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em líquidos
– Estou bebendo estrelas! Reza a lenda que foi essa frase que o monge beneditino Pierre Pérignon, mestre da adega de Hautvillers, pequena vila da região de Champagne-Ardenne, França, disse ao experimentar aquele líquido espumante, obtido acidentalmente e que, no futuro, seria identificado ao champanhe. O estalo de um champanhe precede a neblina que jorra para fora da garrafa, envolvendo o ambiente com o seu perfume inebriante, anunciando o próximo movimento: despeje a bebida dourada e nervosa em uma taça e observe as bolhas minúsculas deslizando até o nível do líquido. Servido em taça apropriada e assumindo que ninguém se aventure a bebê-la, alguns especialistas garantem que o champanhe mantém sua efervescência por até cinco horas (PIVETTA, 2005). Estima-se em 20 milhões de bolhas em uma garrafa de champanhe de 750 ml, que batalham para atingir as papilas de centenas de milhares de Pérignon. A produção de champanhe (só o frisante oriundo daquela região francesa pode ser assim denominado) e de outros espumantes, envolve, tradicionalmente, uma primeira fermentação de uvas para produzir o vinho base, que é complementado, por exemplo, com açúcar de cana ou de beterraba, de modo que a segunda fermentação aconteça. O vinho oriundo dessa última fermentação permanece por, pelo menos, quinze meses para que as células de levedura (agora inativas) possam modificar o sabor da bebida, para, então, ser removida por congelamento e, em seguida, o vinho ser recortado, restabelecendo o espaço livre entre o volume da garrafa e do líquido nela contido, decretando a quantidade final de dióxido de carbono (CO2) dissolvido. O champanhe é uma solução aquosa composta por etanol (12,5 % v/v), CO2 dissolvido
Cap Tulo 12
Difusão de não eletrólitos diluídos em líquidos: mistura binária
Aquela doença. Inominável. Aquela doença enquanto sinônimo de fim de jornada. Alguém que a tenha ou devido àquela doença dessa existência partiu. Doença que levou conhecido ou pessoa próxima. Aquela doença com c. C de câncer, problema de saúde pública mundial, sendo a segunda causa de óbitos no mundo e no Brasil. Trata-se de uma enfermidade caracterizada por crescimento anormal de células (neoplasia maligna), que afeta pessoas de todas as idades (BRANDÃO et al., 2010). A introdução da quimioterapia, uso de drogas com ação antitumoral, resultou em taxas significativas de cura de tipos tumorais que não eram controlados com sucesso pelo emprego exclusivo de cirurgia e/ou radioterapia. Até as primeiras décadas do século XXI, o desempenho dos agentes quimioterápicos disponíveis apresentou-se abaixo do ideal, quando o objetivo foi o tratamento de tumores sólidos humanos mais prevalentes (carcinoma de pulmão, próstata, cólon, mama, ovário, entre outros). Um dos principais fatores limitantes da eficácia das drogas antineoplásicas é a existência de células tumorais que apresentam mecanismos de resistência farmacológica. A natureza dos processos bioquímicos mediadores de resistência varia de acordo como o tipo quimioterápico em questão. Um dos mecanismos de resistência mais estudados é denominado resistência múltipla em decorrência, em boa parte dos casos estudados, da existência de P-glicoproteína na membrana celular, capaz de transportar tais compostos para fora de célula tumoral. Pesquisadores demonstram interesse no estudo de produtos naturais como possível fonte de agentes antineoplásicos. Acredita-se que a diversidade de estruturas químicas encontradas nesses compostos proporciona maior
Cap Tulo 13
Difusão de não eletrólitos concentrados em líquidos: efeito da viscosidade dinâmica no coeficiente mútuo de difusão
– Estou bebendo estrelas! Talvez essa frase não retrate apenas a sensação frisante que o monge Pierre Pérignon experimentou ao provar o champanhe. Beber estrelas cabe a cada pessoa que se inebria quando contempla o céu noturno, desde que as cidades poluídas deixem de sê-las. As estrelas têm vida, mas não na escala temporal do ser humano, cuja existência é uma rajada de luz. A formação de moléculas no meio interestelar desperta o interesse de diversos ramos da Ciência por ser uma chave para compreender a complexidade química das nuvens interestelares, que pode ter relação com o aparecimento de vida (MONFREDINI, 2009). O nascimento de uma estrela segue um processo em que núcleos de nuvens moleculares entram em colapso, primeiro sob sua própria gravidade para, deste modo, formar protoestrelas. Tais protoestrelas são acompanhadas por um disco de acreção e ejetam um poderoso fluxo bipolar de gás chamado fluxo de saída. Um modo eficaz de observar a formação de estrelas massivas é observando masers (Microwave Amplification by Simulated Emission of Radiation), fontes de radiações eletromagnéticas que ocorrem quando uma população de moléculas (ou átomos) é bombeada para um nível de energia superior a partir do qual eles entram em colapso; ao fazê-lo, é liberada enorme quantidade de energia enquanto radiação de micro-ondas. Em particular, os masers de metanol oferecem uma excelente maneira de observar regiões formadoras de estrelas massivas e se originam não apenas nos discos de acreção em regiões geradoras de estrelas, denominados masers de metanol classe II, como nos fluxos bipolares, nesse caso eles são conhecidos como classe I (CLARISSE; SARMA, 2019). A emissão, portanto, de maser galáctico de
Cap Tulo 14
Difusão mássica de não eletrólitos concentrados em líquidos: correção da não idealidade
Trazer a paleta da personalidade na ponta do dedo. Vermelho? Vinho? Branco, rosa, amarelo, laranja, preto, marrom, cinza, pastel... nuances de azul ou de verde? Tonalidades neutras ou vibrantes? Apenas a rainha egípcia Cleópatra, em seu reinado, podia usar o vermelho para colorir suas unhas e quem se atrevesse a usá-lo, corria o risco de morte. Aliás, mesmo antes de Cleópatra, volta-se à China há cerca de 3 mil anos a.C. o costume de colorir as unhas, sendo que no século VII a.C., somente a realeza da dinastia Chou utilizava a cor dourada ou prateada nas unhas que, com o tempo, passaram a preferir o vermelho e o preto. Unhas pintadas nem sempre foram vistas em bons olhos: a etiqueta dos anos 1920 e 1930 ressalvava aquelas de unhas coloridas, mas com a chegada do cinema, em particular de Hollywood, o charme das atrizes fez com que o esmalte assumisse protagonismo na indústria de cosmético. Fazer as mãos e os pés deixou de ser tarefa divina a ser creditada a manicures e pedicures. Inclusive, a sua profissão está regulamentada na Classificação Brasileira de Ocupações, sendo que dentre os saberes específicos dessa profissão, além de cortar, lixar, polir e esmaltar as unhas, está a habilidade para remover o esmalte (CASTRO, 2015). A acetona, já foi utilizada largamente na remoção de esmalte, também conhecida como propanona, apresenta fórmula molecular C3H6O e massa molar igual a 59,08 g/mol, é um líquido volátil, altamente inflamável, bem como a molécula mais simples e a mais importante das cetonas, sendo empregada na produção de uma extensa família de derivados oxigenados, podendo-se citar: acetato de butila, isopropanol, etilenoglicol e acetato de etila. Tendo em vista a sua capacidade de realizar condensações aldólicas, a acetona é utilizada para obter derivados da dibenzilidenoacetona, eficazes
Cap Tulo 15
Difusão de não eletrólitos em sistema
multicomponente: solução diluída
A Declaração Universal dos Direitos Humanos destaca que os seres humanos nascem iguais e livres em direitos e dignidade, assim como aponta que todos têm o direito à qualidade de vida apropriada à sua saúde e bem-estar, incluindo comida, moradia, cuidados médicos e serviços assistenciais (BERTAN; CREMASCO, 2021). Isso diz respeito, inclusive, à atenção primária à saúde (APS), visando o atendimento das demandas de saúde dos indivíduos, das famílias e das comunidades, buscando reduzir as iniquidades existentes no setor da saúde (VASCONCELOS et al., 2018), pois quando a dignidade não é reconhecida, o ser humano torna-se uma coisa. E quando o ser humano faz parte de minorias ou, por algum motivo, é excluído, transforma-se em algo descartado, sem valor, sem propósito de vida. O indivíduo quando acometido por alguma doença que o impeça de trabalhar é visto sem valor para os meios produtivos, algo para se colocar de lado e, em alguns países, costuma ser visto como invisível, principalmente quando depende de medicamentos e o seu acesso é dificultado. Quem se importa? Quem se importa com o coração de alguém? Isso não é uma metáfora, pois doenças cardiovasculares, historicamente, são as principais causas de óbito no Planeta, respondendo por mais de 30% do total dos mais diversos tipos de mortes, dentre as quais: câncer, diabetes, malária, doenças respiratórias, neuropsíquicas, digestivas, hepáticas, renais etc. No Brasil, não é diferente. A problemática da saúde transcende especialidades, conclamando todas as áreas do conhecimento para que busquem, senão sanar problemas, mas minimizá-los. Nesse contexto, a busca de fármacos mais eficazes e de livre acesso principalmente às populações vulneráveis é tarefa de todos. Nesse
Cap Tulo 16
Difusão de não eletrólitos em sistema multicomponente: solução concentrada
A Revolução Industrial é identificada frequentemente ao período histórico iniciado no século XVIII, com intensidade transformadora na humanidade, em particular em relação aos meios de produção quanto à ampliação de sua escala. A Ciência, engendrada em cérebros criativos, tomou forma em equipamentos, feito a máquina de vapor do escocês James Watts para incrementar, entre outros, a fiação de algodão proveniente de colônias inglesas espalhadas pelo Planeta, a ponto de o Sol não se pôr à realeza britânica, pois foi na Inglaterra onde mais reverberou a Revolução Industrial. A movimentação de máquinas, antes realizada por tração animal, precisou ser reinventada com a introdução do vapor. Isso não só catapultou o avanço tecnológico, como também instigou o desenvolvimento científico, em especial da termodinâmica, no século XIX. E os animais de tração foram substituídos por cavalos-força, cujos corações foram trocados por motores e o sangue, por combustíveis. E, aqui, cabe destacar a importância do franco-alemão Rudolf Christian Karl Diesel, inventor do motor a combustão interna, pondo-o para funcionar com óleo de amendoim em agosto de 1893. Naquela época, boa parte dos esforços tecnológicos dedicados aos combustíveis estava direcionado ao aproveitamento das frações do petróleo, principalmente nos Estados Unidos. O monopólio do petróleo atravessou o século XX, apesar de Diesel ter depositado a patente de seu invento em fevereiro de 1897, originalmente para operar com óleo vegetal; sabendo-se que, hoje, se pode utilizar diesel mineral (ou gasóleo), um derivado do petróleo e assim batizado em homenagem a Karl Diesel. O Planeta ficou refém do petróleo e de suas consequências econômica e ambiental. Na
Cap Tulo 17
Difusão de eletrólitos em líquidos: solução diluída
Água também é arte. Esse líquido primordial inspira mentes criativas nas artes plásticas, como a de Belo Serge, que utilizou 66 mil copos biodegradáveis, contendo água de chuva, em sua instalação artística (Figura 17.1), para denunciar a escassez de água no Planeta, bem como foram adicionadas tintas vegetais na água para delatar a sua poluição. Os copos de Belo dão luz a um corpo no útero, que pode ser o de qualquer de um de nós.
Cap Tulo 18
Difusão de eletrólitos em líquidos: solução concentrada
A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído... A cachorra Baleia, com o traseiro no chão e o resto do corpo levantado, olhava as brasas que se cobriam de cinzas (RAMOS, 1971). O romance Vidas secas, de Graciliano Ramos, publicado em 1938, é um clássico da Literatura brasileira. O livro, de poucas páginas todavia de grandeza inominável, retrata a saga do vaqueiro Fabiano e de sua família através da caatinga nordestina, cuja razão primeira era a mínima sobrevivência, desde alimentar-se de preás até a mordiscar mandacarus. A terra, árida, não seria a companhia ideal para vencer a fome, ainda que o céu noturno do sertão nordestino, pincelado por Graciliano, embevecesse os olhos de quem o lê. Além da beleza literária de Vidas secas, essa obra detalha aspectos da geografia brasileira, ao apresentar particularidades da Caatinga, importante bioma do país que, junto com o do Cerrado, do Pampa, do Pantanal, o Amazônico e o Atlântico, fornecem biodiversidade única no Planeta e, das quais ao serem manejadas de modo sustentável e compromissadas socialmente, permitem à população que não repita a odisséia de Fabiano. Contudo, nem todo o solo nacional se apresenta manejável quanto à produção de produtos agrícolas, principalmente no que se refere ao fornecimento de nutrientes básicos ao desenvolvimento de determinada cultura. Tendo em mente a preocupação quanto à sustentabilidade, o uso de fertilizantes, entendendo-os como a substância mineral ou orgânica, cujo objetivo é o de devolver ao solo nutrientes extraídos a cada colheita (COSTA; SILVA, 2012). Excrementos animais e cinza vegetal, por exemplo, foram os primeiros insumos usados como fertilizantes, sendo que, a partir da segunda metade do século XIX, inicia-se estudos sobre o emprego de fertilizantes químicos, com Von Liebig, ao