Diário Causa Operária nº5885

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PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

Cesare Battisti, sem direitos nas masmorras italianas Um ano de prisão ilegal de Cesare Battisti, militante de esquerda perseguido pela extrema-direita O militante político Cesare Battisti, perseguido político da extrema-direita e da direita italiana, completou um ano de prisão arbitrária. Battisti, condenado à prisão perpétua na Itália, segue encarcerado em um presídio de segurança máxima na ilha da Sardenha. Seu advogado tenta utilizar os anos em que ele cumpriu pena na Itália, entre 1979 e 1981 e os cerca de quatro anos que passou detido no Brasil, para daqui a dois ou três anos pedir progressão da pena, já que nesse caso é necessário cumprir 10 anos da condenação para poder progredir. O judiciário Italiano, no entanto, dominado pela direita, é pouco inclinado para a concessão deste direito. Mesmo o pedido feito pela defesa para autorizar um encontro com o filho brasileiro por Skype não foi atendido e aguarda deliberação. O ex-militante político encontra-se, após os seis primeiros meses de solitária, isolado

na prisão, que é dedicada a prisioneiros supostamente pertencentes à máfia que são separados de acordo com o grupo pertencente. Cesare foi acusado e condenado pela justiça Italiana por supostamente ter participado de três assassinatos, todos de elementos pertencentes a grupos fascistas, na década de 1970. Os assassinatos ou justiçamentos foram supostamente promovidos por uma organização a qual Battisti pertencia, porém nunca foi provada sua participação individual nos acontecimentos. Após breve prisão na Itália, Cesare Battisti conseguiu fugir para o México e, posteriormente, para França e Brasil, tendo recebido asilo político em 2007 concedido pelo ex-presidente Lula. Battisti tornou-se um dos militantes da esquerda mais perseguidos do mundo, encontrando hostilidade até mesmo no interior da esquerda, devido à campanha da direita internacional.

Seu processo foi totalmente fraudado, ilegal, seus direitos totalmente pisoteados na Itália, com o golpe de Estado no Brasil, País que sob um governo de esquerda e a duras penas lhe concedeu o princípio democrático do asilo a um perseguido. Mesmo esse princípio fundamental do chamado Estado Democrático de Direito sucumbiu totalmente à ânsia da extrema-direita e da direita de condenar alguém que lutou contra os fascistas. A extrema-direita utiliza este caso como elemento de propaganda terrorista e de repressão geral contra a esquerda. Este caso não é mera condenação de um indivíduo, está atravessado pela luta de classes, trata-se da punição exemplar da direita contra a esquerda e a tentativa de sua desmoralização. Battisti, que neste ano e em condições escusas (possivelmente tortura física ou psicológica) confessou sua participação nos assassinatos os quais a direita lhe atribui, também

publicou uma carta condenando a luta armada dos 1960/70 na Itália, um período conturbado e de acirramento da luta de classes entre a classe operária e a extrema-direita fascista que resultou em enfrentamento direto. O que é condenado pela direita no caso Battisti não é o fato de ter participado do assassinato dos três fascistas, mas o fato de a esquerda ter levantado-se de armas em punho contra o fascismo. Querem mostrar às novas gerações que o caminho que ele e muitos outros seguiram não deve ser trilhado. Cesare é um perseguido político e vítima de uma fraude judicial, demonstrada por diversos estudiosos do caso, que suprimiu seus direitos democráticos mais fundamentais, por expressar a luta dos oprimidos contra os opressores e por isso deve ser defendido incondicionalmente contra a direita e a extrema-direita. Liberdade para Cesare Battisti!

CINISMO

Imperialismo acusa Irã, mas é Israel quem aterroriza o Oriente Médio A campanha cínica do imperialismo de que o Irã seria uma ameaça à humanidade serve para encobrir as atrocidades do imperialismo A década de 2020 começou com um um dos eventos mais dramáticos para a política mundial: o assassinato do general iraniano Qassem Soleimani em um ataque ordenado pelo presidente norte-americano Donald Trump, um verdadeiro crime contra todos os povos do Oriente Médio. A imprensa burguesa em todo o mundo, no entanto, tratou o acontecimento como uma mera operação administrativa dos Estados Unidos – quando não defenderam abertamente o ataque norte-americano, procuraram mostrar que o governo iraniano seria uma grande ameaça para o planeta. A caracterização do Estado iraniano como “terrorista” e “opressor” não passa, obviamente, do mais puro cinismo do imperialismo. Afinal, não existe terror maior que o praticado pelos Estados Unidos, França, Inglaterra e todos os países imperialistas, tampouco opressão maior do que a que esses países exercem sobre os países atrasados. Os ataques que o povo iraniano, o povo sírio e outros povos do Oriente Médio sofrem de seus governos são ataques de muito menos intensidade do que os ataques provocados pelos países imperialistas, pois a burguesia desses países é muito mais fraca e menos organizada. A burguesia do Irã, como a de seus vizinhos (Síria, Iraque, Líbano, etc.), é sufocada pelo imperialismo, de modo que suas contradições com países como os Estados Unidos são inevitáveis. E são justamente essas contradições que levaram muitos

países do Oriente Médio, da África e da América Latina a estabelecerem governos nacionalistas burgueses, que combinam interesses da burguesia nacional com maiores condições para que a classe operária intervenha na situação política. Um dos maiores exemplos de como o imperialismo procura desmantelar os governos nacionalistas para impor a política neoliberal goela abaixo é a criação do criminoso e artificial Estado de Israel. Formado em 1948, Israel é um Estado criado pelos países imperialistas no meio do Oriente Médio – em uma região, inclusive, que já era habitada por outros povos. Controlado ferrenhamente pelo imperialismo,

Israel é um enclave colocado estrategicamente para que a burguesia mundial pudesse interferir diretamente – e, inclusive, belicamente – em suas investidas contra os povos palestino, persa, turco e árabe, a fim de sugar todas as suas riquezas, particularmente o petróleo. Na madrugada da última sexta-feira (10), uma série de ataques aéreos assassinou pelo menos 8 membros das Forças de Mobilização Popular do Iraque. Os ataques aconteceram na fronteira da Síria com o Iraque e foram denunciados pelo governo sírio e pelas Forças de Mobilização Popular como uma investida que só poderia ter sido ordenada pelos Estados Unidos ou

por Israel – a imprensa libanesa afirmou que foi Tel Aviv quem disparou os mísseis. Os ataques promovidos pelos Estados Unidos e pelo seu país-satélite, o Estado de Israel, são frequentes o ano inteiro. É uma constante declaração de guerra aos povos do Oriente Médio, uma espécie de “recado” para que os governos nacionalistas se dobrem às exigências do imperialismo. Fica claro, portanto, que toda e qualquer ação por parte do Irã ou de seus países vizinhos contra os Estados Unidos e contra o imperialismo em geral não passa de uma reação, uma ação defensiva diante do massacre diário ao qual são submetidos.


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