Um espécie de bolsa de valores - Contos

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PAULO COSTA

Sobre o autor: Paulo Costa é natural de Ovar. Licenciado em Teologia com Mestrado em Teologia Sistemática, fez uma Pós-Graduação em Educação Sexual. É professor de EMRC há duas décadas no Colégio de Lamas. É autor de livros de contos e histórias amplamente usados em contextos educativos escolares e catequéticos.

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Uma espécie de bolsa de valores

Apresentamos 50 contos que inspiram o leitor a refletir sobre os princípios éticos da sociedade contemporânea. Por isso é que este livro se assume como uma espécie de bolsa de valores. Para que quem o lê encontre aqui os “ativos” que acrescentam à sua vida as atitudes necessárias à construção de um mundo mais solidário.

PAULO COSTA

As histórias têm o dom de prender a atenção e provocar a imaginação. Por essa razão, é tão fácil exprimirmos a nossa cultura, crenças e valores através de narrativas.

Uma espécie de Bolsa de valores Contos

Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto | Tel.: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt SALESIANOS EDITORA

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18/09/2023 09:12:46


Ficha Técnica Uma espécie de bolsa de valores © 2023 Paulo Costa © 2023 Salesianos Editora Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto | Tel: 225 365 750 geral@editora.salesianos.pt www.editora.salesianos.pt Capa: Paulo Santos Paginação: João Cerqueira Imagem de Capa: Dreamstime 1ª edição: Outubro 2023 ISBN: 978-989-9134-21-8 Depósito Legal.: 518521/23 Impressão e acabamento: Totem Reservados todos os direitos. Nos termos do Código do Direito de Autor, é expressamente proibida a reprodução total ou parcial desta obra por qualquer meio, incluindo a fotocópia e o tratamento informático, sem a autorização expressa dos titulares dos direitos.


PAULO COSTA

UMA ESPÉCIE DE

BOLSA DE VALORES

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Prefácio Os contos são um extraordinário aliado na Educação e na aprendizagem dos valores essenciais da vida. As histórias têm o dom de prender a atenção, provocar a imaginação e despertar a curiosidade, contribuindo, de forma singular, na formação do carácter e na compreensão da existência humana em sociedade. Os contos podem ser um poderoso auxílio na descoberta e reflexão dos princípios éticos fundamentais para a convivência harmoniosa entre as pessoas, estimulando o desenvolvimento socio-emocional, promovendo o entendimento da realidade que nos rodeia e ajudando na construção da nossa hierarquia de valores. Estes 50 contos são contributos para ajudar a compreender a importância de um enquadramento ético e espiritual da vida como universo de referência a partir do qual se pode estruturar a personalidade e adquirir uma visão da existência saudável, equilibrada, madura e aberta ao diálogo com outras mundividências. As histórias que aqui se apresentam têm com intenção ajudar na reflexão das questões essenciais da nossa vida, através da compreensão dos valores humanos fundamentais que constituem a nossa identidade cultural e civilizacional, na procura e dis3


cernimento do sentido da vida e da realização pessoal e comunitária. Procura-se, ainda, ajudar na tomada de consciência da importância da construção de um projeto de vida com sentido, baseado nos valores essenciais do cristianismo, rumo a uma existência verdadeiramente consciente, esclarecida, responsável e feliz. Por isso é que este livro é uma espécie de bolsa de valores. Obviamente, não “os valores do mercado organizado onde se negoceiam ações de sociedades de capital aberto e outros valores mobiliários”, mas os valores que são as referências éticas e morais que definem o que somos, sentimos, pensamos e fazemos e que constituem a marca da nossa maneira de estar no mundo e viver a vida. Uma proposta de reflexão individual e/ou de grupo para todas as idades e para os mais diversos contextos educativos. Por uma vida de valor e com valores… Paulo Costa

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Para, escuta e olha… Era uma vez um jovem que ouviu dizer que uma velhinha que vivia na floresta guardava o segredo da felicidade. Decidiu, então, ir ter com ela e pedir-lhe que o ajudasse a ser feliz pois era rico, tinha uma vida muito ocupada, alcançara muito sucesso no seu trabalho, mas não se sentia satisfeito nem realizado. Então, a velhinha disse-lhe: – Jovem, tens de parar, descansar e fazer silêncio. Vais acampar sozinho durante três dias no areal junto ao mar. Vivemos num tempo em que as pessoas se queixam de não terem tempo para nada e acham que parar é perder tempo. O mundo de hoje exige um ritmo acelerado e isso cria stresse, ansiedade e cansaço extremo. Parece que nos sentimos desconfortáveis quando não estamos a fazer alguma coisa e, nos nossos momentos de pausa, nem sempre conseguimos desligar, desconectar e parar verdadeira­ mente. O corpo humano tem limites e precisamos de repousar e relaxar para recarregar baterias. Às vezes, 5


é preciso parar e olhar para longe, para podermos perceber o que está próximo de nós e até dentro de nós mesmos. Temos de ser capazes de fazer stop, estacionar, refletir e optar por continuar o mesmo caminho ou mudar de direção. Não conseguiremos voltar atrás e alterar o início da nossa caminhada, mas está nas nossas mãos parar, meditar e recomeçar e, eventualmente, mudar o rumo. O jovem foi e fez o que a velhinha lhe pedira. Depois, regressou e disse-lhe que tinha dormido mais tranquilamente do que nunca, que os seus passeios na praia lhe tinham feito muito bem e que se sentia sereno e em paz. Então, a velhinha sorriu e disse-lhe: – Ainda bem. Agora, durante mais três dias, vais fazer uma caminhada por entre as montanhas e peço-te que estejas atento a todos os sons que consigas escutar. Ouvir remete-nos para o sentido da audição, para aquilo que os ouvidos captam. Mas o verbo escutar corresponde ao ato de ouvir com atenção, ou seja, escutar é entender o que está a ser captado, compreendendo e processando a informação internamente. Enquanto falar é algo normal e uma necessidade, escutar é uma verdadeira arte e nem todos a conseguem ter. Quem não souber escutar, não sabe falar. Escutar é uma realidade pouco frequente entre as pessoas e, na verdade, um autêntico ato de amor pois implica abrir-se e acolher os outros, sem julgamentos ou considerações, no que 6


dizem e são. ­Seremos sábios se formos capazes de escutar, pois o silêncio é o começo e a condição da sabedoria. O silêncio, por vezes, incomoda-nos porque nos fala ao coração e permite que a nossa consciência nos diga algumas verdades… Vai lá. Passados três dias, o jovem voltou a casa da velhinha e vinha deliciado pois conseguira escutar-se a si mesmo, bem como ao som do silêncio da montanha. Então, a velhinha abraçou-o e deu-lhe um terceiro e derradeiro desafio, dizendo-lhe: – Agora vai para o bulício da cidade e olha a vida e as pessoas. Por vezes, estamos a ver algo, mas não conseguimos perceber o seu significado. Ver faz parte da nossa visão, é algo imediato, não exige a nossa vivência, nem provoca atitudes. Mas olhar é considerar e refletir o que se observou, interiorizando a sua existência em nós, numa experiência única e individual. O olhar é lento e analítico, traz sentimento, sensibilidade, requer atenção, minúcia, paciência, profundidade e contemplação. O olhar remete-nos para o nosso ser mais profundo e permite pôr-nos no lugar dos outros. Pensar é olhar as coisas e as pessoas com consciência e maturidade. O amor não se consegue ver com os olhos, mas é possível o ­ lhá-lo com o coração e o silêncio de um olhar pode ser mais belo e significativo do que muitas palavras. Os nossos olhos dizem o que somos e é pelo olhar que pedimos para entrar na alma do outro. Vai e olha bem. 7


O jovem foi e olhou as coisas e as pessoas de uma forma totalmente nova, encontrou-se a si mesmo, descobriu o sentido da existência e sentiu-se bem pela primeira vez. Então, a velhinha disse-lhe que seguisse o seu caminho pois ele já não precisava de si e que lhe bastava amar e dar-se aos outros. Ele fora capaz de parar, escutar e olhar e conseguira perceber que o essencial da vida não se percebia com os sentidos nem se entendia com a inteligência. E o jovem foi embora, levando o segredo da felicidade.

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O ancião, o caracol e o tempo Era uma vez um homem muito rico. Tinha tudo quanto queria e a única coisa que não conseguia ter era tempo. Acumulara uma fortuna ao longo de uma vida dura de trabalho e só não conseguira ter família nem amigos. Nada nem ninguém lhe interessava se não contribuísse para fazer mais e mais riqueza e, por isso, considerava uma perda de tempo a amizade e o amor. Um dia, ficou gravemente doente e, como tinha muito dinheiro, recorreu aos melhores médicos do país. Ninguém conseguia curá-lo e nunca se sentira tão só nem tão pobre. Desesperado e já a pensar no pouco tempo que lhe restava de vida, foi dar um passeio pelo campo. Qual não foi o seu espanto quando um velhinho se aproximou e, sem dizer nada, sorriu, colocou-lhe na mão um caracol e foi-se embora. Intrigado, o homem olhou para o pequeno molusco, 9


pousou-o no muro do caminho e pôs-se a ver o que fazia. A verdade é que a sua vida fora sempre marcada pela velocidade e pelo stresse e agora era obrigado a parar e a contemplar um caracol que, de maneira vagarosa, mas determinada, se deslocava sabe-se lá para onde. Aquilo mexeu com o homem e, com lágrimas nos olhos, sentou-se a pensar no tempo que desperdiçara ao longo de toda a sua existência com as coisas que o enriqueceram por fora, mas que o afastaram das pessoas e o empobreceram por dentro. E lembrou-se, com carinho e saudade, dos pais quando lhe diziam que a maior parte do tempo das pessoas se passava infelizmente a passar o tempo, que com tempo e perseverança tudo se alcançava, que era preciso dar tempo ao tempo e nada se fazia sem tempo, que o tempo que se perdia não se tornava a achar mais, que a calma e o tempo faziam mais do que a força e a raiva, que o tempo trazia e o tempo levava, que o tempo encobria e descobria tudo, que o tempo tudo levava e tudo curava, que o tempo era o verdadeiro mestre e que o tempo estava nas mãos de Deus. A verdade é que o caracol como que convidou o homem nos dias seguintes a ver e viver a vida de maneira completamente diferente. O homem, que tinha fama de egoísta e avarento, passou a partilhar tudo quanto tinha com as pessoas que de si se abei10


ravam e, inexplicavelmente, a sua saúde foi-se restabelecendo aos poucos. Um dia, o homem estava a ver o pôr do sol no alto da montanha que se erguia graciosamente junto à aldeia onde vivia e, de forma misteriosa e inesperada, viu aparecer alguém. Era o ancião que lhe tinha oferecido o caracol. A visita sentou-se ao lado do homem a contemplar o sol que se escondia no horizonte e disse: – As pessoas comuns pensam apenas na maneira de passar o tempo, mas as pessoas inteligentes tentam usar positivamente o tempo. Quem julga as pessoas não tem tempo para amá-las e aprender sem pensar é tempo perdido. O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos, coisas e pessoas extraordinárias. O ontem já passou, o amanhã ainda não chegou e apenas o hoje é o tempo certo para amar, acreditar, fazer e, essencialmente, viver. Desculpar-se com o argumento de não se ter tempo é o mesmo que dizer que não queremos ajudar. A verdade é que arranjamos sempre tempo para as coisas e as pessoas que são importantes e amamos. Amigo, aprende com o caracol a não ter pressa, mas, simultaneamente, a não perder tempo. O homem ficou sem palavras e, diante da serenidade, paciência e sabedoria do ancião, perguntou-lhe quem era ele. Então, ele respondeu:

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– Como a areia ou a água, escorro por entre os dedos das tuas mãos e, como as aves do céu, consigo voar. Eu sou o Tempo e a minha mãe chama-se Eternidade! Desceram juntos a montanha e, depois de um abraço vigoroso, despediram-se. A vida do homem mudou para sempre. Encontrou, finalmente, o caminho para a felicidade e todas as vezes que encontrava um caracol, lembrava-se do ancião, sorria e perguntava-se a si mesmo se estava a aproveitar bem o tempo.

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ÍNDICE Prefácio.........................................................................................................3 Para, ESCUTA E OLHA… .....................................................................5 O ancião, o caracol e o TEMPO .............................................................9 Os óculos mágicos da EMPATIA..........................................................13 A regra de ouro da TOLERÂNCIA .....................................................17 A aldeia do SORRISO ............................................................................21 À procura da LIBERDADE ..................................................................25 O portinho da FRATERNIDADE ......................................................29 O tesouro da AMIZADE .......................................................................33 O SILÊNCIO do bosque .......................................................................37 O livro da NATUREZA .........................................................................41 Não desistir de APRENDER ................................................................45 Quando a POBREZA é do ser ..............................................................49 Estar em PAZ e o resto tanto faz… .....................................................53 A GRATIDÃO do velho jardineiro ......................................................57 A virtude da PRUDÊNCIA ...................................................................61 Nas asas da CRIATIVIDADE ..............................................................65 A JUSTIÇA da aldeia da montanha ......................................................69 As malas de viagem dos AFETOS ........................................................73 O racismo e o sonho da IGUALDADE ..............................................77 Uma história de AMOR ..........................................................................81

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A ponte das pedras do PERDÃO .........................................................85 A HUMILDADE da velhinha ...............................................................89 A VERDADE dos pontos de vista .......................................................93 A orquestra da UNIÃO ..........................................................................97 O cofre da FELICIDADE ...................................................................101 O jovem que não tinha FÉ ...................................................................105 O desafio da FIDELIDADE ...............................................................109 O fim de semana da ÉTICA ................................................................113 Uma questão de DISPONIBILIDADE ............................................117 Meia hora em FAMÍLIA .......................................................................121 A HONESTIDADE posta à prova ....................................................125 A PERSISTÊNCIA no caminho ........................................................129 O valor da CONFIANÇA ....................................................................133 A BONDADE do velho eremita ........................................................137 A folha de papel do RESPEITO .........................................................141 A ilha onde morava a HONRA ...........................................................145 A senhora da SOLIDARIEDADE .....................................................149 Aprender a RESPONSABILIDADE .................................................153 A menina que se chamava CORAGEM .............................................157 A montanha dos SACRIFÍCIOS .........................................................161 O motorista e a BOA-EDUCAÇÃO ..................................................165 A DISCIPLINA do basquetebolista ...................................................169 A LEALDADE do pescador ...............................................................173

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Simplesmente MÃE… ..........................................................................177 A ALEGRIA que voa de mão em mão ..............................................181 A chave da COMPREENSÃO ............................................................185 A SIMPLICIDADE da rainha .............................................................189 O autocarro do BOM HUMOR .........................................................193 O segredo da PACIÊNCIA ..................................................................197 O ponto de EQUILÍBRIO ..................................................................201

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Sobre o autor: Paulo Costa é natural de Ovar. Licenciado em Teologia com Mestrado em Teologia Sistemática, fez uma Pós-Graduação em Educação Sexual. É professor de EMRC há duas décadas no Colégio de Lamas. É autor de livros de contos e histórias amplamente usados em contextos educativos escolares e catequéticos.

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Apresentamos 50 contos que inspiram o leitor a refletir sobre os princípios éticos da sociedade contemporânea. Por isso é que este livro se assume como uma espécie de bolsa de valores. Para que quem o lê encontre aqui os “ativos” que acrescentam à sua vida as atitudes necessárias à construção de um mundo mais solidário.

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As histórias têm o dom de prender a atenção e provocar a imaginação. Por essa razão, é tão fácil exprimirmos a nossa cultura, crenças e valores através de narrativas.

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