“ Um livro de músicas com várias coisas desse músico extraordinário.
Gilberto Gil “
Dori Caymmi, parceiro querido, amigo de todas as horas, é simplesmente o maior músico da nossa geração.
Chico Buarque
“ Dori é uma das figuras que mais adoro no mundo da canção brasileira.
Caetano Veloso “
Muito útil este livro, esta reunião de um trabalho importante para o Brasil e o mundo.
Maria Bethânia
“
Um dos meus favoritos músicos deste planeta.
Viva Dori!
Gal Costa
Acompanhando 26 partituras escritas por Dori para suas canções, este livro reúne, ao lado de um perfil biográfico escrito pelo jornalista Claudio Leal, depoimentos, histórias e imagens que, juntos, ajudam a compor a trajetória do violonista, compositor, arranjador e “cantador” Dori Caymmi.
ISBN 978-85-9493-298-3
“ Tudo que ele toca tem sua marca de bom gosto e rigor. Do violão às orquestras.
Nelson Motta
O volume traz ainda link e informações para o disco digital Dori Caymmi: 80 anos de um cantador . O álbum, produzido pelo Selo Sesc, reúne 12 violonistas interpretando 12 das canções que compõem este livro.
Projeto gráfico e diagramação Homem de Melo & Troia Design
Capa Desenho de Dorival Caymmi, gentilmente cedido pela Fundação Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro (FMIS-RJ)
Pesquisa iconográfica e reunião de depoimentos Guto Burgos
Digitação violonística e revisão musical Paulo Aragão
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
D733
Dori Caymmi letra e música: 80 anos de um cantador / Organização: Mario Gil. –
São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2023. – 212 p. il.
ISBN: 978-85-9493-298-3
Código QR para ouvir o disco
1. Música Brasileira. 2. Dori Caymmi.
3. Livro de canções. 4. Discografia.
5. Partituras. 6. Letras cifradas. I. Título.
II. , Caymmi, Dorival Tostes.
CDD 780.981
Ficha elaborada por Maria Delcina Feitosa CRB/8-6187
Empreendemos todos os esforços a fim de obter o licenciamento dos direitos autorais das fotos deste livro. Caso recebamos informações complementares, elas serão devidamente creditadas na próxima edição.
Edições Sesc São Paulo
Rua Serra da Bocaina, 570 – 11º andar 03174-000 – São Paulo SP Brasil
Meus agradecimentos ao professor Danilo Santos de Miranda, idealizador deste projeto, pelo honroso convite, e a todas as pessoas do Sesc São Paulo nele envolvidas. Agradeço, também, ao Mario Gil, pela coordenação e produção musical. Ao Guto Burgos, produtor executivo, ao Paulo Aragão, pela digitação e revisão de partituras, e ao Bruno Conde, pela revisão de primeira leitura das partituras e cifras. Agradeço à Helena Leal, pela organização de fotos, ao Cezinha Oliveira, pelas cópias de partitura, e aos violonistas Marcus Tardelli, Maurício Massunaga, Alexandre Gismonti, Cainã Cavalcante, Paula Borghi, Julião Pinheiro, Bruno Conde, João Camarero, Paulo Aragão, Miguel Rabello, Swami Jr. e Gian Corrêa. Agradeço aos cantores Danilo Caymmi, Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos, ao Bré Rosário, pela percussão, e ao jornalista Claudio Leal pela entrevista comigo e pelo perfil que compõe este livro. Finalmente, agradeço aos artistas depoentes, por suas palavras tão generosas.
Muito obrigado.
Dori
foto de Myriam Vieira
Vilas
Boas
Sumário
Apresentação Danilo Santos de Miranda 10
Dori nota a nota Mario Gil 12
Dori Caymmi, o cantador Claudio Leal 14
Imagens e depoimentos 29
Discografia 47
Partituras e letras cifradas 53
Ficha de crédito do disco 208
Apresentação
Danilo Santos de Miranda
Diretor do Sesc São Paulo (1984 a outubro de 2023)
Texto escrito em maio de 2023
A relação do ser humano com a música remonta aos tempos que antecedem a escrita tal como a conhecemos. Em múltiplos destinos – ritualistas, festivos, de lazer ou de trabalho, por exemplo –denuncia-se sua aderência como elemento potente na formação cultural e de vínculo social. Por meio do som, experiências materiais e subjetivas compõem a realidade.
A música abarca a singularidade do contexto em que é produzida e a ressonância de caráter universal que pode alcançar enquanto expressão humana. E, entre códigos culturais, amplifica um dado sutil: os afetos que a fazem amiga do cotidiano, os efeitos que estala nas pessoas. Nesse sentido, o que nos conta o Brasil enquanto fértil terreno musical?
Das tantas vertentes que contemplam a pluralidade nacional, nas mais distintas perspectivas do que possa ser compreendido como musicalidade, a paisagem sonora do cancioneiro brasileiro dos anos 1960 se apresenta tão diversa quanto a geografia do país, e conjuga no tempo uma cena que dilata tradição e experimentalismo, encontro e disputas. Aqui, encontramos, na beira-mar, Dorival Tostes Caymmi, o Dori.
Filho de Dorival Caymmi e Stella Maris, tem em sua paisagem pessoal um ambiente familiar permeado pela música e os saberes praieiros. A polifonia de artistas que frequentavam sua casa e a voz ecoante de seu pai, mãe e irmãos, Danilo e Nana Caymmi, foram farol e caminho para suas influências e formação: o universo sonoro foi um destino inescapável. Ao fluir nos cantos de mar do velho Caymmi, afluiu-se em abundância nas tantas margens ressonantes que consagra na vida.
“Cantor de ocasião” é como ele se autointitula; em vasta modéstia, essa ponderação com seu atributo dá notícias da igual vastidão de sua destreza de multiartista. Exímio arranjador, esteve à frente da produção de figuras estelares da MPB,
como Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Edu Lobo, entre tantos outros.
Da geografia brasileira, em sua tessitura também social e política, e da diversidade cultural e étnica, o instrumentista e compositor conta de um Brasil diverso, complexo e vivo; e tal qual a feitura de uma canção, tenta abranger, pelos fragmentos, algo da totalidade – canta, assim, sobre poéticas criadoras de mundo.
Ritmado nessa cadência, a publicação Dori Caymmi – letra e música: 80 anos de um cantador se propõe a reunir algumas esferas da vida e da produção deste que figura o título. Organizado por Mario Gil – autor, instrumentista, produtor musical e parceiro de Dori –, o presente “livro de música”, em tradução livre, nos imerge no manancial de Caymmi.
Entre movimentos que margeiam sua coletânea de canções, um acervo de partituras, cifras e arranjos, e alguns testemunhos biográficos do jornalista Claudio Leal e de artistas nacionais, este material nos oferece a possibilidade de acessar a arqueologia do enredo musical de Dori e as histórias que contam sua história, seu percurso em cima e nos bastidores do palco – seja este musical ou cênico.
Se a música apresenta o singular e o universal em nós, gorjeia, portanto, notas pungentes para a compreensão de um tempo. Na direção desse passo, conjugado ao interesse de contribuir para a preservação da memória imaterial do país, a edição deste livro encontra e faz emergir valores do Sesc orientados para viabilizar o acesso às artes, à produção e partilha de conhecimentos, e a experiências no campo do sensível que permitam a percepção e fruição musical.
Dori nota a nota
Mario Gil
Há alguns anos, Dori me mostrou, reunidos numa pasta, alguns manuscritos de suas canções, elaborados com um capricho encantador, e me relatou a sua vontade de fazer um livro de canções, para deixar como legado para as próximas gerações. A ideia era bastante despretensiosa e muito generosa. Ele queria apenas deixar um registro de como executa as suas próprias músicas ao violão, para que esse material fosse usado, mais tarde, por estudantes de música.
Ali, eu me dei conta de que era inconcebível um artista da sua magnitude não ter sua obra registrada em um livro de canções, afinal, Dori tem participado ativamente da história da nossa música desde a década de 1960. Dono de uma linguagem ímpar como arranjador e compositor, ele pode ainda se orgulhar de ter criado uma linguagem particular como violonista. Aos 80 anos de idade, dos quais mais de sessenta dedicados à carreira musical, Dori acumula uma longa lista de registros de sua arte na música brasileira e internacional.
Um livro de canções era então imprescindível, não só para referência futura, mas também como forma de trazer para os amantes do violão os segredos dessas harmonias e afinações. Sugeri então que pensássemos em um projeto mais robusto. Que tal mais músicas? Que tal alguns arranjos orquestrais? Algumas fotos? Alguns depoimentos? E se tivéssemos um texto contando toda a sua trajetória? Dori, mesmo sendo sempre avesso a se autopromover, acabou gostando e aprovando o projeto. De início, precisávamos encontrar alguém que se aventurasse a escrever o perfil de um artista de carreira tão prolífera quanto Dori. Claro, existem bons jornalistas brasileiros que poderiam fazer esse trabalho, mas como Claudio Leal são poucos. E foi Claudio que, depois de algumas entrevistas e muita dedicação, nos apresentou um texto empolgante, simples e conciso.
Enquanto o texto ia tomando forma, escolhemos as músicas, e Dori se debruçou sobre essas canções, reescrevendo a forma como as compôs e os arranjos para violão. Todos os detalhes, cada uma das notas da melodia, cada acorde, a afinação, as letras, tudo ali, com aquele detalhismo que confere singularidade à sua obra.
É uma obra que conheço bem, afinal, além de admirador desde a infância, tive a oportunidade de estar ao seu lado de forma bastante intensa nos últimos vinte anos. Gravei, em meu estúdio, o violão e a voz de Dori em mais de cem canções, fui seu copista em dezenas de orquestrações e seu assistente em outros trabalhos, como nos álbuns Fruta Gogoia, de 2018, e Nana, Tom, Vinicius, de 2020. Ainda assim, logo que tive contato com os manuscritos destinados a este livro, entendi que precisaríamos de um violonista que já conhecesse sua obra e suas particularidades para nos ajudar com uma revisão técnica do trabalho. Dori conhecia Paulo Aragão desde criança, e nos pareceu que não poderia haver alguém mais capacitado para essa empreitada. Paulo topou e fez não só a revisão técnica, como participou de todo o processo.
Os manuscritos saíam da mão do Dori para o computador do copista, o nosso incansável Cezinha Oliveira. Do Cezinha, seguiam para a minha primeira leitura. Passada essa fase, ganhavam a digitação e primeira revisão do Aragão e depois voltavam pra mim. Em seguida, a segunda revisão do Aragão, e novamente caíam em minhas mãos. Depois, a revisão final do Dori. Por fim, o designer gráfico.
Parece muito trabalho? É muito trabalho. É ruim? Não. É maravilhoso!
Helena Leal pôs-se a fazer um levantamento das fotos de família, de amigos e da infância de Dori. Guto Burgos, o amigo de todos os artistas, conseguiu que grandes colegas e parceiros, tão ocupados
em suas agendas, enviassem depoimentos carinhosos.
Completa o projeto a gravação de um álbum com 12 canções. A ideia que nos pareceu mais coerente seria nos concentrarmos nas canções que apresentam uma linguagem mais violonística, que é marca da obra do Dori. Renato Braz, nosso amigo comum, sugeriu que convidássemos 12 violonistas de uma geração nova para executar as transcrições do livro. Grande ideia. O livro cumpriria desde o nascimento a sua missão pedagógica.
Eu e Aragão cumprimos então a difícil missão de escolher 12 violonistas. Era uma tarefa difícil não por ter de encontrar esses músicos, mas por ter de deixar de fora tantos violonistas incríveis.
Dori sugeriu que convidássemos também três cantores para dividir com ele as gravações. Convidamos Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos, intimamente ligados à sua obra. Danilo Caymmi, irmão de Dori, fez uma participação mais que especial na canção “Alegre menina”.
Escrevi o projeto e apresentei à equipe das Edições Sesc São Paulo, que encampou a ideia, tornando possível esta obra que, modestamente, “esbanja” carinho, sofisticação e música. Salve, Dori Caymmi!
Mario Gil é mineiro de Juiz de Fora, nascido em 1962 e radicado em São Paulo desde 1983. Como violonista, venceu o 2º Concurso de Seleção de Jovens Instrumentistas da Secretaria de Estado da Cultura (SEC) de São Paulo e foi finalista do 3º Prêmio Visa de Música Brasileira, Edição Compositores. Mario gravou três discos solos e um disco em grupo, e nos últimos anos, divide suas atividades entre produções, direções musicais e sua carreira como compositor e violonista.
Dori Caymmi, o cantador
Claudio Leal
Dorival Tostes Caymmi, o Dori, nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de agosto de 1943, e não encontrou as facilidades esperáveis de seu sobrenome. Bem ao contrário. Para tornar-se músico numa família musical, ele precisou caminhar contra o vento. Filho de Stella e Dorival Caymmi, um dos maiores compositores brasileiros de qualquer tempo, o garoto gostava de futebol, torcia pelo Fluminense e não encontrava afagos paternos para desenvolver uma carreira artística. Seus irmãos Nana e Danilo enfrentavam semelhante resistência, mas seguiriam por igual, e com independência, o chamado da música. Dos três, Dori seria aquele que teria uma vida mais intensa em estúdios antes de apresentar-se com frequência nos palcos.
Impossível não absorver a atmosfera artística da casa de Dorival e Stella. Antes do casamento, a mãe chegara a se apresentar como cantora (nome artístico: Stella Maris) na Rádio Nacional, onde, nos bastidores de um programa de calouros, conheceu o baiano Dorival, radicado no Rio desde 1938. De Stella, Dori herdou não apenas a sensibilidade musical, mas a verve e as opiniões diretas, sem volteios. Em casa, aprendeu a gostar das canções populares e das peças eruditas ouvidas pelo pai. No rádio, uma vez por semana, a família acompanhava o programa Lã Sans apresenta Dorival Caymmi, do cronista pernambucano Antonio Maria.
“Meu pai era uma pessoa muito aberta para todos os campos musicais, minha mãe também. Então, a gente ouvia da música brasileira até a ópera, a ária, mas o lado dele musical era, por exemplo, Jacob do Bandolim. Eu até gravei uma música chamada ‘Migalhas de Amor’, de Jacob. A gente ouvia Jacob do Bandolim, ouvia os cantores brasileiros todos da época. E ouvíamos Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Sinatra, Nat King Cole. Eu fui aprendendo isso muito menino. E a Nana também.”
Fora de hora
Celebrando a música de Dori Caymmi, o álbum
Dori Caymmi: 80 anos de um cantador apresenta uma leitura de 12 canções — dentre as que compõem este livro — por violonistas de uma nova geração.
Neste trabalho, Dori divide as interpretações com Danilo Caymmi, Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos. O álbum, lançado exclusivamente em formato digital, pode ser ouvido a partir do QR Code ou do link abaixo.
https://sesc.digital/album/doricaymmi80anos
Dori Caymmi:
80 anos de um cantador
Ninho de vespa
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Voz: Dori Caymmi
Violão: João Camarero
Percussão: Bré Rosário
Alegre menina
Dori Caymmi e Jorge Amado
Voz e Flautas: Danilo Caymmi
Violão: Marcus Tardelli
Percussão: Bré Rosário
O cantador
Dori Caymmi e Nelson Motta
Voz: Mônica Salmaso
Violão e arranjo: Paulo Aragão
Três curumins
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Voz: Renato Braz
Violão: Gian Corrêa
Percussão: Bré Rosário
Porto
Dori Caymmi
Vozes: Dori Caymmi, Mônica Salmaso e Sérgio Santos
Violão: Miguel Rabello
Percussão: Bré Rosário
Mercador de siri
Percussão: Bré Rosário 1 2 3 4 5 6
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Voz: Dori Caymmi
Violão: Bruno Conde
Dança do tucano
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Vozes: Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos
Violão: Maurício Massunaga
Desenredo
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Vozes: Dori Caymmi, Mônica Salmaso,
Renato Braz e Sérgio Santos
Violão: Cainã Cavalcante
Desafio
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Voz: Sérgio Santos
Violão: Alexandre Gismonti
Percussão: Bré Rosário
Evangelho
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Voz: Dori Caymmi
Violão: Julião Pinheiro
Estrela da terra
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Vozes: Dori Caymmi, Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos
Violão: Paula Borghi
Percussão: Bré Rosário
Rio Amazonas
Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro
Vozes: Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos
Violão: Swami Jr.
Percussão: Bré Rosário
Direção musical: Mario Gil e Paulo Aragão
Produção executiva: Guto Burgos
Gravações:
Voz e flautas de Danilo Caymmi: gravado por Virgilio Milléo – Estúdio Audio Stamp – Curitiba
Voz e violão na faixa 9: gravado por Ricardo Cheib – Estúdio Bemol – Belo Horizonte
Vozes: Dori Caymmi, Mônica Salmaso, Renato Braz e Sérgio Santos: gravado por Otávio Bonazzi e Luigi Sucena – Estúdio Dissenso – São Paulo
Violões: faixas 1; 2; 5; 7; 10; 11 – gravado por William Jr. – Estúdio Cia. dos Técnicos – Rio de Janeiro
Violões: faixas 3; 4; 6; 8 – gravado por Otávio Bonazzi e Luigi Sucena – Estúdio Dissenso – São Paulo
Violão: faixa 12 – gravado por Mario Gil – Estúdio Dançapé – São Paulo
Percussões: gravado por Mario Gil – Estúdio Dançapé – São Paulo
Mixado e Masterizado por Mario Gil – Estúdio Dançapé
Todos os arranjos são de Dori Caymmi exceto “O cantador”, com arranjo de Paulo Aragão