nº zero set /2007
distribuição gratuita
periódico do curso de arquitetura e urbanismo da PUC-Rio EDITORIAL Em dezembro próximo forma-se a primeira turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro / CAU PUC-Rio. Ao longo desses cinco anos de existência, e do período de gestação que o precedeu, o CAU, através do empenho de professores, alunos e funcionários, procurou firmar-se como centro de excelência no ensino da arquitetura e do urbanismo. Mas falar em excelência do ensino da arquitetura no Brasil de hoje implica aceitar desafios que, à primeira vista pelo menos, parecem exorbitar a própria esfera do ensino. De uma situação tradicionalmente prestigiosa e, em algumas ocasiões, de puro protagonismo, a arquitetura brasileira viu seu lugar social decair de forma assombrosa nas últimas décadas. Outrora onipresentes, os arquitetos brasileiros procuram, cada vez mais atônitos, um lugar, e sobretudo um saber, capazes de conferir justificação social a seu trabalho. Além, naturalmente, de um lugar ao sol num mercado hostil e enigmático. A resposta que o CAU tem procurado dar a esse estado de coisas parte da constatação de que, em grande medida, a prática da arquitetura será o que se fizer dela - o que nós fizermos dela. Será o que professores e sobretudo alunos quiserem que ela seja. Será o que, no interior da escola, nos ateliês de projeto, nas salas de aula, nos auditórios, nos centros acadêmicos, for ensinado, aprendido, discutido, debatido, criticado e acima de tudo imaginado. Nessas perspectivas, o lançamento da Fresta parece confirmar um compromisso fundamental do nosso CAU: fazer da escola um local de troca, de debate, de crítica. Um local de onde, por entre uma fresta, a escola vê e é vista; espia e é espiada. Um local onde o dentro e o fora, sem que se anulem, se encontram. Em sua primeira edição — preparada pelos Professores Ana Luiza Nobre e Andrés Passaro e com projeto gráfico desenvolvido pelo Escritório Modelo de Arquitetura e Design da PUC-Rio – Fresta reproduz trecho da aula inaugural do ano de 2006 do CAU, proferida pelo arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé (pág. 5). A escolha de Lelé (que naturalmente dispensa justificações) não se deveu apenas à extraordinária qualidade de sua obra; deveu-se também à excepcionalidade de uma prática, possivelmente única no mundo, que pensa a arquitetura não apenas como construção, mas também e sobretudo como produção. Num momento em que tudo ou quase tudo se reduz à imagem efêmera e consumível, a aula de Lelé afirmou a força e a atualidade de uma arquitetura francamente moderna, porque comprometida com a construção dos espaços da vida moderna, sobretudo da cidade. Outro destaque desta edição é o texto de Josep Ouetglas (pág. 3) sobre o conceito de “moderno”. Provocativo como de costume, o professor da ETSA de Barcelona coloca-nos diante de pichações e latas de lixo para entender melhor o papel e o lugar dos arquitetos modernos no mundo... moderno? Fresta traz ainda o texto (inédito em português) do artista alemão Kurt Schwitters (pág. 4). Publicado em 1927, por ocasião da famosa exposição Weissenhoff ocorrida em Stuttgart, o texto ilustra como podiam ser divergentes os conceitos de forma imaginados pelos protagonistas de um movimento moderno caracterizado justamente por disputas e divergências internas. Por fim, Fresta publica artigo dos professores Andrés Passaro e Marcos Fávero (pág. 2) e o trabalho acadêmico orientado por ambos (pág. 7). A escolha desse trabalho, por parte dos editores, não foi certamente aleatória, mas tampouco pautou-se por algum critério de representatividade. Em todo caso, acredito, o trabalho tem um pouco a cara de nosso Curso, entrevista por esta Fresta.
Otavio Leonídio Coordenador Acadêmico do CAU PUC-Rio