Diário da Manhã
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Médico goiano repetiu e incorporou, para si, a frase [usada no título desta entrevista] do ministro do STF, Lewandowski, após vitória médica e judicial que tentava impedir “discípulo de Hipócrates” de usar técnica que combate o diabetes tipo 2
GOIÂNIA, SEXTA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2018
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Dr. Áureo Ludovico de Paula
“A Justiça faz bem à saúde” 1
Em entrevista exclusiva ao jornal Diário da Manhã, médico mundialmente conhecido por pioneirismo em intervenção cirúrgica, Dr. Áureo Ludovico de Paula ressalta a importância da Justiça, comemora a vitória da razão e do progresso sobre a polêmica médico-jurídica iniciada há oito anos, quando o MPF-GO e o CFM protocolaram ação civil pública contra o goiano
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Técnica criada pelo médico, a interposição ileal já foi realizada em um sem-número de pacientes e os índices estatísticos de remissão, nos casos do diabetes tipo 2, são celebrados por especialistas progressistas da área bariátrica. Conforme Dr. Áureo, cerca de até 90% dos pacientes são curados ou entram em remissão do diabetes e doenças relacionadas
Após ter sido considerado inocente da acusação de experimentador, que perdurou nos últimos oito anos, dr. Áureo diz que a vitória não é sua, mas da Medicina
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À reportagem, Dr. Áureo discorreu sobre a atualidade brasileira, além do embate que lhe causou problemas nesta última década. Ele avaliou que a sociedade precisa reconceituar-se para não se tornar refém de ideologias e imputou sobre os indivíduos, não sobre as instituições, causas e responsabilidades para a construção de um mundo melhor FOTOS: ANDRÉ COSTA / DIÁRIO DA MANHÃ
Arthur da Paz Especial para
Diário da Manhã
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esponsável pela nova saúde de brasileiros famosos, como o apresentador Faustão, o senador da República e ex-futebolista Romário (PSB), o pré-candidato ao Senado Demóstenes Torres (PTB) e do vereador Jorge Kajuru (PRP), o médico goiano Áureo Ludovico de Paula foi considerado inocente pela Justiça da acusação de experimentador na Medicina. Decisão unânime do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) decreta o fim da polêmica médico-judicial, iniciada em janeiro de 2010, quando o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO), aliado com o Conselho Federal de Medicina (CFM), protocolou ação civil pública desfavorável ao cirurgião, onde afirmava-se que o procedimento que ele criou era experimental e não poderia ser aplicado a pacientes. Além da absolvição, a Justiça recomendou que o CFM regulamente a cirurgia. O procedimento, conhecido como gastrectomia vertical associada à interposição ileal (GVII), além da redução do estômago, estimula a produção da insulina pelo pâncreas e, como resultado, na maioria dos casos (cerca de 90%), os pacientes encontram a remissão da diabetes tipo 2 ou até a cura da enfermidade. As doenças advindas desse tipo de diabetes também são afetadas, como o colesterol elevado, a hipertensão arterial e a obesidade.
A técnica está descrita pela ciência especializada desde 1928, desde quando foi publicada na revista Annals of Surgery, e foi utilizada ao longo do anos para várias indicações clínicas gastroenterológicas e até urológicas, conforme esclarece o médico. Áureo Ludovico realiza o procedimento há cerca de 11 anos. No início, o procedimento era considerado de alto risco no trato da obesidade e era limitado para corrigir problemas como o diabetes. Os estudos avançaram na área e evidenciou-se a possibilidade de tratar também a doença que afeta 15 milhões de brasileiros. O diabetes é uma das principais causas de cegueira, insuficiência
422 milhões de adultos, em todo o mundo, têm diabetes. Doença é a responsável por 1,6 milhão de mortes a cada ano
Dr. Áureo recebeu a equipe de reportagem do Diário da Manhã no seu escritório, no Setor Marista, em Goiânia
renal, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e amputação de membros inferiores. Adotar uma dieta saudável, praticar atividade física e não fumar são atitudes que podem prevenir ou retardar a doença do tipo 2. Com base nestes dados, subentende-se que a cura da diabetes ameaça diretamente várias indústrias farmacêuticas, que do ponto de vista de negócios e finanças, precisariam encontrar novas enfermidades para apoiarem seus negócios. É natural, então, que uma oposição ferrenha, embora invisível e não declarada, tenha sido coordenada por forças economicamente superiores às instituições que regulamentam e efetivam a prática médica no Brasil. Mas Dr. Áureo Ludovico busca a discrição e opta não tangir este tema frontalmente, embora admita que é possível que haja um “temor” nestes grupos. A diabetes tipo 2, uma vez estabelecida no metabolismo humano, ou o paciente tem que viver com remédios o resto da vida e manter uma vida estritamente regulada, ou buscará a cirurgia que traz índices positivos de curas ou remissões. Entretanto, Dr. Áureo deixa claro que nem todos os pacientes poderão passar pelo procedimento, caso os exames indicarem condição de saúde que não satisfaça os requerimentos necessários à cirurgia. Na entrevista ao Diário da Manhã, Dr. Áureo Ludovico explicou que, em 2010, obteve um parecer técnico favorável à sua prática ci-
ÊÊ PERFIL Nome: Áureo Ludovico de Paula Idade: 55 anos Formação: Médico pela Universidade Federal de Goiás (UFG); Doutor em cirurgia pela Faculdade de Medicina da USP
rúrgica, estabelecido por 42 especialistas e ilustres nomes da área que compuseram a Câmara Técnica de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, entretanto, autocraticamente, a cúpula diretiva do CFM, isto é, não especializada, indeferiu a decisão técnica, algo que nunca acontecera antes no tribunal técnico do CFM. Apesar de a cirurgia ser realizada amplamente em outros países, como Portugal, Itália, Índia, Estados Unidos e França e que esteja fartamente documentada em dezenas de publicações científicas e revistas nacionais e internacionais que citam o nome do médico goiano, houve essa negativa do órgão máximo que regula a Medicina no País. Em entrevista à Folha de S. Paulo, Áureo arremata quanto foi perguntado o porquê da discordância entre a Justiça e o CFM: “a cúpula diretiva, integrada por médicos
sem nenhuma vivência na área, é que discordou por motivos que somente eles podem responder.” Além dos embates médico-judiciais enfrentados pelo cirurgião goiano, nestes últimos 15 anos, aconteceram também denúncias e perseguições, de veículos de mídia e por parte de cerca de uma dezena de pacientes e advogados, relacionadas à acusação de experimentação médica. Todas as ações movidas contra o goiano, embasadas nesta premissa, caíram por terra com a decisão do TRF-1.
DESABAFO
Momento “raríssimo” de felicidade na vida profissional e pessoal do médico que “apanhou”, segundo disse ele, oito anos ininterruptos por conta das acusações, ele desabafa o sofrimento que lhe foi imposto e confidenciou ao Diário
Atuação: Membro de equipe de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital de Especialidades de Goiânia, Hospital das Américas, no Rio e SírioLibanês, em São Paulo. Além disso, o nome do sr. de Paula está difundido no meio médico-acadêmico mundial por uma quase centena de artigos e publicações científicas disponíveis nas bibliotecas e banco de dados de ciência especializada em sua área de atuação
da Manhã os detalhes que o feriram neste período, do qual, segundo ele, saem vitoriosas a humanidade e a Medicina.