

DESCOBERTAS

Bahige Fadel
Há um ditado popular sobre o qual estive pensando nesses dias: ‘O tempo é o senhor da razão’. Quando eu era jovem -isso já faz muito tempo - eram os velhos que a falavam. E a gente não dava bola para o que eles diziam. Parecia não ter sentido. Coisa de velhos, a gente pensava. Os velhos acham que sabem mais do que a gente, continuávamos pensando. Mas a gente envelhece - feliz ou infelizmente - e começa a mudar de opinião sobre certas coisas. Uma delas é essa: o significado dessa frase. E começamos a perceber que ela faz sentido, embora não seja uma verdade absoluta. É que alguns velhos, com o tempo, só ganharam rugas e dores, nada mais. Continuam incapazes de mudar. Que mudar significa fraqueza, não sabedoria.
Lembro-me de um tempo em que algumas pessoas estufavam o peito e diziam, como se fosse uma grande virtude: Tenho personalidade, não mudo de opinião. Querem coisa mais ridícula do que isso? Onde é que mudar de opinião é falta de personalidade? Você tem que ter muita personalidade e humildade para mudar de opinião, quando encontrar uma opinião melhor. E isso eu vi com o tempo. Não tenho a mínima dificuldade de mudar de opinião, desde que descubra opiniões melhores do que as que eu defendia.

Por exemplo, com o tempo, descobri que determinadas lutas não valem a pena. Lutas que não mudam nada. Lutas com derrota programada. Lutas com desilusões claras. Quer ver? De que adianta lutar contra esse cara que diz não mudar de opinião, por ter personalidade? Qual será o resultado dessa luta? Decepção. Você se desgastará e o adversário continuará pensando da mesma maneira. Com o tempo, a gente começa a selecionar melhor as lutas. Começa a escolher as lutas que é capaz de vencer. Vencendo, haverá alguma melhoria para você e para o mundo. Caso contrário, é melhor deixar tudo como está. E você reserva energias para objetivos mais importantes.


O tempo me ensinou que o ódio não cria nada de bom. É plenamente dispensável. Deve ser evitado. O ódio não causa bem a ninguém. Nem a quem odeia nem a quem é odiado. Eu me lembro de que, quando estava na faculdade, escrevi um texto que tinha estas frases: ‘O ódio é pesado, o amor é leve. Para que carregar peso?’. Isso não foi o tempo que me ensinou. Aprendi ainda cedo. E a gente vê tanta gente pregando o ódio como solução. O ódio é doença, não remédio. O ódio é ferida, não cura. E a gente vê tanta gente que sente prazer em odiar. E não estou falando em ódio político, esse disfarçado de bem, de solidariedade... Desse ódio nem vale a pena falar. Muitos já se incumbem disso.
O tempo me ensinou muitas coisas. Uma delas é que eu preciso cuidar de mim, para poder cuidar dos outros. Não adianta eu querer cuidar dos outros, se eu mesmo não estou bem. A coisa funciona como no avião. A funcionária explica que, em caso de problema, descerão máscaras de oxigênio.
Primeiro, a gente coloca a máscara e depois coloca na criança que está ao nosso lado. É que você precisa estar bem, para poder melhorar outras pessoas. Você só poderá melhorar o mundo, se conseguir melhorar a si mesmo.
Outra descoberta é que os amigos são poucos. Na juventude, a gente acha que tem dezenas de amigos. Bobagem. Ser companheiro de cerveja não é ser amigo. Mas isso não é um mal. Muitas vezes, nem as pessoas da família são suas amigas. Você precisa de pouca gente para ser feliz. Em primeiro lugar, deve ser amigo de si próprio. Devemos gostar do que somos. Devemos nos sentir bem com o que somos. Devemos nos cuidar, para que estejamos bem. Isso é fundamental. Depois, cuidar das pessoas que dependem de você. As pessoas que convivem com você devem estar bem. Depois, dar muita atenção e carinho para as pessoas que procuram deixá-lo melhor. Essas pessoas gostam de você. Essas pessoas são suas amigas. Já contou quantas pessoas são assim?
EXPEDIENTE
DIRETOR: Armando Moraes Delmanto

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CRONISTAS DA CIDADE
Olavo Pinheiro Godoy
A chamada crônica jornalística é entre nós, nos dias que passam, uma forma literária quase desligada do jornalismo. Muita gente a considera perfeitamente alheia ao jornal e, quando muito, mais própria da estrutura menos “quotidiana” dos semanários e revistas. E não poucos acharão que a crônica possui a natureza estável, não circunstancial, dos artigos dos suplementos literários e dos rodapés de crítica.
Tenho para mim, entretanto, que esse carinho que vai cercando os nossos melhores cronistas botocudos e essa homenagem que se presta antes ao escritor que ao jornalista, está fazendo um grande mal à essa forma. Promovê-la de peça de jornal a peça literária é transformá-la de material funcional em coisa de adorno, em jogo lúdico. E é que a crônica funciona no jornal - no jornal de hoje, imediatista, trepidante, volúvel, apaixonado e combativo – como uma espécie de centro de furacão, oferecendo ao leitor que precisa resistir ao “turmoil” dos acontecimentos, à vertiginosa velocidade das “naves espaciais”, a oprimente desumanização da cibernética, um pouco de calor humano. E é que, ao suplemento literário, de onde pouco a pouco vão desaparecendo as peças de criação – o conto, o poema, as reproduções e clichês de artes plásticas – e dominando as de ciências literárias - a critica de métodos rígido, os estudos impessoais, o leitor cada vez tem menos acesso.
Sebastião da Rocha Lima, Elda Moscogliato, Oswaldo Minicucci, Ion Ramos de Bastos, Eduardo Guedes Casimiro, Tasso Nunes da Silva, Milton Marianno, Bahige Fadel, Armando Delmanto, Benedito de Almeida, Sebastião de Almeida Pinto Filho, João Carlos Figueiroa, Raymundo Penhaforte Cintra,
Renato Vieira de Mello e tantos outros – alguns deles decididamente escritores e poetas – são na crônica decididamente jornalistas. Jornalista no sentido de membros de equipe, de peça do complexo noticioso e comentador. Sem dúvida há literatura no que escrevem, as suas crônicas possuem linguagem estética, mas a maneira de tratar o assunto é sempre jornalística, isto é, existe o interesse de focar o acontecimento e deixar em “blak-graud”, atenuado pela distância, o que se pode denominar de floreio literário. A habilidade do cronista, diga-se de passagem, está aliás em atenuar o jornalístico, o que interessa ao homem da rua, e deixar que o elemento literário não se perceba demais. Elda Moscogliato é uma cronista que utiliza do “floreio”, e sua literatura obtém êxito devido ao facilismo redacional e o estilo “art nouveau”.
O calor humano resulta do fato de ser o cronista pessoal, subjetivo, em meio do mundo impessoal, seco e direto que são as colunas densas do jornal. A cidade cresceu em número de jornais. Antigamente existia o “Correio de Botucatu” jornal quase centenário que, ao lado da “Folha de Botucatu” do mestre Pedro Chiaradia , lideravam a imprensa botocuda. Hoje são cinco os jornais em circulação, onde os cronistas, os artistas da crônica, vão ocupando os cantos de página, desmunicipalizando com facilidade, que logo faz sua a cidade em que não nasceu e penetrando ativamente, efetivamente na intimidade do espírito urbano que foi alheio à sua meninice e a sua adolescência.
Urge a união dos cronistas da cidade em torno de um só ideal. Valorizar os jornalistas que utilizam dessa forma literária que constitui um exercício estético dos mais altos, estando mesmo a exigir que se lhe empreste maior autonomia no sentido de não submetê-la à vida de satélite dos periódicos.
O Primeiro Brasão de Botucatu
Próximo de comemorar seu primeiro centenário, em 1952, Botucatu ganhou de presente seu primeiro Brasão de Armas e entregue por duas personalidades importantes para a história de Botucatu, conhecedores profundos das raízes da fundação e que conseguiram sintetizar em um símbolo o que a Cidade representava, hoje não é mais utilizado, como tantas outras coisas ficou no passado. Botucatu utilizou esse Brasão por 26 anos, de 1952 a 1978. Criado através da Lei Municipal nº 273, de 28 de agosto de 1952, teve a elaboração heráldica desenvolvida pelo historiador botucatuense Hernani Donato que foi convertida em imagem pelo prof. Gastão Dal Farra, na época era o prefeito Emílio Peduti. Esse brasão foi amplamente utilizado nas comemorações do Centenário de Botucatu. Coroa mural das municipalidades,
5) Na coroa, em escudete, um fuso ensinando pelo seu significado de atividade matriarcal, o orago da cidade
1) Escudo redondo português
2) No primeiro quartel, na parte de dextra, em sinople, três montanhas heráldicas, cortadas do leste para o oeste geográficos por um caminho em ascensão e ao sopé das montanhas uma capéla rústica encimada por uma cruz.



Dividido em dois quartéis (acima e abaixo) sendo o primeiro cortado no meio
6) Como suporte, à dextra, um ramo de café frutado em goles (vermelho)
8) No listel, em letras de ouro sobre sinople a palavra "Botucatu".
4) No segundo quartel, um livro, um báculo e um arado manual.
3) Na segunda parte do primeiro quartel, na parte de senextra, em blau, da esquerda para a direita um sol e uma estrela sobre dois rios paralelos.
7) À senextra um ramo florido de algodão em cor natural.
1 O escudo do tipo português, liga a origem da cidade e o povoamento do município à tradição lusitana no Brasil. 2 No primeiro quartel, à dextra, as montanhas heraldicas mostram a Serra de Botucatu, balisa no caminho dos bandeirantes, principal distintivo geográfico da região e primeiro elemento da mesma que compareceu na História. O caminho ascendente lembra as estradas coloniais que fizeram da serra um carreadouro de civilização e de povoamento, a ponto de haver um governador da Província determinado que a ida ou o retorno do sertão se fizesse atravessando aquelas terras. A capela ensina que a primeira construção e tentativa de povoamento é devida aos padres da Companhia de Jesus que ali mantiveram uma fazenda de criar de 1719 até 1760, na qual fazenda nasceram os primeiros Botucatuenses cristãos. A capela mostra ainda que a cidade nasceu para a civilização, tal como o Brasil e São Paulo, sob o signo da Cruz de Cristo. O campo em sinople relembra as pastagens que constituíram o motivo, a formação das primeiras fazendas e núcleos populacionais. 3 Na parte de senextra, o campo blau diz da pureza do clima que veio dar o nome à região, sabido que Botucatu significa bons ares. A estrela, símbolo das virtudes teologais afirma que a cidade e o povo foram sempre firmes em sua fé erguendo inúmeros templos de várias profissões religiosas; constantes na sua caridade, mantendo asilos e casas de abrigo, e da sua permanente esperança nos dias futuros. Os rios paralelos que são o Tietê e o Pardo, confirmam o ensinamento de que Botucatu cumpriu desde os seus primeiros dias a missão de conduzir através do seu território a civilização e a conquista. O Tietê conquistou o sertão do Brasil, nos séculos XVII e XVIII e o Pardo povoou o sertão de São Paulo no século XIX. 4 No segundo quartel, o livro, o báculo e o arado dizem que a projeção da cidade e do município veio do seu trabalho profícuo e de sua atividade espiritual, pois, durante meio século Botucatu foi o maior centro educacional do sudoeste paulista e do território de sua diocese é que saíram os territórios de várias outras dioceses paulistas. 5 Na coroa, em escudete, o fuso, significando atividade matriarcal, demonstrando que o drago da cidade é Sant`Ana. 6 Como suportes, à dextra um ramo de café frutado lembrando que o município não só foi grande produtor de café mas também origem de uma importante variedade: o "café amarelo" ou "café de Botucatu". 7 A senextra, um ramo florido de algodão que foi outro importante produto agrícola da região. 8 A final, é consignado o nome do município no listel, objetivando bem individualizar o brasão.
