#52 Silvia Pfeifer

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Mineiro tem fama de 'comer pelas beiradas', de fazer tudo calado. Pois p Em exclusiva à Drops Mag, ele fala da surpresa de retornar ao SPFW a e, de quebra, compara Claudia Leitte à Maria Bethânia. Como a conversa

Drops: Você optou por não desfilar coleção de Inverno e sua volta ao calendário era das mais aguardadas. A que atribui essa expectativa de crítica e público? Ronaldo Fraga: Sinceramente, me surpreendi com todo esse movimento. Talvez, pelo desejo de marcas e desfiles mais autorais e menos comerciais; o que, infelizmente, é o que tem tornado as semanas de moda no mundo inteiro.

D: A coleção para o Verão 2013 foi buscar nas raízes do Pará sua vertente. Mas você, enquanto brasileiro, sempre busca inspirações no país. Não tem medo de cair no clichê do patriotismo exacerbado? RF: Se eu tivesse essa preocupação não teria trilhado esse caminho, com escolhas e riscos totalmente meus. Sempre procuro não desvalar para o caminho do nacionalismo ufanista. Nesta coleção de Verão, por exemplo, fiz questão de colocar ali esta terra de superlativos que é o estado do Pará. Lá não existe feio e bonito; existe, sim, o tenebroso e o maravilhoso. Tem uma floresta exuberante e tem áreas desmatadas. Tem negação cultural como em todo o Brasil, mas, acima de tudo, tem uma cultura popular sofisticadíssima, coisa que prefiro pesquisar e trazer para a moda antes que um Marc Jacobs da vida o faça e depois vire tendência para o Brasil inteiro copiar, principalmente agora que o nosso país está sendo redescoberto aos olhos do mundo. Acredito ser um compromisso civil dos designers do nosso tempo estabelecerem o mínimo de relação com essa cultura tão vasta e rica como a brasileira.

D: Você acredita que a moda brasileira tenha uma identidade? Como enxerga as cópias numa semana de moda como a SPFW? RF: A Itália aprendeu copiando da Pérsia, a França aprendeu copiando da Itália, os Estados Unidos, copiando da Europa, e os japoneses, copiando de todo o mundo! O momento agora é a disputa entre quem aprende mais com a prática da cópia, seja o Brasil, a Índia ou a China, países com uma cultura gráfica muito forte e, por isso, com possibilidades de firmarem um produto com mais identidade e personalidade. Em comparação a outros países da América Latina, já possuímos uma marca, sim. Mas, com o resto do mundo, somos ainda aprendizes, graças a Deus.

D: Em entrevista recente, Alexandre Herchcovitch afirmou que o Brasil é um país craque na arte de criar moda para "periguetes". Já a sua roupa tem modelagem diferenciada, tem olhar artístico. Como você lida com as questões de uma moda que pode não sair das passarelas? RF: Meu problema não é venda, é produção. A demanda é muito maior do que tenho condições de produzir. Hoje, o mercado brasileiro é muito diverso. Claro que enquanto Claudia Leitte viaja de jato particular, Maria Bethânia viaja de avião de carreira. Mas daqui a cem anos qual das duas terá prestado um trabalho relevante para a música brasileira?


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