Diário Causa Operária nº5824

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TERÇA-FEIRA, 12 DE NOVEMBRO DE 2019 • EDIÇÃO Nº5824

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Depois do golpe na Bolívia, direita organiza “eleições” só com direita

O

golpe de Estado na Bolívia continua. Domingo (10), os militares saíram das sombras e revelaram seu papel decisivo nas conspirações contra o povo boliviano. Depois de Evo Morales capitular convocando novas eleições, o chefe das Forças Armadas bolivianas, Williams Kaliman, fez um pronunciamento público pedindo ao presidente que renunciasse.

Só a reação popular nas ruas pode barrar o golpe militar na Bolívia Domingo (10) aconteceu mais um golpe de estado na América do Sul. Dessa vez as vítimas foram os bolivianos. Evo Morales anunciou sua renúncia depois de o chefe das Forças Armadas, general Williams Kaliman, fazer um pronunciamento exigindo sua renúncia. Ou seja, Evo Morales renunciou obrigado pelos militares, sob uma ameaça de golpe armado.

Lula livre não é mérito do STF A LUTA

Venha discutir

Em sua nova coluna na Folha de S. Paulo, intitulada Justiça, o petista Fernando Haddad, que concorreu às eleições presidenciais fraudadas em 2018, relacionou a liberdade de Lula com uma suposta mudança de posição por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Unindo-se a uma série de ideólogos da esquerda pequeno-burguesa, Haddad creditou a soltura de Lula ao esforço dos ministros do STF.

Grupo da esquerda pequeno-burguesa chama golpe militar de insurreição

DO

POVO NEGRO

Reunião do Coletivo de Negros João Cândido Todos os sábados às 16h Maiores informações entre em contato com os coordenadores Juliano Lopes (11) 95456-9764 Izadora Dias (11) 95208-8335

“Evitar um banho de sangue”: as desculpas de sempre para capitular As Forças Armadas da Bolívia, atendendo aos interesses do imperialismo, colocou abaixo toda a estrutura do governo Morales no último domingo (10).

Parlamentares golpistas querem fazer lei para prender Lula A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal está em vias de aprovar Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que visa reverter o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) e retomar a prisão após a condenação em segunda instância.

Caravanas de Lula começam pelo Recife e devem pressionar a direita O povo brasileiro conquistou uma vitória parcial na luta contra o golpe quando Lula, maior figura popular brasileira, foi solto de seu estado de cárcere em Curitiba.


2 | OPINIÃO EDITORIAL

COLUNA

Só a reação popular nas ruas pode barrar o golpe militar na Bolívia Domingo (10) aconteceu mais um golpe de estado na América do Sul. Dessa vez as vítimas foram os bolivianos. Evo Morales anunciou sua renúncia depois de o chefe das Forças Armadas, general Williams Kaliman, fazer um pronunciamento exigindo sua renúncia. Ou seja, Evo Morales renunciou obrigado pelos militares, sob uma ameaça de golpe armado. Mais cedo no mesmo dia, Evo Morales chegou a convocar novas eleições, em uma tentativa de aplacar a sanha golpista da direita. A medida, porém, foi logo reconhecida como uma fraqueza e levou a direita a seguir adiante, exigindo a renúncia. Com a renúncia de Evo Morales, foi consumado o golpe iniciado dia 20 de outubro, logo depois das eleições. Em sua própria renúncia, Evo Morales fez um apelo à direita golpista para que encerrasse com a violência. Novamente, porém, essa última capitulação do governo também serviu para estimular a direita, que continuou seus atos violentos e chegou a mandar grupos armados para El Alto, reduto de apoiadores de Evo Morales em volta da capital La Paz. Denúncias e vídeos circulam na Internet mostrando vítimas fatais da violência da direita golpista. A violência foi usada durante o golpe, com ataques a parentes de autoridades, inclusive a irmã de Evo Morales, que teve a casa invadida e incendiada, e continua sendo usada sistematicamente contra a população pobre e trabalhadora, que em grande medida apoia o governo eleito e derrubado.

O uso da violência e o alvo desses ataques denunciam o caráter fascista do golpe que está em curso na Bolívia, com ataques a organizações populares, aos indígenas e ao maior partido de esquerda do país. Por isso, caso o golpe triunfe de uma vez por todas, e a direita consiga colocar o regime político sobre novas bases e estabilizar a situação, muita repressão virá contra os trabalhadores e suas organizações. No entanto, a situação ainda não se definiu. Apesar das sucessivas capitulações de Evo Morales, os setores populares que o apoiam continuam se mobilizando. Em El Alto o povo está organizando para resistir, camponeses de diversas regiões do país estão se dirigindo à capital e uma planta de gás da estatal YPVF a 160Km de Santa Cruz. Em toda a Bolívia ações desse tipo estão sendo tomadas, enquanto a direita golpista tenta organizar a sucessão do poder. Essas ações da população organizada para lutar contra a direita são a única forma de derrotar a direita golpista e o imperialismo. As tentativas de Evo Morales de conciliar com a direita até o último instante mostraram seu fracasso de forma muito contundente. A população, contudo, não pode ficar assistindo ao seu próprio massacre e está procurando reagir. Evo Morales poderia ter mobilizado seus apoiadores enquanto o golpe se desenrolava, mas preferiu buscar um acordo. Mas seus apoiadores estão ultrapassando essa política e tentando opor uma resistência ao golpe. Essa é a única chance real de derrotar o golpe de Estado na Bolívia.

“Vocês” Por Victor Assis

"Novamente, a advogada se dirige aos representantes do tribunal como ‘vocês‘! Há de se observar a liturgia!" O espanto do ministro Marco Aurélio de Mello em ser chamado, junto com seus colegas, de vocês, chega a ser ridículo para qualquer um que ainda esteja vivo em 2019. O caso aconteceu em uma sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) em que se discutia a cobrança de contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade. No meio de sua fala, a advogada Daniela Andrade de Lima Borges, que representava o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi interrompida por Marco Aurélio, simplesmente porque chamou os pomposos ministros da corte de vocês. Marco Aurélio de Mello sempre foi o ministro aparentemente mais mansinho do STF. Com voz rouca e com um histórico que inclui a defesa de alguns direitos democráticos, Marco Aurélio carrega a imagem do frágil e bom velhinho da Suprema Corte. Mas Daniela Andrade conseguiu, talvez por meio de um tropeção, sem o devido intuito, derrubar a carapuça do magistrado. Deve ser difícil, de fato, para quem está acostumado a ir todos os dias (sic) para a Praça dos Três Poderes, ficar brincando de guardião da Constituição, de repente ser confrontado com uma palavra tão ofensiva: vocês! Ofensiva, e, o que seria muito mais grave, anti-ética, contrária à liturgia, anti-protocolar – por pouco, na verdade, anti-constitucional! Sorte de Daniela Andrade que ainda não havia chegado o dia de Marco Aurélio de Mello, em conjunto com o seus pavões amigos, brincar de incluir o tipo penal de vocezamento… A incredulidade do ministro porque foi chamado de você revela muito do que tem acontecido no Brasil nos últimos anos. O presidente da República é um psicopata de extrema-direita que falou que vai acabar com o socialismo e matar 30 mil se for necessário, o Congresso Nacional aprovou o roubo da aposentadoria de dezenas de milhões de trabalhadores brasileiros, a Polícia Militar está matando mais do que nunca, a primeira mulher eleita presidenta da República foi destituída sem ter um único crime comprovado contra si, o maior líder popular do país foi condenado em duas instâncias por pura convicção… “Há de se observar a liturgia”, como nos ensinaria o sábio Marco Aurélio de Mello. Mas e as violações diárias da burguesia sobre os direitos dos trabalhadores? E as ameaças constantes dos militares de tomar o poder? Por falar nisso, vai aí uma pergunta: o general “assessor” de Dias Toffoli o chama de Vossa Excelência? Um país em que cada volta de um ponteiro marca mais um passo pa-

ra uma ditadura não pode ter tempo a perder com vossas excelências, meritíssimos ou seja lá o que! Trata-se, justamente, de uma luta entre nós e vocês. Vocês, escória imunda que organizaram o golpe de Estado de 2016! Vocês, vigaristas que sequestraram e torturaram o maior líder popular do nosso país por 580 dias! Vocês, assassinos que puseram o povo boliviano nas mãos dos militares novamente! No dia 8 de outubro, o ex-presidente Lula finalmente deixou as masmorras da Polícia Federal, em Curitiba. A soltura do ex-presidente foi uma importante vitória parcial da mobilização popular, que encurralou a burguesia em meio à profunda crise do regime político. Em meio à loucura, com a qual somos forçados a conviver, da esquerda pequeno-burguesa, houve quem dissesse que Lula tinha sido solto pela iniciativa democrática do STF! Nada poderia estar mais errado… Marco Aurélio Mello, Rosa Weber, Gilmar Mendes – em resumo, vocês – não realizaram nenhum gesto de bravura ao proibir a execução de pena antes do esgotamento de todos os recursos. Vocês foram, na verdade, peças fundamentais de um necessário acordo feito dentro do bloco golpista, a fim de garantir que políticos do chamado “centrão” fossem libertados e de que uma explosão social no Brasil fosse evitada – ou melhor, adiada. Não é à toa que as Forças Armadas nada falaram sobre a soltura do ex-presidente Lula, nem mesmo o fascista Jair Bolsonaro. Vocês não enfrentaram ninguém para libertar Lula, só cumpriram o papel para o qual o regime político lhes reservou. Vocês, capitalistas e seus capachos, que se movem a partir do interesse em preservar aquilo que tem seus dias contados, não vão pensando que vão durar para sempre. Em todo o mundo, os trabalhadores vão se levantar, não para cumprir uma profecia, mas para levar a humanidade à única saída possível para romper com sua estagnação e decadência. Trabalhadores da América Latina e de todo o mundo, uni-vos! A queda do governo Morales nos apresenta mais uma vez a lição de que não dá para confiar, jamais, nas instituições – isto é, nos vocês. É hora de expulsar os parasitas que querem saquear todas as nossas riquezas. É preciso sair às ruas e derrotar, na marra, a política dos banqueiros. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Não ao golpe militar na Bolívia! Em tempo: o ministro Marco Aurélio de Mello pediu vistas no processo sobre a cobrança de contribuição previdenciária sobre o salário-maternidade, que já está sendo discutida há mais de 10 anos no STF…


INTERNACIONAL | 3

“PERSONALIDADES PROBAS”

Depois do golpe na Bolívia, direita organiza “eleições” só com direita Direita persegue Evo Morales e seus ministros, derruba um governo eleito há menos de um mês, e agora aparece dizendo que realizará “eleições” O golpe de Estado na Bolívia continua. Domingo (10), os militares saíram das sombras e revelaram seu papel decisivo nas conspirações contra o povo boliviano. Depois de Evo Morales capitular convocando novas eleições, o chefe das Forças Armadas bolivianas, Williams Kaliman, fez um pronunciamento público pedindo ao presidente que renunciasse. O presidente, que ainda tinha mandato até 20 de janeiro e havia sido reeleito menos de um mês atrás, em 20 de outubro, renunciou. Renunciaram também o vice-presidente, García Linera, e a presidente do Senado, Adriana Salvatierra, que assumiria a presidência com a renúncia de Evo e seu vice. Jeanine Añez assume a presidência Nesse quadro de vazio de poder, a direita golpista, que forçou todas essas renúncias com violência e ameaças, como no caso da casa da irmã de Evo Morales, saqueada e incendiada, começa a inventar uma solução com ares de legitimidade institucional para concluir o golpe. Na segunda-feira (11), a segunda vice-presidente do Senado, Jeanine Añez, foi até o Senado, em La Paz, para assumir a presidência da casa. A golpista afirmou que as cartas de renúncia serão analisadas em sessão

na terça-feira (12), e que em seguida serão convocadas novas eleições. Eleições com “personalidades probas” No entanto, Añez já deu a dica de que as eleições não serão de fato eleições, em que o povo escolhe entre os candidatos que quiser. As eleições terão os candidatos que a direita golpista permitir. “Vamos chamar eleições com personalidades probas”, disse a senadora ao falar com a imprensa. Obviamente, quem vai decidir sobre a “probidade” dos candidatos serão os setores que derrubaram Evo Morales, eleito com quase metade dos votos do país há menos de um mês. Camacho quer prender Evo Morales Evo Morales, por exemplo, não poderia participar. Durante a segunda-feira o presidente derrubado chegou a dizer que um policial com uma ordem de prisão ilegal foi buscá-lo onde ele estava. Posteriormente, o comandante da polícia boliviana, Yuri Calderón, negou que houvesse tal pedido. Horas depois, o mesmo Calderón renunciou ao cargo, a pedido do Exército. Ainda no domingo, o líder do Comitê Cívico de Santa Cruz, Luis Fernando Ca-

macho, principal figura publicamente a frente do golpe desde as eleições no dia 20, disse que entraria com processos contra Evo Morales, seu vice-presidente e todos os ministros e governadores ligados ao governo. Ou seja, dando um aviso de que a perseguição política dos golpistas contra o governo anterior e seus apoiadores será implacável. Eleições só com a direita Portanto, fica claro o que são as eleições com “personalidade pro-

bas” a que se refere Añez. A direita golpista, depois de derrubar um governo recém eleito, vai perseguir seus adversários e realizar uma votação absolutamente farsesca para tentar legitimar o próximo governo e estabilizar a situação política, que despencou para uma crise completa com a campanha para derrubar Evo Morales. Apesar das capitulações seguidas do governo de Evo Morales, ainda há mobilização contra o golpe na Bolívia, e a situação ainda não está definida a favor dos golpistas.

NÃO A PRISÃO DE EVO!

Golpistas querem prender Evo pela violência que eles mesmos provocaram Golpistas anunciaram que pretendem prender Evo Morales, após uma série de ataques que busca destruir todas as organizações populares. Fora Imperialismo da América Latina! O golpe militar na Bolívia vem avançando contra a população, suas organizações políticas e seus líderes sociais. Após assumirem o poder, os militares golpistas decidiram por prender os principais nomes do TSE boliviano, além de declarar guerra contra a esquerda e anunciar a prisão de Evo Morales. Em sua conta oficial no Twitter, Morales prontamente denunciou a armação, acusando os golpistas de estarem tentando orquestrar uma prisão política após terem incendiado a casa de sua irmã e atacado inúmeros líderes. Junto a esta denuncia, o líder dos golpistas, Luís Camacho, anunciou também via Twitter que de fato existiria uma ordem de prisão contra o então presidente do povo boliviano, e que tanto ele quanto seu avião presidencial seriam apreendidos pelas forças armadas, concretizando o golpe de estado e esmagando a maior liderança popular do país, vítima do golpe. Evo Morales decidiu manter-se em território boliviano, e convocou o povo a lutar contra os golpistas, após não conseguir se manter no poder com a intensa pressão do imperialismo. Os bolivianos responderam ao chama-

do, e saíram em peso, sobretudo nas áreas mais populares, em favor de Evo e contra o golpe. Nas ruas, a população radicalizada falava até mesmo em guerra ci-

vil contra os golpistas, atacando os postos polícias e partindo para cima dos órgãos de repressão do estado burguês. Militares, policiais, empresários e o imperialismo estão no alvo

da fúria popular que tomou conta do país. No entanto, temendo o desenvolvimento dessa situação e a revolta contra o golpe, os golpistas buscam, além de tentar prender Evo Morales, propagandear por meio da imprensa burguesa imperialista que na verdade, os responsáveis pela onda de brutalidades contra a população após o golpe de estado não seriam de responsabilidade dos militares, e sim, de Evo Morales, justamente a maior vítima deste processo. O caráter cínico dos golpistas é visto tanto dentro quanto fora da Bolívia. No Brasil, a direita que já deu um golpe aqui, agora patrocina da forma mais calhorda e vergonhosa possível os crimes cometidos pelo imperialismo em nosso país vizinho. Esta burguesia, escória da população, jamais representou o povo, servindo apenas a mando dos interesses escusos do imperialismo. O povo boliviano necessita se levantar, e assim como foi feito na Venezuela, derrubar os golpistas na marra e garantir o governo popular. Fora Imperialismo da América Latina!


4 | INTERNACIONAL

FORA IMPERIALISMO!

Após ameaças, Evo Morales deixa a Bolívia rumo ao México Após uma série de ataques da direita fundamentalista religiosa, com apoio do governo bolsonarista, Evo sai às pressas da Bolívia, que foi tomada por um golpe militar Após ter seu pedido de asilo concedido pelo governo mexicano de López Obrador, Evo Morales acaba de anunciar que está deixando a Bolívia rumo ao México, ele deve partir nesta segunda-feira (11) de Cochabamba por volta das 23h no horário de Brasília. Esse pedido de asilo se deu após a direita golpista boliviana, financiada pelo imperialismo, questionar a autenticidade das eleições presidenciais, onde Morales venceu com mais de 10% de diferença do candidato da direita fundamentalista religiosa, Luis Carlos Camacho. Em um tweet publicado há pouco, Evo se despede do povo boliviano e lamenta ter que sair do país por motivos

políticos. Momentos antes, as Forças Armadas da Bolívia foram enviadas às ruas de todas as cidades, juntamente com a polícia, a fim de recrudescer a violência contra o povo boliviano, que tem saído às ruas para mostrar que estão ao lado de Evo. Essa foi a cartada final para concretizar um genuíno golpe militar. O único caminho possível é o enfrentamento nas ruas contra esse golpe militar, contra o imperialismo que financia esse tipo de golpe na América Latina, a fim de expandir o controle da riqueza desses países e fazer deles verdadeiras colônias de exploração. Fora imperialismo da América Latina!

GOLPE MILITAR

“Evitar um banho de sangue”: as desculpas de sempre para capitular Evo Morales, pressionado pelas Forças Armadas, renunciou à presidência do Estado Plurinacional da Bolívia sob a justificativa de evitar um derramamento de sangue. As Forças Armadas da Bolívia, atendendo aos interesses do imperialismo, colocou abaixo toda a estrutura do governo Morales no último domingo (10). Em conjunto com uma série de atentados orquestrados pela extrema-direita, incluindo o incêndio e invasão de casas de lideranças da esquerda boliviana, as Forças Armadas exigiram a renúncia de Evo Morales ao cargo de presidente da Bolívia. Morales, pressionado, renunciou, sendo acompanhado pelo vice-presidente, pelo presidente da Câmara dos Deputados, pelo presidente do Senado e por outros ministros e parlamentares. Mesmo que tenha partido do próprio Evo Morales e de seus colegas de governo o abandono de seus cargos, o que houve na Bolívia foi, indubitavelmente, um golpe militar. Evo Morales estava cumprindo seu terceiro mandato, conquistado por meio de eleições democráticas, e deveria assumir o quarto mandato, para o qual foi eleito no dia 20 de outubro do ano corrente, se não tivesse sido chantageado pelos golpistas. Mesmo sem pôr os tanques na rua, nem – por enquanto – prender Morales, as Forças Armadas o forçaram a abrir mão do poder. A pressão da direita golpista, no entanto, por mais que violenta e apoiada por um gigantesco aparato internacional, não deve ser respondida pela capitulação da esquerda. A direita é, sim, poderosa, mas teme uma força ainda mais poderosa: a disposição implacável das massas, que, quando conscientes de quem são seus inimigos, são capazes de se mobilizar e enfrentar o mais poderoso dos exércitos da burguesia. Desde que o imperialismo havia deixado claro sua intenção em destituir Evo Morales do governo, em especial,

após a sua última reeleição, em nenhum momento, o líder boliviano optou pelo caminho do enfrentamento. Morales sempre procurou um acordo junto aos golpistas e, quando viu que o acordo era inviável, ao invés de mobilizar a suas bases, que estão sedentas para se ver livres dos parasitas da burguesia, optou por capitular, por se render às exigências da direita. A renúncia de Evo Morales foi marcada por uma sequência de capitulações. Morales concedeu que a Organização dos Estados Americanos (OEA), que é uma instituição criada para que que o imperialismo norte-americano intervenha diretamente nos países latino-americanos, analisasse as eleições de 2019, que havia sido colocada sob suspeita de fraude pela direita boliviana. Na manhã do domingo (10), a OEA declarou que houve fraude nas eleições, sendo seguida de um pronunciamento do presidente boliviano convocando novas eleições para o mandato que teria início em 2020. Mais tarde, ainda mais pressionado pela direita, Evo Morales decidiu abandonar o cargo que conquistou por meio da luta dos bolivianos contra a direita. A justificativa dada por Evo Morales para renunciar foi a de que estaria, assim, evitando um derramamento de sangue. Esse, contudo, não passa de um argumento tradicional de lideranças ligadas ao nacionalismo burguês para capitular diante da pressão golpista por parte da burguesia. Foi essa desculpa, por exemplo, que deu o então presidente João Goulart (Jango), que renunciou ao cago de presidente da República sob pressão da direita em 1964, concretizando o golpe militar que levou a uma sangrenta ditadura. O problema de renunciar para evitar um derramamento de sangue é que

a renúncia não garante paz alguma. Muito pelo contrário, se a burguesia não encontra força alguma que lhe oponha, a direita vai, inevitavelmente, procurar atacar às condições de vida dos trabalhadores da maneira mais profunda possível. A direita, ainda mais após a crise de 2008, está disposta a ir até as últimas consequências para saquear as riquezas de todo o mundo, o que causará inúmeras mortes e uma sabotagem permanente a todos os povos. A renúncia para alcançar a paz social, portanto, não é uma saída real para a esquerda. O derramamento de sangue é, de certa maneira, inevitável,

pois a burguesia terá de matar muita gente para conseguir roubar tudo o que está disposta a roubar. Se não for combatida, a direita irá estabelecer ditaduras em todo o mundo – sendo que todas as ditaduras promovidas pela direita foram responsáveis por verdadeiros banhos de sangue. No entanto, se os trabalhadores enfrentarem a direita, reagindo à altura, utilizando todos os meios possíveis, é possível impedir que os sanguessugas da direita golpista e serviçais do imperialismo tranformem a América Latina, e no caso a Bolívia, se tornem colônias dos EUA. Não ao golpe militar na Bolívia! Fora imperialismo da América Latina!


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GOLPE IMPERIALISTA

Áudios revelam participação dos EUA no golpe militar na Bolívia Governo dos EUA financiou o golpe e a desestabilização em meio às eleições vencidas por Evo Morales Um conjunto de 16 áudios revelados no início de outubro e que podem ser encontrados no portal Behind Back Doors mostra uma parte da participação dos Estados Unidos no golpe militar na Bolívia, que derrubou ontem (10) o presidente eleito Evo Morales. Os áudios mostram conversas nas quais estão presentes, dentre outros, um ex-presidente boliviano e o ex-governador de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, opositor de Morales que vive atualmente nos EUA. Um desses áudios faz referência a uma ativista chamada Miriam Pereira, que informa que o deputado opositor Juan Flores (presidente do Comitê Cívico de Cochabamba) viajou aos EUA junto com outros direitistas para se reunirem com Carlos Sánchez Barzain, que foi ministro do ex-presidente neoliberal Gonzalo Sánchez de Lozada. A viagem tinha como objetivo arrecadar meio milhão de dólares para gastos em mobilização contra o governo no âmbito das eleições que ocorreram em 20 de outubro. De acordo com o portal, grande parte do financiamento já estava na Bolívia no início de outubro, graças ao apoio de embaixadas de governos di-

reitistas e da Igreja Evangélica, que seria utilizada pelo governo norte-americano como uma fachada para encobrir sua participação direta no golpe. Ainda conforme a averiguação do Behind Back Doors, diplomatas norte-americanos na Bolívia, como Mariane Scott e Rolf A. Olson, se encontraram com altos diplomatas de Brasil, Argentina e Paraguai para organizarem e planejarem ações de desestabilização contra o governo boliviano, assim como para repassar o financiamento para a oposição. As estimativas do próprio governo dos EUA eram de que Morales venceria as eleições no primeiro turno, por isso a embaixada norte-americana criou as condições para a proclamação de uma fraude eleitoral, disseminando essa acusação para outros setores diplomáticos na Bolívia. Assim, Mariane Scott convenceu os governos de Brasil, Argentina, Paraguai, Colômbia, Equador, Chile, Espanha e Grã-Bretanha a denunciarem a “fraude”. Mas a fraude foi da própria direita. Em julho, os opositores “cívicos” se reuniram e concordaram em adquirir “máquinas para a contagem rápida de votos” para manipular o resultado das

eleições de outubro, cujo custo total seria de 300 mil dólares. A embaixada dos EUA e a representação da União Europeia contribuiriam com mais de 800 mil dólares através da Fundação Jubileo e da Igreja Evangélica. O dinheiro também foi gasto no pagamento dos funcionários que contariam os votos. Também seriam recrutados jovens de extrema-direita para, após a contagem e antes do resultado final, começarem a onda de violência. O portal ainda adianta (a primeira matéria é de 8 de outubro) que o fas-

cista Luis Fernando Camacho, presidente do Comitê Cívico de Santa Cruz e principal líder do golpe, recebe total assessoria de Rolf A. Olson, funcionário da embaixada dos EUA, e que um dos candidatos derrotados por Evo Morales, Oscar Ortiz, recebeu treinamento secreto do governo norte-americano. Além disso, toda a desestabilização causada após a eleição de 20 de outubro – locautes, campanhas de propaganda enganosa na imprensa, violência etc – foi dirigida e financiada pela embaixada dos Estados Unidos na Bolívia.

ABAIXO O GOLPE MILITAR!

Ato em apoio ao povo boliviano é realizado na Embaixada da Bolívia Mais de 100 militantes de organizações de esquerda prestaram solidariedade e apoio ao povo boliviano na tarde de ontem em Brasília Foi realizado na tarde de ontem (11) um ato suprapartidário em apoio ao povo boliviano, na Embaixada da Bolívia, em Brasília. Participaram mais de 100 ativistas das mais diversas organizações, como o Partido da Causa Operária (PCO), PT, PCdoB, PSOL, Unidade Popular, Levante Popular, União Nacional dos Estudantes (UNE) etc. Houve falas dos representantes dessas organizações, sempre condenando o golpe militar realizado no último domingo (10), que obrigou à renúncia do presidente legítimo Evo Morales, e o papel do imperialismo nos golpes e desestabilizações do continente. Ontem o Diário Causa Operária repercutiu revelação de áudios que mostram a participação da embaixada dos Estados Unidos na Bolívia no golpe de Estado. O representante do PCO no ato, companheiro Expedito Mendonça, chamou a atenção dos participantes a refletirem sobre o avanço do imperialismo na América Latina nos últimos anos, promovendo golpes de Estado e instalando regimes de características fascistas para melhor saquear as riquezas nacionais dos países do continente, e também para o fato de que esses regimes têm uma tendência de curta duração devido à crise do capitalismo e à inevitabilidade da desesta-

bilização social e política causada por esse tipo de programa, como estamos vendo no Chile, por exemplo. Mas também para prestarem atenção que, como bem mostra o exemplo boliviano, o nacionalismo burguês tem sérias limitações e o avanço do imperialismo e da extrema-direita só será freado com uma mobilização revolucionária dos trabalhadores que não aceite a conciliação com a direita. “O imperialismo e os golpistas roubaram as eleições no Brasil, no Equa-

dor, na Bolívia e continuam tentando roubar na Venezuela. As eleições e o voto são incapazes, por si só, de garantirem a luta contra o imperialismo, a extrema-direita e o fascismo. É necessária uma mobilização independente das massas populares e não ficar aguardando a chegada do calendário eleitoral”, afirmou o militante do PCO. Por sua vez, o embaixador da Bolívia no Brasil, José Kinn Franco, agradeceu a solidariedade do povo brasi-

leiro e falou sobre a necessidade da consolidação da união dos povos latino-americanos na luta democrática e progressista contra o imperialismo e a direita. “Estamos em um processo de resistência que já começou ativamente a se pronunciar, as massas que apoiam nosso processo e nosso presidente estão marchando até a cidade de La Paz, estão bloqueando as estradas do país. Isso não acabou, companheiros. Esse golpe não pode cantar vitória e o povo boliviano, tenham toda a certeza, vai vencer, vai triunfar, assim como todos os nossos povos, aquilo que nossos gigantes como Fidel, como Chávez, como Lula, como Evo, semearam, não tem mais retorno. A vitória e o futuro são nossos, companheiros. Vamos para a vitória! Muito obrigado, viva o Brasil, viva a Bolívia, viva o povo!”, disse, em uma declaração emocionada, o diplomata boliviano. Hoje (12), haverá um novo ato na Embaixada da Bolívia em Brasília convocado pelos movimentos populares do Brasil e dos BRICS – que realizam um encontro esta semana na capital federal. O ato ocorrerá às 13h. Ainda hoje, o PCO, juntamente com as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, e outras organizações, convocam um ato no Consulado da Bolívia em São Paulo, às 17h.


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VOX CRESCE VERTIGINOSAMENTE

Crise política se aprofunda depois de novas eleições na Espanha O partido da extrema-direita foi de 24 para 52 parlamentares, um crescimento de 28 cadeiras em sua bancada, mais que dobrando sua força numérica no Legislativo O Partido Socialista dos Operários da Espanha (PSOE) venceu novamente as eleições espanholas, ficando com 120 cadeiras no Parlamento, três a menos do que nas últimas eleições, realizadas em abril. Essa vitória da esquerda institucional do regime político, no entanto, ficou muito longe de definir a situação política na Espanha, que continua em um profundo impasse, sem que nenhuma força consiga formar um governo. Para conseguir ser nomeado presidente do governo (nome oficial do cargo de primeiro-ministro na Espanha), Pedro Sánchez teria que ter vencido as eleições com seu partido, ou uma coligação, levando 176 lugares do Parlamento. Essa foi a quarta eleição realizada na Espanha em quatro anos, um dado que por si só demonstra a crise política no País. A direita tradicional cresceu nas eleições, com o Partido Popular indo de 66 para 88 cadeiras. O Ciudadanos, que poderia compor um governo com o PSOE, caiu de 57 para 10 cadeiras, enquanto o Unidas Podemos caiu de 33 para 26 cadeiras. A coalizão catalã da Esquerda Republicana ficou com 13 deputados e não deverá formar governo com ninguém, depois

das condenações de lideranças catalãs independentistas esse ano a penas de até 13 anos. Extrema-direita cresce O principal dado dessas eleições é o crescimento do partido de extrema-direita, o Vox, liderado por Santiago Abascal. O partido foi de 24 eleitos em abril para 54 eleitos agora, mais que dobrando sua bancada, com 28 deputados a mais. Até abril, o partido, que surgiu agora, não tinha deputado nenhum. Ou seja, foi de zero para uma bancada com 24 deputados do dia para a noite, e depois de meses consegue mais do que dobrar essa bancada. Como a situação para formar um próximo governo continua travada, pode ser que haja, mais uma vez, novas eleições transcorrido pouco tempo. Nesse caso, o Vox poderia crescer ainda mais. Crise do regime O crescimento da extrema-direita é um fenômeno que está acontecendo em toda a Europa. No caso espanhol, a peculiaridade do movimento separa-

tista na Catalunha impulsionou a extrema-direita, que defende uma brutal repressão dessas tendências das nacionalidades oprimidas artificialmente mantidas sob uma unidade territorial submetida à Espanha. Porém, trata-se de um processo comum a todo o continente, que expressa a crise do regime político do imperialismo europeu, que está em franca desagregação e procura responder a isso com o deslocamento à direita de setores da burguesia imperialista. É nesse quadro que o Vox vem crescendo, fazendo propaganda contra o separatismo e contra os imigrantes.

Esse crescimento se dá com uma campanha demagógica contra o regime político, ao qual os partidos tradicionais que se alternam no poder aparecem atrelados. Por isso o Partido Popular decaiu, apesar de uma recuperação nas eleições de domingo, e o Partido Socialista também perdeu força. No vácuo deixado pelos partidos do regime a extrema-direita cresce. Outro fator determinante nesse processo político é a omissão da esquerda institucional, incapaz de fazer frente às políticas neoliberais, que essa mesma esquerda passou a aplicar em seus governos.

UE É GENOCIDA E DEMAGOGA

UE estende por mais um ano sanções criminosas contra a Venezuela A política de sanções contra a população da Venezuela por parte da UE, com o intuito de derrubar o presidente legítimo do país, vai se estender por mais um ano A União Europeia (UE) resolveu prorrogar por mais um ano as sanções criminosas contra a Venezuela na ânsia de que ocorra um golpe de estado como o que ocorre agora na Bolívia. As sanções visam proibir a compra de armas, bem como restringir o direito de viagem e o congelamento de contas de 25 personalidades venezuelanas. As medidas agora vão até 14 de novembro de 2020. A UE diz querer contribuir para a democracia do país, mas na realidade o intuito é outro, é criar uma tensão no governo de Nicolás Maduro para o enfraquecer. Maduro foi eleito de maneira legítima pela população da Venezuela, e nenhum país do mundo pode interferir em sua soberania e autonomia.

As sanções já impostas ao país causaram problemas para o acesso a produtos básicos, principalmente produtos farmacêuticos. A política de sanções a países não alinhados ao imperialismo é genocida, pois causa mortes com o intuito de enfraquecer os governos locais. A principal intenção dos países imperialistas é a de tomar para si todo o petróleo venezuelano, já que o país possui a principal reserva do mundo. Com o capitalismo em decadência cada vez maior, a obtenção de uma reserva do tamanho da da Venezuela, auxiliaria o monopólio internacional a tentar se manter no poder. Não à invasão imperialista na América Latina! Abaixo o imperialismo!

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POLÍTICA | 7

A DIREITA CONTRA-ATACA

Parlamentares golpistas querem fazer lei para prender Lula As movimentações da direita contra a esquerda e Lula apontam para a intensificação da polarização política no País. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara Federal está em vias de aprovar Proposta de Emenda à Constituição (PEC), que visa reverter o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) e retomar a prisão após a condenação em segunda instância. A PEC é uma reação da direita golpista à soltura de Lula e visa, obviamente, se contrapor a decisão do STF aprovando uma lei par que o ex-presidente seja novamente preso. Em primeiro lugar, trata-se de uma manobra da direita que só ocorre com essa facilidade porque o País está diante de um golpe. O Artigo 5º , que trata das garantias individuais dos cidadãos é uma cláusula pétrea da Constituição Federal, que não pode ser alterada nem mesmo por uma PEC, mas apenas por um novo processo constituinte, isso implica que se trata de um novo golpe em gestação, agora diretamente sendo levado à frente pela extrema-direita bolsonarista. É bem pouco provável, pelo menos em um primeiro momento, que os deputados bolsonaristas consigam aprovar no plenário da Câmara em dois turnos e depois no Senado, também em dois turnos a medida, uma vez que a aprovação de uma PEC implica no voto favorável de 3/5 de deputados e senadores, respectivamente, 308 e 49 parlamentares, não por causa de Lula, mas tal aprovação implicaria na prisão de muitos políticos e apaniguados dos mais variados partidos.

Em todo caso, fica explícito que a ala bolsonarista está partindo para uma política de aberta confrontação com a esquerda e em particular com o ex-presidente Lula. Se no primeiro momento a quase nenhuma oposição à revisão da prisão em segunda instância pelo STF indicou um acordo entre os diferentes setores golpistas, inclusive os militares e o Executivo, sobre a base, por um lado, de que o agravamento da crise no interior do regime golpista e do próprio presidente e por outro, as implicações que poderiam acarretar à tendência do crescimento da mobilização popular em torno da defesa da liberdade de Lula, particularmente em um momento em que vários países da América Latina estão convulsionados, os indicadores apontam que o recuo da direita não arrefeceu a polarização, mas ao contrário, aprofundou. A iniciativa do fascista Bolsonaro de colocar na linha de frente da pressão sobre os parlamentares o ministro Sérgio Moro é a demonstração, também, de que o “pacto”entre os golpistas, ao que tudo indica, foi mais breve do que o esperado. Nunca é demais apontar que Moro é um funcionário do governo norte-americano e por isso, um protegido da Globo. A ação dos parlamentares da direita golpista no Congresso, a ameaça de Bolsonaro de usar a Lei de Segurança Nacional contra Lula, reuniões da cúpula militar para tratar da possibilidade de que manifestações populares

contra o governo se intensifiquem no próximo período, entre outras iniciativas da extrema-direita, são um alerta para a esquerda. A direita, os militares, estão tomando posição. O golpe militar na Bolívia é uma demonstração de que a política do imperialismo para a América Latina não é de contemporização. Um recuo, como o que levou o STF a alterar seu entendimento anterior sobre a prisão em segunda instância, não significa um reconhecimento do próprio STF ou de quaisquer outras instituições golpistas e do imperialismo à volta à situação anterior, de democracia, pelo menos de fachada. É condição fundamental para a sobrevivência da esquerda e de defesa das massas exploradas o aprofundamento da mobilização, a começar pela defesa de Lula, da sua liberdade e pela

anulação de todos os processos contra ele. Esse deve ser o ponto de partida, mas para que seja verdadeiramente consequente, deve estar vinculado à luta pelo fora Bolsonaro, por eleições gerais e pela garantia da candidatura do ex-presidente. Os acontecimentos da América Latina devem servir de exemplo para a esquerda brasileira. A polarização política fatalmente irá se aprofundar. Não existe uma política de meio termo, um dos lados será vencedor. Ou a direita esmaga a esquerda e o conjunto dos explorados ou a esquerda derrota o golpe e aponta uma nova perspectiva progressista para o conjunto dos explorados. Para derrotar definitivamente a direita só há um caminho: as ruas, com um programa claro de mobilização e luta.

LULA IRÁ A RECIFE

Caravanas de Lula começam pelo Recife e devem pressionar a direita Lula após sair da prisão passará a realizar uma série de viagens por todo país, tal fato gera um forte efeito de polarização política e instabilidade para o regime golpista. O povo brasileiro conquistou uma vitória parcial na luta contra o golpe quando Lula, maior figura popular brasileira, foi solto de seu estado de cárcere em Curitiba. Após sua soltura, a própria autoestima e disposição de luta da população brasileira aumentou visivelmente. Em todos os lugares que se olhe a alguém comemorando sua soltura e dizendo para qualquer um ouvir que precisamos continuar lutando, agora com Lula solto, para partir para cima do governo golpista, liderado pelo fascista Jair Bolsonaro. A exemplo do que já acontece no Chile, Colômbia e em todo restante da América Latina, os trabalhadores brasileiros estão com grande disposição de por um fim nesse regime político anti-povo que domina o Brasil. O imperialismo faz contorcionismo para controlar a situação explosiva contida nestes países, promovendo desesperados e abertos golpes militares, como o caso boliviano, além de ser obrigado a soltar Lula, peça

fundamental a ser eliminada para o sucesso do golpe. Sabendo disso, Lula irá começar a percorrer o país em inúmeros eventos no próximo período. O primeiro marcará sua volta ao nordeste, indo de encontro com o povo em Recife (PE), no dia 17/11, dia do festival Lula Livre, que irá também contar com um ato

político comemorando sua liberdade. O fato de Lula estar percorrendo o país, independente de suas posições pessoais e objetivos, marca o início de um forte período de polarização política no país. Lula finalmente representa esta figura polarizadora, vista pelos olhos do povo como o lado oposto aos golpistas e ao governo Bolsona-

ro. Sendo assim, sua presença tende a aquecer os ânimos, mobilizar o povo e preparar o clima para uma verdadeira luta. Já vimos no passado o peso político que a presença de Lula em inúmeros locais é capaz de causar. Dessa forma, podemos esperar que com esta caravana pelo país, a instabilidade do regime golpista tenderá a aumentar e muito, visto que a população está cada vez mais disposta a derrubar o governo Bolsonaro e o golpe de estado. Fica cada vez mais evidente para toda a população explorada e trabalhadora que Bolsonaro fora eleito por uma fraude, onde Lula teve que ser preso para não ser eleito. Por isso, precisamos utilizar cada momento como este que terá em Recife para mobilizar a população e assim levar com que todo o país avance contra o governo golpista. Garantir a liberdade de Lula com a anulação de todos os processos! Fora Bolsonaro! Eleições Gerais com Lula candidato!


8 | POLÍTICA

LULA E A LUTA POPULAR

Lula não sairia da prisão se não fosse a mobilização popular Ao contrário do que diz parte da esquerda brasileira, a verdade é que Lula só foi libertado por causa do medo da burguesia de uma profunda mobilização popular. Após 580 dias preso injustamente pelo processo farsa que é a operação Lava Jato, finalmente o ex-presidente Lula deixou as masmorras de Curitiba. Neste longo período, um setor da esquerda procurou disseminar várias ilusões nas instituições e na justiça brasileiras. Quando Lula foi preso, dizia-se que ele seria solto em 10 dias. Desde então, foram vários os acontecimentos em que a esquerda ficou esperando que o “democrático” STF cumprisse com as suas obrigações constitucionais e enfim soltasse Lula. Antes de mais nada, é preciso que tenhamos claro um fato que sempre foi destacado pelos marxistas. Sem que se trave uma luta, não é possível obter nenhuma vitória, afinal, como diz o ditado popular, “nada cai do céu”. Além do mais, conforme discutimos no parágrafo anterior, foram várias as oportunidades em que o STF pôde reverter a arbitrariedade com respeito a Lula. No entanto, só agora o Supremo teve um súbito “surto” democrático. Embora a libertação de Lula tenha sido uma vitória parcial – afinal, o ex-presidente não tem seus direitos políticos plenamente estabelecidos e nem anulado os processos fraudulentos – só foi possível obter esta vitória por meio da mobilização popular. Além da campanha pelo “Lula Livre”, que se desenvolveu mesmo com a paralisia de setores da esquerda brasileira, as denúncias feitas pelo sítio The Intercetpt tiveram um papel fundamental, que foi o de comprovar aquilo que o setor mais consciente do país

já sabia: a operação Lava Jato foi uma grande farsa, uma operação montada de fora do Brasil para derrubar o governo do PT, prender Lula e devastar a economia nacional. Ainda neste sentido, embora a Lava Jato tenha como alvo principal o PT, a operação imperialista atacou duramente setores da burguesia nacional, como as empreiteiras, e os seus representantes na política brasileira, notadamente, o PMDB. Além de tudo isso, temos também toda a crise provocada pelo governo Bolsonaro, como vimos por exemplo no caso recente da Amazônia, onde Bolsonaro abriu margem para uma investida do imperialismo estrangeiro sobre esta gigantesca riqueza brasileira. Quando o STF resolveu votar o problema da segunda instância, a maior preocupação do Supremo era na realidade soltar os seus “cupinchas”, que acabaram na mira da Lava Jato, tais como Temer e Aécio Neves. No entanto, é preciso destacar também que não foi apenas o desejo de libertar os direitistas, alvos secundários da Lava Jato, que fez o STF soltar Lula. Afinal, uma classe social como a burguesia tem ao seu dispor uma grande quantidade de recursos, de modo que seria perfeitamente possível que eles tivessem costurado um acordo que não envolvesse a libertação de Lula. Se a burguesia optou por esta solução, não foi por outro motivo que não a mobilização popular. A situação dos países vizinhos acendeu um sinal amarelo para a

burguesia e a direita brasileiras, que, ao contrário do que pensa a esquerda pequeno-burguesa, não subestima a capacidade de mobilização e de luta do nosso povo. Tanto é assim que Bolsonaro pediu que os militares elaborassem um plano, para o caso da situação do Brasil caminhar para o que vimos no Chile. Finalmente, precisamos destacar também que, para a direita, a soltura de Lula poderia resolver pelo menos momentaneamente a profunda crise política do país. Embora este possa ser um resultado imediato, o fato é que a liberdade de Lula aumenta ainda mais

a polarização política no Brasil, tão temida pela direita. Por isto, precisamos afirmar claramente. Lula não foi solto por que o STF resolveu resgatar a democracia brasileira ou outras pataquadas deste tipo. Ele foi solto por causa da mobilização popular, e por isso, a esquerda deve aproveitar a oportunidade e aprofundar as mobilizações, tanto pela restituição dos direitos políticos de Lula, quanto pela anulação da Lava Jato e pelo “Fora Bolsonaro”, e não ficar aguardando de braços cruzados até que as próprias contradições do regime tragam resultados positivos para o Brasil.

MOBILIZAÇÃO

Lula livre fortalece o Fora Bolsonaro Solto no dia 8 de novembro, o ex-presidente Lula, perseguido pelo regime político golpista, voltou a ser um fator fundamental para a mobilização contra a direita. No dia 8 de novembro, o ex-presidente Lula, maior líder popular do país, deixou, enfim, as masmorras da Polícia Federal em Curitiba. Perseguido pela burguesia golpista, Lula estava encarcerado há quase 600 dias, o que contribuiu para que o regime político entrasse em uma crise gigantesca. Afinal, Lula estava preso sem ter sido julgado plenamente, com seus direitos políticos cassados, e condenado em um processo escancaradamente fraudulento, conforme demonstrado por uma série de denúncias e, sobretudo, pelos vazamentos divulgados pelo portal The Intercept Brasil. Enquanto isso, o fascista Jair Bolsonaro, apoiado pelo “centrão”, está destruindo o país, levando o povo a um nível de insatisfação que beira a rebelião. A liberdade de Lula é resultado dessa crise. A burguesia, encurralada pelos levantes na América Latina em países como o Chile e o Equador, bem

como pela forte tendência à mobilização no Brasil e pela crise imensa em que o governo Bolsonaro se encontra, decidiu fazer um acordo entre todos os setores do bloco golpista – incluindo as Forças Armadas – para que o ex-presidente pudesse sair da cadeia. A tendência à mobilização se viu em vários momentos no último período. Nos dias 14 de setembro e 27 de outubro, milhares de pessoas se deslocaram até Curitiba para exigir liberdade imediata para Lula. Isso aconteceu mesmo sem haver uma convocação ativa das direções das maiores organizações da esquerda nacional, o que revela uma enorme disposição da população em lutar pela soltura do ex-presidente. A revolta contra o governo Bolsonaro, por sua vez, tem aparecido frequentemente em quase todas as manifestações populares. Festivais de cultura, atos políticos e até mesmo os mutirões de limpeza das praias do

Nordeste viraram palco ara que o povo protestasse contra o presidente ilegítimo. Em maio, mais de um milhão de pessoas já haviam saído às ruas contra a política neoliberal levada pelo governo Bolsonaro. A crise do governo, por sua vez, é resultado da própria tendência à mobilização, que fez com que a base social da extrema-direita ficasse acuada e fosse desmascarada como um setor minoritário da população, e do total fracasso da política econômica de Bolsonaro, que se deve, sobretudo, às condições improvisadas sobre as quais ele subiu ao poder e à crise econômica global. Demonstrações dessa crise são o fato de que o partido de Bolsonaro, o PSL, está rachado e que até mesmo a imprensa burguesa vem apresentando denúncias contra o governo. A liberdade de Lula é, assim, uma tentativa da direita de impedir que o país convulsione. No entanto, ao

ser obrigada a conceder a liberdade ao ex-presidente, a direita assistirá ao fortalecimento da figura do maior líder popular do país, que é um polo fundamental de mobilização dos trabalhadores. Se a população está mostrando disposição de lutar contra a direita, a tendência é que, com Lula solto, essa disposição seja catapultada. Com Lula nas ruas, o movimento operário e popular deve ganhar ainda mais confiança para enfrentar os seus algozes. Diante disso, a liberdade de Lula, independentemente da política que será adotada pelo ex-presidente, fortalece a luta pela derrubada do governo Bolsonaro. A vitória parcial que representa a soltura do maior líder popular do país mostra que, ao contrário do que diziam os ideólogos da esquerda pequeno-burguesa, é possível vencer a luta contra os golpistas que estão devastando o país.


POLÊMICA | 9

CAPACHO DO IMPERIALISMO

Lula livre não é mérito do STF O petista Fernando Haddad afirmou, em artigo publicado pela Folha de S. Paulo, que a liberdade de Lula mostra que o STF está reconstruindo o “edifício jurídico”. Em sua nova coluna na Folha de S. Paulo, intitulada Justiça, o petista Fernando Haddad, que concorreu às eleições presidenciais fraudadas em 2018, relacionou a liberdade de Lula com uma suposta mudança de posição por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Unindo-se a uma série de ideólogos da esquerda pequeno-burguesa, Haddad creditou a soltura de Lula ao esforço dos ministros do STF. O petista inicia seu texto da seguinte forma: "O edifício jurídico, abalado pelo populismo, vai lentamente sendo reconstruído pelo STF. Alguns importantes alicerces foram reforçados, mesmo que o solo ainda pareça movediço." O uso do termo “populismo” por parte de Haddad já reflete a confusão que o petista faz sobre a situação em que o país se encontra. A derrubada de Dilma Rousseff sem ter crime nenhum comprovado, bem como a prisão ilegal do ex-presidente Lula, não foram resultado de um “populismo” – que seria um apelo a questões demagogicamente apresentadas como populares -, mas sim de um golpe orquestrado pelos governos dos países mais poderosos do mundo. A burguesia mundial, que se encontra em desespero devido à agonizante crise capitalista, se viu empurrada a dar uma sucessão de golpes de Estado

em todo o mundo para impor governos que tenham condições de entregar todo o patrimônio de seu povo aos bancos. Em 10 anos, inúmeros golpes foram dados e vários governos neoliberais, entreguistas e com características de extrema-direita ascenderam. Foi assim em Honduras, no Paraguai, na Argentina e em tantos outros países. Essa ofensiva está levando o regime político brasileiro a destruir todos os direitos democráticos que foram conquistados pela luta dos trabalhadores. O “edifício jurídico”, portanto, não está sendo reconstruído de maneira alguma no Brasil ou na América Latina, até mesmo porque isso não depende da boa vontade de meia dúzia de ministros. Os ataques aos direitos democráticos continuam e seguirão rapidamente rumo a uma ditadura explícita, a menos que uma mobilização gigantesca e decidida das massas impeça. A soltura de Lula é, portanto, apenas uma concessão dada pela burguesia, uma vitória parcial do movimento popular que conseguiu encurralar temporariamente seus algozes. A direita precisava tirar o ex-presidente da cadeia – caso contrário, o país poderia convulsionar rapidamente. A crise profunda em que o governo Bolsonaro se encontra impede que a direita parta para uma ofensiva neste momento, de modo que o STF, que é uma instituição

controlada pelas Forças Armadas e pelo imperialismo de um modo geral, surgiu como um moderador entre os conflitos do bloco golpista e costurou um acordo em torno da liberdade do ex-presidente. De maneira contraditória, no entanto, o próprio Fernando Haddad, que inicia seu texto elogiando o STF, chama a atenção, no final de seu artigo, para a possibilidade de a mais alta corte do país ter dois ministros indicados pela extrema-direita: "Tentações autoritárias devem ser afastadas, e cláusulas pétreas, reafirmadas. Não custa lembrar que, no próximo ano, dois dos ministros garantistas serão substituídos por indicação de Bolsonaro, que já adiantou que o critério de escolha será o fervor religioso. A julgar pelo conceito de meritocracia do atual governo, a situação é preocupante." A consideração de Haddad revela dois erros fundamentais para a luta

dos trabalhadores contra os golpistas. Em primeiro lugar, considerar que Bolsonaro continuará no próximo ano e uma perspectiva derrotista e, portanto, paralisante. Nem mesmo a burguesia tem tanta confiança na capacidade de Bolsonaro permanecer até o fim do mandato – é preciso, portanto, aproveitar o clima favorável após a liberdade de Lula para ampliar o movimento pelo “Fora Bolsonaro” e pôr abaixo o regime político imediatamente. Em segundo lugar, não é admissível que a esquerda adote uma posição de “comentarista” da situação política, como se não tivesse condições de fazer nenhuma intervenção. Em vez de avaliar a situação como preocupante e ficar torcendo para que o pior não ocorra, é preciso intensificar a mobilização popular contra os golpistas e ir para cima da direita. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Eleições gerais já, com Lula candidato!

TRANSIÇÃO SOCIALISTA

Grupo da esquerda pequeno-burguesa chama golpe militar de insurreição Segundo artigo, há uma “mobilização popular” que é a mesmo que derrubou Dilma e colocou Bolsonaro no poder Um grupo chamado Transição Socialista publicou em seu sítio na internet uma declaração sobre a situação na Bolívia do grupo ligado a ele na Argentina chamado “Razão e Revolução”. Há um golpe de Estado, que derrubou o presidente recém eleito Evo Morales, um representante do nacionalismo burguês na América do Sul, e tenta colocar no poder uma extrema-direita apoiada por setores das Forças Armadas, certo? Ao menos para o Transição Socialista e seu aliado na Argentina, não. Para esses grupos, o que há na Bolívia é uma “insurreição popular”. Sim, a declaração está intitulada “Sobre a insurreição na Bolívia” e é do dia 10 de novembro, ou seja, em meio ao golpe militar. Segundo eles, “a população rechaçou a reeleição de Evo em 2016. Evo ignorou tais resultados e apelou ao Tribunal Supremos para lhe favorecer. O acordo pelas costas do plebiscito derivou em severos protestos. Quem tentou uma estratégia golpista foi Evo. E se deu mal…” Alguma diferença com o que diz o imperialismo e a direita, inclusive os

bolsonaristas no Brasil? Nenhuma. ´[E exatamente esse o argumento dos golpistas que estão derrubando Evo. O Transição Socialista e seu irmão argentino dizem que não há golpe de Estado, mas uma “mobilização popular”. Continua afirmando que “A oposição burguesa não entrará agora num cenário favorável. Assim como Temer e Bolsonaro, que enfrentaram as mesmas mobilizações que derrubaram Dilma.” No mundo do Transição Socialista o que existe no continente é uma enorme mobilização popular e operária que colocou no poder Temer, Bolsonaro e agora derruba Evo Morales. Com uma mobilização revolucionária dessas, não precisamos de contrarrevolução. O exemplo do Brasil mostra o que pensa o grupo desconhecido no Brasil, de uma esquerda estudantil que está completamente desligada das lutas do povo. Dilma, assim como Evo Morales, foi derrubada pelo povo. Parece absurdo, e é. Os militares de extrema-direita que matam o povo na rua, que incendeiam casas e contam com o apoio da OEA,

portanto do imperialismo, de Bolsonaro e de toda a burguesia seriam então revolucionários. Logicamente que o Transição Socialista e seus argentinos não explicam isso, apenas atacam Evo, assim como atacam no Brasil Lula e Dilma. Viva a revolução bolsonarista

que deve tomar conta de todo o continente! Por sorte, a declaração está restrita ao sítio na internet de dois grupos que estão na Argentina e no Brasil, não na Bolívia. Com essa posição, seria um pouco impróprio estar ali.


10 | CIDADES

O CINISMO DOS TORTURADORES

Chefe do Depen tenta esconder torturas e diz que presos se automutilam Responsável pela intervenção no presídio do Pará coloca a culpa nos presos pelas inúmeras práticas violentas por parte dos agentes Desde julho deste ano, os presídios do Pará estão sob intervenção federal a mando do ministro golpista Sergio Moro. A intervenção ocorreu após a rebelião no Centro de Recuperação Regional de Altamira, a qual deixou 62 presos mortos. De julho até agora são inúmeras as denuncias de tortura e de violência por parte dos agentes federais contra os detentos. Dois relatórios, um do Ministério Público e outro do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, descrevem as práticas contra os presos.O relatório do Ministério Público pede o afastamento do coordenador da Força Tarefa, Maycon Cesar Rottava. O texto de 158 páginas relata práticas como perfuração dos pés dos presos com pregos, espancamentos com cassetete, uso reiterado de balas de borracha e spray de pimenta e disparos de arma de fogo. O segundo relatório revela a existência de um “calabouço de tortura” no Centro de Recuperação Prisional do Pará. No local, os presos ficavam totalmente isolados, em uma sala fechada e sem ventilação, na qual a tempera-

tura alcançava 40°, e eram obrigados a beberem água da privada. No Centro de Reeducação Feminino,. as mulheres presas eram obrigadas a sentarem nuas em formigueiros, além de serem espancadas, um caso de aborto foi registrado por conta do espancamento. Mesmo com todas as denúncias, o diretor-geral do Departamento Penitenciário Federal, o Depen, Fabiano Bordignon, negou as práticas de tortura em entrevista para o jornal Folha de São Paulo. Segundo ele, os machucados, agressões contra os presos seriam obras deles mesmo, “eles se automutilam”, afirmou o diretor-geral. Fabiano tentou esconder as torturas acusando o que supostamente seria uma orientação do crime organizado, para que os presos se automutilassem. A declaração do diretor-geral vai na mesma linha do presidente golpista, Jair Bolsonaro, o qual chamou as denúncias de “besteiras”. Tanto Bolsonaro, quanto Moro apoiam a intervenção nos presídios. É preciso ter claro que as práticas de tortura de fato ocorrem e não são

MAIS UMA MORTE PELA PM

uma exclusividade dos presídios do estado do Pará. A violência contra os presos é uma prática comum em todos os presídios do país. As unidades penitenciárias são verdadeiros depósitos humanos, criados pela burguesia, para enjaular a classe trabalhadora, os negros e pobres. Vale lembrar que quase a metade dos presos brasileiros são presos provisórios, ou seja, seus processos nem mesmo foram julgados em todas as instâncias.

Outra grande quantidade é composta por pessoas presas por crimes pequenos, em sua imensa maioria pobres que não tem qualquer recurso para a defesa. A única medida eficaz para solucionar o problema do sistema prisional brasileiro é acabar com essa verdadeira máquina genocida da população negra e pobre. É preciso defender o fim dos presídios e a liberdade de todos os presos.

MOBILIZAÇÃO NO ACRE

Polícia assassina mais um em favela Servidores logram adiar reforma da no Rio de Janeiro; extinção da PM! Previdência; manter a mobilização! Rapaz voltava para casa quando foi atingido por um tiro de fuzil na cabeça

A polícia assassina do Rio de Janeiro fez mais uma vítima neste final de semana. Francisco Laércio Paula, de 26 anos, foi morto com um tiro na cabeça disparado por PM, na manhã do último sábado, dia 9. Ele era morador da comunidade de São Cristóvão, estava voltando do trabalho para a casa quando foi atingido por um tiro de fuzil 762. Moradores declaram que o próprio policial admitiu ter matado Francisco. A morte do morador foi resultado de uma Operação da Unidade de Policia Pacificadora na região de Barreira do Vasco. De acordo com relatos dos moradores a prática de entrar atirando

na comunidade é comum entre os policiais. A morte de Francisco é mais uma na estatística macabra do Rio de Janeiro, estado hoje governado pelo fascista Wilson Witzel do PSL. Os números oficiais indicam que somente este ano foram 1249 pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro, um recorde de matança. É consequência direta da imposição da política de extermínio nas comunidades pobres pelo governador golpista e o presidente ilegítimo, Jair Bolsonaro. É preciso mobilizar o povo para derrubar todos os golpistas, Fora Witzel! Fora Bolsonaro! Dissolução da PM.

Aleac e o governo do estado do Acre adiam votação da reforma da Previdência para o próximo dia 26. A reforma é praticamente a mesma de Paulo Guedes e é na verdade um roubo. Após mobilização dos servidores do estado do Acre contra a reforma da previdência no estado, o governo direitista de Gladson Cameli do PP junto com a Assembleia Legislativa do Acre (Aleac) resolveram adiar a votação da reforma. A reforma da previdência proposta por eles é muito parecida com a reforma de Paulo Guedes, o que é na verdade um imenso roubo de dinheiro dos trabalhadores do estado por parte dos bancos. Os servidores do estado devem manter a mobilização, tornando-a cada vez mais radical para conseguir manter seus direitos. Mesmo que as lideranças sindicais tentem resolver a situação com base no diálogo, a mobilização deve ser mantida. Nenhum

diálogo com os direitistas que querem desviar milhões do bolso dos trabalhadores para o bolso dos banqueiros deve ser aceitado. A mobilização e a ocupação de 07/11/2019 fez com que os golpistas adiassem a votação, mas somente mantendo a mobilização é que esta será definitivamente vitoriosa. Ao mesmo tempo, é preciso lembrar que o Brasil sofreu um golpe de estado em 2016, que resultou na retirada de inúmeros direitos trabalhistas e na prisão de Lula para que ele não participasse das eleições de 2018. Somente a derrubada pelas massas do governo golpista de Jair Bolsonaro poderá garantir os direitos de todos os trabalhadores brasileiros. Fora Bolsonaro! Eleições gerais já!


ESPORTES | 11

UCRÂNIA NO TRILHO DO FASCISMO

Jogadores brasileiros sofrem racismo na Ucrânia dominada por fascistas Taison e Dentinho sofrem ataques racistas de torcedores rivais enquanto trabalham na Ucrânia. No último domingo (10/11) os brasileiros Taison e Dentinho, atletas do Shakhtar Donetsk da Ucrânia, foram alvos de ataques racistas vindos de torcedores do Dinamo de Kiev. O jogo aconteceu no estádio Metalist em Carcóvia, mando de campo do Shakhtar, e atualmente, é o principal clássico do campeonato ucraniano. Os atletas denunciaram que durante todo o jogo estavam sendo hostilizados pelos torcedores rivais. Inconformado Taison, por volta dos 28 minutos do segundo tempo, não aguentou e respondeu aos ataques mostrando o dedo médio e chutando uma bola em direção à torcida rival. O juiz da partida, apesar de não ter tomado atitude nenhuma durante o restante do jogo, no momento, paralisou a partida e expulsou Taison por “ofender” os torcedores. Os jogadores do Dinamo pediram à sua torcida que parecem os insultos para que o jogo pudesse recomeçar. Taison e Dentinho, revoltados saíram de campo chorando. Nas redes sociais diversos atletas se pronunciaram e repudiaram os ataques. Taison postou em sua conta no Instagram, entre outras palavras: …”jamais irei me calar diante de um ato tão desumano e desprezível! Minhas lágrimas foram de indignação, de repúdio e de impotência, impotência por não poder fazer nada naquele momento! Mas somos ensinados desde muito cedo a sermos fortes e a lutar! Lutar pelos nossos direitos e por igualdade! O meu papel é lutar, bater no peito, erguer a cabeça e seguir lutando sempre! Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, precisamos ser antirracista!” Outros atletas se pronunciaram e pediram punições aos torcedores ra-

cistas, como o jogador William, atualmente atleta do Chelsea da Inglaterra, que foi o principal jogador do Shakhtar entre 2007 e 2013, cobrou ação e punição por parte da federação ucraniana e também as demais organizadoras do futebol europeu: “Teve essa situação ontem e a federação ucraniana não se pronunciou. Teve há um tempo atrás com a seleção da Inglaterra e a Uefa também não se pronunciou. Então, situações como essa eles têm que se pronunciar, tem que ter a punição para que isso acaba de uma vez por todas. A gente fica triste e espera que isso possa acabar o mais rápido possível”, William diz ainda: Fui para a Ucrânia com 18 para 19 anos, passei por isso uma vez, não me lembro o jogo. É claro que a gente fica triste pela situação, isso já faz uns 10, nove anos. A gente espera que isso possa mudar, vemos isso acontecendo em dias como hoje, não só no futebol, mas em outras áreas também.” Os ataques racistas no futebol europeu tem se tornado cada vez mais frequentes e como denunciam os atletas, nenhuma ação concreta é feita, para punir os agressores. As entidades políticas que seriam responsáveis por “organizar” o futebol e as gigantes multinacionais de materiais esportivos fazem simplesmente demagogia com o problema, realizando campanhas de marketing ridículas em TVs e redes sociais, que não resultam em nada. O problema do racismo, logicamente, tem origem muito além das quatro linhas e não há como separar as situações normais do dia a dia da população, economia e política, do futebol ou nas artes, por exemplo. Como fica claro nas palavras de William, o problema, ao invés de diminuir, está aumentando, pois

cresce juntamente com a situação política, cenário no qual a extrema direita vem ganhando cada vez mais espaço por toda a Europa. Na Ucrânia, a situação é ainda pior. Desde os conflitos de 2014, em que a extrema direita tem sido impulsionada pelo imperialismo para se opor às forças políticas locais que mantinham proximidade ao governo Russo, conseguindo derrubar o governo, colocar tropas fascistas nas ruas e, este ano elegeu sob grande manipulação um palhaço (de verdade) para presidente, Volodymyr Zelenskiy, como símbolo de uma política extremamente demagógica, vazia, mas que se impõe pela força da ação fascista. Os episódios de racismo que tem ocorrido, não só na Ucrânia, mas na Rússia, na Hungria, Itália, Inglaterra etc, são reflexos da onda da extrema direita fascista que está sendo impulsionada pela burguesia internacional. A impotência citada por Taison, é na verdade um reflexo da ação dos

fascistas, que são covardes e buscam atacar sempre quando suas vítimas não tem mínimas condições de se defender. Taison, por exemplo, apenas respondeu com um gesto e foi tirado do seu local de trabalho e pode ainda ser punido pela autoridade esportiva. Porém, a forma de combater ações fascistas não é fazendo campanhas de amor ou “fim do ódio” nos gramados, mas sim, combatendo nas ruas estes grupos extremistas. E a resposta deve ser equivalente, ou seja, a população deve se impor também na força, que é a única linguagem que os fascistas entendem, a violência. Não há diálogo com fascistas. É preciso fazê-los recuar à força, pois de outro modo eles não irão “ceder terreno”. Os trabalhadores, estudantes, movimentos populares organizados devem formar comitês de autodefesa, nos locais de trabalho, nas universidades, nos bairros para enfrentar os ataques da burguesia fascista.

CENSURA NOS ESTÁDIOS

Juiz interrompe jogo e manda retirar ilegalmente faixa contra o VAR Árbitro interrompe partida em razão de faixa estendida pela torcida do Fortaleza, um precedente para censurar as massas nos estádios Na noite do dia 10 de novembro, um acontecimento serviu mais uma vez para mostrar os rumos almejados pela “modernização do futebol”. No decorrer do Clássico-Rei (Ceará x Fortaleza). O árbitro Flavio Rodrigues paralisou a partida e ordenou a retirada de uma faixa que se encontrava com a torcida do Fortaleza cuja mensagem era “Parem! VAR! CHEGA!”. Importante destacar o peso desta faixa especialmente nessa partida. Trata-se de dois clubes que encontram-se na luta contra o rebaixamento para a série B e que já acumulam queixas contra esse mecanismo. Em outubro, em partida contra o Flamengo no Castelão pela 26ª rodada, o goleiro do Fortaleza, Felipe Alves, criticou o mecanismo de árbritro de vídeo alegando que “já é a quarta ou quinta vez que o VAR atua contra equipes do Nordeste.

Estamos sendo conduzidos por uma máquina e pessoas fora do campo”. Pelo lado do Ceará consta o fato de ter sido, até a 23ª rodada, o time que teve mais gols anulados pelo VAR e o segundo a ter mais interferências do VAR contra si. Desde que surgiu, o VAR vem sendo alvo de críticas ora por beneficiar clubes e seleções que gozam de um maior poderio econômico, ora por estar sendo um fator de redução das emoções dos torcedores em razão de ser necessário paciência para, por exemplo, se comemorar um gol. A justificativa da criação desse mecanismo tem sido a busca dos capitalistas do futebol por um supostamente ético tanto nos gramados. Nas arquibancadas, a modernização do futebol encontra o suposto combate da CBF contra a “conduta imprópria” como seu porto seguro. De acordo

com o artigo 69 do Regulamento Geral das Competições, entende-se por conduta imprópria “tumulto, desordem, invasão de campo, violência contra pessoas ou objetos, uso de laser ou de artefatos incendiários, lançamento de objetos ou mísseis (rojões e sinalizadores), exibição de slogans ofensivos ou com conteúdo político, ou sob qualquer forma, a entoação de palavras ou músicas ofensivas”. Ou seja, um mecanismo da CBF para censurar qualquer manifestação das torcidas que considere conveniente coibir. Malandramente a CBF oferece cínicos e superficiais campanhas de “combate à homofobia” e “combate à violência”, vindo em anexo restrições contra o uso de sinalizadores e rojões, palavras de baixo calão direcionadas contra quem for, invasão de campo ou mesmo gritos de natureza política em está-

dios(lembrem do “Ei Bolsonaro vai tomar” sendo entoado recentemente nos estádios). Toda essa demagogia com aplausos da esquerda pequeno burguesa que acredita que as opressões cessam com linguajar de catecismo. A modernização do futebol é um processo que os capitalistas travam para reduzir cada vez mais o caráter popular do futebol em benefício da elitização das arquibancadas e reduzir o risco de haver aglomeração das massas em locais públicos e consequentemente. Nesse sentido é necessário apoiar a luta das torcidas organizadas contra toda e qualquer censura que os capitalistas tentam colocar aos torcedores, mesmo aquelas censuras com aparência de boa intenção, no fim das contas são apenas precedentes para afastar e censurar as massas dos estádios.


12 | MORADIA E TERRA

RURALISTAS GANHARÃO AMAZÔNIA

Quem é Nabhan Garcia, inimigo dos trabalhadores do campo Bolsonaro concedeu poderes ilimitados a líder de organização assassina de trabalhadores do campo para aprovação de projeto de entrega de terras O presidente golpista Jair Bolsonaro que sempre perseguiu os trabalhadores do campo, prometendo reverter as conquistas históricas e criminalizar o movimento, tem como secretário nacional de Assuntos Fundiários, Nabhan Garcia. O secretário é presidente da União Democrática Ruralista, uma organização fascista sanguinária criada com único propósito de assassinar os integrantes dos movimentos trabalhadores rurais de luta pela terra. Nabhan Garcia, que prometeu revogar as conquistas dos últimos 40 anos dos trabalhadores do campo, parece ter poderes ilimitados no que diz respeito a questão da terra, seu projeto passa por cima das decisões de ministros e derruba generais. O secretário fascista considera crime as ocupações do MST, a qual chama de invasões, e afirma que neste governo não receberá nenhum “fora da lei”. É importante lembrar que Nabhan Garcia foi denunciado de posar em foto, publicada no Estado de S. Paulo, junto a organização paramilitar fascista de encapuzados altamente armados, que ameaçavam de morte os trabalhadores que lutavam pelo direito a

terra no Pontal de Paranapanema. A CPI aberta no Senado não resultou em nada como se espera no regime dominado pelos interesses burgueses. O projeto do fascista é dar título de posse de 600 mil propriedades de até 2500 hectares na Amazônia seguindo os moldes da ditadura, ou seja, da autodeclaração dos ocupantes de terras. É importante frisar que este modelo condicionou a posse definitiva das terras a resultados produtivos, sem política para subsidiar os trabalhadores resultou em dispersão da luta e abandono das terras. Desta vez, o que se pretende é entregar 32 milhões de hectares aos grupos ruralistas e seus laranjas, terras onde estão contidas reservas indígenas e ambientais e terras públicas. Para implementar esse projeto contou com apóio total de Jair Bolsonaro que demitiu todos aqueles que criaram impedimentos, como foi o caso dos generais Franklimberg de Freitas da Funai e João Carlos Jesus Corrêa do Incra, este por cima da autoridade da ministra da Agricultura, a ruralista Tereza Cristina. A luta dos trabalhadores do campo não está dissociada da luta de toda po-

pulação. A derrota deste projeto, por sua vez, não está dissociada da derrota do governo eleito através da maior fraude da história das eleições que prendeu Lula e do golpe no seu conjunto. Os trabalhadores devem lutar por uma verdadeira reforma agrária que

leve a expropriação de todos os ruralistas. Para isso é preciso derrotar o governo Bolsonaro, exigir novas eleições com a participação de Lula, além de uma nova constituinte. Este regime não é capaz de atender e consolidar as reivindicações dos trabalhadores.

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