O grilo das asas de oiro

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CASSIANO GUIMARÃES

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CAPÍTULO SEGUNDO Já tinha passado ano e meio desde os primeiros rumores do fatídico vale. O rei, que não havia meio de sossegar com o pensamento do grilo misterioso, dobrou a promessa e mandou publicar em todos os jornais que faria conde quem lhe apresentasse o famoso animal! Apesar da promessa ser realmente aliciante, tentadora, pouco interesse despertou. Depois de tantas aventuras e provas sem resultado, quem se atrevia a procurar ainda o malfadado bicho? Só algum avarento que estivesse disposto a tudo, até a vender a alma, por amor de cinco réis! E foi mesmo o Pica-Pau, um célebre avarento que vivia nos arredores de Palmude, quem se aventurou ainda. De nariz dobrado, como um arco, sobre um bigode de penugem de ratazana, magro como um cão a quem a fome deixou só dois olhos e o faro, dava pela presença de um tostão a cinco léguas! Raramente o viam à luz do dia. Fechado a sete trancas no casebre, quando saía, quer de verão quer de inverno, era embrulhado num sobretudo ruço de mangas estreitas onde apenas cabiam


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