Revista Ponto #1 - JAN 2013

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PONTO

A CAPITAL MUNDIAL DA ARTE URBANA ENTRA NO MAPA DA ARTE DIGITAL OS ARRANJOS DE MILTON NASCIMENTO 25 ANOS DE DRAMATURGIA NO SESI-SP O SÉCULO REVELADO PELAS LENTES DE FOTÓGRAFOS BRITÂNICOS A ARTE ETERNIZADA EM METAL

REVISTAPONTO® PUBLICAÇÃO LITERÁRIA E CULTURAL DO SESI-SP #1 JANEIRO 2O13 SESI-SP EDITORA AV PAULISTA 1313 4º ANDAR O1.311-923 SÃO PAULO SP TELEFONE 55 11 3146 7308

#1 JANEIRO 2O13

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Na pรกgina anterior, a assinatura (TAG) do graf1teiro Rafael Sliks, autor do muro que ilustra a capa.


P O N T OD E P A RT I D A

Quando pensamos em levar cultura a algum lugar, levamos em conta que ela é espontânea, intuitiva e segue um fluxo próprio e natural. Não deve ser conduzida por ninguém, mas ter facilitado o seu acesso, abrindo caminhos para que as suas mais diversas manifestações cheguem à sociedade. Essa espontaneidade nas manifestações artísticas e culturais, unida a certo despojamento conceitual, é facilmente percebida na arte urbana: uma forma de arte pela arte, não no sentido parnasiano do termo, mas em contraponto à arte pelo dinheiro, tão comum na era do consumo. Nesse sentido, o trabalho que o Sesi-SP realiza no campo da cultura, e suas decorrentes publicações, visam justamente a resgatar a essência da arte. O que se busca é difundir todo o seu potencial de informação, inovação e contribuição para o desenvolvimento de uma sociedade mais preparada, apta a gerar mais riquezas tanto materiais quanto espirituais. Tal qual a arte produzida espontaneamente, também o trabalho manual representa uma manifestação cultural, onde a criatividade e a inteligência do artesão são facilmente percebidas na engenhosa ligação entre a praticidade e o design, manifestada tanto na construção de uma cadeira como no desenvolvimento de uma peça de fundição em metal. Assim, a técnica e a arte tornam-se indissociáveis e se complementam, pois a primeira sempre estará presente no uso dos instrumentos que fizeram a segunda realidade. A complexidade da técnica pode variar, assim como a dimensão artística no resultado de uma peça, mas sempre percebemos no processo algum tipo de aprendizado, alguma influência inspiradora. É sobre estes temas que a revista Ponto número 1 levanta questões, apresenta reflexões e expõe nossa identidade.

O Editor


#1 jaNeirO 2O13

A ReviSTAPONTO® é UmA PUBlIcAÇÃO lITERáRIA E cUlTURAl DO sEsI-sP, cOm EDIÇÕEs nOs mEsEs DE JAnEIRO, ABRIl, JUlHO E OUTUBRO. COnSeLHO ediTORiAL PaulO skaf (PresiDeNTe) WalTer viciONi gONçalves DébOra cYPriaNO bOTelhO Neusa mariaNi

diviSãO de deSenvOLviMenTO CuLTuRAL – ddC diReTOR celiO jOrge DeffeNDi

COMiSSãO ediTORiAL celiO jOrge DeffeNDi DébOra PiNTO alves viaNa rODrigO De faria e silva juliaNa farias régis De gODOY-rOcha aleXaNDra salOmãO miamOTO

SuPeRviSãO de PROGRAMAS CuLTuRAiS maria DO carmO sOuza muNir rOsaNa firmiNO De araújO guTierrez vaNeiDe cOrreia De casTrO

ediTOR CHeFe rODrigO De faria e silva ediTORAS ASSiSTenTeS juliaNa farias aNa lucia saNT’aNa DOs saNTOs COORdenAdOR de RedAçãO régis De gODOY-rOcha CAPA, diAGRAMAçãO e PROduçãO GRÁFiCA Paula lOreTO APOiO TÉCniCO valquíria Palma AdMiniSTRATivO FinAnCeiRO feliPe augusTO ferreira De Oliveira flávia regiNa sOuza De Oliveira raimuNDO erNaNDO De melO juNiOr sérgiO De jesus valéria vaNessa eDuarDO COLABORAdOReS aDa caPeruTO aDriaN beNeDYkT aNDré ceOliN arNalDO Niskier chrisTiaN vON amelN g.g. (susTO’’s) israel maceDO lOuisa bOuafia mileNa PraDO Neves rafael sliks sergiO merli Tché Dalia ruggi ReviSãO ferNaNDa baTisTa PROJeTO GRÁFiCO ORiGinAL viceNTe gil DesigN

Capa Obra do artista Rafael Sliks, no Beco do Batman, Vila Madalena, São Paulo.

JORnALiSTA ReSPOnSÁveL juliaNa farias ReGiSTRO MTB n.º 0069009SP TiRAGeM deSTA ediçãO 5.000 eXemPlares iMPReSSãO gráfica e eDiTOra aquarela s.a.

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06 estante de livros lançamentos

O8 ponto Entrevista sob as ordens do bituca

16 PONTO EXPOSIÇÕES non finito: a arte do bronze, renascida

26 PRAZER DE ESTAR bem dinheiro traz felicidade?

32 ponto especial os donos da rua

44 tem, mas acabou a luz capturada

48 contra ponto a virtude e a mágica de usar as mãos

56 teatro popular - 25 anos do nac uma salva de palmas

66 ponto do conto um homem célebre

76 ao pé da letra o novo acordo ortográfico

80 cardápio agenda cultural 86 galeria de fotos


eSTAnTe de livrOs dA RedAçãO

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A SeSi-SP Editora e a Senai-SP Editora estão sempre preparando lançamentos de novos títulos, trazendo novidades para a cultura e o entretenimento de seus leitores. Além da série 150 anos de Futebol e do lançamento da coletânea de artigos do Embaixador Rubens Barbosa, a série Design foi enriquecida com mais títulos de destaque.

um Olhar sObre O DesigN brasileirO SENAI-sP

um NOvO Olhar sObre O DesigN brasileirO SENAI-sP

O aprimoramento industrial dos últimos cem anos levou o design a atingir a excelência como um produto em si mesmo, criando ao seu redor um mercado extremamente ágil e competitivo em escala mundial. O Brasil tem participado de maneira dinâmica dessa indústria, figurando como um dos maiores polos criativos do planeta. Apresentar um panorama é o objetivo da edição revisitada do livro Um Olhar sobre o Design Brasileiro, organizado como um rico subsídio de informações e inspiração para estudantes e profissionais da área.

Considerado um dos elementos fundamentais da revolução que destaca o potencial da economia criativa no cenário mundial, o design conquistou uma importância à altura de sua capacidade transformadora – e, na busca por talentos que atualmente agita esse mercado, o Brasil vem despertando uma atenção crescente. Nesse contexto, a Associação Objeto Brasil se une à Senai-SP Editora para lançar Um Novo Olhar sobre o Design Brasileiro, reunindo artigos de autoria de grandes nomes no estudo e desenvolvimento do design em nosso país.


lAnÇAmEnTOs

iNTeresse NaciONal e visãO De fuTurO RUBEns BARBOsA

aPONTameNTOs, iNsPiraçÕes, memórias SENAI-sP

a meNiNa que NuNca TermiNava NaDa sElmA mARIA E nInA AnDERsOn

Interesse Nacional e Visão de Futuro reúne artigos publicados pelo autor no jornal O Estado de S.Paulo, além de ensaios, entrevistas e depoimentos na Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional do Senado Federal. Os textos abordam variados temas da política, da economia nacional e da atualidade mundial, num retrato nítido dos tempos atuais.

Apontamentos, Inspirações, Memórias traz um verdadeiro brainstorming de tendências e estilos que, sobrepostas ou justapostas, acabam compondo a linguagem que se vê na moda, na música, na arte e na vida urbana contemporânea. Num registro de estilos e formatos, serve de referência para designers em seu processo criativo.

As crianças que nunca terminam nada são espécies raras de se encontrar. Mas se por acaso, bem por acaso mesmo, você conhecer uma menina ou menino que nunca termina nada e que leva bronca por tudo, peça para eles lerem esta história. Ou melhor, leia esta história para eles, porque se eles nunca terminam nada, não vão chegar ao final e descobrir o porquê desta menina nunca terminar o que começa!

fuNDiçãO arTísTica SENAI-sP

150 aNOs De fuTebOl JOsé EDUARDO DE cARvAlHO

suPerímã e O mar sElmA mARIA E nInA AnDERsOn

Fundição Artística apresenta uma síntese das mais variadas técnicas de transformação do metal, antes frio e inerte, em obras que são a verdadeira mímesis da vida. Pelas mãos hábeis do artista, o que é essencialmente passageiro torna-se eterno, e o homem consegue dotar sua criação de um dom que a ele mesmo, enquanto criatura, foi negado: a imortalidade.

Em comemoração aos 150 anos da chegada do futebol ao Brasil, a SeSi-SP Editora está lançando uma série de livros que traz uma análise desse esporte que se tornou o símbolo do nosso país. Considerado por alguns como uma oportunidade de ascensão social, e por outros como um instrumento de alienação ideológica, o futebol provoca controvérsias que envolvem a própria vivência humana.

O super-herói Superímã quis entender melhor a vida, e resolveu procurar o maior e mais sábio dos seres para fazer as suas perguntas: o mar! Voou até a praia e ficou esperando até que o velho amigo se aproximasse para uma conversa. Em Superímã e o Mar, a gente vê que nunca se é velho ou jovem demais para trocar experiências.

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SOB AS ORDENS DO BITUCA

Foto: divulgação

“Se Deus cantasse, seria com a voz do Milton”, Elis Regina

Francisco Buarque de Hollanda declarou certa vez: “Bituca manda em mim!”. A frase de Chico para Milton Nascimento foi apenas uma brincadeira entre amigos, que passaram a compor e subir aos palcos juntos. A verdade é que Bituca, apelido de infância de Milton, manda, sim, mas na música. Um dos artistas mais inovadores da música brasileira, o cantor, músico e compositor tem mais de 40 álbuns gravados e suas turnês já cruzaram o mundo. Em novembro de 2012, foi um dos homenageados com o prêmio à excelência musical do Grammy, em cerimônia realizada no Four Seasons Hotel Las Vegas, como parte da celebração da semana do Latin Grammy. Em 1944, quem olhasse para o garotinho tímido, que aos dois anos de idade já brincava de ser pianista, talvez não imaginasse que, um dia, Milton se tornaria uma dos mais respeitados nomes a representar a música brasileira em todo o mundo. Naquele ano, após a morte da mãe, Milton, natural do Rio de Janeiro, foi morar com a avó em Juiz de Fora, Minas Gerais. A tristeza imensa de uma criança que sentiu a perda de suas referências comoveu Lília, filha da madrinha de Milton, que acabou levando-o para viver com ela e o marido Josino, em Três Pontas. Os dois se tornaram, assim, seus pais adotivos. Em 1950, antes de completar sete anos, ele ganhou seus primeiros instrumentos: uma gaita e uma sanfona de quatro baixos. E um dom encontrou, assim, uma maneira de se expressar. Com apenas 13 anos, Milton, que adotara o violão como instrumento, fez amizade com Wagner Tiso, três anos mais jovem que ele. Juntos formaram o conjunto “Luar de Prata”, seu primeiro conjunto musical, e apenas o início de uma grande parceria. Milton Nascimento.

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Nos anos seguintes foram muitos os grupos formados, muitos bailes da vida que fizeram Milton colocar os pés na profissão. E este momento começou a acontecer de verdade a partir de 1963, quando, aos 21 anos, ele se mudou para Belo Horizonte e, três anos mais tarde, para São Paulo. Seguindo pela vida

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Em 1966, Milton teve a primeira música de sua autoria gravada pelo conjunto Tempo Trio: “E a gente sonhando”. No mesmo ano, “Canção do Sal” foi gravada por uma já famosa Elis Regina. Mas outro ícone da época seria o responsável por mudar totalmente os rumos de um jovem artista que, cansado do clima de competição, não queria mais participar de festivais. O amigo Agostinho dos Santos, um dos principais talentos da bossa nova, ritmo que encontrara seu auge naquele período, pediu ao Bituca uma fita com três músicas. O pretexto é que ele mesmo as gravaria em seu próprio disco, mas, secretamente, Agostinho inscreveu-as no Festival Internacional da Canção. Todas elas foram classificadas! Milton foi eleito o melhor intérprete e “Travessia” ficou em segundo lugar. O resultado do FIC conduziu ao primeiro disco solo. Foi nessa época que o maestro Hector Costita, argentino radicado no Brasil desde seus 18 anos, conheceu Milton, também por intermédio do cantor e compositor Agostinho dos Santos, que o convidou para ir ao seu escritório a fim de conversar sobre os arranjos de seu próximo trabalho. “Quando cheguei ao escritório deles, já estava lá na sala de espera aquele garoto, cabeludinho, muito jovem, muito tímido. E o Agostinho me chamou para um canto, apontou-o e disse: ‘Olha bem para esse moleque porque daqui a pouquinho ele vai dar muito o que falar’. E assim foi. Sou um grande admirador do Milton, ele não apenas canta maravilhosamente, como é um grande compositor”, diz o maestro, que já tocou com nomes de peso como o contrabaixista Chu Viana e o pianista João Donato – quem, aliás, o convidou para permanecer no Brasil. Em um período fervilhante para a música no País, o final dos anos 1960, Milton havia, definitivamente, começado sua carreira como músico. Seu segundo disco, de 1968, foi gravado nos Estados Unidos, um primeiro flerte


com a carreira internacional que um dia teria, e um começo de namoro com outros gêneros musicais, em especial, o jazz. Os arranjos do novo trabalho foram assinados pelo brasileiro Eumir Deodato e a participação especial é de Herbie Hancock – ambos decodificados como “músicos de jazz”, mas, na verdade, dois grandes inovadores das sonoridades. Em 1972, já com quatro discos gravados, Milton faria soar mais forte a voz de um dos mais importantes movimentos da Música Popular Brasileira, o Clube da Esquina, ao batizar com este nome seu novo trabalho, que marca a estreia de Wagner Tiso, seu grande amigo, como orquestrador. O disco tem a participação Lô Borges, que, nas três décadas seguintes, com os demais integrantes do Clube, seriam levados por Milton de Belo Horizonte para o mundo. Embora com quase todas as letras censuradas pelo governo, em época de regime militar, o disco Milagre dos Peixes, sexto trabalho de Milton, mereceu uma versão ao vivo, gravada no Teatro Municipal de São Paulo, com a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, arranjos de Wagner Tiso, Paulo Moura e Radamés Gnatalli, e regência de Paulo Moura. Foi o primeiro disco de música popular gravado com orquestra sinfônica. A inovação denota uma peculiaridade da música de Milton Nascimento: ao lado do profundo amor pelo jazz, Bituca talvez seja um dos artistas brasileiros que mais abraçou vertentes e estilos, incorporando-os à sua música. Costita, que tem entre seus trabalhos o álbum Você ainda não ouviu nada, o antológico disco gravado com a Sergio Mendes Bossa Rio, em 1964, lembra que foi Milton o grande incentivador para que a obra não se perdesse. “É o primeiro disco instrumental de bossa nova e quase todos os temas são do Tom Jobim. O Milton fez pressão junto às gravadoras para que este disco fosse gravado em CD, porque acreditava que este trabalho deveria ser conhecido no mundo inteiro”, diz o maestro. A voz nas estradas

O gosto pela sonoridade do jazz levou Milton novamente aos Estados Unidos para gravar, em 1974, o disco Native Dancer, com Wayne Shorter – em sua carreira, ele trabalharia com vários músicos, cantores e compositores de todo o mundo, em especial Pat Metheny, Herbie Hancock, Ron Carter, Mercedes Sosa, Fito Paez, Hubert Laws, Peter Gabriel, James Taylor, Sting, Paul Simon, Jon Andersen e Duran Duran.

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Foi com Minas, de 1975, que Bituca conquistou definitivamente a “massa”: sucessos como “Fé cega, faca amolada”, “Ponta de Areia” e “Paula e Bebeto” ajudaram a derrubar os Beatles das paradas de sucesso australianas. Outros flertes com sonoridades e estilos diversos vieram nos anos seguintes, seja com a música latina de Mercedes Sosa ou com a dança do Grupo Corpo, para o qual escreveu a trilha para o balé Maria Maria. E também novos caminhos se apresentam na estrada de Milton: o ano de 1980 marcou sua estreia na Europa, com shows na Suíça, Portugal e França – mais tarde, ele também se apresentaria no Japão. Nos Estados Unidos o sucesso continuava em linha crescente. Em 1984, o show de Milton no Carnegie Hall, de Nova York, teve que se estender por mais uma noite para atender toda a procura do público. A partir dos anos 1990, celebrado pela crítica e classificado pela indústria da música como um artista de “World Music” – categoria que deu a ele o Grammy pelo álbum Nascimento, em 1998 –, Milton conquistou o planeta, mas a seu modo, em seus muitos ritmos, experimentações e sonoridades. E nesse momento, a nova experiência foi com uma big band: o CD e a turnê Crooner levou Milton, acompanhado de sua própria orquestra, de volta aos bailes da vida pelo Brasil, América Latina e Europa. Disco de platina, o trabalho deu a ele mais um prêmio, o Grammy Latino na categoria Melhor Disco Pop Contemporâneo Brasileiro. Ars Brasilis

É nesta interseção – a da big band – que a música de Milton volta a se encontrar com a de Hector Costita, que foi convidado pelo Sesi-SP para coordenar o Festival Ars Brasilis, primeiro do gênero a ser direcionado a arranjadores e regentes, com a proposta de descobrir novos talentos, promover o debate sobre o cenário musical e valorizar a criatividade e a sofisticação da música brasileira. “Eu lecionei durante 13 anos no conservatório de Tatuí e tinha experiência com a coordenação de vários festivais. Mas a proposta era fazer algo diferente e pensei nos arranjadores. Quando você ouve uma música no rádio, jamais o nome do arranjador é anunciado. No CDs, até o nome do estúdio onde foi gravado o álbum consta, mas não o do arranjador. E é ele quem realça a música. O sucesso de uma canção depende em muito daquilo que está por trás. Veja, não desprezo o grande talento de intérpretes como Frank Sinatra ou de um pianista como Count Basie, mas sabemos que eles tinham excelentes arranjadores.


Porque nos Estados Unidos é hábito mencionar os nomes nos CDs, mas não no Brasil”, declara Hector. A ideia foi aprovada pelo Sesi-SP e a comissão colocou mãos à obra, mas faltava ainda um homenageado, que seria o tema de trabalho dos participantes. Mais uma vez o maestro não teve dúvidas: Milton Nascimento, em grande parte por conta de sua sempre demonstrada versatilidade rítmica, porém, mais precisamente pelo trabalho que fez com Crooner. Para participar, os interessados deveriam escolher uma composição de Milton e criar um novo arranjo instrumental, tendo como base a obra do artista homenageado e os instrumentos que contemplam o estilo. “Eu optei pelo formato clássico da big band – cinco saxofones, quatro trombones, quatro trompetes, sessão rítmica, piano, baixo, bateria, percussão e guitarra –, porque o concurso, por ser voltado a arranjadores, exigia um certo grau de elaboração”, explica Hector. O coordenador do Ars Brasilis revela que a repercussão do concurso foi imensa e 55 participantes se inscreveram. Pessoas de todo o Brasil e até mesmo dois jovens estudantes de música que vivem nos Estados Unidos. A comissão de jurados, formada pelo próprio Hector e também por Nelson Ayres, Carlos Henrique Cascarelli e Antonio Carlos Neves Campos, escolheu dez finalistas que concorreram às três primeiras colocações, com prêmios de, respectivamente, R$ 10 mil, R$ 7 mil e R$ 5 mil. “A avaliação foi surpreendente, os arranjos tinham uma qualidade

Foto: divulgação

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Chico Buarque canta com Milton Nascimento no show do Paraíso, em Três Pontas (MG), em 1977.


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incrível e foi muito difícil escolher os finalistas, pois chegaram trabalhos de estudantes de música, de gente que tem experiência”, acrescenta o maestro. Mas qual o poder do arranjo para transformar uma música? Hector defende que a magia da música está naquilo que passa pelo sentir e não pelo intelecto. “Esse amor estava perceptível nos trabalhos, e digo isso com toda a segurança, pois os maestros que avaliaram são grandes arranjadores. Posso dizer que houve um equilíbrio. Foi possível perceber que alguns candidatos tinham mais conhecimento técnico de harmonia, o que é essencial a um bom arranjo, mas acabaram ‘carregando’ neste aspecto e deixavam de lado os elementos comuns às big bands. Outros trabalhos, de pessoas que não tinham tanta técnica, foram valorizados por ideias muitos boas, simples até, mas que preencheram perfeitamente a ausência da técnica da harmonia. Eles buscaram elementos de sentimento, um pouco mais de pulsação, de bateria”, revela Hector. O maestro sabe o que diz. Já tocou e gravou com gente como Tom Jobim, Edu Lobo, Chico Buarque, João Gilberto, Johnny Alf, Dick Farney, Elis Regina, Wilson Curia e o próprio Milton Nascimento. Dividiu o palco com Oscar Peterson Trio, Miles Davis Quintet, Ella Fritzgerald, Tony Bennet, Freddy Cole, Bobby Short, Betty Carter, Toshiko Akyoshi, Andy William, Benny Carter e muitos outros “gigantes”. Foi, ainda, intérprete na trilha sonora de O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco. O Festival Ars Brasilis foi realizado de 26 de novembro a 1.° de dezembro no Sesi Itapetininga, a 170 quilômetros de São Paulo, e incluiu apresentações musicais, debates, oficinas e workshops. Todas as atividades, gratuitas, foram abertas ao público. Porém, o auge foi a apresentação dos dez arranjos finalistas, com uma big band formada especialmente para ocasião, conduzida, é claro, por Hector Costita. Foram eles Alexandre Vianna Machado, Gustavo Bugni, Marta Karassawa, Rodrigo Calvo Morte, todos de São Paulo/SP; André Pereira Marques (Sorocaba/SP), Carolina Panesi Barros (Rio de Janeiro/RJ); Diego Barbosa Garbin (Tatuí/SP); Mário José Mariano de Campos (Sumaré/SP); Rafael da Silva Rocha (Vila Velha/ES); e Rafael Piccolotto de Lima (Campinas/SP). Com o show de encerramento, Milton Nascimento celebrou os 50 anos de carreira, 70 anos de vida e 40 anos do movimento musical mineiro Clube da Esquina. “Posso dizer com toda sinceridade que tive a honra de ser homenageado num dos festivais mais importantes do Brasil. E não tem problema se esse evento ainda está apenas na primeira edição, porque essa iniciativa do Sesi já nasceu consagrada. Também agradeço


muito por ter tido a ajuda do grande maestro Hector Costita nessa empreitada, se não fosse por ele talvez tivesse sido um outro evento”, declarou Milton Nascimento. A inovadora experiência deixa como legado a proposta efetivamente cumprida. “Uma das razões para fazer um festival de arranjadores é que queríamos descobrir talentos que estão escondidos. E isso foi muito válido nesse festival, porque demos uma oportunidade e, acredito, geramos um estímulo para que isso se expanda e faça com que outros sejam incentivados a participar dos próximos”, resume Hector Costita. A iniciativa é extremamente importante em um País como o nosso, de tantos ritmos, culturas e talentos, mas que, por outro lado, ainda subvaloriza a própria riqueza. “Muitos alunos chegam a mim com este conflito, se é possível viver de música no Brasil. Digo que a música pede muita dedicação, tempo, esforço. É muito mais uma questão de comportamento pessoal. Mesmo que você não tenha um dom mágico, se tiver toda a dedicação exigida, poderá conquistar um posto em uma orquestra, uma big band. Poderá gravar, interpretar, ser um arranjador. A música pode ser muito mais uma questão de sentimento e de mágica, mas se você a trata com seriedade, se tem versatilidade para tocar em qualquer tipo de banda, o leque se abre. E este bom profissional consegue se adaptar a qualquer circunstância”, ensina Hector. Quem deixa outra lição é Milton Nascimento, que também tem um trabalho muito forte no incentivo a jovens talentos. “Tudo que aconteceu na minha vida até hoje eu considero muito especial. Nunca fiz cálculo ou projeção de carreira, as coisas foram naturais. Se eu disser que gosto de todos os meus trabalhos, você dificilmente iria acreditar. Mas a explicação é simples, tenho carinho por todos os meus discos e todos os meus projetos porque eu sempre faço exatamente aquilo em que eu acredito. E eu nunca fiz um trabalho, um show que tenha sido imposto por alguém, por gravadoras. Mas é claro que alguns trabalhos acabam marcando mais do que outros. Isso não posso negar”, conclui Bituca. Pois não, às suas ordens! Por Ada Caperuto

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Imagem de acervo

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Obra “O Bipolar II” do artista plástico Israel Macedo

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Há mais de seis mil anos, a humanidade descobriu uma maneira de se aproximar e venerar seus ídolos, criando estátuas que eram a tradução formal de deuses, semideuses, imperadores, heróis e guerreiros. Os hebreus e assírios foram os primeiros povos de que se tem notícia a manipular o bronze para produzir esculturas, utilizando recursos ancestrais que ultrapassaram milênios e, ainda hoje, são empregados por escultores. Dentre esses, a técnica de cera perdida. O complexo processo, praticamente artesanal, começa com a reprodução de um molde e termina no seu preenchimento com o bronze liquefeito, material que dará “vida” à obra – mas, por transformações no modo de pensar da sociedade, essa prática corria o risco de perder suas referências no Brasil. O especialista em Museologia, pesquisador e curador independente Gilberto Habib informa que, a partir do final do século XVIII, a produção de obras de arte em bronze acompanhou a própria formação cultural do País, pois com ela os artistas construíram monumentos que são a imagem “concreta” de um povo, seus símbolos e os valores de sua identidade. As primeiras manifestações partiram de mestres fundidores que utilizavam o conhecimento proveniente da tradição europeia, aliado à mão de obra e ao conhecimento de artesãos

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A tradição milenar de fundição de esculturas pela técnica de cera perdida é resgatada em exposição e cursos em São Paulo.

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NON FINITO: A ARTE DO BRONZE, RENASCIDA

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“Os valores estéticos mudaram, mas a função da arte, o resgate da memória e o papel da preservação dos monumentos e da educação em meio ao crescimento das cidades continuam sendo pontos estratégicos para o desenvolvimento do País e o bem-estar da população”, defende Gilberto, e acrescenta: “Vale destacar que estamos tratando de um sistema social complexo, que envolve vários setores – museus, escolas, artistas, poder público e, é claro, a participação da sociedade em geral. Não se trata de celebrar apenas uma apologia ao passado, mas de fazer o passado coexistir com o presente”.

Finalização da obra “Fantasia”, de Israel Kislansky

Imagem de Acervo

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supervisionados por grandes escultores, como Valentim da Fonseca e Silva – o Mestre Valentim, mineiro que foi responsável por um grande número de obras artísticas no Rio de Janeiro. Em São Paulo, um dos organismos responsáveis pela fundição artística foi o Liceu de Artes e Ofícios, fundado em 1873 para capacitar trabalhadores da nascente indústria paulista, formando, dentre eles, artesãos, restauradores e escultores. “A escola ajudou a construir uma cidade que crescia vertiginosamente. Vínhamos de uma tradição cultural importada de outros países, cujo modelo de urbanização e de civilização baseava-se na ‘escrita’ da história apenas dessa maneira, com a construção de monumentos. E, naquele tempo, eles cumpriam um papel estratégico e didático, muito eficaz para ‘mostrar’ o que era o Brasil”, diz Gilberto. Essa realidade mudou radicalmente a partir de meados do século XX, sobretudo depois da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). As sociedades determinaram novos padrões de ser e pensar. Chegaram a televisão e o cinema, ampliou-se o acesso a museus, a livros e a outros elementos que podiam “informar” o que era o Brasil. Assim, os monumentos em bronze perderam sua principal “funcionalidade”. Ao contrário da Europa, onde a tradição continuou viva e respeitada, no Brasil as fundições passaram a funcionar de maneira independente, quase sempre ligada a iniciativas comerciais de artistas e artesãos imigrantes e remanescentes do Liceu.


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Da praça para os ateliês

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Muitos artistas contemporâneos empregam a técnica da escultura em bronze no Brasil e, principalmente, na Europa, onde a tradição da cera perdida continua sendo o principal recurso para fundir peças de grandes dimensões para parques, jardins e praças públicas ou mesmo coleções particulares, sem que tenham, necessariamente, a função de um monumento. “Eles continuam privilegiando o belo artístico, e a tradição do bronze permite isso sem maiores problemas. O entrave maior, aqui no Brasil, é não haver centros de formação ou oficinas capacitadas para a execução dessas obras”, diz Gilberto. O escultor baiano radicado em São Paulo Israel Kislansky é um dos artistas que trabalham com a cera perdida, dedicando-se também à pesquisa escultórica há mais de 20 anos. Segundo ele, em todo o Brasil permanecem funcionando cerca de 15 empresas especializadas em fundição de obras de arte por meio desse método. A maioria está localizada nas regiões Sul e Sudeste do País. Em todo o Estado de São Paulo são apenas quatro empresas, que produzem de brindes a obras de arte. Praticamente inexistem especialistas qualificados para restauros e muitos artistas fundem suas obras no exterior. “Essa carência por serviços também parte dos museus e órgãos que zelam pelo patrimônio histórico das cidades. Há uma série de problemas sistêmicos que prejudicam a todos, inclusive a própria indústria brasileira, que, apesar de ser pequena, atende a uma demanda grande”, diz. As fundições artísticas do País são depositárias de uma tradição italiana que chegou aqui no início do século XX. Boa parte delas é remanescente desse período, propriedade de netos de fundidores ou de artesãos que trabalharam com os fundidores originais. “Muitas empregam técnicas artesanais, que têm quase 300 anos. Por um lado, isso é um problema, porque envolve toda a questão ambiental, como a queima de carvão. Por outro, é interessante saber que a tradição se mantém ativa. O desafio é modernizar, mas conservar uma memória que é, por si, muito valiosa”, declara Kislansky. O paulista Israel Macedo é um dos escultores que recorre às empresas profissionais para fundir as peças produzidas em seu ateliê, na capital.


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Cliente regular de uma fundição da cidade de Piracicaba, ele também utiliza os serviços de finalização da empresa. Ex-profissional de marketing, ele começou com o desenho e a pintura, mas sempre teve interesse pela escultura e, há cerca de sete anos, começou a fundir as peças em bronze. Foi no “velho” continente que Israel superou as dificuldades de artista iniciante e autodidata, como a correta compra de materiais. “Certa vez levei algumas peças para uma exposição na Itália. Eram todas de latão, e eu achava que eram de bronze... Só descobri porque a curadora me disse a verdade”, revela. Durante quase um ano que ficou na França, ele aprendeu as técnicas de cera perdida na fundição em bronze, onde também teve acesso a outros processos, empregados por artistas como Rodin. Os equívocos ficaram em um passado distante. Hoje, Israel coleciona reconhecimentos, como o Prix Spécial da Société Nationale Dês Beaux-Arts, recebido em um salão de artes do Louvre, em Paris, tendo se destacado também na 8a Bienal Internacional de Arte de Roma. Recentemente, suas obras ficaram expostas no lobby do Hotel Tivoli, em São Paulo. Uma delas conquistou ninguém menos que a cantora Lady Gaga, em turnê pela cidade e hóspede do hotel. Ela acabou levando a peça escolhida para casa, e carregada nos próprios braços, tal o apreço. O presente para a pop star tem um significado especial para o escultor. “Lady Gaga possui formação artística, fez cursos no Museu de Arte de Nova York e sempre usa referências de grandes artistas em seus cenários”, diz Israel, superando de vez a fase de aprendizado pelo método da tentativa e erro, o que incluiu, por exemplo, a descoberta sobre as possibilidades de cada um dos materiais em aceitar determinados tipos de processos para a aplicação da pátina, o processo de “colorização” do bronze. Esta técnica, obtida com a aplicação de diferentes ácidos que oxidam a peça, dando-lhe tonalidades diferentes, tornou-se a linguagem da escultura em bronze, como explica Israel Kislansky. “O gosto pela pátina é relativamente moderno. Todas as esculturas, da Grécia até a Idade Média, eram pintadas. Na Renascença, com as descobertas arqueológicas de estátuas que estavam no fundo do mar, criou-se uma ideia equivocada que a oxidação sofrida pela ação do tempo era um tipo de acabamento. Isso foi propagado e se tornou a identidade do ideal clássico da Antiguidade. O recurso passou a ser explorado e valorizado por artistas dos séculos XV e XVI. O Barroco restabeleceu o uso da cor, mas o Neoclassicismo do século XIX restaurou a tendência pelo ideal clássico”.

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Cera revelada

É essa diversidade de tendências e estilos que o público pode conferir na exposição Fundição Artística no Brasil, que ficará em cartaz até 10 de fevereiro de 2013, no Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso, na capital paulista. Mostrar a importância histórica da fundição artística no Brasil como processo cultural, além de levar ao público a compreensão da complexidade que envolve as doze etapas da técnica de cera perdida – da modelagem ao acabamento final –, são os objetivos da mostra, que tem curadoria de Gilberto Habib. Segundo ele, a exposição é resultado da associação de vários temas: os três mais evidentes – arte, história e a técnica da fundição – e, também, educação, tecnologia e a maneira sobre como algumas instituições lideraram estes processos, cada qual em sua época. Um painel autoexplicativo, que percorre todo o espaço expositivo, apresenta textos, protótipos, fotografias e peças originais em cera, gesso e bronze. Em sessões programadas ao longo do dia, acontece um espetáculo multimídia, que chama a atenção para os principais pontos do processo de fundição. A exibição conta com diferentes exemplos de uso da técnica, de diferentes

Imagem de acervo

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Obra de fundição artística f1nalizada por um aluno da Escola Senai “Nadir Dias de Figueiredo”


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países, antigos e modernos, artísticos e tecnológicos. Também o contexto histórico brasileiro do século XVIII ao XX é mostrado, em profundidade, a partir de ambientação cenográfica de uma fundição antiga, que abre ao visitante aspectos tradicionais do processo. O roteiro expositivo é integrado, ainda, por 15 monumentos sinalizados em pontos estratégicos na cidade de São Paulo. Entre as obras estão as de Rodolfo Bernardelli, o “escultor oficial” do Brasil durante o período Republicano; esculturas de Amadeu Zani, que também foi professor do Liceu de São Paulo; e maquetes de monumentos de Victor Brecheret, Galileo Emendabili, Julio Guerra, Leopoldo e Silva, todos eles autores de grandes obras em espaços públicos da cidade de São Paulo. Resgate de uma tradição

A exposição apresentada no Centro Cultural Fiesp – Ruth Cardoso é também um resultado da iniciativa do escultor Israel Kislansky de resgatar os fundamentos essenciais da técnica de fundição por cera perdida, e que foi acolhida pelo Senai São Paulo. A proposta partiu do interesse em preservar e transmitir um conhecimento fundamental ainda hoje, como garantia do desenvolvimento social, uma vez que nele se concentram saberes e valores úteis à capacitação de jovens para o mercado de trabalho, à preservação da memória e ao aperfeiçoamento técnico-industrial. Vale dizer que o processo é empregado na produção e reprodução não apenas de objetos artísticos, mas de peças seriadas para diferentes ramos da indústria, restaurações dentárias e joias. Ou seja, a iniciativa da Escola vem atender uma lacuna no ensino técnico em fundição – que pode ser percebida na experiência vivida pelo escultor Israel Macedo e também na carência de fundições qualificadas. Tudo começou em 2009, quando a equipe da Escola, integrada por professores, alunos e técnicos do Senai São Paulo, sob coordenação de Kislansky, realizou uma série de visitas técnicas a várias fundições da Itália, Inglaterra e França, incluindo um curso no Lycèe Anguier-Cayet, na Normandia, única escola do ramo naquele país. Além dos três anos de capacitação, foram feitos investimentos em equipamentos e treinamento de profissionais do Centro Técnico em Fundição Artística da Escola Senai “Nadir Dias de Figueiredo”, em Osasco, o primeiro núcleo do gênero no País, concebido para ser referência na formação de mão de obra especializada para a fundição e conservação de obras de arte.

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Em uma parceria inédita no País, a centenária Pinacoteca do Estado de São Paulo disponibilizou peças importantes de seu acervo, em gesso e terracota, para que fossem fundidas em bronze no Senai . De acordo com Kislansky, isso coroou o trabalho com a possibilidade de colocar a equipe diante de obras de arte de valor histórico e artístico. “Trabalhamos juntos no núcleo de conservação e restauro. Cada obra serviu como estudo, gerando uma série de ceras que foram analisadas, além de testes de fundições e de modelagem. Foi um processo relativamente longo e em alguns momentos tivemos que reinventar a roda. Cada etapa tem mil segredos e muita coisa se perdeu aqui no Brasil”, diz o coordenador. Todo o processo de capacitação os colocou em condições de responder as diversas demandas, tanto de assessoria como de ensino. Assim, os cursos especializados em fundição de obras de arte tiveram início em maio de 2011. Neste ano, foram realizados os primeiros workshops de Fundição Artística por Cera Perdida. “Tem sido um sucesso. Abrimos quinze vagas no último curso e acabamos com 25 inscritos do Brasil inteiro, do Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e do nordeste, um universo de 150 pessoas, no total. Eram fundidores, restauradores, artesãos, artistas, estudantes, pessoas que produzem obras sacras para igrejas, e mesmo gente que não têm formação como artista, mas que achou o assunto interessante”. Em 2013, o Senai lançará workshops e cursos de três meses, que darão aos alunos formação mais aprofundada, inclusive com a possibilidade de trazer uma peça de sua autoria para modelar e fundir. Kislansky explica que todo o trabalho vem sendo feito dentro de uma compreensão muito particular de um universo que implica memória, patrimônio, arte, cultura, modernidade, novas tecnologias e sustentabilidade. “Tudo isso está junto, sem que necessariamente uma delas predomine ou que uma elimine a outra. Meu papel é trazer esse pensamento ao projeto, mas o objetivo maior, e mais complexo, é respeitar particularidades, especialmente as de mercado.” Ele menciona uma das conquistas relevantes obtidas desde já pelo projeto: a parceria com uma empresa britânica, com filial no País, para desenvolver um refratário de qualidade – o material é empregado em uma das etapas da fundição artística. “No Brasil não existiam insumos especiais para fundição artística. A moldagem era feita com materiais aproximados que não davam resultado igual”. O curador Gilberto Habib também destaca a importância do trabalho do Senai . “A arte depende dessa tecnologia para seguir adiante, seja na preservação dos monumentos do passado como na criação de novas obras que sejam a


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Capa do livro Fundição Artística no Brasil, lançado pela Sesi-SP Editora.

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Por Ada Caperuto

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leitura do presente. Este é um dos motivos para valorizar o trabalho que vem sendo feito, com o resgate dessa tecnologia, aliando a tradição aos processos atuais e ensinando às novas gerações que serão os guardiões de tudo isso no futuro. Sem a ajuda de uma instituição tão consolidada e experiente neste setor não há como manter a tradição da fundição em bronze para fins artísticos. Trata-se de um processo industrial caro, e o Brasil não tem um mercado de arte que o sustente. O Senai já possui esta infraestrutura para fins industriais e a ideia é adaptar a linha de produção industrial e aperfeiçoá-la para obter resultados artísticos”. Toda a complexidade deste trabalho é também abordada no livro Fundição Artística no Brasil, lançado pela SeSi-SP Editora. A obra, coordenada por Israel Kislansky, trata de maneira minuciosa o processo de fundição artística pelo método de cera perdida. Apresenta não apenas o viés artístico e técnico da fundição, como também o mercadológico. “O livro inclui o texto original da última convenção legislativa francesa, um conjunto de regras que existe desde o século XVIII, do qual muitos países são signatários. São as chamadas ‘convenções da peça única’, que ditam, por exemplo, o número de peças que podem ser reproduzidas, entre outros aspectos que garantem a legitimidade de uma escultura”, conclui o artista.

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P RA ZE R R

Ilustração: Sérgio Merli

E DE S TA M

Nas 24 horas disponíveis em um dia, pelo menos nove delas são dedicadas ao trabalho, outras tantas à locomoção e à alimentação ou solução de questões pessoais corriqueiras. Há, ainda, as oito horas de sono recomendadas pelos médicos. Nesta matemática louca, sobram pouco mais de três horas diárias para o lazer e a distração. E a saúde? E o bem-estar? E a felicidade? Sobra tempo e disposição para estes aspectos tão relevantes? Levantando estas e outras perguntas, alguns países têm parado para pensar sobre o ser humano, suas necessidades e especificidades. Na Suécia, por exemplo, foi instaurada a chamada Sociedade B, permitindo que as pessoas tenham a liberdade de trabalhar e estudar em horários fora dos convencionais, em turnos entre as 8h e as 20h. Na França, a diminuição da jornada de trabalho e o aumento do período de férias já são fatos consumados, surpreendendo por não afetarem a economia negativamente, como muitos poderiam imaginar. Pensando no bem-estar da população, alguns governantes acrescentaram a felicidade à sua pauta de decisões diárias, em prol dos cidadãos. Compreenderam que questões econômicas, de segurança, transporte, educação e qualidade de vida possuem grandes dimensões, impactando, e muito, a vida de cada um. Foi criado então o índice FIB, como é chamada a Felicidade Interna Bruta – parodiando o tradicional PIB, Produto Interno Bruto. Tão importante quanto o índice ligado à economia de uma nação, o FIB foi desenvolvido por uma equipe de especialistas internacionais no campo das pesquisas sobre a felicidade, com o apoio do Centro para Estudos do Butão, país encravado no Himalaia, entre a China e a Índia, onde o índice já foi implantado. Por lá, o índice FIB estabelece nove fatores que contribuiriam para a felicidade de cidadãos do mundo todo: padrão de vida econômico, governança, educação, saúde, vitalidade comunitária, resiliência ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico.

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DINHEIRO TRAZ FELICIDADE?

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No Butão, os cerca de 700 mil habitantes acordam diariamente com a obrigação de serem felizes – ordens dadas por sua alteza real, Jigme Singye Wangchuck, de 57 anos de idade e 39 de majestade. Casado com quatro irmãs, ele leva uma vida normal, trabalhando em uma cabana de madeira e deixando seu palácio para as esposas. Apesar de ser chamada de nação mais feliz do mundo, o Butão ocupa uma das últimas posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que avalia dados como a expectativa de vida dos cidadãos ao nascer, educação e, vejam só, o PIB, que no país é de US$ 1,6 bilhão. Um índice brasileiro

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Apesar de uma pesquisa do Instituto Ipsos, divulgada neste ano, declarar que o Brasil é o quarto país mais feliz do mundo, alguns especialistas acreditam que pode ter ocorrido o engano de confundir “alegria” e “felicidade” na coleta dos dados – a primeira é momentânea e a segunda duradoura. Por isso, atualmente está sendo elaborada uma metodologia capaz de medir o FIB nacional, respeitando suas peculiaridades. “Não nos interessa importar uma metodologia de outros países, como o Butão, por exemplo. Buscamos analisar todas as questões, respeitando as dimensões continentais do Brasil, as diferenças socioculturais e até mesmo as geográficas, que muito interferem nos resultados. A partir desse processo de entender as diferenças que existem, estamos criando uma nova e específica metodologia”, explica Fabio Gallo, doutor em administração de empresas e professor da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Uma das possibilidades futuras é que este trabalho contribua no desenvolvimento de políticas públicas que permitam à sociedade alcançar a desejada felicidade. Há 20 anos no Brasil, Susan Andrews encabeça o movimento FIB Brasil. Formada em antropologia e psicologia pela Universidade de Harvard, possui doutorado em psicologia transpessoal pela Universidade de Greenwich. A norte-americana visitou o País durante a Eco-92 e não mais retornou para sua terra natal. Encontrou aqui a felicidade que procurava. Para ela, este é um assunto sério. Susan fundou e hoje coordena o Instituto Visão Futuro, sediado em Porangaba, no interior do Estado de Paulo, um organismo voltado às teorias e práticas ligadas ao tema da felicidade.


P RA ZE R E DE S TA R BE M

Ela discorda sobre a necessidade de criar um índice brasileiro. “A equipe de pesquisadores internacionais que desenvolveu as nove dimensões do FIB e seus respectivos indicadores sempre esteve motivada pela intenção de criar uma estrutura transcultural e com base empírica, fundamentada em pesquisas científicas sobre felicidade, feitas através de vários costumes e crenças religiosas – algo que pudesse ser genuinamente universal e útil para todos os povos”, esclarece. Muito além de dinheiro

As polêmicas relacionadas ao FIB não param por aí. A Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a busca pela felicidade como um objetivo humano fundamental. No Brasil, uma Proposta de Emenda Constitucional de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) prevê uma mudança no artigo 6o da Constituição Federal. A chamada PEC da Felicidade, que tornaria a felicidade um direito de todos os cidadãos brasileiros, está parada no Congresso há mais de dois anos. Muitos consideram o assunto inadequado, analisando que, no momento, o País teria questões socioeconômicas mais importantes a tratar, como a corrupção, só para citar uma delas. “No Brasil, o índice FIB é muito mais do que um mero indicador. É também um processo para a mobilização social e para o desenvolvimento de políticas públicas mais eficazes”, diz Susan Andrews. A especialista em felicidade informa que a metodologia desenvolvida pelo Instituto Visão Futuro é multidimensional, realizada em várias fases, começando com a sensibilização das comunidades locais e o desenvolvimento da iniciativa e do protagonismo da população. “Isso conduz à elaboração de planos de ação que são executados por meio de parcerias entre a sociedade civil, o poder público, as empresas e as universidades. O movimento FIB capacita as lideranças locais, especialmente os jovens, para a gestão do processo de desenvolvimento sustentável”, explica.

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A SESI-SP EDITORA APRESENTA OS CINCO PRIMEIROS TÍTULOS DA COLEÇÃO ATLETA DO FUTURO A Evolução do Esporte Olímpico resgata a história de uma atividade humana que nasceu como exercício de aprimoramento físico para a caça ou a guerra, tomou a forma de lazer e competição ao longo dos séculos e, nos dias de hoje, é a mais universal celebração de força, resistência e talento físico de homens e mulheres.

Não falta quem procure essa resposta desde que, em 1863, um grupo de estudantes ingleses resolveu regulamentar aquele jogo heterodoxo, conduzido com os pés na maior parte do tempo, lançando os fundamentos dos códigos que regeriam um esporte já bastante praticado nas public schools desde princípios do século XIX .

Este livro leva o leitor a uma viagem por outros tempos e paisagens até embarcá-lo na grande aventura que são as modernas Olimpíadas. Cada edição olímpica é esmiuçada, nos capítulos finais, para revelar quem são os heróis e heroínas que, de quatro em quatro anos, comovem o mundo com suas vitórias e fracassos, alegrias e dores, recordes e tropeços em busca de ouro, prata e bronze.

Futebol, novo livro desta coleção do SESI-SP sobre esportes olímpicos, mostra que as respostas são múltiplas. Afinal, trata-se de uma das mais vigorosas manifestações humanas, um monstro sociocultural que ignora fronteiras e resiste a guerras e revoluções, ditaduras e catástrofes, por obra de garotos abusados, jovens de todas as raças, mulheres e homens feitos, que vão aos estádios em peregrinação marcada por prazer e padecimento, sabendo que o transe começa muito antes do pontapé inicial e termina bem depois do apito do árbitro. Quando termina!

NATAÇÃO

ISBN 978-85-8205-039-2

ISBN 978-85-8205-037-8

A história dos esportes é marcada pelos Jogos disputados na Grécia Antiga, mas há registros de relatos e pinturas que se referem a corridas, lutas e jogos com bola – no Ocidente e no Oriente – milhares de anos antes do marco que foram as Olimpíadas “oficialmente” iniciadas em 776 a.C.

SALTOS ORNAMENTAIS, POLO AQUÁTICO & NADO SINCRONIZADO

ISBN 978-85-8205-035-4

CICLISMO, BMX & MOUNTAIN BIKE

O que é o futebol? Uma experiência sensorial apaixonante, um passatempo de luxo, um campo fértil para interpretações sobre a interação humana, ou apenas um saudável vício esportivo que reuniu, em 150 anos de existência, mais de 4 bilhões de seguidores em quase todos os países do mundo?

A EVOLUÇÃO DO ESPORTE OLÍMPICO

Este livro explica também como a natação se desdobrou, nos últimos anos, em novas modalidades esportivas, igualmente olímpicas. Você está convidado a mergulhar nestas águas.

FUTEBOL

Natação, Saltos Ornamentais, Polo Aquático & Nado Sincronizado mostra como as braçadas que garantiam a sobrevivência nos primórdios da humanidade se transformaram em um esporte de alto rendimento, em que campeões, como o fenomenal Michael Phelps e o brasileiro Cesar Cielo, estabelecem recordes e marcas espetaculares que valem de ouro, prata e bronze.

NATAÇÃO, SALTOS ORNAMENTAIS, POLO AQUÁTICO & NADO SINCRONIZADO

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Na Antiguidade, a natação era uma questão de sobrevivência. Gregos e romanos, no entanto, fizeram dessa prática um método de preparação física e criaram as primeiras competições. Ao longo dos séculos, a natação se tornou um esporte de competição e uma das mais charmosas modalidades olímpicas. Desde 1896, na primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, a modalidade ganhou novo status, muitos adeptos e a admiração do público.

Se tudo fosse apenas uma questão matemática, o ciclismo poderia ser tranquilamente o esporte mais popular da Terra, com centenas de milhões de praticantes subindo e descendo montanhas e rasgando as pistas dos velódromos. Para cada automóvel fabricado no mundo, existem duas bicicletas. Circular de bicicleta é um ato de prazer, independência, saúde e liberdade. Ser ciclista de competição é algo distinto, destinado a superdotados fisicamente, homens e mulheres que adaptam músculos e mentes a condições extremas, em qualquer terreno e circunstância. É do ciclismo de competição que trata este livro. Ciclismo, BMX & Mountain Bike compartilha com você as aventuras de esportistas que aparentemente não veem barreiras instransponíveis e manejam suas pequenas máquinas a 140 quilômetros por hora em busca de vitórias. Como eles, os garotos que inventaram o Mountain Bike e a BMX não querem saber de rotina – o negócio é saltar, correr e voar. A paixão pela bicicleta vale qualquer esforço.

FUTEBOL

A EVOLUÇÃO DO ESPORTE

ISBN 978-85-8205-033-0

OLÍMPICO

CICLISMO,

BMX & MOUNTAIN BIKE

9 788582 050392

9 788582 050378

CAPA.indd 1

09/10/12 15:42

Ainda para 2013 apresentaremos mais 10 títulos sobre as modalidades olímpicas, desde suas criações até as suas mais espetaculares vitórias. VEM AÍ: Vôlei, quadra & praia

Lutas

Vela, remo & canoagem

Handebol & hóquei

Esportes paralímpicos

Atletismo

Triatlo & pentatlo

Gestão esportiva

Basquetebol

Esgrima & xadrez

www.sesispeditora.com.br


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BIKE

E você, é feliz?

09/10/12 15:42

Milena Prado Neves

Capa do livro Administre melhor o seu dinheiro, publicado pela sesi-SP Editora

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A responsável pelo FIB brasileiro esclarece, ainda, que o estabelecimento do FIB no País não acarretaria o abandono de outros índices, tão importantes quanto este. “Achar que o FIB irá substituir o PIB é um recorrente mal-entendido”. Ela cita que, em 2010, a Comissão para Mensuração de Desempenho Econômico e Progresso Social, convocada pelo então presidente da França, Nicolas Sarkozy, e encabeçada pelo ganhador do prêmio Nobel, Joseph Stiglitz, concluiu que são necessários pelo menos três indicadores para avaliar-se o genuíno progresso de uma nação: um PIB revisado, um índice para a sustentabilidade e outro para o bem-estar. “Esta abordagem tem sido frequentemente chamada de Painel de Múltiplos Instrumentos, um trio de indicadores objetivos e subjetivos, que abrangem economia, meio ambiente e bem-estar”, afirma Susan. Na equação entre os fatores “dinheiro” e “felicidade”, o resultado perceptível é que o bom desempenho do PIB também é fundamental para a felicidade, tanto individual quanto coletiva. Ferramentas como o FIB auxiliariam governantes a gerenciar cidades para tornar seus cidadãos mais felizes. Enquanto as autoridades políticas não decidirem que este será um direito constitucional, cabe a cada um de nós melhorar os próprios indicadores.

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P O N ES TO P EC IA L

OS DONOS DA RUA

Foto Chris Von Ameln

A ARTE URBANA ENCONTROU EM São paulo a sua capital mundial, e artistas paulistanos estão transformando a cidade Normalmente associada à sociedade pós-industrial e frequentemente vista como pura expressão da consciência cosmopolita, a arte urbana na verdade tem uma natureza muito mais primitiva do que se pensa, e raízes diretamente associadas ao instinto de territorialidade inerente à nossa espécie desde os tempos em que habitávamos cavernas. Ela contém os mesmos caracteres do instinto de apropriação dos espaços que ainda nos faz deixar nossas marcas por onde quer que passemos. A territorialidade é uma necessidade humana, direta e intrinsecamente associada à promoção da nossa identidade. Somos frutos do ambiente em que nos formamos, e um reflexo fiel dele – de maneira que faz parte da nossa identificação nos apropriarmos desse espaço. Assim, a origem da pintura rupestre feita pelo nosso ancestral mais antigo, ou do mais moderno graffiti, passando pelos rabiscos nas portas dos banheiros públicos em contraponto às iniciais gravadas nos troncos de árvores, é mais ou menos a mesma – pelo menos no que diz respeito à motivação psicológica. O historiador francês Michel de Certeau (1925 – 1986) afirmava que “o ato de andar é para o sistema urbano o que o ato da fala é para a linguagem”. No contexto da era pós-industrial, contudo, a cidade perdeu a sua voz, cada vez mais transformada numa máquina de morar. Os espaços de uso comum foram transformados em corredores inóspitos e tumultuados, segregados do público por cercas e muros cada vez mais altos e hostis. E confinados num centro urbano que aglomera mas não aproxima, seus habitantes acabaram reduzidos a meras engrenagens de um sistema que causa distanciamento nas relações, solidão e perda de identidade. Graff1ti de Ricardo Akn, em fachada na Rua Harmonia, Vila Madalena.

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Uma arte que não se compra

A arte urbana trata da redescoberta da cidade e da arquitetura como símbolos culturais, transformando-os em manifestações artísticas, numa reflexão em torno da relação do homem com o espaço em que vive. É uma forma de manifestação artística que, justamente por se relacionar com o espaço público, é essencialmente impossível de ser apropriada e segregada da sua vocação de diálogo com o coletivo. Fruto das manifestações artísticas em espaços públicos abertos que começaram já no final do século XIX, em especial as performances surrealistas e dadaístas, a arte urbana ganhou a consistência de movimento a partir do período pós II Guerra Mundial. Com a intensa urbanização que seguiu à arrancada da industrialização que ocorreu nessa época, era natural que as cidades se tornassem o tema e a tela dessa nova forma de arte. Uma nova concepção de monumento público passou a ganhar as ruas, como as criações dos artistas norte-americanos David Smith (1906 – 1965) e Richard Serra (1939), além do búlgaro Christo Javacheff (1935), que ganharam notoriedade não só pelas formas adotadas, mas também pelos materiais utilizados na sua concepção, considerados até então inéditos: aço, borracha, plástico, tecido ou refugos industriais.

Foto: Tché Ruggi

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Foto: Chris Von Ameln

O conceito subjetivo de habitação não se restringe ao plano da moradia, simplesmente, mas se estende por toda a cidade. Afinal, a partir da sua casa, o cidadão usa outros lugares que a complementam, como as ruas, os parques, as praças, os lugares de trabalho ou de lazer. Contudo, com a cidade inteiramente submetida ao valor de troca, o próprio espaço tornou-se mercadoria. A cidade passou a personificar a exclusão social na sua própria estrutura de distribuição do espaço, e o que resta para ser apropriado pelo público está limitado aos interstícios da propriedade privada: as ruas. São inúmeros os meios usados nas tentativas de reapropriação desse espaço perdido, geralmente através de manifestações artísticas nos espaços públicos. Para Vera Pallamin, arquiteta e filósofa da Universidade de São Paulo, é justamente a arte urbana a prática social que permite os modos mais diferenciados de apropriação do espaço urbano, por meio de uma estética envolvida com os mais diversos significados sociais, culturais e políticos.


P O N ES TO P EC IA L

"Salve" ĂŠ a obra deixada pelo graf1te1ro TchĂŠ Ruggi nos muros da cidade.

O graf1te1ro Paulo Ito prepara um muro no Beco do Batman, na Vila Madalena.

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Os conturbados anos da década de 1960 influenciariam para sempre a arte urbana. A luta pela igualdade racial nos Estados Unidos e o conflito ideológico entre capitalismo e comunismo, que alimentou a Guerra Fria no resto do mundo, transformaram os muros das cidades em suportes para manifestações de cunho político, feitas sobretudo por estudantes. E não tardou muito para que os rabiscos no muro aos poucos deixassem de ser puramente uma expressão do pensamento político e fossem assimilados como mais uma expressão artística. Influenciadas pelas criações de artistas como o estadunidense James Rosenquist (1933), que trabalhava como pintor de anúncios publicitários, as mensagens nos muros foram adquirindo mais cor e subjetivismo. Seguindo o movimento da pop art, que já vinha fazendo uma releitura das maiores ícones do capitalismo e da sociedade de consumo, nascia talvez a mais icônica forma de arte urbana: o graffiti. Na década de 1960, o Brasil vivia o auge das tensões da resistência à ditadura que seguiu o golpe militar de 1964. Como o que se viu em Paris durante o movimento de maio de 1968, por aqui também o espaço urbano passou a ser usado como suporte para manifestações de cunho político e ideológico, e esse apelo contestador e popular não demorou a encontrar eco na periferia das grandes metrópoles. Confinados em áreas pobres pelo surto de urbanização que caracterizou a demografia brasileira desse período, alguns jovens artistas encontraram no graffiti a voz que contestava a exclusão social e espacial que os rotulava. Considerado um dos brasileiros pioneiros no graffiti, o artista plástico Alex Vallauri (1949 – 1987) via a sua arte como uma forma de comunicação que melhor atingia as massas, dentro de um ideário que prega a arte como manifestação social, não apropriável, não elitizada e igualitária. Difundindo a técnica do graffiti e do estêncil (o desenho reproduzido em série por meio da tinta aplicada sobre uma tela recortada), ele foi um dos maiores responsáveis pela transformação da paisagem urbana das grandes cidades – começando por São Paulo.


P O N ES TO P EC

Aos poucos, uma arte que originalmente se desenvolveu de maneira marginal e clandestina, seguindo uma técnica para ser feita às pressas e à espreita da polícia, tem ganhado composições cada vez mais apuradas e dimensões ainda maiores.

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“Porque a cidade pede isso!”, argumenta, enfática, Mariana Martins, fundadora da galeria Choque Cultural e pioneira na promoção do graffiti uma forma de arte que vai muito além do seu conteúdo social e antropológico. Para ela, o cinza e a inospitalidade da cidade pedem essa humanização pela cor. “Além disso, a cultura do skate é muito forte em São Paulo. Os skatistas são verdadeiros bandeirantes da arte urbana. Eles transitam por partes da cidade que carros não chegam e os pedestres não vão, e transformam esses lugares quando se apropriam deles. É assim que as manifestações de arte urbana vão surgindo embaixo dos viadutos, nos túneis, nas paredes da cidade”. Filha do consagrado artista plástico Aldemir Martins (1922 – 2006), Mariana – ou simplesmente Mari, como é conhecida – faz coro com os demais artistas ao atribuir a causa do fenômeno do graffiti como a grande expressão artística paulistana do século XXI tanto à diversidade cultural de São Paulo quanto à exclusão social, que faz o centro e a periferia da cidade serem dois mundos completamente distintos. Isso, aliado ao caos da educação pública que privou – ou, sob outro ponto de vista, preservou – os jovens artistas do contato com os dogmas da arte acadêmica, permitiu que o traço que se vê pela cidade se desenvolvesse de maneira mais livre e incondicionada. Na última década, seguindo o crescente reconhecimento da crítica especializada, São Paulo vem adotando o graffiti como identidade visual da cidade, em contraponto a cidades da Europa ou dos Estados Unidos em que ele ora é confinado em determinados bairros, ora é simplesmente considerado ilegal. Cada vez mais painéis têm colorido a cidade, muitas vezes por iniciativa do próprio poder público ou a convite dos proprietários dos imóveis grafitados.

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Mas por que São Paulo?

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38 A arte urbana vira arte brasileira – e paulistana

Ao mesmo tempo em que o graffiti florecia na periferia, uma outra forma de apropriação e identificação do espaço urbano também nascia: o pixo, um movimento totalmente autóctone e original da cidade de São Paulo. A grafia propositalmente diferente de “pichação” revela a distinção entre uma manifestação e outra: enquanto o primeiro designa os rabiscos com mensagens que se encontram pelos muros de qualquer cidade do mundo, o segundo diz respeito à manifestação primal, quase tribal, de apropriação da cidade por meio de uma tipografia toda peculiar geralmente vinculada à identificação de grupos distintos e frequentemente rivais. O que nasceu com as marcas deixadas pela cidade para promover um canil que criava a raça fila no final da década de 1970 – o célebre “Cão Fila Km 26” –, acabou evoluindo para um movimento complexo, envolvendo centenas de jovens da periferia da cidade que, completamente alheios à controvérsia sobre o pixo ser arte ou vandalismo, competem entre si para deixar a sua marca cada vez mais alto, cada vez mais visível, cada vez maior. “O pixo paulistano tem uma série de características próprias e únicas, como uma tipologia


pontiaguda que segue o contorno da paisagem da cidade, com seus prédios altos recortando o horizonte”, explica o artista plástico Tché. Além disso, ele é feito cuidadosamente distribuído pela parede pixada, para ocupar todo o espaço disponível e numa ordem que obedece um código de conduta observado por todas as facções de pixadores. Mais do que o reconhecimento social ou a aclamação da crítica, os pixadores arriscam as suas vidas nas alturas da cidade em busca de uma notoriedade que, embora restrita ao seu grupo e a quem mais consiga decifrar os símbolos que utilizam, se contrapõe à massificação que lhe é imposta pela exclusão social. Atuam à noite, frequentemente em duplas ou em grupos, utilizando os materiais que tiverem à mão para deixar suas marcas. Seja com spray, rolo, pincel, giz de cera ou pincel atômico, o que importa é fazê-las visíveis como uma compensação ao anonimato imposto pela massificação urbana. Considerado um movimento marginal, o pixo já entrou em confronto com a arte reconhecida pela sociedade do consumo. Em outubro de 2008, um grupo de 40 pixadores invadiu o prédio da Bienal de São Paulo e deixou suas marcas numa área destinada a ficar vazia, no terceiro pavimento. Esse ato, que visava conquistar à força a aceitação do pixo como expressão genuína de uma arte urbana popular e marginal, acabou rendendo a prisão de uma pixadora por mais de um mês por dano ao patrimônio privado. Mas também proporcionou uma discussão sobre o movimento que envolveu a imprensa e a crítica especializada, e chamou a atenção do mundo para o que vem acontecendo em São Paulo. Alguns pixadores chegaram a ser convidados para eventos internacionais, o que culminou com uma performance bastante controversa na antiga Igreja de Santa Elizabeth-Kirche, durante a 7a Bienal de Berlim, em 2012. Convidados a demonstrar o pixo numa área delimitada do prédio histórico, os pixadores fizeram o que sabem fazer melhor: subverteram as regras, escalaram as paredes da igreja do século XIX e deixaram suas marcas onde não era permitido. A imprensa protestou, escandalizada, e o curador da mostra teve que vir a público pedir desculpas ao povo da cidade.

Arte, manifestação social ou puro vandalismo, a discussão continua.

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E o resultado disso é que a Avenida 23 de Maio, o túnel sob a Rua da Consolação e os pilares sob a via elevada sobre a Avenida São João se tornam-se galerias a céu aberto e pontos turísticos. Mas nenhuma dessas se compara ao que se vê na Rua Gonçalo Afonso, na Vila Madalena, mais conhecida como o Beco do Batman. Uma via estreita, que se esgueira entre os muros de contenção das enchentes do Rio Verde que ainda corre sob o pavimento, tornou-se a maior galeria a céu aberto de graffiti de São Paulo, a ponto de se tornar referência para diversas publicações internacionais. Ao estêncil do herói das histórias de quadrinhos que um dia foi pintado ali, batizando o lugar, seguiram obras dos mais consagrados grafiteiros da atualidade, num movimento que tem se espalhado pelas paredes de toda a vizinhança adjacente. A Vila Madalena hoje reúne diversas galerias dedicadas à arte urbana, além de lojas voltadas para a cultura do graffiti. Não é à toa que a comunidade local tem se mobilizado para conseguir que a área seja preservada pela Prefeitura como um parque linear, alcançando o objetivo de promover a inclusão social e a apropriação do espaço da cidade por meio da arte.

Foto Chris Von Ameln

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Vários artistas contribuem para fazer do Beco do Batman uma enorme galeria de graff1ti.


P O N ES TO P EC IA L

O traço do graffiti paulistano tem encontrado uma acolhida tão ampla e calorosa do público e da crítica internacionais que, aos poucos, a cidade vem se firmando como a capital mundial da arte urbana. Artistas como Chivitz, Silvana Melo, Nunca, OsGêmeos, Presto e Canindé, para citar apenas alguns, que já deixaram o seu traço por toda a cidade, estão sendo convidados para mostrar a sua arte em outros países. Intervenções como a d’OsGêmeos no castelo de Kelburn, na Escócia, têm despertado interesse cada vez maior da crítica internacional. Extremamente criativa e dinâmica, a arte urbana abarca um grande número de manifestações diferentes. Em São Paulo, além do graffiti, as intervenções urbanas também têm transformado o cotidiano da cidade: literalmente, depois de ter se desenvolvido e amadurecido nas paredes, a arte urbana começou a ocupar o meio da rua. Diferente da motivação de apropriação e identificação do espaço pelo autor do graffiti, as intervenções urbanas têm o seu foco no olhar do cidadão comum sobre a cidade em que vive. Por meio de propostas de novas formas de interação com um objeto urbano existente (um monumento, por exemplo) ou com um espaço público, o artista proporciona experiências estéticas – geralmente visuais – que revelam novas maneiras de percepção do cenário urbano, que permitem ao cidadão criar novas relações afetivas diferentes da objetividade funcional do seu dia a dia. Uma reflexão toda nova sobre o compartilhamento do espaço, subsistência sustentável e inclusão social é proposta, sinalizando uma relação diferente da que estamos acostumados com a cidade e com o ambiente que nos cerca. De sucatas de carros abandonados que viram jardins a galinhas soltas em shopping centers, passando por aplicações que transformaram o MASP numa caixa de nuvens, há mais de uma década vários artistas paulistanos têm tomado de assalto a cidade. E ao longo desse tempo, como uma evolução natural, São Paulo aos poucos também foi se especializando como um dos maiores produtores de arte digital do mundo, tendo a sua paisagem urbana transformada por projeções que, pelo menos por uma noite, interferiram em ícones da arquitetura da cidade. Era justo, portanto, que se criasse um espaço especialmente dedicado à arte digital, seguindo o movimento que já vem compondo a paisagem de Nova York, Londres, Paris e Berlim. Incorporando o conceito de Media Facades,

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P O N ES TO P EC

Foto: Bia Ferrer

A galeria de Arte Digital na fachada do edifício sede da Fiesp transformou a paisagem da Avenida Paulista.

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Por Régis de Godoy-Rocha

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a fachada peculiar do edifício-sede da Fiesp, de autoria do consagrado arquiteto Rino Levi (1901 – 1965), um dos símbolos da Avenida Paulista, transformou-se permanentemente em uma gigantesca galeria de arte digital a céu aberto. São 3.700 m2 de área, revestidos com 26.241 dispositivos contendo quatro lâmpadas de LED cada um. Controlados por computador, eles são capazes de compor imagens em até 4,3 bilhões de combinações de cores, com possibilidades praticamente ilimitadas de movimentos e formas. Sob a curadoria de Marília Pasculli, da produtora brasileira Verve Cultural, e da alemã Susa Pop, da Public Art Lab (Alemanha), a galeria é inaugurada com a mostra SP–Urban Digital Festival. Todas as noites, das oito horas às seis da manhã, serão exibidas criações dos artistas paulistanos VJ Spetto, Coletivo Bijari e Goma Oficina, além do colombiano Esteban Gutierrez, o francês Antoine Schimitt e a dupla hispano-estoniana Mar Carnet & Varvara Guljajeva. A mostra foi inaugurada no último dia 3 de dezembro e seguirá até a noite de 31 de dezembro de 2012. Em 2013, a Galeria de Arte Digital do SESI-SP passará a integrar o evento internacional Connecting Cities, em que obras de arte digital são apresentadas nas fachadas multimídia das várias cidades participantes: Berlim (Alemanha), Linz e Viena (Áustria), Bruxelas (Bélgica), Liverpool (Grã-Bretanha), Helsinki (Finlândia), Prado e Madri (Espanha), Riga (Letônia), Marselha (França), Istambul (Turquia), Zagreb (Croácia), Montreal (Canadá) e Aahrus (Dinamarca). Após comemorar 120 anos de criação, e eleita pelos paulistanos em 1990 como o maior símbolo da cidade, a Avenida Paulista agora vai colocar São Paulo no mapa da arte digital mundial.

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M T EM A S A C A BO U

A LUZ CAPTURADA “Tirar uma fotografia é participar da mortalidade, vulnerabilidade, mutabilidade de outra pessoa ou coisa. Precisamente por fatiar um momento e congelá-lo, todas as fotografias são testemunhas da passagem inexorável do tempo.” Susan Sontag (1933 - 2004), escritora e filósofa norte-americana

Foto: Norman Parkinson

45 A exposição Observadores – Fotógrafos da cena britânica desde 1930 até hoje, que esteve em cartaz na Galeria do Centro Cultural Fiesp de 25 de setembro a 25 de novembro de 2012, demonstra que as fotografias são recordações da finitude e fugacidade do mundo ao nosso redor, e – por que não dizer? – de nós próprios. As mais de duzentas fotografias expostas revelavam fragmentos de momentos que ajudam a compreender o tumultuado século XX, no contexto de uma das nações mais significativas na formação do mundo ocidental moderno. Ao registrar a alma do cotidiano na Grã-Bretanha ao longo de uma trajetória de mais de oitenta anos, foram reveladas nuances que talvez seriam imperceptíveis sob um olhar meramente científico, mas que não escaparam à sensibilidade da arte. As histórias contadas por meio das imagens do passado serviam como peças do quebra-cabeça que explica o agora que vivemos. Fruto de uma colaboração curatorial encampada conjuntamente pelo Sesi-SP e pelo British Council, a mostra foi planejada num intenso intercâmbio entre São Paulo e Londres. O projeto nasceu em 2009, após o curador João Kulcsár ter cursado o seu mestrado em Alfabetização Visual na Universidade de Kent. Dois anos depois, em 2011, o curador e especialista em fotografia inglês Martin Caiger-Smith também abraçou o projeto, e o resultado foi a maior e mais significativa mostra da fotografia britânica já realizada no Brasil. Observadores – Fotógrafos da cena britânica desde 1930 até hoje trouxe para São Paulo uma "The brave new peace."


Foto: Shirley Baker

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coletânea de imagens de autoria de cerca de quarenta fotógrafos, cedidas pelas mais conceituadas coleções da atualidade, como a National Portrait Gallery e a Tate Gallery, ambas em Londres, além de uma série de coleções particulares. São obras de fotógrafos das mais variadas origens, todos considerados britânicos por nascimento ou por adoção. E apesar de a Grã-Bretanha estar no epicentro de todos os maiores marcos históricos do século XX, como as duas guerras mundiais e a Guerra Fria, o foco da exposição não são os fatos históricos, e nem é dado destaque ao fotojornalismo. As imagens não concentram sua atenção no mundo exterior nem em mundos interiores, mas no próprio país, numa tentativa de traduzir a nação britânica em imagens que representam seu caráter e seus costumes, além das condições de seus habitantes. Foi o interesse pelo cidadão britânico comum e o cotidiano nas cidades e vilas inglesas que atraíram a atenção das câmeras. Ano após ano, década após década, as lentes buscaram registrar o espírito da passagem do tempo ao longo do século que, nas palavras do recentemente falecido historiador britânico Eric Hobsbawn (1917 - 2012), sintetizou a era dos extremos: um período tão repleto de catástrofes, crises e temores, que redefiniu para sempre os rumos da humanidade. Em meio ao tumulto dos crescentes conflitos sociais e sucessivos abalos econômicos, que levaram o mundo às duas maiores guerras da história e ao constante temor de um conflito nu-

"Cycling alng a terraced street."


M T EM A S A C A U

Por Régis de Godoy-Rocha

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clear, a mostra revela a busca da compreensão das pessoas e da maneira como elas viviam. Essa tentativa de retratar a sociedade com nova objetividade e imparcialidade científica, numa forma de auto-antropologia, era fruto do esforço de artistas, escritores e pensadores que abraçaram os temas sociais e o novo realismo que floresceu nessa época. As imagens da exposição são testemunhas contundentes dos imensos contrastes desse longo processo de transformação. Se de um lado as fotos dos anos 1930 mostram os últimos anos de ingenuidade antes do pesadelo da Segunda Guerra Mundial, no extremo oposto está a perplexidade diante da brutalidade do tempo presente, traduzida nos olhares perdidos dos jovens retratados no começo deste século. Da mesma maneira, contraposto aos semblantes angustiados dos duros anos de sangue, suor e lágrimas em que a Inglaterra foi protagonista no conflito que devastou a Europa nos anos 1940, está o imenso vazio ideológico que marcou as décadas da Guerra Fria repletas de incertezas. A fotografia é a forma de arte mais realista já desenvolvida pelo homem. Sendo a mera captura da trajetória da luz – nas palavras do próprio Louis Daguerre (1787 - 1851), o francês tido como o inventor da fotografia moderna –, ela praticamente libertou a imagem da interferência humana ao ser retratada. Ao contrário do pintor, que traz para a tela a sua própria interpretação do que vê, sujeitando o que retrata aos caprichos de sua imaginação, o fotógrafo é forçado a se submeter ao objeto retratado. Ele é muito mais instrumento do que autor de sua obra, e sua arte transita no campo limitado do puro registro de um instante, tal qual ele se apresentou diante das lentes de sua câmera. Talvez seja por isso que o fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902 - 1984) afirmava que “nem todo mundo acredita em pinturas, mas todos acreditam em fotografias”. A SESI-SP Editora acaba de lançar o livro Observadores – Fotógrafos da cena britânica desde 1930 até hoje, com a compilação de todas as imagens da mostra que esteve na Galeria do SESI, perpetuando esse grande momento da fotografia-arte no nosso país. A exposição levou os visitantes a uma reflexão sobre a transitoriedade do agora, enquanto revelou uma nova noção do que poderíamos chamar de eterno. Enxergamos a nós mesmos em outras faces e em outras eras, e percebemos que ainda somos os mesmos de sempre.

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C O N AP TR O N TO

a virtude e a mágica de usar as mãos POR CLAUDIO DE MOURA CASTRO

Foto: Fernando Guerra

“Fazer é pensar.” (Richard Sennett)

O presente ensaio é sobre as mãos. As mãos fazem o trânsito entre o mundo das ideias e o mundo das coisas. O seu uso, para construir alguma coisa útil, pode ser um caminho para o desenvolvimento intelectual, para o amadurecimento e autoconfiança. A sociedade brasileira perde por desdenhar as atividades em que as mãos participam, muitas vezes preferindo uma intelectualidade estéril. Deprecia assim as profissões e os profissionais que precisamos para completar nossa Revolução Industrial. Imagem utilizada no livro A Arte da Tapeçaria - Tradição e Modernidade, recém-lançado pela Sesi-SP Editora.

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O fascínio de construir com as próprias mãos

O desenvolvimento intelectual de cada um de nós não acontece em um vácuo emocional. Adquirir confiança no que fazemos e na nossa própria pessoa é ingrediente essencial do nosso amadurecimento – em todas as direções. E isso se faz com o acúmulo de pequenos sucessos e com a experiência de começar e acabar alguma tarefa. E que essa tarefa terminada seja causa de orgulho e satisfação pessoal. Ler livros é pouco, é quase nada, nessa dimensão afetiva do nosso desenvolvimento. A realização de obras físicas ou tangíveis pode ser um caminho privilegiado para esse avanço da nossa autoconfiança. A construção de um objeto, uma máquina, um brinquedo, uma pesquisa no mundo físico pode ser uma forma eficaz de avançar nessa direção.

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Foto: Site Jaraguá do Sul ontem e hoje

Uma boa nota em redação, com certeza, traz muita satisfação e sentimento de realização para um aluno. Mas construir um objeto físico pode ser uma experiência ainda mais poderosa.

O funcionário Schmidt exibe orgulhoso o armário que terminara na marcenaria de Theobaldo Hagendorn (cerca de 1960).


C O N AP TR O N TO

Pode até ser tosca, mas a estante de livros que construímos é tangível, pode ser tocada e mostrada. Com que orgulho mostro a meus convidados a mesa da sala de jantar, feita com minhas próprias mãos! Citando N. Beverton, consagrado marceneiro inglês, “fazer alguma coisa que você pode usar é uma coisa intrinsecamente boa”. Mesmo para quem já amadureceu bastante, há uma força vital na construção de alguma coisa com as próprias mãos. No meu caso, entre escrever um ensaio festejado pelos leitores e construir uma mesa, qual traz maior prazer? Qual é mais forte como experiência? Esse canal de realização pessoal, com as mãos, pode ter um peso inestimável no desenvolvimento da nossa personalidade. Começamos com uma ideia, executá-la vira o desafio, requerendo quebrar a cabeça na sua implementação. Finalmente, é a vitória, bem tangível. As escolas Waldorf, concebidas por Rudolf Steiner, estão solidamente apoiadas nessa crença e seu grande sucesso é eloquente. As finadas disciplinas de “trabalhos manuais” trilhavam mais ou menos nessas direções. Ainda ouvimos algumas pessoas descreverem com entusiasmo suas experiências nessas aulas. Mas com a experiência hoje acumulada nesses assuntos, é possível ir bem mais longe – embora o prazer intrínseco de construir qualquer coisa não possa ser subestimado. Ainda assim, muito do que se fazia era apenas exercitar manualidades, sem criação, sem o vai e vem entre elas e a sua concepção abstrata. Na verdade, a grande riqueza dessa linha de atividades se dá, sempre e quando, a atividade manual (serrar, aparafusar ou juntar) é parte de uma aventura intelectual maior. É possível fazer que as atividades nas oficinas sejam o lado prático da elaboração de projetos ou experimentos em que se fundem os conhecimentos acadêmicos com o mundo da construção e da manipulação física. Nada disso é preparação para o trabalho, no sentido mais específico do termo. Não é formação profissional, stricto sensu. Mas é difícil imaginar que não seja um aspecto do desenvolvimento pessoal que pode ter enormes consequências sobre o desenvolvimento profissional e acadêmico subsequente. Construir uma mesa é uma jornada aventurosa. A cada momento, aparece um novo problema. Qual a altura, considerando o futuro dono e o uso? Será estável esse desenho das pernas? Como prender o tampo, de forma que, ao se expandir e contrair, como resultado das mudanças de humidade do ar, a madeira não rache? A madeira está com o teor de humidade apropriado? Como

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resolver os encaixes, para que fique rígida e não sejam mais difíceis do que dá conta o autor? Que tratamento de superfície, considerando o uso? Que estilo deve ter? Como consertar, se cometi um erro clamoroso – como diziam os antigos, se “matei a peça”? Segundo o celebrado marceneiro sueco-americano, J. Krenov, a barbeiragem acontece com todos. Sem mais nem menos, a ferramenta escapole e deixa uma cicatriz horrenda na madeira. O desafio de achar um conserto requer abundantes recursos intelectuais e habilidades mecânicas. Não há nenhuma razão para crer que tais atividades sejam mais fáceis ou menos desafiantes do que um trabalho puramente intelectual. Após digladiar-me com as equações da minha pesquisa, levanto-me do computador e vou para a oficina, para continuar algum projeto. Não vejo que se reduziu o desafio intelectual. Continuo resolvendo problemas.

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Ou seja, o trabalho que é imediatamente útil e manual pode também ser intelectualmente absorvente e criativo. Não há contradição, pelo contrário. Vendo de outro ângulo, o fato de ser despida de atividades físicas não significa que uma tarefa contenha mais desafios intelectuais. Pode ser tão monótona e repetitiva quando o mais humilde trabalho braçal, como varrer a oficina. Não obstante, nossa sociedade decreta que as atividades em que não participam as mãos são mais nobres do que aquelas cuja materialização exige manipular materiais, máquinas e ferramentas. Para o educador J. Gardner, “um excelente bombeiro é infinitamente mais admirável que um filósofo incompetente. Uma sociedade que despreza excelência nos bombeiros, por ser uma ocupação humilde, e admite mediocridade nos filósofos, por ser uma atividade glorificada, nem terá bons bombeiros e nem boa filosofia. Nem os canos conterão a água e nem a filosofia as críticas”. Esses preconceitos são nocivos para o avanço da sociedade, além de serem factualmente equivocados, como sugerido pelos exemplos acima. Se a sociedade vê com descaso ou desprezo essas ocupações, como recrutar futuros operários


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No tempo dos faraós, a carta de Duauf

Há mais de três mil anos, nas Instruções de Duauf, o autor egípcio aconselha seu filho a buscar o mundo dos livros e dos escribas, afastando-o do trabalho manual, pois não tinha futuro. Em vez disso, deveria escolher atividades intelectuais. Portanto, nada de novo na tradição de desdenhar as atividades em que se usam as mãos. Um pouco mais ou um pouco menos, aparecem aqui e acolá o preconceito e a distância social, correspondendo ao destino que se dá às mãos. Em grande medida, nossa cultura de origem ibérica amplifica essa distância. Começamos com o fato histórico de havermos sido colonizados por um país sem tradição fabril. Portanto, em que pesem alguns inegáveis méritos da colonização portuguesa, não herdamos os valores e atitudes compartilhados pelos países industrializados, aqueles mesmos em que os padrões de vida são muito mais elevados. E na nascente sociedade brasileira, o trabalho escravo apartou ainda mais as mãos da cabeça. A cultura de Trás-os-Montes está muito distante da cultura do Vale do Ruhr e do Vale do Silício. Não conseguimos um sincretismo cultural entre nossa história e as tradições da primeira Revolução Industrial, seguida das outras que vieram depois.

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de boa cepa? E sem eles, a indústria padece dos problemas crônicos de falta de qualidade – e, por via de consequência, de produtividade. Na verdade, o trabalho manual leva a um encontro sistemático com o mundo material e com a sua observação. Assim se deu a Revolução Industrial na Inglaterra. Boa parte das ciências naturais nasceram dessa observação. Ao tornar-se íntimo com os fenômenos da natureza, muitos foram capazes de induzir hipóteses sobre o seu comportamento. E o que é isso senão fazer ciência? Há hoje uma ciência matematizada, criada na pura abstração. Mas está por ser demonstrado que esse caminho é mais fértil do que a observação detalhada do mundo real. Pesquisadores sérios dizem que a criatividade começa a ser possível ao se ganhar um domínio completo de um processo, ao longo de um demorado período de trabalho e observação. Em outras palavras, é mister reconhecer e valorizar as virtudes e desafios das ocupações qualificadas. Elas requerem os gestos profissionais, mas também um uso intenso da cabeça.

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Exemplificando as tradições que nos atrapalham, podemos confirmar o baixo status das ocupações manuais em nossas terras. Como nos sugere a história, não temos monopólio nesse particular. De fato, se tomarmos um dos países em que há menos preconceito contra usar as mãos, podemos nos lembrar da observação de Thorsten Veblein sobre os ricos americanos. Dizia ele que a bengala tinha como função simbólica demonstrar para todos os passantes que o proprietário não teria nada mais para fazer com suas mãos, senão segurar a dita. Mas ainda assim, a cultura americana valoriza e exalta as atividades manuais. Em contraste, na nossa sociedade, esse preconceito aparece sem freios ou peias. Benjamim Franklin, apesar de haver galgado posições muito expressivas no governo americano, realizou ao longo de sua vida muitos experimentos técnico-científicos. Seu ofício de tipógrafo foi o ponto de partida para estudos de eletricidade e meteorologia. Foi autor de muitos inventos, como o para-raios, óculos bi-focais e uma estufa para aquecimento das casas até hoje fabricada. Não podemos imaginar o Presidente Lula manejando um torno, no porão do Palácio da Alvorada, para espairecer de um dia difícil. Em contraste, apesar de sua origem na aristocracia sulina, o Presidente Carter costumava fugir para a oficina de manutenção, no porão da Casa Branca, para construir impecáveis cadeiras.

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Inventada pelo político, diplomata, f1lósofo, escritor e cientista estadunidense Benjamin Franklin (1706 - 1790) a prensa móvel revolucionou a tipograf1a.


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Este texto faz parte do livro: As casas de minha vida Reflexões de um diletante construtor e moveleiro previsto para ser lançado pela Sesi-SP Editora em abril de 2013.

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Conta-se que D. Pedro II saiu com Louis Agassiz, o celebrado cientista suíço-americano, em uma expedição geológica. Ao ver o velho professor golpear uma rocha com seu martelinho de geólogo, pressuroso, D. Pedro mandou em seu auxílio o escravo que os acompanhava. Mesmo o nosso monarca-intelectual não estava livre do preconceito. Consta também que o mesmo D. Pedro não gostou nada de haver sido instado por Mauá a manejar um carrinho de mão, para carregar de carvão a caldeira de uma locomotiva. Como, mais adiante, suas empresas quebraram, paira a dúvida se a experiência do Imperador com uma pá tenham tido um papel nesse desenlace infeliz. Não precisamos ir a momentos tão remotos em nosso passado. Em tempos recentes, senhores de ilibada reputação não carregavam embrulhos na rua. Em contraste, veja-se um detalhe curioso. Nos catálogos telefônicos da Suíça, logo após o nome, consta a profissão dos operários qualificados: Fulano de tal, pintor (ou pedreiro, ou mecânico). Seu ofício manual é parte de sua identidade. Aliás, forjar a personalidade passa pelo orgulho profissional que tão exaltadamente se vê na Suíça. Seja um engenheiro ou um eletricista, a profissão é motivo de vaidade, não de constrangimento, mesmo no caso das manuais.

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Montagem da peça "O sertão é dentro da gente" (2000).

Foto: Kris Tavares

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O teatro brasileiro teve suas primeiras montagens realizadas pelos jesuítas, no remoto século XVI. Em palcos improvisados, padres e índios jovens e crianças faziam as vezes de atores. Colonos e indígenas mais velhos formavam a enxuta plateia, que era catequizada por meio dessas montagens, escritas em linguagem acessível ao povo. A temática relembra as circunstâncias que criaram o teatro, quando na Grécia antiga encenações louvavam deuses e contavam suas histórias. Lá, Ésquilo, Sófocles e Eurípedes eram responsáveis por escrever tais peças, entre 525 a.C. e 386 a.C. Por aqui, José de Anchieta e Antônio Vieira, jesuítas que desembarcaram no Brasil entre 1500 e 1600, podem ser considerados os primeiros dramaturgos.

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Uma longa história

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Há 100 anos, nascia uma das figuras mais importantes para a dramaturgia brasileira. Também um grande ícone das letras, Nelson Rodrigues, com sua sensibilidade e olhar atento, foi responsável por transmitir para o papel um pouco do cotidiano do brasileiro. Seus textos ganharam o teatro, o cinema, a televisão, o jornal e o rádio de todo o País. Neste ano também é celebrado outro aniversário relevante para os apaixonados pelo teatro: os 25 anos do Núcleo de Artes Cênicas do Sesi-SP, o NAC. Tanto Nelson Rodrigues quanto o NAC contribuíram substancialmente para o desenvolvimento do teatro brasileiro. Trouxeram para os palcos as características mais marcantes da cultura brasileira, com seus contornos e nuances mais densas. Dramas, comédias e suspenses ganharam espaço em salas de espetáculos de todo o País, tornando a arte cênica mais próxima e reconhecida pelo grande público.

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UMA SALVA DE PALMAS

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No entanto, foram necessários mais 400 anos para que a primeira escola de teatro fosse estabelecida no Brasil. Em 1911, na antiga capital do País, foi fundada a Escola Dramática Municipal do Rio de Janeiro, atual Martins Pena. Seu curso prático formou atores como Procópio Ferreira e deu origem ao Conservatório Nacional de Teatro, em 1953. Ainda hoje, é referência no ensino desta arte. São Paulo demorou um pouco mais para receber seu espaço para aulas de artes cênicas. O Teatro Escola São Paulo (Tesp) funcionou de 1948 a 1951, quando seus fundadores passaram a oferecer teleteatro para o público infanto-juvenil.

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Osmar Rodrigues Cruz sempre foi um curioso sobre as artes cênicas. Dedicava -se à coleção de livros da Europa que explicavam técnicas e novidades a esse respeito. Por esta paixão, participava do movimento para a criação do teatro universitário, coordenado pelo Centro Acadêmico Horácio Berlink, da Faculdade de Ciências Econômicas de São Paulo, onde estudava. Desde o final da década de 1940, dirigia o Teatro Universitário do Centro Acadêmico, com apresentações no Teatro Municipal, e atuava junto ao Grupo Teatral Politécnico, em cartaz no Teatro Cultura Artística. Em 1948, Osmar fundou o Teatro-Escola no Teatro Universitário, mantendo contato com importantes diretores, como Ziembinski, atores como Paulo Autran e outros das equipes do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) – companhia responsável pela “importação” de relevantes artistas italianos, que inspiraram os brasileiros na criação do moderno teatro brasileiro. Em pouco tempo, Osmar integrou a equipe de Teleteatro da Tupi e pouco depois dirigiu uma novela na TV Excelsior. Nessa mesma época, iniciou seu trabalho como educador, ministrando cursos de artes cênicas no Grêmio da Caixa Econômica. Em 1951, Osmar abandonou a TV e prestou concurso para ingressar no Serviço de Teatro do Sesi, passando em primeiro lugar para a vaga de ensaiador de grupos dramáticos – ou, simplesmente, diretor. Com esta oportunidade, ele pôde solidificar sua experiência como educador e também promover sua intenção de fazer teatro popular no Brasil – ideia já muito presente e desenvolvida na Europa, principalmente na França. Montagem da peça "O sertão é dentro da gente" (2000).

Foto: Kris Tavares

Um aficionado pelo teatro


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No ano seguinte, em 1952, em busca de ver seu sonho realizado e seguindo sua vocação, Osmar, junto com outros amigos, fundou a Federação Paulista de Amadores Teatrais (FPAT), promovendo cursos focados na formação de monitores para direção de grupos de teatro amador. O local também oferecia curso intensivo, com duração de um ano e meio, e outros de especialização em cenografia, direção e dramaturgia. Com o objetivo de formar atores e adotar um estilo brasileiro de representar, o FPAT passou a utilizar temas nacionais e da realidade brasileira. Em 1959, Osmar fundou o Teatro Experimental do Sesi (TE-Sesi), que, devido ao sucesso, permitiu a criação do Teatro Popular do Sesi (TPS), recebendo autorização da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) para alugar um espaço adequado às suas produções. O Teatro Maria Della Costa foi o escolhido e, em 1963, foi estreada a montagem de A Cidade Assassinada, de Antônio Callado.

60 O popular teatro do SESI

O teatro-sede só foi inaugurado em 1977, no edifício Luís Eulálio de Bueno Vidigal Filho, na Avenida Paulista. O TPS levou ao extremo a democratização da cultura e ousou inaugurar a sede com um espetáculo sobre o compositor carioca Noel Rosa, O Poeta da Vila e Seus Amores, dirigido por Plínio Marcos. Naquela época, Osmar Rodrigues Cruz e seu assessor, Francisco Medeiros, chamaram o arte-educador Acácio R. Vallim Jr. como consultor para iniciar a preparação dos administradores que assumiriam a tarefa de orientação teatral de grupos. Estava plantada a semente para o nascimento do Núcleo de Artes Cênicas e, em 1987, a pedido do então presidente da Fiesp, Mário Amato, o TPS estabeleceu Núcleos de Artes Cênicas nas sete unidades do Sesi-SP que tinham salas de espetáculos: Cidade A. E. Carvalho, Mauá, Osasco, Santo André, Santos, Sorocaba e Vila Leopoldina. Aos poucos, os antigos administradores dos teatros foram substituídos por orientadores de artes cênicas com formação em diversas áreas, com foco total na educação. O núcleo foi estruturado para atender grupos distintos, um formado por crianças, com a finalidade de desenvolver suas potencialida-


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des com técnicas teatrais, e outro por espectadores adultos, com o objetivo de incentivar o movimento do teatro amador. Regras básicas de convivência que se tornaram marca registrada do núcleo também foram estabelecidas nesse período: ouvir o outro, ter liberdade de se expressar, incentivar a proposição de atividades, buscando sempre delimitar o espaço da realidade e do jogo teatral. Atualmente os NACs ampliaram seu campo de ação, passando a atuar também com mediação cultural. Outra novidade foi a documentação e transformação da vivência diária em sala de aula em uma metodologia específica e normatizada, baseada nos 25 anos de experiência do núcleo. Inspirados por Shakespeare

Em 2006, o Sesi-SP e o British Council firmaram convênio para a criação de um núcleo voltado à descoberta e ao desenvolvimento de novos autores teatrais brasileiros – o Núcleo de Dramaturgia Sesi - British Council. A proposta tinha por base uma atuação conjunta de ambas as instituições, incluindo a participação de centros de dramaturgia britânicos, promovendo um intercâmbio de experiências e metodologias. Tendo início em outubro de 2007, o projeto contava com a coordenação de Munira Mutran. O núcleo estimula a invenção, a busca por novos paradigmas, a criação de dramaturgias que expressam diferentes visões de mundo, linguagens e experimentações estéticas, livres dos padrões do teatro tradicional e comercial. Atualmente coordenado pela dramaturga e jornalista Marici Salomão, o núcleo tem seu trabalho focado na descoberta e formação de novos autores teatrais no Brasil. Além de incentivar a reflexão e a discussão de aprendizes com profissionais experientes em torno do cenário contemporâneo, a iniciativa oferece exercícios de diferentes técnicas, estudo de teorias, atendimento individual e coletivo, leituras comentadas de peças, atividades práticas de escrita e sistema narrativo para compor novas poéticas cênicas e jogos de ilusão. “O Núcleo de Dramaturgia é um oásis no Brasil, porque visa, de maneira inédita, à formação de jovens dramaturgos”, comenta Marici.

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O núcleo promove anualmente ciclos que selecionam entre 12 e 14 autores inéditos para um mergulho intenso em teorias e técnicas dramatúrgicas. Provenientes do Brasil inteiro, os jovens são, em sua maioria, de áreas distintas como jornalismo, direito, artes cênicas e visuais, mas têm em comum a paixão pelas letras e teatro. Em sua quarta edição, os participantes fazem workshops, leituras, acompanhamento individual e em grupo para desenvolverem uma peça. Todas são lidas por atores que integram o Núcleo de Dramatrugia Sesi-British Council e, ao final do curso, um livro é produzido e publicado reunindo todas as obras. No entanto, apenas uma delas é selecionada para ser montada. Independentemente de ter ou não sua peça selecionada para montagem, os ciclos abrem novas portas e possibilidades aos participantes. O núcleo foi a primeira experiência de trabalho prático e reflexão crítica em dramaturgia de Marco Catalão, aluno do primeiro ciclo, que tinha experiência até então restrita à literatura. “Entrei em contato com vários textos que eu não conhecia, experimentei diversas técnicas de construção dramatúrgica que foram muito úteis na minha criação artística posterior, mas o mais importante mesmo foi a possibilidade de diálogo, tanto com a coordenadora quanto com os outros dramaturgos, que se mostraram muito interessados em discutir, opinar e se transformar a partir daquela experiência”, comenta. Marco Catalão teve sua peça, Videoteipe, desenvolvida no núcleo, selecionada como finalista nos festivais International Playwriting Competition, da BBC, em 2011, e no V Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia, no mesmo ano. “Atualmente, estamos em processo de captação para que seja montada pelo grupo Estação Teatro”, completa. Uma das grandes revelações da dramaturgia contemporânea, Zen Salles participou do segundo ciclo, onde pôde conhecer Drika Ner, Jaqueline Vargas e Ricardo Ilhan. Juntos, eles formam a equipe de roteiristas responsável pela adaptação de Sessão de Terapia, sucesso do canal GNT. “O Núcleo foi fundamental para minha formação como dramaturgo e roteirista. Sempre li muito sobre teatro e até cheguei a fazer alguns cursos de introdução ao tema. No entanto, foi a partir do ciclo que senti estar no caminho certo, principalmente pelo contato com grandes nomes da área e troca de experiências”, reflete Zen, que é jornalista por formação, mas optou por contar as lendas e folclores de sua região, o nordeste brasileiro. Montagem da peça "O silêncio depois da chuva" (2011).

Foto: Otávio Dantas

Diamantes lapidados


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A peça escrita por Zen Salles durante o núcleo, Pororoca, foi selecionada para ser montada com direção de Sérgio Ferreira, tendo o Teatro Popular como palco e plateia de 500 pessoas sempre lotada. “A crítica foi bastante generosa e um dos mais importantes jornais brasileiros classificou-a como um dos maiores espetáculos de 2010. Cheguei a ser indicado ao Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro na categoria Melhor Dramaturgo, concorrendo com o mestre Luís Alberto de Abreu”, comemora o dramaturgo, que já tem três peças com estreia marcada para 2013 e só pensa em escrever mais e mais. Participante do terceiro ciclo, João Turchi, também teve sua obra escolhida. “A peça que desenvolvi durante o núcleo, Máquina de escrever reticências, foi montada com direção da Beth Lopes, e ficou três meses em cartaz no teatro da Fiesp. Isso mudou completamente minhas perspectivas enquanto dramaturgo e escritor”, explica o jovem advogado especializado em direito cultural e apaixonado pelas letras.

Foto: Alessandra Haro

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Montagem da peça "Máquina de escrever retiências" (2012).


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Com absoluta certeza, o Sesi faz parte desta história! Por Milena Prado Neves

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Por tratarem a mesma área, mas com especificidades distintas, os núcleos de Dramaturgia e de Artes Cênicas trabalham em conjunto e têm, muitas vezes, trabalhos desenvolvidos em conjunto. “Nós temos, em muitos momentos, o desenvolvimento de práticas de teatro que substancialmente carecem de um texto. Ou às vezes você tem o texto e não tem a prática. A gente quer unir essas duas potencialidades dentro de um cronograma de aulas e de um planejamento pedagógico de desenvolvimento do curso, de modo que o aluno faça, pense e construa um texto que possa ser de uma dramaturgia que já existe ou de produção do grupo em que ele está inserido. Isto está começando agora, e acredito que é algo que vai funcionar muito bem”, adianta Álvaro. Marici também vê com bons olhos a união dos grupos em prol de um bom trabalho desempenhado. “Está ocorrendo uma integração maior, com o objetivo de manter as especificidades de cada um, mas mantendo um casamento de áreas diferentes para experimentos comuns. Quanto mais integrados os núcleos, mais o ator será ator e mais o dramaturgo será dramaturgo, embora formemos atores com uma visão da dramaturgia e dramaturgos com uma visão da interpretação e da ação”, afirma. Reunindo estas e outras histórias, a Sesi-SP Editora lança agora o livro comemorativo dos 25 anos do Núcleo de Artes Cênicas. Além deste, disponibiliza também as três obras dos últimos ciclos realizados pelo Núcleo de Dramaturgia Sesi – British Council. Importante bibliografia para apaixonados ou estudantes de artes cênicas e dramaturgia, os livros são uma excelente oportunidade para resgatar um pouco da história recente do teatro no Brasil e entender como as artes cênicas conquistaram a qualidade atual em seus trabalhos. “A dramaturgia brasileira hoje não deve nada às outras", afirma a especialista no tema, Marici.

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de machado de assis

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UM HOMEM CÉLEBRE

Para abrir este espaço da REVISTA PONTO destinado À literatura escolhemos Machado de Assis (1839 - 1908), um dos maiores contistas da literatura brasileira de todos os tempos, fundador e patrono da cadeira n.º 01 da Academia Brasileira de Letras. Em contraponto à coluna Ao pé da letra, do também acadêmico Arnaldo Niskier, optamos por publicar o conto tal qual Machado de Assis o escreveu – inclusive utilizando o vocabulário, gramática e a ortografia da época.

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67 — Ah! o senhor é que é o Pestana? perguntou Sinhazinha Mota, fazendo um largo gesto admirativo. E logo depois, corrigindo a familiaridade: — Desculpe meu modo, mas... é mesmo o senhor? Vexado, aborrecido, Pestana respondeu que sim, que era ele. Vinha do piano, enxugando a testa com o lenço, e ia a chegar à janela, quando a moça o fez parar. Não era baile; apenas um sarau íntimo, pouca gente, vinte pessoas ao todo, que tinham ido jantar com a viúva Camargo, Rua do Areal, naquele dia dos anos dela, cinco de novembro de 1875... Boa e patusca viúva! Amava o riso e a folga, apesar dos sessenta anos em que entrava, e foi a última vez que folgou e riu, pois faleceu nos primeiros dias de 1876. Boa e patusca viúva! Com que alma e diligência arranjou ali umas danças, logo depois do jantar, pedindo ao Pestana que tocasse uma quadrilha! Nem foi preciso acabar o pedido; Pestana curvou-se gentilmente, e correu ao piano. Finda a quadrilha, mal teriam descansado uns dez minutos, a viúva correu novamente ao Pestana para um obséquio mui particular. — Diga, minha senhora. — É que nos toque agora aquela sua polca Não Bula Comigo, Nhonhô. Pestana fez uma careta, mas dissimulou depressa, inclinou-se calado, sem gentileza, e foi para o piano, sem entusiasmo. Ouvidos os primeiros compassos, derramou-se pela sala uma alegria nova, os cavalheiros correram às


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damas, e os pares entraram a saracotear a polca da moda. Da moda; tinha sido publicada vinte dias antes, e já não havia recanto da cidade em que não fosse conhecida. Ia chegando à consagração do assobio e da cantarola noturna. Sinhazinha Mota estava longe de supor que aquele Pestana que ela vira à mesa de jantar e depois ao piano, metido numa sobrecasaca cor de rapé, cabelo negro, longo e cacheado, olhos cuidosos, queixo rapado, era o mesmo Pestana compositor; foi uma amiga que lho disse quando o viu vir do piano, acabada a polca. Daí a pergunta admirativa. Vimos que ele respondeu aborrecido e vexado. Nem assim as duas moças lhe pouparam finezas, tais e tantas, que a mais modesta vaidade se contentaria de as ouvir; ele recebeu-as cada vez mais enfadado, até que, alegando dor de cabeça, pediu licença para sair. Nem elas, nem a dona da casa, ninguém logrou retê-lo. Ofereceram-lhe remédios caseiros, algum repouso, não aceitou nada, teimou em sair e saiu. Rua fora, caminhou depressa, com medo de que ainda o chamassem; só afrouxou, depois que dobrou a esquina da Rua Formosa. Mas aí mesmo esperava-o a sua grande polca festiva. De uma casa modesta, à direita, a poucos metros de distância, saíam as notas da composição do dia, sopradas em clarineta. Dançava-se. Pestana parou alguns instantes, pensou em arrepiar caminho, mas dispôs-se a andar, estugou o passo, atravessou a rua, e seguiu pelo lado oposto ao da casa do baile. As notas foram-se perdendo, ao longe, e o nosso homem entrou na Rua do Aterrado, onde morava. Já perto de casa, viu vir dois homens: um deles, passando rentezinho com o Pestana, começou a assobiar a mesma polca, rijamente, com brio, e o outro pegou a tempo na música, e aí foram os dois abaixo, ruidosos e alegres, enquanto o autor da peça, desesperado, corria a meter-se em casa. Em casa, respirou. Casa velha, escada velha, um preto velho que o servia, e que veio saber se ele queria cear. — Não quero nada, bradou o Pestana: faça-me café e vá dormir. Despiu-se, enfiou uma camisola, e foi para a sala dos fundos. Quando o preto acendeu o gás da sala, Pestana sorriu e, dentro d'alma, cumprimentou uns dez retratos que pendiam da parede. Um só era a óleo, o de um padre, que o educara, que lhe ensinara latim e música, e que, segundo os ociosos, era o próprio pai do Pestana. Certo é que lhe deixou em herança aquela casa velha, e os velhos trastes, ainda do tempo de Pedro I. Compusera alguns motetes o padre, era doido por música, sacra ou profana, cujo gosto incutiu no moço, ou


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também lhe transmitiu no sangue, se é que tinham razão as bocas vadias, coisa de que se não ocupa a minha história, como ides ver. Os demais retratos eram de compositores clássicos, Cimarosa, Mozart, Beethoven, Gluck, Bach, Schumann, e ainda uns três, alguns gravados, outros litografados, todos mal encaixilhados e de diferente tamanho, mas postos ali como santos de uma igreja. O piano era o altar; o evangelho da noite lá estava aberto: era uma sonata de Beethoven. Veio o café; Pestana engoliu a primeira xícara, e sentou-se ao piano. Olhou para o retrato de Beethoven, e começou a executar a sonata, sem saber de si, desvairado ou absorto, mas com grande perfeição. Repetiu a peça, depois parou alguns instantes, levantou-se e foi a uma das janelas. Tornou ao piano; era a vez de Mozart, pegou de um trecho, e executou-o do mesmo modo, com a alma alhures. Haydn levou-o à meia-noite e à segunda xícara de café. Entre meia-noite e uma hora, Pestana pouco mais fez que estar à janela e olhar para as estrelas, entrar e olhar para os retratos. De quando em quando ia ao piano, e, de pé, dava uns golpes soltos no teclado, como se procurasse algum pensamento; mas o pensamento não aparecia e ele voltava a encostar-se à janela. As estrelas pareciam-lhe outras tantas notas musicais fixadas no céu à espera de alguém que as fosse descolar; tempo viria em que o céu tinha de ficar vazio, mas então a terra seria uma constelação de partituras. Nenhuma imagem, desvario ou reflexão trazia uma lembrança qualquer de Sinhazinha Mota, que entretanto, a essa mesma hora, adormecia, pensando nele, famoso autor de tantas polcas amadas. Talvez a idéia conjugal tirou à moça alguns momentos de sono. Que tinha? Ela ia em vinte anos, ele em trinta, boa conta. A moça dormia ao som da polca, ouvida de cor, enquanto o autor desta não cuidava nem da polca nem da moça, mas das velhas obras clássicas, interrogando o céu e a noite, rogando aos anjos, em último caso ao diabo. Por que não faria ele uma só que fosse daquelas páginas imortais? Às vezes, como que ia surgir das profundezas do inconsciente uma aurora de idéia: ele corria ao piano, para aventá-la inteira, traduzi-la, em sons, mas era em vão: a idéia esvaía-se. Outras vezes, sentado, ao piano, deixava os dedos correrem, à ventura, a ver se as fantasias brotavam deles, como dos de Mozart: mas nada, nada, a inspiração não vinha, a imaginação deixava-se estar dormindo. Se acaso uma idéia aparecia, definida e bela, era eco apenas de alguma peça alheia, que a memória repetia, e que ele supunha inventar. Então, irri-

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tado, erguia-se, jurava abandonar a arte, ir plantar café ou puxar carroça: mas daí a dez minutos, ei-lo outra vez, com os olhos em Mozart, a imitá-lo ao piano. Duas, três, quatro horas. Depois das quatro foi dormir; estava cansado, desanimado, morto; tinha que dar lições no dia seguinte. Pouco dormiu; acordou às sete horas. Vestiu-se e almoçou. — Meu senhor quer a bengala ou o chapéu-de-sol? perguntou o preto, segundo as ordens que tinha, porque as distrações do senhor eram freqüentes. — A bengala. — Mas parece que hoje chove. — Chove, repetiu Pestana maquinalmente. — Parece que sim, senhor, o céu está meio escuro. Pestana olhava para o preto, vago, preocupado. De repente: — Espera aí. Correu à sala dos retratos, abriu o piano, sentou-se e espalmou as mãos no teclado. Começou a tocar alguma coisa própria, uma inspiração real e pronta, uma polca, uma polca buliçosa, como dizem os anúncios. Nenhuma repulsa da parte do compositor; os dedos iam arrancando as notas, ligando-as, meneando-as; dir-se-ia que a musa compunha e bailava a um tempo. Pestana esquecera as discípulas, esquecera o preto, que o esperava com a bengala e o guarda-chuva, esquecera até os retratos que pendiam gravemente da parede. Compunha só, teclando ou escrevendo, sem os vãos esforços da véspera, sem exasperação, sem nada pedir ao céu, sem interrogar os olhos de Mozart. Nenhum tédio. Vida, graça, novidade, escorriam-lhe da alma como de uma fonte perene. Em pouco tempo estava a polca feita. Corrigiu ainda alguns pontos, quando voltou para jantar: mas já a cantarolava, andando, na rua. Gostou dela; na composição recente e inédita circulava o sangue da paternidade e da vocação. Dois dias depois, foi levá-la ao editor das outras polcas suas, que andariam já por umas trinta. O editor achou-a linda. — Vai fazer grande efeito. Veio a questão do título. Pestana, quando compôs a primeira polca, em 1871, quis dar-lhe um título poético, escolheu este: Pingos de Sol. O editor abanou a cabeça, e disse-lhe que os títulos deviam ser, já de si, destinados à popularidade, ou por alusão a algum sucesso do dia, — ou pela graça das palavras; indicou-lhe dois: A Lei de 28 de Setembro, ou Candongas Não Fazem Festa. — Mas que quer dizer Candongas Não Fazem Festa? perguntou o autor. — Não quer dizer nada, mas populariza-se logo.


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Pestana, ainda donzel inédito, recusou qualquer das denominações e guardou a polca, mas não tardou que compusesse outra, e a comichão da publicidade levou-o a imprimir as duas, com os títulos que ao editor parecessem mais atraentes ou apropriados. Assim se regulou pelo tempo adiante. Agora, quando Pestana entregou a nova polca, e passaram ao título, o editor acudiu que trazia um, desde muitos dias, para a primeira obra que ele lhe apresentasse, título de espavento, longo e meneado. Era este: Senhora Dona, Guarde o Seu Balaio. — E para a vez seguinte, acrescentou, já trago outro de cor. Pestana, ainda donzel inédito, recusou qualquer das denominações compositor bastava à procura; mas a obra em si mesma era adequada ao gênero, original, convidava a dançá-la e decorava-se depressa. Em oito dias, estava célebre. Pestana, durante os primeiros, andou deveras namorado da composição, gostava de a cantarolar baixinho, detinha-se na rua, para ouvi-la tocar em alguma casa, e zangava-se quando não a tocavam bem. Desde logo, as orquestras de teatro a executaram, e ele lá foi a um deles. Não desgostou também de a ouvir assobiada, uma noite, por um vulto que descia a Rua do Aterrado. Essa lua-de-mel durou apenas um quarto de lua. Como das outras vezes, e mais depressa ainda, os velhos mestres retratados o fizeram sangrar de remorsos. Vexado e enfastiado, Pestana arremeteu contra aquela que o viera consolar tantas vezes, musa de olhos marotos e gestos arredondados, fácil e graciosa. E aí voltaram as náuseas de si mesmo, o ódio a quem lhe pedia a nova polca da moda, e juntamente o esforço de compor alguma coisa ao sabor clássico, uma página que fosse, uma só, mas tal que pudesse ser encadernada entre Bach e Schumann. Vão estudo, inútil esforço. Mergulhava naquele Jordão sem sair batizado. Noites e noites, gastou-as assim, confiado e teimoso, certo de que a vontade era tudo, e que, uma vez que abrisse mão da música fácil... — As polcas que vão para o inferno fazer dançar o diabo, disse ele um dia, de madrugada, ao deitar-se. Mas as polcas não quiseram ir tão fundo. Vinham à casa de Pestana, à própria sala dos retratos, irrompiam tão prontas, que ele não tinha mais que o tempo de as compor, imprimi-las depois, gostá-las alguns dias, aborrecê-las, e tornar às velhas fontes, donde lhe não manava nada. Nessa alternativa viveu até casar, e depois de casar. — Casar com quem? perguntou Sinhazinha Mota ao tio escrivão que lhe deu aquela notícia.

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— Vai casar com uma viúva. — Velha? — Vinte e sete anos. — Bonita? — Não, nem feia, assim, assim. Ouvi dizer que ele se enamorou dela, porque a ouviu cantar na última festa de S. Francisco de Paula. Mas ouvi também que ela possui outra prenda, que não é rara, mas vale menos: está tísica. Os escrivães não deviam ter espírito, — mau espírito, quero dizer. A sobrinha deste sentiu no fim um pingo de bálsamo, que lhe curou a dentadinha da inveja. Era tudo verdade. Pestana casou daí a dias com uma viúva de vinte e sete anos, boa cantora e tísica. Recebeu-a como a esposa espiritual do seu gênio. O celibato era, sem dúvida, a causa da esterilidade e do transvio, dizia ele consigo; artisticamente considerava-se um arruador de horas mortas; tinha as polcas por aventuras de petimetres. Agora, sim, é que ia engendrar uma família de obras sérias, profundas, inspiradas e trabalhadas. Essa esperança abotoou desde as primeiras horas do amor, e desabrochou à primeira aurora do casamento. Maria, balbuciou a alma dele, dá-me o que não achei na solidão das noites, nem no tumulto dos dias. Desde logo, para comemorar o consórcio, teve idéia de compor um noturno. Chamar-lhe-ia Ave, Maria. A felicidade como que lhe trouxe um princípio de inspiração; não querendo dizer nada à mulher, antes de pronto, trabalhava às escondidas; coisa difícil, porque Maria, que amava igualmente a arte, vinha tocar com ele, ou ouvi-lo somente, horas e horas, na sala dos retratos. Chegaram a fazer alguns concertos semanais, com três artistas, amigos do Pestana. Um domingo, porém, não se pôde ter o marido, e chamou a mulher para tocar um trecho do noturno; não lhe disse o que era nem de quem era. De repente, parando, interrogou-a com os olhos. — Acaba, disse Maria; não é Chopin? Pestana empalideceu, fitou os olhos no ar, repetiu um ou dois trechos e ergueu-se. Maria assentou-se ao piano, e, depois de algum esforço de memória, executou a peça de Chopin. A idéia, o motivo eram os mesmos; Pestana achara-os em algum daqueles becos escuros da memória, velha cidade de traições. Triste, desesperado, saiu de casa, e dirigiu-se para o lado da ponte, caminho de S. Cristóvão.


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— Para que lutar? dizia ele. Vou com as polcas... Viva a polca! Homens que passavam por ele, e ouviam isto, ficavam olhando, como para um doido. E ele ia andando, alucinado, mortificado, eterna peteca entre a ambição e a vocação... Passou o velho matadouro; ao chegar à porteira da estrada de ferro, teve idéia de ir pelo trilho acima e esperar o primeiro trem que viesse e o esmagasse. O guarda fê-lo recuar. Voltou a si e tornou a casa. Poucos dias depois, — uma clara e fresca manhã de maio de 1876, — eram seis horas, Pestana sentiu nos dedos um frêmito particular e conhecido. Ergueu-se devagarinho, para não acordar Maria, que tossira toda noite, e agora dormia profundamente. Foi para a sala dos retratos, abriu o piano, e, o mais surdamente que pôde, extraiu uma polca. Fê-la publicar com um pseudônimo; nos dois meses seguintes compôs e publicou mais duas. Maria não soube nada; ia tossindo e morrendo, até que expirou, uma noite, nos braços do marido, apavorado e desesperado. Era noite de Natal. A dor do Pestana teve um acréscimo, porque na vizinhança havia um baile, em que se tocaram várias de suas melhores polcas. Já o baile era duro de sofrer; as suas composições davam-lhe um ar de ironia e perversidade. Ele sentia a cadência dos passos, adivinhava os movimentos, porventura lúbricos, a que obrigava alguma daquelas composições; tudo isso ao pé do cadáver pálido, um molho de ossos, estendido na cama... Todas as horas da noite passaram assim, vagarosas ou rápidas, úmidas de lágrimas e de suor, de águas-da-colônia e de Labarraque, saltando sem parar, como ao som da polca de um grande Pestana invisível. Enterrada a mulher, o viúvo teve uma única preocupação: deixar a música, depois de compor um Requiem, que faria executar no primeiro aniversário da morte de Maria. Escolheria outro emprego, escrevente, carteiro, mascate, qualquer coisa que lhe fizesse esquecer a arte assassina e surda. Começou a obra; empregou tudo, arrojo, paciência, meditação, e até os caprichos do acaso, como fizera outrora, imitando Mozart. Releu e estudou o Requiem deste autor. Passaram-se semanas e meses. A obra, célere a princípio, afrouxou o andar. Pestana tinha altos e baixos. Ora achava-a incompleta, não lhe sentia a alma sacra, nem idéia, nem inspiração, nem método; ora elevava-se-lhe o coração e trabalhava com vigor. Oito meses, nove, dez, onze, e o Requiem não estava concluído. Redobrou de esforços; esqueceu lições e amizades.

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Tinha refeito muitas vezes a obra; mas agora queria concluí-la, fosse como fosse. Quinze dias, oito, cinco... A aurora do aniversário veio achá-lo trabalhando. Contentou-se da missa rezada e simples, para ele só. Não se pode dizer se todas as lágrimas que lhe vieram sorrateiramente aos olhos, foram do marido, ou se algumas eram do compositor. Certo é que nunca mais tornou ao Requiem. "Para quê?" dizia ele a si mesmo. Correu ainda um ano. No princípio de 1878, apareceu-lhe o editor. — Lá vão dois anos, disse este, que nos não dá um ar da sua graça. Toda a gente pergunta se o senhor perdeu o talento. Que tem feito? — Nada. — Bem sei o golpe que o feriu; mas lá vão dois anos. Venho propor-lhe um contrato: vinte polcas durante doze meses; o preço antigo, e uma porcentagem maior na venda. Depois, acabado o ano, podemos renovar. Pestana assentiu com um gesto. Poucas lições tinha, vendera a casa para saldar dívidas, e as necessidades iam comendo o resto, que era assaz escasso. Aceitou o contrato. — Mas a primeira polca há de ser já, explicou o editor. É urgente. Viu a carta do Imperador ao Caxias? Os liberais foram chamados ao poder; vão fazer a reforma eleitoral. A polca há de chamar-se: Bravos à Eleição Direta! Não é política; é um bom título de ocasião. Pestana compôs a primeira obra do contrato. Apesar do longo tempo de silêncio, não perdera a originalidade nem a inspiração. Trazia a mesma nota genial. As outras polcas vieram vindo, regularmente. Conservara os retratos e os repertórios; mas fugia de gastar todas as noites ao piano, para não cair em novas tentativas. Já agora pedia uma entrada de graça, sempre que havia alguma boa ópera ou concerto de artista, ia, metia-se a um canto, gozando aquela porção de coisas que nunca lhe haviam de brotar do cérebro. Uma ou outra vez, ao tornar para casa, cheio de música, despertava nele o maestro inédito; então, sentava-se ao piano, e, sem idéia, tirava algumas notas, até que ia dormir, vinte ou trinta minutos depois. Assim foram passando os anos, até 1885. A fama do Pestana dera-lhe definitivamente o primeiro lugar entre os compositores de polcas; mas o primeiro lugar da aldeia não contentava a este César, que continuava a preferir-


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-lhe, não o segundo, mas o centésimo em Roma. Tinha ainda as alternativas de outro tempo, acerca de suas composições; a diferença é que eram menos violentas. Nem entusiasmo nas primeiras horas, nem horror depois da primeira semana; algum prazer e certo fastio. Naquele ano, apanhou uma febre de nada, que em poucos dias cresceu, até virar perniciosa. Já estava em perigo, quando lhe apareceu o editor, que não sabia da doença, e ia dar-lhe notícia da subida dos conservadores, e pedir-lhe uma polca de ocasião. O enfermeiro, pobre clarineta de teatro, referiu-lhe o estado do Pestana, de modo que o editor entendeu calar-se. O doente é que instou para que lhe dissesse o que era; o editor obedeceu. — Mas há de ser quando estiver bom de todo, concluiu. — Logo que a febre decline um pouco, disse o Pestana. Seguiu-se uma pausa de alguns segundos. O clarineta foi pé ante pé preparar o remédio; o editor levantou-se e despediu-se. — Adeus. — Olhe, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes dias, faço-lhe logo duas polcas; a outra servirá para quando subirem os liberais. Foi a única pilhéria que disse em toda a vida, e era tempo, porque expirou na madrugada seguinte, às quatro horas e cinco minutos, bem com os homens e mal consigo mesmo.

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AO PÉ DA LETRA por Arnaldo Niskier da Academia Brasileira de Letras

Apesar do decreto que promulgou o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa ter sido assinado em setembro de 2008, muitos insistem em ignorar as mudanças determinadas. Através do texto do próprio decreto, foi dado um período de transição de 1o de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012. Esse será o prazo fatal para que todos nós tenhamos assimilado as novas regras, isto é, 2013 chegará com os brasileiros precisando escrever corretamente. É agora!

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Você precisa saber Para ter certeza quanto à forma correta de escrever, em coerência com o Acordo Ortográfico, é necessário recorrer aos registros de dicionários atualizados e de vocabulários, em especial, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras (VOLP), a partir da 5a edição. Ledo engano “À entrada de uma empresa está escrito: seja bem vindo!” Isso não pode ser verdade. Ninguém é “bem vindo” e sim bem-vindo, porque o advérbio bem deve ser separado do segundo elemento por hífen na maioria das palavras. Período correto: À entrada de uma empresa está escrito: seja bem-vindo! Bom sentimento “ O bem-querer a todos é próprio daqueles que cultivam sentimentos puros.” Não é assim, não! Este termo é uma exceção à regra anterior explicada. Escreve-se: benquerer.

Outras exceções: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença e outras que lhes sejam afins. Período correto: O benquerer a todos é próprio daqueles que cultivam sentimentos puros. Pressão alta “O senhor tomou o remédio antihipertensivo, mas não melhorou.” Um remédio “antihipertensivo” jamais fará efeito. Quando o segundo elemento de uma palavra iniciada com prefixo for a letra h, sempre se usa o hífen: anti-hipertensivo. Período correto: O senhor tomou o remédio anti-hipertensivo, mas não melhorou.


L ETRA

AO PÉ DA

André Ceolin

Paixão por cinema “O senhor sente saudade dos filmes de bangue bangue.” Mentira! Se a saudade fosse verdadeira escreveria: bangue-bangue, com hífen, pois palavras repetidas devem ser separadas por hífen, como sempre o foram. Frase correta: O senhor sente saudade dos filmes de bangue-bangue.

Tudo certo Hei de vencer é uma máxima que deveria ser seguida. Duplamente correta: a ideia e a ortografia. Não se deve usar hífen nas locuções, sejam elas adjetivas, substantivas, verbais (hei de vencer), pronominais, adverbiais, prepositivas, interjeitivas ou conjuntivas.

Exceções, por uma questão de tradição: cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia, ao deus-dará, entre outras, têm hífen. Final de campeonato “Qualquer time que chegue à semi-final já terá garantido o segundo lugar.” É verdade, mas escrevendo “semi-final”, certamente não será campeão. Sempre que um prefixo termina em vogal (i) e a segunda palavra começa com uma consoante (f), não se usa o hífen: semifinal. Período correto: Qualquer time que chegue à semifinal já terá garantido o segundo lugar. Causa perdida “O advogado usou um contra argumento, mas o juiz não o acatou.” Nem poderia, porque quando o prefixo terminar com a mesma vogal que inicia o segundo elemento, o hífen se torna obrigatório: contra-argumento. Período correto: O advogado usou um contra-argumento, mas o juiz não o acatou. Observação importante Quando os prefixos AB, AD, OB, SOB e SUB são seguidos de palavras iniciadas por r deve-se usar o hífen. Exemplos: ab-rogação / ad-rogado / ob-rogar / sob-roda/ sub-rogativo.

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Sogra, não! “O rapaz avisou à noiva que não quer co-ocupar a mesma casa com a mãe dela.” Briga na certa! O prefixo co é usado sempre junto, sem hífen. A exceção é com o h, quando este vem na segunda palavra, como co-herdeiro. Logo, escreve-se: coocupar. Período correto: O rapaz avisou à noiva que não quer coocupar a mesma casa com a mãe dela. Vale a pena lembrar O atual Acordo Ortográfico determina que os nomes dos dias da semana e dos meses do ano devem ser grafados com letra minúscula, a não ser que iniciem uma frase. Já as datas cívicas devem ser registradas com letra maiúscula. Exemplos: O dia 1o de janeiro de 2013 cairá numa terça-feira. O Sete de Setembro representa muito para os brasileiros.

André Ceolin

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Fracasso político “O prefeito de uma cidade do interior não conseguiu se re-eleger.” Garanto que o verbo “re-eleger” escrito dessa maneira contribuiu para a derrota. As palavras com o prefixo re devem ser grafadas sem hífen: reeleger. Período correto: O prefeito de uma cidade do interior não conseguiu se reeleger. Sensibilidade “Os adolescentes, normalmente, são ultra- sensíveis.” Quaisquer pessoas ultra-sensíveis sofrem muito. Quando o prefixo terminar em vogal e a segunda palavra começar com s, este s será duplicado, não admitindo o uso do hífen: ultrassensíveis. Frase correta: Os adolescentes, normalmente, são ultrassensíveis. Problema sanado "A moça teve falência da suprarrenal, mas depois do tratamento ficou boa." Que bom! Certamente a escrita correta da palavra "suprarrenal" ajudou à cura da jovem. Porque quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento inicia com a letra r, dobra-se esse r. Racismo “As diferenças interraciais ainda não foram resolvidas.” E ainda demorarão muito para serem. É preciso atenção: se o prefixo for inter e a se-


L ETRA

AO PÉ DA

gunda palavra começar por r, usa-se o hífen: inter-raciais. Período correto: As diferenças inter-raciais ainda não foram resolvidas.

André Ceolin

Excesso de velocidade “Correr muito em uma auto-estrada pode causar sérios acidentes.” Escrevendo “auto-estrada”, o acidente será ainda maior. Se o prefixo terminar em vogal (o) e o segundo elemento começar com uma vogal diferente (e), não se admite o hífen: autoestrada. Período correto: Correr muito em uma autoestrada pode causar sérios acidentes.

Casa florida “A irmã de Maria gosta de enfeitar a casa com copos de leite.” Essas flores – “copos de leite” – não existem. Os nomes de espécies botânicas e também

da fauna têm hífen: copos-de-leite. Período correto: A irmã de Maria gosta de enfeitar a casa com copos-de-leite. Orgulho justificado “O rapaz se diz muito honrado por ser afro-descendente.” Concordo com ele, mas deveria fazer questão de grafar corretamente a palavra: afrodescendente. Período correto: O rapaz se diz muito honrado por ser afrodescendente. Sonho profissional “A filha de Laura é costureira, mas quer se dedicar à alta costura.” Será difícil! Palavras compostas que são formadas por elementos que mantêm independência quando separados e que ganham novo sentido quando se juntam precisam de hífen: alta-costura. Período correto: A filha de Laura é costureira, mas quer se dedicar à alta-costura. Dúvida cruel “O advogado achava que a sua mulher estava paranóica.” Escrevendo “paranóica” contribuiu para que a esposa enlouquecesse. As palavras paroxítonas perderam o acento nos ditongos abertos oi ( antes ói): e ei (antes éi). Período correto: O advogado achava que a sua mulher estava paranoica.

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e lá vamos nós de novo O SESI-SP JÁ ESTÁ A PLENO VAPOR NA PREPARAÇÃO DA PROGRAMAÇÃO CULTURAL DE 2013.

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Na Divisão de Desenvolvimento Cultural do Sesi-SP, o ritmo de trabalho tem sido intenso. Mais de 150 pessoas estão completamente envolvidas com a organização do cronograma das atividades culturais de todo o Estado de São Paulo no ano que vem, que começam a tomar as galerias e os teatros do Sesi a partir de março. Afinal, 2012 foi um ano espetacular, e agora toda a equipe está empenhada para não deixar a bola cair. E se considerarmos o sucesso que foi o ciclo de comemoração do centenário de Nelson Rodrigues, as exposições Joias do Deserto e Observadores, o Panorama Sesi de Dança e tantas peças que estiveram em cartaz no Teatro do Sesi, fica fácil entender que essa é uma missão complicada. Há mais de seis meses o Sesi-SP já vem se preparando para selecionar os projetos que serão montados em 2013, tanto no Centro Cultural FIESP – Ruth Cardoso quanto nas unidades espalhadas pelo interior do Estado. Publicou-se um edital em agosto para que projetos culturais fossem submetidos a análise, e mais de 300 foram recebidos. Desses, cerca de 120 projetos de música, 50 de artes cênicas e 100 de literatura foram selecionados para compor a programação do ano que vem. Essa seleção é feita por uma comissão que envolve técnicos da sede do Sesi-SP e de representantes escolhidos entre os 54 Centros de Atividade – CATs que atualmente compõem a rede paulista. Os projetos são avaliados segundo critérios como relevância, histórico da obra, currículo dos autores e do elenco, qualidade técnica, adequação às dimensões da estrutura física disponível e também conformidade com a missão e os valores do Sesi-SP. Uma vez selecionados, os projetos são levados para análise e aprovação pela Superintendência, e só então passam para a fase de contratação. Depois dos trâmites jurídicos, um cronograma que contempla todo o Estado começa a ser preparado, sempre com o cuidado de fazer arte e cultura de qualidade chegarem a todos os cantos de São Paulo, em temporadas que podem durar o ano todo.


cARDáPIO

ceNTrO culTural fiesP*

suPer férias – verãO De 2013

AvEnIDA PAUlIsTA, 1313 sÃO PAUlO sP TEATRO amaDO 30/01 a 07/02 sáBADO E DOmIngO 16h

Nove artistas usam o teatro, a música e a dança para reinventar personagens e conflitos da obra de Jorge Amado. TEATRO a viagem DO caPiTãO TOrNaDO 23/02 ÚnIcA APREsEnTAÇÃO 16h

Um miserável grupo de teatro percorre a Europa do século XVIII em busca de novos palcos para suas apresentações. Amores, dores, disputas e aventuras acompanham as viagens da Companhia antes de uma ansiosamente aguardada apresentação em Paris. EXPOsIÇÃO a arTe Da TaPeçaria - TraDiçãO e mODerNiDaDe aTé 10/03 TODOs Os DIAs 10h às 20h EXPOsIÇÃO fuNDiçãO arTísTica aTé 10/03 TODOs Os DIAs 10h às 20h

*Atenção: as datas e horários são passíveis de alterações. Confira no site www.sesisp.org.br/cultura/.

DiNOssaurOs DO brasil NO sesi-sP sEsI vOTORAnTIm

RUA cláUDIO PInTO nAscImEnTO, 140 - JD. mORUmBI cEP 18110-380 - vOTORAnTIm - sP Tel: (15) 3353-9200 www.sesisp.org.br/votorantim Em BREvE O sEsI-sP TERá O sEU PRÓPRIO PARQUE DOs DInOssAUROs: O cEnTRO DE ATIvIDADEs JOsé ERmÍRIO DE mORAEs FIlHO, Em vOTORAnTIm (sP), sERá O lUgAR PARA sE APREnDER sOBRE A vIDA E Os HáBITOs DOs DInOssAUROs E PTEROssAUROs QUE HABITAvAm nOssO PAÍs mIlHAREs DE AnOs ATRás. PARTIcIPE DE vIsITAs gUIADAs Em Um cAmInHO cHEIO DE DEscOBERTAs E TOTAlmEnTE AmBIEnTADO.

eNquaNTO PreParamOs a PrOgramaçãO culTural Para 2013, as uNiDaDes DO sesi-sP Oferecem uma série De aTiviDaDes Para fazer as férias De verãO aiNDa mais DiverTiDas.

Desde o verão de 2001 o SeSi-SP organiza o Programa Super Férias, que oferece no período das férias escolares uma série de atividades nos Centros de Lazer e Esportes em todo o Estado. Todos os anos o Programa tem um tema diferente, e em 2013 o tema será “Mundo mágico – mágico e mágica” – afinal, o Dia do Mágico é comemorado no dia 31 de janeiro. O Super Férias trará o mundo da mágica para a realidade, incluindo, é claro, a magia do esporte. O Projeto Super Férias abrange 54 Centros de Atividades do SeSi por todo o estado de São Paulo, cada um responsável por organizar a sua própria programação. Para participar há uma taxa a partir de R$ 10,00 por dia, e é necessário entrar em contato com a unidade mais próxima para confirmar a programação e os preços. Procure o Centro de Atividades mais próximo da sua casa e não deixe essas férias passarem em branco!

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UNIDADES DO SESI-SP AMERICANA CAT DR. ESTEVAM FARAONE AVENIDA BANDEIRANTES,1000 - CHÁCARA MACHADINHO CEP 13478-700 - AMERICANA - SP Tel: (19) 3471-9000 www.sesisp.org.br/americana ARAÇATUBA CAT FRANCISCO DA SILVA VILLELA RUA DR. ALVARO AFONSO DO NASCIMENTO, 300 - J. PRESIDENTE CEP 16072-530 - ARAÇATUBA - SP Tel: (18) 3519-4200 www.sesisp.org.br/aracatuba ARARAQUARA CAT WILTON LUPO AVENIDA OCTAVIANO DE ARRUDA CAMPOS, 686 - JD. FLORIDIANA CEP 14810-901 - ARARAQUARA - SP Tel: (16) 3337-3100 www.sesisp.org.br/araraquara ARARAS CAT LAERTE MICHIELIN AVENIDA MELVIN JONES, 2.600 - B. HEITOR VILLA LOBOS CEP 13607-055 - ARARAS - SP Tel: (19) 3542-0393 www.sesisp.org.br/araras BAURU CAT RAPHAEL NOSCHESE RUA RUBENS ARRUDA, 8-50 - ALTOS DA CIDADE CEP 17014-300 - BAURU - SP Tel: (14) 3234-7171 www.sesisp.org.br/bauru

CAMPINAS I CAT PROFESSORA MARIA BRAZ AVENIDA DAS AMOREIRAS, 450 CEP 13036-225 - CAMPINAS I - SP Tel: (19) 3772-4100 www.sesisp.org.br/amoreiras CAMPINAS II CAT JOAQUIM GABRIEL PENTEADO AVENIDA ARY RODRIGUEZ, 200 - B. BACURI CEP 13052-550 - CAMPINAS II - SP Tel: (19) 3225-7584 www.sesisp.org.br/campinas2 COTIA OLAVO EGYDIO SETÚBAL RUA MESOPOTÂMIA, 300 - MOINHO VELHO CEP 06712-100 - COTIA - SP Tel: (11) 4612-3323 www.sesisp.org.br/cotia CRUZEIRO CAT OCTÁVIO MENDES FILHO RUA DURVALINO DE CASTRO, 501 - VILA ANA ROSA NOVAES CEP 12705-210 - CRUZEIRO - SP Tel: (12) 3141-1559 www.sesisp.org.br/cruzeiro CUBATÃO CAT DÉCIO DE PAULA LEITE NOVAES AVENIDA COM. FRANCISCO BERNARDO, 261 - JD. CASQUEIRO CEP 11533-090 - CUBATÃO - SP Tel: (13) 3363-2662 www.sesisp.org.br/cubatao

BIRIGUI CAT MIN. DILSON FUNARO AVENIDA JOSÉ AGOSTINHO ROSSI, 620 - JARDIM PINHEIROS CEP 16203-059 - BIRIGUI - SP Tel: (18) 3642-9786 www.sesisp.org.br/birigui

DIADEMA CAT JOSÉ ROBERTO MAGALHÃES TEIXEIRA AVENIDA PARANAPANEMA, 1500 TABOÃO CEP 09930-450 - DIADEMA - SP Tel: (11) 4092-7900 www.sesisp.org.br/diadema

BOTUCATU CAT SALVADOR FIRACE RODOVIA MARECHAL RONDON, KM 247,4 - PQ. RES. CONVÍVIO CEP 18605-900 - BOTUCATU - SP Tel: (14) 3811-4450 www.sesisp.org.br/botucatu

FRANCA CAT OSVALDO PASTORE AVENIDA SANTA CRUZ, 2870 - JD. CENTENÁRIO CEP 14403-600 - FRANCA - SP Tel: (16) 3712-1600 www.sesisp.org.br/franca

GUARULHOS CAT MORVAN DIAS DE FIGUEIREDO RUA BENEDITO CAETANO DA CRUZ, 566 - JARDIM ADRIANA CEP 07135-151 - GUARULHOS - SP Tel: (11) 2404-3133 www.sesisp.org.br/guarulhos INDAIATUBA CAT ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES AVENIDA FRANCISCO DE PAULA LEITE, 2701 - JD. CALIFORNIA CEP 13346-000 - INDAIATUBA - SP Tel: (19) 3875-9000 www.sesisp.org.br/indaiatuba ITAPETININGA CAT - BENEDITO MARQUES DA SILVA AVENIDA PADRE ANTONIO BRUNETTI, 1.360 - VL. RIO BRANCO CEP 18208-080 - ITAPETININGA - SP Tel: (15) 3275-7920 www.sesisp.org.br/itapetininga ITÚ CAT CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA RUA JOSÉ BRUNI, 201 - BAIRRO SÃO LUIZ CEP 13304-080 - ITÚ - SP Tel: (11) 4025-7300 www.sesisp.org.br/itu JACAREÍ CAT KARAM SIMÃO RACY RUA ANTONIO FERREIRA RIZZINI, 600 JD. ELZA MARIA CEP 12322-120 - JACAREÍ - SP Tel: (12) 3954-1008 www.sesisp.org.br/jacarei JAÚ CAT RUY MARTINS ALTENFELDER SILVA AVENIDA JOÃO LOURENÇO PIRES DE CAMPOS, 600 - JD. PEDRO OMETTO CEP 17212-591 - JAÚ - SP Tel: (14) 3621-1042 www.sesisp.org.br/jau JUNDIAÍ CAT ÉLCIO GUERRAZZI AVENIDA ANTONIO SEGRE, 695 - JARDIM BRASIL CEP 13201-843 - JUNDIAÍ - SP Tel: (11) 4521-7122 www.sesisp.org.br/jundiai

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LIMEIRA CAT MARIO PUGLIESE AVENIDA MJ. JOSÉ LEVY SOBRINHO, 2415 - ALTO DA BOA VISTA CEP 13486-190 - LIMEIRA - SP Tel: (19) 3451-5710 www.sesisp.org.br/limeira

OURINHOS CAT MANOEL DA COSTA SANTOS RUA PROFESSORA MARIA JOSÉ FERREIRA, 100 - BAIRRO DAS CRIANÇAS CEP 19910-075 - OURINHOS - SP Tel: (14) 3302-3500 www.sesisp.org.br/ourinhos

MARÍLIA CAT LÁZARO RAMOS NOVAES AVENIDA JOÃO RAMALHO, 1306 - JD. CONQUISTA CEP 17520-240 - MARÍLIA - SP Tel: (14) 3417-4500 www.sesisp.org.br/marilia

PIRACICABA CAT MARIO MANTONI AVENIDA LUIZ RALPH BENATTI, 600 - VL INDUSTRIAL CEP 13412-248 - PIRACICABA - SP Tel: (19) 3403-5900 www.sesisp.org.br/piracicaba

MATÃO CAT PROFESSOR AZOR SILVEIRA LEITE RUA MARLENE DAVID DOS SANTOS, 940 - JARDIM PARAÍSO III CEP 15991-360 - MATÃO - SP Tel: (16) 3382-6900 www.sesisp.org.br/matao

PRESIDENTE EPITÁCIO CIL - CARLOS CARDOSO DE ALMEIDA AMORIM AVENIDA DOMINGOS FERREIRA DE MEDEIROS, 2.113 - VILA RECREIO CEP 19470-000 - PRES. EPITÁCIO - SP Tel: (18) 3281-2803 www.sesisp.org.br/presidenteepitacio

MAUÁ CAT MIN. RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO, 237 - JARDIM ZAÍRA CEP 09320-590 - MAUÁ - SP Tel: (11) 4542-8950 www.sesisp.org.br/maua MOGI DAS CRUZES CAT NADIR DIAS DE FIGUEIREDO RUA VALMET, 171 - BRAZ CUBAS CEP 08740-640 - MOGI DAS CRUZES - SP Tel: (11) 4727-1777 www.sesisp.org.br/mogidascruzes

PRESIDENTE PRUDENTE CAT BELMIRO JESUS AVENIDA IBRAIM NOBRE, 585 - PQ. FURQUIM CEP 19030-260 - PRES. PRUDENTE - SP Tel: (18) 3222-7344 www.sesisp.org.br/presidenteprudente RIBEIRÃO PRETO CAT JOSE VILLELA DE ANDRADE JUNIOR RUA DOM LUÍS DO AMARAL MOUSINHO, 3465 - CASTELO BRANCO CEP 14090-280 - RIBEIRÃO PRETO - SP Tel: (16) 3603-7300 www.sesisp.org.br/ribeiraopreto

MOGI GUAÇU CAT MIN. ROBERTO DELLA MANNA RUA EDUARDO FIGUEIREDO, 300 - PARQUE RESIDENCIAL ZANIBONI III CEP 13848-090 - MOGI GUAÇU - SP Tel: (19) 3861-3232 www.sesisp.org.br/mogiguacu

RIO CLARO CAT JOSÉ FELICIO CASTELLANO AVENIDA M-29, 441 - JD. FLORIDIANA CEP 13505-190 - RIO CLARO - SP Tel: (19) 3522-5650 www.sesisp.org.br/rioclaro

OSASCO CAT LUIS EULALIO DE BUENO VIDIGAL FILHO AVENIDA GETÚLIO VARGAS, 401 CEP 06233-020 - OSASCO - SP Tel: (11) 3602-6200 www.sesisp.org.br/osasco

SANTA BÁRBARA D OESTE CAT AMÉRICO EMÍLIO ROMI AVENIDA MÁRIO DEDINI, 216 - V. OZÉIAS CEP 13453-050 - S. B. D OESTE - SP Tel: (19) 3455-2088 www.sesisp.org.br/santabarbara

SANTANA DE PARNAÍBA CAT JOSÉ CARLOS ANDRADE NADALINI AVENIDA CONSELHEIRO RAMALHO, 264 - CIDADE SÃO PEDRO CEP 06535-175 - SANTANA DE PARNAÍBA - SP Tel: (11) 4156-9830 www.sesisp.org.br/parnaiba SANTO ANDRÉ CAT THEOBALDO DE NIGRIS PÇA. DR. ARMANDO DE ARRUDA PEREIRA, 100 - STA. TEREZINHA CEP 09210-550 - SANTO ANDRÉ - SP Tel: (11) 4996-8600 www.sesisp.org.br/santoandre SÃO BERNARDO DO CAMPO CAT ALBANO FRANCO RUA SUÉCIA, 900 - ASSUNÇÃO CEP 09861-610 - S. B. DO CAMPO - SP Tel: (11) 4109-6788 www.sesisp.org.br/sbcampo SÃO CAETANO DO SUL CAT PRES. EURICO GASPAR DUTRA RUA SANTO ANDRÉ, 810 - BOA VISTA CEP 09572-140 - S. C. DO SUL - SP Tel: (11) 4233-8000 www.sesisp.org.br/saocaetano SANTOS CAT PAULO DE CASTRO CORREIA AVENIDA NOSSA SENHORA DE FÁTIMA, 366 - JD. SANTA MARIA CEP 11085-202 - SANTOS - SP Tel: (13) 3209-8210 www.sesisp.org.br/santos SÃO CARLOS CAT ERNESTO PEREIRA LOPES FILHO RUA CEL. JOSÉ AUGUSTO DE OLIVEIRA SALLES, 1325 - V. IZABEL CEP 13570-900 - SÃO CARLOS - SP Tel: (16) 3368-7133 www.sesisp.org.br/saocarlos SÃO JOSÉ DO RIO PRETO CAT JORGE DUPRAT FIGUEIREDO AVENIDA DUQUE DE CAXIAS, 4656 - VL. ELVIRA CEP 15061-010 - SÃO JOSÉ DO RIO PRETO - SP Tel: (17) 3224-6611 www.sesisp.org.br/sjriopreto


SÃO JOSÉ DOS CAMPOS CAT OZIRES SILVA AVENIDA CIDADE JARDIM, 4389 BOSQUE DOS EUCALIPTOS CEP 12232-000 - SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP Tel: (12) 3936-2611 www.sesisp.org.br/sjcampos SÃO PAULO - AE CARVALHO CAT MARIO AMATO RUA DEODATO SARAIVA DA SILVA, 110 PQ. DAS PAINEIRAS CEP 03694-090 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2026-6000 www.sesisp.org.br/carvalho SÃO PAULO - VILA DAS MERCÊS CAT PROFESSOR CARLOS PASQUALE RUA JÚLIO FELIPE GUEDES, 138 - V. DAS MERCÊS CEP 04174-040 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 2946-8172 www.sesisp.org.br/merces SÃO PAULO – VILA LEOPOLDINA CAT GASTÃO VIDIGAL RUA CARLOS WEBER, 835 - VILA LEOPOLDINA CEP 05303-902 - SÃO PAULO - SP Tel: (11) 3832-1066 www.sesisp.org.br/leopoldina SERTÃOZINHO CAT NELSON ABBUD JOÃO RUA JOSÉ RODRIGUES GODINHO, 100 CONJ. HAB. MAURÍLIO BIAGI CEP 14177-320 - SERTÃOZINHO - SP Tel: (16) 3945-4173 www.sesisp.org.br/sertaozinho SOROCABA CAT - SEN JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES RUA DUQUE DE CAXIAS, 494 - MANGAL CEP 18040-425 - SOROCABA - SP Tel: (15) 3388-0444 www.sesisp.org.br/sorocaba SUMARÉ CAT FUAD ASSEF MALUF AVENIDA AMAZONAS, 99 - JARDIM NOVA VENEZA CEP 13177-060 - SUMARÉ - SP Tel: (19) 3854-5855 www.sesisp.org.br

SUZANO CAT MAX FEFFER AVENIDA SENADOR ROBERTO SIMONSEN, 550 - JARDIM IMPERADOR CEP 08673-270 - SUZANO - SP Tel: (11) 4741-1661 www.sesisp.org.br/suzano TATUÍ CAT WILSON SAMPAIO AVENIDA SÃO CARLOS, 900 - B. DR. LAURINDO CEP 18271-380 - TATUÍ - SP Tel: (015) 3205-7910 www.sesisp.org.br/tatui TAUBATÉ CAT LUIZ DUMONT VILLARES RUA VOLUNTÁRIO BENEDITO SÉRGIO, 710 - B. ESTIVA CEP 12050-470 - TAUBATÉ - SP Tel: (12) 3633-4699 www.sesisp.org.br/taubate VOTORANTIM CAT JOSÉ ERMÍRIO DE MORAES FILHO RUA CLÁUDIO PINTO NASCIMENTO, 140 - JD. MORUMBI CEP 18110-380 - VOTORANTIM - SP Tel: (15) 3353-9200 www.sesisp.org.br/votorantim

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Divulgação

Pepe Guimarães

Aguinaldo Rocha

Pepe Guimarães

Sabine Wenzel

Divulgação

GALERIA DE FOTOS

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CWB III

Luis Ferron

CARDÁPIO

Divulgação

Michel Cavalcante

Divulgação

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CAT Araquara Apresentação no Teatro do SESI

CCF - RUTH CARDOSO PANORAMA SESI DE DANÇA

SESI MÚSICA ERUDITA PROJETO COISA FINA

CAT CAMPINAS SESI MÚSICA POPULAR

CAT SÃO JOSÉ DO RIO PRETO NAC - PROJETO CENA LIVRE


Frase do pintor francĂŞs Paul Gauguin (1948 - 1903).



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