Saiba + 20 maio

Page 5

Campinas240

20 de maio de 2014

Página 5

Criado por Dom Pedro II, IAC é referência em pesquisa científica Foto: Jessica Fontoura

Jessica Fontoura

O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi fundado em 1887 por Dom Pedro II, que nutria visão progressista em relação à ciência. Campinas era uma cidade provinciana, repleta de campos, mas sem produção agrícola relevante nacionalmente, destacando-se apenas a produção cafeeira. E o café foi a principal cultura foco da pesquisa do Instituto, assim como outros alimentos incorporados como objetos de estudo do IAC como o algodão, feijão, milho e cana-de-açúcar. O primeiro prédio do instituto foi erguido na Avenida Barão de Itapura, uma das principais da cidade atualmente. O local foi uma escolha estratégica, já que o terreno era plano e estava localizado

Prédio mais antigo do complexo é símbolo da importância histórica do IAC próximo a um gasômetro, o que facilitava a obtenção de gás para as pesquisas. Além disso, o IAC faz parte da história de Campinas não apenas pelas contribuições científicas na agricultura. Em 1929, a crise da bolsa de valores de Nova York fez

despencar a produção agrícola de diversos alimentos, como café e algodão. Naquela época o órgão já realizava pesquisas de melhoramento genético do algodão e contribuiu com os produtores afetados pela crise. O melhoramento da cul-

tura cafeeira promovido pelo IAC também teve reflexos pelo país. O diretor do instituto, Sérgio Augusto Carbonell, afirma que 90% do material genético do café cultivado no país atualmente é proveniente do instituto. “Direta ou in-

Cinema

diretamente, o café brasileiro tem o sangue do instituto agronômico”, ressalta. Com área física de 1279 hectares, realiza pesquisas relacionadas ao desenvolvimento da produção de cana-de-açúcar e mandioca. Além disso, mantém o único jardim botânico do país com produção agrícola de arroz, trigo, feijão e frutas. O IAC realiza ainda o Projeto Anhumas, programa de recuperação ambiental da bacia do ribeirão Anhumas que há 14 anos reúne grupos de pesquisadores de instituições como Unicamp e FAPESP. Há ainda o Programa Seringueira, que gera novos clones da planta com maior potencial de produção, além de melhorias para o manejo e extração do látex aos produtores dessa cultura no país.

Foto: Divulgação

Manoel de Oliveira filma episódio dos Lusíadas Obra do cineasta português de 105 anos é baseada no “Velho do Restelo” Fábio Visnadi

O decano do cinema Manoel de Oliveira, aos 105 anos, começou as filmagens de “O Velho do Restelo”, baseado em episódio do poema épico de Luís de Camões, “Os Lusíadas”. Depois de ter reclamado da crise econômica e das dificuldades em realizar o seu projeto, em entrevista concedida à revista francesa Cahiers du Cinema no ano passado, o cineasta conseguiu apoio da Câmara Municipal do Porto e terá a película produzida pela companhia “O Som e a Fúria”. A finalização do longa está prevista para o mês de agosto. O episódio do “Velho do Restelo”, situado no canto IV dos Lusíadas,

simbolizava o receio conservador da época em relação às grandes navegações empreendidas pelos capitães portugueses, com o apoio do Reino de Portugal. No caso, o Velho do Restelo amaldiçoa a cobiça e a vaidade das navegações, enquanto Vasco da Gama e seus companheiros de viagem se preparavam para a primeira exposição para a Índia. Para o cineasta Guilherme Wuilleumier, é nesse ponto que o cinema de Manoel de Oliveira e a poesia de Camões convergem. “Ambos são artistas que sabem lidar com o conceito de tradição e cultura e, ainda assim, serem irrepreensivelmente

‘modernos’, no sentido de olhar para o mundo e para novos caminhos”, e completa: “Camões vê o molde ‘épico’ grego e o utiliza para contar uma história portuguesa, política e atual. O Manoel é um cineasta que acessa tradições múltiplas (tanto do cinema classicista quanto do romantismo) para fazer filmes que jogam com essa ruptura, desconforto, artificialidade ‘distanciada’ que são quintessencialmente contemporâneos”. Filmar um episódio literário é seguir a continuidade de seu projeto estético. Durante mais de 80 anos de carreira, Manoel de Oliveira, cronista cinematográfico da

história e literatura portuguesa, já realizou adaptações de obras de Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco e José Lins do Rego . O estudante de letras e também fã da obra de Manoel de Oliveira, Filipe Chamy, relembra a ligação de Oliveira com Camões em seus trabalhos prévios. “A própósito de ‘Non ou a Vã Glória de Mandar’, vale lembrar que a ‘vã glória de mandar’ é uma citação a Camões, sendo inclusive, um dos versos que compõe a famosíssima fala do Velho do Restelo, apresentando contrapontos e sublimando artesanalmente maniqueísmos, tal como Camões”.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.