nº 2 nov /2008
distribuição gratuita
periódico do curso de arquitetura e urbanismo da PUC-Rio EDITORIAL
“Nosso acesso a fontes quase ilimitadas de energia está ameaçado pelo risco de o planeta tornar-se inabitável; mas essa situação se equilibra ao alcançarmos as portas do espaço, com a crescente possibilidade de abandonarmos nosso insular planeta e fixarmos raízes noutro” Quando foi publicada pela primeira vez em finais de 1960, essa frase não tinha o impacto que pode ter nos dias atuais. Esse texto estava na introdução do livro de Rayner Banham, “Teoria e desenho na primeira era da máquina”. É muito difícil encontrá-la nas publicações mais recentes, pois apareceu somente nas primeiras edições de língua inglesa e espanhola e foi suprimida nas edições posteriores. Haveria algo de desprezo nesse “ insular planeta”... ? Outra pérola do autor seria a afirmação de que há duas possibilidades de destino para a madeira: a primeira, construir o abrigo; porém como é contra a indústria do abrigo (e aqui existe uma referência a Buckminster Fuller), o que sugere é a segunda: tacar-lhe fogo e aquecer-se... Banham era um rebelde. As imagens do seu texto “a home is not a house” mostram um desenho seu numa casa-bolha, de plástico, dando a entender que está completamente nu, ao lado de um grande aparelho que hoje diríamos se tratar de um micro-system, mas que na época devia parecer algo como os controles computadorizados de sua casa espacial. Nu e com o controle do conforto ambiental na mão. Ao mesmo tempo em que foi se esgotando, esse discurso foi se transformando na proporção em que se acentuava a crise energética de finais de 1960, início de 1970. Há uma gloriosa saída para Banham, quando ele identifica nos edifícios dessa época um gasto considerável no que chama hardcore (instalações, estruturas e serviços) e aponta o gasto enorme que é necessário para ocultá-lo “arquitetonicamente”. O artigo “New Brutalism” que derivou no livro Brutalism, e o livro Megaestruturas foram duas condições que de certo modo alavancaram esses projetos, mérito que podemos atribuir a Banham. É firmado, assim, um discurso consistente que gira em torno das questões construtivas, das técnicas adequadas e da pesquisa tecnológica (Banham era engenheiro aeronáutico), chegando até o produtivismo e a ética da montagem. FRESTA 02 convoca uma discussão em torno da questão construtiva. Aproveitamos, assim, a aula inaugural oferecida pelo arquiteto paulista Marcos Acayaba em maio de 2007 para abordar a questão da arquitetura como processo construtivo e tecnológico e como adaptação às condições materiais e construtivas do lugar. Uma discussão iniciada dentro do próprio movimento moderno e acentuada nesses discursos de Reyner Banham e que, de uma maneira ou de outra, participaram da arquitetura paulista de 1960. Para não falar só em Brutalismo, procuramos uma tradução mais antiga de Banham, Machine aesthetes, na qual ele identifica as primeiras manifestações de índole construtiva de 1950. Banham é um grande observador da arquitetura do seu tempo e conduz uma linha de crítica que aponta o início da abordagem da arquitetura como produto, como processo construtivo, e finalmente como processo tecnológico. Seguindo esse fio condutor, há o artigo do arquiteto e professor Diego Portas que destaca o processo projetual como ética construtiva, o que está diretamente ligado ao processo de ensino de projeto do ateliê do terceiro período do DAU/PUC- Rio, ministrado então por Portas e Marcos Favero. O artigo de Ruth Verde Zein faz uma introdução histórica ou ideológica sobre o meio arquitetônico de Marcos Acayaba, rejeitando, porém, a continuidade da chamada Escola Paulista na produção atual. Apresentamos também o Projeto Final de uma agora ex-aluna do Curso de Arquiteturte Urbanismo da PUC-Rio, Marcela Marques Abla, que, orientada pelo professor Fernando Betim, projetou um sistema construtivo com madeira de refugo para uma pequena habitação experimental voltada à pesquisa ambiental. O projeto recebeu em 2007 o “Prêmio Arquiteto do Amanhã” do IARJ e o Prêmio FIRJAN “Desafio Rio Criativo”.