâmica agrícola. “Agora sabemos que é preciso produzir no mínimo 35 sacas de soja/ha para cobrir despesas com mão de obra, horas-máquina, amortização de investimentos no preparo do solo e na colheita, que é terceirizada. O que colhermos acima desse patamar será lucro”, conclui. Perfil do Produtor Carlos Viacava não é um pecuarista típico. Sempre manteve um pé na cidade e outro no campo. Seu pai era italiano, dono de um laboratório em São Paulo, mas gostava de terra e possuía um sítio em Paulínia, onde a família passava as férias. Viacava formou-se em economia pela USP, onde foi aluno de Delfim Netto, que lhe arrumou o primeiro emprego, em 1962, na Comissão Interestadual da Bacia Paraná-Uruguai. Nos anos seguintes, os dois trabalharam juntos em vários órgãos e, quando Delfim se tornou ministro do Planejamento, no governo Figueiredo, Viacava assumiu o comando da Secretaria Especial de Abastecimento e Preços. Depois, foi secretário geral do Ministério da Fazenda e diretor da Cacex. Quando deixou o governo, Viacava usou a experiência acumulada na área de exportação para dar consultoria nas áreas de carne, café e citricultura. Também passou a dedicar-se à pecuária. Em 1986, incentivado pelo amigo Ovídio Carlos de Brito, começou a criar Nelore Mocho. O desafio de plantar na areia Apesar de 2013 ter sido um ano péssimo para “debutar” na ILP, João K não tem dúvida de que a técnica é viável e pode significar a redenção para os argissolos do País, que, além

do oeste paulista, se estendem pelo noroeste do Paraná, norte de Goiás, oeste da Bahia, centro do Mato Grosso do Sul e do Tocantins, totalizando cerca de 44 milhões de ha. Boa parte dessa área está coberta por pastagens, em sua maioria degradadas, que poderão ser recuperados por meio da ILP, se os pecuaristas se animarem a fazer lavoura, sozinhos ou em parceria com agricultores experientes. No caso do oeste paulista, segundo João K, a ILP é ainda mais interessante, pois já existe uma infraestrutura pronta para colheita, escoamento, armazenamento e esmagamento dos grãos no Estado. Se o modelo em fase de implantação na Fazenda Campina, já adotado há 10 por Edinaldo Mathias em Rancharia e hoje carro-chefe do desenvolvimento da região do Arenito Caiuá for difundido para outras partes do País, será possível aumentar consideravelmente a produção nacional de grãos sem necessidade de abertura de novas terras na Amazônia. “É importante frisar que os argissolos não devem ser cultivados no sistema convencional. O modelo adequado à região é o plantio direto sobre farta camada de palha, fazendo-se dois anos de soja, seguidos de milho consorciado com capim em safrinha, e depois dois ou três anos de pastagem”, diz Edemar Moro, da Unoeste. Tecnologias adotadas Viacava escolheu justamente esse modelo para fazer ILP na Fazenda Campina, cuja área destinada à agricultura foi dividida em quatro módulos, para se possibilitar a rotação bianual. A meta é manter 50% da fazenda com lavoura e 50% com pecuária, sem diminuir o tamanho do rebanho. Pelo contrário, a projeção é de que este aumente em pelo menos 30% a partir do terceiro ano.

Levantamento realizado por Ricardo Viacava mostrou que a lotação já passou de 1,9 cab/ha, em 2013, para 2,2 cab/ha neste ano, em função dos bons pastos de inverno. “Além de reduzir o custo por arroba e aumentar a capacidade de suporte da fazenda, queremos produzir touros mais pesados a pasto, fazer seleção para precocidade sexual e aumentar a produção de bezerros por matriz disponível”, diz Cadão. Edemar Moro informa que serão testadas, na Fazenda Campina, algumas tecnologias ainda pouco difundidas na região, como uso do inoculante de soja no sulco de plantio durante o processo de semeadura, para melhorar a fixação biológica de nitrogênio pelos rizóbios que vivem em simbiose com a planta. “O uso do inoculante no sulco aumenta a produtividade da soja”, diz Moro. O professor da Unoeste também pretende fazer dessecação antecipada do pasto, pois isso possibilita que as raízes do capim apodreçam antes do plantio da leguminosa, tornando o solo mais poroso e apto à retenção da água da chuva, o que favorece a cultura, além de facilitar a semeadura. Também estão em testes cultivares de soja OGM resistentes ao glifosato.

Inoculação no sulco garante maior produção de nódulos nas raízes


Artigo

Bioetanol e saúde pública Falta incentivo do governo para o uso de biocombustíveis, especialmente em grandes cidades, prática que beneficia a saúde. Décio Luiz Gazzoni *

A

* O autor é engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

o queimar combustível no motor, os veículos lançam na atmosfera uma plêiade de poluentes. Apesar dos avanços tecnológicos, da maior eficiência dos motores e do uso de catalisadores cada vez mais sofisticados, as emissões de gases e particulados ainda são suficientes para causar sérios problemas de saúde pública, particularmente nas grandes metrópoles. Tanto para o homem, como para outros animais, os principais órgãos afetados são o coração e os pulmões, prejudicando não apenas a qualidade de vida, mas abreviando a própria expectativa de vida. Estudos da USP, Universidade de São Paulo, mostram que um paulistano, que passe toda a sua vida na capital, tem expectativa de vida até dois anos inferior a quem vive em regiões com trânsito menos intenso, como no interior do estado de São Paulo. O principal vilão das emissões é o material particulado. Trata-se de um conjunto de poluentes

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composto de poeiras, fumaças e outras substâncias em estado sólido ou líquido, que consegue ficar em suspensão na atmosfera por conta de seu pequeno tamanho. Parcela do material particulado se forma na atmosfera, devido a reações de gases como dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COVs), que são emitidos principalmente em atividades de combustão, mormente nos motores dos veículos. Quanto menor o tamanho do material particulado, maiores são os impactos causados na saúde. O tamanho das partículas é medido em micron (milésimo do milímetro). Do total do material particulado, consideram-se partículas inaláveis aquelas que possuem diâmetro igual ou inferior a 10 micra (MP10), subdivididas em partículas inaláveis finas – MP2,5 (<2,5 µm) e partículas inaláveis grossas (2,5 a 10 µm). As partículas finas, devido ao tamanho diminuto, podem atingir os alvéolos pulmonares, enquanto as grossas ficam retidas na parte superior do sistema respiratório. As partículas finas são classificadas pela OMS, Organização Mundial de Saúde, como o poluente de maior efeito nocivo à saúde humana. Pesquisa Há muito tempo, o Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP, sob a liderança do Dr. Paulo Hilário Nascimento Saldiva, tem se dedicado a investigar o impacto

das emissões tóxicas dos veículos sobre a saúde da população. Uma das descobertas dos cientistas foi a diferença do impacto quando são usados biocombustíveis em substituição a derivados de petróleo. Um estudo recente mostrou que, na hipótese de substituir totalmente a gasolina por etanol, nos veículos que circulam nas principais capitais brasileiras, haveria uma economia de R$ 67 milhões por ano, devido exclusivamente à redução nas internações hospitalares como consequência de problemas respiratórios. Para chegar a esse número, os pesquisadores avaliaram a frota de veículos leves e o consumo de combustíveis de oito regiões metropolitanas brasileiras, quais sejam: Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória. O modelo utilizado na pesquisa previa o uso, pelos motoristas, de três tipos de combustíveis: a) gasolina sem a mistura de etanol anidro (gasolina A); b) gasolina com 25% de etanol anidro (gasolina C); e c) etanol hidratado. Resultados A pesquisa destacou a presença do material MP2,5, uma mistura de partículas em suspensão no ar capaz de chegar até os pontos mais profundos dos pulmões. Esse poluente é gerado principalmente na queima de combustíveis por veículos, e classificado pela OMS, como o poluente de maior efeito nocivo à saúde humana. As conclusões do estudo mostraram que, utilizando apenas


gasolina comum nos carros que rodam nas principais regiões metropolitanas do país, prevê-se um aumento na concentração de MP2,5, o que aumentaria as internações hospitalares e também as mortes decorrentes da inalação de material particulado. O custo anual para a saúde pública atingiria R$ 429 milhões. Utilizando-se a mistura de gasolina com 25% de etanol anidro, também foi constatado aumento nos níveis do poluente, embora de menor intensidade, e os gastos do sistema de saúde diminuiriam para R$ 267,9 milhões. Caso a opção fosse pelo uso exclusivo de bioetanol, os números mostraram redução na concentração ambiental do MP2,5, além de uma economia de R$ 67 milhões de reais com gastos em saúde, em relação ao patamar atual. Os cientistas externam uma

preocupação em relação aos poluentes, uma vez que o fator de risco a eles associados é tratado de forma pouco efetiva, em virtude de haver poucas pesquisas relacionadas ao tema. Outro ponto que preocupa os pesquisadores é a legislação ambiental brasileira, que, na visão deles, pouco fiscaliza os índices de MP2,5 que são liberados no meio ambiente.

uso do etanol haveria uma redução de 505 internações e de 226 mortes por ano. Se não bastassem as considerações de ordem estratégica, econômica e ambiental, dispomos também de razões de saúde pública para incentivar o uso de bioetanol em veículos leves, especialmente nos locais de grande concentração de veículos. Abundam razões para

Há inúmeras razões de saúde pública para o uso de bioetanol nas áreas urbanas. O estudo apontou que, se os veículos utilizassem apenas gasolina, nas cidades as internações por problemas respiratórios e cardiovasculares aumentariam em 9.247. O número de mortes decorrentes desse fator de risco seria aumentado em 1.384. Por outro lado, com o

nossos governantes pensarem seriamente em ações objetivas para reverter a curva de desestímulo ao setor sucro-energético, que já acumula cinco anos de contração da produção, com profundos efeitos negativos na economia, no emprego e na qualidade de vida.

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Safra

E agora, Anilson? A temporada 2014/15 começa sob o pior contexto dos últimos quatro anos, com perspectivas de preço baixo e estoque acima da demanda.

M

édios e grandes produtores de grãos, como a Amaggi Commodities, deram início ao plantio de soja em Mato Grosso na segunda quinzena de setembro. Por mais um ano, o estado deu a largada na safra nacional, seguido de perto pelo Paraná. Apesar do cenário adverso (algo que não era vivenciado há dez anos) com custos nas alturas, cotações ladeira abaixo e solo sem a umidade necessária para a semeadura, os mato-grossenses anteciparam o plantio na expectativa de colher mais cedo e ganhar um ‘plus’

Mato-grossenses e paranaenses disputaram a primazia de largar na frente no plantio da safra 2014/15.

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em janeiro ao vender o grão – a estratégia também tem como objetivo escapar das chuvas intensas do final de janeiro e, por consequência, da ferrugem asiática e outras pragas e doenças que proliferam em situação de alta umidade Com o fim do período de vazio sanitário para a cultura da soja (em 15/9) e a chegada das primeiras chuvas, os produtores soltaram as plantadeiras no campo. Muitos hectares foram semeados, porém, no “pó”, especialmente em Sapezal e Lucas do Rio Verde, municípios que brigam pela condição de pole

position da nova safra. Cerca de 8,80 milhões de hectares deverão ser semeados no estado, 4,3% acima do recorde anterior. Em relação à produtividade, são esperadas 52,4 sacas por hectare, 0,96% superior às 51,9 da safra passada. Se tudo correr bem, a produção baterá novo teto histórico: 27,7 milhões de toneladas, 5,3% a mais que as 26,3 milhões do ciclo 2013/14. Apesar da largada antecipada, o ânimo dos produtores devia-se mais ao sentimento de dever do que de prazer. “Plantar os primeiros hectares sempre foi motivo de felicidade. Mas

Albari Rosa

Marianna Peres


Mudança de planos Anilson Rotta começou a plantar no dia 17 de setembro, após chuvas de 70 milímetros em sua propriedade, a fazenda Canário, em Sapezal (480 quilômetros ao noroeste de Cuiabá), e seguiu com as plantadeiras ligadas por três dias seguidos. Parou no dia 20 e disse que só voltava com chuvas mais constantes. Até então, semeou o equivalente a 8% da área destinada à soja, ou seja, 600 hectares. “Em função dos problemas de mercado, e para escapar da chuvarada de final de janeiro, eu antecipei em uma semana o início da minha safra. No ano passado, comecei a plantar no dia 23 e espero concluir a semeadura até o dia 20 de outubro”. As mudanças implementadas por Rotta vão além da mexida no calendário. Ele trocou as variedades e não

vendeu uma saca sequer no mercado futuro. Com a antecipação, ele espera colher o equivalente a 30% da área plantada até 28 de dezembro e os 70% restantes em janeiro de 2015. “O que eu plantar até o dia 10 de outubro, colho em janeiro. Meu ciclo mais longo é de 115 dias”. Desta vez, a prioridade não é na janela ideal para semear a safrinha e, sim, a corrida contra condições climáticas adversas e problemas fitossanitários comuns no final de ciclo, como a ferrugem asiática e a mela, “Nesse momento, a segunda safra é de fato secundária. A soja vai ter toda a atenção porque, mais que nunca, dependeremos de alta produtividade para diluir o custo”. Ao ofertar a maior parte da sua produção ainda em janeiro, ele espera que, ao invés dos R$ 49 pagos no mercado disponível no mês passado, consiga ao menos R$ 50. Rotta sabe que é arriscado antecipar o plantio e trabalhar sobre um solo ainda sem as condições hídricas ideais, mas diz que se preparou. Além disso, mudou um pouco o perfil da sua safra. Cerca de 2/3 da área serão cobertos com a variedade Intacta e o restante, com a também RR Monsoy. Quase 100% da área receberá variedades super precoce e precoce. A opção pela Intacta foi motivada pelos resultados na safra anterior, quando cultivou 500 hectares com rendimento de 66 sacas por hectare e manejo facilitado, graças, segundo ele, à resistência da

cultivar às lagartas, inclusive à Helicoverpa armigera. “Investi numa variedade de alta produtividade e de fácil manejo e como a gente não controla as condições de clima, espero ter média de pelo menos 60 sacas”. É justamente por estar plantando uma tecnologia mais cara, a Intacta, que Rotta deu uma pausa no plantio à espera de novas chuvas. “Se eu precisar replantar, terei de pagar novos royalties, ou seja, mais despesas; por isso, a cautela”. O orçamento da safra aponta para um custo de R$ 42 por saca. “Hoje, a oferta não passa de R$ 50. Por isso, optei pela cautela e por ciclo curto, de modo a entrar no mercado durante a entressafra e fugir da pressão do pico da colheita”. Sua maior preocupação é o mercado. “No ano passado, nessa época, a saca valia US$ 20/22, ou cerca de R$ 55. Ago-

As plantadeitas entraram no campo em setembro, mas na maioria dos estados o plantio da safra 2014/15 de grãos começa de fato em outubro.

Anilson Rotta segue receita bem simples: antecipação do plantio com soja precoce ou superprecoce e muita cautela.

Anilson Rotta

este ano está diferente, o começo é mais um alívio, nos dá a certeza de que a nossa parte está sendo feita. Nosso compromisso está sendo honrado”, exclama o produtor Anilson Rotta, paranaense de Dois Vizinhos, desde 1982 em Sapezal. O sentimento é motivado tanto pelo comportamento do mercado externo quanto do interno. Juntas, as duas pontas projetam a menor rentabilidade desde a safra 2010/11. Conforme levantamento da INTL FCStone, considerando a média de preços até a primeira quinzena de setembro em R$ 45, a margem operacional seria de R$ 83,9, ou 11% do investido. Para Mato Grosso, é o menor lucro das últimas cinco safras. “Como os mato-grossenses vinham de grandes resultados, essa projeção tem peso ainda maior porque, além de reduzir o ganho, achata o que se estava acostumado nas últimas safras”, aponta a analista da INTL FCStone, Natália Orlovicin. Na contramão, o custo de produção chega ao recorde de R$ 2,40 mil por hectare, valor jamais registrado no estado, conforme projeção do Imea – Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária.

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Safra O fungo causador da ferrugem asiática sobreviveu nas plantas guaxas. “A chegada na lavoura comercial é questão de tempo”.

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sobre o comportamento desse percevejo, pois como explica a entomologista, em alguns anos ocorrem altas infestações com muitos danos às plantas. e em outros, não. “Sabe-se que a umidade do solo interfere diretamente na população. Assim, em safras com chuvas mais precoces a tendência é de ter infestações maiores no início do plantio da soja, mas em anos com chuvas mais tardias o problema fica mais grave para algodão e milho”. As lavouras que sofrem com o ataque do percevejo castanho têm perdas de até 50% de produtividade. Após o percevejo castanho ser detectado na plantação, recomenda-se que sejam feitas pulverizações no sulco de plantio. Safra cheia A Conab deve divulgar neste mês de outubro a primeira estimativa de produção de grãos e fibras da safra 2014/15. No entanto, durante o lançamento do plantio do novo ciclo, realizado em Sorriso (MT) em 19/9, o ministro Neri Geller antecipou que a área nacional de soja deve aumentar em aproximadamente 5%, passando de 30,1 milhões de hectares para 31,6 milhões. Conforme avaliação dos pesquisadores do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), o Brasil vai colher 94 milhões de toneladas de soja e 75 milhões de milho no ano que vem. Para a Céleres Con-

Wanderlei Dias Guerra

Falsa-medideira e ferrugem em lavoura de soja: dois dos pesadelos recorrentes dos produtores de grãos.

disseminação. A chegada na lavoura comercial, infelizmente, é uma questão de tempo, pouco tempo”. Regionalmente, a infestação traz a reboque outro problema que o coordenador vem tentando combater: as lavouras precoces e super precoces geralmente passam todo o ciclo de desenvolvimento sem receber tratamento preventivo contra a doença. “Justamente por estarem fora do período de maior incidência, o produtor faz essa economia e não realiza uma aplicação sequer de fungicida. O fungo presente ganha condições de sobrevivência, alimento e abrigo e vem com tudo sobre as lavouras mais tardias”. Com relação às lagartas, mesmo a Helicoverpa sendo o grande temor dos sojicultores, é a falsa-medideira que traz maior preocupação pelo seu difícil controle e seu apetite. A Fundaçao MT - Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, chama a atenção para a importância de outra praga, além da Helicoverpa armigera, da falsa medideira e da mosca branca, reincidentes nos últimos anos: o percevejo-castanho, que ataca a raiz da soja. Segundo a pesquisadora e entomologista Lucia Vivan, a praga tem infestado com mais intensidade as lavouras nas regiões de Campo Novo do Parecis, Sapezal, Campo Verde, Primavera do Leste e Rondonópolis, grandes produtores da oleaginosa. Ainda são poucas as informações

Andrea Côrtes

ra, oscila entre US$ 16,50/17”, argumenta. Quanto à safrinha, Rotta não decidou o que fazer. “Plantar eu vou plantar, mas como o milho enfrenta a mesma pressão de oferta da soja, acredito que no fim ele vire apenas palhada para cobertura do solo. Já comprei as sementes em uma troca, mas será um plantio de baixa tecnologia. Vamos ver o que ele vai render até lá”, disse ele, preocupado também com os gastos para controlar doenças e pragas. Afinal, sofreu muito na safra passada com a incidência de lagartas, especialmente a falsa-medideira. “Ela se esconde mais, quando comparada à Helicoverpa, e me deu muito trabalho”, revelou. A safra 2014/15 começou com ferrugem. Como conta o coordenador da SCDV/Mapa – Comissão de Defesa Sanitária e Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Wanderlei Dias Guerra, no dia 18 de setembro (três dias após o fim do período de vazio sanitário no estado) o Consórcio Anti-ferrugem registrou no município de Campo Verde a primeira ocorrência no estado – no caso, em planta guaxa. “Tivemos muitas guaxas espalhadas pelas principais regiões produtores do estado, como Sapezal, Campo Novo do Parecis, Campo Verde e no Araguaia, e todas com esporos do fungo ativos. As chuvas estão atrasadas ou chegando aos poucos e isso vai viabilizar a


New Holland/Divulgação

sultoria, a safra de soja vai chegar a 91 milhões de toneladas. Ou seja, novo recorde, apesar de todos os problemas apontados. Técnicos e analistas ouvidos pela Agro DBO explicam que a expansão se dá de forma natural, tanto pela incorporação de áreas marginais à pecuária quanto pela ocupação de terras antes destinadas ao algodão e ao milho, culturas que perderam espaço para a oleaginosa em razão da maior liquidez da soja. Além disso, há uma razão circunstancial: quando a safra norte-americana começou a ser desenhada, toda a movimentação de compra de insumos já fora concluída no Brasil, especialmente em Mato Grosso. “Até por isso, não há transformações estruturais no arranjo da nova safra, mesmo diante desse contexto adverso”, frisa o Imea. A Céleres também incluiu em seu primeiro acompanhamento de safra as estimativas de rentabilidade para a soja. Em média, o produtor de soja terá margem operacional bruta de R$ 783/ha. Num cenário mais pessimista, de preços internacionais abaixo do esperado ou de dólar inferior ao projetado para maio/2015, a margem operacional bruta será de R$ 520/ha. Por outro lado, num cenário mais otimista, com preços externos ganhando força ou com dólar mais valorizado

que o esperado pelo mercado para maio/2015, a margem pode chegar à R$ 1.045,00/ha. Considerando as projeções da Céleres, o cenário futuro não é tão adverso. De qualquer forma, os mato-grossenses recordam a safra 2004/05, marcada pela alta dos custos de produção, majoração do dólar no momento da aquisição dos insumos e quebra da produção devido à severidade da infestação da ferrugem asiática, na época ainda não tão conhecida. Esse mix de ocorrências negativas levou o segmento à maior crise do século. “Em anos assim, de custo alto, preço em baixa e renda achatada, somente a boa produtividade pode amenizar perdas. E produtividade depende de manejo e monitoramento do produtor, dos investimentos que ele aplicou na safra e de fatores que ele não controla, como o clima e a fitossanidade”, argumenta o diretor técnico da Aprosoja/MT, Nery Ribas. Como se sabe, quando não há preço, o produtor segura a produção. O último levantamento do Imea mostra que, das mais de 27 milhões de toneladas previstas no estado, somente 11% foram comercializadas no mercado futuro na virada de agosto para setembro. No mesmo momento do ano passado,

o índice foi de 38%. A explicação: os preços para pagamento e entrega em março/2015 tiveram média de R$ 41,22/sc em agosto, bem inferiores à média de R$ 47,76/sc registrada em agosto do ano passado para entrega em março/2014.

Apesar dos riscos, o produtor do Mato Grosso terá margem positiva ao final da colheita, na avaliação da Céleres Consultoria.

Temor generalizado A Agro DBO conversou com representantes dos principais estados produtores de soja do país e em todos foi unânime o sentimento: o maior temor nesta safra é a baixa rentabilidade projetada, embora muitos analistas acreditem que, mesmo pequena, se comparada às das últimas temporadas, a margem será positiva. A exemplo do que ocorreu em Mato Grosso, os paranaenses também iniciaram o plantio em setembro, na região oeste do estado. O Deral – Departamento de Economia Rural, órgão da Secretaria da Agricultura do Paraná, projeta um ciclo recorde, como aponta a engenheira agrônoma, Juliana Yagushi. A primeira estimativa prevê o cultivo de 5,8 milhões de hectares de grãos, com produção estimada de 22,6 milhões de toneladas, 10% superior ao dasafra 2013/14. Da área total estimada para a safra de verão, 86% será destinada à soja. Nos demais estados, o plantio começará neste mês de outubro. outubro 2014 – Agro DBO | 47


Política Brasil: sem acordo na ONU. Sob a alegação de que não houve negociação prévia, o Brasil não assinou o acordo proposto pela ONU, na reunião da Cúpula do Clima, de reduzir a zero o desmatamento em florestas até 2030. Mais de 30 países, entre eles EUA, Alemanha, França, Indonésia e Canadá, assinaram a proposição. A negativa brasileira ocorreu na última semana de setembro, na abertura dos trabalhos da ONU.

Etanol, menos mal. Nos primeiros dias de setembro último o Senado aprovou a MP 647 (Medida Provisória) que aumenta os percentuais de biodiesel e etanol misturados, respectivamente, ao óleo diesel e gasolina. O Projeto de Lei de Conversão 14/2014, decorrente da Medida Provisória 647/2014, foi elogiado por senadores do governo e da oposição, já que deve aliviar as dificuldades sofridas no setor sucroalcooleiro. Foi aprovado com emenda do deputado federal Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB/SP), permitindo ao governo aumentar a mistura obrigatória de etanol na gasolina, dos atuais 25% para 27,5%. O texto original trata-

A proposta decorre das intenções de mitigar o aquecimento do planeta, conforme previsão dos ambientalistas. Ao mesmo tempo, a ideia é apoiada por grupos ruralistas americanos, que adotaram o slogan “floresta lá (Brasil), produção aqui (EUA)”, em que se tenta frear a concorrência brasileira, sucesso inegável que nos é conferido pela eficiência dos produtores brasileiros, amparados em nosso ambiente tropical e ensolarado.

Café sob pressão

va apenas do biodiesel. O texto aumenta para 6% o percentual obrigatório de mistura do biodiesel ao óleo diesel. A partir de 1º de novembro, o percentual passará para 7%. Até a edição da MP 647, o percentual obrigatório era de 5%. Esse índice poderá ser reduzido pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), caso haja motivo justificado. O texto aprovado pela Câmara prevê a redução até o limite de 6%. A Lei 8.723/1993 permitia ao governo elevar o percentual de mistura do etanol anidro até o limite de 25%, ou reduzi-lo até 18%. O texto aprovado mantém o piso de 18%.

Os cafeicultores estãao em pé de guerra contra a importação de café para atender o Drawback. A autorização da importação trará sérios prejuízos ao setor, beneficiando tão somente os traders e multinacionais que já nos exploram há séculos, vocifera um cafeicultor tradicional. De outro lado, a Conab faz previsões consideradas “otimistas” da safra de café. Esse otimismo joga os preços do café para baixo nas bolsas internacionais, em prejuízo dos cafeicultores, e em benefício das indústrias, revela o mesmo cafeicultor. O engenheiro agrônomo e cafeicultor Hélio Casale, colunista da Agro DBO endossa os reclamos do colega.

Funrural é inconstitucional O STJ, Superior Tribunal de Justiça, reconheceu a extinção definitiva da contribuição ao Fundo de Apoio ao Trabalhador Rural (Funrural) incidente sobre a comercialização da produção do empregador rural (pessoa física). O STJ reconheceu a extinção definitiva da contri-

buição ao Fundo de Apoio ao Trabalhador Rural (Funrural) incidente sobre a comercialização da produção do empregador rural (pessoa física). Assim, ao julgar Recurso Especial, a 1ª Turma do STJ, por maioria de votos, decidiu alinhar sua posição a do Supremo Tribunal Federal.

Engenheiro agrônomos A Aeasp – Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado de São Paulo - divulgou a lista dos engenheiros agrônomos homenageados durante a 43ª Edição da Deusa Ceres. Anualmente, a diretoria e o conselho deliberativo da Associação se reúnem para eleger os profissionais que se destacaram ao longo da carreira. Entre muitos profissionais, este ano foi homenage48 | Agro DBO – outubro 2014

ado como engenheiro agrônomo do ano Luiz Carlos Sayão Ferreira Lima, consultor técnico da Andef - Associação Nacional de Defesa Vegetal. O Prêmio Especial Aeasp, foi para Fernando Penteado Cardoso, uma das grandes referências da agronomia brasileira, que acaba de completar 100 anos de idade.



Fotos Pedro Crusiol

Citricultura

Laranja bate soja Produtores de grãos do norte do Paraná investem em cítricos, exportam suco e faturam até R$ 4.200 por hectare/ano. Ariosto Mesquita

Laranjas em processamento na Unidade Industrial de Sucos da Integrada Cooperativa, em Urai (PR).

O

ano era 2007 e o agricultor paranaense Sérgio Ichikawa queria a todo custo sair de uma instabilidade que o incomodava. Os preços internacionais das commodities (soja e milho, principalmente) estavam baixíssimos. A margem entre o resultado financeiro e o custo de produção era extremamente curta. Para completar, a ocorrência ou não de intempéries em uma safra, como fortes geadas e extensas estiagens, ditavam o ritmo de sua produtividade. Não era raro ficar no vermelho. A decisão estava tomada. Era hora de diversificar. O agricultor reservou 24 hectares e iniciou em 2009 o plantio de laranja, sem abrir mão de cultivar soja, milho e trigo no restante de sua propriedade. Hoje, ele não se arrepende. Ao contrário, já trabalha para ex-

50 | Agro DBO – outubro 2014

pandir a área de citros. O motivo, ele mesmo explica: “Meu ganho líquido atual com a soja é de R$ 1.200/ha por safra, enquanto a laranja nesta safra 2014/15 deve colocar no meu bolso R$ 3.200/ha”. Considerando o noticiário recorrente sobre a crise na citricultura brasileira, provocada por excesso de oferta, baixa demanda, avanço de doenças nos pomares e consequente perda de renda dos produtores, a explicação é surpreendente. Para Ichikawa, no entanto, esta crise não existe, ao menos no norte do Paraná. Assim como os demais produtores, ele tem a garantia de comercialização de toda a produção, do pagamento dentro do tempo determinado, de assistência e apoio técnico, além de estar imune à variação de humor das indústrias. Ichikawa, por sinal, é um

dos ‘donos’ da indústria que compra sua produção de laranja. Ele integra um grupo de mais de 150 produtores distribuídos em 26 municípios do norte do Paraná que decidiu diversificar a produção em suas fazendas utilizando a laranja graças à orientação, apoio técnico e supervisão de especialistas da Integrada Cooperativa Industrial, com sede em Londrina. Os primeiros pomares foram formados na região a partir de 2008. No ano passado foi inaugurada a Unidade Industrial de Sucos (UIS), com investimentos de R$ 15 milhões, em Uraí (distante 57 km da sede). Ainda em 2013, a indústria processou 750 mil caixas (de 40,8 kg cada) de laranja, resultando em uma produção de 2.270 toneladas de suco concentrado, 100% comercializado para o exterior.“Eu consi-


Expectativa positiva Mesmo com a laranja ocupando apenas 6,3% de sua área produtiva, Ichikawa garante que a cultura já responde por 15% de seus negócios. “E este percentual deve aumentar”, acredita. O preço ruim a que ele se refere é de R$ 11 a caixa, estimado para safra (iniciada em junho 2014 e com término em fevereiro de 2015). O valor de R$ 8 por caixa está sendo pago na entrega da laranja e o complemento (relativo à divisão dos lucros) será depositado ao final do ciclo 2014/15. Em 2013, o adiantamento foi de R$ 5/caixa e o complemento de R$ 3/caixa. “Acho difícil sobrar menos de R$ 3/caixa nesta atual safra”, prevê. Ichikawa é transparente nos cálculos de faturamento líquido. “Atualmente, o meu custo de produção é de R$ 7 a caixa. Com previsão de remuneração de pelo menos R$ 11, me sobrarão

R$ 4. Como minha produtividade está prevista para 800 caixas/ha, o nosso rendimento líquido com a laranja será por volta de R$ 3.200/ha/ ano”, calcula. Já para chegar aos R$ 1.200/ha/ano com a soja, o agricultor considerou produtividade média de 50 sacas/ha, remuneração de R$ 50,00 a saca e custo de produção de 26 sacas/ha. A expectativa de que a laranja possa aumentar seu percentual de participação nos negócios é gerada, dentre outras coisas, pela evolução de produtividade do seu pomar. “Para a safra 2015/16, os pés estarão com maturidade suficiente para dobrar a produção e depois ainda acrescentar mais 30% no ciclo posterior. Em seguida, o pomar se estabilizará. Com mais laranja por planta, é certo que nosso custo de produção vai cair”, diz. Dessa forma, das 22 mil caixas que pretende colher no atual ciclo, quer atingir 40 mil caixas na safra 2015/16 e cerca de 50 mil caixas no ciclo 2016/17. Tudo isso sem considerar a ampliação do pomar. Nos próximos cinco anos, Ichikawa pretende implantar mais 60 hectares de pés de laranja (12 hectares a cada ano) das variedades pera, taquari e folha murcha, indicadas pela cooperativa para processamento industrial. Para isso, abrirá mão de parte da área hoje reservada para soja e trigo. A ampliação é uma medida estratégica para não reduzir sua oferta

Arquivo Pessoal

dero o preço atual da laranja ruim, mas a garantia de apoio técnico e o fato de sermos corresponsáveis por várias etapas da cadeia produtiva fazem com que as contas fiquem no azul”, garante Ichikawa. Sua produção agrícola está concentrada no sítio Ichikawa, em São Sebastião da Amoreira (65 km de Londrina). Em 384 hectares agricultáveis, cultiva 360 com grãos e cereais (soja no verão e milho e trigo no inverno). Os outros 24 hectares são ocupados com a citricultura.

Sérgio Ichikawa, um dos esteios do projeto de diversificação da produção no norte do Paraná. Ele pretende implantar mais 60 hectares de laranja, ocupando parte da área hoje dedicada aos grãos.

Fachada da UIS em Urai e suco de laranja estocado, pronto para comercialização.

de laranja em alguns ciclos. “Um pomar de laranja bem conduzido suporta bem 15 anos, mas aos 10 anos já começa a reduzir sua produção. Portanto, mesmo quando nossas primeiras áreas entrarem em reforma, teremos condições de manter a entrega do mesmo volume ou quantidades até maiores para a indústria”, explica o agricultor. Ele admite que o investimento em laranjais na região norte do Paraná seria inviável caso não houvesse a estrutura técnica e industrial da cooperativa. “Aqui não fica nenhuma laranja apodrecendo no pé ou no chão, como acontece em outras regiões de produção de citros pelo Brasil. Vai tudo para indústria”,

outubro 2014 – Agro DBO | 51


Fotos Ariosto Mesquita

Citricultura

é de industrializar até 1,4 milhão de caixas, somando a laranja dos produtores cooperados e de outros fornecedores, totalizando perto de 4,4 mil toneladas de suco. Mesmo assim estaremos trabalhando apenas com 2/3 da capacidade instalada da indústria que é de 2 milhões de caixas”, garante. A previsão é de que os cooperados forneçam 850 mil caixas da fruta no ciclo 2014/15. O gerente da UIS admite que a decisão de diversificação com a laranja levou em consideração uma situação pontual. “Por volta de 2007, a citricultura remunerava de forma mais significativa que a média dos grãos e cereais. Quando o preço da soja disparou em 2012, chegando à faixa de R$ 70 a saca, poucos investiram em formação de pomares. No entanto, o valor internacional das commodities oscila muito. Um exemplo é a queda nas cotações de soja e

Pomar da região de Mogi Mirim (SP) atacado pelo “greening” e laranjas apodrecendo no chão: realidades que os paranaenses têm procurado evitar.

Fotos Pedro Crusiol

Paulo Rizzo: “O sistema adotado na região está em plena expansão. A laranja garante boa remuneração, com mais estabilidade que a soja”.

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de milho este ano. Porém, dentro do sistema produtivo que articulamos, a laranja garante boa remuneração com mais estabilidade. Tem cooperado ganhando na citricultura o dobro do que fatura com soja por hectare. Existem casos de renda líquida de até R$ 4.200/ha/ano”, garante. Rizzo afirma que a indústria, por ser dos próprios cooperados, sempre vai procurar remunerá-los no limite do possível: “Hoje, o preço médio da caixa de laranja na região está na faixa de R$ 9,20, enquanto já adiantamos R$ 8, e aguardamos os resultados para definição de qual valor será pago como complemento”. Segundo o diretor, o custo médio de produção para se obter uma caixa de laranja é de R$ 7 na região, mas varia bastante de acordo com o grau de tecnificação de cada agricultor. “Logicamente, quem depende de estruturas de terceiros para o manejo do pomar e faz

,

afirma. Ichikawa sabe que o norte paranaense tem tradição na produção de soja, milho e trigo e não pretende deixar de apostar nestas culturas. No entanto, afirma que no ciclo 2014/15 a laranja vai compensar parte da baixa de caixa devido à redução no preço das commodities. “Em três meses a saca de soja despencou de R$ 65 para R$ 52 e o milho saiu de R$ 25 para R$ 17”, conta. A Integrada Cooperativa Industrial começou a formação dos pomares dos seus cooperados em 2008. Hoje, são 1,6 mil hectares plantados, sendo mil em produção. A diferença (600 ha) entra em produção industrial a partir de junho de 2015. De acordo com o gerente da UIS, Paulo Rizzo, o sistema está em plena expansão. “Até 2018 devemos atingir 3 mil hectares plantados. Em 2013 processamos 750 mil caixas e na safra 2014/15 a previsão


Os laranjais adaptaram-se muito bem à região norte do Paraná graças às chuvas regulares e à qualidade do solo colheita manual terá mais gastos do que o produtor que tenha implementos adequados e mecanização disponível. Portanto, enquanto alguns conseguem obter até quatro caixas por planta, outros mal conseguem extrair duas caixas em cada pé de laranja”, explica. Condições apropriadas A boa adaptação da laranja ao norte do Paraná leva em conta, segundo Rizzo, a adaptabilidade ao clima e a qualidade de solo: Temos chuvas regulares em solos com média de 30% de argila. Além disso, as eventuais geadas, que não chegam fortes na região, não chegam a comprometer os resultados. Somente ocorrem perdas consideráveis em

temperaturas abaixo de cinco graus negativos”. Além da orientação da equipe técnica sobre os procedimentos a serem adotados durante todo o processo de implantação dos pomares, os cooperados recebem orientações sistemáticas para que possam manter a sanidade da cultura. Uma das maiores preocupações é o controle do psilídeo, inseto hospedeiro da bactéria associada ao grenning, considerada a pior e mais devastadora doença dos citros no Brasil. Um pomar contaminado não tem salvação. Deve ser destruído. Cultivar pomares sadios é condição fundamental dentro do chamado Projeto Sucos, da Integrada, que visa a diversificação produtiva na região. Para que isso aconteça,

todas as mudas são fornecidas aos cooperados pela própria cooperativa. Cada planta passa por um sistema de controle fitossanitário e todas são produzidas por viveiros credenciados. Em se tratando de comercialização da produção industrial, o diretor da UIS garante que não há dificuldades em colocar o suco de laranja concentrado no mercado internacional. “O que produzimos vendemos. Recebemos atualmente entre US$1,8 mil a US$ 1,9 mil pela tonelada entregue no porto de Paranaguá”, conta. Na primeira safra processada, a Integrada Cooperativa Industrial exportou para Chipre, Israel, Irã, Líbano, Argélia, Índia, Arábia Saudita, Malásia, Austrália, Bélgica, Equador e Colômbia.

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Café

Razões para analisar folhas São simples e objetivas as questões que indicam a importância da análise foliar em qualquer cultura, especialmente nos cafeeiros. Hélio Casale *

O

* O autor é engenheiro agrônomo, consultor e cafeicultor, e membro do Conselho Editorial da Agro DBO.

parque cafeeiro evolui, mas ainda pode melhorar muito mais, os fertilizantes estão a cada dia mais caros, o custo anual de uma lavoura de café sobe ano a ano, as chuvas estão irregulares e a incerteza de boa colheita é uma realidade. São cerca de 52 fatores de produção de ordem física, química e biologia que estão a interferir positiva ou negativamente no resultado final. O cafeicultor tem como obrigação monitorar seriamente os diferentes fatores de produção, de maneira a conseguir produtividade máxima econômica. Inúmeras são as ferramentas que estão à disposição dos técnicos e dos cafeicultores, sendo uma das mais importantes a análise foliar de rotina, para avaliar o quanto a planta absorveu dos nutrientes principais, se está sobrando, faltando, ou está adequado para aquela época do ano e com a produção esperada. Tempos atrás, o professor Eurípedes Malavolta (Esalq/USP) capitaneou um programa de Pesquisa e Desenvolvimento - P&D criado dentro de uma grande empresa com largos plantios de café, cítricos, cana-de-açúcar e cacau. O Dr. José

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Perez Romero foi o braço direito do professor naquela empreitada e eu fui secretário-executivo daquele programa. Época de muito trabalho e muito aprendizado. As pesquisas eram criadas e implantadas no campo visando atender as necessidades básicas de cada cultura, de maneira a se obter produtividade máxima econômica. Uma dessas pesquisas foi implementada com a análise foliar do cafeeiro. Foram selecionadas 11 glebas das variedades Mundo Novo, Catuaí e Bourbon, com produtividade média acima de 30 a 40 sacas beneficiadas por hectare. A cada 2 meses eram amostradas/ analisadas folhas recém-amadurecidas, em ramos a meia altura das plantas, e levadas ao laboratório para análise completa dos macros e micronutrientes. Foram 44 amostras em 11 glebas (484 amostras) durante 88 meses, ou seja, mais de 7 anos de duração do tal experimento. Os dados foram devidamente tabulados pelo Professor Malavolta e estão na tabela da página ao lado. Observar a variação do manga-

nês e sua concentração maior na pré florada. Faltou manganês na florada, o pegamento é reduzido. Manganês acima de 600 é tóxico e abaixo de 100 é falta grave que leva a prejuízo. Abaixo os resultados de um experimento feito pelo Dr. Matiello e outros, na região de Utinga – Bahia, onde se pode ver claramente a importância desse micronutriente. Doses excessivas de calcário, falta de monitoramento na fase de pré florada pode ser decisivo para o lucro ou o prejuízo. Observar também as 13 relações entre nutrientes que, na prática, são muito mais importantes que os teores absolutos. A seguir a justificativa para cada uma das relações escolhidas. N/P - O nitrogênio como purina ou a pirimidina (bases nitrogenadas) e fósforo com ácido fosfórico, com proporções fixas nos ácidos nucleicos (DNA e RNA). N/K - nitrogênio e potássio estão juntos em vários processos relacionados com vegetação e crescimento. Sem nitrogênio, o potássio não funciona e vice-versa. N/S - as proteínas são formadas de

Resposta do cafeeiro ao Manganês Latossolo Vermelho de Utinga, Bahia Manganês disponível no solo 5 ppm ( Mehlich) – Manganês nas folhas 10 ppm Litros café da Produção Tratamentos roça 20 plantas relativa % 1. Testemunha 42 100 2. Esterco de Curral – 20 litros por cova 50 119 3. Sulfato de Amônio 200 gramas /cova 100 232 4. Sulfato Manganês -1% 2 foliares 123 292 + Esterco de Curral – 20 litros por cova 5. Sulfato de Manganês –100 gramas por cova – no solo 132 314 6. Sulfato de Manganês –1% + Sulfato de Ferro a 2% 150 357 7. Sulfato de Manganês –1%, 2 foliares 163 388 Fonte: Matiello et.al - PROCAFÉ


Faixas de variação nos teores foliares em cafezais com produção média entre 30 e 40 sacas beneficiadas por ha Elementos Nitrogênio Fósforo Potássio Cálcio Magnésio Enxofre Boro Cobre Ferro Manganês Molibdênio Zinco N/P N/K N/S N/B N/Cu P/Mg P/Zn K/Ca K/Mg K/Mn Ca/Mg Ca/Mn Fe/Mn

FOLHAS RECÉM AMADURECIDAS Mar/Abr Mai/Jun Jul/Ago Set/Out g/kg = % x 10 28 - 31 26 - 31 28 -31 26 -29 28 -32 2,0 - 2,1 2,0 - 2,1 2,0 - 2,1 2,0 - 2,1 2,0 - 2,1 22 - 25 19 - 24 20 - 24 15 - 19 22 - 24 10 - 13 15 - 18 12 - 14 11 - 16 13 - 19 2,7 - 3,5 3,6 - 4,0 3,4 - 4,0 2,8 - 3,6 3,2 - 4,0 1,8 - 2,3 2,1 - 2,4 1,8 - 2,1 1,5 - 2,1 1,9 - 2,4 mg/kg ou ppm 50-90 60-80 50 - 70 40 - 70 50 - 60 10 - 20 120 - 200 110 - 300 200 - 400 250 - 300 250 - 350 100 - 150 100 - 200 110 - 180 110 - 250 170 - 240 0,15 - 0,20 20 - 25 20 - 22 15 - 20 12.18 20 - 25 PRINCIPAIS RELAÇÕES ENTRE NUTRIENTES 15 - 18 14 - 21 15 - 22 16 - 24 17 - 23 1,1 - 1,4 1,1 - 1,6 1,2 - 1,5 1,4 - 1,8 1,1 - 1,4 12 - 17 11 - 15 13 - 17 14 - 19 12 - 17 467 - 620 325 - 517 400 - 620 371 - 725 467 - 640 1867 - 3100 1733 - 3100 1867 - 3100 1733 - 2900 1867 - 3200 0,5 - 0,7 0,4 - 0,5 0,4 - 0,5 0,4-0,6 0,3 - 0,5 85 - 190 75 - 158 70 -190 100 - 200 78 - 160 1,7 - 2,5 1,0 - 1,7 1,4 - 2,0 1,0 - 1,7 1,1 - 1,9 6-9 5-7 5-7 5-7 5-9 146 - 250 95 - 240 111 - 218 64 - 172 92 - 142 2,8 - 4,8 3,7 - 5,0 3,0 - 4,0 3,3 - 5,3 3,7 - 5,9 67 - 130 75 - 180 67 - 127 44 - 145 54 - 112 0,8 - 2,0 0,5 - 3,0 1,1 - 3,6 1,0 - 2,7 1,0 - 2,0 Jan/Fev

unidades chamadas aminoácidos. Alguns aminoácidos como por exemplo cisteína, cistina, metionina, taurina, contêm enxofre. Todas as proteínas vegetais possuem aminoácidos sulfurados. Todos os aminoácidos contém nitrogênio. Daí existir uma proporção determinada entre o N e o S. N/B e N/Cu - o aumento na absorção do nitrogênio provoca maior crescimento, que pode acarretar diluição na concentração N/Cu e N/B, e consequentemente aumentam as relações N/B e N/Cu. P/Mg - o magnésio é indispensável para a absorção do fósforo. Existem reações em que há armazenamento ou transferência de energia. Em compostos de fósforo há sempre participação do magnésio. P/Cu, P/Fe, P/Mn, P/Zn - excesso

Nov/Dez 28 - 32 2,0 - 2,1 24 - 31 12 - 15 3,1 - 3,8 1,6 - 2,3 50 - 80 120 - 250 170 - 200 20 - 25 15 - 20 0,9 - 1,0 12 - 14 330 640 1867 - 3200 0,4 - 0,6 107 - 190 1,6 - 2,6 6 - 10 120 - 182 3,1 - 4,8 88 - 214 0,6 - 1,5 HC 10.2004

de fósforo provoca deficiência de cobre, ferro, manganês e zinco. K/Ca, K/Mg, K/Mn - excesso de potássio inibe a absorção de cálcio, magnésio e manganês. Ca/Mg, Ca/Mn - o cálcio é essencial para a absorção do magnésio e todos os outros elementos, entretanto, em excesso causa diminuição na absorção de diversos cátions com K, Mg, Mn e alumínio tóxico. Fe/Mn - excesso de ferro provoca diminuição na absorção do manganês e excesso de manganês provoca diminuição na absorção do ferro. Equilíbrio entre os nutrientes é fundamental para o sucesso das respostas e, com o emprego de análise de folhas, se ajusta a concentração ideal de cada um desses nutrientes dentro da planta. A ferramenta tem de ser mais utilizada. outubro 2014 – Agro DBO | 55


Análise de mercado

Soja abaixo de US$ 10? A conjuntura prova que o mercado agrícola é feito de ciclos. As perspectivas são ruins no curto prazo, mas novas ondas de altas virão.

N

o final do mês passado, as colheitadeiras avançavam pelo meio-oeste americano para colher uma safra que, ao que tudo indica, ficará para a história da agricultura como uma das mais “perfeitas” já obtidas por uma nação. Espera-se, segundo informes privados daquele país, uma produção de cerca de 110 milhões de toneladas, mas há quem afirme, sem constrangimento, que ficará entre 113 e 115 milhões. É muita soja. E muito milho também. No mês passado, especialistas diversos falavam, com base nos relatórios do USDA, em mais de 370 milhões t de milho. Se o Brasil é o “celeiro do mundo”, como os políticos populistas gostam de

falar nesta época de eleições, os EUA são o quê, então? Pois bem, esta produção recorde por lá é uma boa notícia para a economia americana, mas péssima para os produtores brasileiros. O impacto verifica-se diretamente nos preços projetados para o período de colheita da nossa safra. O contrato de soja março/2015 na Bolsa de Chicago, que chegou a estar em US$ 12,80/ bushel, lutava em setembro para se sustentar acima de US$ 9,50. Se a safra sul americana vier cheia, como parece que virá, os consumidores (fábricas de ração e esmagadoras, principalmente na China) vão nadar de braçada e empurrar a soja de março/2015 para baixo dos US$ 9,00/

bushel. Eu ví – ninguém me contou – negócios próximos de R$ 65,00/sc para entrega em março de 2015 no porto de Paranaguá. No final do mês passado, os indicadores apontavam para a casa dos R$ 55,50. Quase R$ 10,00 de queda no preço é um desfalque severo de rentabilidade para qualquer um. Talvez a alta do dólar consiga melhorar esta conta nos próximos meses, mas o fato é que a situação complicou drasticamente, principalmente para os agricultores mais distantes do porto, com logística ruim, terras arrendadas ou grandes investimentos em compras de propriedades e equipamentos. De qualquer forma, a alta do dólar tem efeito apenas paliativo, porque ao mesmo

Trigo – Os preços continuaram caindo em setembro, diante do cenário de safras recordes à vista e ampla oferta. Os produtores esperam alguma reação com a realização de leilões Pepro ou, pelo menos, a garantia do preço mínimo – os valores no físico estavam abaixo do mínimo desde junho no Rio Grande de Sul e agosto no Paraná. É possível, porém, que a reação não venha de imediato porque os moinhos se abasteceram com trigo importado. A tendência de baixa deve persistir.

* Em 15/9, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 516,81 por tonelada, mercado disponível, à vista (o valor a prazo é descontado pela taxa NPR), posto Paraná.

ALGODÃO – Os preços oscilaram em setem-

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bro, influenciados por relatórios contraditórios do USDA, um deles indicando queda nos estoques americanos; o outro, aumento nos estoques mundiais. Enquanto isso, o ICAC elevou a produção global, diminuiu o consumo e aumentou os estoques finais da safra 2014/15, em relação ao relatório anterior. Com isso, a expectativa é de que pela quinta safra consecutiva a oferta mundial supere a demanda, pressionando os preços negativamente.

* Em 15/9, o Indicador Cepea/Esalq registrou R$ 168,92 centavos de real por libra-peso.

ARROZ – Os preços do arroz em casca no Rio Grande do Sul se mantiveram na faixa dos R$ 36 a saca ao longo da primeira quinzena de setembro, mesmo patamar dos meses anteriores, com pequenas oscilações para cima e para baixo. Segundo levantamento do Cepea, há meses os orizicultores vêm conseguindo organizar a venda, de modo a evitar pressão sobre os valores, justificando assim a boa liquidez no mercado. No curto prazo, a tendência é de estabilidade.

* Em 15/9, o Indicador Arroz em Casca Esalq/Bolsa Brasileira de Mercadorias – BM&FBovespa registrou R$ 36,89 à vista por saca de 50kg, tipo 1, posto indústria Rio Grande do Sul.


Análise de mercado tempo em que “alivia” a percepção de preços baixos lá fora no curto prazo, terá impacto na alta do custo dos insumos mais à frente. A grande safra americana já é uma realidade. Não dá pra fugir dela. Agora só resta torcer para que o clima seja bom aqui na América do Sul, para termos uma safra cheia também. É melhor safra cheia com preços ruins, do que safra ruim com preços bons. No entanto, tudo indica que os produtores do Centro-Oeste do Brasil vão torcer para uma estiagem no Sul e na Argentina, e vice-versa. Pouca farinha, meu pirão primeiro! Mas o que está acontecendo agora vem provar, mais uma vez, que o mercado agrícola é e sempre será feito de ciclos. Alguns já estavam esquecendo dessa verdade histórica. Houve quem falasse que os preços nunca mais cairiam abaixo de US$ 10,00/bushel na Bolsa de Chicago! Mas o mercado é soberano e um professor “severo”. Quando os analistas acham que sabem de tudo, o mercado vem e ensina um pouco de humil-

soja – O bom desenvolvimento da safra 2014/15 nos Estados Unidos até

a terceira semana de setembro pressionou as cotações dos futuros da oleaginosa na Bolsa de Chicago. A meteorologia apontava clima favorável até o início deste mês de outubro, quando a maior parte da safra já terá sido colhida. De acordo com pesquisadores do Cepea, os preços do grão no mercado interno foram sustentados pela firme demanda por derivados de soja. No curto prazo e médio prazos, a tendência é baixista.

* Em 15/9, o Indicador Cepea/Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 62,94 por saca de 60 kg, posto Paranaguá, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

dade para todos. E qual a tendência para o curto e médio prazo? Com os dados e informações disponíveis até final de setembro, é difícil ver fatores de grande elevação dos preços. Tem oferta sobrando. Se não houver um problema climático grave no Brasil, Argentina, Paraguai nos próximos meses, o mercado deve mesmo ficar entre US$ 9,00 e US$ 10,00/bushel, talvez vindo abaixo de US$ 9,00/ bushel. Mas nem tudo são espinhos para os agricultores brasileiros. Um

período de preços baixos faz parte do ciclo e será benéfico para uma recuperação dos produtores de proteína animal. A recuperação das margens de rentabilidade do setor possibilitará recuperação do consumo, que fará parte do novo ciclo de alta dos preços de milho e soja que virá em algum momento nos próximos anos. Miguel Biegai Jr – Analista e Trader de derivativos agrícolas e cambiais na Granopar Corretora de Mercadorias

Fonte: Cepea – www.cepea.esalq.usp.br

CAFÉ –

* Em 15/9, o Indicador Café Arábica Cepea/Esalq registrou R$ 419,25 por saca de 60 kg, bica corrida, tipo 6, bebida dura para melhor, posto cidade de São Paulo.

As cotações do arábica continuaram oscilando bastante em setembro, a exemplo do que já ocorrera em agosto. As estimativas de safra menor nesta temporada (os número finais sobre a produção brasileira serão conhecidos neste mês de outubro) ajudaram a sustentar os valores na Bolsa de Nova York (ICE Futures). No acumulado de setembro (até o dia 17), o Indicador Cepea/ Esalq apontava queda de 6,89%. O tamanho da safra definirá a tendência dos preços.

* Em 15/9, o Indicador Esalq/BM&FBovespa registrou R$ 21,991 por saca de 60kg, descontado o prazo de pagamento pela taxa CDI/Cetip.

MILHO – A comercialização seguiu lenta em setembro no mercado interno. De acordo com dados do Cepea, apenas em algumas regiões de Mato Grosso os valores subiram um pouco, amparados pelos leilões Pepro. As exportações voltaram a refluir na primeira quinzena do mês passado, desanimando muitos vendedores. Além do avanço da colheita nos Estados Unidos, as estimativas de aumento na safra européia também pressionam os preços. A tendência ainda é baixista.. AÇÚCAR – As cotações do cristal seguiram em

* Em 15/9, o Indicador Açúcar Cristal Cepea/Esalq registrou R$ 44,51 por saca de 50 kg, com ICMS (7%), posto São Paulo.

queda na primeira quinzena de setembro. No dia 22, o Indicador Cepea/Esalq (mercado paulista) registrou o menor patamar (R$ 44,24/saca 50 kg) desta safra (considerando-se os valores de abril até o dia 15), em termos nominais. O excedente global de açúcar segue pressionando os preços internamente. A estimativa da Unica de safra igual ou menor em 2015, impactada pela seca deste ano, pode ajudar a sustentar os preços.

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Novidades no campo Colheitadeira híbrida para grãos

Abóbora Estrela

A Massey Ferguson aproveitou a Expointer, realizada de 30/8 a 7/9 em Esteio (RS), para lançar a MF 6690, primeira colheitadeira híbrida para grãos classe V fabricada na América do Sul. Conforme o gerente de marketing Roberto Ruppenthal, a MF 6690 reúne as melhores características dos sistemas convencional (robustez e baixo consumo de energia) e axial (redução de perdas na colheita e maior capacidade operacional). Com 7 mil litros de capacidade e taxa de descarga de 86 l/s, oferece três tipos de plataforma de alto desempenho: a Dynaflex 8250 (caracol), Dynaflex 9250 (draper) e a da série 3000 (milho).

A Embrapa Clima Temperado, sediada em Pelotas (RS), lançou na Expointer a BRS Estrela, abóbora de dupla finalidade – serve tanto a uso ornamental quanto culinário. Da espécie Cucurbita pepo, a abóboraestrela é uma variedade crioula que, aos poucos, foi desaparecendo das propriedades familiares brasileiras. Mas, a partir de um trabalho de busca junto a agricultores de ascendência pomerana no Rio Grande do Sul, foi possível resgatar, multiplicar e registrar as sementes. A nova cultivar caracteriza-se pelas proeminências ao redor do fruto, lembrando o formato de uma estrela, casca lisa de cor creme e polpa branca, levemente fibrosa.

Rastreabilidade de insumos

Para facilitar o gerenciamento do estoque das revendas de insumos agrícolas, a Siagri lançou no mercado o Siagri WMS Light, um software capaz de acompanhar todas as etapas de distribuição, desde a fabricação dos insumos até a entrega do produto ao agricultor. Uma das características do software é a conformidade com a obrigação da logística reversa, presente na Política Nacional de Resíduos Sólidos. Conforme a legislação. é obrigatória a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação.

Feijoeiro produtivo

Sempre presente na Expointer, a Fepagro – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária lançou duas novas cultivares de feijão na feira deste ano, a Triunfo e a Garapiá. Segundo a empresa, ambas apresentaram rendimento 30% superior ao das variedades utilizadas como base de comparação nos estudos a campo. A Triunfo possui porte ereto, grãos de tamanho médio e resistência a doenças como ferrugem, mosaico e oídio. A Garapiá destaca-se pelo bom nível de resistência à moléstias, especialmente antracnose, e excelente qualidade culinária.

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Novidades no campo Pêssego chato

A Embrapa apresentou aos participantes do VI Simpósio Internacional de Fruticultura Temperada em Região Subtropical, realizado no mês passado em Avaré (SP), a primeira cultivar nacional de pêssego platicarpa, o BRS Mandinho, caracterizado pelo formato achatado, tamanho pequeno (5 cm de diâmetro, contra 7 das frutas importadas), caroços proporcionais, polpa firme, cor amarelada e doçura capaz de superar a leve acodez da fruta. As mudas estarão disponíveis a partir de julho do ano que vem. A novidade chegará ao mercado em 2017, quando as primeiras mudas começarem a produzir frutos.

Fertilizante foliar para soja

Mapeador Outback STX

Após dois anos de trabalho e testes com mais de 400 formulações diferentes em laboratório, a tecnologia Adhera, da Stoller, chega ao mercado brasileiro. O Starter Manganês é o primeiro produto da empresa a utilizar a nova tecnologia Adhera em sua formulação. Seu principal diferencial, segundo a empresa, é promover maior cobertura, uniformidade e retenção da solução aplicada na folha, ampliando a compatibilidade com os defensivos, dentre eles herbicidas e inseticidas.

Rodado triplo

A Marini, especializada em rodados duplos pra tratores e colheitadeiras, lançou na Expointer um rodado triplo para tratores acima de 300 cv. Conforme nota distribuida à imprensa, o kit aumenta a tração para ‘’puxar’’ plantadeiras acima de 40 linhas e diminui a compactação do solo em até 34%. Além desses, há outros benefícios, segundo a empresa: mais força, aumento da produtividade, economia de combustível e diminuição de desgaste de pneus. O rodado triplo permite puxar plantadeiras de até 60 linhas, de acordo com o comunicado da Marini.

A Allcomp Geotecnologia e Agricultura, representante da Outback Guidance no Brasil, apresenta o Monitor Outback STX, compatível com piloto automático VSi, antena A320 RTK e eTurns. O mapeador pode ser instalado em alguns minutos em qualquer máquina agrícola. Segundo a empresa, sua antena rastreia sinal das constelações GPS e Glonass com maior qualidade de posicionamento. Entre outros benefícios, permite aplicações em qualquer tipo de trator com equipamentos variados (pulverizadores, distribuidores, etc.), evita falhas ou sobreposições sobre a aplicação, permite navegação eficaz sobre qualquer cultura, reduz a fadiga do operador e a quantidade de defensivos, diminuindo, portanto, o custo da lavoura.

Novo inseticida da DuPont

A DuPont apresentou aos participantes do III Simpósio sobre Tecnologias no Cultivo do Cafeeiro, realizado no mês passado na Esalq, em Piracicaba (SP), seu mais novo inseticida, o Benevia, com a molécula Cyazypyr, descoberta e desenvolvida pela empresa. O Benevia tem como princípio ativo a Ciantraniliprole, substância que teve sua importação autorizada, em caráter emergencial e temporário, para uso no controle da broca do café (Hipothenemus hampei) em Minas Gerais. A expectativa da empresa é de que o produto seja registrado no Brasil até o final do ano, inclusive em outras culturas.

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Biblioteca da Terra A carreira do carvão

A Caatinga, revisitada.

De autoria dos pesquisadores Benedito Rocha Vital, Angélica de Cássia Carneiro, Fábio Machado Cruz. Karla Veloso Gonçalves Ribeiro, Nathália Granato Loures e Antônio de Pádua Nacif, este Manual de Identificação do Carvão Vegetal trata dos sistemas de produção e da logística de suprimento da madeira. A indústria é o maior consumidor de carvão vegetal no Brasil. A produção de ferro e aço depende muito da carbonização de lenha em fornos tradicionais de alvenaria. Com 163 páginas, custa R$ 35. Para adquiri-lo, basta em contato com a livraria UFV pelo telefone (31) 3889-2234 ou pelo site www.editoraufv.com.br

O Agro visto de dentro

Cinco expedições, mais de 100 municípios visitados, 25 mil quilômetros rodados pelo interior da Bahia, Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Dessa epopéia surgiu o livro ‘Olhos da Caatinga”, lançado pela FMC como parte das comemorações dos 40 anos da empresa no Brasil. De autoria do engenheiro agrônomo Henrique José da Costa Moreira, a obra retrata o bioma em sua plenitude, tanto no período da seca quando nas chuvas. Mostra o cotidiano do sertanejo, a dura lida diária, seus afazeres, costumes, manifestações culturais; apresenta as contradições da paisagem, ora exuberante, cheia de cores, ora acinzentada, castigada pelo sol; revela açudes transbordantes e rios caudalosos no inverno, completamente esgotados no verão; exibe montanhas e regiões pedregosas, cânions, áreas desérticas, lagos e cachoeiras, grandes trechos de mata típica ou de florestas, a fauna, a flora, bichos e plantas endêmicos, tudo, enfim, que caracteriza o Sertão. São 400 páginas com imagens inéditas, disponíveis gratuitamente para download pelo link fmcagricola.com. br/portal/manuais/olhos_caatinga/ index.html e pelo aplicativo FMC Agrícola em três línguas (português, inglês e espanhol).

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O livro Uma visão pragmática sobre o Agro brasileiro apresenta uma coletânea de artigos do ex-presidente da SRB – Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, publicados durante os sete anos em que dirigiu a entidade. Entre outros temas, ele aborda as política para o setor, o Código Florestal, a problemática indígena, a infraestrutura logística, seguro rural, legislação trabalhista, sustentabilidade e biotecnologia. Com 240 páginas, a obra custa R$ 30. Toda a tiragem foi doada por Ramalho à Apae de São Paulo, instituição responsável pela comercialização. Os interessados devem entrar em contato com Camila Moura, da área de Desenvolvimento Institucional da Apae, pelo telefone (11) 5080-7066 ou pelo e-mail camilaoliveira@apaesp.org.br

Tratado sobre algodão

Lançamento do IMAmt – Instituto Mato-grossense do Algodão, o boletim O algodoeiro e os estresses abióticos – temperatura, luz, água e nutrientes tem edição técnica do pesquisador Fábio Echer e textos dos pesquisadores Ciro Rosolem, Eduardo Kawakami, Ederaldo Chiavegato, Marcos Bernardes, Giovani Greigh de Brito, Júlio César Bogiani, Henrique Da Ros Carvalho, John L. Snider (dos Estados Unidos) e Stephen Yeates (da Austrália), além do próprio Echer, também representando o instituto. O boletim está disponível para download nos sites do IMAmt (www.imamt.com.br) e da Ampa (www.ampa.com.br)

Viagem sobre sementes

Obra conjunta do fotógrafo R. R.Rufino e dos pesquisadores Francisco Krzyzanowski e José de Barros França Neto, o livro Soja: a produção de sementes no Brasil, lançado pela Studio 407 Fotografia e Editora, é uma espécie de ode à cultura, um meio que a Abrates – Associação Brasileira de Tecnologia de Sementes encontrou para comemorar 45 anos dedicados à pesquisa. Rufino percorreu 18 mil km retratando o ciclo de produção da soja, os trabalhos no campo e o dia-a-dia nos laboratórios de sementes. Publicado em versão trilíngue (português, inglês e espanhol), o livro custa R$100 e pode ser adquirido através do telefone (43) 3025-5120 ou do e-mail abrates@abrates.org.br.


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Calendário de eventos

OUTUBRO

7

47º ABTCP/Congresso e Exposição Internacional de Celulose e Papel - De 7 a

9 - Transamerica Expo Center - São Paulo (SP) - Fone: (11) 3874-2700 E-mail: congresso@abtcp.org.br

13

IX Encontro Nacional de Licenciatura em Ciências Agrárias - De 13 a 16 - Universidade Federal da Paraiba - Bananeiras (PB) - Site: www. eventosimlica.wix.com/simlica2014 E-mail: simlica@cchsa.ufpb.br

14

XVIII Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, XIX Encontro Nacional de Perfuradores de Poços e VIII Fenagua/ Feira Nacional da Água - De 14 a 17 - Minascentro

- Belo Horizonte (MG) - Fone: (11) 3868-0726 - E-mail: xviiicongresso@ acquacon.com.br

16

VI Conferência Brasileira de Pós-Colheita e VIII Simpósio Paranaense de PósColheita de Grãos - De 14 a 16 - Excellence Centro de Eventos Maringá (PR) - Fone: (43) 30155223 - Site: www.abrapos.org.br/ eventos/cpc2014 E-mail: cbp2014@fbeventos.com.br

19

XXI Congresso Internacional do Trigo

- De 19 a 21 - Hotel Bourbon Cataratas - Foz do Iguaçu (PR) - Site: www.abitrigo.com.br

22

– Brasil Log/5ª Feira Internacional de Logística – De 22 a 24 - Parque

da Uva - Jundiaí (SP) – Site: feiradelogistica.com – E-mail: adelson@adelsoneventos.com.br

28

Sucrooeste/ Mostra Sucroenergética da Região Centro-Oeste

De 28 a 31 - Centro de Convenções - Goiânia (GO) Fone: (11) 3060-5000 E-mail: info@sucroeste.com.br

29

BiotechFair/7ª Feira Internacional de Tecnologia em Bioenergia e Biocombustível - De 29 a 31

Centro de Exposições Imigrantes São Paulo (SP) Site: www.bioenergia.net.br E-mail: cipa@cipanet.com.br

NOVEMBRO

3

2º Congresso Brasileiro de Patologia Pós-Colheita

De 3 a 6 - Hotel Fazenda Fonte Colina Verde - São Pedro (SP) Fone: (19) 3307-7475 - Site: cbpatologiaposcolheita2014.com.br

3

2º Simpósio de Tecnologia Sucroenergética e de Biocombustíveis - De 3 a 7

Centro de Convenções da Unesp/FCAV – Jaboticabal (SP) Site: www.funep.org.br

11

6ª Agrocampo - De 11 a 23 - Parque Internacional de Exposições Francisco Feio Ribeiro - Maringá (PR) Fone: (44) 3261-1700 Site: www.srm.org.br E-mail: mario@srm.org.br

18

III CBRG/Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos - De 18 a 21

Mendes Convention Center Santos (SP) Fone: (19) 3243-0396 Site: www.cbrg.net.br

20/10 16º Congresso Mundial de Fertilizantes do Ciec - De 20 a 24 Windsor Barra Hotel & Congressos Rio de Janeiro (RJ) Fone: (43) 30255223 - E-mail: 16wfc@fbeventos. com.br A primeira edição do evento aconteceu em 1932, na Itália; as três últimas, na China, Tailândia e Romênia. Em 2014, pela primeira vez na história, o congresso do Ciec - Centro Científico Internacional de Fertilizantes, será realizado no Brasil. O Ciec é uma organização internacional sem fins lucrativos, voltada para a pesquisa em solos e nutrição de plantas. O tema central este ano é “Inovação Tecnológica para uma Agricultura Tropical Sustentável”. São esperados cerca de 500 participantes, entre produtores rurais, empresários, pesquisadores, executivos do setor de fertilizantes, profissionais da área de assistência técnica e planejamento agrícola, consultores, professores e estudantes de ciências agrárias.

19

VII Reunião Brasileira sobre Indução de Resistência em Plantas a Patógenos - De 19 a 21 Associação dos Funcionários da Universidade Estadual de Maringá - Maringá (PR) Fone: (44) 3011.5942 E-mail: inducao2014@gmail.com

19

22º Encafé/Encontro Nacional da Indústria de Café – De 19 a 22

Enotel - Porto de Galinhas (PE) Fone: (21) 2206-6161 Site: www.abic.com.br E-mail: encafe@abic.com.br

26

7º CBTI/Congresso Brasileiro de Tomate Industrial – De 26 a 28 -

Centro de Convenções – Goiânia (GO) – Fone: (62) 3241-3939 E-mail: tomate@wineventos.com.br

26

Renex South America/ Feira Internacional de Energias Renováveis - De 26 a 28

Centro de Eventos Fiergs - Porto Alegre (RS) - Fone: (41) 3027-6707 Site: www.renex-southamerica. com.br - E-mail: comunicacaorenex@renex-southamerica.com.br

DEZEMBRO

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25ª Feira Nacional de Artesanato - De 2 a 7 –

Expominas – Belo Horizonte (MG) – Fone: (31) 3282-8067 – Site: feiranacionaldeartesanato.com.br

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24ª Jornada de Atualização em Agricultura de Precisão

– De 8 a 12 - Departamento de Engenharia da Esalq/USP Piracicaba (SP) - Site: www.fealq. org.br - E-mail: cdt@fealq.org.br

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Legislação

Proteção da pequena propriedade rural As pequenas propriedades rurais possuem proteção na legislação, de impenhorabilidade para as suas sedes, mas há exceções. Fábio Lamonica Pereira *

N

ossa legislação determina, em regra, como impenhorável o imóvel residencial da entidade familiar, utilizado como moradia permanente, seja urbano ou rural. É a lei do “Bem de Família”. Isso quer dizer que o imóvel não responde por dívidas (salvo algumas exceções), independentemente de sua natureza, sejam elas de natureza civil, fiscal, previdenciária, trabalhista etc.

critérios estabelecidos pelo Estatuto da Terra variando de 5 a até 110 ha. Tal classificação é utilizada, inclusive, para definição das alíquotas devidas a título de ITR e constam, em muitos casos, da própria matrícula do imóvel. O Superior Tribunal de Justiça – STJ já decidiu que a pequena propriedade rural é aquela que tem entre 1 e 4 módulos fiscais, conforme conceito extraído da Lei n. 8629/93. Logo, as pequenas propriedades ru-

Para ser impenhorável a propriedade rural deve ser trabalhada em regime familiar

*O autor é advogado, especialista em Direito do Agronegócio

O objetivo da lei é o de assegurar o direito fundamental da dignidade do ser, de forma que sejam mantidas as condições básicas de habitação das famílias. Para aqueles que residem em áreas rurais, a lei assegura a impenhorabilidade para a sede da propriedade, incluindo os respectivos bens móveis. Os pequenos produtores rurais, todavia, além da proteção estendida pela Lei n. 8009/90 (do Bem de Família), contam com proteção especial de impenhorabilidade, caso comprovem que a área se enquadra como pequena propriedade familiar e que seja explorada em regime de economia familiar. Como classificar a pequena propriedade rural? As propriedades rurais de todo o país são classificadas segundo o número de módulos fiscais, expressos em hectares. O módulo fiscal é definido de acordo com os

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rais do Brasil, medem entre 20 ha e 440 ha, dependo do município em que estão localizadas. Para ser impenhorável a pequena propriedade rural também deve ser tralhada em regime familiar. Isso quer dizer que os proprietários devem explorar a área pessoalmente ou em conjunto com seus familiares, sem a contratação de mão de obra de terceiros (exceto eventualmente). Tal exploração é possível mediante a apresentação de notas de compra de produtos, de contratos de financiamentos, de laudos de acompanhamento de safra, de notas de entrega etc., vinculados à área ao seu proprietário. Além disso, é possível comprovar a condição de agricultor familiar mediante a emissão da Declaração de Aptidão ao Pronaf (Programa Nacional da Agricultura Familiar), conhecida como DAP, documento emitido por entidades cadastradas

(como Emater e Sindicatos rurais) que atestam o enquadramento (mediante o preenchimento de diversos requisitos determinados por Resolução do Banco Central) e permitem o acesso a crédito mediante condições diferenciadas. Com isso, restando comprovada a propriedade de área menor do que 4 módulos fiscais e sua exploração em regime familiar, o imóvel é absolutamente impenhorável. Ou seja, mesmo que haja cobrança de dívida contraída pelo produtor, referido bem não responderá pelo pagamento, restando legalmente reservado para a manutenção das condições mínimas de sobrevivência da entidade familiar e a continuidade da produção de alimentos, demonstrando nítido caráter de proteção social. E se o proprietário ofereceu o bem como garantia hipotecária de uma operação de crédito rural? Ainda assim restará assegurado o direito à impenhorabilidade, eis que se trata de garantia constitucional, de direito absoluto, portanto irrenunciável. Esse entendimento também já foi adotado pelo STJ, entendendo que prevalece o direito à impenhorabilidade. Muitos produtores acabam por perder suas pequenas propriedades em processos de cobrança de dívidas sem que saibam que possuem o direito assegurado em lei que determina a impenhorabilidade da pequena propriedade rural trabalhada em regime familiar, o que pode ser alegado até mesmo dentro do próprio processo de execução.




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