LiV 72

Page 1


COP 30: O maior evento climático do mundo acontece em Belém do Pará Cultura, gastronomia, música, fotografia, arte, arquitetura, moda e roteiros fascinantes

COP 30: The world’s largest climate event takes place in Belém do Pará Culture, gastronomy, music, photography, art, architecture, fashion and captivating itineraries

MOBILIÁRIO SOB MEDIDA DE ALTO PADRÃO

DESDE 1950

Tv. Nove de Janeiro, 849
Umarizal, Belém/PA

Iniciamos uma edição especial da Revista LiV, celebrando um momento histórico, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), que será realizada em Belém, no Pará. Nesta 72ª edição impressa, com mais de 100 páginas, convidamos o leitor a mergulhar na essência da capital paraense, em uma viagem que une cultura, gastronomia, história, vida noturna e o talento das personalidades que fazem pulsar o coração da Amazônia.

Logo nas primeiras páginas, apresentamos uma reportagem especial sobre a COP 30, escrita em linguagem acessível e envolvente, explicando a importância desse evento de magnitude global e o papel fundamental de Belém nesse cenário. É um convite para compreender como a cidade se prepara para receber o mundo e mostrar toda a sua força, beleza e diversidade.

Ao longo da edição, o leitor encontra matérias que exaltam a identidade e a criatividade do Pará. Entre elas, uma viagem pela história fascinante do “Mercado de São Brás”; a celebração dos ritmos e sons em “O Pará em Todas as Frequências”, que valoriza a riqueza da nossa música; e o

destaque para “Amazônia Vestida”, que revela o protagonismo da moda e do design paraense em um momento de expansão e reconhecimento nacional e internacional.

Outro destaque é a reportagem sobre a “Arquitetura Ribeirinha”, um retrato sensível dos mestres construtores, dos modos de vida e da estética que nasce do convívio com o rio, uma expressão autêntica da relação profunda entre o homem e a natureza amazônica.

Nesta edição, também trazemos uma imersão no universo do “Chocolate Paraense”, em uma conversa inspiradora com empreendedores que estão transformando o cacau cultivado no estado em um símbolo de excelência e sustentabilidade. A matéria mostra como o Pará se consolida como uma das principais origens de cacau fino do mundo, unindo inovação, tradição e respeito pela floresta.

E, para quem deseja descobrir o Pará em toda a sua pluralidade, apresentamos “O Pará Além do Mapa”, uma reportagem que revela como o turismo paraense se consolida como uma experiência completa.

Assim, chegamos à edição de número 72 da Revista LiV, reafirmando nosso compromisso de contar histórias que inspiram, encantam e conectam o leitor com o melhor do Pará, um lugar onde tradição e futuro se encontram, e onde viver é descobrir um mundo inteiro.

Um forte abraço, leia e divirta-se!!!

EDIÇÃO, CRIAÇÃO E REALIZAÇÃO

Nex Creative

DIRETOR EDITORIAL

André Leal Moreira

PROJETO GRÁFICO

Nex Creative

DIREÇÃO DE ARTE

Dheremi Vale

EDITOR RESPONSÁVEL Otávio Marcos

PRODUÇÃO EDITORIAL

Ana Paula Guedes, Bianca Rodrigues, Fernanda Cavalcante, Ingrid Rocha e Mateus Simões. FOTOGRAFIA

Leonardo Lima, Agência Belém e Agência Pará

FOTO DE CAPA

Luiz Braga

ILUSTRAÇÃO

Dheremi Vale FINANCEIRO

Daniela Lins +55 91 98407-6661 financeiro@nexempresarial.com.br COMERCIAL

Ingrid Rocha +55 91 98407-3042 marketing@nexempresarial.com.br

Marina Fampa +55 91 98769-1661

FALE CONOSCO: +55 91 9135-7120 www.portalliv.com instagram.com/portalerevistaliv

IMPRESSÃO

Gráfica Aquarela

LiV é uma publicação da NEX Empresarial. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem autorização.

Com programas como o E+ Geladeira, o Luz

Para Todos e a transformação digital, promovemos eficiência, dignidade e futuro Porque acreditamos que o amanhã começa agora.

A culinária amazônica conquista o mundo com ingredientes que contam histórias e expressam território, unindo saberes tradicionais e técnicas contemporâneas em uma cozinha biodiversa e identitária.

Amazonian cuisine is conquering the world with ingredients that tell stories and express territory, blending traditional knowledge with contemporary techniques in a cuisine rooted in biodiversity and identity.

Gourmet

Cop 30

Reportagem em linguagem clara explica o que é a conferência, suas expectativas para o Pará e o Brasil em 2025, e o legado ambiental, social e econômico que deixará.

Reporting in clear language explains what the conference is, what it means for Pará and Brazil in 2025, and the environmental, social, and economic legacy it is expected to leave behind.

Fotógrafos paraenses desafiam estereótipos e revelam uma Amazônia sensível e múltipla, transformando a imagem em narrativa e resistência.

Photographers from Pará challenge stereotypes and reveal a sensitive and multifaceted Amazon, transforming the image into both narrative and resistance.

Matéria Especial

Música

Especial

Matéria

Da erudição às aparelhagens, a cena paraense celebra a diversidade sonora e revela a música como expressão viva, plural e autêntica do povo.

From classical music to sound systems, Pará’s music scene celebrates sonic diversity and presents music as a living, plural, and authentic expression of its people.

72

O cacau paraense ganha o mundo como símbolo de excelência e sustentabilidade, transformando o sabor da floresta em economia criativa e identidade cultural.

Cocoa from Pará is conquering the world as a symbol of excellence and sustainability, transforming the flavor of the forest into creative economy and cultural identity.

42

O Mercado de São Brás renasce como patrimônio vivo de Belém, onde memória e modernidade se entrelaçam em arquitetura com alma e pertencimento.

The São Brás Market is reborn as a living heritage of Belém, where memory and modernity intertwine in an architecture of soul and belonging.

Casa LiV pág • 36

Moda pág • 52

LiV Pelo Mundo pág • 66

Publieditorial pág • 78

Especial pág • 92 e 100

ESCREVERAM NESTA EDIÇÃO:

Bianca Rodrigues

Camila Barbalho

Cassio Leal

Elck Oliveira

Fernanda Cavalcante

Jessica Gatti

Yan Caldeira

“Indico visitar o Museu da Amazônia e a exposição de Sebastião Salgado, que foi inaugurada no Porto Futuro 2. A mostra é extraordinária, de fato. Trata-se da maior exposição já dedicada ao trabalho de Sebastião Salgado. Suas fotografias e sua perspectiva sobre a Amazônia evocam nossa ancestralidade e despertam um profundo sentimento de orgulho por viver, residir e pertencer a esta região”.

“I intend to visit the Museu das Amazônias and the Sebastião Salgado exhibition that opened at Porto Futuro 2 this week. It’s incredible, incredible. It’s the biggest Sebastião Salgado exhibition that has ever been done. His photos and his perspective on the Amazon refer to all our ancestry and make me incredibly proud to live, reside, and be here in this region”.

“Um dos lugares que melhor representam tudo o que amo no Pará é o Restaurante Casa de Saulo. Cada prato ali é uma verdadeira celebração dos sabores amazônicos, preparados com ingredientes da nossa floresta e apresentados com a riqueza da cultura paraense. Mais do que uma experiência gastronômica, é uma imersão profunda na identidade e na alma do nosso estado”.

“One of the places that best represents everything I love about Pará is the Casa de Saulo Restaurant. Each dish there is a true celebration of Amazonian flavors, prepared with ingredients from our forest and presented with the richness of Pará’s culture. More than just a culinary experience, it’s a deep immersion into the identity and soul of our state”.

Denis Paes Barreto – Médico, especialista em IA e estrategista Win @denispb
Geruza Fonseca - Digital influencer @geruzafonseca
Museu das Amazônias
Exposição - Sebastião Salgado
Restaurante Casa do Saulo

“Belém é uma cidade de personalidade. Nossa cultura é marca registrada, e acredito ser o que mais gosto aqui: a cultura, em especial a culinária. Sempre gosto de indicar restaurantes, como a Casa do Saulo, onde, além da comida, a vista é encantadora. Atravessando o Combu, há o Porto Combu e a Maloca do Orlando, que são minhas paradas preferidas! Quando quero algo mais noturno, frequento bastante o K Sushi e a Adega Dionísio. Finalizo com um domingo visitando a missa na Basílica de Nazaré e tomando um sorvete na Cairu”.

“Belém is a city full of character. Its culture is a defining trait, and I believe that’s what I enjoy most about living here, especially the local cuisine. I often recommend restaurants such as Casa do Saulo, where the food is excellent and the view is truly captivating. By crossing to Combu Island, you’ll find Porto Combu and Maloca do Orlando, my favorite spots. For a livelier evening, I frequently visit K Sushi and Adega Dionísio. I usually end my weekend with Sunday Mass at the Basilica of Nazaré, followed by an ice cream from Cairu”.

“O que eu mais amo no Pará é toda a efervescência cultural e as características únicas que nunca se perderam em meio ao mundo cosmopolita: nosso jeito de falar, nossa herança indígena na gastronomia, nossos ritmos pan-amazônicos com influência caribenha, nosso contato com o rio e o verde. Tudo no Pará é marcante. Eu amo poder atravessar o rio e, em dez minutos, estar na Ilha do Combu, tomando uma Tijuquinha gelada, comendo Filhote no Tucupi, ouvindo um bom brega e, depois, ver a chuva cair. É um privilégio viver na Amazônia”.

“What I love most about Pará is its vibrant cultural energy and the unique traits that have remained intact despite the influence of a cosmopolitan world: our way of speaking, our Indigenous culinary heritage, our pan-Amazonian rhythms infused with Caribbean influences, and our deep connection to the river and the forest. Everything about Pará is striking. I love being able to cross the river and, in just ten minutes, arrive at Ilha do Combu, sipping a cold Tijuquinha, eating Filhote no Tucupi, enjoying good brega music, and then watching the rain fall. Living in the Amazon is a privilegie”.

Jader Barbalho Neto – Coordenador Comercial do Grupo RBA @jaderfbneto
Luly Mendonça - Digital influencer @lulymendonca
Ilha do Combu
Pratos típicos paraenses

Seu José Oliveira, 1975 Seu José Oliveira, 2025

Em 50 anos, a perseverança e a dedicação aos nossos clientes não mudaram nem por 1 segundo.

Vem fazer valer! Vem fazer Formosa!

Belém e a COP 30: a Amazônia no centro das decisões globais sobre o clima Belém and COP 30: the Amazon at the heart of global climate decisions

Infraestrutura, inclusão social e sustentabilidade transformam a capital paraense em símbolo mundial da luta contra as mudanças climáticas e marcam o início de um legado duradouro para o Pará, o Brasil e o planeta

Infrastructure, social inclusion, and sustainability are transforming the capital of Pará into a global symbol of the fight against climate change, marking the beginning of a lasting legacy for Pará, Brazil, and the planet

Belém é uma das cidades mais emblemáticas do Brasil, não apenas por sua história e localização estratégica, mas também pelo papel relevante que desempenha na cultura, economia e turismo da Região Norte. Fundada em 12 de janeiro de 1616, a capital paraense carrega mais de 400 anos de história, marcada por suas origens como cidade portuária e por um contínuo processo de desenvolvimento. Hoje, é uma das maiores cidades da Amazônia e a principal porta de entrada para a região.

Belém is one of Brazil’s most emblematic cities, not only because of its history and strategic location but also due to the important role it plays in the culture, economy, and tourism of the Northern Region. Founded on January 12, 1616, the capital of Pará carries over 400 years of history, shaped by its origins as a port city and a continuous process of development. Today, it is one of the largest cities in the Amazon and the main gateway to the region.

Em novembro de 2025, Belém é palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), um dos eventos globais mais importantes sobre o tema, presidido pelo Brasil. A cidade foi a única candidata brasileira após o país apresentar oficialmente sua proposta no final do ano anterior. Em maio deste ano, a candidatura foi acolhida pelos países da América Latina e do Caribe, colocando Belém e o Brasil sob os holofotes internacionais. A COP 30 reunirá líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil, com o objetivo de discutir soluções para enfrentar os desafios impostos pela crise climática.

O governador Helder Barbalho sublinha a importância de o Brasil sediar o evento na Amazônia e defende que a COP 30 vai além dos debates. “Nós queremos um compromisso: ver o discurso na prática e mais efetividade. “Nós queremos encontrar aqueles que, após dez anos do Acordo de Paris, terão aqui, em Belém, a oportunidade de checar se o que foi assinado em 2015 foi cumprido”, disse o governador.

A realização do evento movimenta grandes investimentos em áreas essenciais, como infraestrutura urbana, mobilidade, saneamento e turismo. Mais de 30 projetos foram executados, incluindo a modernização do Aeroporto Internacional de Belém, do terminal hidroviário e do Complexo Ver-o-Peso, além da requalificação de vias urbanas, ampliação do transporte público com corredores exclusivos e alternativas sustentáveis de mobilidade. Também foram criados e reformados espaços destinados a grandes eventos, como centros de convenções e auditórios.

Nesse clima de expectativa, muitos belenenses demonstram otimismo durante e após o evento. Seja pela oportunidade de lucrar com seus serviços durante a conferência, pela esperança de melhorias duradouras na infraestrutura da cidade ou pelo orgulho de ver Belém como palco internacional, o sentimento predominante é de entusiasmo.

“Finalmente algo tão importante para o mundo é realizado aqui no nosso estado. Já percebemos as transformações acontecendo, a cidade está mais bonita, com novos pontos turísticos para aproveitar nos fins de semana. Moradores que vivem próximos aos canais, por exemplo, sentem também uma diferença significativa, principalmente durante o período de chuvas.

In November 2025, Belém will host the 30th United Nations Climate Change Conference (COP 30), one of the most important global events on the topic, presided over by Brazil. The city was the only Brazilian candidate after the country officially presented its proposal at the end of the previous year.

In May this year, the candidacy was endorsed by the countries of Latin America and the Caribbean, placing Belém and Brazil in the international spotlight. COP 30 will bring together world leaders, scientists, non-governmental organizations, and representatives of civil society to discuss solutions to tackle the challenges posed by the climate crisis.

Governor Helder Barbalho emphasizes the importance of Brazil hosting the event in the Amazon and argues that COP 30 must go beyond speeches. “We want a commitment: to see speeches put into practice and more effectiveness. We want to meet those who, after ten years since the Paris Agreement, will have the opportunity here in Belém to check whether what was signed in 2015 has been fulfilled,” said the governor.

The event is driving major investments in essential areas such as urban infrastructure, mobility, sanitation, and tourism. More than 30 projects have been implemented, including the modernization of the Belém International Airport, the hydroterminal, and the Ver-o-Peso Complex, as well as the redevelopment of urban roads, expansion of public transport with exclusive lanes, and sustainable mobility alternatives. Spaces for large events, such as convention centers and auditoriums, have also been created and renovated.

Amid this atmosphere of anticipation, many residents of Belém express optimism both during and after the event. Whether due to the opportunity to profit from services during the conference, the hope for lasting improvements in the city’s infrastructure, or the pride of seeing Belém on the international stage, the prevailing feeling is one of enthusiasm.

“Finally something so important for the world is being held here in our state. We’re already seeing transformations take place, the city is more beautiful, with new tourist attractions to enjoy on the weekends. Residents living near the canals, for example, are also noticing a significant difference, especially during the rainy season. These are the improvements this event

Crianças brincando no Parque da Cidade

São essas melhorias que este evento está trazendo e que nos fazem acreditar que novos investimentos ainda virão”, comenta Tânia Miranda, moradora de Belém.

Entre os projetos de maior destaque está o Parque da Cidade. Com mais de 500 mil metros quadrados, o espaço abriga áreas de lazer e equipamentos esportivos, e vai receber a Blue Zone, voltada às negociações diplomáticas, e a Green Zone, destinada à participação da sociedade civil durante a COP 30.

Outro projeto emblemático é o Porto Futuro II, que reúne o Centro de Inovação e Bioeconomia, o Museu das Amazônidas e a Caixa Cultural, com a proposta de transformar a área em um polo de turismo, ciência e valorização da cultura amazônica. Destaca-se também o novo parque na Avenida Visconde de Souza Franco, que, ao longo de 1,2 km, integra mobilidade, lazer e sustentabilidade em uma área de 24 mil metros quadrados, com passarelas, painéis solares, brinquedos acessíveis e quiosques com banheiros e redários.

“O que mais me chama a atenção é como o espaço se tornou mais seguro para caminhar. Agora vemos senhores, senhoras, crianças, uma diversidade de pessoas aproveitando as várias opções de lazer. Tem brinquedos para as crianças, espaço para correr, para andar, até para usar patinete. Realmente ficou um lugar muito mais agradável. Eu já caminhava na Doca há muito tempo, e nunca imaginei que ela pudesse ficar tão bonita e acolhedora para a população, especialmente para nós, belenenses. É impressionante”, conta Betty Dopazo, frequentadora do espaço.

A avenida revitalizada conecta pontos turísticos importantes da cidade, como o Porto Futuro II, a Estação das Docas e o Ver-o-Rio, promovendo integração urbana e valorização dos espaços públicos.

Hana Ghassan, vice-governadora do Pará, ressalta o investimento superior a R$ 1 bilhão em obras de macrodrenagem e

is bringing, and they make us believe that more investments will still come,” says Tânia Miranda, resident of Belém.

Among the most prominent projects is Parque da Cidade, covering over 500,000 square meters. The space includes leisure areas and sports facilities and will host the Blue Zone, dedicated to diplomatic negotiations, and the Green Zone, intended for civil society participation during COP 30.

Another iconic project is Porto Futuro II, which includes the Centro de Inovação e Bioeconomia, the Museu das Amazônidas, and the Caixa Cultural, aiming to transform the area into a hub of tourism, science, and appreciation of Amazonian culture. Also noteworthy is the new park on Avenida Visconde de Souza Franco, which, along a 1.2 km stretch, integrates mobility, leisure, and sustainability across a 24,000-square-meter area with walkways, solar panels, accessible playgrounds, and kiosks with restrooms and hammock areas.

“What strikes me the most is how the space has become safer to walk in. Now we see elderly people, children, and a diverse range of people enjoying the many leisure op -

Mercado do Ver-o-Peso visto de cima
Requalificação da Avenida Duque de Caxias

saneamento, destacando o impacto positivo dessas ações na saúde pública e na qualidade de vida da população belenense.

“Esse é o legado que tanto desejamos, realizar obras que transformam a vida das pessoas. A entrega da maior estação de tratamento de esgoto do Pará mostra a dimensão e a importância dos investimentos feitos em Belém e em todo o estado”, destaca.

Maria Oliveira, residente do bairro Umarizal, acompanhou cada etapa da transformação. “Anos atrás, cheguei a sonhar que a Doca se tornava uma praça bonita.

tions. There are toys for kids, areas for running, walking, even using scooters. It really has become a much more pleasant place. I’ve been walking along the Doca for a long time, and I never imagined it could become this beautiful and welcoming for the population, especially for us in Belém. It’s impressive,” says Betty Dopazo, a frequent visitor.

Quando ouvi falar do projeto, não contive as lágrimas. Agora está incrível, coisa de outro nível. Quem viu como era antes sabe o quanto melhorou. E a gente também tem que fazer a nossa parte para conservar”, afirma.

Essas transformações beneficiam diretamente mais de 500 mil pessoas, melhorando a qualidade de vida, ampliando a rede de esgoto, reduzindo os riscos de alagamento e proporcionando uma cidade mais resiliente e preparada para o futuro. Ao relembrar as mudanças que ocorreram na comunidade ao longo dos anos, Karla Ramos, uma das moradoras do bairro da Terra Firme, compartilhou seu ponto de vista com entusiasmo.

The revitalized avenue connects important tourist attractions in the city, such as Porto Futuro II, Estação das Docas, and Ver-o-Rio, promoting urban integration and enhancing public spaces.

Hana Ghassan, vice-governor of Pará, highlights the investment of over R$ 1 billion in macro-drainage and sanitation works, emphasizing the positive impact of these actions on public health and the quality of life for the people of Belém.

“This is the legacy we’ve long wished for, carrying out works that transform people’s lives. The delivery of the largest sewage treatment plant in Pará shows the scale and importance of the investments made in Belém and across the state,” she highlights.

Maria Oliveira, a resident of the Umarizal neighborhood, followed every step of the transformation. “Years ago, I dreamed that the Doca would become a beautiful square. When I heard about the project, I couldn’t hold back the tears. Now it’s incredible, on another level. Anyone who saw what it was like before knows how much it has improved. And we also need to do our part to preserve it,” she says.

These transformations directly benefit over 500,000 people, improving quality of life, expanding the sewage network, reducing flood risks, and making the city more resilient and better prepared for the future.

Reflecting on the changes in her community over the years, Karla Ramos, a long-time resident of the Terra Firme neighborhood, shared her perspective with enthusiasm.

Canal revitalizado
Mercado de São Brás revitalizado

“Sou moradora daqui há 38 anos e posso te dizer com certeza: melhorou 100%. Antes era tudo muito precário, segurança ruim, só uma rua de acesso, nada de saneamento, os banheiros eram a céu aberto e a maré ainda invadia as casas. Era vergonhoso mesmo. Mas hoje é outra realidade: mais segurança, a linha de ônibus chegou, a qualidade de vida melhorou muito e até os imóveis se valorizaram. Cada pedaço de terra agora tem valor. Só coisa boa”, salientou a moradora.

Legado ambiental, social e econômico

O impacto da COP 30, no entanto, vai muito além da infraestrutura. A realização do evento em Belém representa uma oportunidade concreta de colocar a Amazônia no centro das discussões globais sobre o futuro do planeta, com reflexos diretos nas dimensões ambiental, social e econômica.

No campo ambiental, a conferência traz uma visibilidade internacional inédita para os desafios e as riquezas da floresta amazônica, fortalecendo políticas públicas voltadas à conservação e ao desenvolvimento sustentável. No aspecto social, destaca-se a valorização das comunidades tradicionais e dos povos indígenas, que terão espaço para contribuir com seus saberes ancestrais e participar ativamente das decisões que impactam seus territórios.

Já na esfera econômica, espera-se um impulso ao turismo sustentável, à geração de empregos, tanto temporários quanto permanentes e à atração de investimentos verdes capazes de transformar a realidade da região de forma duradoura.

Sediar a COP 30 transforma Belém em um símbolo global de esperança e resistência diante da crise climática. A cidade tem a oportunidade de mostrar ao mundo que não há solução possível para as mudanças do clima sem considerar a Amazônia, e que é viável conciliar crescimento econômico com preservação ambiental.

Mais do que um evento de relevância diplomática, a COP 30 representa uma oportunidade de transformação para Belém, para o Brasil e para a humanidade. Se bem conduzido, o legado deixado será profundo, estruturante e duradouro, beneficiando as atuais e futuras gerações.

“I’ve lived here for 38 years, and I can tell you for sure: it’s improved 100%. Before, everything was very precarious, poor security, only one access road, no sanitation, bathrooms in the open air, and the tide would still flood the houses. It was truly shameful. But today it’s a whole different reality: better security, a bus line arrived, quality of life has greatly improved, and even the property values have gone up. Every piece of land has value now. It’s all good things,” she emphasized.

Environmental, social, and economic legacy

The impact of COP 30, however, goes far beyond infrastructure. Hosting the event in Belém represents a concrete opportunity to place the Amazon at the center of global discussions about the planet’s future, with direct effects on environmental, social, and economic dimensions.

In environmental terms, the conference brings unprecedented international visibility to the challenges and wealth of the Amazon rainforest, strengthening public policies aimed at conservation and sustainable development. On the social side, it highlights the importance of traditional communities and Indigenous peoples, who will have a space to share their ancestral knowledge and actively participate in decisions that affect their territories.

Economically, a boost is expected for sustainable tourism, job creation, both temporary and permanent, and the attraction of green investments capable of transforming the region’s reality in a lasting way.

Hosting COP 30 turns Belém into a global symbol of hope and resistance in the face of the climate crisis. The city has the opportunity to show the world that no climate solution is possible without considering the Amazon and that it is indeed possible to reconcile economic growth with environmental preservation.

More than just a diplomatic milestone, COP 30 represents a transformative opportunity for Belém, for Brazil, and for humanity. If well-executed, the legacy it leaves behind will be deep, structural, and long-lasting, benefiting current and future generations.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Uma das maiores pistas de skate do Brasil foi construída em Belém
Novo Porto Futuro II foi lançado como uma extensão da Estação das Docas

Milton Cunha - Carnavalesco, cenógrafo e comentarista @miltoncunhaoficial

“Eu indico a maniçoba da Dona Fafá, que tem uma barraca de comidas deliciosas ali na Rua 13 de Maio, na Campina (bem no comecinho da rua). A melhor maniçoba do Pará! As iguarias são fantásticas, e eu recomendo. É na calçada mesmo, mas é o máximo, e ela é a rainha da hospitalidade paraense”.

“I recommend Dona Fafá’s maniçoba. She has a stall with delicious food on 13 de Maio Street, in Campina (right at the beginning of the street). It’s the best maniçoba in Pará! The dishes are fantastic, I highly recommend it. Although it’s just a sidewalk stall, it’s amazing, and she truly is the queen of Pará-style hospitality”.

“Eu gosto muito de ir ao Ver-o-Peso. Sempre começo pelo Bom do Pará, onde tomo um suco. Lá tem todos os sabores da Amazônia, desde o araçá até outros que eu adoro. Depois, sigo para o box 49 da Fátima e, em seguida, passo na barraca da Dona Carmelita, que é um verdadeiro patrimônio do Ver-o-Peso. Ela está lá há mais de 45 anos e conhece, como ninguém, as ervas e frutas da região. Sempre que estou por lá, fotografando meu trabalho ou fazendo editoriais, me sinto em casa. O ambiente é muito familiar. As barracas são passadas de geração em geração, do pai para a mãe, até a quarta geração. Para mim, é o lugar mais cosmopolita de Belém”.

Mercado do Ver-o-Peso

“I truly enjoy visiting Ver-o-Peso. I usually begin at Bom do Pará for a juice, they offer all the Amazonian flavors, from araçá to many others I love. Then I stop by Box 49 da Fátima, and afterward, I head to Dona Carmelita’s stand, which is a true Ver-o-Peso landmark. She has been there for over 45 years and has an impressive knowledge of Amazonian herbs and fruits. Whenever I’m there taking photos of my work or producing editorials, the environment feels very familiar. The stands are often passed down from parent to child, sometimes through four generations. To me, it is the most cosmopolitan place in Belém”.

Maniçoba é um dos pratos típicos
Dona Fafá é famosa em Belém pela sua culinária
Dina Carmona - Digital influencer @dina_carmona

"O que eu mais gosto em Belém é pegar o barco e ir pro Combu, almoçar num restaurantezinho ali, comer um peixe fresco e passar a tarde dentro do rio. Não tem nada igual, é uma paz, um prazer simples, mas que é demais".

"What I like most about Belém is taking the boat and going to Combu, having lunch in a little restaurant there, eating fresh fish and spending the afternoon on the river. There’s nothing like it, it’s peace, a simple pleasure, but it’s great".

“Eu quero indicar um lugar incrível, especialmente dedicado às artes visuais: o Centro Cultural Bienal das Amazônias, aqui em Belém. Se você gosta de arte, fotografia e arquitetura, assim como eu, precisa conhecer. O ambiente inteiro respira criatividade, inspiração e troca. É mais do que um espaço, é uma experiência que vale muito a pena. Eu recomendo de verdade”.

“I want to recommend an amazing place, especially dedicated to the visual arts: the Bienal das Amazônias Cultural Center, here in Belém. If you enjoy art, photography, and architecture like I do you truly need to check it out. The entire space radiates creativity, inspiration, and exchange. It’s more than just a venue, it’s an experience genuinely worth having. I wholeheartedly recommend it”.

Murilo Couto – Ator e comediante @murilocouto
Mateus Simões - Profissional de marketing @mateusvsimoes
Tambaqui assado na brasa
Ilha do Combu
Exposição no Centro Cultural Bienal das Amazônias

O que é que a cozinha da Amazônia tem?

What is it about Amazonian cuisine?

Chefs locais, reconhecidos nacional e internacionalmente, falam sobre os diferenciais dessa gastronomia regional que, a cada dia, se torna mais universal

Local chefs, recognized both nationally and internationally, talk about the unique aspects of this regional gastronomy that, day by day, is becoming more universal

Recentemente, um vídeo do chef de cozinha Olivier Anquier viralizou nas redes sociais. Nascido na França e radicado no Brasil há muitos anos, nesse material, o chef é perguntado sobre qual ele considera a comida “mais brasileira” de todas. Sem titubear, responde: tacacá. E explica que o tacacá é feito com tucupi, um caldo amarelo extraído da mandioca, um ingrediente tipicamente brasileiro e de grande ligação com nossos povos originários; camarão seco, que representaria a “intervenção” portuguesa nessa culinária, ou seja, o toque do colonizador e, por fim, a folha do jambu, o verde, que lembra a força da nossa floresta, da Amazônia.

Recently, a video of chef Olivier Anquier went viral on social media. Born in France and living in Brazil for many years, in the video he is asked which dish he considers to be “the most Brazilian” of all. Without hesitation, he answers: tacacá. He goes on to explain that tacacá is made with tucupi, a yellow broth extracted from manioc, a typically Brazilian ingredient deeply connected to our Indigenous peoples; dried shrimp, which represents the Portuguese “intervention” in this cuisine, that is, the touch of the colonizer, and finally, jambu leaves, the green element that evokes the strength of our forest, of the Amazon.

Tacacá é um dos símbolos gastronômicos do Pará

O que chama a atenção do chef Olivier é algo que os nossos cozinheiros locais já conhecem e preparam há muito tempo. Não apenas o tacacá, mas dezenas de outros pratos aqui elaborados mostram para o Brasil e para o mundo, de maneira simples e genuína, a riqueza dos ingredientes e das misturas que podem ser consumidas a partir dos insumos encontrados nessa terra. A chamada culinária amazônica é uma experiência indispensável para quem quer conhecer o Brasil mais profundo.

É exatamente assim que pensa a chef paraense Daniela Martins, de 49 anos. Com 17 anos de experiência, Daniela é filha de Paulo Martins, um dos primeiros cozinheiros a apresentar a gastronomia do Pará e da Amazônia para o mundo. Foi com o pai que Daniela deu os primeiros passos na cozinha. “Então, a minha formação é muito mais uma formação de vida do que de escola”, resume.

E, claro, foi com ele que Daniela aprendeu a apreciar os ingredientes locais, únicos, como o tucupi, que o chef francês Olivier Anquier tanto enaltece ao falar sobre a culinária brasileira. “Não tem como falar do Pará, da Amazônia, e não mencionar os nossos ingredientes. Nós temos inúmeros ingredientes especiais, que são únicos na Amazônia. O queridinho, para mim, é o tucupi, que é um sabor que explode na boca, um sabor completo, que vai do doce ao ácido. Eu digo que um bom tucupi é aquele que entra altamente ácido na boca e vai descendo adocicado. Então, sim, esse é um ingrediente que eu uso de forma clássica e, também, de forma autoral”, explica.

Para Daniela, a biodiversidade existente na região protagoniza os pratos produzidos aqui, nessa parte do país. “Quando se fala de comida amazônica, nós temos desde a formiga como ingrediente até o açaí, que é uma fruta da qual a gente tira o suco, o caroço, com todo aquele cuidado que se deve ter. Ou seja, a gente encontra desde a raiz até a folha para comer. A gente come a planta inteira, basicamente. Então, se não fosse isso, a gastronomia amazônica jamais seria a gastronomia mais falada do mundo hoje. E é isso que acontece: nós somos a gastronomia mais falada do mundo”, acredita.

What catches Chef Olivier’s attention is something our local cooks have known and practiced for a long time. Not only tacacá, but dozens of other dishes created here showcase to Brazil and the world, in a simple and genuine way, the richness of ingredients and combinations that can be enjoyed from the produce found in this land. The so-called Amazonian cuisine is an essential experience for anyone wanting to truly understand the deeper Brazil.

That’s exactly how 49-year-old Pará-born chef Daniela Martins sees it. With 17 years of experience, Daniela is the daughter of Paulo Martins, one of the first chefs to introduce the cuisine of Pará and the Amazon to the world. It was with her father that Daniela took her first steps in the kitchen. “So, my training is much more a life education than formal schooling,” she sums up.

And, of course, it was with him that Daniela learned to appreciate local, unique ingredients like tucupi, the very ingredient French chef Olivier Anquier highlights when talking about Brazilian cuisine. “You can’t talk about Pará, about the Amazon, without mentioning our ingredients. We have countless special ingredients that are unique to the Amazon. My personal favorite is tucupi, which is a flavor that explodes in your mouth, a full-bodied taste that ranges from sweet to acidic. I say that a good tucupi is one that enters your mouth highly acidic and goes down with a sweet finish. So yes, this is an ingredient I use both in classic preparations and in more creative, signature ways,” she explains.

For Daniela, the region’s biodiversity takes center stage in the dishes created in this part of the country. “When we talk about Amazonian food, we go from ants being used as ingredients to açaí, a fruit from which we extract the juice and even use the seed, all with the care it requires. In other words, we use everything, from the root to the leaf, for food. We basically eat the whole plant. Without that, Amazonian cuisine would never be the most talked-about cuisine in the world today. And that’s exactly what’s happening, we are the most talked-about cuisine in the world,” she believes.

Chef Daniela Martins

Daniela também diz que aprendeu, em casa, a usar os insumos da cozinha paraense de maneira clássica, mas sem deixar de abrir as portas para novas possibilidades, o que faz com que a nossa gastronomia seja, cada vez mais, universal. “Eu nasci em uma família na qual sempre valorizamos muito o ingrediente, a nossa comida. Então, para mim, é muito fácil respeitar o ingrediente. Por mais criações, por mais maneiras diferentes que a gente use o ingrediente, pra mim é muito tranquilo entender o ingrediente. Antes, eu não aceitava as pessoas usarem de maneiras diferentes da nossa e, hoje, eu entendo. Porque a gastronomia é isso: é pegar um ingrediente e saber transformá-lo sem perder as características, e é o que a maioria dos grandes chefs no Brasil agora faz. Aprendem, provam o ingrediente e fazem com que ele não perca sua principal característica, ou seja, transformam esses insumos em produtos maravilhosos. O ingrediente tem que continuar sendo ingrediente, mas ele também tem que ser modificado”.

“Foi assim quando, pela primeira vez, me desafiaram a fazer um brigadeiro de tucupi. Para mim, foi uma coisa estranha, mas hoje eu faço de boa. Porque, tucupi, para mim, era uma coisa que se tomava altamente quente, jamais seria colocado num doce. Então, a gente tem que ir quebrando os tabus, porque o mundo evolui e a nossa gastronomia tem que evoluir junto”, analisa.

Culinária de raiz amazônica

Outro expoente da chamada gastronomia amazônica é o chef, agricultor e pesquisador da cultura alimentar amazônica, Léo Modesto. Ele é reconhecido por valorizar técnicas ancestrais de preparo, como o avuado e o moqueado. Natural da comunidade de Itajuba, no município de Curuçá, nordeste paraense, Léo cresceu em uma família de agricultores e aprendeu a cozinhar com sua mãe desde cedo, absorvendo os saberes tradicionais da culinária amazônica. Aos 18 anos, mudou-se para Belém em busca de novas oportunidades, onde iniciou sua trajetória na gastronomia.

Hoje, aos 39 anos, Léo define seu trabalho como “algo que se tornou um propósito de vida”. Assim, embora não seja dono de restaurante, está envolvido com a agricultura familiar por meio de projetos específicos e faz da mandioca

Daniela also says she learned at home to use Pará’s culinary ingredients in classic ways, while still keeping the door open to new possibilities, a factor that helps make our cuisine increasingly universal. “I was born into a family that always deeply valued our ingredients, our food. So, for me, it’s very natural to respect ingredients. No matter how many new creations or different ways we use them, it’s easy for me to understand the ingredient. In the past, I didn’t accept people using them in ways different from our own, but today I get it. Because that’s what gastronomy is, taking an ingredient and transforming it, without losing its essence. And that’s what most of the top chefs in Brazil are doing now. They learn about the ingredient, they taste it, and they manage to preserve its main characteristics, they transform these raw materials into something wonderful. An ingredient should remain an ingredient, but it also needs to be transformed".

“That’s what happened the first time I was challenged to make a tucupi brigadeiro. At first, it seemed strange to me, but today I make it easily. Because tucupi, to me, was something you only had piping hot, it would never be used in a dessert. So we need to break those taboos, because the world evolves, and our gastronomy has to evolve with it,” she reflects.

Amazonian root cuisine

Another prominent figure in the so-called Amazonian gastronomy is chef, farmer, and researcher of Amazonian food culture, Léo Modesto. He is known for honoring ancestral cooking techniques such as avuado and moqueado.

Born in the community of Itajuba, in the municipality of Curuçá, in northeastern Pará, Léo grew up in a family of farmers and learned to cook from his mother at an early age, absorbing the traditional knowledge of Amazonian cuisine. At 18, he moved to Belém in search of new opportunities, where he began his journey in gastronomy.

Now at 39 years old, Léo defines his work as “something that has become a life purpose". Although he doesn’t own a restaurant, he is deeply involved in family farming through specific projects, and cassava (manioc) is his flagship ingredient. “If you hand me a raw cassava, I can extract tucupi, and from that versatile

Prato feito com peixe filhote pelo chef Léo Modesto
Chef Léo Modesto

o seu carro-chefe. “Se me der uma mandioca crua assim, eu consigo extrair o tucupi, que é justamente para, a partir desse caldo versátil, fazer qualquer receita, seja ela uma entrada, um prato principal ou até uma sobremesa. Então, nesse sentido, eu posso, sim, afirmar que a biodiversidade amazônica se reflete nos nossos pratos sempre, a todo momento. Reflete tanto, ao ponto de a gente conseguir, hoje, ter uma identidade única. Há alguns anos, o filé com fritas dominava em qualquer restaurante. Hoje, todos os gestores de restaurantes, até de culinárias europeias, como a italiana ou francesa, se adaptam, ou seja, têm que se adequar aos nossos ingredientes. Hoje, não há um restaurante que não tenha um ingrediente amazônico, seja qual for a vertente”, afirma.

E, já que falou em tucupi, para Léo, a mandioca é a verdadeira “rainha do Brasil”, pela versatilidade que permite a produção de alguns itens preciosos, como o já aclamado tucupi. “Não à toa, o chef Paulo Martins já dizia que o tucupi seria o shoyu do século XXI, um shoyu que não precisa ter aquela caramelização, aquela cor escura, para ter todos os sabores”, detalha.

O chef ressalta ainda que a gastronomia amazônica se diferencia justamente pela riqueza e variedade de insumos, que foram sendo trabalhados de maneiras distintas com o passar do tempo. “Penso que a nossa gastronomia é, de fato, uma conjuntura de vários fatores culturais e alimentares, sejam eles de raiz indígena, de matriz africana ou europeia. Então, a gente tem concentradas, aqui no nosso território, as três matrizes da culinária. Logo, tem algo muito único e próprio. Fomos criando o próprio paladar e a própria identidade, adaptando principalmente ingredientes que poderiam ser feitos em qualquer parte do mundo, mas que a gente adaptou ao nosso molde, aos nossos gostos”, avalia.

Expandindo a culinária Italo-amazônica

Uma mistura única. É assim que podemos definir o trabalho da chef Ângela Sicília, especialista nas cozinhas italiana e amazônica. Atuando no ramo há mais de 30 anos, ela cresceu entre as panelas da Famiglia Sicília, restaurante fundado pelos meus pais, onde aprendeu a cozinhar e a acumular histórias -, define o seu trabalho como uma “gastronomia ítalo-amazônica”, que une a “técnica e a tradição italiana à exuberância dos ingredientes da floresta”.

broth, I can make any recipe, whether it’s a starter, a main course, or even a dessert. So, in that sense, I can absolutely say that Amazonian biodiversity is always reflected in our dishes. It’s present at all times. It’s reflected so strongly that today, we’ve been able to establish a unique identity. A few years ago, steak and fries dominated the menu of any restaurant. Today, all restaurant managers, even those serving European cuisines like Italian or French, are adapting. They have to incorporate our ingredients. There’s not a single restaurant now that doesn’t include at least one Amazonian ingredient, regardless of its culinary style,” he states.

And since tucupi came up, for Léo, cassava is truly the “queen of Brazil” because of its versatility, which allows for the creation of several valuable products, one of them being the already acclaimed tucupi. “It’s no coincidence that Chef Paulo Martins used to say tucupi would be the soy sauce of the 21st century, a soy sauce that doesn’t need caramelization or a dark color to have all that depth of flavor,” he explains.

Chef Léo also emphasizes that Amazonian gastronomy stands out precisely because of the richness and variety of its ingredients, which have been developed and transformed in different ways over time. “I believe our cuisine is truly a convergence of various cultural and culinary influences, whether of Indigenous origin, African heritage, or European roots. Here in our territory, we have all three culinary lineages concentrated, which makes it something truly unique and distinct. We’ve created our own taste and identity by adapting ingredients that could be found or prepared anywhere in the world, but we shaped them to fit our mold, our preferences,” he reflects.

Expanding Italo-amazonian cuisine

A unique fusion, that’s how we can define the work of chef Ângela Sicília, a specialist in both Italian and Amazonian cuisines. With more than 30 years of experience in the field, having grown up among the pots and pans of Famiglia Sicília, the restaurant founded by her parents, where she learned to cook and gathered countless stories, she defines her work as “Italo-Amazonian gastronomy,” combining “Italian technique and tradition with the exuberance of forest ingredients".

Drink regional criado pela chef Ângela Sicilia
Ângela Sicilia

“Meu propósito é manter vivas as raízes amazônicas enquanto apresento essa gastronomia ao Brasil e ao mundo. Levar a Amazônia à mesa de forma contemporânea e elegante é um desafio constante, mas também uma missão que me inspira diariamente. Participo de festivais e eventos gastronômicos nacionais e internacionais, mostrando que a cozinha ítalo-amazônica pode dialogar com qualquer cultura, sem perder sua autenticidade e força sensorial”, aponta.

Para Ângela, a gastronomia amazônica é uma das mais ricas expressões culturais do mundo. “É uma cozinha viva, generosa e diversa, que reflete o encontro entre o homem e a natureza”, detalha. E essa exuberância, segundo a chef, se mostra na grandiosidade de ingredientes como o jambu, o tucupi, o pirarucu, o filhote, o cupuaçu, o bacuri e a castanha-do-Pará. “Tenho um carinho particular pelo chocolate amazônico de origem, com o qual trabalho através da Gaudens Chocolates, valorizando o terroir do cacau paraense e os produtores locais”, acrescenta.

De acordo com ela, é a biodiversidade amazônica que dita a forma de cozinhar nessa região e até o ritmo do trabalho. “Cada prato é um tributo à floresta e às comunidades que preservam seu saber. Cozinhar na Amazônia é um ato de respeito, de conexão e de responsabilidade com o meio ambiente”, resume.

Uma cozinha ‘fácil’

Assim como ocorre com outros chefs já citados nesta matéria, a mandioca (e seus subprodutos) também é a menina dos olhos do chef paraense Thiago Castanho, um belenense, filho de mãe bragantina e pai itaitubense. Ele lembra que a família sempre gostou de cozinhar muito, e, entre os ingredientes preferidos, lá estava ela, a mandioca, ao lado de peixes variados, frutas amazônicas, entre outros.

Aos poucos, à medida que a carreira foi amadurecendo, Thiago foi percebendo a mudança na forma como o mundo passou a ver os insumos amazônicos e a se apropriar deles também.

“Hoje, felizmente, a coisa mudou. Antes, a gastronomia amazônica era algo muito nichado da alta gastronomia. Pouco se olhava para o Norte e poucas pessoas conheciam. Na verdade, o que se conhecia era meio que uma versão de luxo, de colocar a Amazônia como um ingrediente para se usar em pratos pequenos. E tinha também o lado típico da Amazônia, que era a coisa pitoresca da comida daqui. Hoje, se mostra muito mais, graças às redes sociais e, principalmente, a todo o trabalho que foi feito por chefs como Paulo Martins, eu, Saulo [Jennings], entre outras pessoas que vêm fazendo esse trabalho de divulgação. Então, as pessoas lá fora estão vendo o que é a real cultura daqui, tanto no lado gastronômico quanto no lado culinário. Hoje, por exemplo, já se entende que o açaí daqui é diferente do açaí que o mundo inteiro conhece; que a gente consome bastante mandioca, não só in natura, mas também como farinha, como tucupi, e a gente

“My purpose is to keep Amazonian roots alive while presenting this cuisine to Brazil and the world. Bringing the Amazon to the table in a contemporary and elegant way is a constant challenge, but it’s also a mission that inspires me every day. I take part in national and international culinary festivals and events, showing that Italo-Amazonian cuisine can engage with any culture without losing its authenticity and sensory power,” she explains.

For Ângela, Amazonian cuisine is one of the richest cultural expressions in the world. “It’s a living, generous, and diverse cuisine that reflects the connection between humans and nature,” she says. And this abundance, according to the chef, is revealed in the magnificence of ingredients such as jambu, tucupi, pirarucu, filhote, cupuaçu, bacuri, and Brazil nuts. “I have a special fondness for origin-certified Amazonian chocolate, which I work with through Gaudens Chocolates, highlighting the terroir of Pará’s cocoa and valuing local producers,” she adds.

According to her, it’s Amazonian biodiversity that shapes the way of cooking in this region, and even the pace of the work.

“Each dish is a tribute to the forest and to the communities that preserve its knowledge. Cooking in the Amazon is an act of respect, connection, and responsibility toward the environment,” she concludes.

An “easy” cuisine

Just like the other chefs mentioned in this article, cassava (and its byproducts) is also the pride and joy of chef Thiago Castanho , who hails from Belém and is the son of a mother from Bragança and a father from Itaituba. He recalls that his family has always loved cooking, and among their favorite ingredients was cassava, alongside various Amazonian fish, fruits, and more.

Gradually, as his career matured, Thiago began to notice a shift in how the world started to view Amazonian ingredientes, and how it began to embrace them as well.

“Today, thankfully, things have changed. Amazonian cuisine used to be very niche within fine dining. Hardly anyone looked toward the North, and very few people knew what we had here. What they did know was often a sort of ‘luxury’ version, the Amazon used as an exotic touch in tiny portions. There was also the ‘typical’ side, which portrayed our food as something picturesque or folkloric.

Nowadays, it’s much more visible, thanks to social media and especially to the work done by chefs like Paulo Martins, myself, Saulo [Jennings], and others who have been promoting it. So now, people abroad are beginning to understand what our real culture is, both gastronomically and culinarily. For example, people now recognize that the açaí from here is different from the açaí the rest of the world knows. They see that we consume a lot of cassava, not only in its natural form, but also as flour, as tucupi,

defende isso. E eu acho que a comida paraense, de certa forma, desencadeia toda a comida da Amazônia, porque ela acaba desaguando tudo”, observa.

Para Thiago, de certa forma, é “fácil” cozinhar na Amazônia, por toda a riqueza de insumos que o território oferece.

“Nossa cozinha é fácil de cozinhar, né? Porque, em grande medida, nossos ancestrais já tiveram um trabalho enorme de descobrir alguns ingredientes, como é o caso da mandioca, que, para mim, é o ingrediente legítimo mais importante da nossa região. Mesmo tendo uma variedade que é venenosa, até hoje a gente consome essa mesma variedade e, até hoje, tucupi e farinha d’água são feitos dessa mandioca venenosa. Sem falar da maniva. Ou seja, sobre quantos subprodutos da mandioca podemos falar? E quantos ela ainda pode oferecer? Quantas receitas a gente não consegue fazer, por exemplo, com uma farinha d’água de Bragança? Então, esses são ingredientes que desencadeiam tanto receitas tradicionais quanto potenciais, como a gente aborda no Puba [restaurante que Thiago está abrindo em Belém], que são receitas do mundo inteiro, mas com ingredientes da região, tendo como base a mandioca. Então, ela é a nossa fonte, sim. E a nossa culinária é muito fácil de cozinhar. Eu costumo dizer que ela já está pronta da natureza. Ou seja, nós somos privilegiados”, argumenta Thiago.

Para ele, a COP 30, Conferência do Clima da ONU, que será sediada em Belém, também está abrindo ainda mais as portas da gastronomia da Amazônia para o mundo, o que é bom para todos.

“Acho que, para a gente que é daqui a COP já está acontecendo antes mesmo do evento. Muita gente já está rodando pela cidade e conhecendo a nossa região. E aí, todo mundo ganha: o turismo ganha, o mercado ganha, as pessoas aqui ganham e a gente tem que aproveitar isso. E perpetuar”, conclui.

and we stand by that. And I believe that Pará’s cuisine, in a way, sets the tone for all Amazonian cuisine, because it sort of flows out into everything,” he observes.

For Thiago, in a sense, cooking in the Amazon is “easy,” due to the immense wealth of natural ingredients available in the region.

“Our cuisine is easy to cook, right? Because, in many ways, our ancestors already did the hard work of discovering and mastering these ingredientes, like cassava, which for me is the single most important native ingredient in our region. Think about it: even though there’s a poisonous variety, we still consume it today, and tucupi and farinha d’água are still made from that same toxic cassava. Not to mention maniva. So how many cassava byproducts can we name? And how many more could we still discover? How many dishes can we create, for instance, using Bragança’s farinha d’água? These are ingredients that inspire both traditional recipes and innovative ones, like we’re working on at Puba [the restaurant Thiago is opening in Belém], where we create dishes from all over the world using local ingredients, with cassava as the base. So yes, it’s our foundation. And our cuisine is truly easy to cook. I like to say that it comes ready from nature. In other words, we are privileged,” Thiago explains.

In his view, the upcoming COP 30, the UN Climate Conference, which will be hosted this year in Belém, is also opening even more doors for Amazonian gastronomy on a global scale, and that benefits everyone.

“I think for us locals, COP is already happening, even before the actual event. A lot of people are already visiting the city and exploring our region. And that means everyone wins: tourism wins, the market wins, the people here win, and we have to take advantage of that. And make it last,” he concludes.

Chef Thiago Castanho

SUGESTÃO DE PRATO DE CADA CHEF:

DISH RECOMMENDATIONS FROM EACH CHEF:

Chef Ângela Sicília Filhote na farofa de castanha, com risoto de jambu.

Para acompanhar: Cupuaçu spritz, um coquetel leve e tropical que celebra o frescor e a identidade amazônica.

 Onde encontrar?

No restaurante Famiglia Sicília.

Endereço: Av. Conselheiro Furtado, 1420, Batista Campos, Belém, Pará.

Chef Ângela Sicília

Filhote crusted with Brazil nut farofa, served with jambu risotto.

Suggested pairing: Cupuaçu

Spritz , a light, tropical cocktail that celebrates the freshness and unique identity of the Amazon.

 Where to find it?

Famiglia Sicília Restaurant

Address: Av. Conselheiro Furtado, 1420, Batista Campos, Belém, Pará.

Chef Léo Modesto

Poqueca de pirarucu, com picles de maxixes no tucupi, tomates confit e farofa de beiju-xica.

Para acompanhar: Licores regionais.

 Onde encontrar?

Léo comanda os projetos Maniua Cozinha e Sítio Mearim, que unem gastronomia, agroecologia e sustentabilidade.

Chef Léo Modesto

Poqueca of pirarucu, served with pickled maxixe in tucupi, confit tomatoes, and beiju xica farofa.

Suggested drink: regional liqueurs.

 Where to find it?

Through the projects Maniua Cozinha and Sítio Mearim, led by Léo, which combine gastronomy, agroecology, and sustainability.

Chef Daniela Martins Arroz suíno ao shoyu amazônico.

Para acompanhar: Suco regional.

 Onde encontrar?

No “Lá em Casa Balcão” (Mercado de São Brás)

Chef Daniela Martins Pork rice with Amazonian soy sauce.

Suggested drink: A local fruit juice.

 Where to find it?

At “Lá em Casa Balcão,” located in the São Brás Market (Mercado de São Brás).

Chef Thiago Castanho Taco.

Para acompanhar: Vinhos da carta do Puba.

 Onde encontrar?

Endereço: Rua Veiga Cabral, 649, Cidade Velha, Belém, Pará.

Chef Thiago Castanho Taco.

Suggested drink: Wines from Puba’s curated wine list.

 Where to find it?

Rua Veiga Cabral, 649, Cidade Velha, Belém, Pará.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

“Minha indicação é uma tarde em Belém que explica a Amazônia em três atos. Comece às 17h30 na Estação das Docas, com um sorvete de cupuaçu, olhando o pôr do sol na Baía do Guajará. Depois, siga ao Mangal das Garças e suba ao mirante para ver a cidade entre palmeiras e telhados históricos. Quando escurecer, pegue uma catraia para o Combu. Jantar ribeirinho: filhote na brasa, piracuí e chocolate de origem, bioeconomia que mantém a floresta em pé e gera renda. Volte de voadeira pelo Guamá, com a lua guiando o caminho. É Belém em estado puro: gente, água e floresta na mesma experiência”.

“My recommendation is an afternoon in Belém that tells the story of the Amazon in three acts. Start at 5:30 p.m. at Estação das Docas, enjoying cupuaçu ice cream as you watch the sunset over Guajará Bay. Then, head to Mangal das Garças and climb the Mirante for a view of the city framed by palm trees and historic rooftops. As night falls, take a boat to Combu. Riverside dinner includes grilled pupunha, piracuí, and chocolate sourced from the bioeconomy, supporting both forest preservation and local livelihoods. Return by flying boat along the Guamá River, guided by the moonlight. This is Belém in its purest form: people, water, and forest united in a single experience”.

“É uma coisa que eu amo no Pará: tomar banho de cheiro lá do outro lado do rio, com seu Paulo Arara, no Acará. Para mim, é um passeio muito importante, e eu o faço muitas vezes. Se você for no meu Instagram, tem vários vídeos sobre isso, tem até um destaque!”.

“One thing I love about Pará is taking a banho de cheiro on the other side of the river, with Seu Paulo Arara in Acará. For me, it’s a truly special experience, and I do it regularly. If you check my Instagram, you’ll find several videos about it. I even have a highlight dedicated to it”.

Trisha Guimarães - Jornalista @trishaguimaraes
Giussepp Mendes - Advogado @giussepp_mendes
Visão do pôr do sol na Estação das Docas
Mangal das Garças
Banho de cheiro feito pelo Paulo Arara

“Minha dica é o espaço Cuíra, na Casa Cuíra, localizada na Doutor Malcher, 287, Cidade Velha. Lá acontecem várias apresentações, e destaco a peça Dorotéia, um clássico de Nelson Rodrigues. A montagem será apresentada pelo Grupo Cuíra e pelo Grupo Gruta, com direção de Adriano Barroso e um elenco de qualidade, comandado pela atriz Zê Charone. É isso! Um ótimo espetáculo para assistir”.

“My recommendation is “Espaço Cuíra”, located at “Casa Cuíra”, 287 Doutor Malcher Street, in Cidade Velha. The venue hosts various performances, and I would like to highlight the play Dorotéia, a classic by Nelson Rodrigues. This production will be staged by “Grupo Cuíra and Grupo Gruta”, under the direction of Adriano Barroso, featuring a talented cast led by actress Zê Charone. It’s definitely a great show to see”.

“Sugiro um almoço agradável no restaurante Santa Chicória. Os chefs Paulo Anijar e Ilca Carmo são excelentes. Destaco o prato principal, filhote com risoto de jambu e tucupi, que é muito saboroso. Essa opção se alinha aos nossos produtos, à nossa culinária e à nossa cultura, o que considero positivo. Para finalizar, recomendo a sobremesa de bacuri, que é extraordinária. Um almoço em horário mais tardio, com vinho branco, o filhote e a sobremesa de bacuri, é uma experiência única”.

“My recommendation is a delightful lunch at Santa Chicória. The chefs, Paulo Anijar and Ilca Carmo, are outstanding. The fillet served with jambu and tucupi risotto is, in my opinion, exquisite. It truly reflects our local products, cuisine, and culture, and I find that remarkable. To crown the experience, there’s a bacuri dessert at the end, which is simply spectacular. Altogether, that late lunch, accompanied by white wine, the fillet, and finished with bacuri, is unparalleled”.

Edyr Proença - Escritor e jornalista @edyraugusto
Larissa Chady - Arquiteta @larissachady
Espaço Cuíra
Filhote com risoto de jambu e tucupi
Sobremesa de bacuri
Design com propósito: a essência sustentável de móveis que unem sofisticação, identidade e pertencimento
Design with purpose: the sustainable essence of furniture that unites sophistication, identity, and belonging

Há mais de 30 anos, a Perfini é uma referência na produção de móveis autorais que unem luxo e consciência, construindo um legado de beleza e propósito

For over 30 years, Perfini has been a reference in the creation of signature furniture that combines luxury with a legacy of awareness and beauty

Sob os olhos do mundo, Belém se reinventa e mostra que a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2025 (COP 30) é mais do que um debate, é transformação e legado. No coração da Amazônia, onde a sustentabilidade se tornou urgência e propósito, algumas marcas já carregam esse compromisso com elegância e consistência há décadas.

Under the eyes of the world, Belém is reinventing itself and proving that the United Nations Climate Change Conference 2025 (COP 30) is more than just a debate, it is about transformation and legacy. In the heart of the Amazon, where sustainability is both an urgency and a mission, some brands have embraced this responsibility with elegance and consistency for decades.

Referência na produção de móveis autorais, a Perfini é uma dessas histórias. Há mais de 30 anos, a marca transforma madeira nativa da Amazônia, proveniente de manejo florestal sustentável, em peças que não seguem tendências, mas atravessam o tempo, carregam memória, identidade, significado e, principalmente, a ideia de que o verdadeiro luxo se impõe pela sutileza.

À frente do empreendimento está a arquiteta Rosângela Gusmão Guimarães, uma das fundadoras da Perfini, que destaca o valor da marca:

“Acreditamos que o verdadeiro luxo não é ostentação, mas essência, autenticidade e consciência. Os produtos Perfini carregam valores imateriais como tempo, cultura, sustentabilidade e memória amazônica".

Conquistar autoridade no setor moveleiro é motivo de orgulho para ela, especialmente após os desafios enfrentados.

“Iniciei em um tempo em que o setor moveleiro era quase todo masculino. Não tínhamos acesso a máquinas, equipamentos, financiamentos ou logística, e atuar numa região distante dos grandes centros do país, sem mão de obra especializada, era um sonho quase impossível. Mas, desde cedo, aprendi com meus pais que autoridade e respeito se adquirem com conhecimento, ética e transparência. Sempre fui determinada e focada, seguia meu propósito com garra e fé em Deus, sabendo que a fé me levaria onde a razão não poderia alcançar".

“Tenho um sócio e esposo, o Fernando, meu grande incentivador, com quem divido todo o meu trabalho e sucesso desde 1991”, completa.

Móveis que contam histórias e deixam legado

A sustentabilidade está presente em todas as etapas de produção dos móveis. Ela começa com a escolha da madeira natural, que mantém a floresta viva e gera renda às comunidades. A energia utilizada vem de fonte renovável e de baixo impacto ambiental, aproveitando a luz do sol, que é um recurso inesgotável e não emite gases tóxicos. Há também gerenciamento de resíduos, máximo aproveitamento da matéria-prima e um design

A benchmark in signature furniture design for more than 30 years, Perfini is one of those legacy stories. Creating unique pieces from native Amazonian wood, sourced through sustainable forest management, the company produces furniture that does not follow fleeting trends, but transcends time. Each piece carries memory, identity, and meaning, grounded in the belief that true luxury lies in essence and subtlety.

At the helm is architect Rosângela Gusmão Guimarães, one of Perfini’s founders, who underscores the brand’s philosophy.

“We believe that true luxury is not about ostentation, but about essence, authenticity, and awareness. Perfini’s products embody intangible values such as time, culture, sustainability, and the memory of the Amazon,” she says.

For Rosângela, building a respected name in the furniture industry is a source of pride, especially considering the challenges she faced.

“I started at a time when the furniture industry was almost entirely male-dominated. There was limited access to machinery, equipment, financing, and logistics, and working in a region distant from Brazil’s main development hubs, with little specialized labor, made it almost an impossible dream. But I learned from my parents that authority and respect come through knowledge, ethics, and transparency. I’ve always been focused and determined, pursuing my purpose with strength and faith in God, knowing that faith would take me where reason could not,” Rosângela recalls.

“I have a partner and husband, Fernando, my greatest supporter, with whom I’ve shared all my work and success since 1991,” she adds.

Furniture that tells stories and leaves a legacy

Sustainability is present at every stage of Perfini’s production process, beginning with the selection of natural wood that supports forest conservation and generates income for local communities. The energy used in production comes from renewable, low-impact sources, especially sunlight, a clean and inexhaustible resource. Waste is efficiently managed, with maximum utilization of raw materials. The intelligent design philosophy centers on delivering real, long-lasting solutions for users.

Poltrona Arraia
Poltrona Boto Tauari

inteligente, pensado para oferecer soluções ao usuário com produtos duráveis e atemporais.

As peças da Perfini são únicas. Bordas e detalhes orgânicos, naturais da madeira utilizada, tornam cada móvel singular. Mais do que sustentável, cada design evidencia a identidade amazônica em sua essência.

A “poltrona Arraia”, por exemplo, é inspirada no nado sinuoso da arraia. Seu design tridimensional possui formas anatômicas que oferecem conforto envolvente e ergonômico, encantando o olhar e abraçando o corpo.

A “poltrona Boto” traz um toque lúdico, amazônico e sofisticado ao ambiente. Além do design que cativa, a peça proporciona uma experiência sensorial nas curvas e texturas esculpidas na madeira, que remetem às nadadeiras do animal.

Na cidade das mangueiras, outra criação que homenageia Belém é o “sofá Manga”. Suas curvas suaves, linhas e costuras carregam o cuidado de quem entende que design também é memória, afeto e pertencimento.

Para Rosângela, o design é uma ferramenta de transformação:

“A indústria do mobiliário, assim como as outras, tem o dever de repensar os materiais, processos e a durabilidade do que oferece ao mercado. O design pode regenerar, ressignificar, sensibilizar e educar o usuário, promovendo um diálogo entre consumo e pós-consumo numa relação direta com a natureza. Os produtos da Perfini contam histórias, valorizam o fazer manual, não são descartáveis. Juntos, plantamos a semente da consciência para a preservação da natureza".

A excelência do trabalho da Perfini ultrapassou as fronteiras do Pará e do Brasil. Um dos marcos da marca foi a participação no maior evento de design do mundo, o Salone del Mobile. Milano (iSaloni), realizado anualmente em Milão, na Itália, um palco global para o lançamento de tendências, novas linguagens estéticas e a consagração de grandes nomes do design.

Each piece designed by Perfini is one-of-a-kind. Organic edges and natural textures vary according to the wood used, and each design reflects the Amazon’s identity.

The Arraia Armchair, for instance, is inspired by the sinuous movement of a stingray. Its 3D form features anatomical curves that provide enveloping, ergonomic comfort, a piece that pleases the eye and embraces the body.

The Boto Chair is another standout, bringing a playful, Amazonian sophistication to any space. Beyond its striking aesthetic, the design engages the senses through carved textures and flowing lines that evoke the river dolphin’s fins.

In Belém, known as the “City of Mango Trees”, the Manga Sofa pays homage to the city’s charm. With smooth curves, thoughtful lines, and hand-finished stitching, the piece represents the understanding that design also speaks to memory, emotion, and a sense of belonging.

For Rosângela, design is a vehicle for transformation.

“The furniture industry, like all others, must rethink its materials, processes, and the durability of its products. Design is a transformative too, it can regenerate, reframe, sensitize, and educate the user, fostering a dialogue between consumption and post-consumption in direct relationship with nature. Perfini’s products tell stories, honor craftsmanship, and are not disposable. Together, we plant the seed of environmental awareness,” she emphasizes.

Perfini’s excellence has transcended Pará and Brazil, reaching international markets. One of its major milestones was participating in Salone del Mobile.Milano (iSaloni), the world’s largest design event, held annually in Milan, Italy. The fair is a global platform for innovation in furniture, lighting, and interior design, showcasing emerging trends, aesthetics, and creative excellence.

A COP 30 e o pertencimento

Em um momento em que o planeta busca soluções concretas para enfrentar a crise climática, a COP 30 na Amazônia surge como símbolo de urgência e esperança. Para marcas como a Perfini, a conferência é uma oportunidade de amplificar um trabalho que já vem sendo feito com responsabilidade e visão de futuro.

“A COP 30 é um marco para o mundo e, para nós, uma reafirmação do que já vivemos no dia a dia. A conferência reforça nosso compromisso em mostrar que a Amazônia é, sim, um celeiro de arte, cultura, biodiversidade e ancestralidade. Podemos construir um futuro com respeito aos povos amazônidas, gerar desenvolvimento com design, tecnologia, inovação e sustentabilidade. Este é o momento de reafirmar o nosso papel como ponte entre o design, a sociedade e a floresta".

“Estar na Amazônia é viver o impacto ambiental de perto, mas também olhar o impacto social, compreender a importância da floresta viva e valorizar as mãos de quem a preserva, e dos povos que nela habitam. É a oportunidade de mostrar ao mundo que podemos e devemos desenvolver com consciência, valorizando e respeitando as pessoas e seu habitat”, pondera Rosângela.

Olhar para o futuro

Atenta ao presente e ao que representa, a Perfini projeta um futuro de inspiração e conexão entre a natureza e a sociedade.

“Para o futuro, espero que representemos continuidade, propósito e legado. Que as gerações futuras nos vejam como uma marca que construiu pontes e diálogos entre o design e a natureza, entre passado e futuro. Conscientes de que a prosperidade é possível quando cuidamos do essencial, que é a vida, em todas as suas formas”, finaliza a arquiteta e designer.

COP 30 and pelonging

At a moment when the world seeks tangible solutions to the climate crisis, hosting COP 30 in the Amazon becomes both a symbol of urgency and a message of hope. For brands like Perfini, the conference is a chance to am plify work already being done with long-term responsibility and vision.

“COP 30 is a global milestone, and for us, it reaffirms what we already live each day. The conference reinforces our commitment to showing that the Amazon is a birthplace of art, culture, biodiversity, and ancestry and that we can build a future that respects Amazonian peoples, fosters development through design, technology, innovation, and sustainability.

This is a moment to reaffirm our role as a bridge between design, society, and the forest. That’s what belonging and responsibility mean. Living in the Amazon means experiencing environmental impact firsthand, but also recognizing the social impact, valuing the living forest, the hands that preserve it, and the communities that inhabit it. This is our opportunity to show the world that it is possible, and necessary, to pursue development with awareness, respecting and honoring people and their environment,” reflects Rosângela.

Looking to the future

With a deep understanding of who they are and what they represent, Perfini looks ahead with a sense of purpose and responsibility.

“For the future, I hope we represent continuity, purpose, and legacy. That future generations will see us as a brand that built bridges and dialogue between design and nature, between past and future, always aware that prosperity is only possible when we care for what is essential: life, in all its forms,” shares the architect and designer.

Poltrona Boto
Conheça esses e outros móveis da Perfini.
Sofá Manga
Daybed Enseada
Cadeira Remo
Discover these and other pieces by Perfini.

Da história à inovação: o reencontro com o Mercado de São Brás

From history to innovation: the reunion with Mercado de São Brás

O Mercado de São Brás é uma joia de ferro e memória no coração de Belém. Após a recuperação, ressurge como símbolo de patrimônio vivo, modernidade e pertencimento, sob a curadoria de Aurélio Meira

Mercado de São Brás is a jewel of iron and memory in the heart of Belém. After its restoration, it reemerges as a symbol of living heritage, modernity, and belonging, under the curation of Aurélio Meira

Olhares se encontram com o novo Mercado de São Brás, que um dia já foi símbolo de grandeza na Belle Époque, durante o século XX, quando sua idealização e concepção foram realizadas. Desde então, o espaço já passou por três requalificações ao longo de 114 anos, sendo a última concluída em 2024.

Mas, além de olhares, o mercado envolve histórias de sentimento afetivo e profissional que, um dia, iriam se conectar. E essa conexão foi significativa para o engenheiro e arquiteto Aurélio Meira, responsável pela requalificação que deu nova vida à edificação mais icônica de São Brás.

Gazes meet the new Mercado de São Brás, once a symbol of grandeur during the Belle Époque of the early 20th century, when it was first planned and conceived. Over its 114year history, the space has undergone three major restorations, the most recent completed in 2024.

Yet beyond the renewed architecture, the market embodies stories of emotional and professional connection, including the life path of civil engineer and architect Aurélio Meira, who led the rehabilitation that breathed new life into one of Belém’s most iconic landmarks.

“Sou belenense, tenho 73 anos e, portanto, 73 anos de contato visual com o Mercado de São Brás”, revela Aurélio, ao traçar a ponte entre memória e projeto. Mais do que um espaço arquitetônico, o mercado é um território afetivo, histórico e cultural, agora requalificado para abrigar gastronomia, cultura e lazer.

Patrimônio histórico e arquitetura metálica Inaugurado em 21 de maio de 1911, o Mercado de São Brás foi projetado pelo engenheiro italiano Filinto Santoro, também responsável por outras importantes construções em Belém. Sua construção foi impulsionada pela movimentação comercial gerada pela ferrovia Belém–Bragança, cujo ponto final era a estação de São Brás, tornando a área estratégica para o comércio de produtos.

Aurélio destaca a concepção original do mercado, projetado por Santoro, que utilizou estrutura metálica importada da Europa e elementos arquitetônicos que mesclam o art nouveau e o neoclássico, tornando o edifício um marco da Belle Époque paraense. Elementos como tijolos, cobertura, azulejos e treliças compõem uma arquitetura que sobreviveu ao tempo e às intervenções urbanas.

O arquiteto enfatiza que preservar a memória histórica foi essencial, mantendo a estética e preservando elementos importantes, como claraboias, ferro trabalhado, colunas e estruturas da parte externa do mercado.

“Eu não mexi no portão de entrada. Há um painel de azulejo nouveau, que é a coisa mais linda do mundo. Na frente, há duas cabeças de touro. Em intervenções anteriores, cometeram um crime e pintaram. Esses elementos, eu mantive para preservar a identidade do mercado”.

“I am from Belém, I am 73 years old, and therefore 73 years of visual contact with Mercado de São Brás,” reveals Aurélio Meira, drawing the bridge between memory and project. More than an architectural space, the market is an emotional, historical, and cultural territory, now rehabilitated to host gastronomy, culture, and leisure.

Historical heritage and metal architecture

Inaugurated on May 21, 1911, Mercado de São Brás was designed by Italian engineer Filinto Santoro, who also oversaw other important constructions in Belém.

Its development was spurred by the commercial activity generated by the Belém–Bragança railway, whose final stop was at the São Brás station, making the area a strategic trading point.

Aurélio highlights Santoro’s original design, which brought a metallic structure imported from Europe and incorporated architectural elements blending Art Nouveau and Neoclassical styles, establishing the market as a hallmark of Pará’s Belle Époque. Features like bricks, roofing, tiles, and trusses form an architectural composition that has withstood time and successive urban interventions.

He emphasizes that preserving historical memory was crucial to the restoration, maintaining the market’s aesthetics and key features such as skylights, wrought iron, columns, and structural elements.

“I did not touch the entrance gate. There is a Nouveau-style tile panel, which is the most beautiful thing in the world. At the front, there are two bull heads; in previous interventions, a crime was committed, they were painted. I preserved these elements to maintain the identity of the market”.

Parte interna do Mercado de São Brás (1911)
Fachada do Mercado de São Brás (1911)
Aurélio Meira é o arquiteto responsável pela restauração
Cassio Leal Leonardo Lima

Sustentabilidade e requalificação moderna

A restauração buscou aliar modernidade e sustentabilidade sem comprometer a estética histórica. O telhado original, de fibrocimento importado da França, foi substituído por chapas de alumínio composto, um material contemporâneo, durável e não corrosivo.

“Foi o meu grande golaço. Sabe aquele gol que Pelé não conseguiu fazer? Foi assim, no último minuto, e ganhei a Copa do Mundo. Este material garante durabilidade, preserva a forma orgânica do telhado e destaca a beleza para quem passa pelo local".

Aurélio destaca que a escolha dos materiais e técnicas visou funcionalidade contemporânea, garantindo que o mercado operasse de forma eficiente, sem perder sua essência histórica.

Além do telhado, o piso foi desenhado pelo artista plástico Geraldo Teixeira, que ressignificou o espaço sem deixar de destacar sua elegância, mesclando o contemporâneo ao clássico.

O olhar de Aurélio Meira: restauração e pertencimento urbano

Aurélio Meira enfatiza a importância de preservar a história do Mercado de São Brás, ao mesmo tempo em que incorpora elementos

Sustainability and modern rehabilitation

The restoration combined modernity and sustainability without compromising historical aesthetics. The original roof, made of fiber cement imported from France, was replaced with composite aluminum panels, a contemporary, durable, and non-corrosive material.

“That was my great goal. You know that goal Pelé couldn’t score? It was like that, in the last minute, and I won the World Cup. This material guarantees durability, preserves the organic form of the roof, and highlights the beauty for those passing by".

Aurélio explains that material choices and construction techniques were aimed at contemporary efficiency while remaining faithful to the building’s heritage.

He also highlights the market’s new flooring, designed by visual artist Geraldo Teixeira, who reinterpreted the original design while preserving its elegance and blending classical and contemporary styles.

Aurélio Meira’s perspective: restoration and urban belonging

Aurélio emphasizes the importance of preserving the history of Mercado de São Brás while adapting it to contemporary cultural use.

Foi o meu grande golaço. Durabilidade, preservação e inovação no último minuto.
Detalhes da fachada do Mercado de São Brás
Antes e depois da fachada do Mercado de São Brás. (2025/1911)
That was my great goal. Durability, preservation, and innovation at the last minute.

contemporâneos. Em sua pesquisa, buscou referências nacionais e internacionais de requalificações bem-sucedidas, para transformar o espaço em um grande complexo dedicado à cultura, gastronomia e arte.

Inspirado por mercados emblemáticos como o Mercado da Ribeira e o Campo de Ourique, em Lisboa, o Mercado de San Miguel, em Madri, e o Covent Garden, em Londres, Meira adaptou ideias ao contexto amazônico e à cultura de Belém.

“Estratifiquei o que se adaptava à cultura regional de Belém. Criei espaços para gastronomia, música, dança, teatro e literatura. Hoje, não chamo mais de Mercado de São Brás, chamo Casa São Brás. É uma casa de cultura".

Um dos pilares do projeto é o fortalecimento do sentimento de pertencimento urbano e amazônida. Para isso, Aurélio incorporou sua identidade ao espaço de forma simbólica e funcional. Um exemplo dessa conexão são os vagões estilizados, localizados na área externa do mercado.

Modernos e contemporâneos, eles foram projetados como restaurantes e têm estrutura composta por placas que remetem à textura do couro do pirarucu, um dos peixes mais emblemáticos da Amazônia.

“O mais importante foi identificar formas orgânicas no projeto que remetessem a elementos regionais. São detalhes que muitas vezes passam despercebidos, mas que conectam a memória afetiva da cidade ao espaço".

In his research, he sought national and international references of successful redevelopments to transform the space into a large complex dedicated to culture, gastronomy, and art.

Inspired by emblematic markets such as Mercado da Ribeira and Campo de Ourique in Lisbon, Mercado de San Miguel in Madrid, and Covent Garden in London, Meira adapted ideas to the Amazonian context and to the culture of Belém.

“I stratified what could be adapted to the regional culture of Belém. I created spaces for gastronomy, music, dance, theater, and literature. Today, I no longer call it Mercado de São Brás, I call it Casa São Brás. It is a house of culture".

One of the pillars of the project is the strengthening of the feeling of urban and Amazonian belonging. For this, Aurélio incorporated his identity into the space in a symbolic and functional way. An example of this connection is the stylized wagons located in the outer area of the market.

Modern and contemporary, they were designed as restaurants and have a structure made up of panels that refer to the texture of pirarucu leather, one of the most emblematic fish of the Amazon.

“The most important thing was to identify organic forms in the project that referred to regional elements. These are details that often go unnoticed, but they connect the city’s emotional memory to the space".

População aprovou o novo espaço Corredor de pilares do Mercado de São Brás
Restaurante interno após revitalização

Painéis Artísticos: memória e pertencimento

Além desses elementos sutis, Aurélio propôs a criação de quatro painéis artísticos que estabelecem um elo entre a história do mercado e o sentimento de pertencimento à chamada “cidade morena”. A iniciativa reuniu artistas locais que deixaram sua marca por meio de expressões únicas.

“Convidei quatro artistas plásticos para criarem painéis que homenageassem a história do mercado e de Belém".

O primeiro, de autoria de André Santos, artista popular de rua, retrata a gale de São Brás durante o período da Belle Époque.

O segundo, criado por Jorge Eiró, arquiteto e morador do bairro de São Brás, representa a malha viária da cidade, destacando pontos importantes após a construção do mercado.

O terceiro, idealizado por Bob Menezes, traz uma perspectiva fotográfica da pedra do peixe, voltada para o Mercado de Ferro do Ver-o-Peso.

O quarto e último painel, assinado por Paulo André, é uma pintura que redesenha de forma memorável as barcas da Doca do Ver-o-Peso.

Com esse projeto, Aurélio Meira transforma o Mercado de São Brás em um espaço vivo, onde tradição e modernidade convivem em harmonia, resgatando memórias e projetando novos significados para a cidade e seus habitantes.

Antes e depois do Mercado

Aurélio observa que a maior transformação do Mercado de São Brás não foi apenas estética, mas também social e funcional, ressignificando o local sem perder sua essência.

“Quero criar espaços onde seja possível implementar tudo aquilo que acredito que vai acrescentar ao Mercado de São Brás. Antes, era um espaço subutilizado. Agora, é vibrante, com palcos internos e externos, restaurantes e áreas de convivência. É o coração cultural do bairro. A ideia principal foi transformar o mercado em um grande centro de gastronomia, recreação e lazer".

Detalhes como ferros trabalhados, claraboias, portais e frisos foram cuidadosamente restaurados, preservando a identidade original do mercado desde sua idealização e construção.

“As grades, os arcos, as portas externas são originais. Protegi cada detalhe para que a memória visual do mercado permanecesse intacta".

Artistic Panels: memory and belonging

In addition to these subtle elements, Aurélio proposed the creation of four artistic panels that establish a link between the market’s history and the feeling of belonging to the so-called “cidade morena”. The initiative brought together local artists who left their mark through unique expressions.

“I invited four visual artists to create panels that would pay tribute to the history of the market and of Belém".

The first, by André Santos, a popular street artist, portrays the Gale of São Brás during the Belle Époque period.

The second, created by Jorge Eiró, an architect and resident of the São Brás neighborhood, represents the city’s road network, highlighting important points after the market’s construction.

The third, conceived by Bob Menezes, presents a photographic perspective of Pedra do Peixe, facing the Mercado de Ferro do Ver-o-Peso.

The fourth and last panel, signed by Paulo André, is a painting that memorably redraws the boats of Doca do Ver-o-Peso.

With this project, Aurélio Meira transforms the São Brás Market into a living space where tradition and modernity coexist in harmony, rescuing memories and projecting new meanings for the city and its inhabitants.

Before and after the market

According to Aurélio, the transformation of Mercado de São Brás was not only aesthetic, but also social and functional.

“I want to create spaces where it is possible to implement everything I believe will enhance Mercado de São Brás. Before, it was an underutilized space; now it is vibrant, with indoor and outdoor stages, restaurants, and social areas. It is the cultural heart of the neighborhood. The main idea was to transform the market into a large center for gastronomy, recreation, and leisure".

Architectural details such as wrought iron, skylights, portals, and friezes were meticulously restored to preserve the market’s original identity.

“The gates, arches, and external doors are original. I protected every detail so that the visual memory of the market remained intact".

Aurélio Meira Salão de eventos do Mercado de São Brás

Hoje, o Mercado de São Brás é um centro cultural e gastronômico que abriga lojas de comidas, livrarias, exposições e galerias de arte. Com 3.300 m² e 348 feiras e lojas distribuídas, o espaço também preserva setores tradicionais, como a feira, o mercado de peixe e carne, o artesanato, a mercearia e a praça de alimentação.

A restauração minuciosa dos elementos arquitetônicos permite que o mercado continue sendo um elo entre o passado e o presente de Belém.

“Hoje não chamo mais de Mercado São Brás. Chamo de Casa São Brás. É uma casa de cultura".

Glossário

Today, Mercado de São Brás is a cultural and gastronomic center housing bookstores, exhibitions, food shops, and art galleries. Spanning 3,300 m² and home to 348 stalls, it also preserves traditional functions such as the market area, fish and meat sections, handicrafts, groceries, and food court

Thanks to the careful restoration of its architectural elements, the market continues to serve as a bridge between Belém’s past and its vibrant present. As Aurélio Meira concludes:

“Today I no longer call it Mercado São Brás. I call it Casa São Brás. It is a house of culture".

Belle Époque: refere-se a um período de grande desenvolvimento econômico e modernização da cidade, entre 1871 e 1912, impulsionado pelo ciclo da borracha.

Art nouveau: estilo internacional de arquitetura e design que surgiu no final do século XIX e durou até a Primeira Guerra Mundial, caracterizado por linhas sinuosas, formas orgânicas e ornamentos inspirados na natureza, como plantas e flores.

Neoclássico: estilo que resgata a simetria, a geometria e os elementos da arquitetura grecoromana antiga, em oposição ao barroco e rococó.

Alumínio Composto: conhecido como ACM (Aluminium Composite Material), é um material leve e resistente formado por duas chapas de alumínio com um núcleo interno de polietileno ou, em alguns casos, um mineral antichamas.

Pirarucu: um dos maiores peixes de água doce do mundo, nativo da Bacia Amazônica, conhecido por sua carne saborosa e por ter a capacidade de respirar ar atmosférico.

Clarabóia: uma abertura no teto ou telhado de uma construção, geralmente coberta por vidro ou outro material transparente, que permite a entrada de luz natural e, em alguns casos, a ventilação do ambiente.

Friso: é um tipo de canal ou faixa, que pode ter função tanto estrutural quanto decorativa.

Hoje não chamo mais de Mercado São Brás, chamo Casa São Brás. É uma casa de cultura.

Today I no longer call it Mercado São Brás, I call it Casa São Brás. It is a house of culture.

Glossary

Belle Époque: refers to a period of great economic development and modernization of the city, between 1871 and 1912, driven by the rubber boom.

Art Nouveau: an international style of architecture and design that emerged at the end of the 19th century and lasted until the First World War, characterized by curving lines, organic shapes, and ornaments inspired by nature, such as plants and flowers.

Neoclassical: a style that revives the symmetry, geometry, and elements of ancient Greco-Roman architecture, in opposition to the Baroque and Rococo styles.

Aluminum Composite: known as ACM (Aluminum Composite Material), it is a lightweight and resistant material made of two aluminum sheets with an inner core of polyethylene or, in some cases, a fireretardant mineral.

Pirarucu: one of the largest freshwater fish in the world, native to the Amazon Basin, known for its tasty meat and its ability to breathe atmospheric air.

Skylight: an opening in the ceiling or roof of a building, usually covered with glass or another transparent material, which allows natural light and, in some cases, ventilation into the space.

Frieze: a type of groove or band that can have either a structural or decorative function.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Aurélio Augusto Freitas de Meira
Engenheiro Civil, Arquiteto Urbanista e Mestre em Patrimônio e Sociedade
Aurélio Augusto Freitas de Meira Civil Engineer, Urban Architect, and Master in Heritage and Society
O relógio era um dos símbolos importantes do Mercado

“O que eu amo no Pará são as suas cores e os seus sabores. São comidas maravilhosas, todas perfumadas, todas coloridas, de sabores únicos e marcantes. Na época do Círio, tudo isso aflora ainda mais em nós: essas cores e esses sabores, que estão nos pratos, nas ruas, nas pessoas. É isso que encanta”.

“What I love about Pará are its colors and flavors. The food is wonderful, fragrant, colorful, and marked by unique, striking tastes. During the Círio festival, all of that becomes even more vivid: the colors and flavors found in the dishes, in the streets, in the people. That’s what makes it so special”.

“Todos têm a curiosidade de conhecer o Bar do Rubão. Trata-se de um recanto, um bar pequeno, de rua, com o melhor da culinária regional. Você não consegue comer outro caranguejo na cidade que não seja o do Rubão. Além disso, há outras delícias, como mexilhão, camarão, jabá, charque... Enfim, são experiências de sabores, e também de afetos. Além de tudo, o Rubão faz com que a gente se sinta à vontade em seu bar. Ele senta com a gente, conversa na mesa, recebe todos como se fosse na sala da casa dele. E aí, acho que é válida a experiência no Bar do Rubão, na Cidade Velha, principalmente nas noites de verão, que são ventiladas, e as ruas da cidade ficam vazias”.

“Everyone is curious to visit Bar do Rubão. Bar do Rubão is a corner, a small bar, a street bar with the best regional cuisine. You can’t eat any other crab in the city that isn’t from Rubão, in addition to, of course, Other delicacies such as mussels, shrimp, Jabá, beef jerky, in short, they are experiences of flavors and also of affection. Above all, Rubão makes us feel comfortable in his bar, he sits with us, talks at the table, welcomes everyone as if it were in his living room, and. I think the experience of Bar do Rubão in Cidade Velha is worth it. Especially on summer nights, which are breezy nights and the city streets are empty”.

Aretusa Remor - Empresária @aretusaremor
Ismaelino Pinto –Jornalista e colunista social @ismaelinopinto
Bar do Rubão
Cores e sabores do Pará

Amazônia Vestida:

moda e design paraense ganham o mundo sem perder as raízes
Dressed Amazon:
Pará fashion and design conquer the world without losing their roots

No palco da COP 30, em Belém, o Pará respira visibilidade, e não apenas pela floresta. A moda e o design produzidos aqui têm conquistado cada vez mais espaço, expressando o que há de mais autêntico na Amazônia: o encontro entre tradição e inovação. Estilistas e designers reinterpretam a cultura, transformam matérias-primas e reafirmam, em cada novo trabalho, que o Norte tem uma moda autoral, diversa, potente e fiel ao seu pertencimento.

Espelho

do território

A criação paraense nasce do território e das pessoas. Cada tecido, textura ou cor carrega fragmentos das histórias de quem vive aqui das comunidades ribeirinhas e quilombolas aos ateliês urbanos. Vestir-se, na Amazônia, é também uma forma de preservar e compartilhar essas memórias.

On the stage of COP 30 in Belém, Pará is gaining visibility not just because of the forest. Fashion and design produced here are gaining more and more space, expressing the most authentic essence of the Amazon: the meeting between tradition and innovation. Stylists and designers reinterpret culture, transform raw materials, and reaffirm in every new piece of work that the North has diverse, powerful, and truly unique fashion.

A mirror of the territory

Pará’s creations are born from the territory and its people. Every fabric, texture, or color carries fragments of the stories of those who live here, from riverside communities and quilombolas to urban ateliers. In the Amazon, dressing is also a way to preserve and share these memories.

Design criado por Jomaique Melo

Quando um estilista incorpora o grafismo marajoara, a fibra do tururi ou os pigmentos naturais da floresta, ele não cria apenas estética: desenha território no corpo. Essa moda traduz um modo de viver que, por muito tempo, foi visto como periférico, mas que hoje se afirma como um dos movimentos mais originais do país.

O diferencial da moda paraense está em sua capacidade de unir técnica e território, sustentabilidade e simbolismo. Em vez de seguir padrões vindos de fora, ela se reinventa a partir das próprias raízes, levando o olhar amazônico para novas linguagens e fronteiras.

Val Valadares: a força da ancestralidade com olhar contemporâneo

Nascida na comunidade quilombola de Jacundaí, no Pará, Val Valadares cresceu entre linhas e histórias. Aprendeu a costurar com a avó e, desde cedo, encontrou na moda um meio de expressar o que via e sentia ao seu redor. Em Porto Trombetas, fundou seu próprio ateliê de alta costura e construiu uma marca que une tradição e sofisticação.

Durante a pandemia de 2020, Val foi convidada pelo Sebrae Pará a criar uma releitura da camisa marajoara, dentro do projeto Cápsula Marajoara, idealizado para a COP 30. O desafio transformou sua trajetória e a fez repensar a própria identidade artística:

“A ancestralidade fala por si própria dentro de qualquer estilo. No meu, especialmente, ela me direcionou por um caminho desconhecido até então. Foi um presente poder juntar o linho, que é um tecido ancestral, com o grafismo marajoara, produzindo peças em alfaiataria e mostrando para o mundo a nossa moda em estilo contemporâneo".

Podemos dizer que o trabalho de Val é sobre traduzir herança em elegância. Embora reconhecida pela releitura da cultura marajoara, ela faz questão de destacar que seu olhar vai além do regionalismo:

When a designer incorporates Marajoara graphic designs, tururi fiber, or natural forest pigments, they are not merely creating aesthetics, they are mapping territory onto the body. This fashion expresses a way of life that, for a long time, was seen as peripheral, but, today, asserts itself as one of the most original movements in the country.

The distinctiveness of Pará fashion lies in its ability to unite technique and territory, sustainability and symbolism. Rather than following outside standards, it reinvents itself from its own roots, projecting the Amazonian gaze into new languages and frontiers.

Val Valadares: the strength of ancestry with a contemporary vision

Born in the quilombola community of Jacundaí, in Pará, Val Valadares grew up surrounded by threads and stories. She learned to sew with her grandmother and, from an early age, found in fashion a way to express what she saw and felt around her. In Porto Trombetas, she founded her own haute couture studio and built a brand that blends tradition and sophistication.

During the 2020 pandemic, Val was invited by Sebrae Pará to reinterpret the traditional Marajoara shirt as part of the Cápsula Marajoara project, developed for COP 30. The challenge reshaped her artistic path and led her to reflect deeply on her creative identity:

“Ancestry speaks for itself within any style. In my case, it led me down an unknown path. It was a gift to combine linen, an ancestral fabric, with Marajoara graphics, producing tailored pieces and showing the world our fashion in a contemporary style".

Val’s work can be described as translating heritage into elegance. While she is widely recognized for her reinterpretation of Marajoara culture, she emphasizes that her artistic vision reaches beyond regional aesthetics:

Val Valadares cresceu entre linhas e histórias
Peça feita pela estilista

“Mostrar minha visão artística independente da proposta regional ancestral que me foi dada. A minha essência é minimalista, e isso pode ser aplicado em qualquer estilo, até mesmo dentro de uma tradição marajoara que geralmente é representada de outro modo".

Com rigor técnico e senso estético apurado, ela defende que a moda feita no Pará é capaz de competir em qualquer vitrine, desde que se mantenha fiel à qualidade e ao propósito:

“O legado que eu desejo deixar para todas as pessoas que trabalham com moda no nosso estado é que qualidade não é diferencial, ela é básica. Fazer moda com qualidade é o que faz atravessar fronteiras e ir mais longe do que o imaginável".

E completa com um pensamento que ecoa o espírito dessa nova geração criativa:

“O mundo precisa entender que, em qualquer país, região ou estado, pode ser produzida moda em todos os estilos e segmentos. Porque a moda é capaz de evoluir em todos os sentidos".

Jomaique Melo: do descarte ao desejo

Nascido em Soure, no coração do Marajó, Jomaique Melo é um dos nomes mais inventivos da cena nortista atual. Designer, figurinista, ilustrador e diretor criativo, ele encontrou no upcycling, processo de reaproveitamento criativo de peças e materiais, uma forma de transformar o que seria descartado em arte com alma.

“O upcycling se faz presente na minha vida desde 2016, quando iniciei na faculdade e nem sabia o nome do processo. Eu trabalhava com sobras de materiais e peças de brechó, e percebi que cada uma delas já trazia uma história. Ao ressignificar essas peças, eu crio novas histórias, e isso é muito poético, além de fazer parte da sustentabilidade".

Com um olhar estético influenciado por referências alternativas, o estilista mistura o scary fashion, o clubber e o folclore amazônico de lendas, mitos e visagens, criando peças que oscilam entre a fantasia e a realidade.

“Meu trabalho é profundamente inspirado pela nossa cultura. A Amazônia possui uma riqueza imensa, que me inspira desde a infância. Nasci e cresci em meio a histórias de misticismo e lendas, e muito desse universo moldou a estética da minha marca. Sempre incentivo novos criadores a criarem a partir de suas vivências. Tenho orgulho de ser marajoara, amazônida e de criar a partir daquilo que vivo".

“My artistic vision goes beyond the ancestral regional proposal I was given. My essence is minimalist, and that can be applied to any style, even within a Marajoara tradition that is usually represented differently".

With technical rigor and a refined aesthetic sensibility, Val believes that fashion from Pará can compete on any platform as long as it remains faithful to quality and purpose:

“The legacy I want to leave for everyone working in fashion in our state is that quality is not a differential, it’s a basic requirement. Creating fashion with quality is what allows it to cross borders and reach further than one can imagine".

She adds a reflection that captures the spirit of this new generation of creatives:

“The world needs to understand that in any country, region, or state, fashion can be produced in every style and segment. Fashion is capable of evolving in all senses".

Jomaique Melo: from discard to desire

Born in Soure, in the heart of Marajó, Jomaique Melo is one of the most inventive names on the current northern creative scene. A designer, cost ume maker, illustrator, and creative director, he found in upcycling, the creative reuse of materials and garments, a way to transform what would otherwise be discarded into soulful art.

“Upcycling has been part of my life since 2016, when I started college and didn’t even know the name of the process. I worked with leftover materials and second-hand pieces, and I realized that each one already carried a story. By re-signifying these pieces, I create new stories, and that’s very poetic, as well as part of sustainability".

With an aesthetic influenced by alternative references, Jomaique blends scary fashion, club culture, and Amazonian folklore, weaving in legends, myths, and spirits, to create pieces that oscillate between fantasy and reality.

“My work is deeply inspired by our culture. The Amazon holds immense richness that has inspired me since childhood. I was born and raised surrounded by mysticism and legends, and much of this universe has shaped my brand’s aesthetic. I always encourage new creators to design from their lived experience. I am proud to be from Marajó, from the Amazon, and to create from what I live".

Jomaique Melo
Peça de Jomaique Melo
Viviane Batidão vestida por Jomaique Melo

Para Jomaique, a moda é uma forma de mostrar a Amazônia como protagonista, a partir de quem vive nela.

“Fazer moda a partir do Norte, pra mim, é sobre devolver o olhar. Durante muito tempo, fomos observados de fora, como se fôssemos apenas cenário ou inspiração, mas nunca exemplo. Hoje, o que me move é justamente inverter isso: mostrar que também pensamos moda, criamos estéticas incríveis e temos discurso.

Fazer moda daqui é falar de pertencimento, é criar com o que se tem e transformar o cotidiano em arte".

E é com essa convicção que ele amplia a discussão sobre o lugar do Norte na moda brasileira. Para Jomaique, a Amazônia inspira novas formas de criar, consumir e se relacionar com o mundo. A sustentabilidade, aqui, vai além de preservar a floresta: é sobre regenerar ideias, valorizar pessoas e transformar realidades por meio da arte e da cultura.

“É uma oportunidade de mostrar que a Amazônia não é só pauta ambiental, mas também território de criação e identidade. A moda paraense traduz o que é viver aqui, nossas cores, texturas, histórias e ancestralidades. O Norte não é periferia de nada. O que fazemos aqui tem autenticidade, narrativa e poder simbólico".

Barbara Muller: o design que escuta a floresta

No universo do design de joias, Barbara Muller traduz, com sensibilidade, a união entre o fazer artesanal e o olhar contemporâneo. Suas peças, esculpidas manualmente, carregam traços únicos que preservam a naturalidade da matéria-prima e a marca do gesto humano.

Em diversas coleções que já ganharam vida e destaque no maior evento de moda da América Latina, o São Paulo Fashion Week, a designer valoriza o tempo do processo e o diálogo constante entre arte e natureza.

“Meu trabalho parte do dia a dia de quem vive, de verdade, a região amazônica. O design contemporâneo entra como ponte que traduz essa relação em objetos e joias com alcance global, mas enraizados no território. Cada peça é resultado de um encontro entre técnica e territorialidade, entre o olhar do designer e a mão do artesão".

For Jomaique, fashion is a way to position the Amazon as the protagonist, through the people who inhabit it. “Creating fashion from the North, for me, is about giving back the gaze. For a long time, we were seen from the outside, as if we were only scenery or inspiration, but never an example. Today, what drives me is precisely reversing that, showing that we also conceptualize fashion, create powerful aesthetics, and have our own discourse. Fashion here is about belonging. It’s about creating with what you have and turning everyday life into art".

With this conviction, he expands the conversation around the North’s place in Brazilian fashion. For Jomaique, the Amazon inspires new ways of creating, consuming, and relating to the world. Sustainability, in this context, goes beyond preserving the forest, it regenerates ideas, values people, and transforms realities through art and culture.

“It’s an opportunity to show that the Amazon is not just an environmental issue, it’s also a territory of creation and identity. Fashion from Pará expresses what it means to live here, our colors, textures, stories, and ancestries. The North is not the periphery of anything. What we create here has authenticity, narrative, and symbolic power".

Barbara Muller: design that listens to the forest

In the world of jewelry design, Barbara Muller translates, with sensitivity, the union between artisanal craft and a contemporary gaze. Her hand-sculpted pieces carry unique features that preserve the raw material’s natural essence and the mark of the human gesture. Across various collections , already featured at Latin America’s largest fashion event, São Paulo Fashion Week, the designer values the time of the process and the ongoing dialogue between art and nature.

“My work stems from the daily life of those who truly live in the Amazon region. Contemporary design acts as a bridge that translates this relationship into objects and jewelry with global reach, yet rooted in the territory. Each piece results from an encounter between technique and territoriality, between the designer’s gaze and the artisan’s hand".

Barbara Muller Peça feita por Barbara Muller

Barbara atua também em consultorias com comunidades tradicionais, sempre a partir de um processo de escuta e convivência.

“Os processos de consultoria partem sempre da troca e do reconhecimento. Compartilho técnicas de criação e recebo histórias incríveis, que viram material precioso para que eles possam aplicar em seus produtos. É uma experiência que nos lembra que o produto também é uma forma poderosa de manter vivas essas histórias".

A designer acredita que o diálogo com as comunidades é parte fundamental de um novo modo de pensar o design:

“O diálogo com as comunidades transforma o processo criativo em um campo de geração de renda e pertencimento. Incentiva a autonomia, a circulação do saber local e o reconhecimento da cultura amazônica como fonte legítima de inovação".

De fala serena e olhar apurado, Barbara reflete sobre os desafios de criar a partir da floresta, com coerência e sensibilidade:

“O design amazônico, pra não ser contraditório, precisa ter diálogo e escuta. Sustentabilidade não pode ser uma tendência, precisa ser condição de existência. É preciso escutar o tempo da floresta, suas formas, suas reações. Isso é o que o mundo também pode levar de lição: olhar, se relacionar e ouvir a floresta sempre".

Em um momento em que estilistas reafirmam o poder criativo do Norte e a capacidade da moda paraense de dialogar com o mundo, a designer amplia esse olhar ao conectar arte, cultura e sustentabilidade. Para ela, a Amazônia tem muito mais a oferecer do que recursos naturais, é também um território de ideias, de estética e de inovação.

“A COP 30 representa uma oportunidade histórica para o mundo finalmente ouvir a gente, compreender não apenas os desafios ambientais, mas também culturais e criativos. Ao colocar Belém no centro das discussões globais, a gente mostra que nossa criatividade também é uma forma de resistência e regeneração”.

A expansão da moda e do design paraense é reflexo de um movimento mais amplo: a redescoberta da Amazônia como território criativo. Esses artistas e designers não estão apenas produzindo roupas ou joias, estão redesenhando a forma como o mundo enxerga o Norte.

Entre fibras, tecidos e metais, o que se costura é um novo imaginário, um imaginário que veste pertencimento, que devolve a voz a quem cria com o coração da floresta. E se a COP 30 é o palco do clima, ela também é, e precisa ser, o palco da cultura.

Porque o que nasce da Amazônia não é tendência, é resistência.

Barbara also works as a consultant with traditional communities, always guided by a process of listening and coexistence.

“The consultancy processes always begin with exchange and recognition. I share creation techniques and, in return, receive incredible stories, stories that become precious material for them to apply to their products. It’s an experience that reminds us that the product is also a powerful way to keep those stories alive”.

The designer believes that dialogue with communities is fundamental to a new way of thinking about design:

“Dialogue with communities transforms the creative process into a space for generating income and belonging. It fosters autonomy, encourages the circulation of local knowledge, and affirms Amazonian culture as a legitimate source of innovation".

With a calm voice and a keen gaze, Barbara reflects on the challenges of designing from the forest with coherence and sensitivity:

“For Amazonian design not to be contradictory, it must be rooted in dialogue and listening. Sustainability cannot be a trend, it must be a condition for existence. We need to respect the time of the forest, its forms, its rhythms, its responses. That’s something the world needs to learn too: to see, to relate to, and, above all, to listen to the forest”.

At the same time that stylists reaffirm the creative strength of the North and the global potential of fashion from Pará, Barbara expands this vision by connecting art, culture, and sustainability. For her, the Amazon offers more than natural resources, it is also a territory for ideas, aesthetics, and innovation.

“COP 30 represents a historic opportunity for the world to finally listen to us, to understand not only environmental challenges but also cultural and creative ones. By putting Belém at the center of global conversations, we show that our creativity is also a form of resistance and regeneration”.

The expansion of fashion and design from Pará reflects a broader movement, the rediscovery of the Amazon as a creative territory. These artists and designers are not simply producing clothes or jewelry, they are reshaping the world’s perception of the North.

Between fibers, fabrics, and metals, a new imaginary is being woven, one that embodies belonging and restores voice to those who create from the heart of the forest. And if COP 30 is the stage for climate, it is also, and must be, the stage for culture.

Because what comes from the Amazon is not a trend, it is resistance.

Peça criada por Barbara Muller Peça faz parte da coleção de Barbara Muller

Pará em todas as frequências

Pará at all frequencies

Vibração que não respeita diapasões. Pulso que quebra barras de compasso, vira pulsação, pulsão de vida. A música paraense não se percebe só pelo ouvido. Ela te tira para dançar, sugere cores, empurra a mística das erveiras pelas narinas. Antes de ganhar o Brasil nas trilhas de novelas e pistas de dança, já fazia festa nos sentidos aqui. Andar pelas ruas de Belém é assistir a um povo cantar e dançar o seu próprio som. A população consome seus hinos, se vê neles. Rodopia em salões, degustando seus próprios hits. E não foi preciso o reconhecimento externo para que o paraense soubesse o que sente diariamente: a gente toca o que toca a gente, e o que toca a gente é de uma riqueza ímpar. A LiV encarou o desafio de traduzir um pouco dessa sonoridade. As próximas páginas te chamam para abrir os ouvidos e descobrir as muitas frequências desse “país” que se chama Pará.

Vibration that does not respect tuning forks. Pulse that breaks bars of compass - it becomes a pulse, a pulse of life. Pará music is not perceived only by ear. She takes you out to dance, suggests colors, pushes the mystique of the herbs through your nostrils. Before winning Brazil on the soundtracks of soap operas and dance floors, I was already celebrating in the senses here. Walking through the streets of Belém is watching a people sing and dance to their own sound. The population consumes their anthems, they see themselves in them. He twirls in halls tasting his own hits. And Pará never needed outside validation to know its worth: people here play what moves them, and what moves them is pure, unmatched richness. LiV embraced the challenge of translating a little of this soundscape. The following pages invite you to listen closely and discover the many frequencies of this place we proudly call Pará.

Foto:
Kleyton
Silva

O início da história Carimbós, bregas, lambadas, guitarradas, cúmbias, boleros... São muitos os gêneros que embalam o imaginário popular do paraense. A construção dessas nuances passa pela nossa história como povo. “A ideia de separação entre música, festa, dança e corpo é eurocêntrica, algo que não houve aqui, até por conta de um relativo isolamento em relação ao restante do país”, explica Andrey Faro, professor da Universidade Federal do Pará, que pesquisa música e festa na Amazônia.

O professor pontua que até a religião está fortemente entrelaçada com nossa musicalidade, fruto das raízes africanas e indígenas no estado. “O carimbó é notadamente uma variação dos batuques de grupos bantos, que também influenciaram o samba e a música na Bahia, Pernambuco, Maranhão e Amapá.

Na Amazônia, estabelecemos a variação local desses mesmos batuques com elementos indígenas e europeus. Mas, nos centros urbanos, havia certo receio: torciam o nariz por ser uma música marginalizada”, conta Faro.

Enquanto Belém ainda tateava sua relação com a música que hoje é referência da nossa sonoridade, o interior, principalmente no Marajó, nordeste paraense e Baixo Tocantins, construiu boa parte de sua identidade em cima de um curimbó: o tambor oco de tronco escavado e coberto de couro que conduz o batuque. Sandra Silva, a Mestra Sandra, conhece bem o que é ser moldada por este som e, por ele, aprender a moldar também.

No carimbó, os guardiões da tradição recebem o respeitoso título de mestres, por sua história de salvaguarda da oralidade, ancestralidade e instrumentação dessa cultura. Natural da vila de Vista Alegre do Maú, no município de Terra Alta, Sandra conta que demorou a se reconhecer dessa forma. “Eu passei a ser chamada de mestra pelos outros mestres. Foi difícil me aceitar nesse lugar. Esse reconhecimento me ajudou a ver que estava no caminho certo”, orgulha-se.

Eu passei a ser chamada de mestra pelos outros mestres. Foi difícil me aceitar nesse lugar. Com o tempo, vi que eu tinha o repasse, que eu salvaguardava, que essa troca era constante na minha vida. Esse reconhecimento me ajudou a ver que estava no caminho certo.

I started being called mestra by the other mestres. It was hard for me to accept that place. Over time, I saw that I passed things on, that I was safeguarding, that this exchange was constant in my life. That recognition helped me realize I was on the right path.

Where the story begins

Carimbós, bregas, lambadas, guitarradas, cúmbias, boleros… There are many rhythms that shape the popular imagination of Pará. The creation of these nuances runs through our very history as a people.“The idea of separating music, celebration, dance, and the body is Eurocentric, something that never existed here, partly because of a certain isolation from the rest of the country,” explains Andrey Faro, professor at the Federal University of Pará, who researches music and festivity in the Amazon.

He points out that even religion is deeply intertwined with local musicality, the result of African and Indigenous roots in the state.

“Carimbó is clearly a variation of the drum traditions of Bantu peoples, who also influenced samba and music in Bahia, Pernambuco, Maranhão, and Amapá. In the Amazon, we developed a local version of those same rhythms, blending Indigenous and European elements. But in the cities, there was some resistance, it was seen as music from the margins,” Faro says.

While Belém was still learning to embrace the sound that would later become its greatest reference, the countryside, especially the Marajó Island region, northeastern Pará, and the Baixo Tocantins area, was building much of its identity around the curimbó, a hollow drum carved from tree trunks and covered with animal skin that leads the rhythm.

Sandra Silva, known as Mestra Sandra, knows what it means to be shaped by that sound and, through it, to learn how to shape the world in return.

In carimbó, the guardians of tradition are given the honorable title of mestres, or masters, for their role in preserving oral history, ancestry, and the instrumental heritage of this culture.

Born in the village of Vista Alegre do Maú, in the municipality of Terra Alta, Sandra says it took her some time to recognize herself as one. “I started being called mestra by other masters. It was hard to accept that place. That recognition helped me see I was on the right path,” she says proudly.

Mestra Sandra Silva
Camila Barbalho

Ocupando uma posição que era estritamente masculina até poucos anos atrás, a mestra abraça a responsabilidade com graça. E, na esteira de Mestra Sandra e de outras mulheres que ajudaram a desbravar a estrada feminina no carimbó, o grupo Suraras do Tapajós é o primeiro do gênero formado apenas por mulheres indígenas.

“Suraras” vem do nheengatu e significa guerreiras. É com esse sentimento que as musicistas colocam sua voz, corpo e instrumentos à disposição da valorização da Amazônia. Surgido como coletivo de mulheres indígenas em 2016 e, mais tarde, convertido em associação, o Suraras como grupo musical nasceu em 2018, em Alter do Chão.

Desde 2014, o carimbó é Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, registro realizado pelo IPHAN, conquista que sacramentou para o resto do país algo que já era sagrado nesse solo. “Tem um real impacto no campo do simbólico. É uma chancela formal do Governo Federal para algo que já era reconhecido. O carimbó é o grande ícone da cultura paraense”, elabora Faro.

"Jazzi", corporações e big bands

Outro braço essencial da construção da trilha sonora paraense foi a forte presença das corporações civis de músicos, de onde veio uma grande leva de instrumentistas de sopro: clarinetes, saxofones, trompetes, trombones e tubas.

O fenômeno dos “jazzis” chegou à música dos interiores e contagiou as manifestações. Foi o surgimento das bandas elétricas, seguindo a tendência dos salões mundiais. Talvez seja por isso que big bands e bandas sinfônicas no Pará soam diferentes das outras ao redor do mundo.

Eduardo Lima, regente titular da Amazônia Jazz Band, foi um dos que tiveram a ideia de unir dois mundos que pareciam distantes. Maestro da big band há quatro anos, após 20 como saxofonista do grupo, ele defende a fusão dos estilos. “A Amazônia Jazz Band toca do jazz ao carimbó. É muito importante valorizar ritmos locais. A gente percebe essa alegria na reação do público lotando os teatros”.

Occupying a position that until recently was reserved only for men, Mestra Sandra embraces this responsibility with grace. Following her steps and those of other women who helped open the way for female voices in carimbó, the group Suraras do Tapajós stands out as the first of its kind formed entirely by Indigenous women.

“Suraras” comes from nheengatu and means “warriors". With that spirit, the musicians offer their voices, bodies, and instruments to celebrate and defend the Amazon. Born in 2016 as a collective of Indigenous women and later established as an association, Suraras do Tapajós became a musical group in 2018, in Alter do Chão.

Since 2014, carimbó has been recognized as Intangible Cultural Heritage of Brazil by IPHAN, a formal acknowledgment that confirmed to the rest of the country what was already sacred to those who live it. “It has a real impact in the symbolic field. It’s a formal seal from the federal government for something that had long been recognized here. Carimbó is the great icon of Pará’s culture,” explains Faro.

"Jazzis", bands, and big sounds

Another key piece in shaping Pará’s soundtrack was the strong presence of civic musicians’ corps, from which came an entire generation of wind instrumentalists clarinets, saxophones, trumpets, trombones, and tubas.

The phenomenon of the “jazzi,” as local people called it, spread through the towns of the interior and transformed community celebrations. It marked the arrival of electric bands that followed the trend of global dance halls. Perhaps that is why big bands and symphonic ensembles in Pará sound unlike any others around the world.

Eduardo Lima, principal conductor of the Amazônia Jazz Band, was one of those who envisioned bridging two seemingly distant worlds. After twenty years as the group’s saxophonist, he has led the band for the past four. He believes in fusion over separation. “The Amazônia Jazz Band plays everything from jazz to carimbó. It’s very important to value local rhythms. You can feel the audience’s joy filling the theaters”.

Eduardo Lima é o Maestro da Amazônia Jazz Band

Mesmo oriundo de uma instituição tradicionalíssima, voltada ao ensino da música erudita, o maestro Anielson Ferreira segue o mesmo raciocínio. Regente da Banda Sinfônica do Instituto Estadual Carlos Gomes, ao lado do maestro Ricardo Aquino, defende que “podemos fazer música erudita e popular com a mesma qualidade e seriedade”.

O Caribe e a guitarrada

O contato com a música do Caribe, no fim dos anos 60, teve como causa um curioso intercâmbio. “Circulavam vários navios internacionais aqui. Era comum a troca de discos como moeda entre tripulantes e músicos”, explica Andrey.

Essa troca cultural também teve outros embaixadores: os conhecidos “pescadores do norte”, trabalhadores do mar que ultrapassavam fronteiras e voltavam com som no barco.

As “ondas tropicais” traziam uma trilha que consumimos até hoje, frequências radiofônicas que alcançavam longas distâncias. “A PRC 5 [atual Rádio Clube] tinha ondas tropicais que chegavam à Martinica, Guadalupe, Porto Rico; e, por outro lado, as rádios do Caribe também chegavam aqui, principalmente a Rádio Nacional de Havana. Ou seja, não se tem como negar a influência”, conta o estudioso.

A associação do Pará à imagem do Caribe tomou força a partir dos anos 70, no período da ditadura militar. E é no meio dessa atmosfera que nasce, no fim dos anos 70, a guitarrada. Misturando a lambada e outros ritmos latinos com o carimbó, o brega, a jovem guarda e o choro, o estilo surge como linguagem musical criada pelo virtuoso guitarrista Mestre Vieira, de Barcarena.

A guitarrada só passou a ser entendida como gênero autônomo anos mais tarde, em 2000, a partir da pesquisa de Pio Lobato. Quem toca num grupo de guitarrada, seja guitarrista ou não, é conhecido como “guitarreiro”.

“A guitarrada é o único gênero brasileiro criado para guitarra, já na modernização da música do norte. Uma música instrumental que só nós fazemos”, aponta o pesquisador e músico Bruno Rabelo, presidente do coletivo Clube da Guitarrada, que leva a outras gerações o trabalho dos mestres que ergueram essa musicalidade exclusiva.

Even within traditional institutions devoted to classical music, the same idea resonates. Conductor Anielson Ferreira, who leads the Symphonic Band of the Carlos Gomes State Institute alongside maestro Ricardo Aquino, defends this union as well. “We can play classical and popular music with the same quality and seriousness,” he says.

From the caribbean to the guitarrada

The contact with Caribbean music in the late 1960s began through a curious kind of exchange. “Several international ships used to dock here. It was common for sailors and local musicians to trade vinyl records as currency,” explains Andrey. This cultural exchange also had other ambassadors: the socalled pescadores do norte the northern fishermen who would cross borders and return with new sounds aboard their boats.

Those “tropical waves” carried a soundtrack that still echoes today radio frequencies that reached across long distances.

“PRC 5 [today Rádio Clube] transmitted tropical waves that reached Martinique, Guadeloupe, Puerto Rico; and, on the other side, Caribbean radio stations also reached us, especially Radio Nacional de Havana. So it’s impossible to deny that influence,” says the researcher.

The association of Pará with a Caribbean identity gained strength in the 1970s, during Brazil’s military dictatorship. And it was within that atmosphere that, at the end of the decade, guitarrada was born. Mixing lambada and other Latin rhythms with carimbó, brega, jovem guarda, and choro, the style emerged as a musical language created by the virtuoso guitarist Mestre Vieira, from Barcarena.

Guitarrada would only later be recognized as an independent genre, around the 2000s, thanks to the research of musician Pio Lobato. Those who play in a guitarrada group whether guitarists or not are affectionately called guitarreiros.

“Guitarrada is the only Brazilian genre created specifically for the electric guitar, part of the modernization of northern music. It’s an instrumental sound that exists only here,” says musician and researcher Bruno Rabelo, president of the Clube da Guitarrada, a collective that carries forward the work of the masters who built this unique sound.

A tradicional guitarrada

Fundado por Félix Robatto, o Clube está em atuação há oito anos. Os músicos se reúnem todo primeiro domingo do mês no Espaço Cultural Apoena, em Belém, para jams improvisadas.

Embora a guitarrada ainda seja pouco explorada pelo resto do país, sua musicalidade tem sido cada vez mais identificada, ampliando sua pegada no solo sonoro brasileiro. “Ela sempre esteve presente junto à cultura do povo ribeirinho. Mas, se hoje você acessar qualquer rede social que fale sobre a Amazônia do Pará, vai ter uma trilha sonora de guitarrada”, argumenta Bruno.

Os muitos bregas e a ascensão das aparelhagens

De todos os gêneros que fazem a cabeça do paraense, prova de todos os gêneros que fazem a cabeça do paraense, provavelmente o mais popular na contemporaneidade é o brega. Do brega clássico de Mauro Cotta nos anos 1980 (também chamado de flash-brega, brega saudade ou “passadão”), Passando pelo brega-pop dos anos 1990, de Wanderley Andrade e Xeiro Verde (popularmente chamado de “marcante”), até a explosão do brega calipso nos anos 2000, com a banda Calypso e, posteriormente, a cantora Joelma (que segue como representante mais famosa dessa linguagem no país),

O gênero se fortaleceu, modernizou, digitalizou e deu origem a um grande fenômeno: o tecnobrega tirou as festas dançantes de casas de show periféricas e as transformou em megaeventos com a explosão das aparelhagens.

Telões, LEDs, fogos de artifício, DJs performáticos e paredões enormes de som dão o tom do evento, que reúne milhares de pessoas e chamou a atenção do Brasil todo. Cada aparelhagem tem sua especificidade e seu grupo fiel de fãs, que frequenta as festas como uma reafirmação de sua identidade.

“Quando surgiu, o tecnobrega era o ‘brega das aparelhagens’. As pessoas se reconhecem por certas gramaticalidades, estéticas: a maneira de se comportar, de agir, de se vestir, as pessoas com quem você se encontra, as gírias”, afirma o professor Andrey.

Founded by Félix Robatto, the club has been active for eight years. Every first Sunday of the month, musicians gather at the Apoena Cultural Space in Belém for improvised jam sessions. Although guitarrada is still little explored in the rest of the country, its sound has become increasingly recognizable, expanding its presence in Brazil’s musical landscape. “It has always been part of the culture of riverside communities. And today, if you open any social network that talks about the Amazon of Pará, you’ll find guitarrada as its soundtrack,” Bruno explains.

The many faces of brega and the rise of the aparelhagens

Of all the musical styles that move the people of Pará, none is more popular today than brega. From the classic brega of Mauro Cotta in the 1980s (also known as flash-brega, brega saudade, or "passadão"). To the brega pop of the 1990s, with artists like Wanderley Andrade and Xeiro Verde, and later the explosion of brega calypso in the 2000s with Banda Calypso and singer Joelma, the genre has constantly evolved. It has grown stronger, modernized, gone digital, and ultimately gave rise to a massive phenomenon: tecnobrega.

Tecnobrega took the dance parties of the outskirts and turned them into mega-events powered by the dazzling world of aparelhagens, towering sound systems with giant LED screens, fireworks, and charismatic DJs commanding crowds of thousands. Each aparelhagem has its own personality, visual style, and devoted fan base that attends the parties as an act of identity.

“When tecnobrega emerged, it became known as the brega of the aparelhagens. People started identifying themselves through their style, their behavior, the way they dressed, the slang they used,” explains Professor Andrey.

Foto: Kleyton Silva
Clube da Guitarrada Félix Robatto

Muitos artistas tiveram uma relação muito forte com as aparelhagens: Fruto Sensual, Gaby Amarantos e Gang do Eletro são alguns desses expoentes. Do tecnobrega, vários subgêneros nasceram: melody, eletromelody, beat melody. O fenômeno se retroalimenta e se renova, sempre trazendo novidades e aliando o high-tech ao mundo da periferia.

“As festas de aparelhagem criaram um circuito próprio de produção e difusão musical, independente das grandes mídias, permitindo que artistas locais alcançassem o público diretamente”, considera o DJ Marlon Beats, da aparelhagem Crocodilo.

Marlon vive essa explosão diariamente. Rodando o estado, e o Brasil, com caminhões enormes para comportar a complexa estrutura de luz e som, o “animal toca tudo do Pará” é uma das aparelhagens mais populares e queridas da atualidade. “Elas não são apenas estruturas de som, são símbolos de identidade cultural, sociabilidade e inovação tecnológica popular. Levar esse tipo de entretenimento para todo o estado ajuda a preservar e difundir uma tradição que é do povo”, avalia o artista.

As festas de aparelhagem são um fenômeno tão intenso e peculiar que ganharam um apelido carinhoso do público: o “rock doido”, terminação dada para denominar toda a estética envolvida.

A realidade é que a música do Pará é tão rica, tão complexa, tão viva, que é impossível não cometer injustiças ao tentar destacar quais são os nomes importantes dentro da nossa trilha sonora. Fafá de Belém, Nilson Chaves, Paulo André e Ruy Barata, os mestres do carimbó Verequete e Lucindo, Ronaldo Silva e Arraial do Pavulagem, ao lado de inúmeros guitarreiros, bregueiros e lambadeiros, também tecem essa enorme malha auditiva, ocupando nossa mente com letras e melodias que nos fazem orgulhosos e festeiros em tempo integral.

A música do Pará não cabe nos fones de ouvido e tampouco é uma experiência individual. “A lambada, o brega, o carimbó, o tecnobrega não são apenas gêneros musicais. Eles são fatos sociais totais: envolvem diversas dimensões da vida dos sujeitos. Essa vitalidade toda envolve a maneira de viver e ver o mundo desses grupos sociais”, resume Andrey.

Many artists have deep ties with the aparelhagem scene. Fruto Sensual, Gaby Amarantos, and Gang do Eletro are among its most recognized names. From tecnobrega came subgenres such as melody, eletromelody, and beat melody. The phenomenon keeps reinventing itself, always merging high-tech innovation with the soul of the suburbs.

“The aparelhagem parties created their own circuit of music production and distribution, independent of mainstream media, allowing local artists to reach the public directly,” says DJ Marlon Beats, from the aparelhagem Crocodilo.

Marlon experiences this explosion daily, traveling across Pará, and across Brazil with trucks carrying massive structures of light and sound. “These aren’t just sound systems,” he says, “they are cultural symbols of identity, community, and popular technological creativity. Bringing this kind of entertainment to the entire state helps preserve and spread a tradition that belongs to the people".

The aparelhagem parties are such a unique and intense phenomenon that they earned a nickname from their audiences: rock doido “crazy rock” a term that captures their wild, electrifying spirit.

The truth is that the music of Pará is so rich, so complex, and so alive that it’s impossible to name all the voices that have shaped its vast soundscape. Fafá de Belém, Nilson Chaves, Paulo André and Ruy Barata, the carimbó masters Verequete and Lucindo, Ronaldo Silva, and the Arraial do Pavulagem, alongside countless guitarreiros, bregueiros, and lambadeiros, weave together an immense auditory tapestry one that fills our minds with songs and stories of pride and joy.

The music of Pará doesn’t fit inside headphones, nor is it meant to be a solitary experience. “Lambada, brega, carimbó, and tecnobrega are not just musical genres. They are total social phenomena that shape how people live, feel, and see the world,” concludes Professor Andrey.

o QR Code e ouça a playlist que a LiV montou para você

Scan the QR Code and listen to the playlist LiV made for you

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Escaneie
Foto: Rhuan Gonçalves
Foto: Andrea Nestrea
Aparelhagem Crocodilo
Encanto para os olhos do mundo e para você: conheça lugares fascinantes para viver experiências incríveis no Pará
Enchanting to the eyes of the world and to you: discover fascinating places to live incredible experiences in Pará

Nesta edição especial da Revista LiV para a COP 30, você é convidado a ver, provar e se apaixonar por lugares encantadores do estado do Pará, sob o olhar da jornalista Tainá Aires e da influenciadora Dani Viaja

Do centro histórico de Belém às praias do Marajó, passando pelas águas cristalinas do rio Tapajós e pelos mercados cheios de cores, cheiros e sabores, o Pará é um destino completo para quem busca viver experiências culturais autênticas e inesquecíveis. Com tanta riqueza, não faltam opções para quem visita o estado e deseja conhecer uma cultura viva em cada detalhe.

In this special edition of LiV Magazine for COP 30, you are invited to see, taste, and fall in love with charming places in the state of Pará, through the eyes of journalist Tainá Aires and influencer Dani Viaja

From the historic center of Belém to the beaches of Marajó, passing through the crystal-clear waters of the Tapajós River and markets full of colors, smells, and flavors, Pará is a complete destination for those seeking to experience authentic and unforgettable cultural experiences. With so much richness, there is no shortage of options for visitors to the state who want to get to know a living culture in every detail.

Souré no Marajó
Foto: Bruno Cecim

Pensando nisso, a Revista LiV entrevistou duas mulheres que amam e conhecem muito bem esta terra abundante em saberes, tradições, fé, histórias e encantos amazônicos: a jornalista Tainá Aires, que já percorreu diversos cantos da Amazônia, e a influenciadora Dani Viaja, conhecida por compartilhar suas experiências regionais e gastronômicas ao desbravar os encantos do Pará.

Autoridades no assunto, Tainá e Dani compartilharam dicas de lugares que quem visita o Pará precisa conhecer. E, mais do que listar pontos turísticos, aqui você encontrará um guia que mostra como ir e por que vale a pena visitar cada local, além das experiências que tornam a viagem única. Seja ao provar um bom açaí com peixe frito no Ver-o-Peso, tomar banho de cheiro na ilha do Combu, visitar fazendas no Marajó, mergulhar em uma das praias mais bonitas do mundo em Alter do Chão ou curtir o pôr do sol em Mosqueiro, as sugestões revelam um Pará vivo, diverso e surpreendente.

Miniguia - Quer conhecer o melhor do Pará?

Confira a lista de lugares que são verdadeiras experiências, sob o olhar de quem conhece o estado.

Ver-o-Peso, Belém - Tradição, cores e sabores

Um dos principais pontos turísticos e comerciais de Belém, o Complexo do Ver-o-Peso é considerado a maior feira a céu aberto da América Latina. Localizado às margens da Baía do Guajará, no bairro da Campina, o “veropa”, como é carinhosamente chamado pelos belenenses, é um complexo cultural e histórico que reflete a diversidade da cultura paraense.

E, quando o assunto é experiência autêntica, Tainá e Dani não hesitam: o Ver-o-Peso é indispensável. Segundo Tainá Aires, é impossível falar do Pará e não citar o complexo. “Não dá pra falar do Pará sem citar o Ver-o-Peso, onde é possível

With this in mind, LiV Magazine interviewed two women who love and know this land abundant in knowledge, traditions, faith, history, and Amazonian charms very well: journalist Tainá Aires , who has traveled through various corners of the Amazon, and influencer Dani Viaja , known for sharing her regional and gastronomic experiences exploring the charms of Pará.

Experts on the subject, Tainá and Dani shared tips on places that anyone visiting Pará must know! And more than just listing tourist spots, here you will find a guide showing how to get there and why it’s worth visiting each place, as well as the experiences that make the trip unique. Whether it’s trying good açaí with fried fish at Ver-o-Peso, taking a fragrant bath on Combu Island, visiting farms in Marajó, diving into one of the most beautiful beaches in the world at Alter do Chão, or enjoying the sunset in Mosqueiro, the suggestions reveal a vibrant, diverse, and surprising Pará.

Mini-guide – Want to discover the best of Pará?

Check out the list of places that are true experiences through the eyes of those who know the state.

Ver-o-Peso, Belém – Tradition, colors, and flavors

One of the main tourist and commercial spots in Belém, the Ver-o-Peso Complex is considered the largest open-air market in Latin America. Located on the banks of Guajará Bay, in the Campina neighborhood, the ‘veropa’, as it is affectionately called by locals, is a cultural and historical complex that reflects the diversity of Pará’s culture.

And when it comes to authentic experiences, Tainá and Dani don’t hesitate: Ver-o-Peso is indispensable. According to Tainá Aires, it’s impossible to talk about Pará without mentioning the complex. “You can’t talk about Pará without mentioning

Tainá Aires
Dani Viaja

entender boa parte da nossa cultura. Nessa, que é a maior feira a céu aberto da América Latina, você encontra frutas, castanhas, farinha, mariscos, peixe, maniva, artesanato e até ervas amazônicas. Também é possível conversar com os feirantes, o que é quase uma aula sobre o que é ser paraense

Além disso, as erveiras são uma experiência à parte, tanto pela simpatia quanto pela sabedoria ancestral. Por favor, não vá embora sem antes provar um peixe frito com açaí e ainda tomar um suco gelado de frutas regionais!”, diz. Já Dani destaca a riqueza de vivências que o lugar proporciona. “O Ver-o-Peso é a nossa expressão mais fidedigna de toda a região nordeste do Pará, podemos dizer assim. Os cheiros, os sabores, as caras, os sorrisos, a forma de falar, o barulho, o som, a beira do rio… Conhecer o Ver-o-Peso é algo que precisa estar na experiência de quem vem a Belém”. Se a pessoa tiver oportunidade, é muito bom que ela se permita experimentar as frutas típicas, sentar na beira do rio, tomar um suco nos boxes, comer um açaí com peixe frito, almoçar com as boieiras. É uma experiência pessoal estar ali, além de conhecer a nossa arquitetura, que se reflete no Solar da Beira, no Mercado de Peixe, no Mercado de Ferro e no Mercado de Carne, o Bolonha".

 Experiência obrigatória: “No Ver-o-Peso, não deixaria de bater um papo com as erveiras e comprar os cheiros com nomes peculiares, para, por exemplo, atrair dinheiro ou a pessoa amada. E, claro, ainda comer um peixe frito com açaí”, frisa Tainá.

 Como chegar: Localizado na região central de Belém, o Ver-o-Peso é de fácil acesso. A melhor opção para você dependerá de onde estiver na cidade e da sua preferência por comodidade ou economia. O movimento começa bem cedo, principalmente para a venda de peixe e açaí. Para uma experiência mais autêntica e tranquila, a recomendação é ir pela manhã.

 Dica extra: O Ver-o-Peso fica próximo de outros pontos turísticos, como o Forte do Presépio e a Estação das Docas. Vale a pena encarar o percurso e vivenciar Belém de forma otimizada.

Ver-o-Peso, where it’s possible to understand a large part of our culture. At this, the largest open-air market in Latin America, you find fruits, nuts, flour, shellfish, fish, manioc leaves, handicrafts, and even Amazonian herbs. It’s also possible to talk with the vendors, which is almost like a lesson in what it means to be from Pará.

Besides that, the herb sellers are a unique experience, both for their friendliness and ancestral wisdom. Please, don’t leave without trying fried fish with açaí and also having a cold regional fruit juice!” she says.

Dani highlights the richness of experiences the place provides. “Ver-o-Peso is our most faithful expression of the entire northeastern region of Pará, we could say. The smells, the flavors, the faces, the smiles, the way people talk, the noise, the sounds, by the river... Knowing Ver-o-Peso is something that needs to be part of anyone’s experience here in Belém. If someone has the chance, it’s great to let yourself try typical fruits, sit by the river, have a juice at the juice stands, have açaí with fried fish, have lunch with the boat women, it’s a personal experience to be there, besides getting to know our architecture reflected in the Solar da Beira, the Fish Market, the Iron Market, and the meat market, which is Bolonha".

 Must-do experience: “At Ver-o-Peso, I wouldn’t miss chatting with the herb sellers and buying the scents with peculiar names to, for example, attract money or a loved one. And, of course, still eating fried fish with açaí,” stresses Tainá.

 How to get there: Located in downtown Belém, Ver-o-Peso is easy to access. The best option depends on where you are in the city and your preference for convenience or economy. The market gets busy early, especially for fish and açaí sales. For a more authentic and calm experience, it’s recommended to go in the morning.

 Extra tip: Ver-o-Peso is close to other tourist spots like Forte do Presépio and Estação das Docas. It’s worth taking the trip and experiencing Belém in an optimized way.

Mercado do Ver-o-Peso
Os famosos cheirinhos do Ver-o-Peso

Ilha do Combu, Belém - Riqueza amazônica

Conhecida por sua paisagem amazônica, com muitas palmeiras e casas de ribeirinhos, a ilha oferece uma experiência de imersão na cultura e na natureza da região.

Para Tainá Aires, quem vem ao Pará precisa visitar a Ilha do Combu. Afinal, tomar banho de rio e conhecer de perto a realidade e a cultura ribeirinha é incrível. “A Ilha do Combu é uma ótima opção para quem quer vivenciar o dia a dia das comunidades locais, na beira do rio. É possível participar de várias experiências, como trilhas, retirar, debulhar e degustar o tradicional açaí, participar de oficinas de biojoias, tomar banho de cheiro, conhecer o cultivo e o preparo do chocolate nativo da Amazônia, além de visitar restaurantes que servem peixes deliciosos preparados de diferentes formas. Tudo isso em meio a uma natureza exuberante. Ah... e se você quiser estender o tempo por lá, o Combu já dispõe de hospedagens”, conta a jornalista.

 Experiência obrigatória: No Combu, visitar a fábrica de chocolates da dona Nena e saborear um bom peixe nos restaurantes da ilha são experiências incríveis. “Não dá para deixar de visitar a fábrica de chocolate da dona Nena, uma ribeirinha que encontrou no cacau uma fonte de renda e hoje é referência no estado e no Brasil. Por lá, você consegue acompanhar desde o cultivo até a preparação das barras de chocolate. Não deixe também de comer em um dos restaurantes da região, contemplando a paisagem e ainda tomar banho de rio”, destaca Tainá.

 Como chegar: Para chegar à Ilha do Combu, pegue um táxi ou um carro por aplicativo até o Terminal Hidroviário Ruy Barata, na Praça Princesa Isabel, em Belém. De lá, embarque em uma lancha voadeira que fará a travessia pelo rio Guamá. A viagem dura cerca de 15 minutos até a ilha.

Combu Island, Belém – Amazonian richness

Known for its Amazonian landscape, with many palm trees and riverside houses, the island offers an immersive experience in the region’s culture and nature.

For Tainá Aires, anyone coming to Pará must visit Combu Island, after all, bathing in the river and getting close to the riverside reality and culture is amazing. “Combu Island is a great option for those who want to experience the daily life of the local communities by the river. It’s possible to participate in several activities, such as hiking; harvesting, shelling, and tasting traditional açaí; taking part in bio-jewelry workshops; bathing in scented waters; learning about the cultivation and preparation of native Amazonian chocolate; plus restaurants that serve delicious fish prepared in different ways. All this amid exuberant nature. Ohh... and if you want to extend your stay there, Combu already offers lodging,” says the journalist.

 Must-do experience: At Combu, visiting Dona Nena’s chocolate factory and tasting good fish at the island’s restaurants are incredible experiences. “You can’t miss visiting Dona Nena’s chocolate factory. She is a riverside woman who found in cocoa a source of income and today is a reference in the state and in Brazil. There, you can follow everything from cultivation to the preparation of chocolate bars. Also, don’t miss eating at one of the local restaurants while enjoying the scenery and still taking a river bath,” highlights Tainá.

 How to get there: To get to Combu Island, take a taxi or Uber to the Ruy Barata Hydro Terminal at Praça Princesa Isabel in Belém. From there, board a speedboat that will cross the Guamá River. The trip takes about 15 minutes to the island.

Ilha do Combu
Foto: Pedro Guerreiro

Bragança - História e beleza

Conhecida como a “Pérola do Caeté”, Bragança é uma cidade histórica cheia de encantos, belezas e sabores, como a famosa farinha de mandioca bem torrada.

Das lindas praias à arquitetura do centro histórico, Bragança está na lista de lugares indicados por Tainá Aires. “Bragança é conhecida pela produção de uma das melhores farinhas do Pará, mas o município vai muito além disso. Além de contemplar as belezas naturais com um passeio na orla, Bragança tem um centro histórico com igrejas e museus, que, inclusive, contam a história da Estrada de Ferro Belém–Bragança, que ligava os dois municípios.

As manifestações religiosas fazem parte da tradição cultural de Bragança, que promove há anos a Marujada, em homenagem a São Benedito. A festividade envolve fé, música e trajes específicos para a ocasião. Algo tão importante que há até um mirante com o santo, de onde é possível ver a cidade por outro ângulo.

Bragança também tem praia. É imperdível uma visita à Ajuruteua, onde é possível usufruir de uma paisagem exuberante e ainda comer muito peixe e caranguejo".

 Experiência obrigatória: Quem vai a Bragança tem que passar pelo Mirante de São Benedito. “A vista do local é privilegiada. Mas vá preparado para subir muitas escadas”, orienta a jornalista.

 Como chegar: Para chegar a Bragança, a maneira mais comum é de carro ou ônibus. A viagem dura, em média, de 3h30 a 4 horas.

Diversas empresas de ônibus fazem o trajeto regularmente de Belém para Bragança. As passagens rodoviárias podem ser compradas com antecedência online ou diretamente no Terminal Rodoviário de Belém ou de Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém (RMB).

Bragança – History and beauty

Known as the ‘Pearl of Caeté,’ Bragança is a historic city full of charm, beauty, and flavors, such as the famous well-toasted manioc flour.

From the beautiful beaches to the architecture of the historic downtown, Bragança is on the list of places recommended by Tainá Aires. “Bragança is known for producing one of the best flours in Pará, but the municipality goes far beyond that. Besides enjoying the natural beauties on a stroll along the waterfront, Bragança has a historic center with churches and museums, which even tell the story of the Belém-Bragança Railway, which connected the two municipalities. Religious manifestations are part of Bragança’s cultural tradition, which has been promoting the Marujada for years, in honor of São Benedito. The celebration involves faith, music, and specific costumes for the occasion. Something so important that there is even a lookout with the saint, where it is possible to see the city from another angle. Bragança also has a beach. A visit to Ajuruteua is unmissable, where you can enjoy an exuberant landscape and eat plenty of fish and crab".

 Must-do experience: Anyone going to Bragança must visit the São Benedito Lookout. “The view is privileged, but be prepared to climb many stairs,” advises the journalist.

 How to get there: The most common way to get to Bragança is by car or bus. The trip takes on average 3.5 to 4 hours.

Several bus companies regularly run the route from Belém to Bragança. Bus tickets can be purchased online in advance or directly at the Belém or Ananindeua Bus Terminals in the Belém Metropolitan Region (RMB).

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Orla de Bragança Igreja de São Benedito
A tradicional e popular farinha de Bragança
Foto: Bruno Cecim
Foto: Marcelo Seabra Foto: Marcos Santos

Belém: da capital da gastronomia amazônica ao reconhecimento mundial do chocolate

Maior produtor do Brasil, o Pará cultiva cacau nativo oriundo de árvores seculares e conquista paladares com a autenticidade e os sabores únicos da culinária amazônica

Famosa por sua sua rica e autêntica culinária amazônica, Belém, capital do Pará, é um verdadeiro paraíso gastronômico. Quem visita a cidade logo se encanta com pratos tradicionais como o pato no tucupi, a maniçoba e o açaí servido com peixe frito, uma combinação surpreendente para quem não é da região, mas profundamente apreciada pelos paraenses.

Além dos pratos salgados, os doces e sorvetes feitos com frutas típicas da Amazônia, como cupuaçu, bacuri e o próprio açaí, revelam a criatividade e a diversidade dos sabores da terra.

Nos últimos anos, Belém e outras regiões do estado vêm ganhando destaque em outro setor igualmente saboroso: a produção de chocolate. O motivo? O cacau paraense possui qualidade superior, com aroma e sabor únicos, que vêm conquistando o paladar de especialistas e consumidores no Brasil e no exterior.

Esse reconhecimento não é por acaso. O Pará é, hoje, o maior produtor de cacau do

Belém: from the capital of amazonian cuisine to global recognition for chocolate

As the largest producer in Brazil, Pará cultivates native cacao from centuries-old trees and delights palates with the authenticity and unique flavors of Amazonian cuisine

Famous for its rich and authentic Amazonian cuisine, Belém, the capital of Pará, is a true gastronomic paradise. Visitors are quickly captivated by traditional dishes such as pato no tucupi (duck in tucupi sauce), maniçoba (a dish made from manioc leaves), and açaí served with fried fish, an unexpected combination for outsiders, yet deeply cherished by locals.

Beyond savory dishes, sweets and ice creams made with native Amazonian fruits like cupuaçu, bacuri, and açaí highlight the region’s flavor diversity and culinary creativity.

In recent years, Belém and other areas of the state have also gained attention in another delicious domain: chocolate. The reason? Pará’s cacao is of exceptional quality, with distinctive aroma and flavor, winning over experts and consumers both in Brazil and abroad.

This recognition is no coincidence. Pará is now one of the largest cacao-producing

Brasil, colhendo anualmente cerca de 153 mil toneladas de amêndoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2024). O estado detém 53,4% da produção nacional, o que demonstra não apenas sua eficiência, mas também o grande potencial técnico e climático para a cultura cacaueira.

A liderança paraense foi consolidada com o fortalecimento do cultivo na Região de Integração do Xingu, especialmente no município de Medicilândia, reconhecido como a “Capital Nacional do Cacau”. A cidade se destaca não apenas pelo volume produzido, mas também pela qualidade das amêndoas.

Em 2024, Medicilândia ganhou projeção internacional ao brilhar no prestigiado Cocoa of Excellence Awards, realizado em Amsterdã, na Holanda. O produtor Robson Brongni, dedicado ao cultivo de cacau fino desde 2014, foi um dos grandes destaques. Com persistência e dedicação, seu produto foi reconhecido como um dos melhores do mundo, conquistando a medalha de prata e reafirmando o potencial do cacau amazônico no cenário global.

“O segredo do trabalho está em fazer o básico bem feito, com uma equipe de confiança, persistência, humildade para aprender e aceitação dos erros. A qualidade vem da consistência ao longo do tempo, como mostram os resultados desde 2019, com amêndoas de cacau entre as melhores do Brasil. Em relação à sustentabilidade, ela é parte natural da cacauicultura, que está profundamente ligada à floresta e ao meio ambiente. Respeitar isso começa com o bem-estar dos trabalhadores, formando uma corrente de compromisso que envolve patrões, equipe e comunidade”, afirma Robson Brongni.

A rota paraense do chocolate

Além da importância econômica, o cultivo de cacau no Pará está fortemente integrado ao turismo, por meio da Rota do Cacau ao Chocolate, que transforma o processo produtivo em uma experiência sensorial e cultural.

“O turismo é recente em Medicilândia, mas já mostra resultados. Estamos tornando o cacau e o chocolate uma identidade real da região, indo além do título de ‘Capital Nacional do Cacau’. Na nossa fazenda, já planejamos estruturas voltadas ao turismo, como um restaurante, e recebemos grupos do Brasil e do exterior.

states in Brazil, harvesting approximately 153,000 tons of beans annually, according to the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE, 2024). Holding 53.4% of the national output, the state demonstrates both agricultural efficiency and ideal technical and climatic conditions for cacao cultivation.

Pará’s leadership was solidified with the expansion of cacao farming in the Xingu Integration Region, particularly in the municipality of Medicilândia, recognized as Brazil’s “Cacao Capital". The city stands out not only for production volume, but also for the excellence of its beans.

In 2024, Medicilândia earned international acclaim at the Cocoa of Excellence Awards in Amsterdam, Netherlands. Local producer Robson Brongni, dedicated to fine cacao cultivation since 2014, received a silver medal for one of the best beans in the world, a testament to the global potential of Amazonian cacao.

“The secret to this work is doing the basics well, with a trusted team, persistence, humility to learn, and acceptance of mistakes. Quality comes from consistency over time, as seen in results since 2019, with cacao beans ranked among the best in Brazil. As for sustainability, it is naturally integrated into cacao farming, which is deeply connected to the forest and environment. Respect begins with the well-being of workers and creates a chain of shared responsibility,” says Robson Brongni.

The Pará chocolate route

In addition to its economic importance, cacao cultivation in Pará plays a growing role in tourism through the Cacao to Chocolate Route, a journey that transforms the production chain into a cultural and sensory experience.

“Tourism is still new in Medicilândia, but it’s already showing results. We’re turning cacao and chocolate into a true identity of the region, going beyond the title of ‘National Cacao Capital.’ At our farm, we’ve developed tourist structures like a restaurant and host visitors from Brazil and abroad.

This benefits the entire Transamazonian region. My dream is that, when people search for ‘fine chocolate’ or ‘fine cacao’ on Google,

Bianca Rodrigues

Isso beneficia toda a Transamazônica. Meu sonho é que, ao buscar no Google por ‘chocolate fino’ ou ‘cacau fino’, o mundo veja a Região Transamazônica como referência. A COP 30 será uma vitrine para mostrar que aqui há sustentabilidade, agricultura familiar, bioeconomia e uma riqueza cultural e ambiental que o mundo precisa conhecer”, destaca Brongni.

Ilha do Combu: chocolate com origem e sustentabilidade

Outro destaque da produção de cacau paraense está na Ilha do Combu, a cerca de 15 minutos de barco de Belém. É lá que vive Izete Costa, a Dona Nena, empreendedora ribeirinha que começou vendendo chocolate na praça e hoje comercializa seus produtos orgânicos e artesanais para diversos restaurantes do Brasil.

Na Casa do Chocolate, Filha do Combu, comandada por Dona Nena, os visitantes têm contato direto com o cultivo do cacau amazônico e com a produção artesanal de um chocolate de sabor intenso e identidade regional. Dona Nena lidera uma produção 100% orgânica, baseada em práticas sustentáveis. A propriedade recebe diariamente turistas apaixonados por cacau, especialmente pelo brigadeiro, a iguaria mais procurada pelos visitantes.

“Colhemos o cacau com respeito à floresta, aproveitando o fruto e devolvendo os resíduos à terra para fortalecer a plantação em sistema de dupla. Utilizamos apenas o excedente do suco, evitando desperdícios, e processamos o cacau em diversos produtos, como pó e barras de chocolate refinado. Todo o trabalho é feito de forma sustentável, em harmonia com a natureza. Esperamos que a COP 30 reconheça nosso papel como guardiões da floresta e valorize o modo como tiramos dela nosso sustento com responsabilidade”, afirma Dona Nena.

A experiência turística inclui oficinas de produção de chocolate, visitas às plantações, trilhas ecológicas, banho no rio Guamá e vivência de iniciativas sustentáveis que envolvem comunidades locais, uma união entre gastronomia, ecoturismo e valorização da cultura amazônica.

the world sees the Transamazonian region as a reference. COP 30 will be a showcase to prove that this territory embodies sustainability, family farming, bioeconomy, and a cultural and environmental richness the world needs to know,” emphasizes Brongni.

Ilha do Combu: chocolate with origin and sustainability

Another standout in Pará’s cacao scene is Ilha do Combu, located just 15 minutes by boat from Belém. There, Izete Costa, known as “Dona Nena,” turned a small chocolate-selling venture in the town square into a thriving artisanal business supplying restaurants across Brazil.

At Casa do Chocolate, Filha do Combu, visitors witness the full cycle of Amazonian cacao cultivation and artisanal chocolate production. Dona Nena’s operation is 100% organic, grounded in sustainable practices. Tourists flock to the site, especially to sample her acclaimed brigadeiro, the most popular treat.

“We harvest cacao with respect for the forest, using the fruit and returning the residues to the soil to nourish the plantation in a dual system. We use only the excess juice to avoid waste and process the cacao into powder and fine chocolate bars. All of our work is sustainable and in harmony with nature. We hope COP 30 will recognize our role as forest guardians and value the way we make a living from it responsibly,” says Dona Nena.

The experience includes chocolate-making workshops, visits to cacao groves, ecological trails, swims in the Rio Guamá, and community-based sustainability initiatives, an integration of gastronomy, ecotourism, and Amazonian cultural preservation. Árvore de cacau

A verticalização do chocolate paraense

A produção de cacau está presente em diversas regiões do Pará, das zonas rurais do interior até as ilhas próximas à capital. Isso movimenta a economia local e fortalece tanto a agricultura familiar quanto grandes empreendimentos do agronegócio.

Mas o ciclo produtivo vai além da lavoura: cada vez mais, empreendedores apostam na verticalização da cadeia produtiva, ou seja, transformam o cacau em chocolate no próprio estado, agregando valor ao produto e estimulando o surgimento de marcas autorais e artesanais.

Hoje, o chocolate produzido no Pará não perde em nada para os grandes nomes do setor. Pelo contrário: ganha pontos ao respeitar a origem, valorizar o pequeno produtor e utilizar matéria-prima fresca, local e de alta qualidade.

Verticalization of Pará’s chocolate

Cacao is grown throughout Pará, from rural inland areas to the islands near the capital. This not only supports the local economy but also strengthens both family-based agriculture and larger agribusinesses.

Increasingly, entrepreneurs are investing in vertical integration, processing cacao into chocolate locally rather than exporting the raw product. This adds value to the final product and encourages the emergence of original, artisanal chocolate brands.

Today, Pará’s chocolate rivals the biggest names in the industry. In fact, it earns recognition for its traceability, support for small-scale producers, and use of fresh, high-quality local ingredients.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Fábio Sicilia
Chocolate Gaudens

Assim, Belém, já consagrada como capital da gastronomia amazônica, desponta também como referência no universo do chocolate fino, artesanal e com DNA 100% paraense.

Um sonho amazônico em forma de sabor:

Gaudens Chocolate

Foi em 2004, em meio ao calor úmido e à vegetação exuberante de Medicilândia, que o chef chocolatier Fábio Sicília teve uma inquietação. Ao visitar a região, deparou-se com um paradoxo: muito cacau, mas nenhum chocolate.

Nascia ali a Gaudens Chocolate, não como mais uma fábrica, mas como um projeto ousado de valorização da floresta e dos saberes locais.

O caminho, porém, foi desafiador. Faltavam tecnologias e referências no Brasil. Foi preciso buscar conhecimento técnico na Itália e maquinário especializado na Índia.

Em 2012, a marca passou por uma reformulação decisiva. Com foco em chocolates finos, teve início uma nova fase da Gaudens: traduzir a Amazônia em cada tablete, com ingredientes autênticos e processos de excelência.

Sabores que contam histórias

Na Gaudens, cada receita carrega o espírito da floresta, combinando o cacau paraense com ingredientes nativos como cupuaçu, bacuri, açaí, tapioca e castanha-do-pará. Esses sabores ganham vida em criações únicas.

Mais do que produtos, os chocolates da Gaudens são declarações de amor à biodiversidade e ao território que os inspira, um convite para saborear a floresta com respeito, inovação e propósito.

Thus, Belém, already celebrated as the capital of Amazonian cuisine, is emerging as a global reference in fine, artisanal chocolate, with a distinctly Pará identity.

An amazonian dream in the form of flavor: Gaudens Chocolate

In 2004, amid the heat and dense vegetation of Medicilândia, chef and chocolatier Fábio Sicília had a revelation: there was plenty of cacao, but no chocolate.

That insight gave birth to Gaudens Chocolate, not merely a factory, but a visionary project dedicated to valuing the forest and local knowledge.

The path wasn’t easy. There was no existing technology or model in Brazil. Technical knowledge had to be sought in Italy, and specialized equipment sourced from India.

In 2012, Gaudens underwent a transformative shift. With a focus on premium quality, it entered a new phase, one where every bar tells a story of the Amazon through unique ingredients and excellent craftsmanship.

Flavors that tell stories

Each Gaudens recipe embodies the spirit of the forest, blending Pará cacao with native ingredients like cupuaçu, bacuri, açaí, tapioca, and Brazil nuts. These combinations result in flavors that are as singular as they are expressive.

More than products, Gaudens chocolates are love letters to biodiversity, inviting the world to taste the forest with respect, creativity, and purpose.

CURIOSIDADE: A HISTÓRIA DO CACAU E DO CHOCOLATE NO BRASIL No início, o cacau era consumido apenas por povos indígenas da região amazônica. Eles usavam os frutos triturados, peneiravam, misturavam com água e serviam junto com outros alimentos, bem diferente do chocolate que conhecemos hoje.

CURIOSITY: THE HISTORY OF CACAO AND CHOCOLATE IN BRAZIL

In the beginning, cacao was consumed only by the Indigenous peoples of the Amazon region. They crushed the fruits, sifted them, mixed them with water, and served the mixture alongside other foods, quite different from the chocolate we know today.

Fábrica de chocolate do Robson Brongni
“A Floresta Inspira, a Gente Cria e Produz”

Amazônia em Barras

“Amazônia em Barras” encapsula a biodiversidade amazônica em tabletes premium, combinando cacau de origem e frutos nativos para entregar sabor, sustentabilidade e identidade amazônica. (Amazon in Bars” encapsulates the Amazon’s biodiversity in premium tablets, combining single-origin cacao and native fruits to deliver flavor, sustainability, and Amazonian identity.)

(The Forest Inspires, We Create and Produce” The Amazon in Bars)
Indústria paraense apresenta dez diretrizes para a descarbonização
Pará’s industry presents ten guidelines for decarbonization

Movimento multissetorial liderado pela Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), a Jornada COP+ está promovendo uma nova agenda ambiental, social e econômica na Amazônia brasileira. O movimento é estruturado em dez pilares e eixos temáticos: comunicação e advocacy, infraestrutura e logística, atração de investimentos, economia de baixo carbono, mulheres e povos tradicionais, sociobioeconomia, economia circular, transformação digital e inovação, transição energética, além da rastreabilidade das cadeias de valor.

Os assuntos são discutidos em grupos temáticos, resultando no documento “Diretrizes para uma Indústria de Baixo Carbono”. São dez as principais recomendações, que giram em torno do uso sustentável da biomassa de resíduos, como caroço de açaí e cascas de castanha; o fortalecimento da rastreabilidade das cadeias produtivas; a estruturação da economia circular no estado; a valorização da sociobioeconomia; o protagonismo de mulheres e povos tradicionais; a atração de investimentos verdes; o desenvolvimento da infraestrutura regional; a inclusão digital; e o fortalecimento da reputação da Amazônia.

A multisectoral movement led by the Federação das Indústrias do Estado do Pará (FIEPA), Jornada COP+ is advancing a new environmental, social, and economic agenda in the Brazilian Amazon. The initiative is structured around ten core pillars and thematic axes: communication and advocacy, infrastructure and logistics, investment attraction, low-carbon economy, women and traditional peoples, sociobioeconomy, circular economy, digital transformation and innovation, energy transition, and value chain traceability. These themes were addressed through thematic working groups, culminating in the document “Guidelines for a Low-Carbon Industry".

The ten key recommendations emphasize the sustainable use of biomass from residues such as açaí seeds and Brazil nut shells; enhancement of production chain traceability; establishment of a circular economy in the state; appreciation of the sociobioeconomy; promotion of leadership by women and traditional peoples; attraction of green investments; expansion of regional infrastructure and digital inclusion; and reinforcement of the Amazon’s global reputation.

Presidente da Fiepa, Alex Carvalho Semana do Clima

As diretrizes representam a contribuição da indústria amazônica ao documento “Legados da Sustainable Business COP 30”, iniciativa da Confederação Nacional da Indústria, que reúne propostas do setor produtivo. “As diretrizes trazem consigo não só o fortalecimento das boas práticas que já existem, mas também outras soluções que contribuem com a agenda do clima e trazem benefícios à nossa sociedade. Nossa visão de sustentabilidade é equilibrar o respeito ao meio ambiente e a inclusão social, sem perder a competitividade econômica”, destaca Alex Carvalho, presidente da FIEPA e da Jornada COP+.

O movimento também promove o reconhecimento de soluções sustentáveis da indústria amazônica, para que sirvam de exemplo a outras empresas. Setenta e seis soluções voltadas à descarbonização foram inscritas no Edital de Cases promovido pela Jornada COP+. As melhores serão apresentadas no Fórum de Excelência, em Belém, evento paralelo à COP 30.

These guidelines represent the Amazonian industry’s contribution to the document “Legacies of the Sustainable Business COP 30”, an initiative by the Confederação Nacional da Indústria (CNI), which compiles proposals from the productive sector. “These guidelines not only reinforce existing best practices but also introduce new solutions that advance the climate agenda and bring benefits to our society. Our vision of sustainability is to strike a balance between environmental respect and social inclusion without compromising economic competitiveness”, states Alex Carvalho, president of FIEPA and Jornada COP+.

The movement also seeks to highlight sustainable solutions developed by Amazonian industries, enabling them to serve as models for other companies. A total of 76 decarbonization solutions were submitted to the Call for Cases launched by Jornada COP+. The most impactful initiatives will be featured at the Fórum de Excelência in Belém, a side event of COP 30.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Encontro de Líderes

“Para aproveitar o que Belém tem de melhor, indico permitir-se assistir a um belo pôr do sol no Combu, com vista para a capital, no Espaço Aruna. Eles oferecem Day Use em algumas datas específicas do ano para quem deseja conhecer”.

“To enjoy the best of what Belém has to offer, I recommend taking the time to watch a beautiful sunset from Combu Island, with a view of the capital, at Espaço Aruna. They offer ‘Day Use’ access on specific dates throughout the year for those who wish to visit”.

“A receptividade do paraense é única. Recebemos como ninguém: de forma calorosa, genuína e acolhedora. A hospitalidade faz parte da identidade cultural da região. Quem chega é recebido com sorrisos, afeto e uma natural vontade de compartilhar tradições, sabores e histórias. Essa receptividade é uma das maiores riquezas humanas do Pará, refletindo a força dos laços comunitários e o orgulho do povo por sua cultura”.

“The receptiveness of the people of Pará is truly unique. We welcome others like no one else, warmly, genuinely, and with open arms. Hospitality is an essential part of the region’s cultural identity. Those who arrive are greeted with smiles, affection, and a natural willingness to share traditions, flavors, and stories. This welcoming spirit is one of Pará’s greatest human treasures, reflecting the strength of Community bonds and the pride its people take in their culture”.

Priscila Castro - Jornalista @priscillascastro
Arivaldo Meireles - Médico @dr.arivaldomeireles
Pôr do sol na Ilha do Combu
Noite na Ilha do Combu
Mercado do Ver-o-Peso

“Um dos aspectos que mais me encanta no Pará é a sua gastronomia rica e peculiar. Um lugar que sempre recomendo é o Mel & Sal - Gelateria Botânica, que aposta em sabores regionais únicos. Lá, é possível encontrar sorvete de farofa, de Monteiro Lopes e de quadradinho de maracujá. São combinações inusitadas que não só surpreendem pelo sabor, mas também traduzem a cultura vibrante e a tradição culinária da nossa região”.

“One of the things that fascinates me most about Pará is its rich and unique cuisine. A place I always recommend is Mel & Sal – Gelateria Botânica, which features regional flavors. There, you can find ice cream made with farofa, Monteiro Lopes, and passion fruit fudge, among others. These unusual combinations are not only delicious but also beautifully represent the vibrant culture and culinary traditions of our region”.

“Gosto de viver na minha casa, que se chama Kaza.437, um espaço cultural e expositivo, onde há uma cozinha, uma mesa e o meu estúdio de fotografia. Eu também AMO: dobrando a rua da minha casa, tem o Boiúna, um bar que eu adoro frequentar. É super simples, mas tem uma música excelente, um pastel sensacional e os donos são maravilhosos. São músicos, e é um lugar onde eu me encontro. Sou artista e gosto de frequentar lugares onde outros artistas vão. É sempre uma troca, então meio que “casa”, né? Porque é dobrando a minha Kaza. Pra mim, cerveja gelada em Belém é no Gaúcho, uma churrascaria que fica na Pariquis. A cerveja lá é a mais gelada do mundo! Nem na Alemanha eu consegui tomar cerveja quente (risos)”.

“I like living in my house, which is called Kaza.437, which is a cultural, exhibition space where there is a kitchen, table and my photogra - phy studio. I also LOVE: just across the street from my house, there is Boiúna. It’s a bar that I love go - ing to, it’s super simple, but it has excellent music, amazing pastries and the owners are wonderful, they are musicians, It’s a place where I find myself. I’m an artist and I like going to places where artists go. It’s always an exchange, so it kind of match - es, right? Because it’s doubling my Kaza. For me, cold beer in Belém is in Gaúcho, which is a steakhouse here in Pariquis where the beer is the coldest in the world! I couldn’t even drink a warm beer in Germany, lol”.

Roberta Coelho de SouzaAdvogada @robertacoelhodesouza
Walda Marques - Fotógrafa @waldamarques
Gelateria Botânica Mel & Sal
Experiência da Kasa 437

"Para mim, a experiência em Belém que não pode deixar de ser vivida por nenhum visitante é começar o dia com uma tábua de brunch ou de café, depois da chuva, na loja Veropesinho, localizada na Travessa Benjamin Constant, uma excelente forma de abrir o dia de visitação por essa cidade. Também indico a carne assada do Box da Madá, na área das Boieiras do Mercado de São Brás, na hora do almoço. É, sem dúvida, uma das melhores carnes que já comi".

"For me, the one experience in Belém no visitor should miss is starting the day with a brunch or coffee plate, right after the rain, at Veropesinho, located on Travessa Benjamin Constant. It’s an excellent way to begin a day of exploring the city. I also highly recommend the roast beef from Box da Madá, in the Boieiras section of the São Brás Market, around lunchtime. Without a doubt, it’s one of the best meats I’ve ever eaten".

“Sou fanático pelo sorvete de açaí da Cairu. Um sabor exclusivo do Pará. Muito imitado, porém jamais igualado. Sou consumidor diário, recomendo e propago em todos os cantos”.

“I’m a fanatic for Cairu’s açaí ice cream. A unique flavor from Pará. Often imitated, but never equaled. I’m a daily consumer, I recommend it and spread the word everywhere”.

Manoel Netto – Empresário e criador de conteúdo digital @manoelfsnetto
Mauro Bonna – Jornalista @mauro.bonna
Veropesinho Casa e Café
Área das boieiras do Mercado de São Brás
Sorvete da Cairu

Imagens que atravessam Images that cross

Conheça o trabalho minucioso de alguns dos fotógrafos que retratam a Amazônia em toda a sua complexidade

Get to know the meticulous work of some of the photographers who portray the Amazon in all its complexity

Reza a lenda que, na exibição do curta-metragem L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat (A Chegada de um Trem à Estação La Ciotat), feito pelos irmãos Lumière em 1896, o público viveu fortes emoções. Isso porque a imagem do trem vindo em direção à câmera, parecendo “atravessar” a tela, teria assustado os espectadores, que, àquela época, ainda não entendiam completamente como funcionava o cinema.

Fotógrafa: Paula SampaioFolha da Cidade. Feira do A ç a , Bel é m (PA), 2014

A situação, que hoje pode soar cômica, também permite um paralelo atual: no futuro, serão igualmente ingênuas as nossas incertezas sobre se uma imagem é real ou criada por inteligência artificial?

Legend has it that at the screening of the short film “L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat” (“The Arrival of a Train at La Ciotat Station”), made by the Lumière brothers in 1896, the audience experienced strong emotions. This is because the image of the train coming towards the camera, seeming to “cross” the screen, would have frightened the spectators, who at that time still did not fully understand how cinema worked.

The situation, which may sound comical today, also leaves a current parallel: in the future, will our uncertainties about whether an image is real or made by artificial intelligence also be naive?

Verdade ou mito, fato é que o poder da imagem sempre se fez presente na história humana. Passando pelas pinturas, símbolo opulento de eras inteiras, chegamos à fotografia ainda registrando as elites, que embalsamaram suas imagens na posteridade.

E sobre aqueles que registraram o que tentaram apagar, o que sabemos?

Pensando nisso, conversamos com fotógrafos que desafiam o status quo da imagem, artistas que registram a Amazônia redesenhando o imaginário sobre essa terra e sua gente, revelando perspectivas plurais, sensíveis e autênticas.

Nesta incursão, contamos com Elza Lima, que, desde as histórias ouvidas na infância, cria imagens-narrativas sempre intimamente ligadas às águas e ao povo; Luiz Braga, um verdadeiro alquimista da luz e da cor na paisagem amazônica; Mariano Klautau Filho, que explora a melancolia dos ecossistemas urbanos, fugindo de fórmulas prontas; Paula Sampaio, mineira radicada em Belém, que começou no fotojornalismo até desaguar em registros sensíveis sobre o cotidiano de comunidades tradicionais e trabalhadores às margens dos projetos de exploração na Amazônia; e Walda Marques, retratista que bebe de fontes clássicas para criar novas possibilidades na exuberância que a cerca.

Aqui, não há ninguém “dando voz” a alguém. Muito pelo contrário: estas fotos, por si só, contam histórias inteiras através de olhares, detalhes e cenários de uma ancestralidade milenar. Diferentemente do público dos Lumière, neste caso, talvez seja necessário prudência ao virar as próximas páginas, pois estas imagens, sim, atravessam.

Truth or myth, the fact is that the power of the image has always been present throughout human history. From paintings, opulent symbols of entire eras, to photography, which initially served to capture the elite, embalming their likenesses for posterity.

But what about those who documented what others tried to erase, what do we know of them?

With that in mind, we spoke to photographers who challenge the status quo of the image. Artists who portray the Amazon while redrawing the imaginary of this land and its people, revealing plural, sensitive, and authentic perspectives.

In this incursion, we present Elza Lima , who transforms childhood stories into narrative-images closely tied to the waters and the people; Luiz Braga , a true alchemist of light and color in the Amazonian landscape; Mariano Klautau Filho , who explores the melancholy of urban ecosystems by resisting ready-made formulas; Paula Sampaio , a Minas Gerais native based in Belém, who began in photojournalism and went on to create sensitive portrayals of daily life in traditional communities and among workers on the margins of extractive projects in the Amazon; and Walda Marques, a portraitist who draws from classical sources to create new possibilities amid the exuberance that surrounds her.

Here, no one is “giving voice” to anyone; quite the opposite, these photographs speak for themselves, telling entire stories through expressions, details, and landscapes shaped by ancient ancestry. Unlike the Lumière audience, in this case, one might do well to proceed with caution when turning the next pages. Because these images truly do cross.

Amazpnische Visualiteit” de Mariano Klautatu Filho, 2019
Walda Marques – Véus, 2021
Luiz Braga – Tó Teixeira, 1976

Minha narrativa fotográfica sempre esteve atrelada à vivência com a mata, o verde, os animais, a luz amazônica e, de modo substancial, com a água e sua interrelação com o homem.

My photographic narrative has always been linked to the experience of the forest, the greenery, the animals, the Amazonian light, and, in a substantial way, to water and its interrelationship with humankind.

Marapanim, 2005
Abaetetuba, 1989
Rio das Lavadeiras, Altamira, Pará 1989
Moju, 2004
Elza Lima @elzalima
As fotos vêm me encontrar. Eu penso que estou atrás delas, mas, na verdade, são elas que vêm.
The photos come to find me. I think I’m chasing them, but, in fact, they are the ones that come to me.
Barqueiro azul em Manaus, 1992
Tajás, 1988
Tó Teixeira, 22 1976
Luiz Braga @luizbraga
Interior Bar Azul, 1996

@equatorial1616

Isso ainda pulsa no meu imaginário criativo, o espaço urbano atravessado pela memória de uma cidade antiga, em confronto com sua urbanidade um tanto decadente.

This still pulsates in my creative imagination, the urban space crossed by the memory of an old city, in confrontation with its somewhat decadent urbanity.

Série Finisterra, paisagem 2 2008
Amazonische Visualiteit VI,2023
Série Finisterra, Matéria Memória X 2008
Mariano Klautau Filho

Para mim, a natureza detém a força espiritual que a gente tenta, de todas as formas, incorporar. A natureza é o espírito.

For me, nature holds the spiritual force that we try, in every way, to incorporate. Nature is the spirit.

Folha do Ver-o-Peso. Mercado do Ver-o Peso, Belém(PA), 2006
Francisco Costa, 2004
Estrada de ferro Carajás, Trecho de Açailândia(MA) a Marabá(PA), 1998
O estúdio é meu universo. É o lugar onde eu crio e imagino.
The studio is my universe. It is the place where I create and imagine.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Cubana - 2008
Senhora Raiz, 2017
Pássaro de uma asa só, 2020
Walda Marques @waldamarques

GRÁFICA AQUARELA.

Belém que acolhe e inspira: o olhar de Ana Perlla e José Júnior sobre o sentimento de viver a capital paraense Belém that welcomes and inspires: Ana Perlla and José Júnior’s perspective on the feeling of living in the capital of Pará

Arquitetos paraenses traduzem a essência de Belém em experiências cotidianas cheias de memória e sensações

Pará-born architects translate the essence of Belém into everyday experiences full of memory and sensation

Há cidades que se visitam. E há cidades que se sentem. Belém, capital do Pará, é um desses lugares que não apenas se revelam aos olhos, mas se entregam aos sentidos. Belém aparece no aroma das frutas, no barulho da chuva que cai todas as tardes, no calor úmido, nas cores vivas que pulsam nas fachadas coloniais e nos mercados.

There are cities you visit, and there are cities you feel. Belém, the capital of Pará, is one of those places that not only reveals itself to the eyes but surrenders to the senses. Belém lives in the scent of its fruits, in the sound of the afternoon rain, in the humid heat, in the vivid colors that pulse through colonial facades and bustling markets.

Ana Perlla Oliveira e José Júnior @perllaetjr

No coração da Amazônia, a Cidade das Mangueiras se prepara para ser vitrine internacional de sustentabilidade e cultura durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30). Mas, antes de se tornar cenário de grandes decisões globais, Belém é, acima de tudo, lar: um território de afetos, memórias, resistência e criatividade. Estar em Belém é viver uma verdadeira experiência.

É o caso dos arquitetos Ana Perlla Oliveira e José Júnior, profissionais renomados que não apenas pensam a cidade, mas a sentem, sensíveis, com olhar atento às suas complexidades e potências. Para eles, Belém não se compreende apenas pelos mapas, pontos turísticos ou obras; ela é compreendida pela experiência cotidiana: o cheiro do tucupi de manga madura, o frescor do açaí apanhado e batido na hora, o abraço das mangueiras que cobrem as calçadas, o som do sino da Basílica de Nazaré, o sabor de um bom caranguejo, um tacacá quentinho no fim da tarde, a beleza de uma cidade viva e acolhedora. Para José Júnior, a capital paraense é mais que uma cidade: é uma experiência que precisa ser vivida. “Belém não é apenas uma cidade, é um organismo vivo que pulsa gastronomia, fé e cultura. Sentir Belém é caminhar entre chuva e sol, entre o sagrado e o profano, ouvindo a rua e provando sabores únicos da Amazônia”, compartilha.

Belém como fonte de afeto e criação

Ana Perlla e José Júnior encontram, na cultura local, inspiração suficiente para criar e desenvolver aquilo que amam: a arquitetura que revela a essência. “A herança portuguesa e francesa nos deu uma formação clássica, mas a Universidade Federal do Pará, criada nos anos 60 e 70, nos marcou com o DNA modernista. Carregamos essa dualidade: literatura clássica e espírito modernista, que ainda se vê nas ruas de Belém”, ressalta Ana Perlla.

In the heart of the Amazon, the City of Mango Trees is preparing to become an international showcase of sustainability and culture during the 2025 United Nations Climate Change Conference (COP 30). But before it becomes the stage for major global decisions, Belém is, above all, home, a place of affections, memories, resilience, and creativity: to be in Belém is to live a true experience.

This is the case for architects Ana Perlla Oliveira and José Júnior, renowned professionals who not only envision the city but genuinely feel it, with sensitivity and a keen eye for its complexities and strengths. For them, Belém cannot be understood through maps, tourist sites, or architecture alone; it is grasped through daily experience: the smell of tucupi and ripe mango, the freshness of açaí harvested and blended on the spot, the embrace of mango trees shading the sidewalks, the chime of the Basilica of Nazaré’s bell, the taste of a good crab dish, or a warm tacacá at the end of the day, the beauty of a vibrant, welcoming city.

For José Júnior, the capital of Pará is more than a city, it’s an experience that must be lived. “Belém isn’t just a city, it’s a living organism that pulses with gastronomy, faith, and culture. To feel Belém is to walk between rain and sun, between the sacred and the profane, listening to the streets and tasting the unique flavors of the Amazon”, he shares.

Belém as a source of affection and creation

Ana Perlla and José Júnior find in local culture endless inspiration to create and do what they love: architecture that reveals essence.“The Portuguese and French heritage gave us a classical foundation, but the Federal University of Pará, established in the ‘60s and ‘70s, shaped us with its modernist DNA. We carry this duality, classical literature and a modernist spirit, which is still visible on the streets of Belém,” Ana Perlla points.

Theatro da Paz Um dos salões do Palácio Antônio Lemos
Fernanda Cavalcante

“Belém nos torna profissionais vivos, dinâmicos e excêntricos. Essa excentricidade é ousar onde outros não ousariam, em cores, escalas e leituras da natureza. A cidade nos inspira a transformar vitalidade em arquitetura e experiências”, completa Júnior.

Entre tudo o que a cidade pode oferecer, o que mais encanta os arquitetos é o poder acolhedor de Belém. Como afirma José: “Belém acolhe com seus casarões, mangueiras, pedras portuguesas e rios. Quem chega se encanta com essa imponência histórica. Quem percorre a Avenida Presidente Vargas descobre o vigor modernista e a requalificação de ícones: Museu Goeldi, Palácio Antônio Lemos, Mercado de São Brás, Lauro Sodré, além do Novo Porto Futuro e o Museu das Amazônias, símbolos de uma cidade que moderniza sua memória”.

Apaixonada pela cidade, Ana Perlla revela que o que torna Belém única é o paraense. “Acolhedor, afetivo, pronto a receber, oferecer comida, passeio ou até a própria casa. Esse calor humano é a maior diferença da cidade”, define a arquiteta.

Durante a COP 30, evento global em que os olhos do mundo vão se voltar à Amazônia, os amigos José e Perlla acreditam que Belém vai apresentar um verdadeiro encontro. “Imagino Belém sendo vista como capital amazônica do futuro. Uma cidade que mostra que o luxo está no encontro entre cultura, natureza e afeto.

“Belém makes us lively, dynamic, and eccentric professionals. This eccentricity means daring where others wouldn’t in color, in scale, and in how we interpret nature. The city inspires us to transform vitality into architecture and experiences,” adds Júnior.

Among everything the city offers, what enchants the architects most is Belém’s welcoming power. As José affirms: “Belém welcomes you with its historic mansions, mango trees, Portuguese stone pavements, and rivers. Those who arrive are captivated by its historical grandeur. Those who walk along Presidente Vargas Avenue discover its modernist strength and the revitalization of key landmarks, Museu Goeldi, Palácio Antônio Lemos, São Brás Market, Lauro Sodré, as well as new developments like Porto Futuro and the Museu das Amazônias, symbols of a city modernizing its own memory”.

Passionate about the city, Ana Perlla reveals that what makes Belém truly unique is its people. “Welcoming, warm, always ready to receive you, offer food, a stroll, or even their own home. This human warmth is the city’s greatest distinction”, the architect explains.

During COP 30, a global event where the eyes of the world will turn toward the Amazon, friends José and Perlla believe Belém will offer a true meeting point. “I imagine Belém being seen as the Amazonian capital of the future, a city that proves real luxury lies in the intersection of culture, nature, and affection.

Veropesinho Casa & Café
Ilha do Combu
Museus das Amazônias

Com novos marcos, como o Porto Futuro e o Museu das Amazônias, Belém vai revelar a floresta como protagonista e a orla como sala de estar global”, finaliza José

Para quem quiser sentir Belém como eles sentem, aqui estão alguns dos lugares que fazem parte do cotidiano e da memória afetiva de Ana Perlla e José Júnior:

VER-O-PESO

O mercado mais simbólico da cidade, onde cheiros, cores e sabores amazônicos se encontram.

BASÍLICA DE NAZARÉ

Marco da fé paraense, abriga o Círio e representa o sagrado que pulsa nas ruas de Belém.

ESTAÇÃO DAS DOCAS

Orla revitalizada com gastronomia, cultura e vista para o pôr do sol na Baía do Guajará.

PORTO FUTURO E MUSEU DAS AMAZÔNIAS

Novos marcos urbanos que revelam o futuro da cidade e a floresta como protagonista.

THEATRO DA PAZ

Joia da arquitetura neoclássica na Amazônia, onde a arte encontra a história.

MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI

Um dos mais antigos da América Latina, referência em cultura e biodiversidade amazônica.

ILHA DO COMBU

Natureza viva às margens da cidade, com gastronomia local e produção de chocolate artesanal.

MERCADO DE SÃO BRÁS

Lugar que une memória e modernidade.

PALACETE BOLONHA E PALÁCIO ANTÔNIO LEMOS

Arquitetura histórica que conta a trajetória urbana e política de Belém.

EXPERIMENTAR UMA REFEIÇÃO TÍPICA: TACACÁ, MANIÇOBA OU PATO NO TUCUPI

Sabores que definem a identidade culinária da cidade.

CAFÉ NO VEROPESINHO

Uma imersão na cultura paraense, com música, arte, produtos e sabor paraense.

With new landmarks like Porto Futuro and the Museu das Amazônias, Belém will present the forest as protagonist and its waterfront as a global living room,” José concludes.

For those who wish to experience Belém as they do here are some places that are part of Ana Perlla and José Júnior’s daily life and emotional memory:

VER-O-PESO

The city’s most iconic market, where Amazonian scents, colors, and flavors come together.

BASÍLICA DE NAZARÉ

A symbol of faith in Pará, home to the Círio procession and the sacred energy that pulses through Belém’s streets.

ESTAÇÃO DAS DOCAS

A revitalized waterfront featuring gastronomy, culture, and stunning sunsets over the Guajará Bay.

PORTO FUTURO AND MUSEU DAS AMAZÔNIAS

New urban landmarks that reflect the city’s future, placing the forest at the center.

THEATRO DA PAZ

A neoclassical jewel in the Amazon, where art meets history.

MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI

One of the oldest in Latin America, a reference in Amazonian culture and biodiversity.

ILHA DO COMBU

Living nature on the edge of the city, with local cuisine and artisanal chocolate production.

MERCADO DE SÃO BRÁS

A space that blends memory and modernity.

PALACETE BOLONHA AND PALÁCIO ANTÔNIO LEMOS

Historic architecture that tells the urban and political story of Belém.

TRY A TRADITIONAL MEAL: TACACÁ, MANIÇOBA, OR DUCK IN TUCUPI

Flavors that define the city’s culinary identity.

COFFEE AT VEROPESINHO

An immersion in Pará’s culture, with music, art, local products, and authentic Amazonian taste.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no Portal LiV

Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Foto: Ascom Basílica de Nazaré

“Belém do Pará é um verdadeiro paraíso gastronômico, uma rota de sabores que encanta todos os paladares. Não consigo viver sem as delícias da Cairu, o açaí cremoso do Point do Açaí e as irresistíveis coxinhas e o bolo nega maluca da tia Maria. Além da tradição local, a cidade também oferece pratos italianos na aconchegante Cantina Italiana”.

“Belém do Pará is a true gastronomic paradise, a route of flavours that delights every palate. I can’t live without the delights from Cairú, the creamy açaí from Point do Açaí, and Aunt Maria’s irresistible coxinhas and nega maluca. In addition to local traditions, the city also offers Italian dishes at the cosy Cantina Italiana”.

“Eu amo a culinária paraense, especialmente o pato no tucupi. Em relação a lugares especiais, há muitos, mas um dos meus favoritos é Alter do Chão. Lá existe a Ponta do Cururu, um lugar de águas calmas e quentinhas, com um visual de tirar o fôlego. Vale muito a visita!”.

“I love Pará’s cuisine, especially pato no tucupi. When it comes to special places, there are many, but one of my favorites is Alter do Chão. There, you’ll find Ponta do Cururu, a spot with calm, warm waters and breathtaking views. It’s definitely worth a visit!”.

Marina Fampa – Marketeira @mf_conectada
Paulo Viana - Médico @drpaulorobviana
Point do Açaí
Sorvete da Cairu
Pato no Tucupi
Alter do Chão

“Mosqueiro é um dos meus lugares preferidos no Pará. Ilha fluvial, bucólica, com praias de água doce e movimento de maré, que, incrivelmente, recebe apreciadores de windsurf, kitesurf e vela de todo o mundo. O acesso é fácil, e eu gosto de ir de carro. Fica a 75 km do centro de Belém, por uma boa estrada. A emoção começa na ponte Sebastião Oliveira, sobre o rio Furo das Marinhas, quando já se consegue perceber a beleza da natureza contrastando cores. De lá, pego a orla e visito algumas praias rumo ao Hotel do Farol, tombado em 2004”.

Sandra Duailibe – Cantora, compositora, produtora cultural, youtuber @sandraduailibe

“Mosqueiro is one of my favorite places in Pará. It is a bucolic river island with freshwater beaches affected by tidal movements, which remarkably attract windsurfing, kitesurfing, and sailing enthusiasts from around the world. Access is easy, and I enjoy going by car. It is located 75 km from downtown Belém via a well-maintained road. The excitement begins on the Sebastião Oliveira Bridge, which crosses the Furo das Marinhas River, where the natural beauty and contrasting colors already come into view. From there, I follow the coastline and visit several beaches on the way to the Hotel do Farol, which was listed in 2004”.

“Quem vier a Belém e não tiver tempo para ir ao Marajó, tenho uma indicação: existe um pedacinho da ilha no bairro do Mangueirão, o ‘Delícias do Bosque’. Lá, além de pratos do dia a dia, comuns na capital, como, por exemplo, o peixe frito com açaí, também encontramos pratos clássicos da culinária marajoara, como o ‘frito do vaqueiro’ (um preparo de carne de búfala muito saboroso). Além de ser pertinho da mata da Marinha, ou seja, entrega não só uma experiência de floresta urbana, mas também uma das cozinhas tradicionais do nosso estado”.

“For those visiting Belém who don’t have time to travel to Marajó, I have a recommendation: a small corner of the island can be found in the Mangueirão neighborhood, at a place called ‘Delícias do Bosque.’ In addition to everyday dishes common in the capital, such as fried fish with açaí, you’ll also find iconic specialties from Marajó cuisine, including ‘frito do vaqueiro’ (a flavorful buffalo meat dish). Situated near the Mangueirão forest, it offers not only an urban jungle experience, but also an authentic taste of our state’s traditional cuisine”.

Marcos Médici - Digital influencer @mediciland
Praia do Farol
Prato do Delícias do Bosque
Proprietários do Delícias do Bosque

Entre águas e saberes Between waters

and knowledges

Quando pensamos em tecnologia, é quase impossível não imaginar aparelhos eletrônicos, celulares, LEDs e uma atmosfera quase robótica. E, de fato, falar dela no mundo contemporâneo sem citar tudo isso pode ser difícil.

When we think of technology, it’s almost impossible not to picture electronic devices, cell phones, LEDs, and a futuristic, robotic atmosphere. And indeed, it can be difficult to talk about technology today without mentioning all of that.

Porém, ao olhar o conceito da palavra, "tecnologia" pode ser definida como o conhecimento técnico e científico e suas aplicações a um campo particular. De certa maneira, podemos dizer que se trata de tudo aquilo inventado para facilitar ou possibilitar atividades humanas; portanto, vai muito além das telas. A tecnologia está presente desde um simples garfo até áreas de conhecimento altamente complexas.

Não existe tecnologia sem conhecimento e, na Amazônia, as áreas do saber são entrelaçadas pela oralidade, observação e integração que os povos originários têm com o mundo, nem sempre obedecendo aos moldes acadêmicos formais. São águas turvas, encontros de rios inteiros que deságuam em um ecossistema de tecnologias para não apenas lidar, mas entender-se no mundo como parte da natureza.

Nesta edição, fizemos um mergulho em um universo onde essas ferramentas ancestrais podem ser muito bem observadas: a arquitetura ribeirinha. São materiais, cores, detalhes e processos de produção desenvolvidos há tempos incontáveis, resultando em construções e histórias únicas.

Nascente de ideias

“Por que vocês fazem uma arquitetura que poderia estar em qualquer lugar do mundo?”

Há cerca de cinco anos, os paraenses Luís

Guedes e Pablo do Vale ouviram essa pergunta, que tiraria algumas noites de sono, vinda de um amigo. A inquietação, somada ao desejo de retomar suas raízes, gerou a Guá Arquitetura, escritório voltado à pesquisa e ao desenvolvimento das construções ribeirinhas na Amazônia.

Ainda sobre o surgimento da iniciativa, Luís conta: “A arquitetura virou um suporte para contar a nossa própria história”. De lá para cá, a dupla marcou presença em eventos de vanguarda das tendências na área, assumindo uma posição historicamente rara a profissionais nortistas: a linha de frente. ““O Mestre Valdiley, que ia virar mototáxi e abandonar a carpintaria, foi para a ONU de Nova York palestrar junto com a gente sobre carpintaria amazônica”, completa.

But if we look closer at the concept itself, “technology” can be defined as technical and scientific knowledge applied to a specific field. In that sense, it’s everything invented to make human life possible or easier, far beyond screens and circuits. Technology is in a simple fork as much as in the most complex areas of science.

There’s no technology without knowledge, and in the Amazon, the realms of knowledge are deeply interwoven with oral tradition, observation, and the natural integration that Indigenous peoples have with the world, often outside formal academic molds. They are like murky waters, the confluence of great rivers forming an ecosystem of technologies that help us not only survive but understand ourselves as part of nature.

In this edition, we dive into a universe where these ancestral tools can be beautifully observed: ribeirinho architecture. Its materials, colors, details, and production processes, developed over countless generations, result in unique structures and stories.

The spring of ideas

“Why are you designing an architecture that could exist anywhere in the world?”

About five years ago, that simple yet piercing question, asked by a friend, kept Pará born architects Luís Guedes and Pablo do Vale awake at night. The unease, combined with a longing to reconnect with their roots, led to the creation of Guá Arquitetura, a studio dedicated to researching and developing ribeirinho architecture in the Amazon.

“The architecture became a tool to tell our own story,” says Luís. Since then, the duo has appeared at cutting edge design events, taking a historically rare position for architects from northern Brazil: the front line. “Mestre Valdiley, who was about to give up carpentry to become a motorcycle taxi driver, ended up speaking with us at the UN in New York about Amazonian carpentry,” adds Luís.

But before reaching the Big Apple, many rivers had to be crossed, literally. Their journey began on Ilha do Combu, in the metropolitan region of Belém. After countless crossings

Casa na Ilha do Combu
Arquitetos Luís Guedes e Pablo do Vale

Mas, até chegar à Big Apple, muitas águas rolaram. O ponto de partida dos arquitetos foi a Ilha do Combu, na região metropolitana de Belém. Ao atravessar os furos dos rios inúmeras vezes, Luís e Pablo se encantaram com as estruturas das casas. Convivendo com a população, aos poucos foram entendendo como funciona a tradição dos mestres carpinteiros.

“Na nossa inocência, achamos que iríamos atravessar o rio e levar conhecimento, mas, durante esses cinco anos de pesquisa, nunca conseguimos ensinar muita coisa [...]. Lá, aprendemos com eles. E aí fomos entendendo que cada casa tem um caqueado diferente, porque é identitário de um mestre”, explica Pablo.

Arquicaqueado

Engana-se quem pensa que a arquitetura ribeirinha possui apenas uma faceta. Os carpinteiros são chamados de mestres por designação da própria comunidade, assim como ocorre em outras expressões culturais, como o carimbó.

“A comunidade, de forma conjunta, escolhe seus próprios mestres. É o reconhecimento de qualidade, quase um título de honraria. São poucos mestres, geralmente um por microrregião. Eles são os responsáveis por manter essa herança viva”, diz Luís. Até a chegada da Guá na Ilha, a tradição da carpintaria ribeirinha corria risco, tanto porque as novas gerações não demonstravam muito interesse na profissão, quanto porque outras atividades eram frequentemente mais valorizadas.

through the furos (narrow river channels), they became fascinated by the local houses. Living among the community, they gradually learned from the mestres carpinteiros, the master carpenters behind the tradition.

“At first, we thought we’d cross the river to teach something,” Pablo admits, “but in these five years of research, I’ve realized I was the one learning. Each house has its own caqueado, a distinctive rhythm of construction that reflects the identity of its Mestre”.

Arquicaqueado

Those who think ribeirinho architecture is all the same are mistaken. Each Mestre carpenter is recognized by their Community, just like in carimbó, where masters are chosen for their wisdom and skill.

“The community collectively names their Mestres. It’s a recognition of excellence, almost an honorary title,” explains Luís. “There are few of them, usually one per microregion. They’re responsible for keeping this heritage alive”.

Before Guá arrived at Combu, the craft of carpentry was at risk. Younger generations showed little interest, and other professions were often more appealing.

Interestingly, the link between carimbó and architecture doesn’t stop there. Just as in dance, every carpenter has a personal caqueado, their style, their mark. In music, it’s how one moves on the dance floor, in carpentry, it’s the master’s signature in wood.

Arquitetura Ribeirinha
Telhado feito de palha

Para além dos mestres entre a arquitetura e o carimbó, os paralelos musicais não param por aí. É comum dizer que as casas têm caqueados, ou seja, estilos que funcionam como a assinatura de um mestre. Enquanto nas festas paraenses o termo expressa o modo de dançar de alguém, na carpintaria o caqueado é a marca definitiva das mentes por trás das construções.

“Toda casa ribeirinha é uma expressão cultural do carpinteiro e da pessoa que mora, mas com a vontade de ser única, seja pela cor ou pelo tipo de caqueado. Você vê uma linguagem uniforme e um traço do artista. Mas, assim como o Niemeyer não fez duas Pampulhas ou dois Ibirapueras, o carpinteiro também se nega a fazer uma casa igual à outra”, afirma Pablo.

A cor é um elemento essencial, dentro e fora das casas. Artistas como o também paraense Luiz Braga se dedicam há anos ao registro dos interiores exuberantes das casas amazônicas. Na Guá, os arquitetos ouviram relatos que explicam de onde vem essa fonte de inspiração: “Uma das frases que aparecem recorrentemente [na pesquisa] é que as cores das casas são colocadas para se destacar no verde da floresta”, conta Luís.

Chiaroscuro amazônico

Uma das construções no Combu chamou especialmente a atenção da dupla. Seu caqueado dava a impressão de que a madeira da fachada ficava mais clara ou mais escura, dependendo da posição do observador. Encantados, os arquitetos conseguiram conversar com Mestre Josa, autor da façanha e griô da região. Luís relata: “Ele ia contando coisas que, para ele, eram super simples, mas que para nós, da arquitetura, são super complexas. Como, por exemplo, pensar na modulação do caqueado para que ele escondesse as vigas e ainda coincidisse com a altura da ergonomia do banco, e assim por diante. Uma minúcia de arquiteto de altíssimo nível”.

E continua: “Eu tinha certeza de que atravessaria o rio e esqueceria metade do que estava ouvindo, então, naquela mesma hora, intuitivamente, puxei o telefone e comecei a gravar”.

“Beyond the masters who bridge architecture and carimbó, the musical parallels do not stop there. It is common to say that houses have caqueados, that is, styles that work as the signature of a master. While in Pará’s festivities the term expresses someone’s way of dancing, in carpentry the caqueado is the definitive mark of the minds behind the constructions.

“Every riverside house is a cultural expression of the carpenter and of the person who lives there, but with the desire to be unique, whether by the color or by the type of caqueado. You can see a uniform language and a trace of the artist. But, just as Niemeyer did not make two Pampulhas or two Ibirapueras, the carpenter also refuses to build a house identical to another,” says Pablo.

Color is an essential element, inside and outside the houses. Artists such as Luiz Braga, also from Pará, have dedicated years to recording the exuberant interiors of Amazonian houses. At Guá, the architects heard reports that explain where this source of inspiration comes from: “One of the phrases that appear recurrently [in the research] is that the colors of the houses are chosen to stand out against the green of the forest,” says Luís.

Amazonian chiaroscuro

One particular house on Combu caught the architects’ attention. Its caqueado created an optical effect: depending on where you stood, the wooden façade appeared lighter or darker. Fascinated, they met its creator, Mestre Josa, a griô (oral historian) of the region. “He was explaining things that, to him, were simple,” says Luís, “but to us in architecture, were incredibly complex, like how he planned the modulation of the caqueado so that it hid the beams and matched the ergonomic height of the bench. The precision was astonishing”. Realizing the depth of what they were hearing, Luís instinctively pulled out his phone to record.

Casa no meio da Ilha do Combu
Barco ribeirinho

A conversa com o Mestre Josa se transformou em muitas. As mais de 18 horas de entrevistas registradas viraram o documentário Carpinteiros da Amazônia, uma produção reconhecida internacionalmente em eventos como o Festival Berlin Lift-Off e o disputado Architecture Hunter Awards. Graças ao curta, temos hoje acesso a depoimentos de técnicas que estavam em risco e que atualmente ganham força com as parcerias promovidas pelo instituto da Guá Arquitetura na região, conectando os mestres das ilhas a nomes conhecidos do design, por meio de collabs, movimentando a cadeia econômica e criativa das comunidades.

Sustentabilidade

Para além da beleza, a construção das casas acontece por meio de um processo que faz sentido para a realidade da região. Tradicionalmente, uma casa ribeirinha é 100% biodegradável: as madeiras podem ser obtidas no próprio quintal; a palha dos telhados, idem. Outro ponto que chama a atenção é o ciclo de vida da edificação.

“O ribeirinho lida com a efemeridade da casa. Quando ele faz uma casa de madeira, sabe que ela vai durar 10, 15 anos no máximo. E que, durante o ciclo da vida, vai ter que refazer essa casa do zero. E tá tudo bem”, diz Pablo.

Faz todo o sentido que uma casa feita de natureza também tenha consciência da sua finitude, pois ela faz parte do ciclo da vida. Como diria outro grande mestre: “tem que morrer pra germinar”. E aqui, o fim de uma casa é onde brotam novas possibilidades, lares e caqueados, pelas mãos e mentes daqueles que colocam a história de pé.

That conversation turned into many more. Eighteen hours of interviews later, their material became the documentary Carpinteiros da Amazônia (Carpenters of the Amazon), internationally recognized at events like the Berlin Lift Off Festival and the Architecture Hunter Awards. The film preserves endangered techniques that are now gaining new life through Guá’s collaborations with designers and institutions, connecting mestres from the islands to contemporary design through creative collabs, generating both cultural and economic impact in the communities.

Sustainability

Beyond beauty, the construction of these houses happens through a process that makes sense for the reality of the region. Traditionally, a riverside house is 100% biodegradable: the wood can be obtained in the backyard, and the palm leaves for the roof as well. Another point that draws attention is the life cycle of the building.

“The riverside dweller deals with the ephemerality of the house. When he builds a wooden house, he knows it will last 10 or 15 years at most. And that, during the course of life, he will have to rebuild this house from scratch. And that is okay,” says Pablo.

It makes perfect sense that a house made from nature is also aware of its own finitude, for it is part of the cycle of life. As another great master would say, “you have to die to germinate.”

And here, the end of one house is where new possibilities, new homes, and new caqueados emerge, shaped by the hands and minds of those who keep history standing tall.

Acesse o QR Code e veja mais sobre esse conteúdo no

Portal LiV Access the QR Code and see more about this content on the Portal LiV

Casa na Ilha do Combu

"Em Belém, cada rua conta uma história e cada celebração tem alma. Para quem visita à cidade e deseja compreender sua essência mais profunda, o Museu do Círio é parada obrigatória. Localizado no Complexo Feliz Lusitânia, o museu guarda a memória de um dos maiores símbolos da fé brasileira: o Círio de Nazaré. Entre mantos, berlindas, promessas e arte popular, o visitante mergulha em uma narrativa que mistura emoção, tradição e beleza. Mesmo fora de outubro, o Círio pulsa em cada detalhe do acervo, uma celebração permanente da devoção e da cultura do povo paraense. Visitar o museu é sentir Belém com o coração, é entender por que a fé aqui tem cor, cheiro e som de festa".

"In Belém, each street tells a story and each celebration has a soul. For anyone visiting the city and wanting to understand its deepest essence, the Círio Museum is a mandatory stop. Located in the Feliz Lusitânia Complex, the museum keeps the memory of one of the greatest symbols of Brazilian faith: the Círio de Nazaré. Between cloaks, marbles, promises and popular art, the visitor is immersed in a narrative that mixes emotion, tradition and beauty. Even outside of October, Círio pulsates in every detail of the collection, a permanent celebration of the devotion and culture of the people of Pará. Visiting the museum means feeling Belém with your heart, understanding why faith here has the color, smell and sound of a party".

"Um dos lugares que me surpreendeu no Pará, pela beleza natural, cultura e culinária, foi o município de Soure na Ilha do Marajó. Chegando lá, são inúmeras as opções de passeios, mas destaco a trilha da fazenda São Jerônimo, que é uma visita guiada onde você conhece os mangues da região, anda de barco pelas praias e ainda nada com os búfalos. Além disso, também sugiro conhecer as praias do Caju Úna, Praia do Céu, Barra Velha e Pesqueiro. Todas possuem paisagens típicas da região e são belíssimas. Para comer, sugiro tomar café da manhã no mercado municipal (pedir um pão caseiro com ovo e queijo do Marajó, além do café com leite de búfala), almoçar na Pousada Ilha Bela que tem um filé de carne de búfalo com queijo do Marajó por cima que é delicioso, depois tomar um sorvete artesanal na sorveteria Q’Sorvete Marajó, e para jantar, sugiro o Cozinha Tucupi".

"One of the places that surprised me in Pará, due to its natural beauty, culture and cuisine, was the municipality of Soure on Ilha do Marajó. Once there, there are countless tour options, but I highlight the São Jerônimo farm trail, which is a guided tour where you discover the region’s mangroves, ride a boat along the beaches and even swim with the buffaloes. Furthermore, I also suggest visiting the beaches of Caju Úna, Praia do Céu, Barra Velha and Pesqueiro. They all have typical landscapes of the region and are beautiful. To eat, I suggest having breakfast at the municipal market (order homemade bread with egg and cheese from Marajó, as well as coffee with buffalo milk), have lunch at Pousada Ilha Bela which has a buffalo meat fillet with Marajó cheese on top which is delicious, then have an artisanal ice cream at the Q’Sorvete Marajó ice cream shop, and for dinner, I suggest Cozinha Tucupi".

Érika TitanComunicóloga e colunista social @erikatitan
Igor Moreira – Empresário @igormmoreira
Museu do Círio
Praia do Pesqueiro

“Eu indicaria a Ilha das Onças, aqui pertinho de Belém. É uma travessia de mais ou menos 25 minutos pela Baía do Guajará. Eu adoro ir pra lá, sabe? É ótimo pra dar uma ‘escapadona’ e ter tranquilidade, porque lá é bem menos movimentado do que o Combu, que também é perto. Tem bem menos restaurantes, bem menos mesmo, acho que tem uns três apenas. O mais gostoso é que conheço algumas pessoas de lá, então consigo passar o dia em uma casa ribeirinha. É uma realidade realmente diferente e muito conectada com a natureza, com a Amazônia. Essa experiência típica, familiar, de você conhecer alguém e passar o dia em visita, é sensacional. Ver o pôr do sol no final do dia é realmente a coisa mais linda”.

“I would recommend Ilha das Onças, which is really close to Belém. It’s about a 25-minute boat ride across Guajará Bay. I love going there, you know? It’s a great getaway when I want some peace and quiet, because it’s much less crowded than Combu, which is nearby. There are far fewer restaurants. I think just around three, but what I really enjoy is that I know some people who live there, so I get to spend the day at a riverside home with a local family. It’s a completely different reality, deeply connected to nature, to the Amazon, and that typical family-style experience of visiting someone you know is just amazing. Watching the sunset at the end of the day is truly the most beautiful Thing”.

“Quero falar de alguns lugares de Belém que eu gosto muito de frequentar. Um deles é o Porto da Braz. É um lugar incrível, principalmente à tarde, dá para escutar uma boa música, uma MPB gostosa. E à noite, então? O ambiente fica superagradável. A comida lá é maravilhosa! Tem uma coisa que eu adoro: o caldo e a sopa de caranguejo. São simplesmente sensacionais, de dar água na boca. Ah, e tem uma coxinha lá que, olha... é um espetáculo! Outro lugar que eu curto demais é lá no Combu. A travessia já é um passeio por si só, com aquela vista linda do rio. É realmente uma experiência diferente. E, por fim, não poderia deixar de falar do restaurante Lá em Casa, do meu amigo Paulo Martins. Se ainda estivesse funcionando, se o grande Paulo ainda estivesse entre a gente, com certeza seria um lugar que eu recomendaria para qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo”.

“I want to talk about some places in Belém that I really enjoy going to.

One of them is Porto da Braz. It’s an incredible place, especially in the afternoon, when you can listen to some good music, like classic MPB, and at night? The atmosphere gets even better. The food there is amazing! There’s something I love: the caldo and sopa de caranguejo, they’re simply sensational, mouthwatering. Oh, and there’s a coxinha there that is, honestly, a show on its own. Another place I really like is over at Combu. The boat ride itself is already an experience, with that beautiful view of the river, it’s truly something different. And finally, I couldn’t leave out the restaurant Lá em Casa, owned by my friend Paulo Martins. If it were still open, if the great Paulo were still with us, it would definitely be a place I’d recommend to anyone, from anywhere in the world”.

Layse Santos - Jornalista @laysesantos
Marinaldo Santos - Artista plástico @marinaldoartes
Ilha das Onças
Bar Porto da Braz

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.