Ensaios sobre Educação

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ENSAIOS SOBRE EDUCAÇÃO: Para pensar o surdo, a Libras, a pedagogia e a fonoaudiologia (Org.) Eduardo de Campos Garcia



ENSAIOS SOBRE EDUCAÇÃO: Para pensar o surdo, a Libras, a pedagogia e a fonoaudiologia

Autores: Prof. Ms. Eduardo de Campos Garcia Prof. Ms. Maria Carolina Casati Digiampietri Prof. Ms. Gleidis Roberta Guerra


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ESPAÇO RESERVADO PARA A FICHA CATALOGRÁFICA


Espaรงo reservado para Sumรกrio


Espaรงo reservado para Sumรกrio


Prefácio Ao ler este livro, uma imagem me veio à mente: Esmeraldina. Nada descreve melhor os textos nele encontrados do que a descrição de Esmeraldina, cidade que aparece no texto Cidades invisíveis, de Ítalo Calvino: Em Esmeraldina, cidade aquática, uma rede de canais e uma rede de ruas sobrepõe-se e entrecruza-se. Para ir de um lugar a outro, podese sempre escolher entre o percurso terrestre e o de barco: e, como em Esmeraldina a linha mais curta entre dois pontos não é uma reta mas um ziguezague que se ramifica em tortuosas variantes, os caminhos que se abrem para o transeunte não são dois mas muitos, e aumentam ainda mais para quem alterna trajetos de barco e transbordos em terra firme. Deste modo, os habitantes de Esmeraldina são poupados do tédio de percorrer todos os dias os mesmos caminhos (CALVINO, 2003).

Note que Esmeraldina nos abre várias possibilidades pelos caminhos que lhes são próprios. Colocado de outra forma, os textos apresentados neste livro abrem novas possibilidades

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interpretativas sobre a identidade surda que vai além da Política Nacional de Educação Inclusiva, que aponta para todo um aparato e dispositivos pedagógicos, que se propõem a dizer coisas sobre o sujeito deficiente ao definir modelos para conduzir a ação pedagógica a eles dirigidas, dentre eles o surdo. Historicamente, a educação de surdos aparece carregada de uma visão clínica da educação que inclui conhecimentos especializados advindos da fonoaudiologia, da otorrinolaringologia e da psicologia, que incluem o entendimento sobre o que diziam as audiometrias, o diagnósticos sobre o nível de perda auditiva para saber dirigir-se ao aluno surdo de modo a não deixar brechas para outras possibilidades ou outras leituras sobre ele. Hoje temos outras possibilidades, dentre elas, as discussões sobre a Língua Brasileira de Sinais indicando outra forma de pensar e representar esses sujeitos e como eles representavam a si mesmos. Um sujeito visto para além das patologias, um sujeito que se constitui como alguém que trabalha, estuda, se apaixona, se comunica e acima de tudo sente. Apresentadas essas questões, podemos agora olhar para este livro a partir do que está proposto: “trazer à tona alguns temas sobre o surdo, a Libras, a pedagogia e a fonoaudiologia na atualidade, de modo a pensá-los não em uma tentativa de responder a eles, mas de colocá-los na mesa para serem discutidos”. Nesse sentido, penso que o livro cumpre o proposto, pois se abre a uma leitura e à possibilidade de outra forma de ler o surdo. Por isso, convido os lei-

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tores deste livro a passearem pelas ruas de Esmeraldina, em que: [...] a rede de trajetos não é disposta numa única camada; segue um sobe-desce de escadas, bailéus, pontes arqueadas, ruas suspensas. Combinando segmentos dos diversos percursos elevados ou de superfície, os habitantes se dão o divertimento diário de um novo itinerário para ir aos mesmos lugares. Em Esmeraldina, mesmo as vindas mais rotineiras e tranquilas transcorrem sem se repetir. (CALVINO, 2003)

E este, portanto, é um daqueles livros que não se constituem um dever, tampouco uma obrigação. É, antes de tudo, uma partilha, um ato de solidariedade dos autores ao possibilitarem aos leitores um novo itinerário com seus textos, suas leituras desfiando-os a incursionar por outros caminhos, combinando diversos percursos acadêmicos, dentre eles olhar para a dor surdo, para a sua linguagem, a fonoaudiologia e outros lugares, com contribuição da filosofia. Nesse sentido, este livro se constitui em um tipo de escrita, que permite uma leitura capaz de ir aos mesmos lugares, retomando algumas coisas já ditas sobre o surdo, mas sobretudo permitir que se continue dizendo de outra forma, possibilitando, assim, que mesmo as coisas mais rotineiras transcorram sem se repetir. Profa. Dra. Rosiley A. Teixeira1 São Paulo, 14 de maio de 2012

1. Doutora em “Educação: História, Política, Sociedade” pela Universidade Pontifícia Católica de São Paulo, PUC-SP. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso. Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Mato Grosso. Atualmente é professora doutora do Departamento de Educação da Universidade Nove de Julho UNINOVE-SP. Ensaios sobre educação

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Introdução Este livro procura trazer à superfície uma série de questões reflexivas para que se possa compreender o surdo, a LIBRAS, a pedagogia e a fonoaudiologia na atualidade. Muito se discute sobre o tema, porém os estudos aqui apresentados se propõem a pensar a atualidade por um viés “filosófico”, ou seja, o que se pretende é trazer à tona alguns temas e pensá-los não em uma tentativa de responder a eles, mas de colocá-los na mesa para serem discutidos. Nesse cenário, este livro, juntamente com seus autores, propõe-se a oferecer ao leitor um breve quadro sobre o surdo, a LIBRAS, a pedagogia e a fonoaudiologia. Por uma questão de organização, o trabalho se desenvolve em três eixos temáticos: o surdo à luz dos estudos culturais; a LIBRAS e seus aspectos linguísticos; a pedagogia e a fonoaudiologia como áreas do conhecimento que se encontram na educação e no desenvolvimento do surdo. Cada eixo temático foi escrito por diferentes professores, segundo sua área de formação, docência e pesquisa. Nesse sentido, 13


houve preocupação para que cada texto se propusesse a informar e, mesmo sendo um ensaio sobre educação de surdos, não perdesse a sua função acadêmica: informar para se construir ciência e pensamento filosófico. Dentro dessa perspectiva, o primeiro texto, “O surdo à luz dos estudos culturais”, cujo título é “A dor de ser surdo: um ensaio sobre o ato de se pensar culturalmente o outro”, foi escrito pelo Professor Mestre Eduardo de Campos Garcia, que é mestre em “Educação, Arte e História da Cultura” pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM-SP), docente do departamento de Educação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE-SP), onde leciona as disciplinas de Políticas e Práticas de Inclusão, Fundamentos e Práticas em LIBRAS I e II, e Tecnologias Assistivas para Pessoas com deficiência auditiva. O segundo texto, no qual se aplicam os estudos da linguística, cujo título proposto é “Linguística e línguas de sinais: história, concepções e pesquisas”, foi escrito pela Professora Mestre Maria Carolina Casati Digiampietri, que é mestre em Estudos Linguísticos e Literários pela Universidade de São Paulo (USPSP) e docente do Departamento de Educação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE-SP), onde leciona as disciplinas de Fundamentos e Práticas em LIBRAS I e II e Leitura e Produção de Textos I e II. O terceiro texto, no qual estão inseridos os conceitos do que são a pedagogia e a fonoaudiologia, foi escrito pela Professora Mestre Gleidis Roberta Guerra, que é mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP-SP) e docente da Universidade Nove de Julho

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(UNINOVE-SP), na qual leciona as disciplinas de Fundamentos e Práticas em LIBRAS I e II e Tecnologias Assistivas para pessoas com deficiência auditiva. Os textos estão em uma sequência na qual se pode analisar e sentir o atual estado de existência do surdo na sociedade, sendo que essa proposta se compõe de uma metáfora sobre a dor, do entendimento sobre as modificações sobre a Língua Brasileira de Sinais LIBRAS e, de modo breve, de algumas questões históricas e linguísticas que se aplicam aos estudos sobre a LIBRAS, finalizando com uma explicação sobre fonoaudiologia e pedagogia como ciências integrantes do desenvolvimento e das escolhas do surdo. Boa leitura a todos!

Prof. Ms. Eduardo de Campos Garcia Organizador do livro Em 9 de abril de 2012

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A dor de ser surdo: um ensaio sobre o ato de pensar culturalmente o outro Eduardo de Campos Garcia2

Pensando a dor segundo Nietzsche: Nossa dor vem da distância entre aquilo que somos e o que idealizamos ser. Assim disse Friedrich Nietzsche (2007), em meados do século XIX. As palavras de Nietzsche não foram levadas pelo vento, mas talvez ignoradas por uma sociedade, como disse 2 Doutorando e mestre em “Educação, Arte e História da Cultura” pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM-SP), especialista em LIBRAS pela FIJ, especialista em Magistério do Ensino Superior pela PUC-SP, graduado em Pedagogia pela UNIG, graduado em Letras pela UBC. Atualmente é professor do Departamento de Educação da Universidade Nove de Julho (UNINOVE-SP). Desenvolve pesquisa sobre o conceito de deficiência. Contato: prof.eduardocg@ bol.com.br

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Susan Sontag (2003), que não sente a dor dos outros. Logo, pensar a dor segundo Nietzsche é a todo tempo uma forma verdadeira de entender a dor. A dor se torna cada vez mais intrínseca a qualquer sociedade que se organize em torno de um umbigo metafórico. Dor é dor sempre. O que muda é o conceito que entra em cena em determinado momento da história. Entretanto, em síntese, a dor, segundo Nietzsche (2007), advém da distância. A exemplo disso, pode-se pensar que a dor do doente é sentir na carne sua fraqueza. Enquanto realidade, a doença coloca o homem diante da sensação de morte. Ninguém teme a doença, mas aquilo que ela prenuncia. Mais do que isso, as pessoas temem aquilo que a morte representa culturalmente. Nessa situação, a dor acontece porque aquilo que se deseja, feito um hiperbóreo nietzschiniano, é contrariado pela experiência cultural da morte. A doença distancia o homem do sonho de realizar seus projetos na vida. Ao pensar no distanciamento entre desejo e realização, ato que nasce das imposições sociais, ressaltam-se os exemplos: dos homossexuais, que, em pleno século XXI, ainda não podem realizar seu desejo de constituir família; dos transexuais, que não podem realizar seu desejo de serem aceitos do modo como se autodeclaram; dos umbandistas, que não podem pertencer a uma política da religião como legítima e verdadeira; dos cegos, dos cadeirantes e das pessoas com Down, que não podem, muitas vezes, formar-se ou atuar profissionalmente segundo seu desejo. Eles desejam, mas muitas vezes não podem, ou por questões legais que regulam o ato de viver em sociedade, ou por preconceito que se pauta no senso comum e que revela a ignorância em todas as instâncias sociais, inclusive a acadêmica. Ao pensar nessas

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proibições, mais uma vez como Nietzsche (2000) acredito que há homens que nascem póstumos. Acrescento: se não em corpo, em um ato simbólico politicamente constituído.

O ato simbólico: Falei de dor em um primeiro momento; agora quero falar de felicidade. Márcia Tiburi (2011) disse que a felicidade tem sentido como categoria ética. Penso que a felicidade é o resultado da realização e do gozo. À medida que eu me aproximo dos meus desejos, sou feliz e me encho de gozo. Partindo desse pensamento, a dor e a tristeza podem ser consideradas como prova da inversão de valores, como elemento fundante de uma possível antiética. Quando falo em antiética, imperativa e ao mesmo tempo invisuoperceptual, refiro-me a uma sutil segregação. A sutileza traz em seu discurso o respeito e a tolerância como princípio da inclusão social, que deve se estender ao surdo. Respeito e tolerância não fundamentam o reconhecimento, o que implica em questões mais sérias. Não ser reconhecido como legítimo em uma sociedade é o mesmo que, simbolicamente, nascer póstumo, é o mesmo que nascer com direitos, embora estes sejam ignorados constantemente. O ato simbólico que condena o surdo a uma dor existencial é constituído de situações que no cotidiano não parecem ferir, mas ferem. Em um primeiro momento, pode-se discutir o conceito de identidade surda como uma das atuações de uma biopolítica. Foucault (1988) pensou a identidade como sinônimo de ferida no corpo, um obscuro impulso sem nome. Ensaios sobre educação

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Portanto, ao se discutir a identidade surda, muitas vezes a individualidade e a singularidade, próprias e constituintes do ser humano, transformam-se em um objeto coletivo. O ser humano que deveria ser pensado em sua multiculturalidade é, na maioria das vezes, narrado apenas como “o surdo”. Ao falar isso, penso, como Lulkin (2005), que a identidade surda funda-se em um saber que parte de uma produção científica cuja autoria, em sua maior parte, é produzida por pessoas ouvintes. Cabe pensar: “Qual o conceito de identidade surda que está em cena quando ele é enunciado?”. Pensar identidade como algo subjetivo com o qual cada um se autoidentifica e estabelece escolhas é entendê-la superficialmente. A identidade é um meio de controle social que envolve, em seu contexto, questões de consumo e capital. Stuart Hall (2009) diz que identidade serve para se efetuar uma política da localização da qual se constitui uma fantasia da incorporação. Partindo desse pensamento, há de se cuidar para que não se pense o surdo como uma figura homogênea, sem escolhas e sem desejos próprios, desprovido de autonomia, como alguém que ganha “voz” sinalizada apenas nesse momento da história. Diderot (2006) já discutia sobre a importância dos sinais do surdo e os elevava à mais sublime das linguagens já no século XVIII. Pensar “o surdo” como surdo é o mesmo que pensá-lo como um grupo que se deve organizar para garantir seus direitos, mesmo que, atualmente, esses direitos já lhes tenham sido garantidos em termos legais. Flusser (2007) disse que a expressão “a gente” faz a individualidade se perder no tempo. É possível pensar, como Flusser, que a expressão “a gente”, quando significa “nós, surdos”, “nós, homossexuais”, ou quando indica “essa gente feminista”, “essa gente umbandista” ou quando indica um grupo 20

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que segue a mesma forma de viver, identificando-se, rompe com qualquer possibilidade de autonomia. De longe todo rebanho é igual, e nesta premissa se perdem, sutilmente, os direitos individuais de escolha, de comportamento etc. Perlin (2005) acredita que o estereótipo sobre o surdo não o acolhe, mas o imobiliza na condição de ser, antes de qualquer coisa, apenas surdo. O ato da palavra “surdo” – o que lhe circunda de modo perverso e o rodeia feito áurea – é que faz pulsar a dor existencial do surdo. A dor que flui quando se é surdo nasce do modo como este é significado pela maioria das pessoas, porque a significação muitas vezes não atinge sua autodeclaração. Pensa-se no surdo como surdo. O mesmo não ocorre quando se pensa no ouvinte. Antes de se reconhecer a professora, o médico, o engenheiro, a miss, pensa-se o surdo como categoria humana de um alguém que não ouve. Já em relação aos ouvintes, o reconhecimento é por aquilo que eles desempenham na sociedade. Portanto, a distância existente entre o modo como o surdo se reconhece e o modo como ele é apontado produz uma ação dolorosa. O surdo – intuo – ainda não é visto como um semelhante social. Foucault (2008) diz que a semelhança se ordena segundo o modelo que está encarregado de se fazer reconhecer. Na sociedade, de modo geral, como relata Skliar (2005), pode-se dizer que o modelo de vida e de cultura linguística a ser reconhecido, porque assim foi secularmente instituído, é o modelo ouvinte. Esse modelo, distante da cultura linguística do surdo, impõe-se e sobrepõe-se constantemente à presença do surdo. É comum que surdos presenciem, em suas várias atividades profissionais, principalmente quando oralizadas, o esquecimento e o desrespeito a sua cultura linguística por parte de alguns ouvintes. Em Ensaios sobre educação

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muitos momentos, o modo como o surdo escreve é rejeitado ou avaliado como uma escrita de menor valor; em reuniões não há a presença de intérpretes de LIBRAS ou interlocutores. Embora a lei 10.436/2002 reze, em síntese, que o surdo tem o direito de fazer uso da LIBRAS porque ela é sua língua natural, esse direito está distante da prática cotidiana. Embora se aponte a lei constantemente, constantemente seus dizeres se esvaem no ato que a ignora. A dor que flui no surdo brota do conhecimento de que, embora exista o direito, ainda não há, em muitos momentos, uma prática cotidiana desse direito. Enfim, pode-se dizer, como Nietszche (2007), que o direito se estende ao outro até o limite em que um parece valioso, essencial, imperdível ao outro. Pensando no que disse Nietszche, é ético que o direito à LIBRAS não se fundamente numa relação econômica de benefícios aos ouvintes, porque essa relação se distanciaria da proposta primeira de se construir uma sociedade multicultural e uma educação bilíngue. Se essa ética não for salutar para o reconhecimento do surdo como legítimo na diversidade humana, haverá um motivo para se refletir sobre um possível nascimento póstumo. Considerações finais: Que o ato do reconhecimento e a felicidade como fruto da realização do surdo sejam únicos e se representem como categoria ética de uma sociedade. Mais do que ser surdo, é importante pertencer como surdo nas decisões sociais. Que a participação salve e traga vida àquilo que poderia ser póstumo e que se paute 22

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no reconhecimento do surdo como legítimo, que seja nobre enquanto qualidade de existência. Caso contrário, a dor seria um latejar constante, por conta de um sonho que se transformou em uma ferida social pelo desejo que se traz no silêncio em confronto com a voz que grita, ordena e mata quaisquer diferenças que queiram existir. Para finalizar e provocar o pensamento, como Zeldin (2009), penso que a galeria de retratos que coloco no cerne de meu ensaio diz respeito a indivíduos, e não a uma amostra estatisticamente representativa. Penso o outro como legítimo, e não como número. Metaforicamente, seria um parágrafo tolerado como um ponto final nas narrativas da história do surdo. Nascer número, nascer categoria, nascer objeto discursivo pode ser pensado como aquilo que denominei nascer póstumo, para “viver” legitimamente dolorido. Referências: DIDEROT, Dennis. Carta sobre os surdos e mudos endereçada àqueles que ouvem e falam. São Paulo-SP: Escala, 2006. FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis-RJ: Vozes, 2009. ___________ . Isto não é um cachimbo. Rio de Janeiro-RJ: Paz e Terra, 2008. ___________ . História da sexualidade I. Rio de Janeiro-RJ: Graal, 1988. FLUSSER, Vilém. Língua e realidade. São Paulo-SP: AnnaBlume, 2007. HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tadeu Ensaios sobre educação

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