Entrevista – Justiça inocenta Dr. Áureo Ludovico de Paula

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Médico goiano repetiu e incorporou, para si, a frase [usada no título desta entrevista] do ministro do STF, Lewandowski, após vitória médica e judicial que tentava impedir “discípulo de Hipócrates” de usar técnica que combate o diabetes tipo 2

GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2018

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Dr. Áureo Ludovico de Paula

“A Justiça faz bem à saúde” 1

Em entrevista exclusiva ao jornal Diário da Manhã, médico mundialmente conhecido por pioneirismo em intervenção cirúrgica, Dr. Áureo Ludovico de Paula ressalta a importância da Justiça, comemora a vitória da razão e do progresso sobre a polêmica médico-jurídica iniciada há oito anos, quando o MPF-GO e o CFM protocolaram ação civil pública contra o goiano

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Técnica criada pelo médico, a interposição ileal já foi realizada em um sem-número de pacientes e os índices estatísticos de remissão, nos casos do diabetes tipo 2, são celebrados por especialistas progressistas da área bariátrica. Conforme Dr. Áureo, cerca de até 90% dos pacientes são curados ou entram em remissão do diabetes e doenças relacionadas

Após ter sido considerado inocente da acusação de experimentador, que perdurou nos últimos oito anos, dr. Áureo diz que a vitória não é sua, mas da Medicina

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À reportagem, Dr. Áureo discorreu sobre a atualidade brasileira, além do embate que lhe causou problemas nesta última década. Ele avaliou que a sociedade precisa reconceituar-se para não se tornar refém de ideologias e imputou sobre os indivíduos, não sobre as instituições, causas e responsabilidades para a construção de um mundo melhor FOTOS: ANDRÉ COSTA / DIÁRIO DA MANHÃ

Arthur da Paz Especial para

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esponsável pela nova saúde de brasileiros famosos, como o apresentador Faustão, o senador da República e ex-futebolista Romário (PSB), o pré-candidato ao Senado Demóstenes Torres (PTB) e do vereador Jorge Kajuru (PRP), o médico goiano Áureo Ludovico de Paula foi considerado inocente pela Justiça da acusação de experimentador na Medicina. Decisão unânime do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) decreta o fim da polêmica médico-judicial, iniciada em janeiro de 2010, quando o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), aliado com o Conselho Federal de Medicina (CFM), protocolou ação civil pública desfavorável ao cirurgião, onde afirmava-se que o procedimento que ele criou era experimental e não poderia ser aplicado a pacientes. Além da absolvição, a Justiça recomendou que o CFM regulamente a cirurgia. O procedimento, conhecido como gastrectomia vertical associada à interposição ileal (GVII), além da redução do estômago, estimula a produção da insulina pelo pâncreas e, como resultado, na maioria dos casos (cerca de 90%), os pacientes encontram a remissão da diabetes tipo 2 ou até a cura da enfermidade. As doenças advindas desse tipo de diabetes também são afetadas, como o colesterol elevado, a hipertensão arterial e a obesidade.

A técnica está descrita pela ciência especializada desde 1928, desde quando foi publicada na revista Annals of Surgery, e foi utilizada ao longo do anos para várias indicações clínicas gastroenterológicas e até urológicas, conforme esclarece o médico. Áureo Ludovico realiza o procedimento há cerca de 11 anos. No início, o procedimento era considerado de alto risco no trato da obesidade e era limitado para corrigir problemas como o diabetes. Os estudos avançaram na área e evidenciou-se a possibilidade de tratar também a doença que afeta 15 milhões de brasileiros. O diabetes é uma das principais causas de cegueira, insuficiência

422 milhões de adultos, em todo o mundo, têm diabetes. Doença é a responsável por 1,6 milhão de mortes a cada ano

Dr. Áureo recebeu a equipe de reportagem do Diário da Manhã no seu escritório, no Setor Marista, em Goiânia

renal, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e amputação de membros inferiores. Adotar uma dieta saudável, praticar atividade física e não fumar são atitudes que podem prevenir ou retardar a doença do tipo 2. Com base nestes dados, subentende-se que a cura da diabetes ameaça diretamente várias indústrias farmacêuticas, que do ponto de vista de negócios e finanças, precisariam encontrar novas enfermidades para apoiarem seus negócios. É natural, então, que uma oposição ferrenha, embora invisível e não declarada, tenha sido coordenada por forças economicamente superiores às instituições que regulamentam e efetivam a prática médica no Brasil. Mas Dr. Áureo Ludovico busca a discrição e opta não tangir este tema frontalmente, embora admita que é possível que haja um “temor” nestes grupos. A diabetes tipo 2, uma vez estabelecida no metabolismo humano, ou o paciente tem que viver com remédios o resto da vida e manter uma vida estritamente regulada, ou buscará a cirurgia que traz índices positivos de curas ou remissões. Entretanto, Dr. Áureo deixa claro que nem todos os pacientes poderão passar pelo procedimento, caso os exames indicarem condição de saúde que não satisfaça os requerimentos necessários à cirurgia. Na entrevista ao Diário da Manhã, Dr. Áureo Ludovico explicou que, em 2010, obteve um parecer técnico favorável à sua prática ci-

ÊÊ PERFIL Nome: Áureo Ludovico de Paula Idade: 55 anos Formação: Médico pela Universidade Federal de Goiás (UFG); Doutor em cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP

rúrgica, estabelecido por 42 especialistas e ilustres nomes da área que compuseram a Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, entretanto, autocraticamente, a cúpula diretiva do CFM, isto é, não especializada, indeferiu a decisão técnica, algo que nunca acontecera antes no tribunal técnico do CFM. Apesar de a cirurgia ser realizada amplamente em outros países, como Portugal, Itália, Índia, Estados Unidos e França e que esteja fartamente documentada em dezenas de publicações científicas e revistas nacionais e internacionais que citam o nome do médico goiano, houve essa negativa do órgão máximo que regula a Medicina no País. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Áureo arremata quanto foi perguntado o porquê da discordância entre a Justiça e o CFM: “a cúpula diretiva, integrada por médicos

sem nenhuma vivência na área, é que discordou por motivos que somente eles podem responder.” Além dos embates médico-judiciais enfrentados pelo cirurgião goiano, nestes últimos 15 anos, aconteceram também denúncias e perseguições, de veículos de mídia e por parte de cerca de uma dezena de pacientes e advogados, relacionadas à acusação de experimentação médica. Todas as ações movidas contra o goiano, embasadas nesta premissa, caíram por terra com a decisão do TRF-1.

DESABAFO

Momento “raríssimo” de felicidade na vida profissional e pessoal do médico que “apanhou”, segundo disse ele, oito anos ininterruptos por conta das acusações, ele desabafa o sofrimento que lhe foi imposto e confidenciou ao Diário

Atuação: Membro de equipe de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital de Especialidades de Goiânia, Hospital das Américas, no Rio e SírioLibanês, em São Paulo. Além disso, o nome do sr. de Paula está difundido no meio médico-acadêmico mundial por uma quase centena de artigos e publicações científicas disponíveis nas bibliotecas e banco de dados de ciência especializada em sua área de atuação

da Manhã os detalhes que o feriram neste período, do qual, segundo ele, saem vitoriosas a humanidade e a Medicina.


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Confidências de um sofrimento Médico explica por que seu procedimento, que pode curar, na maioria dos casos, o diabetes tipo 2, foi tão perseguido e ainda poderá sofrer mais embates: “O progresso chega, mas antes ele apanha” ÊÊ CONFIRA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA REALIZADA NO ESCRITÓRIO DO CIRURGIÃO, EM GOIÂNIA Diário da Manhã – O senhor conseguiu uma vitória definitiva na Justiça. O DM publicou [anteontem] o resultado jurídico desta saga acusatória contra o senhor. O título da manchete foi Discípulo de Hipócrates vence conluio de hipócritas. Fique à vontade para dizer o que quiser, o que sentiu e o que sofreu até que fosse inocentado pelo TRF-1. Dr. Áureo – Olha só, quero te dar uma notícia. Quando um procedimento médico é bem fundamentado, isso se chama progresso. Eu só vou progredir se eu transgredir. É claro, eu só vou transgredir porque estou fundamentado na melhor ciência, eu estou fundamentado em resultados, eu estou fundamentado em A, B e C. Só que eu quero te dizer, a palavra que você está usando como “transgressão” às regras, num futuro breve, vai ser chamada de progresso. Uma vez, um chargista me botou deitado numa maca. Engessados os dois braços, engessadas as pernas e engessada a barriga e a frase: “engessaram o médico”. Nós padecemos de um mal absurdo; que é a cidadania passiva. Você, beneficiado, você acomoda. Não é que você faz isso por maldade…, mas é da índole. Quantas guerras civis já tivemos aqui? Quantas pessoas… Eu ainda falei isso pra ele, hoje: Batista, eu mandei sua reportagem, hoje, para muita gente no Brasil, e vou te ser honesto e transparente. Você acredita que várias e várias pessoas me perguntaram quem era esse jornalista que teve o peito de escrever isso aí? Vou citar só uma figura importante. Romário Faria. Outra pessoa: Fausto Silva. Quem que é esse maluco que arrumou uma manchete fantástica dessa?, me disseram. Eu faço um elogio rasgado para o Batista Custódio em diferentes ambientes e falo isso sempre para ele: “Batista, a sua vida, até você morrer, está calcada numa coisa: você vai apanhar muito. Então você, tal como eu, personalidade forte, tem que acostumar a apanhar”. Eu passei nos cinco rounds, quatro, apanhando, no canto, sem piedade. Você pode ter certeza. Rapaz... o que fizeram.

PIONEIRISMO

Há 28 anos, quando eu trouxe a cirurgia laparoscópica para o Brasil, o presidente do CRM daqui foi para a televisão e falou que eu estava fazendo um absurdo, que eu ia matar uma pessoa atrás da outra. Virou a maior revolução da cirurgia nos últimos 100 anos. Eu estava no nascedouro da coisa. Participei do desbravamento da laparoscopia.

Tudo [está] documentado. Ninguém está vendendo uma panaceia. Não há necessidade” A questão da diabetes está sendo infinitamente pior do que lá atrás. Não sei se porque eu era muito jovem, e o jovem não tem a real dimensão das coisas. Não sei se é isso, mas a verdade é que eu sinto hoje muito mais do que naquela época. Agora, nós estamos mexendo com 450 milhões de pessoas no mundo. 15 milhões de pessoas no Brasil. O quarto remédio mais vendido [para a diabetes] vendeu a bagatela de US$ 28.5 bi no mercado norte-americano, no ano passado. Imagine... Ano passado, eu operei no Congresso Americano de Cirurgia. Fiz essa cirurgia. Se pegar um streaming desses, à época, milhões de cirurgiões podem ter assistido. Então, hoje, o que este pessoal teme tanto? Porque eles sabem que a nossa capacidade de geometricamente aumentar esse procedimento é absurda. Quando começou a laparoscópica, todo mundo achava: “não, isso vai gastar 30 anos para evoluir”. Em dois, três anos, já tinha revolucionado toda a cirurgia e todo mundo fazia. Com a capacidade que você tem, com vídeos, com internet, com tecnologia, a ciência é instantânea. Você não consegue segurar seu conhecimento nenhum dia. Moral da história: esse pessoal tem verdadeira razão de temer qualquer coisa. Isso vira-se o jogo. Você com a sua empresa de T.I, fica esperto. O seu futuro brilhante de hoje, pode ser amanhã... Quantos exemplos? Eu tinha um BlackBerry que eu achava aquilo máximo. Já tive máquina Kodak, etc. Hoje nem existe mais. O que esse pessoal teme? Que uma coisa nesse porte possa vir de uma forma avassaladora.

UM CASO

Um paciente estava ali [na sala de espera], agora. Seu MV. Glicose lá no teto quando operou há 30 dias. Me trouxe, agora, a glicose atual: tudo normal, melhor que a minha e a sua. Ele virou para mim e disse: “Dr., joguei meus remédios fora. Não estou tomando nada. Minha mulher inclusive tá criando caso, que eu tinha que tomar remédio para pressão e eu falei pra ela que não preci-

sava, pois meus exames estão todos normais”. Então, verdadeiramente, você pode ajudar. É óbvio, e nós temos feito absoluta questão de informar, que isso não vai ser para 100% das pessoas. Número um: existe um subgrupo que não vai poder fazer [o procedimento cirúrgico]. Dois: existe outro subgrupo que não vai curar. Podem melhorar, mas não vão curar. Terceiro: existe um subgrupo, diminuto, ínfimo, que pode complicar. Ninguém, então, está divulgando uma panaceia. Existem publicações minhas, no exterior, já há dez anos, com as estatísticas relacionadas ao grau de cura. Tudo documentado. Ninguém está vendendo uma panaceia. Não há necessidade.

posição ileal”. Sabe o que ele fez comigo? “Dr., mande por favor todos os documentos”. Respondi: – claro que mando, já estou com todos eles disponíveis, por mandar pra todo o mundo, mando também pra você. A importância do tema [a diabetes] diz respeito, especialmente, da prevalência do problema. O outro lado importante é que, apesar de termos enormes avanços na área, no tratamento com remédios, a verdade pura e crua é que os remédios não resolvem. Eles apenas paliam o problema. Daí é que surgiram os problemas [contra o método].

Diário da Manhã – Dr. Áureo, nos dê alguns números aí... Dr. Áureo – Diabetes é a prinDiário da Manhã – O que cipal causa de cegueira. Diabetes aconteceu, então? é a principal causa de amputaDr. Áureo – O órgão máximo ções. É a principal causa de fa[Conselho Federal de Medicina, lência de rins e hemodiálise. É o CFM] juntou as melhores ca- a principal causa de neuropabeças. Quarenta e dois [42]. Em tia. É a principal causa de dismúltiplas reuniões sequenciadas. função erétil. É a principal cauEssa turma aprovou, lá atrás! Os sa de cardiopatias: as doenças melhores técnicos, professores, so- cardíacas. 85% dos doentes diamentegenteilustreda béticos vão morárea, aprovou isso lá rer do coração. em 2010. O que que a Então, os númeturma do adminisros são magnâtrativo fez? Sem launimos em todos do, sem contra lauos sentidos. Por Cuidado do, sem nada... Ou isso que se revescom a índole te o tema da imseja, a autarquia, na verdade, ela é uma portância que ele brasileira” autocracia. Por quê? tem. Muitas pesPorque fazem o que soas, que não são querem, do jeito que do ramo, elas esquerem, independentemente do tranham esse embate tão intenque eu, você, ou qualquer um fale. so [contra a gastrectomia verE outra, tem mais isso: tudo docu- tical com interposição ileal]. mentado. A coisa é de tal forma Olha... o Batista Custódio é tesautocrática que ela fica documen- temunha e, se você ver as reportada e estamos feitos. São estes do- tagens, você vai perceber. Nós já cumentos, de forma absurda, que tivemos momentos, aí, terríveis. fizeram os desembargadores, tri- Esse Batista mesmo me salvou de bunais, etc., darem uma decisão tantos aí, porque ele manteve uma destas [que impediram o Dr. de postura transgressora às opiniões atuar]. Acha que eles iam afron- vigentes. E pasmem! Você emitir tar o órgão máximo? uma opinião que transgrida opiniões vigentes, não é para qualA MÍDIA quer um. Uma coisa é você falar Ano passado teve um episódio assim: “O Brasil é um país de clibacana. A IstoÉ me ligou queren- mas maravilhosos”, agora, você do fazer uma reportagem. Eu pen- vir com uma tese, que transgrida sei: “não vem coisa boa”. Docu- o que há no momento... Olha, isso mentadamente, o procedimento não é para qualquer um. Não é! E foi sendo elaborado ao longo do o Batista tem a singular caractetempo. Tanto é que eu sempre fiz rística de ter feito isso comigo, mas, um compromisso: aquilo que não na verdade, ele faz isso a vida intiver documento, eu não mencio- teira. Há cerca de 40, 50 anos, ele no. O motivo é claro: essa é uma fez um artigo contra a cassação área de vasta importância. Ima- de Iris Rezende. Moral da histógine. Você [o repórter] faz uma re- ria: eu só tolerei tantos absurdos, portagem dessas, tem um poten- ao longo do tempo, porque eu tive cial de atingir milhões de pessoas. o apoio de raras [ênfase], rarísSabe-se lá o que que é isso? A IstoÉ simas pessoas ao longo do temmandou um e-mail com as per- po. Dentre eles, Batista Custódio. guntas. Eu respondi uma a uma O Batista já escreveu coisas, nese virei e escrevi: “como embasa- sas reportagens sobre o tema, que ninguém teve coragem de escrever. E outra, está escrito, só para dizer que não estou exagerando. Não é fácil. Se você conversar Essa conversa com a pessoa enferma, nesta área, vai entender o que é sofrimende que nós temos você to. Não tem muito tempo atrás, eu que fortalecer operei um bilionário americano. A mulher dele virou para mim e as diferentes falou assim: “Dr., a única coisa instituições, isso que põe esse homem de joelhos, que ele não compra, é a saúde”. é conversa de Falou desse jeito... Está curado. gente que quer Ele foi um caso fantástico. Então, tivéssemos tido uma posnos catequisar tura altiva, positiva, de enfrentapara que nós mento, dos que se beneficiaram, essa coisa [os anos de perseguifujamos da ção contra o procedimento criaessência do do por Dr. Áureo] tinha tomado um contorno diferente. A verdade problema” pura e crua, e aqui eu nem critico, eu nem falo isso... é que a cidamento das minhas respostas, se- dania passiva é da índole nossa. guem documentos, um, dois, três, Todo mundo achou que prendenquatro”. Mandei cerca de 30 do- do o Lula ia cair o mundo. Caiu cumentos, sabe o que aconteceu? o mundo? Presta atenção, caiu? Não fizeram a reportagem. Honestamente? Achava-se que Pega a última reportagem da ia ter uma revolução. “Oh, vai Folha de S. Paulo sobre isso. Quem ter morte!”, diziam. “O exército me entrevistou foi um jornalista, e do Stedile [o dirigente do MST] eu observando o encaminhamen- vai quebrar o Brasil inteiro.” Teve to do cara, falei assim: “Seu fula- isso? É a índole. Cuidado com a no, estou estranhando o senhor. índole brasileira, com a índole O senhor é muito sabido. Ou você passiva do brasileiro. Muito boa leu exaustivamente sobre o tópi- por um aspecto, mas terrível por co, ou você tem alguma formação outro. Esse caso nosso [a guerna área biológica” E ele respon- ra judicial contra Dr. Áureo] é deu: “Dr., eu sou doutor na USP um exemplo. É claro que, intimapela área de Biologia”... A maté- mente, meu celular ficou cheio ria ficou perfeita, basta digitar no de recados, mas, publicamente, Google: “Folha de S. Paulo inter- ninguém move uma palha.

Veja bem, o próprio Batista Custódio. Esse apanha, hein? Apanha! Hoje ainda comentei com ele. “Batista, você está dando espaço pro Ronaldo Caiado em seu jornal, você está apanhando muito Batista?”, fiz essa pergunta de maldade [brincadeira] com ele. Falei assim: “posso imaginar o que você está apanhando”, afinal, dar espaço para Ronaldo Caiado num ambiente que também é palanque marconista... ah, esse apanha! O Batista sempre se ferrou [para defender a liberdade].

O Iris é um segundo pai para mim”

Diário da Manhã – O que o senhor sentiu ao longo desse processo? Dr. Áureo – Para relatar isso, em um nível pessoal, filhos meus tiveram bullying dentro da escola. Eu tive que ir à escola dos filhos por bullying! “Você é filho de... que está fazendo experimentação em pleno século XXI.” Diário da Manhã – Quase bruxo... Dr. Áureo – Quase um bruxo... Inclusive fizeram uma outra charge de mim como um bruxo. Quem fez? [Parou para pensar...] Tenho dois amigos meus, no exterior, que são médicos-ilustradores. Foi um deles que me mandou uma coisa nesse sentido: – Olha, a sua alquimia salva. No entanto, desde sempre, alquimista sofre, Áureo. Até dentro da minha família, muita gente... Uma irmã minha virou e falou para mim: “meu irmão, mas você está fazendo experiência em gente? Meu irmão do céu, você ficou louco? Se meu pai tivesse aqui...” – eu perdi meus pais desde cedo – “ele ia te bater na cara, pra você aprender a virar homem!”. Dentro da minha própria casa. Um dia, o Cremego quis obrigar, isso foi inclusive noticiado na televisão, jornal e tudo, que eu assinasse um termo de ajustamento e conduta de posturas minhas. Eu só não assinei porque um juiz fez um mandado de segurança dizendo que eu não era obrigado assinar um negócio desses, sem antes as coisas [os processos] terem seu finalmente. Pode escrever isso aí. Tentaram me obrigar a assinar um termo de ajustamento de conduta pelo CRM de Goiás sem ter sido esclarecido nada do que estava acontecendo. Imagine, você, eu ter que assinar um negócio sem antes ninguém saber o que estava acontecendo. Isso nos dá uma ideia do que é o poder emanado destas autarquias. Essa conversa de que nós temos que fortalecer as diferentes instituições, isso é conversa de gente que quer nos catequisar para que nós fujamos da essência do problema. Olha o que está acontecendo no Supremo. Primeiro que aquilo não poderia ser chamado de Supremo. Pois, no meu entender, Supremo é a Divindade ou Algo que você acredita que exista por aí. Como é que um ambiente daquele pode ser chamado de Supremo? Desculpa, nós teríamos que mudar aquele nome. Segundo, como é que você pode imaginar que a jurisprudência vai mudando ao sabor das pessoas que lá estão? Então, que história é essa de fortalecer as instituições? O que nós temos que fazer é fortalecer os critérios de limpeza, de pureza, de purificação das diferentes pessoas nas diferentes instituições. É isso! Não precisamos fortalecer instituições. O que precisamos é criar mecanismos de ajustes dentro das diferentes instituições. Você entra dentro de uma instituição aí, você faz a maior m. protegido pelo CGC, o seu CPF nunca está à disposição, nunca. “Ah, mas para nós termos um MP forte, para termos uma instituição forte, nós temos que proteger as pessoas da...” Não, ninguém está dizendo o contrário. O que estou dizendo é que é preciso criar critérios de performance para quem está lá. Olha o que aconteceu com o Janot e a

Dodge agora. Ou seja, o problema, aquientrenós: vamosevoluir! Oproblema não é fortalecer instituição, é fortalecer critério de performance das pessoas enquanto atuantes naquelas instituições. Quer dizer então que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vai mudar à mercê das pessoas que entram e saem de lá? Aonde que estará a força da instituição? Agora, temos que assegurar a longevidade para eles lá? Tudo perfeito. O indivíduo que está lá, ele realmente precisa ter um corpo hermeticamente blindado para ele tomar atitudes de independência que vão contra o seu e o meu pensamento, mas daí você endossar e ele ter a regalia, a primazia de atitudes quaisquer que sejam... Escreva! Um dos nossos ministros escreveu: “interpretar literalmente o que está escrito na Constituição não é o melhor caminho hermenêutico”... Uai! Quer dizer então que o que está escrito lá, literalmente, não é o melhor entendimento? Não é o melhor caminho hermenêutico? Uai! Querdizerqueo indivíduo que

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“Bom-dia, o futuro chegou!”

do! – Pá! O CFM é isso, meu amigo! Ele legisla, ele julga e ele emite teses ético-científicas. Você quer me dizer que nós não precisamos criar critérios de performance para as pessoas que lá estão? Sabe o que vai virar? Autocracia! Aquilo não é uma autarquia, aquilo é uma autocracia, ponto final. Criam-se as câmaras técnicas, conselhos técnicos [referindo-se à Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, composta em 2010]: – Nós precisamos de conselhos técnicos com as mais iluminadas mentes para emitir pareceres técnico-científicos sobre as diferentes cirurgias, teses, medicamentos etc. – Tudo bem, vírgula! – Desde que em simetria, em consonância, em perfeito casamento com o grupinho que está lá em cima – Porque caso não seja assim, olha o meu exemplo! – Refutamos o laudo técnico-científico da câmara técnica – Mas, qual a argumentação? – Não tem! – Pois bem, fizeram isso! Aí você fala para mim que isso é democracia? Não, isso não é democracia, isso é autocracia! A origem, portanto, dos problemas, está no nosso antigo, medieval – medieval! – princípio de fortalecimento das instituições. Isso é uma tese antiga e ideológica que só serve às diferentes ideologias. O que precisamos é de critérios de

Em Medicina, existe uma realidade bacana: a verdade é transitória” está lá interpreta do jeito que ele quiser? Ele que é guardião da Constituição?Estáescrito! Um dos ministros fez uma pérola dessas! Vocês viram a última discussão do Gilmar e do Barroso? Que pérola! Que pérola! Quer me convencer que o problema é a fraqueza das instituições? Não é! É porque nós não temos critérios de performance para o indivíduo enquanto naquele negócio. O CFM é um problema claro. Imagine! O que você acha de um governo em que ele, no melhor estilo ditatorial autocrático, ele executasse, ele legislasse e ele julgasse? Você dirá: – Áureo, isso é um absur-

performance. Tudo bem, vamos fortalecer todas as instituições, mas nós precisamos de fortalecimento verdadeiro dos critérios de purificação. Que história é essa de reeleição indefinida de todo mundo? Isso é o maior erro. Entre num sindicato desses, qualquer sindicato. É o mesmo grupeto desde sempre. Entra dentro dos partidos aqui [em Goiás]. De quem é o DEM? É do Ronaldo. De quem é não sei o quê? É de fulano. De quem é não sei o que lá? É de ciclano. De quem é o MDB? É do Iris e do Maguito. A gente comenta essas coisas com o mais digno respeito. O Iris é um segundo pai para mim, entretanto não podemos renegar essa característica natural das instituições e organizações que existem no Brasil. Diário da Manhã – A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia também entrou na jornada contra seus feitos? Dr. Áureo – Sendo objetivo com sua pergunta, o posicionamento deles foi mais ou menos o seguinte: – Não, nós precisamos aguardar para ver os resultados –, disseram. Mas o problema, Arthur, é que o futuro chega... [Trilililim... Trilililim...!] [O relógio inteligente no punho do entrevistador, um Apple

Centenas de publicações médico-científicas citam Áureo Ludovico de Paula, além dos próprios artigos em que ele foi autor, ou coautor, que estão amplamente difundidos nas academias interessadas ou especialisadas no tema. Rápida pesquisa na internet mostra a densidade do trabalho do médico goiano Watch (), começou a tocar. Era uma chamada do jornalista Batista Custódio, cancelada para dar continuidade à entrevista] ... Essa coisa [toda perseguição contra o procedimento criado por Dr. Áureo] já tem 15 anos. Com 15 anos o futuro chegou. Mas escuta, o futuro chegou e as opiniões são as mesmas? O futuro chegou e as opiniões são as mesmas, portanto, o que se deduz? Que atitudes são meramente protelatórias. Que não há interesse em mudança do status quo, não há. Em síntese, se você pegar a opinião do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva? A favor. Se você pegar a opinião da Sociedade Brasileira de Endocrinologia? Eles são em cima do muro, acham que precisam aguardar... Diário da Manhã – Mas doutor, espera um pouquinho, já são 15 anos, quando é o aguardar? O futuro não vai vir? Dr. Áureo – É... e um detalhe importante, sabe Arthur, em Medicina existe uma realidade bacana: a verdade é transitória. É uma coisa agressiva de se ouvir... Imagine você, um matemático brilhante, que trabalha com axiomas básicos que nunca mudam. Axiomas, axiomas!, você trabalha com isso! Geometria analítica etc. Tudo bem, um axioma? 1+1 é igual a 2. Não tem 1+1=3. Em Medicina é diferente. As coisas são verdades transitórias. Verdades transitórias! A minha mãe já chegou a operar o estômago para tratar úlcera. Hoje se trata com remédios. O problema, no entanto, àquela época, a cirurgia dela foi salvadora. Você acha que eu estou achando que daqui 100 anos nós vamos estar operando? Não. De repente, daqui 100 anos estaremos fazendo uma coisa absolutamente inovadora que nós nem temos hoje. Tudo bem! Mas você não pode esperar 100 anos, meu amigo. Na verdade, seu futuro estará inexoravelmente fechado nos próximos anos. Então, preste atenção, nós trabalhamos com verdades transitórias. “Ah!, mas nós precisamos de mais estudos para o futuro...” Tudo bem, o futuro chegou! Deixa ele te dar bom-dia. Bom-dia, o futuro chegou! As diferentes pessoas que necessitam de um tratamento x, qual-

quer que seja, hoje, elas não têm a possibilidade de negociarem o futuro. Elas não têm ainda a possibilidade de negociarem uma interrupção do progresso do problema. Ou seja, quando o problema progride, você vai precisar tomar uma atitude hoje. E o que nós temos, hoje, é isso, ponto. Eu citei o exemplo da minha mãe porque é uma coisa real, dentro da minha própria casa. 50, 40 anos atrás, ela fez uma cirurgia absurda hoje, salvadora à época. Portanto, ninguém está dizendo que essa cirurgia seja a última palavra em termos de tratamento. Hoje, ela efetivamente põe a doença em remissão em partes de 90% das pessoas, ponto final. Se você puder esperar 35 anos ou 40 anos por algo inovador que está vindo no futuro, tudo bem, sente-se e espere. Mas a cidadã ali não vai poder esperar. Ela não poderá esperar. Até porque, daqui estes 35 anos a doença já detonou com ela, com você ou comigo. Essa é a realidade. Ninguém vende uma alternativa de tratamento cirúrgico como uma realidade que será eterna. Ninguém pode vender isso. Diário da Manhã – E os casos abertos que te envolviam? Dr. Áureo – Eles foram para o Conselho Federal de Medicina, fomos absolvidos do ponto de vista médico, em todos. O que ficou subjacente em dois deles? O problema da experimentalidade... Que foi agora por água abaixo. Diário da Manhã – Mas e quanto à pessoa que operou e teve problemas? Dr. Áureo – Claro que vai ter problemas. Como em qualquer procedimento pode ter. Quem é que pode, em sã consciência, vir num jornal de prestígio igual ao seu e vender o absurdo da ideia de que o que se faz é imaculado, de que não existe riscos? Não é isso! Esse tripé precisa ser bem equacionado. De um pé, está o paciente e os seus riscos inerentes. De um outro, a estrutura médica e de outro, o profissional. Essa equação, ela precisa ser adequadamente dimensionada. Quando você vai fazer qualquer que seja o procedimento, você sempre tem que ter em mente esse tripé. Primeiro, como

está o paciente? Dois, como está o hospital? Três, a equipe médica, o profissional, estão adequadamente preparados para isso? Esse é o terceiro risco iminente. O quarto? Vamos deixar para a Divindade, ponto. Até porque, se você concordar, entenderá que nada é mais tirânico do que o acaso. O acaso vem na nossa vida, de uma tirania absurda e te faz refém. Diário da Manhã – O senhor está feliz? Dr. Áureo – Estou feliz. Feliz por ter amigos à la Batista Custódio. Esse cidadão foi importante na minha vida. Já falei para ele várias vezes: “Rapaz me ponha para pagar o que tenho que pagar para você! Rápido! Rápido! Me ponha para pagar, ponha preço, ponha favor, ponha o que você quiser, eu não quero é ficar em débito com você”. A minha amizade ele terá a vida inteira. Diário da Manhã – Agora, o senhor é inocente pela Justiça... Dr. Áureo – Olha, antes de encerrarmos, eu tenho uma palavra, do ministro do Supremo Ricardo Lewandowski, que eu gostaria que você escrevesse aí. Olha, fazendo minhas as palavras do ministro Lewandowski: “A Justiça faz bem à Saúde”. Todo mundo é contra a judicialização da saúde, eu não sou. Pelo contrário, para mim não existe poder moderador maior do que a Justiça. “Ah, mas a Justiça erra!”, erra mesmo! Nós temos, e já dissemos!, é que criar mecanismos de clareamento, de purificação e de performance. E eu vou te dizer mais uma vez: a Justiça faz bem à saúde, fazendo minhas as palavras do ministro Ricardo Lewandowski. Verdade absurda! É o poder moderador. Tanto é que dos poderes, é o que está menos comprometido. Você pode até achar que qualquer hora dessas vai acontecer uma Lava Jato da Justiça. Pode até ser que seja, mas quero dizer a você de antemão o seguinte: a Justiça faz bem à saúde. Esse negócio de judicializar a saúde, isso não é defeito. Está bom?! Diário da Manhã – Tranquilo. Dr. Áureo – Fiquei muito feliz com a sua visita. Foi um prazer enorme recebê-los.


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