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O papa que renunciou

ainda me chamam muito a atenção. A primeira foi quando Bento XVI anunciava, em latim, a sua renúncia e os presentes na ocasião manifestaram cara de confusão: “será que ouvi direito? Renúncia?”. Era impensável um papa renunciar. Bento inovava e era fiel à tradição, ao mesmo tempo, ligando-se à coragem de Celestino V e à consciência das necessidades da Igreja no mundo contemporâneo.

A segunda cena é uma foto, central para entender a renúncia de Bento e o ponto de partida de Francisco. Quando o Papa Francisco, já devidamente assumido o cargo, encontrou-se com seu predecessor, agora papa emérito, estavam os dois em duas poltronas próximas à uma mesa de centro. Sobre esta mesa haviam um caixote. Demorou um tempo para os jornalistas descobrirem o que havia na misteriosa urna. No fim, soube-se que ela trazia um dossiê pedido pelo Papa Bento a alguns cardeais, sobre problemas e escândalos no Vaticano.

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Pe. Silvio José Dias

A renúncia de Bento XVI pode ser interpretada por esta foto. Por tudo o que ele declarou publicamente, sua renúncia foi motivada pela consciência dos graves problemas que assolavam a Igreja, pelos escândalos no Vaticano e pela sua noção de que não teria condições “físicas, mentais e espirituais de exercer o cargo”, como afi rmou no livro-entrevista Luz do mundo.

Alguns o acusaram de abandonar a cruz. Prefi ro ficar com os que interpretam que ele foi lúcido e pastoral: foi até o máximo que pode e, não podendo ir além, passou a bola para a frente. O certo, parece-me, é que as reformas de Francisco começaram com a coragem de Bento em mexer nas feridas da Igreja.