Diário Causa Operária nº5848

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SEXTA-FEIRA, 6 DE DEZEMBRO DE 2019 • EDIÇÃO Nº5848

Todos à Conferência Aberta dos Comitês de Luta D

aqui a exatamente oito dias, terá início a II Conferência Nacional Aberta dos Comitês de Luta, que ocorrerá nos dias 14 e 15 de dezembro, em São Paulo. A conferência dará continuidade à I Conferência Nacional Aberta de Luta Contra o Golpe, que aconteceu em julho de 2018 e serviu para impulsionar a luta pelos direitos políticos do ex-presidente Lula.

Polícia Militar: milícia fascista organizada com dinheiro público

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massacre de Paraisópolis, em São Paulo, domingo (1º) terminou com a morte de nove jovens em uma ação repressiva da PM. Esse foi o mais recente episódio a expressar a política brutal da direita contra a população pobre. Desde sempre a burguesia brasileira utiliza a polícia para levar adiante uma política de terror e execuções sistemáticas nas periferias. Desde o golpe de Estado que derrubou Dilma Rousseff, no entanto, a violência dessa política contra o povo está se intensificando. Nunca se matou tanto no Brasil por meio da polícia contra os trabalhadores pobres.

Uma política ultra sectária e reacionária diante do golpe

Paraisópolis: PCdoB quer “punir” PMs e manter corporação assassina PCdoB toma posição bolsonarista exigindo ‘punição exemplar’ e que o fascista João Doria tome as medidas necessárias para punir PMs que realizaram o massacre em Paraisópolis

2ª Conferência Nacional Pacote de Moro sofre derrotas no Congresso Aberta: inscreva-se já no site Derrotado na Câmara dos Deputados, Sérgio Moro – “Mussolini de Maringá” – ministro da Justiça do governo golpista, volta para casa, nesta quarta-feira (4), com o pacote anticrime, o excludente de ilicitude, a prisão em segunda instância e o acordo de “plea bargain” debaixo do braço.

O Partido Operário Revolucionário (POR), da Bolívia, partido da extrema-esquerda, assumiu diante do golpe de Estado naquele País uma política totalmente estranha às concepções do marxismo e do trotskismo, dos quais o partido se considera defensor.

PSOL quer debater com Weintraub O ministro golpista Abraham Weintraub, que comanda a pasta do MEC, foi convocado pelo PSOL para dar explicações sobre as calúnias direcionadas às universidades.

Paraisópolis: ato pela dissolução da PM ocorre no MASP Com diversas organizações, como PSOL e PCdoB, o ato convocado pelo PCO contra a chacina que ocorreu no último domingo em Paraisópolis reuniu nesta quinta-feira (5) centenas de pessoas.

CPI das “fake news”: Bolsonaro montou aparato de espionagem próprio

Daqui a 8 dias ocorrerá a II Conferência Aberta dos Comitês de Luta, nos dias 14 e 15 de dezembro em São Paulo. A atividade discutirá a situação política nacional e internacional e definirá um plano de lutas contra o golpe no Brasil e na América latina.


2 | OPINIÃO EDITORIAL

COLUNA

Polícia Militar: milícia fascista organizada com dinheiro público O massacre de Paraisópolis, em São Paulo, domingo (1º) terminou com a morte de nove jovens em uma ação repressiva da PM. Esse foi o mais recente episódio a expressar a política brutal da direita contra a população pobre. Desde sempre a burguesia brasileira utiliza a polícia para levar adiante uma política de terror e execuções sistemáticas nas periferias. Desde o golpe de Estado que derrubou Dilma Rousseff, no entanto, a violência dessa política contra o povo está se intensificando. Nunca se matou tanto no Brasil por meio da polícia contra os trabalhadores pobres.Antes de entrarmos nos números, registremos mais uma vez o nome das vítimas de domingo, jovens que tinham entre 14 e 23 anos: Gustavo Cruz Xavier, 14, Dennys Guilherme dos Santos Franco, 16, Marcos Paulo Oliveira dos Santos, 16, Denys Henrique Quirino da Silva, 16, Luara Victoria Oliveira, 18, Gabriel Rogério de Moraes, 20, Eduardo da Silva, 21, Bruno Gabriel dos Santos, 22, e Mateus dos Santos Costa, 23. Esses nomes ainda não aparecem em todas as estatísticas que mencionaremos abaixo.Para começar, a polícia está matando muito mais em São Paulo. Até agora já foram 697 mortes em São Paulo esse ano, número já supera os 686 do ano passado, com mais um mês inteiro pela frente. Esse crescimento corresponde à política do governo estadual sob o comando de João Doria, que antes mesmo de assumir o cargo disse que “a partir de 1º de janeiro” a polícia iria “atirar para matar”. Doria também prometeu que contrataria “os melhores advogados” para policiais que fossem acusados de matar suspeitos. Já durante esta semana, em que ocorreu o massacre, Doria afirmou que não mudará sua política de “segurança pública”.A polícia de São Paulo está matando mais, e se depender de Doria matará muito mais ainda. As próprias

estatísticas provavelmente subestimam os verdadeiros números da letalidade policial. No Rio de Janeiro, sob Wilson Witzel, a tendência é a mesma. Em 2019 a polícia carioca quebrou seus próprios recordes, e matou 1.546 pessoas em serviço. Também nesse caso o estímulo do governo é evidente, incluindo declarações espalhafatosas de Witzel, além de gravações em helicópteros atirando para baixo e da comemoração do assassinato de um sequestrador de ônibus por um atirador de elite.Com o bolsonarismo a tendência à violência policial explodiu. Mas dados dos anos anteriores mostram que esse movimento já era forte desde o começo da campanha golpista que derrubou o governo em 2016. Em setembro o Fórum Brasileiro de Segurança Público divulgou que, durante 2018, as polícias civis e militares, em serviço ou de folga, mataram 6.220 pessoas. Mas logo a partir de 2016 esse número disparou, coincidindo com as campanhas de extrema-direita dos golpistas. Naquele ano, o número de assassinados pela polícia saltou de 3.330 em 2015 para 4.240. A tendência continuou nos seguintes, indo para 5.179 em 2017, até chegar à catástrofe de 2018, que certamente será menor do que a desse ano, quando esse número for divulgado.A constância desse crescimento é mais uma demonstração de que se trata de uma política da extrema-direita esmagar a população, ampliando ainda mais um extermínio que já tinha proporções alarmantes. Portanto, combater o bolsonarismo, para os trabalhadores, é uma questão de defender a própria vida e a vida de seus familiares e vizinhos. A direita está exterminando os pobres, é necessário se mobilizar para impedi-los de continuar. E por isso esse governo precisa terminar o quanto antes. É hora de ir às ruas levantar o Fora Bolsonaro!

Todas as torcidas do Brasil pelo fora Bolsonaro! Por Henrique Áreas de Araujo

Nos próximos dias 14 e 15 de dezembro, acontecerá, em São Paulo, a Segunda Conferência Aberta dos Comitês de Luta Contra o Golpe e o Fascismo. Companheiros de centenas de cidades do País estão mobilizando caravanas que sairão de vários estados para participarem do evento, que tem como objetivo a organização da luta contra os golpistas, pelo fora Bolsonaro, pela anulação de todos os processos contra Lula, dentre outras importantes reivindicações da luta dos trabalhadores.A Conferência é aberta para a participação de todos os que têm o interesse comum de lutar contra o golpe. Nesse sentido, todas as organizações populares estão convidadas para enviar representantes para constituir um grande movimento unitário de luta para derrubar os golpistas, contra a direita.O governo Bolsonaro está aprofundando a perseguição política contra as torcidas organizadas e os torcedores de modo geral. Ao sancionar a lei, na semana passada, que aumenta a punição contra as torcidas organizadas, Bolsonaro e seus aliados golpistas estão aumentando a repressão que já exis-

te há algum tempo nos estádios.A perseguição contra as torcidas é parte da política de repressão contra o direito de organização de todo o povo. Bolsonaro, como todo governo de extrema-direita, é um inimigo do povo e por isso odeia o futebol e as torcidas.A repressão contra as torcidas vem atrelada a outro projeto aprovado na Câmara dos Deputados na semana passada: o que permite que os clubes de futebol se transformem em clube-empresa. É a entrega do patrimônio do povo brasileiro para as mãos dos capitalistas, especialmente para os grandes monopólios capitalistas internacionais. É a privatização do futebol.Esse ataque contra o futebol deve ser denunciado. É preciso um programa claro de luta contra ele, que passa pela luta contra os golpistas.Convidamos todos os coletivos interessados no futebol e as torcidas a participarem da conferência para que seja levado um programa em defesa da liberdade irrestrita e incondicional das torcidas organizadas. Pelo controle dos clubes e das federações pelos torcedores, abaixo a repressão nos estádios e fora capitalistas do futebol!


POLÍTICA | 3

14 E 15 DE DEZEMBRO

Todos à Conferência Aberta dos Comitês de Luta Nos dias 14 e 15 de dezembro, ocorrerá o segundo grande encontro dos ativistas da luta contra o golpe: a Conferência Nacional Aberta dos Comitês de Luta. Daqui a exatamente oito dias, terá início a II Conferência Nacional Aberta dos Comitês de Luta, que ocorrerá nos dias 14 e 15 de dezembro, em São Paulo. A conferência dará continuidade à I Conferência Nacional Aberta de Luta Contra o Golpe, que aconteceu em julho de 2018 e serviu para impulsionar a luta pelos direitos políticos do ex-presidente Lula.A II Conferência acontece em um momento decisivo da luta dos trabalhadores contra a ofensiva golpista. Na atual etapa, a América Latina se encontra toda convulsionada, como resultado da aplicação da política neoliberal, de modo que a mobilização dos trabalhadores e a repressão da burguesia estão se desenvolvendo rapidamente.No Chile, mais de duzentas pessoas já perderam a visão nos últimos 40 dias em decorrência da brutal repressão do governo Piñera. Por outro lado, o povo andino permanece nas ruas exigindo o fim do governo dos golpistas, mesmo após vários recuos do presidente, Sebastián Piñera, e de várias tentativas de acordo. Na Bolívia, as sucessivas capitulações do Movimento ao Socialismo (MAS) não

foram suficientes para pôr fim à mobilização do povo boliviano. Os trabalhadores continuam nas ruas enfrentando a polícia e a extrema-direita, exigindo a saída da golpista Jeanine Añez e a recondução de Evo Morales ao poder. No Brasil, as gigantescas manifestações de maio e junho desse ano, bem como os atos em Curitiba pela liberdade de Lula, que reuniram milhares de militantes de todo o país, mostram uma fortíssima tendência à mobilização contra a direita golpista.Embora as condições se mostrem favoráveis à mobilização, a direita não está disposta a abandonar seus planos facilmente. O imperialismo está decidido em impor governos profundamente direitistas, que se coloquem como verdadeiros capachos da burguesia internacional, e somente irá ceder se for confrontada com um movimento forte e decidido. O exemplo da Bolívia, em que a esquerda ganhou as eleições, mas foi rapidamente derrubada, mostra que o único caminho é a mobilização.É justamente com esse objetivo de organizar a rebelião contra os golpistas que surge a segunda conferência

nacional. O evento é aberto a todos os comitês que lutam pela liberdade de Lula, pela derrubada do governo Bolsonaro, que atuaram na luta contra o golpe e todas as organizações e todos os companheiros que querem participar do enfrentamento ao governo Bolsonaro. A conferência será, assim, um espaço fundamental para que os ati-

vistas da luta contra o golpe, isto é, todos os explorados que querem se ver livres do governo Bolsonaro, discutam a situação política e encaminhem as ações para o próximo período.Não fique de fora desse grande evento! Para mais informações, consulte o sítio eletrônico da II Conferência Nacional dos Comitês de Luta e faça sua inscrição!

LUTA CONTRA O IMPERIALISMO

2ª Conferência Nacional Aberta: inscreva-se já no site A 8 dias da 2ª Conferência, inscreva-se no site, procure a caravana mais próxima e participe da atividade política mais importante do fim de ano Daqui a 8 dias ocorrerá a II Conferência Aberta dos Comitês de Luta, nos dias 14 e 15 de dezembro em São Paulo. A atividade discutirá a situação política nacional e internacional e definirá um plano de lutas contra o golpe no Brasil e na América latina. Como participar? Para fazer a inscrição basta acessar https://www.alutacontraogolpe.com/, site dos Comitês, preencher o formulário e pagar a taxa de R$ 50,00 para o custeio do evento. Lá também haverá informações sobre a programação, o alojamento ((na última Conferência foi possível alojar-se na quadra do Sindicato dos Bancários, sendo necessário levar colchonetes, barraca, …), etc. Para ir até o local do evento em São Paulo, militantes do PCO e dos Comitês estão organizando caravanas de todas as regiões do País. Procure o Comitê mais próximo da sua cidade ou região e os mutirões que ocorrem aos domingos nas feiras livres e as quartas-feiras nas universidades. Até o sábado (7), os comitês também organizarão plenárias de preparação para levar o maior número de pessoas para a II Conferência. A forte tendência à mobilização na atual etapa da luta popular indica que a II Conferência assumirá um papel ainda mais importante do que

a última, realizada em 2018. Sob as palavras de ordem de “Lula ou Nada” e “Eleição sem Lula é fraude”, a I deliberou a realização de um grande ato pela registro da candidatura de Lula em Brasília, como forma de denunciar a fraude que os golpistas preparavam na tentativa de cauterizar a ferida do golpe com uma saída institucional. A II ocorrerá num cenário muito pior para a burguesia e os golpistas, que sofrem com o governo de extrema direita improvisado pela fraude eleitoral, num cenário de destruição do centrão, polarização cada vez maior entre a população e os golpistas e com o levante popular contra o imperialismo na América latina. Principalmente após os últimos acontecimentos no Brasil e na Amé-

rica latina, que aprofundaram a crise do regime golpista e impulsionaram a força popular expressa em torno da figura de Lula, a II Conferência deve estar marcada no calendário de cada militante como um dia essencial para a organização da luta pela derrubada do governo golpista. Por que participar? É a forma de impulsionar no Brasil a mobilização popular que ocorre neste momento no continente. Será uma forma de encerrar o ano preparando a luta para o próximo período, para que no ano que vem os trabalhadores brasileiros entrem em marcha num movimento de massas contra o governo golpista, o que possibilitaria a derrota

do imperialismo na América latina. É a situação que todos os revolucionários esperam ter a sua disposição para intervirem de modo consciente, organizando os setores mais combativos da população. Tendo isso em mente, os Comitês de Luta realizarão plenárias abertas em todo o País, como preparação para a II Conferência, para agrupar todos os companheiros dispostos a avançar contra os golpistas, derrubar o governo Bolsonaro, anular todos os processos contra Lula e garantir novas eleições com Lula candidato. Portanto, procure o comitê mais próximo, acesse o site do evento, informe-se, organize os setores mais combativos e prepare as caravanas rumo a II Conferência Aberta dos Comitês de Luta.


4 | POLÍTICA

DERROTA DE MORO NO CONGRESSO

Pacote de Moro sofre derrotas no Congresso Pacote anticrime de Moro sofre derrotas expondo a crise do governo golpista de Bolsonaro Derrotado na Câmara dos Deputados, Sérgio Moro – “Mussolini de Maringá” – ministro da Justiça do governo golpista, volta para casa, nesta quarta-feira (4), com o pacote anticrime, o excludente de ilicitude, a prisão em segunda instância e o acordo de “plea bargain” debaixo do braço. Aprovado por 408 votos a favor, 9 contra e 2 abstenções, o texto-base do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi aprovado após dez meses de tramitação. A aprovação, no entanto, foi realizada sem as principais propostas apresentadas pelo ministro golpista, o destacado expoente da operação Lava Jato, responsável pela prisão – sem provas – do presidente Lula. Moro, agraciado com um ministério por ter cumprido seu dever em retirar Lula das eleições, malogrou juntamente com os defensores da Lava Jato, revelando, em todo o caso, a crise do regime golpista. Todavia, a proposta final concretiza o aumento para 40 anos do tempo máximo de cumprimento de pena, assim como a

mudança no prazo para progressão de regime (dificultando o acesso ao benefício), as regras para delação premiada e a figura do juiz de garantias. Ademais, foi aprovado dispositivo que permite a venda de bens apreendidos por órgãos de segurança pública, bem como a criação do banco nacional de perfil balístico, instrumento utilizado pela Gestapo (Polícia secreta alemã) que servirá para identificar armas “usadas para cometer crimes” no país. Rejeitado por 8 votos a 3, o acordo de “plea bargain” – importação do aparato judiciário estadunidense – consiste em uma modalidade de negociação na qual o acusado pode confessar o crime em troca de não se submeter ao processo judicial. Com isso, o mesmo pode receber uma pena mais branda” através de uma solução negociada” entre o Ministério Público, o acusado de um crime e o juiz. Essa barganha proposta por Moro, evidentemente, facilita a tortura psicológica e a coerção do aparato judiciário como método para fins políticos dos golpistas e

seus asseclas. Através dessa manobra ardilosa, o conceito da presunção de inocência, seria descartado, mudando todo o entendimento jurídico brasileiro para atender aos interesses do imperialismo. O grupo formado por deputados, avaliou duas propostas: a apresentada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes; e o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro. A frustração da camarilha bolsonarista com a derrota sofrida é aparente. O relator do projeto no grupo, Capitão Augusto (PL-SP), em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, afirmou que há uma “má vontade” dos parlamentares com as medidas do ex-juiz da Lava Jato. Essa animosidade dos fascistas de plantão, deu-se, sobretudo, pela exclusão dos trechos que eram da proposta de Moro, principalmente, a licença para matar. Mesmo diante dessa derrota parcial, ainda é preciso ver quanto essa proposta vai ser alterada enquanto a

mesma avança no Congresso. De qualquer modo, o fato indica uma derrota política de Moro dentro do Legislativo. Trata-se, portanto, de um sinal da crise política que se desenvolve no governo. No entanto, da parte dos trabalhadores, é preciso aproveitar essa divisão e o momento, nitidamente, favorável à mobilização, para sair às ruas contra o governo, gritando em alto e bom som: Fora Bolsonaro!

FORA DORIA

Paraisópolis: ato pela dissolução da PM ocorre no MASP A manifestação exigiu o fim da Polícia Militar, ressaltando a defesa do direito ao armamento do povo.

Com diversas organizações, como PSOL e PCdoB, o ato convocado pelo PCO contra a chacina que ocorreu no último domingo em Paraisópolis reuniu nesta quinta-feira (5) centenas de pessoas. O ato ocorreu no MASP, na Avenida Paulista. A mãe de um dos meninos agredidos na festa realizou uma fala, assim como diversos militantes das organizações que compunham o ato. O ato contou com a participação da Bateria Popular Zumbi dos Palmares e

com diversas outras organizações, como o Coletivo de Negros João Cândido, a Aliança da Juventude Revolucionária, o Comitê de luta contra o golpe de USP e assim por diante. A manifestação exigiu o fim da Polícia Militar, ressaltando a defesa do direito ao armamento do povo. Além disso, também reforçou a luta pela derrubada do governo de João Doria, que tem estimulado, junto com a extrema-direita, o aumento da repressão contra a população pobre.

A direita prospera na ignorância. Ajude-nos a trazer informação de verdade


POLÍTICA E MOVIMENTO OPERÁRIO | 5

SEGUNDO JOICE HASSELMANN

CPI das “fake news”: Bolsonaro montou aparato de espionagem próprio Ex-líder do governo na Câmara denunciou esquema milionário de difamação montado pelos bolsonaristas Quarta-feira (4), a direita golpista protagonizou mais um espetáculo grotesco na Câmara dos Deputados, digno de uma casa que votou o impeachment “por Deus, pela família”. A deputado do PSL Joice Hasselmann, até outro dia aliada do presidente golpista Jair Bolsonaro, foi ao Congresso participar da CPI das “fake news”. Antes de entrar nas denúncias feitas pela ex-aliada de Bolsonaro, devemos ressaltar que nenhuma CPI resolverá os problemas da luta contra a direita golpista, e qualquer medida institucional para supostamente proteger o público de “notícias falsas” acabará levando a alguma forma de censura controlada pela direita. Feita essa ressalva, é pertinente examinar as denúncias feitas por uma ex-aliada do governo, que dão uma ideia do funcionamento do aparato de propaganda da extrema-direita. Segundo Joice Hasselmann, o bolsonarismo dispõe de um esquema que ela apeli-

dou de “gabinete do ódio”, destinado a desferir ataques virtuais em massa contra desafetos do governo, utilizando robôs para disparar determinados conteúdos em redes sociais. Segundo Hasselmann, isso estaria sendo feito com dinheiro público, e já teriam sido gastos cerca de R$ 500 mil. Cada disparo custa cerca de R$ 20 mil. Antes de entrar no governo, o bolsonarismo já realizava ataques em massa desse gênero, o que indica um amplo apoio de capitalistas à campanha presidencial da extrema-direita, ao contrário do que dizia a propaganda dos bolsonaristas. Esse dado também demonstra o deslocamento à direita de determinados setores da burguesia. Mas nem só de dinheiro depende o sistema criado pela família Bolsonaro para espalhar notícias enviesadas e assassinar reputações. Agora Bolsonaro está no governo, e é aí que surge a denúncia mais preocupante da ex-lí-

der do governo na Câmara no depoimento de quarta-feira à CPI. Segundo Joice Hasselmann, o bolsonarismo teria montado uma “ABIN [Agência Brasileira de Inteligência] paralela”. Ou seja, os bolsonaristas teriam montado um sistema de informações oculto dentro do Estado para usar em defesa de seus interesses, um aparato secreto de espionagem. Naturalmente, quem poderia montar um aparato desses são os próprios policiais e militares ligados aos aparatos oficiais de informação, mas nesse caso atuando nas sombras para levar adiante uma política de perseguição a serviço da extrema-direita. Trata-se de uma denúncia muito grave, que mostra o grau de arbitrariedade e intromissão com que esse governo está agindo para realizar perseguições políticas, seja contra dissidências internas, seja, principalmente, contra partidos de esquerda e organizações operárias e populares.

Esse é um elemento importante para entender o perigo que o governo Bolsonaro representa contra toda a população. É preciso impedir imediatamente a continuidade de uma política dessas. Por isso é tempo de ir às ruas contra o governo, levantado a palavra de ordem: Fora Bolsonaro!

ORGANIZAÇÃO DE DERROTAS

Enquanto direita roubava a previdência no Paraná, APP encerrava greve Na contramão da disposição de luta dos trabalhadores em Educação do Paraná, que ocuparam a Assembleia Legislativa, direção encerra greve e orienta luta na Justiça Nesta quarta (4), a direção da APP-Sindicato dos trabalhadores em Educação Pública do Paraná, encerrou a greve contra os ataques do governo e dos deputados golpistas, que aprovaram o roubo da previdência estadual através da PEC 16/2019. Na contramão da base da categoria, que ocupou à ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná) na última terça (3) para impedir o roubo da previdência, a direção dá mais uma demonstração da sua completa capitulação frente ao governo bolsonarista de Ratinho Jr. (PSD-PR). Isto porque essa mesma direção, em julho, num momento de acirramento da mobilização e recuo parcial do governo Ratinho, ao invés de impulsionar a decisão dos comandos de greve, que decidiram manter a paralisação, colocou-se contra a continuidade do movimento. Mais que isso, naquele momento, confundindo o movimento, a direção chamou a categoria a lutar pela substituição do Secretário da Educação de Ratinho Jr, Renato Feder, sob a palavra de ordem de “Fora Feder”, dizendo que o problema não era o governo de conjunto, mas sim a relação da SEED (Secretaria de Educação) com a categoria, como se o secretário comandasse uma pasta de si mesmo e não fizesse parte da política do governo como um todo. Como se não bastasse, para defender que a categoria não avançasse diante do recuo da direita, o que era a política correta, a direção vendeu o

recuo parcial do governo como uma vitória do movimento, defendendo a necessidade de recuo da greve sob o argumento de que “seria necessário guardar munição para uma possível greve contra a reforma da previdência”. Foi assim que a direção reformista aceitou: O não pagamento da data-base atrasada desde 2016 (governo Richa-PSDB, do qual Ratinho era secretário), que já soma mais de 17% de perda salarial, equivalente a 2 salários por ano; A realização de prova para PSS (Processo Seletivo Simplificado), trabalhadores temporários, uma espécie de terceirizados da categoria; O parcelamento da reposição salarial do último ano 4,94% referente a inflação de abril de 2018 a maio de 2019, que será pago 2% em janeiro de 2020, 1,5% em janeiro de 2021 e 1,5% em janeiro de 2022; A formação de comissões entre governo, sindicato e deputados, para tratar do caso das perícias médicas e dos professores temporários (dando a entender que o caminho para as conquistas se daria através do trabalho em conjunto com o governo de extrema direita do Paraná e não através da luta contra ele); E vendeu como vitórias suficientes: A retirada do PLC 04/2019; O pagamento do mínimo regional e reajuste do auxílio transporte e alimentação para os Agentes Educacionais I; A manutenção da eleição de diretores de escola como é atualmente;

Essa política de substituição do secretário, uma espécie de reforma governo bolsonarista do Paraná, a famosa política de “colocar a direita na linha” e de evitar que a categoria se chocasse diretamente contra o governo Ratinho Jr., foi corretamente apelidada de “fica Ratinho”, uma vez que a direção se recusou a adotar a palavra de ordem de “Fora Ratinho e todos os golpistas”. Portanto, a derrota da categoria não foi um raio em céu azul, mas sim o resultado da política totalmente capituladora da direção, que desmontou a greve, levando todos os trabalhadores à derrota. Desarmados pela política da direção e desanimados com a derrota, a mobilização da categoria refluiu no 2º semestre e fez com que sua participação na greve nacional da Educação fosse residual. De lá para cá, a direção manteve a política de luta a conta-gotas, até a nova ofensiva do governo, que enviou para a ALEP uma lei para roubar a aposentadoria do funcionalismo. Apesar de toda essa vacilação e erros sistemáticos da sua liderança, os trabalhadores em Educação se levantaram contra o ataque à previdência, ocupando a ALEP durante a votação da reforma e expressando a tendência à mobilização. Inclinada a lutar contra o governo bolsonarista do Paraná, no entanto, a categoria foi novamente barrada pela política organizadora de derrotas da sua direção. Enquanto os deputados votavam o roubo da previdência encastelados na Ópera de Arama, pro-

tegidos pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, a direção suspendia a greve, propagando a ideia que a luta agora será na Justiça burguesa. No entanto, o que teria ocorrido se a direção tivesse utilizado todos os recursos do maior sindicato do estado para intensificar a ocupação? Se a ocupação se mantivesse mesmo após a aprovação do roubo, para denunciá-lo e intensificar a greve, como a base teria respondido? E as bases das outras categorias do funcionalismo? Mais, por que a direção não mobilizou amplamente as bases em torno da ocupação? Por que não publicou boletins, imagens em redes sociais, chamados de vídeo, texto, fez caravanas de todos os mais de 30 núcleos sindicais espalhados pelo Paraná? Com toda a mobilização e disposição de luta vista apesar da política de freio de mão puxado da direção, caso houvesse o mínimo de chamado à mobilização e organização da greve e da ocupação, estaria agora o governo se equilibrando na corda bamba, com a ALEP sitiada e tomada pelos trabalhadores. Por isso, os trabalhadores do Paraná precisam extrair dessa derrota a experiência de que a política de luta apenas por pressão parlamentar e desgaste eleitoral, não vai garantir seus direitos. Precisam tirar as conclusões que a história recente e os acontecimentos na América latina tem mostrado, de que só a mobilização popular radicalizada pode fazer avançar a luta dos oprimidos.


6 | POLÍTICA E INTERNACIONAL

POLÍTICA DE SUBMISSÃO AOS EUA

EUA usam base de Alcântara para controlar tecnologia Trump parte para mais uma retaliação contra o Brasil, desta vez intervindo abertamente na Base Militar de Alcântara O imperialismo ianque agressor está novamente com sua artilharia dirigida contra o Brasil. Depois de sobretaxar dois dos mais importantes insumos nacionais, o aço e o metal, o presidente direitista Donald Trump investe mais uma vez contra a soberania nacional, dessa vez com ameaças ao Acordo de Salvaguardas Tecnológicas (AST) para uso da base de Alcântara, no Maranhão. Se a concessão, por parte do vendilhão governo Bolsonaro, para o uso da base militar já se colocou como um ato de total submissão e anti-soberania, contrário aos interesses estratégicos nacionais, a pressão que neste momento é exercida pelos EUA só pode ser entendida como uma verdadeira declaração de guerra ao país; um ato de recolonização, de total agressão e ataque à soberania nacional. O pretexto para mais este ato de pirataria internacional contra uma nação independente e soberana (formalmente ainda somos um país independente, por maior que seja a política de submissão e prostração do governo Bolsonaro aos EUA) é a indisposição dos norte-americanos para com os chineses, expresso atualmente na guerra comercial e tecnológica que os

dois gigantes da economia travam na arena mundial. Os ianques ameaçam o país caso o Brasil mantenha os chineses no leilão 5G, que está previsto para o segundo semestre de 2020. “Os americanos temem espionagem e alegam que não vão utilizar sua tecnologia espacial em um país no qual as redes de tecnologia da informação são controladas por seu rival comercial, a China” (sítio HUFFPOST, 04/12). Trump e os falcões da Casa Branca não viram com bons olhos a aproximação do governo brasileiro com os chineses, por ocasião do encontro dos BRICS, em meados de novembro. Washington não gostaria de ver um tradicional colaborador da política norte-americana (Brasil) se aproximando do seu principal inimigo comercial, a China, com quem trava uma luta de vida ou morte pelo controle e pela posse dos mercados, particularmente no terreno da tecnologia da informação, onde os chineses avançam, conquistando importantes mercados. O flanco aberto pelo capachismo do governo Bolsonaro nas relações do Brasil com o imperialismo ianque vem permitindo aos Estados Unidos agir como verdadeiros colonizadores con-

tra os interesses nacionais, de forma cada vez mais agressiva. Bolsonaro é a expressão mais acabada desta política de submissão e entrega do país ao imperialismo, materializada nas privatizações, no leilão dos ativos econômicos e na quebra da indústria nacional. A ameaça de retaliação ao país no episódio da base militar de Alcântara

– que o serviçal governo brasileiro entregou aos EUA – é a prova cabal da falácia que representa os golpistas que assaltaram o poder em 2016. Sob o manto de um discurso supostamente nacionalista, o que se vê é a mais completa sujeição aos interesses estrangeiros, particularmente aos ditames dos Estados Unidos da América.

FORA MACRON!

Franceses fazem greve geral contra a reforma da previdência de Macron Após um ano de grandes mobilizações na França, a população volta em grande peso as ruas com uma greve geral contra o governo Macron. Há um ano surgia na França uma gigantesca rebelião popular, encabeçada por aqueles chamados de “Coletes Amarelos”, levando os franceses a um grande confronto nacional contra Macron e a burguesia do país. Desde lá, a palavra de ordem Fora Macron mostrou-se repetidas vezes o verdadeiro desejo popular, que se radicaliza cada vez mais com o passar do tempo. Esta grande revolta durou por meses consecutivos em toda França e agora, quando muitos consideravam que a situação no país iria esfriar, estoura uma grande greve geral nesta quinta-feira, dia 5, marcada pela luta contra a reforma da previdência organizada por Macron e o próprio regime. Até agora, do que temos de notícias, já sabemos que esta greve foi capaz de parar praticamente tudo no país, afetando as escolas, hospitais, aeroportos, rodovias e trens. Ao ponto que cerca de 90% das viagens de trem foram canceladas, mais da metade das linhas de metro foram fechadas, além da maior parte dos voos cancelados e escolas fechadas. A presença de amplos setores da classe operária demonstra o caráter popular da revolta contra o governo, obrigando os aparelhos de repressão

franceses a usarem milhares de policiais só em Paris, com medo da passeata marcada para o final do dia. O governo Macron, alvo de tamanha revolta popular tenta cumprir seu programa neoliberal, aplicando uma reforma da previdência que busca au-

mentar o tempo de contribuição, hoje já na casa dos 62 anos, assim como diminuir o nível das pensões. Por todo o país as cidades estão tomadas de manifestantes, já são mais de 800 mil pessoas nas ruas em todas as regiões. Além disso, a greve nos

transportes públicos de Paris irá continuar paralisados até segunda-feira, dia nove. A tendência em transformar esta greve em uma por tempo indeterminado é muito evidente dentre os trabalhadores. Líderes sindicais já informaram que pretendem manter o movimento até ter suas reivindicações alcançadas e a Confederação Geral do Trabalho (CGT) endossa o chamado de todas às ruas contra os ataques de Macron, falando já em até mais de 1 milhão de manifestantes, nesta que vem sendo uma das maiores mobilizações francesas nos últimos anos. Acompanhando o clima de grande radicalização política por todo mundo, a exemplo dos países latino-americanos, a França, um dos mais importantes países do bloco imperialista vem vendo sua população em um nível de revolta gigantesco. Se no Brasil gritamos por Fora Bolsonaro, os franceses há tempos tem bem claro em suas mentes o mesmo desejo, por Fora Macron derrubar o regime neoliberal e travar uma dura luta contra os grandes capitalistas. O mundo está pegando fogo, por isso precisamos aproveitar o momento e sair as ruas pelo Fora Bolsonaro assim como os franceses fazem com o Fora Macron.


POLÊMICA | 7

POR – BOLÍVIA

Uma política ultra sectária e reacionária diante do golpe Partido fez coro com a direita, apoiando a derrubada do governo, traçando sinal de igual entre o fascismo golpista e a esquerda nacionalista conciliadora O Partido Operário Revolucionário (POR), da Bolívia, partido da extrema-esquerda, assumiu diante do golpe de Estado naquele País uma política totalmente estranha às concepções do marxismo e do trotskismo, dos quais o partido se considera defensor.

tores da esquerda de diversos países diante do golpe orquestrado pelo imperialismo. Uma policia semelhante, do ponto de vista concreto, à capitulação da esquerda comandada pelo MAS na Bolívia. Ataque à Venezuela

Apoio ao golpe Nas publicações do Partido, que teve como liderança histórica o trotskista Guilhermo Lora (1922-2009), desde antes do golpe de Estado o partido se lançou em uma campanha ultra-sectária contra o governo da esquerda nacionalista, presidido por Evo Morales, do MAS (Movimento Ao Socialismo), fazendo coro com a direita golpista que realizava uma aberta campanha golpista pela derrubada do governo que faz inúmeras concessões à direita pró-imperialista. Logo após a renuncia de Evo Morales o POR publicou declaração (em 16/11) e que evidenciou a total confusão política diante da situação política orquestrada pela direita, se alinhando com o imperialismo para atacar a esquerda nacionalista comandada por Evo Morales. Diante do golpe militar, o POR assinalou que “o contingente das massas, que durante 23 dias saíram às ruas e bloquearam parte do país, não abarcou a maioria oprimida”. E ainda “o POR foi obrigado a intervir no seio da rebelião contra o governo Evo”; deixando claro sua comunhão com as manifestações organizadas pela direita. Uma conduta muito semelhante à adotada no Brasil, pelo PSTU, diante da campanha golpista contra a presidenta Dilma Rousseff (PT), em 2016, quando o partido adotou a politica de “Fora Dilma, Fora Todos”. Mesmo diante da reação popular contra o golpe militar, que levou centenas de milhares de pessoas as ruas, o POR não reviu sua posição. Na edição 2612, do Jornal Masas (22/11/2019), por exemplo, o Partido ao mesmo

tempo que chamava “Não ao governo provisório de direita”, assinalando que o mesmo era “expressão da ultra direita racista do Comitê de Santa Cruz, guardião da burguesia agroindustrial”, lançava contra o MAS a acusação de serem “bandas assassinas mercenárias”, com o que não buscava estabelecer uma frente contra a direita, com as bases de milhões de trabalhadores que apoiaram o MAS contra a direita nas eleições e nos últimos anos de governo limitadamente nacionalista de Evo Morales. Para o POR, o MAS se constitui simplesmente em uma “nova direita desesperada por recuperar o poder recorrendo ao terrorismo” (acusação dirigida pela direita contra os setores do próprio MAS que não aceitaram a política de capitulação de Evo Morales diante do golpe de Estado). Bolivian Senator Jeanine Anez poses for a picture after she declared herself

as Interim President of Bolivia, at the Presidential Palace, in La Paz Ao invés de convocar a luta dos explorados, da imensa maioria do povo boliviano contra o golpe, o POR se limita à pregação ideológica de que “a opressão nacional somente poderá ser superada quando os operários, camponeses e classes médias empobrecidas das cidades instaurem seu próprio governo expulsando do poder a burguesia e o imperialismo”. Os argumentos apresentados pelo POR são simplesmente os mesmos apresentados pelo imperialismo que participou ativamente do golpe. O POR revela uma profunda miopia política e que não consegue intervir na situação de golpe e avanço da direita. Apresentou a palavra de ordem “NEM EVO, NEM MESA, NEM O FASCISTA CAMACHO!”, ou seja, nenhuma política baseada na luta contra os golpistas. É a mesma política capituladora de se-

Deixando claro o caráter profundamente conservador de sua política na etapa atual, o MASAS, na mesma edição de seu jornal, dedica espaço para atacar o governo nacionalista da Venezuela, quando esse sofre, junto com todo povo venezuelano, um intenso embargo e cerco imperialista, da maior potência econômica e militar do planeta, os EUA, com o apoio de todos os governos golpistas e direitistas da América Latina. O jornal cita as palavras-de-ordem da direita boliviana em suas manifestações contra a Venezuela: “Não! Não! Não! Não me dá vontade de viver em uma ditadura como a venezuelana”. Depois de chamar, de hipócritas os direitistas bolivianos, afirma que “na Venezuela, os ricos estão mais ricos do que nunca” e que a luta os explorados e oprimidos deve orientar-se contra o poder dos opressores e os governos impostores como Maduro ou Evo”. E repete a acusação imperialista e da direita latino americana de que a Venezuela é uma ditadura, afirmando que “no capitalismo mas ditaduras são invariavelmente contra os explorados, nunca contra os exploradores. Nem Maduro. Nem Evo atentaram contra os interesses fundamentais dos ricos”, conclui sem explicar a razão de seus governos serem alvos dos ataques da direita fascista e pró-imperialista. A tese constitui também uma declaração de adesão à democracia, contra os supostos governos ditatoriais, dos Estados operários, como a Rússia revolucionária de Lênin e Trotski ou o regime pós-revolução de Cuba, de Fidel Castro, entre outros, todos acusados de “ditaduras” pela imprensa capitalista.


8 | POLÊMICA

ENQUANTO O REGIME SE FECHA

PSOL quer debater com Weintraub O ministro golpista Abraham Weintraub, que comanda a pasta do MEC, foi convocado pelo PSOL para dar explicações sobre as calúnias direcionadas às universidades. Na última quarta-feira (4), o pedido do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para que o ministro golpista Abraham Weintraub fosse convocado para dar explicações na Câmara dos Deputados foi aprovado na Comissão de Educação da casa. O PSOL havia entrado com o pedido no dia 26 de novembro, exigindo que o comandante do Ministério da Educação (MEC) explicasse suas declarações relacionando as universidades públicas à produção de drogas ilícitas. Em entrevista publicada em novembro, Weintraub havia disparado uma série de ataques às universidades, que motivaram o pedido do PSOL. O ministro havia afirmado que as universidades eram “madrastas de doutrinação” e tinham “plantações extensivas de maconha” e “laboratórios de metanfetamina”. No pedido, o PSOL argumentou que seria “inconcebível e inaceitável que um Ministro de Estado se utilize do cargo para divulgar acusações infundadas”. Ao se dar conta da aprovação, o PSOL comemorou em suas redes sociais. Em sua página no Instagram, o partido publicou a seguinte mensagem: Pedido do PSOL para convocar na Câmara o ministro da Educação, Abraham Weintraub, foi aprovado por 24 votos favoráveis e 8 contrários na comissão. Os parlamentares bolsonaristas tentaram obstruir o debate por mais de 3 horas, mas foram derrotados. Vamos ao debate! Quem são os bolsonaristas? A mensagem do PSOL em comemoração à convocação de Weintraub alega que os bolsonaristas foram derrotados – isto é, que a votação que decidiu

a convocação seria uma disputa entre bolsonaristas e não bolsonaristas. Nada poderia ser mais falso! Aqueles que se colocaram contra foram 8 deputados, sendo 4 do PSL, 2 do PP, 1 do PSD e 1 do Podemos. Os favoráveis, por outro lado, foram 24, sendo 8 do PT, 1 do PL, 5 do PSB, 1 do Podemos. 1 do DEM, 1 do PROS, 1 do Cidadania (antigo PHS), 2 do PDT, 1 do PCdoB, 1 do SD, 1 do PSOL e 1 do Novo. Analisando o mapa da votação, fica claro, portanto, que a disputa que ocorreu entre a Comissão de Educação foi entre o PSL/PP e o centrão unido à esquerda. O centrão, no entanto, é tão bolsonarista quanto o PSL e o PP: partidos como o Podemos e o Cidadania apoiaram a candidatura de Jair Bolsonaro e dão sustentação ao governo para que a burguesia consiga aplicar o programa neoliberal no país. Além disso, partidos como o NOVO e o DEM, que também seguiram a proposta do PSOL, são escancaradamente de extrema-direita, tendo em suas fileiras fascistas como Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Romeu Zema (NOVO-MG). Muito diferentemente do que o PSOL procura mostrar, a mera convocação de Weintraub à Comissão de Educação à Câmara dos Deputados não foi o resultado de um duelo épico entre os bolsonaristas e a esquerda, mas sim o resultado de um acordo feito com o próprio regime político. Se o DEM, o NOVO e o Podemos – que se dividiu na votação – não viram qualquer problema em seguir a proposta do PSOL, então enviar Weintraub para a Câmara dos Deputados não consiste em nenhum grande avanço para a luta dos trabalhadores. A política de enquadrar os partidos da burguesia como partidos contrários

ao bolsonarismo, por outro lado, revela a confusão que o PSOL apresenta diante da situação política. Asim como no Equador e no Chile, o Brasil está sendo vítima de uma ofensiva brutal da burguesia, que quer, a todo custo, implantar uma política de devastação completa contra o povo. Por isso, a tarefa da esquerda neste momento deve ser a de organizar a luta dos trabalhadores contra os golpistas – é preciso, portanto, seguir o exemplo do povo chileno, que está há mais de 40 dias nas ruas exigindo a dissolução do regime. Partidos como o Podemos, o DEM e o NOVO não são, portanto, aliados da esquerda nesta luta, uma vez que representam a burguesia e, portanto, serão os últimos a se voltarem contra o regime. Até mesmo partidos como o PSB e o PDT, por outro lado, embora procurem fazer alguma demagogia com a esquerda, são organizações que não buscam o rompimento com o regime. Prova disso é que, sempre que a direita pressiona para alcançar seus objetivos, esses partidos acabam capitulando e se alinhando aos interesses da burguesia, como aconteceu na votação da base de Alcântara e em tantos outros casos. Vitória do diálogo? O fato de que o PSOL se alia a setores como o DEM para travar a luta política já é, em si, uma aberração. No entanto, o que a publicação do PSOL revela é que o partido estaria interessado em debater até mesmo com o governo Bolsonaro! Ou seja, todo o esforço para trazer o ministro golpista Abraham Weintraub para a Câmara dos Deputados, que incluiu alianças com todo tipo de agremiação, não foi

feito para que o PSOL denunciasse a ação criminosa dos golpistas, mas sim para debater com um picareta que foi colocado no MEC para acabar com a educação pública… Esse tipo de política, que é, na melhor das hipóteses, uma política de diálogo com a extrema-direita – quando não, uma política de escancarada colaboração – é inevitavelmente desastrosa para a esquerda e a população em geral. A política do diálogo já havia sido formulada de maneira mais detalhada pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), quando, ao participar de uma entrevista ao lado da fascista Janaína Paschoal (PSL-RJ), afirmou que era preciso acabar com a polarização política e promover o diálogo entre todos os setores da sociedade. Não faz sentido algum se propor a dialogar com quem não quer nenhum tipo de diálogo. A burguesia golpista – essa composta pelo Podemos, DEM, Solidariedade e outros – não quis diálogo algum quando estava decidida em derrubar o governo de Dilma Rousseff. Eleita por mais de 54 milhões de votos, Dilma Rousseff não teve nenhum crime comprovado contra si e foi deposta por meio de uma operação escancarada golpista, suja, inconstitucional. A direita, no entanto, não quis dialogar – nenhum argumento foi capaz de barrar a ofensiva que estava sendo promovida pelo imperialismo. Se assim é com os setores mais tradicionais da burguesia, que tentam se passar por democráticos, é óbvio que não há possibilidade de diálogo com a extrema-direita. O próprio Jair Bolsonaro já declarou que era preciso erradicar o socialismo do país e que seria preciso matar dezenas de milhares de pessoas. Para que vencesse as eleições de 2018, a extrema-direita organizou uma fraude que foi complementada com o terror nas ruas. Quem distribuísse um panfleto ou saísse de vermelho, corria o risco de ser agredido ou mesmo morto.


POLÊMICA | 9

CONFUSÃO DA ESQUERDA

Paraisópolis: PCdoB quer “punir” PMs e manter corporação assassina PCdoB toma posição bolsonarista exigindo ‘punição exemplar’ e que o fascista João Doria tome as medidas necessárias para punir PMs que realizaram o massacre em Paraisópolis Uma matéria publicada no sítio do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) na internet, Portal Vermelho, no dia 03 de dezembro sobre o massacre realizado pela Polícia Militar paulista contra jovens na favela de Paraisopolis revela a confusão política de grande parte da esquerda. A matéria divulga uma nota da Comissão Executiva do PCdoB São Paulo e de deputados do partido exigindo a punição dos policiais envolvidos e que o governador fascista João Doria precisa agir. A nota do PCdoB São Paulo “exige uma apuração independente e rápida do massacre de Paraisópolis, com as devidas punições aos responsáveis.” O deputado estadual Orlando Silva afirma que “o governo de São Paulo precisa agir com rigor e punir exemplarmente os agentes que cometeram o crime” e a deputada Leci Brandão diz que “temos o dever de exigir dos órgãos competentes uma apuração séria, rápida e eficiente, que dê conta de tudo o que aconteceu e puna os verdadeiros culpados com rigor”. Pode até parecer num primeiro momento para uma pessoa ingênua que seria uma posição combativa, mas é uma posição bolsonarista apresentada pela esquerda que apenas serve para dissimular o que ocorreu e vamos tentar explicar nessa polêmica. A direita defende a punição exemplar A defesa da punição exemplar não é uma posição defendida pela esquerda, principalmente dentro das instituições controladas pela extrema direita, como a Polícia Militar. A direita e os bolsonaristas acreditam que a criminalidade se resolve com punições extremas e exemplares, por isso a justificativa de prisões, penas elevadíssimas e violência para servir de exemplo para outras pessoas, e possivelmente inibir novos acontecimentos. Um método muito usado pelos poderosos ao longo da História para oprimir os explorados. Não é a toa que a direita se unifica em torno de aprovação de projetos que aumentam penalidades, fortalecimento dos órgãos de repressão e utiliza dessa demagogia nas eleições. Usam todo esse aparato estatal para ser utilizado contra as camadas mais pobres da população. Mas todos sabemos, e a situação atual revela isso, que punições severas não resolvem o problema e ainda causam o agravamento dos problemas

sociais. Devem ser levados em consideração para que não haja nenhum tipo fortalecimento das instituições que são verdadeiros grupos de extermínio, neste caso a Polícia Militar. A defesa da punição exemplar dos PMs é uma posição moral, método utilizado por Bolsonaro O PCdoB toma a mesma posição da direita bolsonarista e, assim, dissimula que o problema com a polícia militar não está em alguns casos isolados de poucos policiais e sim de uma instituição criada para matar e reprimir os trabalhadores. Punições exemplares não vão barrar os assassinatos cometidos pela PM. É preciso acabar com a PM Caso haja punições aos policiais militares que massacraram os jovens em Paraisópolis não vai resolver absolutamente nada. As punições são brandas e, na maioria dos casos, somente serve para limpar a barra da polícia dizendo que há uma banda podre que deve ser combatida, mas toda a instituição da policial pode ser considerada essa banda podre. A Polícia Militar é uma instituição criada para reprimir a população pobre e trabalhadora. Desde a sua criação serviu e treina seus policiais para atuar de maneira violenta nos bairros

operários e favelas. Em 2017, o tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, então nomeado comandante da Rota, concedeu uma entrevista onde diz que os PMs que atuam na região nobre e na periferia de São Paulo adotam formas diferentes de abordar e falar com moradores. “É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade.” Essa afirmação revela como funciona a polícia militar e o tratamento diferenciado que é dado a população que vive na periferia. A PM brasileira é, historicamente, inimiga da população. A descrição das estrelas no brasão da PM de São Paulo basta para ilustrar o fato. A explicação vem do portal da Internet da própria PM onde as estrelas do Brasão da PM representam o esmagamento de alguma revolta popular ou por direitos, por exemplo a aniquilação de Canudos e a repressão a revolta do Marinheiro João Cândido. Ou seja, a própria Polícia Militar nem tenta esconder seus verdadeiros objetivos: esmagar a população e suas revoltas. A única posição que a esquerda pode defender é a da extinção da Polícia Militar.

Pedir para que o governado fascista João Doria e os comandantes da PM punam os policiais que realizaram o massacre está totalmente fora de questão. Esses são os verdadeiros mandantes do que ocorreu em Paraisópolis e que ocorre de maneira corriqueira nas favelas do país e vão julgar como o caso? É certo que vão arrumar uns laranjas dentro da PM que sofrerão punições leves ou nem serão punidos, como ocorreu com os PMs que massacraram os presos no Massacre do Carandiru. E assim, “limpar” a barra da instituição sem que haja uma mudança em toda a estrutura de repressão. É uma política de “reciclar” a PM para ela dar continuidade nas ações de extermínio nas periferias. João Doria, Jair Bolsonaro e outros fascistas que estão no poder são os verdadeiros responsáveis por esses crimes e apoiam abertamente esse tipo de ação da Polícia Militar. A esquerda não deve pedir punições exemplares ou mais repressão. Deve ser colocado às claras para a população a necessidade de acabar com todo esse aparato repressivo e de assassinato que é a PM em todos os estados do Brasil e que não está aí para proteger ninguém e muito menos combater a criminalidade, mas para atuar contra os trabalhadores e proteger a burguesia e seus privilégios.



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