Revista ZION

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E-sports A era do videogame e dos esportes online

Fake News A desinformação diária dos portais na internet.

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Relacoes Virtuais Como anda o comportamento humano no mundo digital

Vaporwave O movimento e a

estética do ambiente online

Edição nº 1 . Janeiro 2018. Revista Zion ~a revista impossível

ZION


~redação 執筆

.Expediente Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” FAAC - Faculdade de arquitetura, artes e comunicação. Diretor: Prof. Adj. Marcelo Carbone Carneiro. Vice-diretora: Prof.ª Dr.ª Fernanda Henriques. Reitor: Sandro Roberto Valentini. Vice-Reitor: Sérgio Roberto Nobre. Departamento de Comunicação Social. Chefe: Profª. Adjª. Maria Cristina Gobbi. Vice-chefe: Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura. Curso: Comunicação Social - Jornalismo. Coordenadora de curso: Profa. Dra. Angela Maria Grossi. Subcoorndedor de curso: Prof. Dr. Maximiliano Martin Vicente. Disciplina: Jornalismo Impresso III . Docente: Prof. Dr. Mauro de Souza Ventura. Disciplina: Planejamento Gráfico e Editorial em Jornalismo III. Docente: Prof. Pedro Zambon. Diagramação: Danilo Lysei e Vandressa Veline Edição e Revisão: Mariana Mesquita, Nathalia Cunha, Matheus Souza e Thomás Garcia. Website: Ângelo Matilha, Daniel Sakimoto e Helena Ortega.

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Em um mundo cada vez mais conectado, a cultura se funde e cresce por dentro dos computadores. Percebendo isso decidimos que não poderíamos deixar passar sem registro tanto conhecimento por dentro da Web. A Zion busca mostrar para o público aberto que a internet vai muito além das redes sociais, e apesar dos malefícios, grandes bens são gerados simultaneamente. O nome Zion, Sião em inglês, tem sua origem na Bíblia. É o nome de uma cidade perto de Jerusalém e para alguns cristãos, seria a única cidade possível de se habitar após o Armagedom. No universo de Matrix, um mundo habitado e coordenado por apenas máquinas após a guerra da tecnologia contra os humanos, a cidade sobrevivente carrega o nome Zion e se localiza no centro da Terra.

~editorial

.ZION

編集

Traçando um paralelo com nossa revista, procuramos mostrar que talvez esta guerra já esteja acontecendo, não contra as máquinas, mas dentro delas. Contra nós mesmos, o tempo todo. A humanidade muitas vezes se aproxima da barbárie e é nosso dever nos concentrar contra isso e uma forma de fazer isto é informando. O jornalismo, em seu cerne, busca mudanças. Aqui, na Zion, não é diferente. Não há uma proposta em si, mas sim contínuas denúncias e explicações do que está acontecendo a cada minuto de baixo de nossos narizes ou dentro dos nossos smartphones. Não está sintonizado? Então seja bem vindo a Zion e embarque na cibercultura digital.

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~índice

索引

streamer

linguagem digital

silk road

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4

32

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movimento antipornografia

90

vaporwave

64

jornalismo alternativo

60

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CIBERCULTURA: ´ o indivIduo em rede

· Danilo Lysei

Sociedade, cultura e novas tecnologias na era da informática. Atualmente é impossível dissociar sociedade e tecnologia. Gradativamente o indivíduo se mostra mais inserido em rede do que em qualquer outro local, real ou virtual, que possamos imaginar. A idade moderna em migração a contemporânea permitiu com que a

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tecnologia potencializasse qualquer forma de relacionamento pessoal no mundo. Tente imaginar alguma coisa, atividade, produto ou até relação que possa não estar ainda inserido no mundo virtual? Difícil, não é!? Para alguns é o fim das relações pessoais físicas, fim do encontro, da ativida-

de pessoal. Para outros é o avanço da comunicação, é a aproximação a tudo e todos, é a realidade aumentada. A palavra cibercultura surgiu como vocábulo neste momento da emergência tecnológica, uma vez que o seu significado


.Transformações de costumes

Glenn Carstens

engloba o termo “ciber”, diminutivo de cibernética - a ciência voltada para a tecnologia, e cultura, relação de costumes e valores em sociedade. Em um sentido mais sociológico, a cibercultura se constituiu como uma forma de nomear toda a transformação que aconteceu em sociedade com o advento das novas mídias e tecnologias.

Há alguns anos, quando as pessoas desconheciam a internet e quando ainda nem se discutia tanto a tecnologia, pessoas agiam com a mais próximo instinto animal do ser humano possível: elas interagiam pessoalmente. Fazer novos amigos, conhecer um outro alguém, matar a saudade, encontrar um familiar, eram atividade que exigiam uma locomoção física, um contato pessoal e real, um toque. A gente ia a festas, restaurantes, praças, cinema. A gente sentia, olhava, tocava, sentia cheiro, sabor, a vida era presencial. Estamos numa era que muitos desses feitos vêm sendo substituídos pelo advento de uma cibercultura transgressora, que adentra cada dia mais nas maneiras de ser e agir do indivíduo ser humano. É uma tecnologia que, através de alguns clicks, permite o contato a distância com qualquer um, em qualquer lugar. Ela rompe barreiras físicas, morais e virtuais. Permite sentir, sem sentir; alcançar, sem alcançar; estar, sem realmente estar e até ser, sem realmente ser.

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“É difícil pensar a sociedade moderna sem as redes sociais, todo mundo está conectado o tempo todo. Se contar o tempo que a gente gasta dentro e fora delas, a gente praticamente vive uma outra vida lá dentro”, diz Luccas Quadros, 21, graduando em Ciências da Computação. Ele, que estuda essa ciência, utiliza dos meios e indivíduo imerso em rede diz não se enxergar sem o uso da tecnologia para se relacionar, comunicar ou viver, devido a geração em que se encontra. Em contrapartida, Aldine Campos, 24 anos, nascida no período de transição tecnológica, enxerga que os relacionamentos atuais precisam acompanhar a quantidade de tecnologias criadas e toda essa demanda da era digital, pois o indivíduo se tornou dependente desse meio. “Há pessoas que se conheceram na internet que se conhecem melhor que dois vizinhos que trabalham o dia todo e não conseguem se conversar. A profundidade das relações hoje depende mais das pessoas envolvidas do que da tecnologia”.

.Ser virtual x ser humano O surgimento da internet, dos computadores, dos smarthphones, até hoje ao famoso WhatsApp permitiu entre as pessoas a criação de uma cultura de

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comunicação virtualizada e acelerada. Os relacionamentos se resumem a emotions, likes, calls e posts, os encontros se resumem em videocalls e os amigos são agora aqueles vinculados a sua agenda telefônica do Google. Um perfil parealelo ao que a ciência chamou um dia de ser humano. Trabalhar também se moldou a era digital e virtual. Quem acreditaria que seria possível trabalhar sem sair de casa!? A maioria das atividades que incluem o trabalho em grupo, as conversas, discussões e execuções, hoje são centralizados em canais de comunicação virtual, plataformas organizacionais, entre outros meios. Até mesmo a linguagem foi alterada. Trabalhar se tornou sinônimo de sintonia à tecnologia, ao factual, ao imediato, ao multipluralismo, ao indíviduo antenado e dinâmico. E há quem diga que essa seja a era mais avançada do que se pode dizer trabalho. O consumo do conhecimento, da informação, da literatura e do entretenimento, ao mesmo tempo que se mostraram mais fáceis, mais alcançáveis e mais aprofundados, também se viram imersos ao subjetivo, ao contestável, incerto e raso. O ser permite, consente e usufrui diariamente de formas de pensar irreais que enaltecem a cultura tecnológica e substituem a atividade biológica do cérebro humano.

A proporçã de homen usando a inte é superior à mulheres e dois terço dos países mundo.

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Em 104 paises, mais de 80% da população jovem possui acesso a internet.

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Quase 9 dos 10 jovens sem acesso à internet vivem na Ásia, África ou Pacífico.

Enquanto o número de habitantes do Brasil é de 204 milhões, o número de celulares é de 276 milhões, o que torna o celular o principal meio de acesso à internet no país.

As assinaturas de banda larga móvel cresceram mais de 20% anualmente entre 2012 e 2017.

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A CRIPTOMOEDA que moderniza a corrida do ouro

Divulgação

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· Ângelo Matilha

Com um sistema de validação distribuída, Bitcoin elimina necessidade de um intermediário e cria novo modelo de transações financeiras 11


Nos últimos meses, ficou evidente o destaque dado pela mídia ao Bitcoin, uma criptomoeda que tem se valorizado exponencialmente. A moeda digital ganhou a atenção dos bancos, investidores e empreendedores em geral devido à redução de custos e o anonimato oferecido. Esse novo modelo de transações, apresentado em 2008, está longe de ser uma solução para nossos problemas econômicos, mas com certeza inicia uma ruptura em certos padrões há muito tempo utilizados no mercado financeiro.

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.Terceira parte 三番目 Se você já iniciou sua vida adulta, provavelmente já foi obrigado a realizar transferências de dinheiro à distância através de moedas tradicionais (Real, dólar, etc), chamadas fiduciárias. Nesses casos, é necessária a existência de uma terceira parte, como os bancos, por exemplo, que são instituições financeiras regulamentadas incumbidas de garantir a segurança e impedir fraudes durante a transação. Em situações como essas, segundo o Doutor em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jonathan Doering Darcie, “o que temos são papéis cuja confiabilidade reside, como o próprio nome já indica, na fé que temos - ou que a lei nos obriga a ter - nos bancos centrais que as emitem. Qualquer um que lida com moeda fiduciária, seja em espécie ou através de players do mercado financeiro, vê-se a todo o momento diante da necessidade de fazer incontáveis outras checagens”. As verificações de segurança vão desde “verificar se uma cédula é verdadeira ou falsa; verificar se um banco, corretora ou qualquer outro participante do mercado financeiro é ou não sólido o suficiente para que nele sejam depositados seus recursos”, como exemplifica Jonathan.


.Blockchain Dentro desse contexto, um dos grandes diferenciais do Bitcoin é a garantia de se realizar transações sem a existência de uma terceira parte singular, e ainda assim ter a segurança de seus dados e do dinheiro transferido. Tudo isso através de um método de confiabilidade distribuído chamado Blockchain. “Através do Blockchain, saldos ou transações na moeda são validadas ao mesmo tempo por milhares de computadores ao redor do mundo, sendo que a confiabilidade desse sistema todo

decorre não de fé ou algo do tipo, mas da robustez de algoritmos de criptografia já validados por toda a comunidade como seguros”, expõe o especialista.

.Mineração e valor Mas, se não há a existência de um Banco central, responsável por emitir notas e controlar o valor da moeda, de onde vêm o Bitcoin? A resposta está em qualquer aparelho eletrônico capaz de resolver problemas matemáticos complexos, com regras definidas por um software a ser baixado no computador. Esse processo é chamado de mineração. O programa cria uma rede de computadores que decifram códigos com valores criptografados pelo próprio software. A máquina que decifra primeiramente o código matemático recebe uma recompensa, que, no caso, é um valor em Bitcoins. Após essa etapa, todos os outros computadores

(conhecidos como “nós”) são informados e verificam o pertencimento daquele Bitcoin à máquina que solucionou o problema. Para garantir a distribuição dessa informação, o Blockchain gera um livro de registros com cada uma dessas transações em ordem cronológica e as disponibiliza para todos os outros aparelhos. Com esse material, fica possível confirmar a veracidade da atividade financeira. Os “nós”, que nas moedas fiduciárias seriam as entidades financeiras, se tornam diversos aparelhos que validam e mantém as transações seguras ao mesmo tempo. Segundo o Doutor em Engenharia de Sistemas e

Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlo Kleber da Silva Rodrigues, existem métodos rígidos estabelecidos pelo sistema Bitcoin. “O Bitcoin é um sistema implementado em software. Ou seja, existe um protocolo de comunicação com regras definidas e rígidas para sua operação. A validação de uma transação se dá pela solução de um problema matemático criptográfico. Resolver esse problema é a chamada mineração. Há a regra no sistema de que quem conseguir resolver esse problema recebe uma recompensa do sistema. Essa recompensa é uma certa quantidade de bitcoins”, expõe Carlo.

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.Anonimato Outro triunfo atribuído ao Bitcoin é preservar a identidade dos envolvidos na transação. Isso se dá por que o indivíduo não é identificado pelo CPF, nome, RG, ou qualquer outro registro formal, e sim como uma série de dados matemáticos. Contudo, os especialistas detalham que o anonimato não signifi-

ca que as atividades através do Bitcoin não deixam nenhum rastro. Rodrigues explica a diferença entre as duas concepções. “O anonimato se dá porque clientes são vistos apenas como números criptografados, isto é, por meio de suas assinaturas digitais, com fins exclusivos de confirmação

de autoria, propriedade e/ou concordância, sem a identificação nominal. Isso preserva a inteira privacidade (anonimato) dos clientes” diz. “Já o rastro deve ser entendido como o mapeio da origem da transação, mesmo que seja por meio de números criptografados. Ou seja,

.Sem nome, sem julgamento? As transações anônimas trouxeram consigo a ideia de que seriam favoráveis à realização de tarefas ilícitas, afinal, deixa-se de ser identificada uma conta bancária com registros institucionais. Na realidade não é bem assim. Jonathan Doering afirma que os riscos para quem realiza atividades ilegais através dos Bitcoins é até maior do que em dinheiro.“As transações em

Bitcoins deixam tanto rastro que você conseguiria rastrear uma moeda qualquer do seu proprietário atual até o seu primeiro proprietário, tudo de forma pública e sem qualquer tipo de dúvida. É curioso notar como se criou esse mito em torno do Bitcoin, o mito de que elas de algum modo favorecem atividades ilegais. Trata-se de um verdadeiro mito: uma transação em bitcoins é muito mais rastreável

do que uma transação em dinheiro”, explica. Segundo o jurista, o Brasil, diferente de países como o Japão, ainda não regulamenta e reconhece as criptomoedas como forma de pagamento. No entanto, não existem obstáculos jurídicos para que possam ser negociadas, compradas e vendidas, e já são reconhecidas pelo Código Civil Brasileiro como bens.

.Tempos não tão remotos Em 2008, enquanto o mundo vivia o auge das mazelas causadas pela crise do sistema especulativo, o Bitcoin foi apresentado no grupo de discussão The Cryptography Mailing, frequentado principalmente por programadores. Sob o pseudônimo de Satoshi Nakamoto, seu(s) criador disponibilizou o que

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viria a ser o primeiro sistema de moeda digital e descentralizada utilizada mundialmente. Apesar da proporção histórica que o Bitcoin atingiu, a verdadeira identidade de seu criador é um mistério. Jornalistas de todo mundo já tentaram rastrear seu idealizador, e as especulações são

muitas, mas nenhuma conclusiva. Até mesmo um japonês naturalizado americano, curiosamente chamado Satoshi Nakamoto foi identificado. O engenheiro da computação, contudo, negou ter qualquer envolvimento com o sistema Bitcoin. Muitos já alegaram ser a pessoa por trás do pseu-


.Blockchain é possível dizer quais números criptografados estão relacionados a que transações. O que é difícil é dizer quem (nome, CPF, identidade etc.) está relacionado àqueles números criptografados” completa Carlo.

“Uma transação em bitcoins já é tributada no Brasil pelo ganho de capital. Sempre que você compra a moeda e a vende como ágio, ou seja, vende por mais do que você pagou, observada a legislação tributária, você tem que pagar imposto de renda na modalidade de ganho de capital”, finaliza.

Além do anonimato, o fato de o Bitcoin não demandar a existência de uma terceira parte é capaz de reduzir os custos e os problemas de confiabilidade do mercado financeiro. No artigo Sistema Bitcoin: uma análise da segurança das transações, o Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlo Kleber da Silva Rodrigues explica que a necessidade da mediação de disputas entre as partes envolvidas gera incertezas e encarece significativamente o processo como um todo. Isso porque as taxas cobradas pelo intermediário aumentam os preços das transações, e a confiança em um sistema criptografado e eletrônico é muito mais garantida do que a existente em sistemas econômicos que possuem interferência humana. Segundo Jonathan Doering, Doutor em direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): “compare uma remessa internacional via Swift com uma transação através de Bitcoin e você verá se materializar o tamanho das diferenças entre um e outro”, sugere.

dônimo, e muitos outros já foram rastreados sob essa suspeita, mas nenhum definitivamente pôde ser provado como criador. De uma forma ou de outra, é bem provável que Satoshi tenha preferido manter para si um dos princípios básicos que cerceiam a criptomoeda: o anonimato.

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adentrando o mundo da

Deep Web

¡ Mariana Mesquita


O uso frequente da Deep Web instiga a discussão sobre a camada mais profunda da internet Conhecida por seu caráter secreto, a Deep Web é uma parte da internet não acessível diretamente por sites de busca. Nasceu de uma necessidade real de proteção de conteúdos confidenciais, como os de governos, empresas e bancos, que só seriam acessados caso houvesse um login. Nascida no Laboratório de Pesquisas da Marinha dos Estados Unidos, a The Onion Routing, futuramente conhecida por Deep Web, surgiu com o ideal de tratar de propostas de pesquisa, design e análise de sistemas de comunicação. Em um segundo momento, esse espaço foi disponibilizado para utilizações não governamentais e desde então só foi evoluindo.

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~ dark web

ダークウェブ

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Dentro das profundezas da Deep Web, existe uma camada acessada por navegadores específicos que é conhecida por Dark Web. Na parte que podemos considerar mais “acessível” encontra-se trabalhos acadêmicos, fóruns, estudos, bibliotecas virtuais e tutoriais. Já na Dark Web, o lado mais obscuro, é um ambiente que por não ser indexado é necessário um software para o acesso, o que proporciona um ambiente suscetível para crimes como lojas virtuais de drogas, pornografia infantil, vendas de armas e tráfico de pessoas. Também é nesse mundo que organizações como Wikileaks e Anonymous nasceram e são a favor do ambiente livre e democrático que a deep web proporciona. Entretanto, muito cuidado é pouco! Quando você acessa a internet na sua camada superficial, ou seja, normalmente, o seu IP é identificado ao se conectar com um servidor. Com o Tor, navegador necessário para acessar a deep web, isso não ocorre, pois entra em cena uma rede anônima de computadores que fazem pontes criptografadas até o site desejado. Logo, é praticamente impossível chegar no IP do usuário. Logo, devido o poder do anonimato, o Tor, ganhou força e apoio de grupos pró-liberdade de expressão, pois a partir dessa ferramenta era possível dar voz a todos. Entretanto, isso tem um custo: campo minado. Em conversa com o programador e bacharel em sistemas de informação, João Pedro Schias disse que já acessou a deep web e deixa um conselho para quem for tentar acessar: “O uso da deep web não me trouxe problemas porque eu tomei as devidas preocupações. Porém, não recomendo ninguém utilizar, somente se a pessoa tiver algum tipo de conhecimento em informática, pela própria segurança dela”.


~segurança

セキュリティ

Devido à falta de filtros de segurança, o perigo de usuários se prejudicarem dentro dessas camadas da internet é grande! Facilmente é possível zumbificar o computador de um internauta, ou seja, um hacker poderia controlar a distância o seu computador sem que você note e, consequentemente, sua segurança e dados ficariam em risco. Além disso, os maiores vírus da internet são testados na deep web, portanto, mantenha seu antivírus e firewall atualizados. Por isso, caso você for acessar essa parte da internet, tome cuidado: crackers adoram usuários descuidados. Outra dica importante para quem quer explorar esse mundo é ter o inglês na bagagem. É importante se atentar a tudo que está escrito e tudo na deep web está em inglês. Por mais que a deep web seja um campo minado e permita o anonimato, o advogado especializado em crimes digitais, Fernando Peres, deixa claro: frequentar a deep web não é crime! O fato de estar na deep web não é crime, é apenas a não indexação nos mecanismos de busca. Entretanto,

caso um usuário acesse a deep web e compartilhe conteúdos criminosos, como pornografia infantil, ele poderá ser indiciado a crime de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente. O advogado acrescenta que os crimes ocorridos na rede anônima são tratados com a legislação comum, pois o usuário deve ser indicado como se tivesse praticado o crime fora da rede. A Zion conversou com um usuário, que não quis se identificar, que frequenta há mais de 4 anos a Deep Web, em busca de fóruns ou lojas. Para ele, tudo que você procurar, você vai encontrar na Deep Web e tudo que você encontrar, saiu primeiro lá: “Acredito no viés libertário da Deep Web e por isso ela existe até hoje, crescendo e tendo cada vez mais debates sobre ela. Ela não é um espaço macabro, é um espaço de privacidade e sigilo, coisas que não conseguimos na internet”. Um ambiente anônimo, arriscado, porém de aprendizado. A deep web cresce e proporciona cada vez mais um espaço de conhecimento e liberdade, despertando cada vez mais usuários a conhecer as profundezas da web.

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SILK´ ROAD:´

a histOria por trAs do ´ trAfico online

Kaboompics

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· Nathalia Cunha e Vandressa Veline

O comércio, exportação e contrabando de drogas no conforto do lar 21


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として

Desde o surgimento da internet comercial no Brasil em 1995, ela vem crescendo com bastante significação no mundo e no Brasil. Segundo um estudo feito pela Veja.com em 2016, “4,2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso à rede...no Brasil, 98 milhões de pessoas não têm acesso à internet”. Em contrapartida o número de pessoas que não possuem acesso a rede no Brasil diminuiu. Um estudo recente encomendado pela Internet.org e disponibilizado no site da terra.com, diz que “cerca de 70,5 milhões, ou seja, 1/3 da população- não possui acesso à internet, seja por banda larga, móvel ou fixa. As informações foram divulgadas pela revista britânica The Economist”. Sendo assim, fica subentendido que não são todas as pessoas que fazem uso de internet, entretanto isso não inviabiliza o grande uso dentro do mercado negro. De acordo a União Internacional de Telecomunicações (UIT), a porcentagem da população dos Estados Unidos que fazem uso de internet é de 88,2 %, o que equivale a 286,942,362 de usuários de internet. Nem todos que tem acesso à internet, fazem ligeiramente uso de plataformas e servidores específicos para compra ou venda de objetos ilícitos na internet.

何ですか

Enquanto a grande maioria das pessoas utilizam a internet para uso acadêmico, entretenimento, informações ou venda e compra de produtos, existem usuários que utilizam a internet para crimes virtuais, seja por meio de servidores específicos ou programas que escondem o IP do computador. É o caso que iremos abordar a seguir. Até que ponto o que fica escondido na obscuridade da internet pode ser lícito, e como o Estado pode ter controle do que é moral, ético e correto nesses programas?

~o que é? ~como funcionava?

.Histórico

Em 2011, um novo tipo de mercado online foi criado, em paralelo à Amazon e ao eBay. Diferente desses mercados que vendem livros, objetos, maquiagem, eletrodomésticos e colecionáveis, a Silk Road vendia, acima de tudo, drogas. Para acessá-lo, você precisava de um software especial criptografado, afinal seu hospedeiro era na Dark Net (a camada da internet além da superfície). O pagamento era feito sempre em Bitcoin (moeda digital). Esta moeda tem seu valor baseado em apenas fatores do mercado, desapegado de qualquer banco central conhecido do público aberto. O criador da Silk Road, Ross Ulbricht, em sua página de Linkedin, escreveu que queria “usar a teoria econômica como um meio de abolir o uso da coerção e da agressão da humanidade”, seguindo os valores do Liberalismo econômico. Também era feita de forma 100% anônima, através do navegador Tor, como explicou Ulbrich “A ideia era criar um site onde as pessoas pudessem comprar qualquer coisa de forma anônima, sem qualquer trilha que pudesse voltar para eles”. O site permitiu que milhares de traficantes fizessem suas transações diariamente, e quase 1 milhão de clientes mundiais se encontraram com suas drogas de escolha no domínio familiar do comércio eletrônico. No período entre 2011 a 2013, a Silk Road conseguiu acumular mais de 1 bilhão de dólares em vendas. As primeiras transações do site foram feitas pelo próprio Ross Ulbricht, que tratou seus próprios cogumelos alucinógenos e em poucos dias vendeu 10kgs e depois disso outros vendedores começaram a se juntar. Ele lidava com todas as transações à mão, o que era bastante demorado. Não demorou até que vendedores e usuários suficientes o tornassem um mercado em funcionamento crescente.


売買

~o que vendia? quem vendia? quem comprava?

Seu braço direito, Curtis Green, era um senhor de 47 anos de idade, mórmon, e residente de Utah. Curtis possuía conhecimento aprofundado sobre fármacos, e passou a escrever “O Guia do Vendedor”, a pedido de seu “patrão” Ross Ulbricht, que usava o pseudônimo de DPR (Dread Pirate Roberts). Neste Guia, era encontrado instruções de como selar as drogas a vácuo para passar pelos sensores eletrônicos e olfatos caninos dos Correios. A maioria das mercadorias chegou sem grandes problemas aos clientes felizes. A lista de mercadorias era extensa, e cada dia crescia mais. Chegou a ter dezenas de categorias, com mais de 13 mil listagens. Cocaína colombiana pura, heroína afegã nº 4, Strawberry LSD, Caramello Haxixe, Mitsubishi MDMA branco, uma heroína de alcatrão preta denominada “Alcaçuz do Diabo”. Os medicamentos de prescrição não ficavam de fora. Xanax, Oxycontin, Dilaudid. Era possível fazer a revisão e a descrição da mercadoria, formando assim uma grande enciclopédia. Ulbricht era um liberal, e portanto acreditava o uso de drogas era uma escolha pessoal. E, como todas as pessoas que pararam para prestar atenção, percebeu que a guerra às drogas era um fracasso. Por que não se aproveitar disso?

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~problemas

問題

Contudo, o foco era no 1% dos usuários do site que eram vendedores e moderadores, portanto os “culpados” de todo o tráfico. Uma vez na cadeia, poderiam abrir uma porta para para as comunicações privadas do site. O alvo principal era, com toda certeza, o misterioso DPR, o proprietário do site, que agora eles dizem ser Ross Ulbricht, de 29 anos.

Contudo, contradito- A caçada até Ulbririamente, Ulbricht estabe- cht começou com uma dica leceu um código de ética. anônima. Um informante Alguns usuários não viam contou à polícia sobre a Silk problema em vender ór- Road e como funcionavam gãos, como rins ou fígado, as transações, a rede Tor ou encomendar um assas- e o Bitcoin. Explicou sobre sinato, afinal tráfico é um as vendas de cocaína, LSD, crime igual a estes, mas o heroína, número roubados administrador criou um có- de cartões de crédito, IDs digo de conduta para o site. falsos, ferramentas de ha Para chegar até UlNenhuma pornografia in- cking entre outros. bricht, uma série de prisões fantil, bens roubados ou falprimárias foram feitas. Não sificações de cartão: nossas há informações profundas “A regras básicas são tratar os para a mídia outros como você deseja ideia era criar divulgadas como fizeram isso, mas ser tratado e não fazer suspeitam que foi feita de um site onde as nada para machucar ou enganar alguém”. pessoas pudessem com- forma ilegal através do acesso de um IP de ouDe início as regras prar qualquer coisa tro país. Com 6 meses foram seguidas, mas com o passar do tem- de forma anônima, sem de investigação, o primeiro alvo foi preso em po e o aumento do tráfego do site, ficou qualquer trilha que Baltimore. Se chamava cada vez mais difícil fre- pudesse voltar para Jacob Theodore, tinha 32 anos e participava do site ar este tipo de transação. eles” - Ross desde 2011 sob o nome “digitalink” e era um dos me Depois de um ano em Ulbrich lhores vendedores de drofuncionamento sem grandes problemas, a Silk Road A dica veio gas no site. Jacob vendia passou a preocupar cada seis meses depois do lan- heroína, quinina, metilona. vez mais a agência de Inte- çamento do site e gerou Ele havia sido preso previaligência dos Estados Unidos. uma força-tarefa em Bal- mente em 2005 por operar O tráfico de drogas e ou- timore: a operação “Mar- golpes através do eBay. tros crimes aconteciam em co Polo”, que contava com Em julho de 2011, um frente aos seus olhos e sem o FBI, US Postal Inspection, grandes problemas, e pa- DEA, IRS entre outras enti- dos seus pacotes foi inreciam intocáveis. Nenhum dades. Logo depois a ope- terceptado nos correios, a endereço IP, nenhuma pri- ração cresceu, tendo sede substância era metilona, são. Uma força tarefa foi também em Nova York e que não era, tecnicamente, criada com diversos hacke- Chicago. Inúmeros pacotes ilegal. Jacob não desistiu e rs e agentes, mas parecia suspeitos começaram a ser tentou recuperar seu pacoque o administrador co- apreendidos em alfândegas te com uma ligação para nhecido apenas como DPR no país inteiro, que servi- os correios, explicando que e seus usuários eram iguais ria como provas mais para na verdade iria usar a metilona em seu jardim. Jacob fumaça. frente.

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descreve que os agentes se sentiram quase “aliviados” e disseram que iriam reenviar assim que fosse possível. Seus colegas de Silk Road desaprovaram sua atitude, afinal ele havia fornecido vários dados, como seu endereço. Em 2012, alguns compradores reclamaram que seus pedidos nunca chegaram. Digitalink tomou as dores dos compradores para si e escreveu irritadamente: “Fui queimado quatro vezes, roubado uma vez e aguento o drama da Silk Road e todos os trolls. Nós colocamos nossa liberdade na linha para trazer seus produtos. Você sabe, eu tenho uma família, crianças e não sou um pixel”. Seis meses depois de ter se juntado à Silk Road, ele foi preso em Maryland. Os inspetores postais tinham contatado o FBI sobre o pacote suspeito. Sua prisão não consistiu em “tirar mais um traficante das ruas”, mas sim uma porta para acumular mais informações sobre o site e caminhar um pouco mais perto em direção ao DPR. Uma vez dentro da conta de Jacob, os agentes se depararam com e-mail, registros de frete e detalhes das transações. A prisão foi mantida em segredo, para não espantar os outros vendedores.

Sergey Zolkin

Kaboompics

Chris Nguyen

Um agente secreto estava trabalhando infiltrado como um traficante de cocaína na Silk Road na tentativa de construir um rela-

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cionamento com Dread Pirate Roberts. Este o encaminhou para um administrador que o ajudaria a fazer as vendas. Um dos vendedores do site finalmente comprou 1kg de cocaína do agente, que o levou até Curtis Green, o braço direito de Ulbricht (DPR). Junto com ele, mais informações sobre as transações, contas de Bitcoin de usuários e administradores: incluindo a conta do suposto proprietário da Silk Road. Contudo, DPR descobriu de alguma forma sobre a prisão de Green. Temendo que seu administrador o dedurasse, DPR perguntou ao agente secreto que ainda se apresentava como traficante se poderia assassinar Green. O valor seria 40 mil doláres antes adiantados e depois mais 40 mil. Os investigadores encenaram a tortura e a matança com fotos que eles disseram ser de seu cadáver. Ao mesmo tempo que outras prisões foram feitas, as autoridades se aproximavam de Ulbricht ao interceptarem algumas identidades falsas que ele encomendou online e identificaram uma empresa de hospedagem no exterior usada para hospedar o site da Silk Road e obteve uma imagem do servidor, dando-lhes acesso a todas as mensagens privadas no site. Em São Francisco Ulbricht foi preso, sob as acusações de conspiração, lavagem de dinheiro e conspiração para cometer assassinato. Os investigadores dizem que há pelo menos meia dúzia de outras prisões atualmente em andamento. Além disso, os Inspetores postais e os agentes alfandegários e de proteção de frontei-

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ras dos Estados Unidos apreenderam pelo menos 3.000 pacotes suspeitos que as autoridades dizem que podem estar ligados à Silk Road. Assim que Ulbricht foi preso, Silk Road saiu fora do ar e muita gente se revoltou com isso. Os maiores defensores da existência do mesmo são membros da chama “direita alternativa”, ou simplesmente “alt-right”, que seguem cegamente a ideologia chamada “anarco capitalismo”. Normalmente não aceitam ser enquadrados dentro da direita, apesar de serem muitas vezes apoiadores de grupos de extrema direita fascista norte americana e marcharem lado a lado com eles. Em entrevista Dominic Easton, membro do grupo Anarco Capitalista do facebook e profissional de segurança cibernética, tenta diferenciar os grupos. “Existem, no entanto, pessoas dentro dos nossos grupos que se chamam anarcos-capitalistas mas seguem o alt-right, acreditam nas fronteiras e assim por diante e essas pessoas honestamente arruinam o movimento. As pessoas se infiltram no nosso movimento e tentamos o nosso melhor para fazê-los ou convertê-los em nosso sistema de crenças, mas, infelizmente, não podemos chegar a todos”. Dominic complementa e explica o que significa o termo anarco capitalista. Segundo ele o anarco deve-se ao conceito de eles estarem contra as fronteiras do governo, “Acreditamos que as pessoas têm o direito de viajar livremente e que ninguém tem o direito de impedir que alguém entre em terra pública, acreditamos que as únicas fronteiras são fronteiras de propriedade pessoal, mas,


além disso, qualquer pessoa a qualquer momento é livre para entrar em um país e reivindicar terras”, quanto a parte do capitalismo “estamos nos referindo ao direito do livre comércio não regulamentado, acreditamos que ninguém tem o direito de roubar ou proibir que alguém participe de uma transação voluntária”, diz.

maneira como os governos alcançam isso é através da violência, prendendo aqueles que estão fazendo esses negócios, destruindo seus negócios e se eles resistem, atacando e matando. Então, enquanto o “mercado livre” passa a ser o termo mais amplamente aceito, considero que o “comércio natural” ou a “economia natural” são mais precisos”.

Quando perguntamos a Dominic se ele teria problemas com o fato de haver comércio de drogas ou seres humanos, ele nos diz: “ Drogas, armas e qualquer outra coisa que seja considerada ilegal ou seja regulada por muitos estados em todo o mundo, acreditamos que não deveria ser proibida, as pessoas têm o direito de colocar o que querem em seus próprios corpos e as pessoas também têm o direito de proteger eles próprios daqueles que não querem seguir o Princípio de Nenhuma Agressão”.

De qualquer forma, quatro semanas após o fechamento do site, o “Silk Road 2.0” foi lançado. O mesmo esquema, através do Tor e Bitcoins. O boato é que assim que Ulbricht desconfiou que logo seria preso, vendeu o site mais rápido possível. O novo dono se auto denomina “DPR 2”, como uma forma de se legitimar e continuar o comércio. O segundo DPR diz que o site é mais seguro agora, e que nada nem ninguém pode freá-los, apesar de que algum tempo depois foi derrubado novamente. Nos dias atuais, podemos identificar três grandes mercados ilegais: Silk Road 3.0, AlphaBay e Hansa. Como diz a antiga lenda grega, se arrancar a cabeça da fera, nasce outras duas no lugar.

Somado a isso, ele acredita que o mercado negro é o mercado verdadeiramente livre, e caso fosse instalado na “internet de superfície” seria parecido como a maneira como aconteceu com o Silk Road. Em outra entrevista Allen Young que trabalha no tratamento de água e esgoto nos Estados Unidos. Segundo Allen, tudo se tratava mais da liberdade de comércio, porém o Estado procura sempre limitar por isso que foi encerrado. Segundo ela, “A questão do mercado livre é que é o estado natural do comércio. Todos os negócios são operações de mercado livre até que um governo decida restringi-lo, taxá-lo e legislar. A

O tráfico de drogas está se adaptando à modernidade, e o sistema de justiça vigente é ultrapassado e está se mostrando cada vez mais ineficaz perante aos novos criminosos, que estão munidos de algo muito mais perigoso que armas de fogo, e muito mais difícil de deter: o anonimato. Enquanto um é preso, vários outros pipocam em seu lugar. Resta saber se, daqui pra frente, haverá de fato algo que consiga transformar a terra sem lei da deep web em algo dentro dos parâmetros legalmente e socialmente aceitos.

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CD MP3 E STREAMING: ~ ~

a evolucao no mundo da ´ musica

· Matheus Souza


A rapidez na mudança das tecnologias de reprodução musical complica a indústria fonográfica. O Compact Disc, mais conhecido como CD chegou às lojas nos anos 80 conquistando o mundo da música e seus amantes, tanto pela qualidade do som superior à da fita cassete, quanto pela praticidade de uso que a nova plataforma trouxe, muito mais fácil de se usar do que o vinil. Entretanto, o MP3 surge pouco tempo depois, trazendo ainda mais facilidade para o compartilhamento de arquivos via internet, fazendo com que a indústria fonográfica começou sofra os primeiros abalos em suas estruturas físicas, com os CDs se tornando cada dia mais obsoletos. A partir dos anos 2000, o avanço na informática pôde oferecer uma internet mais rápida e um maior acesso à rede e então foi a vez da tecnologia streaming inovar o modo de ouvir música (e também colaborar para a queda nas vendas dos CDs). A nova plataforma surge em 1995, quando um jogo de futebol americano marcou a primeira transmissão ao vivo de vídeo e áudio através da internet, de que se tem notícia. O streaming funciona com o envio de informações em multimídia pela rede, permitindo que qualquer arquivo possa ser assistido enquanto se transmitem seus dados, sem que haja necessidade do conteúdo ser baixado com antecedência.

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~hoje em dia

今日は

De acordo com a Recording Industry Association of America (RIAA) – a Associação da Indústria Fonográfica Americana – hoje em dia a venda de música pelo streaming ultrapassa os formatos físicos de reprodução. A tendência é que a ferramenta se torne a principal fonte de renda desse mercado, que ainda é liderado pelo download legalizado, onde o usuário paga por arquivo escolhido e o baixa para seu dispositivo. O engajamento do público às novas formas de distribuição de conteúdo musical resultou não só no declínio do mercado dos CDs, mas também em uma preocupação das produtoras em fazer um produto adequado aos novos sistemas. Como o exemplo das gravadoras, que se viram na função de alterar toda sua estrutura - antes sustentada pela venda dos discos dos artistas contratados. O produtor musical, empresário e fundador da gravadora bauruense Valet’s Records, Emil Shayeb, explica como funcionou esta mudança: “uma gravadora grande contratava um produtor musical, um estúdio, um marketing bom, e tinha dinheiro para fazer isso por causa da venda do CD. O show era pra vender CD, o clipe, pra divulgá-lo”. Muitos profissionais dependiam da gravadora, por ser o único ofício em que haviam trabalhado. “Muitos começaram a trabalhar novos e foram até uns 40, 50 anos; a hora que aquilo acabou ficou um monte de gente perdida, sem trabalhar, porque não souberam se adaptar ao mercado novo”, conta Shayeb. Na Valet’s Records o produtor adotou um modelo de setorização dos serviços, tornando múltiplas as fontes de renda e tornando possível se manter no mercado. “Nós abrimos o leque pra trabalhar, a gravadora é procurada por diversos fins: tem gente que procura pra marketing, outros pra produzir, outros para alugar o estúdio. Também não é uma gravadora que tem um estilo musical, nós fazemos todos os tipos de artista”, completa.

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~agragadoras

アグリゲーター

Uma outra manifestação que pode ser observada pelas mudanças estruturais trazidas pela tecnologia de streaming são as agregadoras – empresas que nascem com o objetivo de fornecer uma alternativa mais barata para os artistas divulgarem seus trabalhos, em contraponto aos pesados contratos com gravadoras. As agregadoras fazem o intermédio entre os músicos e as empresas de streaming (como o Spotify, Apple Music e o Deezer). A indústria musical está conseguindo superar a crise trazida por novas tecnologias, adaptandose ao novo mercado digital e ao seu público. Mas alguns aspectos ainda encontram complicações – antes da era digital, os artistas que conquistavam público conseguiam ganham muito dinheiro com a venda de música nas plataformas físicas, e hoje são remunerados por seus trabalhos com R$ 0,003 por

faixa digital tocada - valor que ainda é repartido entre funcionários como integrantes e os intermediários. O estudante de Design da Unesp Bauru, Murillo Rosa, que cria suas próprias músicas eletrônicas na plataforma online Audiosauna, expõe seu ponto de vista: “deveria haver um método de remuneração mais justo para os artistas, não visando o lucro, mas sim o custeamento das produções e equipamentos, que muitas vezes tem que sair do bolso”. Emil Shayeb tem uma visão mais ampla, considerando a quantidade de artistas que se aventuram no novo mercado: “Estamos lidando com dois tipos: uns que começaram a carreira agora, na geração do streaming, e os que vieram da anterior, que já estão estabilizados, podem vender show a 60, 80 mil, e conseguir sobreviver.”

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LINGUAGEM DIGITAL:-)

Eric Lucatero

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~

~ o meio de comunicacao ´ do seculo XXI · Vandressa Veline

O envolvimento, adaptação e dominação de uma linguagem completamente virtual 33


~como se informar?

情報

Com a internet surgiu a linguagem digital. Ela se caracteriza pela praticidade das palavras e pelo grande uso de emojis, expressões eletrônicas de reações de sentimento. Com a chegada da internet no Brasil em 1998 começou a se desenvolver as chamadas plataformas de redes sociais, como: orkut, msn, chat uol, myspace, dentre outros. O modo de se comunicar na internet é diferente de como se fala e logicamente de como se escreve. A variedade linguística online é mais aceita socialmente do que a falada. Na internet por tudo se tratar de rapidez, um erro de português eu a troca de um fonema por outro, não criarão necessariamente algum tipo de repulsa ou intolerância.

de educação e aprendizagem. Um estudo feito pelo professor Mauro Lopes Carvalho Silva do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão, abordou que a comunicação 1992, por meio do lançamento do handheld chamado Newton Message PAD (Personal Digital Assistant), pela Apple.

Nos anos 2000, surge o 3G (terceira geração), telecomunicação móvel sem fio (wireless), abrangendo a função de voz e dados em banda larga, logo em seguida surge a quarta geração, 4G. Essas tecnologias que se encontram ainda na atualidade e em constante progresso, são as plataformas de base que regem grande parte da sociedade brasileira. Hoje em dia é difícil não encontrar uma Somado a isso, o avanço da pessoa que não esteja inserida tecnologia móvel proporcionou es- nesse sistema de linguagem digital, paço para uma maior interação ou esteja começando a se inserir. entre internautas e a expansão da linguagem digital em todas as esfe- Nos dias atuais, diversas ras da sociedade, sejam os nativos ferramentas tomaram destaque digitais vs imigrantes digitais, como no meio social. As antigas perdem ressalta Marc Prensky, escritor e vez para novos aplicativos atualicriador de jogos nas áreas críticas zados e mais versáteis para o usu-

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ário, como o whatsapp, facebook, twitter e instagram. Dentro dessas redes, a linguagem pictográfica se destaca, que seria a linguagem representativa subjetiva das pessoas, ou seja, expressão de ideias por meio de símbolos, os famosos smiley/emoticon/emoji. Linguagem esta que já existe desde a pré-história.

ícone :-( para as sérias.Essa alavanca do professor diversas pessoas se sentiram motivadas a criar os mais variados tipos de emoticon, com vários caracteres especiais, como: (╯°□°)╯︵ ┻━┻. Em seguida, com os avanços tecnológicos, o emoticon foi usado não somente em e-mails, mas também em bate papos, como ICQ, MSN, dentre outros, subsequente assim para os dispositivos móveis, como celulares. Sendo assim, posteriormente se consolidou os emojis que são utilizados até hoje. Com surgimento no Japão nos anos 90, por Shigetaka Kurita, o emoji foi se desenvolvendo e se aperfeiçoando pelo mundo todo, até que a Apple foi a pioneira a aderir às figuras expressivas, em seguida incorporouse o sistema Android, pela Google e Microsoft.

De acordo com um estudo (Emoticons, emojis e ícones como modelo de comunicação e linguagem: relações culturais e tecnológicas) do Doutor na PUCPR, Gláucio Henrique Matsushita Moro, “Por um ponto de vista sociocultural, podem estar correlacionados a diversos elementos presentes não só no dia a dia, mas também na história. Pinturas rupestres, símbolos e brasões de famílias antigas, por exemplo, são imagens representativas que, de alguma forma, visam Sendo assim, cada vez mais a transmitir informação”. o ser humano viu a necessidade de uma comunicação rápida e expresO mais interessante é que o ícone siva. O uso desses caracteres com foi criado em 1982 pelo professor reações foi a solução para os mal Scott Fahlman, assistente de pes- -entendidos e a simbolização de quisa de ciência da computação uma emoção. O que poderia levar da Universidade Carnegie Mellon, horas e horas para ser escrito, hoje nos Estados Unidos, para resolver pode ser simbolizado pelos emojis. um mal entendido. Scott participa- O que antes era apenas uma comva de um grupo de discussão onli- plementação do próprio texto, hoje ne formada pelo departamento de em muitas redes sociais como por física da universidade. Por haver exemplo, o twitter, pode ser usada mal entendidos, ele propôs um íco- para uma postagem rápida, já que ne, um tipo de emoticon, chamado o máximo de caracteres que essa de smiley :-) para identificar uma rede suporta por postagem é de mensagem cômica de piada e o 140 caracteres.

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Os emoticons podem ser interpretados como 55% da nossa comunicação não verbal. Um estudo realizado por Thomas Dimson, engenheiro de software do aplicativo Hyperlapse, chegou a resultados surpreendentes: os queridinhos emojis correspondem a pelo menos metade dos comentários, legendas e hashtags postados no instagram. Finlândia é o país que mais usa emojis no Instagram. Os emojis estão 63% de tudo que eles publicam em redes sociais.

Em um artigo publicado no jornal The Guardian em 2016, um jovem anônimo reescreveu a Bíblia em uma linguagem de emoji, a Bíblia Emoji. No começo do livro está: “In the beginning God created the heaven and the earth, and then some time later x created emoji”. (No princípio, Deus criou o céu e a terra, e depois algum tempo depois xcriou emoji.). Uma das intenções do criador da versão atualizada, era facilitar a postagem de passagem, já que o limite de caracteres é pequeno. Esse fato só mostra como a linguagem digital já se estabeleceu no século XXI, e de como ela está se adaptando até na questão religiosa. Já que praticamente tudo hoje se adapta a internet, é interessante observar que paulatinamente essa lingua-

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gem vai se adaptando também a todas esferas sociais presentes no mundo atual. Não somente nas redes sociais, a linguagem digital vem dominando as salas de aula também, seja nas escolas ou nas universidades. O aluno do século XXI, vive na rapidez dos fluxos de informação. O método didático que exige passo a passo não é mais bem visto na pós-modernidade. Cada vez mais a formação subjetiva do ser humano vem se tornando a maneira mais prática para se fazer comunicação entre as pessoas e se transmitir informação. O professor José Carlos Marques da Universidade Estadual Paulista de Bauru, “Uma das ca-


racterísticas da linguagem digital ou linguagem da internet é que ela procura agilizar, na escrita, a forma de comunicação interpessoal. Trata-se de um fenômeno histórico, de mutação da língua, mas que neste caso tem provocado mudanças na grafia de algumas palavras (vc por você; pq por porque; kd por cadê etc.), mas não na fala. Ele explica também que a supressão das vogais é uma das formas dessa nova comunicação “internética”, mas isso não afetou a forma como pronunciamos as palavras. Podemos até escrever vc no lugar de você, mas continuamos falando você. Algo que ainda precisa ser estudado é se a linguagem digital não está exigindo de nós uma forma de comunicação mais rápida e imediata, algo típico da instantaneidade das redes sociais”, diz. Quando o assunto é sobre a mudança da comunicação dentro do ambiente universitário e escolar, no que se refere a postura

dos professores e ao seu linguajar, Zeca sendo professor procura manter um padrão mais formal de uso da língua, justamente para que os estudantes possam ter contato com um uso da fala um pouco distinto daquele que eles praticam normalmente no dia a dia. Mesmo assim, ele não vê dificuldade em ser compreendido pelos alunos e alunas. No que se refere a linguagem dos 140 caracteres, José Carlos nos diz: “ Trata-se de um exercício instigante sobre como ser sucinto e breve para se transmitir algum conteúdo. É como se estivéssemos diante de um haicai (forma poética japonesa de apenas três versos - dois com cinco sílabas e um com sete sílabas) ou de um título jornalístico. De todo modo, os 140 caracteres do Twitter, por exemplo, não substituem e nem eliminam outras formas de escrita, mais longas e com o recurso a textos mais longos”.

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como a

realidade virtual

esta´ sendo usada? · Daniel Sakimoto Com a promessa de se tornar uma plataforma que leve o espectador a um outro nível de imersão, os óculos de realidade virtual estão se tornando cada vez mais populares entre os consumidores de tecnologia e entretenimento. Em 2016 começaram a ser vendidos celulares que já vinham com seus próprios óculos, a Sony lançou o Playstation 4 já adaptado para reproduzir vídeos em realidade virtual. O equipamento ainda é caro, mas alguns empre-

endedores já estão desenvolvendo uma alternativa mais acessível como a adaptação para celulares e máscaras feitas de papelão. Assim como outras tecnologias que conhecemos ao longo da história da humanidade, a Realidade Virtual está sendo desenvolvida e, por ser algo ainda recente, as pessoas ainda estão aprendendo como utilizar e criar com esta nova plataforma, explorando os seus limites, vantagens e as possibilidades de imersão.

Eddie Kopp

Existem alguns pioneiros explorando a realidade virtual em diferentes âmbitos. Vamos ver alguns deles a seguir:

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3. Educacao.

De todas as alternativas e possibilidade do uso dos óculos de realidade virtual, os games são a opção mais óbvia de todas. Videogame se trata de uma maneira de contar histórias de modo interativo, e interação é uma das coisas que o VR promete com sua tecnologia.

c a tegorias de game que mais estão fazendo sucesso são os jogos de terror, que te colocam dentro de casas assombradas e te fazem fugir de mons Diversos games já tros. vêm sendo desenvolvidos para serem jogados Use o QR em realidade virtual, afi- Code e confira a nal quem é que não quer nossa lista de se sentir inserido dentro vídeos de pesde uma história e partici- soas testanpar disso de maneira ain- do VR para da mais interativa. Além jogos de disso, a possibilidade de terror. imersão pode chegar até a ser assustadora - uma das

Um dos berços do conceito de realidade virtual é o treinamento militar. O VR começou a nascer com as primeiras cabines de simuladores de vôo para a formação de pilotos para a força aérea dos Estados Unidos.

volta à Idade do Bronze.

Na arte, também existem produtos que exploram esta nova ferramenta, como o “The Night Cafe”, que transformou o quadro do artista impressionista Van Gogh em realidade virtual, o que lhe permitia andar pelo quadro. Confira no Em 2015, o mu- QR: seu British Museum, que fica na Inglaterra, promoveu uma maneira única de levar aprendizagem aos seus visitantes, fazendo uma experiència que os levava de

tropas do exército, onde recrutas treinam suas operações sem ter que gastar uma bala de munição de verdade.

Confira o treinamento em Assim como ou- VR através do QR Code. tras tecnologias, como os drones, a realidade virtual já passa a ser usada para funções de militarismo. Além dos simuladores de caça, o exército americano também já utiliza os óculos de realidade virtual para as suas

4. Jornalismo

2. MILITARISMO

1. GAMES

~

~

A educação também vem forte no uso dos óculos. Trazendo uma maneira de observação mais completa para aprendizagem, já são feitos produtos educacionais para realidade virtual. O MIT desenvolveu uma peça para os óculos onde pode ser observada a velocidade da luz desacelerada. A NASA já utiliza VR para demonstrações em 360 graus do espaço sideral e já levou a tecnologia até pra Marte, disponibilizando uma visão panorâmica da superfície do planeta.

Se o papel do jornalismo é contar histórias reais do nosso mundo, já há quem faça isso explorando a realidade virtual. O Project Syria nasce com o objetivo de tornar a guerra na Síria algo mais próximo das pessoas do mundo todo, trazendo a experiência da guerra no país para conhecimento do público de uma maneira imersiva. O grupo recria cenários de

atentados nas ruas sírias e coloca o espectador no meio do ataque, trazendo cenas pesadas que causam empatia no leitor através das lentes do óculos VR. Assista ao trailer no QR:


7. filmes

Apesar da Realidade Virtual ser bastante utilizada pelo meio do entretenimento, nos filmes ele ainda dá passos tímidos. A Netflix lançou um aplicativo para a plataforma onde você pode assistir aos filmes do catálogo diretamente do seu óculos VR.

tas inovações como a prometida imersão e interatividade para o espectador, mas ainda assim é uma maneira de se usar a tecnologia.

A realidade virtual já chegou também no tratamento de doenças, e tem sido bastante efetivo apesar de se tratar de uma alternativa que ainda está em desenvolvimento. A Universidade de Medicina da Louisiana começou a utilizar o VR para o tratamento de ansiedade e tem auxiliado na superação de fobias diversas e transtornos de estresse. Segundo o site da instituição, a maneira de tratar traumas como as fobias é

Na espiritualidade, a novidade vem sendo usada para criar interação entre os fiéis, através da criação de igrejas virtuais para o encontro e a prática da fé. Segundo o reverendo da Igreja Presbiteriana de Fort Lauderdale, com o desenvolvimento do Oculus Rift se tornando

atrav é s do confrontamento, que pode ser mais tranquilo para o paciente com isso ocorrendo em ambientes virtuais e controlados, proporcionados pela realidade virtual.

9. PORNOGRAFIA

8. RELIGIOSIDADE

A adaptação não traz mui-

´

5. marketing

liz em um suporte para seu celular virar um óculos de realidade virtual. Acompanhando a propagando, foi desenvolvido um mini-game, onde o consumidor tinha que pegar estrelas em uma descida na montanha esquian O McDo- do. Confira o nald’s produziu a cam- gameplay: panha “Happy Goggles” (Óculos Felizes), que transformava a icônica caixa do McLanche Fe-

6. Saude

o

Se o jornalismo já está testando possibilidades nesta nova plataforma, o marketing - um outro ramo da comunicação - também já tem alguns exemplos de experiências com realidade virtual com o objetivo de promoção e divulgação.

mais imersivo e interativo, em breve poderemos criar maneiras de reza e educação cristã virtualmente.

Por fim, a mais escandalosa e polêmica das indústrias, a pornográfica, também traz as suas novidades com o uso de Realidade Virtual. O site PornHub - gigante do ramo pornô - já disponibiliza filmes com o uso dos óculos VR, colocando o seu consumidor

dentro de seus filmes. A proposta vem com o objetivo de imersão, deixando quem assista a esse tipo de conteúdo mais “próximo” das atrizes e atores pornô.

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STREAMER ~ ~

conheca a profissao que jogar videogame

· Daniel Sakimoto

Reprodução INTZ

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te paga para

Milhares de gamers ganham a vida jogando e transmitindo suas partidas para a comunidade 43


“Videogame não vai te levar a nada” dizem os pais ao se depararem com seus filhos parados o dia todo em frente a uma tela ao invés de estudar ou trabalhar. Para alguns, os games são uma distração, entretenimento que alivia. Para outros, os jogos podem ser verdadeiras obsessões que de fato podem ser prejudiciais para a vida. Para os streamers, jogar é uma profissão.

.No mundo deles 世界 São jovens de várias idades cujo trabalho se consiste em transmitir - através da plataforma de vídeos Twitch - as horas jogadas ao vivo, para um público fiel que pode chegar a até 20 mil pessoas por transmissão. Como Daniel Marcon (21), conhecido como Daniels pela comunidade gamer, que é streamer do time brasileiro INTZ e que conta com mais de 5 milhões de visualizações em seu canal.

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Acordar, trabalhar e voltar pra casa. Ser um trabalhador é sinônimo de ter uma rotina estabelecida. Um hábito diário de tarefas que devem ser feitas. Para os streamers, isso não é diferente. “A minha rotina é um pouco livre. Tento sempre fazer uma média de 6 horas de stream por dia, ligando por volta das 10 da manhã, e, às vezes, fazendo 2 streams de 3 a 4 horas para mudar um pouco o horário e mais gente poder assistir”, conta Daniels. Assim como o home -office, os jogadores muitas vezes trabalham de casa,

mas isso não significa que seus horários são bagunçados e que têm sua saúde prejudicada. “Às vezes almoço durante a stream mesmo, ou ligo mais cedo e faço essa pausa ali pelas 13, 14 horas pra almoçar. Depois, ligo pela noite após jantar. Quando ligo a stream pela noite, o horário tende a variar um pouco, pois tento dormir sempre umas 8 horas pra estar disposto.” A exposição dos streamers é muito grande, com muitos deles se tornando famosos, e às vezes até grandes celebridades, entre o seu público. Marcon conta


um pouco de como funciona essa admiração e interação com seus fãs: “Eu interajo muito com meu publico pelo stories do Instagram e Twitter. Sou reconhecido mais em eventos de games e animes, pois é o local em que está a maior parte do público, mas é bem comum me reconhecerem em algum shopping ou parque.” O crescimento dos games leva ao surgimento de um mercado que vai além da produção dos jogos propriamente ditos, que podem ser observados não só na profissão de streamer mas também em um cenário competitivo que traz aos times e jogadores patrocínios e premiações milionárias. Em 2016, o campeonato mundial de League Of Legends (LoL) - um dos jogos mais famosos e assistidos da Twitch - contemplou seus vencedores com um total de 5 milhões de dólares. Daniel, que transmite suas partidas de LoL, conta que abandonou os estudos para se dedicar somente a

ganhar a vida com os games: “Quando eu comecei a focar em stream/Youtube eu estava fazendo faculdade de ciências da computação, em Porto Alegre. Quando a rotina começou a ficar muito pesada eu desisti da faculdade.” Para os jogadores profissionais, que participam dos campeonatos, a rotina de treinos e dedicação ao jogo é mais pesada. “Eu não jogo profissionalmente, então altero mais entre minhas streams, meu canal do Youtube e vídeos pro canal da INTZ. Acho que é muito difícil para um player conseguir ter uma rotina constante de stream. Os treinos são pesados e durante boa parte do dia. Quando eu tive que fazer a escolha, decidi ser streamer”, explica Daniels. Se os pro-players ganham com patrocínios, contratos com o time e com prêmios oferecidos pelos campeonatos, como fazer stream gerar dinheiro? Os streamers ganham dinheiro através de propagandas

em seus canais da Twitch, e com as doações de seus próprios fãs, como uma espécie de crowdfunding. “Na Twitch você ganha com inscrições, com 70% de cada inscrito. Também consegue ganhar com as propagandas que você passa durante a transmissão e com o loots.” O loots é uma ferramenta desenvolvida para o formato de streamers no site, onde o espectador manda uma mensagem que aparecerá no vídeo ao vivo, acompanhada de uma propaganda - o que é mais uma fonte de renda. “Além disso tem os donates, que boa parte eu uso pra sorteio entre os viewers/inscritos, e às vezes faço live de arrecadações para alguma ONG”, continua Daniel Macron. “Como sou contratado do INTZ tenho meu salário da organização e dinheiro de eventos no qual sou convidado pra participar.” Daniel Marcon

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Victor Lignel


Olhando de longe, pode parecer que stream é apenas uma pequena onda entre os diversos novos modelos de negócio que aparecem com a internet, mas os números mostram que os streamers só tendem a crescer. A Twitch nasceu em 2011, com a proposta de disponibilizar uma plataforma onde as pessoas podem transmitir suas horas de jogo. De acordo com a empresa, aproximadamente 10 milhões de pessoas acessam o site todos os dias, tomando espaço de gigantes como o Youtube. O crescimento da startup foi tão grande que, em 2014, a Amazon comprou a Twitch por um valor de 970 milhões de dólares. Ainda segundo dados disponibilizados pela empresa, cer-

ca de 2,2 milhões de streamers utilizam a ferramenta para mostrar a maneira que jogam, em 2016, quando foram assistidos mais de 290 bilhões de minutos em stream. Em comparação ao ano anterior, o site contava com 2,1 milhões de broadcasters e os espectadores passaram cerca de 240 bilhões de minutos, a mudança apresenta um crescimento de aproximadamente 30% em audiência. Como uma expansão mais recente, a Twitch lançou a sigla IRL (“in real life”, na vida real) como uma de suas modalidades, permitindo que as pessoas possam fazer stream de coisas da vida como cozinhar, ensinar a dançar e fazer unboxing.

Ganhar a vida jogando videogame antes parecia uma ilusão, mas a era digital e o entretenimento tornaram isso real...

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^

ADENTRANDO O MUNDO DO

E-SPORTS · Thomás Garcia


Conheça o conceito de e-ports, sua história e os games e campeonatos do momento E-sports, ou jogos eletrônicos é o nome que se dá às modalidades de competição profissional de jogos eletrônicos, ou se você preferir, aos jogos de vídeo-game. Essa nova modalidade consiste na participação de campeonatos profissionais de jogos eletrônicos de estratégia em tempo real. Diferentemente dos esportes mais convencionais, os e-sports se caracterizam sobretudo por exigirem bastante agilidade e principalmente capacidade de raciocínio de seus jogadores, e não um grande esforço físico. Eles existem desde muito antes do seu boom e popularização que aconteceu nos anos 2000, sobretudo na Coréia do Sul. O primeiro campeonato de vídeo-game do mundo aconteceu no ano de 1972 e foi organizado por alunos da universidade de Stanford nos Estados Unidos, onde o prêmio para o vencedor era um ano de assinatura da revista “Rolling Stones”.

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お互いに

~de sapce ao legends

Após esse primeiro torneio, a empresa de produtos eletrônicos Atari realizou em 1981 o primeiro campeonato internacional do jogo “Space Invaders” e reuniu mais de 10 mil participantes. Após um período sem competições, ou ao menos sem registros delas, nos anos 90 o vídeo-game se popularizou bastante, principalmente com a empresa Nintendo que organizou uma espécie de “Olimpíadas de vídeo-game” com jogos que aconteceram dentro do Universal Studios nos Estados Unidos. Após uma série de eliminatórias, 132 jogadores se classificaram para as finais que foi televisionada ao vivo nos Estados Unidos. Com a grande popularização e crescimento dos e-sports a partir da segunda metade dos anos 2000, muito se discutiu se isso era ou não era um esporte. Levando-se em consideração toda sua estrutura, premiação e preparação, pode-se sim classificar a modalidade como um esporte, como afirma Lucas “Maestro” Pierre, coach da equipe INTZ de League of Legends “acredito que desconsiderar que o esporte eletrônico é uma nova modalidade de esporte já está ficando insustentável. Todos os elementos estão ali, desde a paixão de milhões de torcedores que lotam estádios, até toda a estrutura e profissionalismo envolvidos. Existe hoje um preparo para receber todos os tipos de admiradores, desde os mais novos aos mais antigos. A mesma preparação que um esporte convencional exige também está presente no e-sport, sem contar toda a estrutura que o envolve”. Mas como funciona todo esse processo de preparação que torna do e-sport um esporte? Porque seus jogadores se consideram atletas? Lucas “Maestro” nos falou um pouco sobre como é feita a preparação da INTZ, equipe bi-campeã brasileira e que inclusive já participou do mundial da modalidade “a preparação consiste em um combinado de coisas, jogar é apenas uma parte. Existe um planejamento prévio sobre os pontos a serem treinados, sobre os adversários e sobre a agenda semanal de cada jogador. Além disso, cada campeonato tem seu formato, então as baterias de treinos são divididas de acordo com isso. Por fim, ainda existe uma preparação mental, física e comportamental feita por um grupo de profissionais especializados em cada área”.

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~a nova era

新しい時代

O fato é que os e-sports têm visto sua popularidade crescer cada vez mais e alcançar valores exorbitantes no quesito de premiações ao redor do mundo. A Newzoo, uma das principais condutoras de pesquisas sobre a indústria dos games realiza um trabalho mensal mostrando os jogos mais jogados em todo o mundo e também os países que mais jogam, com o Brasil ficando na 13ª colocação no último mês de 2017. A pesquisa também trouxe quais são os games mais jogados no momento e a classificação do Top 10 ficou com a seguinte configuração: 10º GTA V, 9º Overwatch, 8º Fortnite, 7º World of Tanks, 6º World of Warcraft, 5º Playerunknown’s Battlegrounds, 4º Counter -Strike: Global Offensive, 3º Minecraft, 2º Heartstone e 1º League of Legends. O trabalho feito pela Newzoo trouxe também resultados muito interessantes na questão das premiações dos campeonatos de e-sports, e nos mostra também um crescimento muito grande, tornando uma tarefa bastante difícil dizer até onde os jogos eletrônicos podem chegar e qual seu limite. Para se ter uma ideia da proporção que esses jogos estão tomando, as 3 maiores premiações em campeonatos ultrapassam a casa dos 100 milhões de reais. O jogo Counter-Strike: Global Offensive ficou em 3º lugar no ranking mundial em total de dinheiro distribuí-

do em seus campeonatos com um total de 107,6 milhões de reais, em 2º lugar ficou o game League of Legends com um total de 140 milhões e em 1º lugar o jogo Dota 2 com incríveis 315 milhões de reais, sendo 31 milhões apenas para a equipe campeã mundial. No Brasil, a maior premiação paga até hoje foi no campeonato brasileiro de League of Legends de 2017, onde a equipe vencedora, a Team One levou para a casa o prêmio de 70 mil reais. Outros números que merecem destaque no CBLoL 2017 e que comprovam o crescimento dos e-sports é de que mais de 8 mil pessoas foram até o ginásio do Mineirinho em Belo Horizonte para acompanhar as finais e outras 1,2 milhão acompanharam a disputa pelo canal pago SporTV 2 e 1,6 milhão de pessoas assistiram online pelos canais da Riot Game Brasil (Youtube e Twitch). Até onde os e-sports podem chegar é uma resposta que ainda não temos, mas seu crescimento é notável e olhando o patamar que já atingiu podemos imaginar que ainda há espaço para expansão. O próximo indício de crescimento é que nos Jogos Asiáticos de 2022, uma espécie de Jogos Pan -Americanos dos países da Ásia, teremos competições de e-sports acontecendo em meio aos demais esportes, agora nos resta esperar e ver o patamar que os e-sports alcançarão nos próximos anos

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A avalanche de

(des) in

¡ Helena Ortega


~

~

nformacao da internet

A internet é responsável pela facilidade na difusão de informações. Mas tudo que está na internet é verdade? Fake News é uma expressão da língua inglesa que, cujo o significado em português é: notícias falsas. O brasileiro tem contato com esse termo, mas aqui ele é popularmente conhecido como o boato ou fofoca. A expressão tem se popularizado nos últimos anos, graças a contribuição do atual presidente Donald Trump. Trump usa principalmente sua conta pessoal do twitter, uma das redes sociais mais utilizadas atualmente, e é reconhecido por dar algumas declarações que não ficam muito próximas da verdade. Mas o presidente americano não é único disseminador de boatos pela internet, infelizmente. O Brasil também lida com algumas figuras públicas que falam mais do que sabem, sobre alguns assuntos.

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問題

~qual o problema?

Os boatos sempre existiram, mas quando figuras públicas revelam-se ser multiplicadores de inverdades, parte da população toma pra si essas (des)informações como verdadeiras. A grande problemática deste assunto é a desinformação. Com a internet, a relação existente entre os veículos de comunicação e sua audiência se estreitouw Segundo pesquisas do Conectaí, instituto de pesquisas online do IBOPE, internautas brasileiros navegam mais que americanos e canadenses. Cerca de 95% dos entrevistados navegam na internet todos os dias e 85% assistem televisão diariamente. Logo, o tempo de resposta do público, sobre o que é veiculado pela mídia é menor. Outro fator que facilita a propagação de conteúdos entre os brasileiros é que grande parte da população está presente nas redes sociais. Outra pesquisa, do mesmo instituto, revelou que 91% dos brasileiros utilizam o Whatsapp, seguido pelo Facebook (86%), Instagram (60%), Messenger (59%) e Twitter 28%. Um notícia falsa pode ter um alcance muito rápido, em muito pouco tempo. E por último, uma nova pesquisa divulgada em junho deste ano pelo mesmo portal revela que quando o assunto é política, as redes sociais e mídias tradicionais são as fontes com mais influência na escolha do presidente em 2018, para 36% dos entrevistados. A mídia tradicional segue com 35% da resposta como o meio mais influente. Uma outra informação pode clarear ainda mais os sentidos em relação o quão preocupante é a difusão das notícias falsas. Um estudo feito pelo Grupo de Pesquisa de Políticas Públicas para o Acesso a Informação (GPOPAI) demonstra que cerca de 12 milhões de brasileiros difundem fake news sobre política. Para a alcançar esse resultado, o grupo monitorou cerca de 500 páginas do Facebook com conteúdos falsos ou distorcidos, que poderiam ser compartilhados entre seus seguidores. O número foi alcançado graças a estimativa de que cada integrante desses 500 grupos, deva ter pelo menos 200 seguidores, e assim a informação passa adiante tão rapidamente.

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~pós-verdade e a sua relação na mídia

ポスト - 真実

A pós-verdade é a tendência de convivermos com declarações ou notícias que podem ser verdadeiras, meio verdadeiras, meias verdades, ou falsas. Não há mais apenas a verdade e a mentira. Em 2016, esse substantivo foi incluído como verbete em 2016, no dicionário inglês Oxford. Segundo o dicionário, o significado é “aquilo que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e às crenças pessoais. A declaração e a informação não precisam necessariamente ser verdadeiras, e a apuração não é mais importante ou melhor do que as informações falsas. A grande questão é que as declarações são tão disseminadas através das redes sociais e sites noticiosos, que à disseminada da sua apuração não é feita na mesma intensidade. Sobre o grau de confiabilidade da população sobre a mídia, foram entrevistadas algumas pessoas nas ruas. Rodolfo Almeida, estudante de 24 anos, foi questionado sobre as informações veiculadas na internet, e afirma “Não confio (nos portais nem nas redes sociais), qualquer pessoa pode escrever qualquer coisa, se passando por qualquer um. Dos grandes portais de jornalismo brasileiro, ainda os leio com ressalva, eu sei que aquilo pode ter passado por um

processo manipulatória da informação, por parte do entrevistado, ainda mais quando é um político ou empresário. Mas ainda assim confio mais nesses portais do que em pequenos blogs de notícias, páginas no Facebook, informações de whatsapp”. Já André Prioste, arquiteto de 26 anos, revela que também confia pouco no conteúdo veiculado na internet, e também na mídia tradicional. Para ele, se informar dá um pouco de trabalho, mas é necessário, “Para me informar, eu coleto a mesma informação de diferentes portais, sites, jornais, discuto com meus amigos sobre o assunto ou tento conversar com pessoas que estudam sobre o assunto”. Outro estudante, Mateus Guireli, 24, pondera que nem todo assunto tem conteúdo falso o meio falso; “Normalmente assuntos de interesses políticos, econômicos ou de grandes empresas tendem a ser menos imparciais, é muito comum perceber os interesses por trás da mídia. Assuntos de âmbito culturais, saúde, científico eu leio com mais calma, com mais tranquilidade, pois apesar de também serem assuntos de interesse público, eles tendem a ser mais informativos do que manipulatórios, pois em sua essência, eles não precisam manipular seus leitores”, afirma.

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~como se informar?

情報

Encontrar informação de qualidade pode ser bem difícil, mas existem sites que trabalham em função disso. Devido a avalanche de informações, veiculadas por pessoas públicas, empresas, políticos, fica difícil selecionar o

que é verdade de manipulação, não só na internet, mas na mídia como um todo. Confira abaixo algumas sugestões de portais que trabalham para verificar as informações que são veiculadas cotidianamente.

.Google News: A empresa lançou no ano passado, em sua plataforma Google News, ou Google Notícias, um bloco chamado fact checking, que na versão em português foi traduzido para checagem de fatos. Essa novidade inclui a reprodução de links de agências de checagem de matérias. Além disso, quando essa ferramenta estreou no Brasil, a empresa fez uma verificação nos principais portais de checagem, e alguns portais receberam o Selo Google de Notícias, de acordo com o seu comprometimento com o fact checking. A pesquisa de notícias feitas pelo Google, que já tiveram sido checadas por esses portais, indicará se a notícia é verdadeira, quem a informou e quem realizou a checagem.

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.Agência Lupa: Foi a primeira agência de checagem de fatos do país, e é uma das parceiras da Google, que alimenta o link de checagem do Google notícias. A página foi criada em novembro de 2015, e faz parte da revista Piauí. A Lupa analisa principais portais de notícia, blogs, jornais impressos e televisivos. E a sua checagem de dados é feita a partir de fatos noticiados que divulguem dados estatísticos, dados ou documentos históricos, comparações ou afirmações sobre a legalidade de fato. Você ainda pode sugerir a checagem de alguma informação, ou participar de oficinas ministradas pela própria agência, para tornar-se um checado da Lupa.

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.Agência Pública: Fundada em 2011 com o modelo de ser uma agência de grandes reportagens, não é uma agência de apuração de fatos, mas que desenvolve conteúdo informativo confiável, que é replicado para os grandes portais de informação brasileiro, atualmente. É um modelo de agência de jornalismo independente, que se sustenta através de sugestões para reportagens, que são financiadas através de uma rede de financiamento coletivo, para grandes pautas, e também com doações. Já recebeu muitas premiações jornalísticas desde sua fundação, como o Prêmio Vladimir Herzog. A Pública ainda possui um projeto voltado apenas da checagem de fatos, chamado Truco. Segundo o portal, sobre o projeto Truco “Verificamos falas de políticos e personalidades e informações em circulação na rede para saber se são verdadeiras, sem contexto, contraditórias, discutíveis, exageradas, distorcidas, impossíveis de provar ou falsas. Nosso objetivo é aprimorar o discurso público e a democracia, tornando as autoridades mais responsáveis por suas declarações”.

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.Aos Fatos: Outro portal que é parceira do Google News na verificação de informações, segundo eles “ jornalistas do Aos Fatos acompanham declarações de políticos e autoridades de expressão nacional, de diversas colorações partidárias, de modo a verificar se eles estão falando a verdade. Para isso, adotamos uma fórmula com sete etapas para realizar nossas checagens’. Assim como os demais portais apresentados anteriormente, esta agência integra a International Fact-Checking Network (IFCN), rede organizada pelo Instituto Poynter que reúne os principais sites de fact-checking do mundo. Após passar por uma auditoria independente concluída em 30 março de 2017, tornou-se um dos signatários verificados do código de princípios da IFCN.

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jornalismo alternativo ~

outra visao de informar

Florian Kauer

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· Matheus Souza

Um jornalismo sem vícios do mercado como forma de informar a população acerca do que acontece pelo mundo 61


~alternativo Pode ser considerada mídia alternativa toda aquela que foge da lógica das mídias tradicionais. As mídias alternativas oferecem, na maioria das vezes, um trabalho que contrapõe o pensamento das mídias hegemônicas. Esse tipo de mídia surge a partir da insatisfação acerca do que é publicado na chamada ‘grande mídia’, que segue a lógica capitalista e as tendências políticas que regem o país. Um grande exemplo de mídia alternativa no Brasil é a revista Pasquim, que surge no período ditatorial para difundir para

a população os horrores praticados pelo governo da época, o que era ocultado pelas mídias hegemônicas financiadas por esse governo. Entretanto, as mídias alternativas sempre enfrentaram um problema: o financiamento. Ao contrário dos grandes veículos que contam com grandes imprensas financiadas por empresas e pelos governos que se interessam em esconder as exclusões e desigualdades que praticam, as mídias radicais são, em sua maioria, financiadas pelo próprio leitor ou

por seus idealizadores, o que não garante uma grande circulação de seu material, até o surgimento da internet e as redes de compartilhamento de informação. Conforme a internet foi criando força e as pessoas passaram a enxergar seu poder, as mídias também passaram a se usar dessa ferramenta para difundir seus ideais. Com as mídias alternativas não foi diferente e hoje podemos dar vários exemplos de mídias que surgiram já na internet e hoje ocupam um considerável espaço dentro das leituras da população.

.Alma Preta O site Alma Preta é um exemplo dessas mídias que surgem na Internet. Criado em 2015 por alunos da Unesp de Bauru, o site fala sobre o racismo existente no Brasil. “A ideia era criar um veículo de mídia que garantisse espaço para a discussão do racismo no Brasil dentro das narrativas como economia e política. Os números brasileiros em relação a esse fenômeno estrutural não são expostos na grande mídia com a magnitude merecida. Geralmente, não se passa da dimensão do preconceito”, comenta Solon Neto, um dos criadores do site. Uma das características das mídias não-hegemônicas é dar visibilidade para as populações ignoradas pelos grandes grupos econômicos e

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consequentemente pelas mídias, garantindo uma pluralidade de vozes dentro das discussões. Segundo Solon, o trabalho do Alma Preta segue essa mesma linha. “O jornalismo cumpre um papel de memória e documentação. Nosso trabalho tem garantido a grupos cujas vozes são apagadas que tenham um espaço e que permaneçam na história para as próximas gerações. Não somos os primeiros. A imprensa negra existe desde 1833, pouco após a inauguração da imprensa no Brasil. A denúncia do racismo vem sendo feita sistematicamente por esses jornais e, talvez as primeiras “mídias alternativas” brasileiras. É o caso de jornais como “o Homem de Cor”, e o “O Clarim da Alvorada” e jornalistas como Gustavo Lacerda e José Correia


Leite”. Além de dar visibilidade para essas populações em seus portais ou veículos, as mídias alternativas ainda trazem uma nova característica para o cenário jornalístico. Essas mídias agora têm o poder de pautar o trabalho das mídias tradicionais a partir do interesse público. Com o acesso à internet, o público agora tem acesso a informações que antes de seu surgimento não teriam, o que faz com que fiquem interessados por determinados assuntos que, se ignorados pelas mídias tradicionais, ele pode achar com facilidade nesses outros veículos. “A mídia

alternativa tem uma narrativa disruptiva e contribui para oxigenar o debate nacional. Com o advento da internet, esse setor tem se tornado crucial para o debate na esfera pública, e já consegue criar frente à hegemonia em certo nível, obrigando certas pautas a serem criadas. Por exemplo, a questão racial tem sido mais abordada na grande mídia, tal qual a crítica estrutural ao machismo. Ao mesmo tempo, porém, emerge a reação com o mesmo poder de fogo. Portanto, não basta que seja alternativa, a mídia deve ter princípios humanos norteadores e um projeto de sociedade que valorize a diversidade e a vida”, afirma Solon.

.Ponte Jornalismo Outro exemplo de veículo que não segue os padrões hegemônicos do mercado jornalístico é a Ponte Jornalismo, que surge em 2014 com a “convicção de um grupo de jornalistas de que jornalismo de qualidade sob o prisma dos direitos humanos é capaz de ajudar na construção de um mundo mais justo” segundo sua missão. O veículo, segundo Fernando Martins, colaborador da Ponte, surge na mesma época em que vários veículos independentes, a partir da ideia de um grupo de jornalistas de criar um veículo especializado em segurança pública. Ainda segundo Fernando, a Ponte Jornalismo, assim como outras midias independentes tem o papel de difundir as vozes que não são ouvidas pelas midias tradicionais, mas também compõe a nossa sociedade. “A importância [da Ponte] é a de potencializar vozes que não são tradicionalmente ouvidas pela mídia tradicional e assim dividir o protagonismo da informação e mostrar outros lados não

abordados por esses veículos convencionais”, afirma o colaborador. A Ponte Jornalismo, portanto, assim como outros veículos do gênero, serve como um suporte para a população que recorre a internet como meio de se manter informada sem os filtros criados pelas grandes empresas de jornalismo. Esse aspecto é muito importante quando pensamos no papel que o jornalismo e as informações desempenham na vida das pessoas. O debate sobre essas mídias, apesar de antigo, merece uma atenção especial por sua importância na pluralidade de conteúdo que pode oferecer. “A democratização dos meios de comunicação é um dos debates mais importantes que temos para agora e para o futuro. Construir e fortalecer mídias alternativas é um dos meios de impulsionar esse processo e isso é extremamente importante para toda a sociedade”, afirma Fernando.

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quando um genero nasce, morre e ressurge

^

Vaporwave:

Divulgação

simboliz

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· Nathalia Cunha e Ângelo Matilha

O surgimento de uma nova estética no ambiente online, tão volátil que é preciso baforá-la para consumí-la, za toda a nostalgia e a subjetividade dos tempos líquidos. 65


~é o que 是什麼

Em meados dos anos 2010, se você fosse alguém muito integrado à internet e participante ativo da cultura cibernética através dos sites Tumblr e Reddit, seria muito provável que você trombasse com o que será apresentado e discutido, o Vaporwave.

Um produtor da cena underground lança um álbum de música experimental pelo pseudônimo “Chuck’s Persons Eccojam”. Chama-se Mega, e ganha certa fama pelos fóruns por ser diferente de tudo que se havia produzido e apresentado àquele público até ali, além de ser feito com o intuito de ser satírico, apenas uma piada sobre a produção de música nos dias atuais. No álbum, as características marcantes do Vaporwave são apresentadas: o uso de hits pop dos anos 80 e 90, o desaceleramento do ritmo, que é reeditado e colocado em várias sequências diferentes; a repetição do mesmo e as batidas

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comumente chamadas “de elevador”. Se parece incômodo escutar a tais sons, o intuito não passa muito longe disso. Com esta “fórmula” criou-se o que é considerado como o 1º gênero de música a ser inteiramente globalizado e metalizado, e que de forma diferencial critica o presente, tem profunda nostalgia pelo passado e por mais controverso que pareça, almeja um futuro mais vazio e desesperançoso. Após a popularização deste que foi considerado o primeiro álbum, vários surgiram logo em seguida de produtores do mundo todo. Em 2011, é lançado Floral Shoppe, por MacIntosh Plus, que conta com mais de um milhão de visualizações no YouTube. Dali em diante, novas faixas pipocavam por todo Tumblr e Reddit. Mas, afinal, quem é Chuck’s Persons Eccojam? Quem é MacIntosh Plus? Quem são, de onde vêem? Bom, aí chegamos no seguinte ponto diferencial.

O nome Vap carinhosamente c de vape, é fruto d de dois termos. O vaporware, se trat gum novo aparato tecnológico que foi do ao público ma realmente lançado mércio aberto; em com o segundo, um to marxista que des relações fixas com de congelamento todos os novos f tornam-se antiqua tes de poderem Tudo o que é sólido se no ar, tudo o qu é profanado, e o ho nalmente é obriga frentar suas condiç de vida e suas relaç soais, descrito com de vapor”.

A partir de trinchamento, p reparar no objetiv tica ao sistema v dominante do pla capitalismo mode rante isso, os pr


~o anonimato 匿名

porwave, chamado da junção primeiro, ta de aldo ramo anunciaas jamais o para com junção m conceiscreve as mo sendo o rápido, formados ados anossificar. o derreteue é santo omem fiado a enções reais ções pesmo “ondas

decidiram ser 100% anônimos, numa revolução diante da indústria fonográfica deturpada do séculos XXI e da comercialização desenfreada da arte, música e personalidades. Ao manter o anonimato, não há a glorificação do autor, mas sim do produto. Não existem focos no ser: não há a obsessividade com a aparência do autor, não existem cobranças e ofensas diretas e pessoais, não existem milhares de seguidores nas redes sociais e muito menos o compartilhamento da rotina, algo bastante comum na contemporaneidade. Podemos achar todos os álbuns de Vaporwave e seus subgêneros de graça na internet, em seus sites oficiais ou no YouTube. É possível a compra, mas o preço mínimo permanece sendo de 1 dólar ou quanto o contribuinte quiser.

este despodemos vo de crívigente e aneta: o erno. Perodutores

O vape se resume a uma glorificação do roubo de músicas, já que a maior

parte das faixas são colagens dos elementos presentes nas músicas originais dos anos 80 e 90, conjuntamente à diminuição da batida em loopings e uso de línguas orientais, mais particularmente o japonês. Num mundo onde quase nada é anônimo, esbarrar com este tipo de música que parece ter sido encontrada em um sebo alternativo de uma megalópole do futuro, nos faz sentir revigorados. Pouco importa de onde veio e de quem veio, mas sim o produto em si, que tem a única finalidade de sempre te levar para outra realidade, quase nunca sendo esta realidade positiva, como explica Hong Kong Express (um grande produtor vape, dono de um dos maiores selos do nicho, “Dream Catalog”), em comentário no fórum Reddit: “eu acho que a coisa mais importante para se almejar sendo um produtor vape, é produzir algo cinemático.

Era de se esperar que, o vape, tendo sua origem na internet, fosse algo bastante volúvel, volátil e mutável. Assim que foi lançado, espontaneamente seus subgêneros foram se desenvolvendo em uma rapidez líquida, onde caso fosse apresentado por um diagrama de Venn, teriam múltiplas intersecções e múltiplos círculos, pela sua extensão. Também não podemos deixar de citar a importância da estética para a criação dos subgêneros, que não só se caracterizam pelos simples bizarros mas pela construção da capa do single e suas interpretações conjuntamente ao áudio. A sinestesia é o foco, a mistura da visão com a audição para nos transferir de uma forma mais completa para outro lugar.

~estética 美學

“A música dentro do estilo sempre vem atrelada a uma imagem, que mostra a preocupação com a criação de uma estética e da apresentação. A palavra aesthetic que é a apropriação esté

De fato, fazer o ouvinte sentir sentimentos inexplicáveis, o que é ajudado pela surrealidade da música”, afirma.

tica da palavra no próprio grafismo criado no PC.” explica Victor Perone, estudante de Artes Visuais da Unesp de Bauru. Pela sua suma importância no gênero, é necessário uma maior análise.

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.The Mall 商場 Os shopping centers ilustram diversos singles e álbuns. Aqui eles são representados como espaços perfeitos, perfeitamente iluminados e limpos, e recebem uma certa aura celestial com suas superfícies de mármore e diversas escadas, que parecem não levar a lugar nenhum e ao mesmo tempo a todos os lugares. A mensagem principal diz respeito a sociedade do consumo. Dali o indivíduo pode extrair tudo o que quer ou precisa, sem limites para suas vontades. Contudo, os centros comerciais são em sua grande maioria gerados por computador, sendo 100% artificiais, lembrando que tudo é apenas uma fantasia ao mesmo tempo que é armadilha. Podemos ver alguns exemplos através dos trabalho:

猫 シ Corp, Palm Mall

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モ ー ル FUTURE / PAST.


Chucks Persons Eccojam

.Video Games 電子遊戲

Nmesh

Todos elementos da estética vaporwave possuem algo em comum que os ligam: a fuga da realidade. Outro fator visual predominante são os jogos de computador, nunca pertencentes a consoles modernos, mas sim sistemas vintage como Sega Saturno, Game Boy, Atari. Isso demonstra o interesse pela nostalgia que estes vídeo games trazem aos autores, sempre remetendo a uma infância remota e despreocupada. Assim, mais uma vez o escapismo é alcançado. A capa mais famosa deste estilo já foi citada aqui: Mega, por Chuck’s Persons Eccojam, mas também reaparece em álbuns como New Dreams LTD e Welcome to Warp Zone.

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.Ásia 亞洲 Como podemos observar repetidas vezes, o escapismo é bastante presente na estética e na música vape. Contudo, é por essa razão que o gênero se inclina fortemente em imagens e linguagens asiáticas, principalmente a japonesa. É considerado ambíguo: apesar de trazer elementos mais futurísticos e modernos, este uso contínuo beira à fetichização de toda uma cultura e das pessoas que estão inseridas nesta. Há uma tendência da descrição destas pessoas e locais contra um fundo embaçado e caótico, com bastantes luzes, remetendo ao mundo irreal dos sonhos, que acaba por substituir sua humanidade. Conhecido como “pecado do orientalismo”, a realidade, juntamente com suas próprias pessoas é transformada em uma construção artificial. O artista Vanity se apropria bastante deste conceito.

Vanity

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Vanity


MacIntosh Plus

.Neoclássico 新古典

STEREO COMPONENT

Estátuas romanas e bustos gregos sugerem um resgate do “belo e da perfeição estética”, sugere Victor Perone. Contudo, é difícil, senão impossível, encontrar uma capa apenas com estes elementos. Normalmente, há uma colagem de vários outros, como quadros, flores, linhas, cores degradê e neons. Portanto, é necessário analisá -lo como conjunto, pois sozinho não são significativos de si mesmos, podem simbolizar qualquer coisa. Esta conjunção casual de elementos aleatórios parece ser a chave para a interpretação aqui: a justaposição causa um desconforto inicial para o Outro, perturbando quem tenta conectar de forma racional, sendo que aqui o segredo é fazer justamente o contrário: deixá-los ser. Qualificamos o Vaporwave como sucessor do surrealismo, cujo o objetivo principal é a representação da sensação de angústia de uma vida inteira baseada, em grande parte, online. O álbum Floral Shoppe, por MacIntosh Plus, permanece sendo um marco no gênero e no uso de tais elementos, mas isso não impede tantos outros de fazerem o mesmo, como STEREO COMPONENT faz em seu álbum Coastal Nostalgia.

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.Desfoque 模糊

Quando finalmente lugares reais são representados, eles nunca são vistos com precisão e clareza. O horizonte está sempre embaçado, remetendo a chuva e também a antigas filmagens, novamente para incitar a nostalgia de quem nunca viu ou passou por aquele local. Entretanto, a interpretação é ambígua. A falta de clareza pode ser lida como evasão da sociedade, uma tentativa de evitar o enfrentamento e ao mesmo tempo pode suportar a ideia de que esta névoa é resultado da confusão mental que nos encontramos na contemporaneidade, pela surra de informações diárias que recebemos. Portanto, assim seria nossa percepção da realidade: tudo sempre nebuloso. Abaixo, podemos ver VANISHING VISION, por INTERNET CLUB e hotel vibes, por bl00dwave.

bl00dwave

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INTERNET CLUB


GOLDEN LIVING ROOM

.Sala de Estar 客廳

Phoenix #2772

Os domicílios deveriam ser lugares em que nos sentimentos seguros e confortáveis. No nosso quarto, os nossos bens carinhosamente guardados. No banheiro, nossos produtos favoritos de higiene. Na sala de estar, a televisão. Aqui, este espaço não é representado sendo um local de encontro da família para jogos de tabuleiro ou conversas casuais como muitas vezes é mostrado em comerciais, mas sim um lugar solitário, frio, em que a luz irradiando da TV em volta dos imóveis conversa com a ideia do condicionamento do ser pela indústria cultural sem qualquer interferência externa. O álbum WELCOME HOME, pelo artista GOLDEN LIVING ROOM é um exemplo contundente disso. O álbum é um dos únicos que realmente foi feito com instrumentos musicais diretamente, diferente das extorsões de músicas já prontas, como vemos por toda cena vape. O outro álbum, Experience, por Phoenix #2772 confere a sala um ar ainda mais melancólico, com tons de azuis em uma noite na cidade grande.

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.TV dos anos 90 年代的電視 Descendo pela timeline do Facebook, você já deve ter esbarrado em um vídeo dos Simpsons com a saturação alta, em tons de rosa, advindo das primeiras temporadas e com uma música de elevador de fundo. Esses vídeos que se popularizaram fazem parte do chamado Simpsonswave, em que o foco são a produção desses vídeos que propõe uma reflexão sobre aspectos da rotina e da vida no geral, o que virou um fenômeno online. Contudo, antes disso, os produtores do Vaporwave já haviam absorvido imagens da TV dos anos 90 em suas capas. Não apenas invocando a sugestão da tão presente nostalgia, mas também o deprimente fato de que nossas vidas podem ser ilustradas por programas de TV que foram ao ar há mais de 20 anos atrás: a vida é cíclica e sem saída. tuuwa utiliza O Arquivo X para ilustrar a capa de Privé, enquanto SLYNTHE\ BBRAINZ utiliza a série cômica Seinfeld para pizza contigo.

SLYNTHE\ BBRAINZ

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tuuwa


PZA

.Mar e Verão 海和夏天

YAYA instrumentals

Dos diversos elementos usualmente presentes nas capas, o que mais destoa é este. O mar, verão e palmeiras não se enquadram em uma relação direta com a tecnologia, ou a internet, ou a mídia e o consumismo. No entanto, o foco das capas não é sobre a natureza ensolarada da Califórnia, e sim sobre a fuga de uma realidade ainda mais grave da existência moderna – uma que é embalada e vendida em todos comerciais, novelas e filmes. Então não se trata fugir somente do local angustiante que são as cidades, mas também fugir do “paraíso”, fugir de tudo que nos é imposto. PZA nos presenteia com o álbum Vacation Forever, e YAYA instrumentals com BOUNTY.

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~a morte 死亡

Em meados de 2012, os rumores da morte do gênero começaram a aparecer nos fóruns. O produtor INTERNET CLUB lançou vários álbuns que abraçavam o corporativismo ao invés de rejeitá-lo, como toda a cena vape fazia. Era a celebração dos comerciais “premiados” da Pepsi, de grandes marcas de roupa e outros refrigerantes, mas permaneciam advindos dos anos 80 e 90. Ali, havia uma imersão da celebração por cima da crítica, que continuava presente mas de forma confusa e não contundente.

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猫 シ Corp e outros artistas deram ao gênero uma “má reputação”, pois parecia estagnado e fadado ao esquecimento e ao fracasso, como vários outros que apareceram na mesma época (Seapunk, por exemplo). Em 2013, a MTV e o Tumblr começaram a se apropriar dos fatores visuais, o que apontou mais uma vez para o temido fim, afinal era justamente contra este uso da arte que o vaporwave tanto criticava. Entretanto, contra todas as probabilidades, o vape recuperou seu fôlego.


~a ressurreição 復 Em 2013, uma movimentação se iniciou dentro da cena vape, que ficou conhecida como The New Sound. Aqui, um resgate das características mais marcantes e importantes foi feito, além de uma renovação na batida: é desafiado que o vaporwave possui apenas um único estilo. Blank Banshee, um produtor canadense, redefiniu o gênero ao adicionar batidas trap, tornando o som muito mais agradável e polido aos ouvidos, muito mais apelativo para o público mainstream. Infinity Frequencies, em 2013-2014, lança 3 álbuns interligados de nomes Computer Death, Computer Decay e Computer Afterlife. Uma junção de sons estranhos e repetitivos e loopings de música de elevador, refletindo a esterilização da essência humana na existência moderna. Hong Kong Express lança sua própria gravadora denominada Dream Catalog, apenas de álbuns e singles vaporwave, mas que não apenas se tratavam de ironia ou capitalismo, mas de contar uma narrativa através da música. Possui mais de 95 releases, em que em sua grande maioria contam a história melancólica de nossas vidas, a fuga para um local distante deste mundo, onde não há iso-

lamento ou solidão. Yes, we’re open! é um álbum feito por groceries: vemos uma simples coleção de sons de um mercado mas se transformando em uma narrativa de escapismo e uma fantasia de uma cruel percepção de uma monotonia em um mundo que está em constante mudança. Em Dezembro de 2013 Yung Bae é lançado por Bae, inaugurando o subgênero SailorWave, em que consiste em uma coleção de músicas disco japonesas remixadas para serem uma ode ao anime Sailor Moon. Por fim, um dos últimos grandes álbuns a ser lançado e ter certo reconhecimento pelo público, é o New Deluxe Life, considerado hardvapour, que possui uma experimentação tão pesada que chega no ponto de ser praticamente inescutável. Bom, aqui estamos, em 2017, e estamos discutindo o Vaporwave, que era para estar morto desde 2012. A morte do gênero parece improvável como em desaparecimento do mesmo, já que estamos, ainda, assombrados pelas cidades embaçadas, com suas estátuas neoclássicas contrastando com tons neons. Contudo, se “morto” significa que o gênero já passou

a sua utilidade perante o mercado se tornando uma arte obsoleta e saturada, podemos dizer então que o vaporwave sempre esteve morto, pois nunca teve o objetivo de ser economicamente bem-sucedido e por quê não é um produto como o pop, o funk ou o sertanejo. Desta forma, a essência do gênero permanece intocada e protegida. Entretanto, é de se pontuar que a própria qualidade do vaporwave de se utilizar de infinitas referências fez com que se tornasse extremamente volátil,assim como sua essência. O subgênero conhecido como Hardvapour denuncia a “morte” do movimento que, segundo seus expoentes, assistiu com suavidade e ironia o próprio fim. Apesar da controvérsia, dos gêneros musicais pós-modernos, o vaporwave foi o único que ultrapassou barreiras e passou a cultivar seu próprio pequeno nicho. Ele passa a ser mais que um gênero se tornando praticamente uma vanguarda, um movimento artístico, e, quem sabe, até a próxima geração de música. Talvez então, podemos dizer que a música como nós conhecemos está morta e o Vaporwave continue a viver.

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Cuidado: ^

vocE esta´ sendo observado · Mariana Mesquita e Thomás Garcia

Como o sistema de algoritmos analisa e organiza o que você vê na internet de acordo com seu comportamento Você já deve ter reparado que o Facebook sabe selecionar exatamente o que você gosta, com as pessoas que você se interessa e com o que você está procurando? Acredite ou não, isso não é destino, isso se chama Algoritmos. Muito conhecidos, mas não fáceis de entender: Os algoritmos do facebook podem se resumidos como um sistema de comandos que, registram e analisam uma série de comportamentos do usuário e os convertem em conteúdo adaptado a ele. O doutorando da London School of Economics e ex-jornalista da Folha, João Carlos Magalhães, complementa: “Quando alguém faz uma busca no Google ou olha para o seu newsfeed no Facebook, o que essa pessoa vê é uma decisão desse sistema”.

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O sistema cria combinações a partir do comportamento do usuário, como por exemplo: quanto tempo permanece em cada postagem, compartilhamento, interação. Esse tipo de análise não é novidade. Os algoritmos, no geral, pode ser definido como o passo a passo para realizar qualquer tarefa e a sociedade já tem contato com isso desde os primórdios. Semáforos, máquinas de lavar e carros: executam algoritmos. David Silva, pesquisador da área de ciências sociais computacionais na Escola Politécnica Federal de Zurique, comenta que a diferença é que hoje interagimos com algoritmos mais do que nunca: “Anos atrás, para encontrar um advogado, simplesmente olhamos para as páginas amarelas, mas agora buscamos isso

no Google e o algoritmo de busca e classificação do Google afetará nossa decisão”.

.Comportamento em códigos Essa ferramenta é o ponto central de ações de marketing, transformando o comportamento do usuário em redes sociais em uma forma de comércio, limitando a privacidade do usuário. Além do marketing, qualquer empresa ou organização pode analisar dados a partir de algoritmos: médicos, físicos, polícia, governos. O resultado de um exame médico, por exemplo, é uma análise feita por algoritmos do seu corpo. Além de organizações, os algoritmos também pode afetar decisões de gran-


de porte, o sistema podem ser utilizados para analisar características de uma cidade para serem tomadas de decisões. João Carlos, comenta que conforme os algoritmos passam a ser utilizados por organizações muito influentes para tomar decisões de impacto coletivos, eles ganham uma espécie de influência estrutural na maneira como o mundo funciona. Observa-se que, o que começou como uma forma de linguagem entre o homem e as máquinas, hoje tem um grande poder de influência. Entretanto, os riscos existem. A criação de padrões, limitação de conteúdo ou invasão de privacidade são ameaças que o crescimento do poder algoritmo na sociedade pode trazer, Magalhães adverte sobre a preocupação em gerar mais decisões imorais do que somar no cotidiano. “Dados (“inputs”) necessariamente carregam em si padrões sociais. Uma sociedade racista muito possivelmente produzira dados racistas mesmo que a coleta desses dados não seja em si “racista”. Um exemplo é o uso de algoritmos pela polícia. Pessoas negras, por uma conjunção de fatores históricos e sociais, são em vários países estatisticamente mais envolvidos em crimes. Isso se reflete nos dados que vão informar a ação policial que tende a direcionar mais recursos para vigiar e punir

essa parcela da população, alimentando um ciclo de discriminação e violência”.

.Como fugir?

A existência de camadas na internet como, por exemplo, a deep web são formas de resistência ao sistema que manipula o ambiente de acordo com uma análise sobre seu comportamento em dimensões micros e macros. A crítica a esse sistema cresce a cada dia, entretanto, as suas influências já atingem quase todas as dimensões em plataformas digitais, logo, fugir desse ambiente para evitar que o algoritmo te encontre, priva o usuário de uma camada que hoje é o motor da sociedade: a internet. Perguntamos ao Davi se é possível fugir da influência desse sistema e o pesquisador nos respondeu: “A única maneira seria fugir da sociedade e não ter contato com nada e nem ninguém. Devemos admitir que esses problemas não são individuais, são problemas coletivos que todos compartilhamos. É uma fantasia acreditar que as decisões individuais de uma pessoa podem protegê-la dessas ameaças à privacidade”. Driblar sim, fugir não. É possível enganar essas análises quando se conhece o sistema, mas a regra é clara: os algoritmos comandam sua vida, usuário.

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pirataria

e o acesso ´a cultura O que é pirataria, o que diz nosso código penal e como ela pode ser vista como uma forma de democratização da cultura · Thomás Garcia A “pirataria”, também conhecida como “pirataria moderna” é um termo genérico que visa enquadrar os atos de violação aos produtos protegidos por propriedade intelectual, ou seja, é a reprodução, venda ou distribuição de produtos sem uma devida autorização e pagamentos de direitos autorais.

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Essa tal “Propriedade Intelectual” é um campo que abrange direitos autorais, patentes, marcas, softwares e outros. Dessa maneira, rotula-se como pirataria todas as atividades como fabricação, distribuição e vendas de bens e serviços feitos mediante violação de propriedade intelectual.


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.O que é a pirataria 海賊行為 Para o professor e pesquisador de direitos autorais da UFRJ e UFRRJ e pesquisador do Oxford University Intellectual Property Research Center, Allan Rocha de Souza, há “uma visível tentativa de ampliação de sentidos da pirataria, de modo que passe a significar qualquer uso

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não autorizado pelos titulares ou donos dos direitos ao invés de atos de violação. É um equívoco programado no interesse dos titulares com a intenção de confundir propositalmente atos de violação com usos não autorizados”. É importante também lembrar que o conjunto de normas do ordenamento jurídico prevê inúmeros usos legais e legítimos que não precisam de autorização e nem de pagamento, portanto, estes não são vio-

lações a propriedade intelectual. Allan, afirma ainda que “estas limitações aos direitos de propriedade intelectual são intrínsecas ao próprio sistema de proteção, e representam o interesse público expresso em outros direitos que devem ser harmonizados com os direitos de propriedade intelectual, como por exemplo o direito de acesso à cultura ou conhecimentos e os direitos autorais. Portanto, devemos estar muito atentos a esta ‘jogada semântica’ nada inocente”.


.O quê diz o Código Penal brasileiro? 刑法 Nosso Código Penal classifica como crime qualquer reprodução total ou parcial do trabalho de outrem com o objetivo de obter lucro direto ou indireto sem a autorização expressa do autor, do intérprete ou do seu representante. Os crimes contra os direitos autorais são previstos no Código Pe-

nal nos seus artigos 184 e 185, ao passo que os crimes contra a propriedade intelectual (patentes, marcas, modelos de utilidade, etc) são previstos na Lei de Propriedade Industrial (lei 9.279/96) no Capítulo V a partir dos artigos 183 e seguintes. A Lei de Direitos Autorais (9.610/98) em seu artigo 5º, VII, estabelece que contrafação é “a reprodução não autorizada” de uma obra protegida por direitos autorais, porém, a contrafação abrange não somente os atos de reprodução (mas outros como distribuição, transmissão, etc), e nem toda a reprodução não autorizada é uma violação, como

é previsto nos exemplos de usos livres estabelecidos nos artigos 46, 47 e 48 da própria Lei de Direitos Autorais, ou seja, a própria legislação foi confeccionada de maneira contraditória. Para o pesquisador e intelectual Allan Rocha de Souza, “este não é um erro inocente, mas um erro programado, uma mentira planejada, cujo a função é projetar a ideia extremamente prejudicial de que qualquer uso não autorizado é ilegítimo, surrupiando dos espaços público usos comuns, importantes para não só equilibrar, mas para manter a saúde e legitimidade do próprio sistema de proteção”.

Apenas o equilíbrio entre o que deve ser de exclusividade do titular e o que deve ser de uso público trará legitimidade e efetividade ao sistema de proteção - e não simplesmente leis penais mais rigorosas. As leis em relação à pirataria e direitos autorais no Brasil visam ampliar a punição pelas violações à propriedade intelectual, mas, nenhum Estado possui forças ou recursos suficientes para enfrentar tal problema, que só poderá ser superado mediante a con-

quista da sociedade, quando os cidadãos se sentirem suficientemente representados na construção do equilíbrio entre o que deve ser exclusividade do titular e o que deve permanecer de uso livre. Allan ainda afirma que esse processo de efetivação do caráter punitivo

da propriedade intelectual, reflete também um processo de transferência de custos e responsabilidades do titular e maior interessado pela repressão às violações para o Estado, é um processo internacional ao qual o Brasil tem festivamente aderido.

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.Como a pirataria afeta a economia? 経済 É comum as indústrias alegarem enormes prejuízos em decorrência da prática da pirataria, mas a grande verdade é que esses dados são obscuros e cheios de segredos, por isso, é importante olhar com cautela e um olhar críticos essas alegações de prejuízo baseados em números da própria indústria. A metodologia utilizada para calcular os efeitos negativos da pirataria ainda não possui sofisticação suficiente a altura da complexidade do fenômeno. Boa parte dos estudos possuem um viés - explícito ou não - de favorecimento da posição de permanente expansão da proteção promovida pela indústria estabelecida (musical, de produtos farmacêuticos, sementes, etc), e devido a

.Pirataria democratizando o acesso à cultura 経済 86

essa fragilidade dos dados, metodologia inadequada e parcialidade obtusa, a imprecisão e variação de resultados é extrema, não há estudos em número suficiente e com clareza que nos permitam afirmar que a pirataria traz prejuízos para a indústria cultural. Para além disso, os estudos também devem levar em consideração os valores econômicos dos usos livres e de domínio público, aqueles que não precisam de autorização e nem de pagamentos. Um dos estudos que visa mensurar o alegado prejuízo alegado pelas indústrias causados pela pirataria foi encomendado pela Comissão Européia em 2015 para auxiliar no processo de discussão de uma nova diretriz sobre direitos autorais. Intitulado “Estimating displacement rates of copyrighted content in the EU”, os estudos foram desenvolvidos pela empresa de consultoria holandesa, Ecorys e tinham como objetivo responder duas questões: como as violações aos direitos autorais

no ambiente digital afetam as vendas de conteúdo protegido por direitos autorais e quanto os infratores digitais estão dispostos a pagar pelo conteúdo protegido. Os resultados deste estudo (publicado em maio de 2015) foram ocultados pela Comissão Européia até setembro de 2017, quando a pesquisa foi disponibilizada e vazou para o público através da parlamentar alemã Julia Reda. O estudo concluiu que a pirataria não causa danos à indústria do copyright por não apresentar evidências estatísticas robustas de substituição das vendas por conta das violações no ambiente digital, ou seja, as pessoas em geral não deixam de comprar um produto (livro, músicas, games) por conta do compartilhamento, seja porque não comprariam de maneira alguma ou porque comprariam de qualquer jeito. A exceção a esta regra geral são os filmes “blockbusters”, pois o estudo mostra que a cada 10 filmes assistidos ilicitamente, 4 deixam de ser consumidos legalmente.

Não há como negar que a prática daquilo que chamamos de pirataria se tornou algo corriqueiro e faz parte do dia a dia de nossa sociedade, é tarefa bastante

difícil encontrar uma pessoa que não tenha feito um download gratuito de uma música, filme ou de algum software por exemplo. Os resultados do estu-


ÍNDICE DE PIRATARIA por classe social no BRASIL do IPEA CLASSE A

CLASSE B

CLASSE C

CLASSE D/E

75%

80%

83%

96%

GRAU DE ESCOLARIDADE de quem pratica a PIRATARIA Ensino Fundamental

Ensino Superior

92%

77%

do deixam claro que a questão da pirataria está muito mais ligada a condição social e falta de opção e condição do que ao prazer de cometer um crime e lesar a pátria ou a indústria cultural. A expansão e popularização da internet trouxe um espírito libertário da rede, o que permitiu uma maior facilidade e rapidez de comunicação horizontal, cujo conteúdo inclui obras artísticas e culturais. Nesse contexto, o compartilhamento e disponibilização de obras, certamente contribui para uma chamada democratização da cultura, dando oportunidade de acesso a um conteúdo anteriormente

exclusivo para todas as camadas da sociedade. O acesso a cultura, que deveria ser oferecida para toda a sociedade mas infelizmente não é, além de lazer, resulta também em interação social, identificação por realidades, vivências, afinidades e classes. As diferentes formas de arte e cultura, são muitas vezes formas de expressão de uma determinada realidade ou ponto de vista de uma determinada sociedade em determinada época, e dificultar o acesso de determinada camada da sociedade a cultura, não parece ser o melhor caminho para se chegar a uma cultura democrática, onde todos

tenham o direito e acesso ao conteúdo produzido para a própria população. Allan Rocha de Souza afirma que “para construirmos um real e efetivo direito de acesso à cultura, devemos focar em assegurar a ampliação e efetivo recurso aos usos livres e às obras em domínio público”, mas enquanto isso não ocorre, a pirataria vem demonstrando seu lado positivo de democratizar o acesso à cultura, igualando os desiguais e incentivando artistas a se reinventarem e empresários a procurarem de maneira criativa novas formas atrair apreciadores e também ganhos.

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~você sabia que existe um partido pirata? O primeiro Partido Pirata do mundo foi fundado em 2006 na Suécia e hoje já está presente em mais de 60 países. As principais bandeiras levantadas pelo partido são a luta contra as atuais leis de propriedade intelectual e industrial, contra a violação do direito de privacidade e a favor do respeito ao domínio público. Em países europeus, os piratas já começam a conquistar seu espaço, conseguindo se eleger sobretudo na Suécia, onde atingiu 9,3% dos votos nas últimas eleições e na Alemanha, onde já elegeu mais de 40 parlamentares incluindo Julia Reda, parlamentar que tornou público os resultados da pesquisa da Comissão Européia sobre a pirataria. No Brasil, o partido começou a surgir no ano de 2007 e foi oficializado em 2012, contado com a presença do fundador do par-

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tido sueco, Rick Falkvinge. Hoje já é listado entre os partidos políticos em formação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Assim como os outros partidos piratas ao redor do mundo, o partido brasileiro tem um posicionamento muito claro em relação a defesa dos direitos humanos, da privacidade, do acesso à livre informação, transparência pública, Estado laico, igualdade de gênero, defesa do ativismo hacker, entre outros. A relação completa da plataforma política do Partido Pirata brasileiro pode ser encontra em seu site https:// partidopirata.org. Através de sua assessoria de imprensa, o partido informou nossa equipe de reportagem que ainda não irá participar das eleições do ano de 2018 mas já se movimento e articula para participar das eleições seguintes no ano de 2020.


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O MOVIMENTO ANTIP

contra uma ´ ´ industria bilionaria

Divulgação

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A porn


PORNOGRAFIA

· Nathália Cunha

nografia é tida como uma grande aula online de violência: como toda uma indústria deturpou um instinto primitivo e está destruindo as relações humanas 91


.Corpos intocados pela puberdade

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~entre predadores e pornografia

A pornografia é muito antiga. A etimologia da palavra vem do gregro pórne, 'prostituta' e graphein, registrar. O retrato da nudez e da sexualidade humana é datado desde a era paleolítica e existem inúmeras pinturas eróticas nas paredes de Pompeia, na Itália. Na Alemanha, foi encontrada uma figura pornográfica de mais de 7 mil anos atrás. Contudo, a Indústria Pornográfica teve seu início em 1953, com o lançamento da primeira revista Playboy. Nunca antes na história tinha circulado uma revista de imagens eróticas pelo mainstream do capitalismo. Ali se inicia toda uma indústria bilionária, que nos dias atuais circula mais de 97 bilhões de dólares no mundo e 90% de sua produção se concentra na Califórnia.

Em 1976, iniciou-se nos Estados Unidos o movimento antipornografia. Uma organização feminista foi criada, com o nome Women Against Violence Against Woman (mulheres contra a violência contra as mulheres, tradução livre), na cidade de Los Angeles, California; em resposta a um filme brasileiro chamado Snuff, que continha imagens explícitas de sexo e violência. O movimento tinha seu foco na regula-


Gail Dines mentação e limitação da indústria. Curiosamente, no mesmo ano a Playboy Itália estampou em suas capas Eva Ionesco, uma menina de 11 anos. Anos depois, em 1985, repetiu o feito com Brooke Shields, na época com 12 anos. As fotos as mostram nuas, em posições sexuais. Corpos intocados pela puberdade: não se vê pelos, não há crescimento dos seios e seus rostos profundamente infantis. A cultura da pedofilia sendo

abertamente instigada para vendas de um produto, meninas sendo fetichizadas a luz do dia e aos olhos nus da sociedade, tudo para a gratificação masculina. Com advento da internet, tudo se intensificou. Os dados são assombrosos: 37% de todo conteúdo online é pornografia. Existem mais de 26 milhões de sites pornôs. A indústria fatura 3 mil doláres por segundo. 1 a cada 4 buscas no Google

são por pornografia. A cada ano, são lançados mais de 13 mil filmes pornôs. O conteúdo se diversificou e novos gêneros e subgêneros foram criados. Antigamente, podíamos separar a pornografia em duas principais vertentes: soft porn (pornô leve) e hardcore porn (pornô pesado). O primeiro consistia em nudez parcial, não havia cenas de penetração e tudo girava entorno da expectativa do ato. O segundo era mais explícito,

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com foco na penetração, sexo oral e tudo o que o soft porn englobava. Hoje, segundo a militante feminista Gail Dines, o primeiro parou de existir, simplesmente por quê a indústria pop mainstream se apropriou dela para vender discos e a própria imagem das cantoras e atrizes. A hipersexualização das artistas nos calejou, e a pornografia teve que se adaptar para se diferenciar de simples clipes de música, por exemplo. O que existe hoje em dia, para Gail Dines, é o feature-porn (pornô “longametragem”) e o gonzo-porn (pornô “sem roteiros”). Na indústria, o primeiro é direcionado “para casais”. Filmes de mais de uma hora

de duração com música suave, uma curta história de fundo. O sexo é hardcore. O “propósito” de tais filmes é fazer com que as namoradas se acostumem com este tipo de sexo e estejam aptas para praticá-lo. Por exemplo, um rapaz quer que a sua namorada faça sexo anal com ele e para isso ele mostra um filme feature-porn de anal como forma de introduzi-la nesta fantasia, para que ela também aprenda como se deve fazer com ele. Resumindo, é o tipo de pornô que ambos os sexos costumam assistir juntos. Já o gonzo-porn é o pornô sem qualquer tipo de história de fundo, e não existem mulheres, apenas “pu-

tas”, “vadias”, “depósitos de porra”. Aqui a violência se intensifica. Os gêneros de gonzo-porn são assustadores: “estupro”, “deficientes físicos”, “retardadas mentais”, “anoréxicas”, “incestos”, “sufocação extrema”, “humilhação”, “novinhas”, “enteadas”, “lésbicas”. Pode parecer que este tipo de pornô é restrito para um pequeno nicho de homens, contudo os números não mentem. 7 milhões de visualizações, 3 milhões de visualizações, topo de páginas em sites como Redtube e Xvideos que pertencem a web de superfície (em contraponto a deep web, onde comumente acham que este tipo de conteúdo está restrito).

Mas por quê esta quantidade gigantesca de pessoas está cada vez mais consumindo este tipo de pornografia degradante para as mulheres tanto em físico quanto em essência? Bom, chegamos aqui na questão da demanda. Imagine um menino de 11 anos, entrando na puberdade, procurando no Google por “pornô”. Nos primeiros links já se depara com “gang bang” (prática de orgia onde vários homens penetram uma mulher de diversas formas. 3, 4, 150 homens) ou com sexo oral com sufocamento. Na descrição dos vídeos, frases que fazem com que ele duvide de sua masculinidade: “Sabe o que a gente

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diz sobre romance e preliminares? A gente diz FODA-SE! Esse site não é para meias-bombas tentando impressionar vadias metidas. A gente pega lindas putas e faz o que todo homem REALMENTE gostaria de fazer. A gente faz elas engasgarem até a maquiagem borrar e deixamos todos os outros buracos ardendo– vaginal, anal, dupla penetração e qualquer ato envolvendo um pinto e um orifício. E depois damos um banho grudento nelas.” texto do site “Gag me and

then fuck me” (me sufoque e depois me foda, em português). Com sua masculinidade colocada em xeque, o menino irá se obrigar a se acostumar com aquilo, mesmo que de início cause alguma aversão. Afinal, a educação sexual se dá na maioria das vezes através destes sites, já que em grande parte de nossa cultura a sexualidade e todos os assuntos acerca dela permanecem sendo um extremo tabu. Ariel Sil-


va, 27 anos e publicitário, comenta: “eu era novo demais [quando teve contato com a pornografia] mas tive uma impressão que tinha que estar sempre disposto e que a mulher tinha sempre que fazer o que eu queria. Nenhuma das duas coisas se mostrou verdade quando iniciei minha vida sexual. Muita gente vê isso cedo assim como eu vi. Pode moldar uma opinião completamente errada sobre sexo, uma que pode não se alterar por uma vida inteira. Eu passei pelos dois

lados de uma vida sexual errada (tanto seguindo o que o pornô me ”ensinou”, quanto sendo abusado sexualmente) então tive uma chance de crescimento pessoal que creio que muita gente não teve. E sinceramente não quero que tenham, não dessa forma. Ninguém tem que passar por abuso, ninguém. E me pareceu normal na época justamente por ter sido condicionado a isto” Para as meninas Rihanna, Kim Kardashian, Selena Gomez e Anitta.

Para os meninos, isso. Após o trauma, ele desenvolve suas preferências sexuais. Quanto mais ele desenvolve suas preferências sexuais baseados em pornografia, mais a pornografia define quem ele é. Quantas mulheres da vida real se encaixam neste perfil de atividades sexuais? É assim que a demanda é criada. É assim que uma legião de meninos e adolescentes sem qualquer tipo de respeito pelo corpo da mulher e pela mulher em si, é criada.

~luta Entretanto, o movimento antipornografia tem lutado para expor os grandes malefícios desta indústria pelo mundo. No Facebook, a página “Anti-Pornografia” conta com mais de 8 mil curtidas. Em uma entrevista anônima por e-mail, a página discorre: “existe também um vínculo muito claro e estabelecido entre predadores sexuais e pornografia. Assistir pornografia não automaticamente o transformará em um predador, mas não é coincidência que os estupradores e os pedófilos comecem sempre com a pornografia. Você teria dificuldade em encontrar um criminoso sexual em 2017 que não tenha começado a explorar seu ”fetiche” na liberdade e no anonimato da internet”.

Outra ativista da causa é Shelley Lubben, ex atriz pornô e fundadora do Pink Cross Foundation (entidade que busca expor a situação real dos atores e atrizes, além de oferecer suporte) levantou uma pesquisa que demonstra dados alarmantes que sustentam as análises a partir do viés sociológico, mas também em relação a saúde mental e física dos atores e atrizes: Pixabay

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~A indústria pornô em números

A expectativa de vida de uma estrela porno é de 36,2 anos. Desde 2003, são 228 mortes registradas entre as estrelas pornô.

Desde 2004, foram reportados 3785 casos de clamídia e gonorréia.

Na indústria pornô 70% dos casos de DST’s ocorrem nas mulheres.

Foram observados os 50 filmes adultos mais vendidos. No total de 304 cenas, foram encontradas:

48% Agressões verbais

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88% 94% Agressões físicas

Agressões a mulheres


~dados e plus •228 estrelas pornôs morreram de AIDS, drogas, suicídio, homicídio; mortes acidentais e prematuras desde 2003. •38 casos de mortes por drogas entre estrelas pornôs desde 2003. •52 suicídios entre estrelas pornôs desde 2000. •514 estrelas pornôs morreram de AIDS, drogas, homicídio, suicídio e outras mortes prematuras no total. •O maior grupo que assiste pornografia online tem entre 12 a 17 anos. •Tapas ocorrem em cerca de 41.1% das cenas; •Aproximadamente 20% de todo o conteúdo pornográfico na internet trata-se de abuso sexual infantil. Quanto as soluções para a indústria, o movimento diverge. Quanto a total proibição da mesma, a página “Anti-Pornografia” contraria “a saída principal é exatamente o que a página propõe: conscientização. A simples e pura proibição não resultaria em uma abolição do consumo, apenas levaria à clandestinidade. Teríamos que promover uma mudança cultural em

massa”. Outros acreditam que isso possa piorar ainda mais a situação dos atores e atrizes com a precarização das leis trabalhistas referentes ao pornô. A substituição de elementos visuais por textos eróticos é sugerida, e a estudante de psicologia Nicoli Gautério, de 25 anos, traz uma ideia para este problema: “O sexting (troca de mensagens com teor sexual) talvez?! Se tiver livre do sistema capitalista acredito que seja o substituo mais saudável para a pornografia.” A estudante ainda reflete, “embora me faça pensar se a pornografia não existisse talvez o sexting não fosse da forma que é na nossa sociedade, visto que já existe uma fantasia criada no inconsciente tanto de homens que tem como fetiche aquelas situações, quanto mulheres que além de ter tais fetiches acabam por tentar corresponder e satisfazer justamente se embasando no tipo de reforço que as mulheres do pornô recebem”. Já a página “Anti-Pornografia” discorda: “sexo não é uma mercadoria, por mais que seja vendida assim em nossa sociedade. É algo orgânico que deve ser dividido entre pessoas, em relacionamentos baseados na igualdade. A masturbação não deve estar associada à porno-

grafia, uma não tem ligação direta com a outra como foi ensinado e como foi aprendido nessas últimas décadas. Não existe um substituto para a exploração e normalização de abusos. O que deverá existir é uma maior empatia e consciência do que é a pornografia e como ela nos molda em todos os aspectos de nossa vida. Faça sexo na vida real, se masturbe usando a imaginação. Existem diversos meios de se obter prazer sem ser usando a desumanização de pessoas.” Todavia, permanece unânime no movimento de que é necessária a educação sexual sem tabus. Precisamos que nossos meninos e meninas entendam o que o ato sexual implica e de que forma deve ser praticado. Onde se localiza e como deve ser tratada a vagina, a vulva, o clitóris, a glande e o escroto. Não proibindo, mas sim educando para ser feito de uma forma que nutra sentimentos bons e respeitosos entre ambas as partes. Não podemos deixar que um pequeno grupo de produtores interfira em toda uma cultura e dite como as relações devem ser feitas e como as pessoas devem ser tratadas. O ódio do patriarcado não pode ultrapassar o amor e o respeito humano, jamais.

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Creepypasta,

a psicose da era digital

¡ Danilo Lysei


Histórias, contos e lendas urbanas de terror são o mais novo vírus do universo online Quem nunca se viu junto dos amigos pesquisando vídeos de terror pela internet? Ou aqueles jogos virtuais que você perde e de repente o pior de seus medos aparece na tela para te assustar... Ou até mesmo, assistindo uma maratona de filmes de suspense de dar àquele frio na barriga? Já sentiu essa sensação, não!? Agora, imagina um portal online que transforma contos e lendas em verdadeiras histórias de terror... Imaginou!? Não!? Então apresento a vocês o Creepypasta, você vai se arrepiar de conhecer! Creepypastas são essencialmente contos de terror que são copiados e colados pela internet para serem popularizados. Da junção da palavra “creepy”, em inglês, que significa “assustador” ou “arrepiante”, com o termo “copypaste”, que quer dizer “copiado e colado”, a expressão traz um novo vício ao internauta: o consumo de histórias de terror, reais ou fictícias, de forma intensa e viral. Quase como um “conteúdo pelo conteúdo”, os leitores e escritores do novo estilo narrativo buscam apenas se alimentar do terror que as histórias proporcionam, sem saber se o que é descrito é verdadeiro ou falso.

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カオスの起源

~origem do caos

As primeiras narrativas creepypasta surgiram no exterior. Não se sabe ao certo em qual país ou local exato se originou, mas que os primeiros relatos, quando buscados fontes e origem, são que os conteúdos com esse aspecto, surgiram em língua inglesa, como um estilo literário novo, descontraído e descompromissado com a origem ou veracidade. Como qualquer estilo literário, as creepypastas foram se consolidando com o desenvolvimento da internet e mídia nos últimos anos. É possível observar que a maioria das histórias inclusive recorrem a era digital e uso das tecnologias para deixar o conteúdo mais aterrorizante. Um site que reckeia seu computador, ou que acessa suas contas e atividades da internet, são umas das muitas situações que as histórias contam e que aterrorizam os tais creepers. Quando pensamos em consumo literário na era digital, observamos que tudo é facilitado pela alta disseminação e magnitude, proporcionada pela internet. E com essa nova febre não poderia ser diferente. Além das narrações envolverem conteúdos relacionados a filmes, música, personagens de desenho ou até o universo dos videogames, as creepypastas buscam construir uma narrativa plural com conteúdos em imagens, vídeos, sons, permitida pelas plataformas online e que tornam mais real a sensação de terror e medo.

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~bate papo

エントレビスタ

Entramos em contato com a equipe do Creepypasta Brasil, um dos principais portais online de creepy no país. No ar desde 2011, o blog conta com mais de 1700 contos publicados, com um total de quase 20 milhões de visualizações. Francis Divina, 23, recepcionista e ilustradora, dona do blog em parceria com Gabriel Azevedo, contou para a gente um pouco mais sobre o site e como é o mundo dos escritores de creepypasta. Equipe Zion: Como funciona o Creepypasta Brasil? Como surgiu a ideia de trazer a ideia dos creepypasta para o país? Francis Divina: “O Gabriel Azevedo e eu somos os donos do blog. Contamos com uma equipe de mais oito pessoas (os incríveis Lupoz, Alexandre Brito, Andrey, Beatriz Mello, Jullia Cavalcante, L.A, Bruce e Thiago). Cada tradutor tem seu dia da semana para postar, sendo então uma tradução por semana. Eu atuo mais como tradutora e Gabriel, cuida mais da parte administrativa do blog. Já a equipe e os outros membros se dividem entre tradutores, revisores e administra-

dores da fanpage. Gabriel lançou o blog porque percebeu como tinha pouquíssimos sites que se dedicavam exclusivamente em trazer esse tipo de conteúdo para os brasileiros. Já existiam alguns sites de terror que traziam eventualmente um ou outro conto que explodia na gringa, mas nenhum fazia um trabalho voltado só para isso. Foi assim que ele surgiu com a ideia do blog, para que os leitores fãs de creepypastas e contos assustadores tivessem um espaço exclusivo para explorar.” EZ: Como foi o seu primeiro contato com creepypasta? FD: ”Desde mais nova, eu sempre me interessei por coisas que davam medo. Então creio que meu primeiro contato com contos de terror tenha sido através de sites do tema. Em dezembro de 2011 eu estava prestes a começar um curso de tradução, então quando cruzei o caminho com o blog que o Gabriel já havia criado uns meses antes, entrei em contato com ele para saber se precisava de ajuda, assim unimos o útil ao agradável. Nós dois nos demos muito bem e o site foi crescendo além de nossas expectativas (...)”

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~bate papo

エントレビスタ

EZ: Vocês vivem dessas histórias? Ou a criação das histórias são tidas como hobbies? FD: “Poucos contos no nosso blog são de origem autoral, eu já escrevi alguns e tenho alguns tradutores que também gostam de escrever, mas nosso trabalho geralmente é traduzir contos que originalmente eram em inglês divulgados em fóruns americanos do assunto. Nunca obtivemos lucros com o blog, somos toda uma equipe que se organiza e faz o que faz somente pelo amor pelos contos, pelo terror e de trazer conteúdo bom para nossos maravilhosos leitores com quem criamos um forte vínculo através dos anos.” EZ: Qual a relação de vocês com o público? Feedbacks, contato, recebimento de novas histórias. FD: “Particularmente, eu tento entrar em contato com os nossos leitores, os quais chamamos carinhosamente de creepers pelos comentários do blog, onde geralmente eles interagem com o conto, deixam os feedbacks se gostaram ou não, se aquele estilo os agrada, se preferem contos curtos ou séries e assim

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por diante(...) Também recebemos as creepypastas dos fãs pelo inbox da nossa página do Facebook ou pelo e-mail do blog. Gabriel é quem recebe e revisa com todo carinho o conteúdo que é mandado pra nós, onde analisa se temos como postar ou não no blog (porque, pode acreditar, nossos leitores são incrivelmente exigentes com o conteúdo que postamos!).” EZ: Qual a sua maior admiração dessas histórias? O que te motiva? FD: “Como já disse anteriormente, meu foco é mais no trabalho como tradutora, mas independentemente, mesmo na produção autoral ou nas traduções, o que sempre me motivou são os comentários carinhosos e encorajadores que recebemos diariamente no blog. Volta e meia recebemos algum tipo de “hate”, mas aprendemos a contornar isso pois sempre o que é bom prevalece. Nossos leitores significam muito para nós, não teríamos nos tornado o maior site de creepypasta do Brasil sem a ajuda de divulgação, criticas constritivas e todo o tipo de amor que merecemos nesses anos.”


Slender Man: O Homem Esguio

Ele veste terno preto, é muito magro. É capaz de esticar seus membros e o próprio tronco para tamanhos desumanos, a fim de provocar MEDO, e também seduzir suas presas. Com seus braços estendidos, suas vítimas ficam hipontizadas e ficam totalmente impotentes. Ele também pode esticar seus dedos criando tentáculos. Ele nunca deixa rastro de suas vítimas Não se sabe a origem dele. Ele gosta de raptar crianças, sempre é visto antes do desaparecimento de uma ou várias crianças. Gosta de lugares com névoas ou muitas árvores onde ele pode se esconder. Dizem que as crianças podem ver ele, e não tiver adultos no local. Parece uma lenda, mas muitas pessoas afirmam já terem visto o Homem Esguio. Os avistamentos normalmente acontecem a noite, perto de riou ou florestas. Tem relatos também dele ter entrado em quartos de crianças a noite, com janelas abertas. São comuns no Japão e na Noruega, mas vêm crescendo os avistamentos em outros lugares do mundo... Ainda não acredita? Apareceram imagens deles em fotos tiradas de crianças desaparecidas no dia em que elas sumiram... Curiosidade: As crianças costuman ter pesadelos com o Slender Man antes de seu desaparecimento... Por Grabriel Azevedo dos Santos. Julho, 2011

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LCf Coin: e´ a nova criptomoeda (?)

· Helena Ortega


Uma novidade contraditória que pode ser perigosa para a credibilidade do sistema financeiro online Com o surgimento da primeira criptomoeda em 2009, o Bitcoin, o mercado de transações financeiras com moedas virtuais cresceu. Desde então, outras criptomoedas encontram-se disponíveis para mineração. O sucesso dessas moedas eletrônicas é justificado pela ausência de instituições financeiras na intermediação de transações comerciais, e pelo anonimato das vendas, onde nem comprador nem vendedor podem ser identificados. Eis que, em maio deste ano, é anunciado, através de um portal denominado lfccoiin.com.br, o surgimento de uma nova criptomoeda. No site desta nova moeda, há um pequeno histórico sobre o surgimento do Bitcoin, sobre os aspectos positivos da compra desse tipo de moeda. Em seguida, é veiculado que uma família chinesa denominada Rothschild, juntamente a uma empresa que não foi citada, estariam desenvolvendo a LCF Coin, uma nova espécie de criptomoeda. A previsão de lançamento desta moeda é para o ano de 2017, sem especificar exatamente quando ocorreria. Ainda segundo o site, uma das justificativas da criação desta nova moeda, é a crescente movimentação de compras do Bitcoin.

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~contradições acerca da moeda

矛盾

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Conforme explicado pelo portal da LCF Coin, a moeda ainda não foi lançada, mas os interessados já podem realizar um cadastro para sua obtenção. Clicando na seção ‘Cadastrese aqui’, o site abre uma nova aba, com um simples formulário do Google, que deve ser preenchido com algumas informações pessoais como: idade, nome completo, telefone, e-mail e contato do telegram (um aplicativo de mensagens similar ao famoso WhatsApp). O formulário ainda pede que você responda a duas perguntas: “você já trabalhou com criptomoedas?”; “trabalha ou já trabalhou em empresas MNM? As perguntas feitas no formulário de cadastro indicam ser perguntas de exclusão de alguns interessados. O portal leva a entender que depois que o cadastro é realizado, o interessado é direcionado a um grupo do telegram, que reúne os porta-vozes oficiais da moeda e demais cadastrados, para esclarecimentos de eventuais dúvidas ou para repasse de informações. MMN é a sigla para marketing multinível, ou marketing de rede, que significa que a empresa obtém seus lucros a partir do recrutamento de novos vendedores e na venda de seus produtos. O marketing em rede é uma prática empresarial legal no Brasil. O grande problema é que muitas empresas, na realidade agem dentro do esquema da pirâmide empresarial, disfarçadas de MMN. No esquema de pirâmide empresarial a venda dos produtos é ínfima, os vendedores ganham a partir do recrutamento de novos vendedores. Ou seja, o cadastramento revela uma preocupação em saber se o cadastrado tem alguma noção sobre essa prática. A mineração em sua forma “regular” não é feita deste modo. Se uma pessoa quiser comprar quantias em Bitcoin, por exemplo, ele deve acessar sites de venda e compra dessa criptomoeda como o Mercado Bitcoin. No Mercado Bitcoin, o usuário deve fazer um cadastro, que quando confirmado já o encaminha a realizar uma transferência bancária. No momento em que a transferência bancária é confirmada, já é demonstrado seu dinheiro investido convertido em Bitcoins.


~mercado bitcoin

市場

Alguns sites renomados de tecnologia indicam o portal Mercado Bitcoin, como um dos mais seguros para a aquisição de Bitcoin. Ainda assim, ressaltam a importância de entrar em contato com assessorias de segurança digitais, devido a esta criptomoeda não ser regulamentada. O breve conhecimento acerca do mercado das moedas virtuais, levaria o interessado a questionar o cadastramento no site da LCF Coin como forma de aquisição da moeda, relevando ainda a informação de que ela não foi disponibilizada. Outra contradição encontrada é sobre o envolvimento da família Rothschild. Inicialmente deve ser entendido que a família Rothschild não é chinesa, mas

sim judia, que é dona de uma das maiores corporações financeiras do mundo, o grupo bancário Rothschild, fundado em 1838. Veja abaixo a declaração, na íntegra. Alguns sites renomados de tecnologia indicam o portal Mercado Bitcoin, como um dos mais seguros para a aquisição de Bitcoin. Ainda assim, ressaltam a importância de entrar em contato com assessorias de segurança digitais, devido a esta criptomoeda não ser regulamentada. O breve conhecimento acerca do mercado das moedas virtuais, levaria o interessado a questionar o cadastramento no site da LCF Coin como forma de aquisição da moeda, relevando ainda a informação de que ela não foi disponibilizada.

Reprodução da tela inicial do portal Mercado Bitcoin.

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~mercado bitcoin

市場

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Conversando com um especialista de segurança digital, que preferiu não ser identificado, a afirmação do envolvimento dessa empresa não é totalmente falsa, segundo ela, é possível que haja uma empresa chinesa com o mesmo nome registrado, mas não se trata da Rothschild fundada em 1838. A última contradição levantada é sobre o suposto interesse do governo chinês, em validar essa moeda e fomentar seu uso, já que o mercado de criptomoedas na China estaria em alta, segundo a LCF Coin. Recentemente, a BTCChina, uma das três maiores casas de câmbio de criptomoedas deste país, havia anunciado em 14 de setembro que encerraria suas atividades

no fim do mesmo mês, devido a uma intervenção governamental para eliminação de possíveis riscos financeiros em potencial, devido ao mercado das moedas virtuais ser muito especulativo e altamente arriscado. Resta saber se um dia essa moeda virtual realmente existirá. Segundo o especialista consultado, é difícil até mesmo especular se existe, por parte da empresa responsável pela LCF Coin, a motivação de torná-la real. Questionado sobre sua opinião, responde “O fato é que não posso responder suas perguntas, porque a moeda não existe, não existe nenhum documento sobre funcionamento dela, nada, então não tem como eu dizer nada”.


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STREAMING: ~ ~

a salvacao para os direitos autorais O modelo de negócios que conquistou a intenet traz uma nova dinâmica perante o mundo · Vandressa Veline Sistema multimídia que possui a função de estar onipresente tanto para o fornecedor quando para o usuário que está sendo exibido algum arquivo. Não é necessário baixar um fluxo de arquivos para conseguir executá-lo, tudo acontece simultaneamente. Essa transmissão contínua ou Streaming Media surgiu em 1995 na internet, com o Real Áudio. No ano seguinte em 1996 o Liv @nd in Concert utilizou-se dessa técnica e marcou uma nova era para o progresso do áudio. A partir disso, imagens também começaram a ser transmitidas, e em

1997 a Progressive Networks apresentou o Real Vídeo. A primeira transmissão de áudio e vídeo que se tem indícios foi um jogo de futebol americano do Cleveland Indians contra o Seattle Mariners, em 9 de abril de 1997. Na atualidade o Streaming vêm ganhando cada vez mais destaque em plataformas de músicas e filmes/vídeos, como é o caso de alguns dos principais serviços desse tipo de sistema multimídia. Algo que veio para solucionar problemas para os autores tanto quanto para os usuários, que prezam cada vez mais por qualidade e praticidade

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~uso

使用する

O usuário pode escolher qualquer um desses sistemas de streaming seja para ouvir músicas ou assistir filmes, isso varia de preferência, pois cada um desses serviços possui uma taxa de cobrança diferente e um arsenal de arquivos que varia. Em contrapartida, esses serviços estão sujeitos a direitos autorais, segundo o site do Supremo Tribunal de Justiça, “ Streaming é a tecnologia que permite a transmissão de dados e informações, utilizando a rede de computadores, de modo contínuo. Esse mecanismo é caracterizado pelo envio de dados por meio de pacotes, sem a necessidade de que o usuário realize download dos arquivos a serem executados”. Por se tratar de um gerador de cobrança o STJ designou ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), para fazer a cobrança dos direitos,”...demanda autorização prévia e expressa pelo titular dos direitos de autor e caracteriza fato gerador de cobrança pelo ECAD relativa à exploração econômica desses direitos”, estando o ECAD sob supervisão e monitoramento do Ministério da Cultura. É interessante observar que a tecnologia Streaming surgiu de certa forma como uma solucionadora dos problemas de falência de gravadoras, locadoras, cantores e músicos. Por se tratar de um mecanismo de cobrança, há o retorno para o fornecedor. Isso garante que os artistas sejam pagos e não violados pela pirataria.

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Hoje em dia o destaque do Streaming se dá pelos serviços Spotify e Netflix, essas duas empresas tentam a todo momento oferecer planos, descontos, e um acervo cada vez maior de músicas, filmes e séries. A lógica de mercado dessa tecnologia molda-se no serviço que oferecer a melhor vantagem para o consumidor. A Netflix, além de ser um serviço via Streaming, que possui um provedor global de filmes e séries de televisão, produz também suas próprias séries e filmes, como: Narcos, Orange is The New Black, House of Cards, Black Mirror, Demolidor, Jessica Jones, Sense 8, Stranger Things, The OA, dentre outros. Em uma análise crítica do crescimento Streaming, é nítido que ela colaborou para a diminuição da pirataria no Brasil. Um estudo feito pelos alunos de jornalismo da PUC-SP constatou que a média de adesão de serviços streaming cresce 50% ao ano. Em 2011, o número de assinantes no Brasil era de 310 mil, em 2012 esse número cresceu para 1,1 milhão, e hoje em dia o número ultrapassa 5 milhões. A pirataria que antes provinha da compra de CDs e DVDs em barraquinhas, passou para a internet, com os downloads de arquivos. O aplicativo Napster surgiu nessa época de transição da música para o meio digital. O problema desse serviço era que ele não garantia os direitos autorais dos fornecedores, sendo mais uma prática ilegal, que estava com os dias contados, tendo seu fim em 2002. A solução para esse modelo de pirataria venho com a criação do Streaming. De fato, hoje em dia o que demanda é praticidade dos serviços. Por mais que antigamente as pessoas se sentiam cômodas em praticar a pirataria, essa prática não tinha uma relação com o cliente. A pessoa comprava um DVD, se ele estivesse ruim o máximo que acontecia era a troca, não havia uma fidelização. Com a tecnologia Streaming, além de os direitos autorais serem respeitados, existe o espaço para o cliente, caso este se sinta insatisfeito com o serviço. E isso não se aplica somente aos aplicativos pagos, mas também aos gratuitos como o Youtube, em que o compromisso com o cliente e plataforma de comentários está sempre disponível. A prática é nova e está em transformação, o Spotify por exemplo, oferece ao usuário o salvamento de músicas, isso possibilita que a pessoa possa ouvi-las no modo off-line, prática que o Netflix começou a adotar, porém não em todos os arquivos.

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Match: a paquera na era da internet

¡ Danilo Lysei e Helena Ortega


As maneiras de relacionamentos afetivo e sexual emergentes na cultura virtual Não é segredo para os mais sintonizados na cibercultura de que as formas de consumo e de relacionamento entre as pessoas se alteraram nos últimos anos, devido à internet. Na era digital agora tudo é possível. É possível conversar com familiares distantes através das redes sociais, estudar outros idiomas através de aplicativos e plataformas online, comprar e vender produtos pela internet e ainda, consultar o seu extrato bancário e realizar transações financeiras sem sair de casa. Paquerar e conhecer novas pessoas não poderiam ficar de fora dessa evolução toda. Pensar em relacionamento também deixou de ser uma idealização de algo físico, próximo ou até mesmo real. O cenário mudou e cada vez mais os indivíduos se encontram inclinados aos mecanismos sugeridos pela era digital Há um pouco mais de vinte anos, fazer novos amigos, ou começar a namorar, significava sair de casa e se aventurar em encontros às cegas, ir em festas ou bares, participar de encontros de jovens da igreja, enfim, exigia um esforço de deslocamento físico. Agora, no seu smarthphone ou desktop, é possível, com apenas um touch, demonstrar um interesse por outra pessoa, e aguardar que seja recíproco.

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~tinder

テンダー

Se você ainda não ouviu falar esse nome, você deve estar em outro mundo: o real, só se for! Um dos aplicativos mais utilizados do momento, surgiu em setembro de 2012, e é pertencente da empresa Match Group, líder global e pioneira em aplicativos (app) e sites de relacionamento. Segundo informações disponibilizadas pela própria empresa, ela conta com um portfólio de cerca de 45 produtos neste segmento, traduzidos para 38 idiomas diferentes. Segundo pesquisa realizada pelo portal Conectaí, do IBOPE, os três aplicativos ou sites de relacionamentos mais utilizados pelos brasileiros, na busca do seu par, são: Badoo com 33%, Par Perfeito 15% e Tinder com 15%. Ainda segundo a pesquisa, o Tinder destaca-se entre a população mais jovem, de 16 a 24 anos, atingindo cerca de 26% desta faixa etária. Outro dado revelado, é que entre os entrevistados com mais de 55 anos o percentual de internautas que não utilizam nenhuma das ferramentas apontadas sobe de 13% para 32%. Em abril de 2014, a UOL conversou com um dos fundadores do Tinder e trouxe alguns números do app. No ano foram registrados 10 milhões de usuários brasileiros correspondendo a 10% dos usuários no mundo. A empresa intitula o aplicativo como o "mais popular do mundo", sendo responsável por 26 milhões de matches (combinações entre as pessoas) por dia. O programa tem mais de 2 milhões de avaliações, com pontuação média de 4 estrelas (boa avaliação), e conta com cerca de 500.000.000 instalações. Neste ano, a empresa lançou o produto também na plataforma online. Do seu desktop, sem a necessidade de um smarthphone, você poderá curtir outras pessoas. Isso mesmo, pasmem! As ferramentas normais também estão disponíveis nesta nova plataforma, com um detalhe: agora é possível conferir o perfil da pessoa curtida enquanto você conversa com ela. Para acessar, basta entrar no site tinder.com e realizar o seu cadastro, ou entrar pelo Facebook.

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行動

~o comportamento mudou?

Afim de se aproximar do público que compartilha dos relacionamentos via era digital, buscamos nos cadastrar em algumas plataformas. Junto a isso também recolhemos algumas análises psicológicas feitas sobre o uso de aplicativos móveis para relacionamentos, dentro de uma lógica capitalista. Para isso, contatamos Ana Paola Picos e Aurélio Reis, usuários aleatórios do aplicativo Tinder, e conversamos sobre as avaliações individuais de cada usuário sobre o app.

.Apresentações e intenções Ana Paola Picos, 22 anos, paulista, usuária do Tinder desde 2014, comenta que sua intenção na plataforma sempre foi conhecer novas pessoas. Para ela se no contato imediato houvesse uma conexão de ideias, o seu interesse em marcar um encontro pessoalmente surgia. Já Aurélio Reis, goiano, 31 anos, usário do Tinder e de outros dois aplicativos de relacionamento, relata que suas intenções ao instalá-los eram meramente casuais, já que havia saído de um relacionamento estável de seis anos.

Aurélio diz que o seu uso era exatamente casual, até a insurgência de diversos usuários. Depois disso ele encara o aplicativo como ‘ferramenta de negócios’ que, no máximo, o levam a uma amizade. Aurélio intitula-se no aplicativo como “Fotógrafo e Guia de Ecoturismo na Chapa dos Veadeiros”

.Casos inusitados Quando perguntamos a eles qual havia sido a experiência mais marcante que eles poderiam compartilhar conosco, veja a resposta: Aurélio Reis: “Pode ser um textão neh. Sempre estou na ponte Brasília- Alto Paraíso. A maioria dos contatos acontece por lá, ou em feriados quando temos alta visitação e com isso várias usuárias do Tinder. Conheci uma moça em Brasília e saímos apenas uma vez. Ela não tinha como vir, eu ia sempre com horário, toda vez que marcávamos o próximo encontro dava errado. Vidas corridas, até aí nada demais. Um dia ela chegou a comentar: Pra te ver, só te contratando né?! Eu ri, e disse que nem assim era certo, pois tinho minha agenda e a agenda da empresa que trabalho(...) O tempo foi passando até que no feriado me escalaram

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~o comportamento mudou?

行動

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pra buscar duas pessoas na pousada do Povoado de São Jorge e levar pra Brasília. Chegando lá era essa moça e pra mim, seu namorado gringo. Agi normalmente, afinal estava trabalhando. Levei os dois em segurança pra os seus destinos, enquanto ela ficava me mandando mensagens SMS pra tentar explicar o ocorrido. (...) eu, exercitei meu inglês e fiz amizade com o gringo, que agora mora em São Paulo e já voltou aqui 2 vezes me contratando como guia, fotógrafo, conselheiro amoroso... e com outras “namoradas”. Após o ocorrido sai mais uma vez com essa moça pra ouvir o que ela tinha vontade de dizer, e foi aí que aprendi que: mais vale dois clientes no carro que um match lá longe”. Ana Paola: “A experiência mais marcante que eu tive num aplicativo de realcionamento foi no Tinder. Em 2015 eu conheci um garoto, a gente ficou conversando durante uma semana, e super rolou aquela sintonia. Uma semana depois ele perguntou o endereço de casa, eu passei pra ele, e ele falou: ‘tô indo te ver!’. Eu desacreditei neh.

Uma hora depois ele estava na minha casa. Eeu moro em Interlagos, e ele mora no Tatuapé. Ele saiu segunda –feira, nove horas da noite, só pra me ver. Foi incrível! Ele era lindo, eu lembro de ter visto ele e ele tremia de nervoso. Foi espetacular. A gente ficou uma hora juntos, mais ou menos, e ele foi embora depois. Aí eu fiquei com aquela sensação de que não vai dar certo, não vai dar nada, ele não vai me procurar. E quando ele chegou na casa dele, ele me procurou. (...) uma semana depois ele me chamou para ir para a casa dele. Eu conheci a mãe dele e a irmã. E eu lembro que a gente saiu na sexta-feira (anterior), e eu olhei pra ele e falei ‘eu tô apaixonada, eu quero ele’. E nessa mesma noite ele chegou pra mim e falou ‘Ana, eu gosto de você, gosto muito... Eu te amo.’. E aquilo foi lindo, foi maravilhoso. A gente começou a namorar, ficou dois anos juntos, mas... àquela coisa de relacionamento, vai passando o tempo, mudando os ideais, um não vai mais acompanhando o outro, e acabou que a gente acabou terminando esse ano. E eu voltei para o aplicativo”.


Os mecanismos de seleção entre as pessoas é o que torna esses meios ainda mais efêmeros. É o que levanta a pesquisa de Mariana Pacheco, graduanda em psicologia na Unesp de Bauru e pesquisadora na área. Segundo ela, ‘nas mídias digitais, a incitação do desejo tem um papel imprescindível no momento da conquista e a potencialização dos atributos é essencial no momento de anunciar-se. Assim, essas qualidades costumam ser otimizadas principalmente por meio de fotos, seja por meio da exibição do corpo, por paisagens turísticas, consumo de bebidas e comidas consideradas refinadas, locais de lazer aos quais são atribuídos valores simbólicos, ou até mesmo exibindo algum objeto que possui representatividade so-

cial, como no caso de um carro ou moto’. Aplicativos como o Tinder apenas reforçam o fato de que a era digital consolidou um verdadeiro mercado virtual para o relacionamento entre as pessoas. Mesmo que a existência de apps de relacionamento existam para aproximar ou auxiliar pessoas na busca de relacionamentos é possível concluir que há uma atuação baseada na transformação do sujeito em um produto para consumo (social ou sexual). O consumo do app fomenta uma espécie de “venda” de pessoas, onde a vitrine apenas expõe o parâmetro físico, além é claro de fazer com que pessoas estejam limitadas a plataforma para um conhecimento raso e irreal.

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Transforme a

TECNOLOGIA em sua aliada

Alguns aplicativos podem ajudar a otimizar o tempo e facilitar a organização das tarefas · Ângelo Matilha É comum que se identifique o celular e muitos de seus aplicativos como inimigos da produtividade. A tecnologia se mostra uma ferramenta eficiente para distrair as cabeças dos profissionais e alunos. Contudo, isso não chega nem perto de ser uma regra. Uma quantidade grande de programas é capaz de exercer justamente a função oposta – e te ajudar, entre outras coisas, a economizar tempo e poupar esforços. Youssef Sarhan

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デジタル世界

~mundo digital

リスト

~lista amiga

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No século XX, os avanços tecnológicos proporcionaram mudanças profundas na organização e produção das indústrias, escritórios e redações. O desenvolvimento não cessou, e conforme as ferramentas se tornam mais acessíveis, podemos adicioná-las ao cotidiano. É evidente que essas funções podem gerar consequências negativas no ritmo que produzimos. Entretanto, basta rever qual papel está sendo conferido aos mecanismos em nossa vida e veremos que o problema não está

na tecnologia em si. Segundo a instrutora senior em Produtividade, Joice Villas Boas, a relação com os avanços da tecnologia pode ser ambígua. “A tecnologia em si é muito boa e aliada da produtividade. O importante é a forma como nós lidamos com ela. Os e-mails, por exemplo, facilitaram muito a comunicação entre as pessoas, mas também podem ser um obstáculo se ficarmos o tempo todo verificando a caixa de entrada e deixarmos outras atividades relevantes de”, afirma.

Pocket:

o aplicativo permite que você grave links de vídeos e textos. Assim, quando estiver sem contato com a internet, você aproveita para usar esse tempo e ver o que salvou no programa.

Sunrise Calendar:

utilizando esse aplicativo, você pode criar uma agenda para o dia todas as manhãs. O aplicativo se conecta às contas do Facebook e LinkedIn e inclui os eventos e aniversários das redes sociais.


~dia-a-dia

毎日

Apesar dos empecilhos, se pensarmos nas suas utilidades de maneira planejada, até mesmo os aplicativos mais comuns possibilitam a economia de tempo, como explica Soraia Schutel, especialista em educação corporativa e desenvolvimento de lideranças. “Antes de sair para uma reunião, pense no tempo que irá gastar dirigindo até o local e procurando um estacionamento. Se você optar por ir de Uber, poderá utilizar o trajeto para responder e-mails, fazer ligações importantes ou efetuar pagamentos de contas pelo aplicativo do banco”,

acrescenta. Soraia cita também os programas que permitem organizar a rotina e ressalta que as redes sociais podem ser os maiores problemas: “existem aplicativos que ajudam a controlar atividades físicas e que organizam agenda. Os aplicativos de companhias aéreas, por exemplo, reduzem a perda de tempo nos aeroportos com o check -in antecipado. Contudo, o maior risco da tecnologia é a perda de tempo nas redes sociais. O ideal é definir horários para verificar sua timeline e responder mensagens”, diz.

Text Expander:

Todoist:

permite gerenciar suas tarefas, organizando-as pela data de entrega ou por tema.

indicado para quem costuma escrever muitas mensagens e textos no IPhone, a ferramenta permite criar atalhos para palavras ou trechos utilizados com frequência. Ou seja, após criar uma abreviação, basta digitá-la que o aplicativo automaticamente completa com o termo ou trecho estabelecido para aquele atalho.

Inbox by Gmail :

desenvolvido pela Google, o mecanismo se conecta à sua conta do Gmail e gerencia automaticamente os e-mails da caixa de entrada por tema. O aplicativo detecta as palavras-chaves das mensagens e as divide em categorias.O aplicativo detecta as palavras-chaves das mensagens e as divide em categorias.

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^

a INFLUENCIA DA WEB NA

INDÚSTRIA PORNOGRÁFICA

· Mariana Mesquita


O poder da internet em modificar modelos de negócio afeta nicho da pornografia 12% dos sites que existem na internet são pornográficos. 38% dos downloads são pornográficos. 266 novos sites pornôs surgem na internet todos os dias. É indiscutível: a indústria pornô na WEB tem força e deve ser discutida. É claro que a pornografia ainda é tabu, mas é inegável que não exista alguém no seu grupo de amigos consome. De acordo com a revista The Week, 1 em cada 4 mulheres assiste pornografia e 70% dos homens acessam sites pornôs, pelo menos, 1 vez ao mês. Culturalmente, a sociedade teve que esconder esse consumo, por ser associado a depravação e constrangimento. Mas, com certeza você já se deparou com uma revista ou fitas VHS de pornografia em videolocadoras, filmes ou até dentro da sua casa. Conclui-se que o mercado existe e, assim como outros setores, a discussão sobre os meios e suas influências é necessária.

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産業

~indústria

A produção de uma fita VHS de um filme pornográfico envolvia, no mínimo, um cinegrafista, um produtor e um maquiador, além dos atores. No mínimo, 5 empregos, que fora da discussão ética sobre, movimenta a economia, emprega pessoas e gira mercado. Atualmente com a internet, as grandes produções foram substituídas por diversos tipos de vídeos, podendo ser amadores ou grandes produções, com diferentes linguagens. Além da facilidade de poderem ser vistas online ou baixadas no celular. Entretanto, essa substituição teve um custo: a facilidade do amadorismo diminuiu a equipe e o retorno financeiro. Alterando o cenário dos produtos, que se viram em frente a um problema: INOVAR PARA SE MANTER. O produtor de filmes pornográficos Valter José, da antiga produtora Buttmann, comentou que as produtoras ainda estão se adaptando, caminhando devagar e sobrevivendo razoavelmente. Um dos exemplos dessa adaptação é a produção de teasers no Twitter ou a venda de DVDs encartados em revistas. Mas, garante: a mudança que é para melhor. Assim como qualquer mercado, a fase de adaptação acarreta algumas consequências como falências e demissões. Facilmente encontra-se relatos de ex-atrizes pornôs que hoje possuem dificuldades para de se sustentar somente com os cachês das cenas. Para Valter,'Não adianta fazer a câmera, ser o produtor-executivo, dar o título, escrever o roteiro, correr atrás das atrizes, correr atrás de locação, acordar às 5 da manhã. Tudo isso para receber apenas R$500,00'. O produtor, que também é mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo, diz que recebe o mesmo valor por palestra no interior paulista.

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~nas redes

ネットワーク

Mas, mesmo assim, a balança é positiva: a web chegou para facilitar. Não só nesse mercado, mas no comércio, pesquisa, relações pessoais. A versatilidade e o leque de opções e facilidades introduz uma nova cara para tudo que está inserido no seu mundo, transforma e abre outras portas. O produtor Ruy, da Xplastic, produtora de filmes pornôs conhecida pelo seu tom “art porn” considera a pirataria e a velocidade de novas exigências do consumidor o ponto mais crucial da transformação que a web trouxe para a indústria. A XPlastic, hoje conhecida como Luz Vermelha Filmes, surgiu nos anos 2000 e usa como diferencial a pornografia alternativa, que foi uma grande influência dos meios digitais no mercado. “Pessoas que não entrariam para a pornografia tradicional passaram a perceber a exibição de seus corpos ou atos sexuais de forma mais natural, em parte por conta de sites como o fotolog que

era um grande sucesso na intenet no início do século” Mesmo em meio a tantos obstáculos, a indústria pornográfica na WEB cresce com o modelo digital. Com o fim das vendas de VHS e DVD, a interação mudou e o mercado também, mas proporcionou outras saídas para os produtores: “O porno alternativo foi uma grande influência dos meios digitais [...] É um mercado de nicho, menor que a pornografia tradicional. Mas nossa entrada neste mercado, e crescimento, foi possível pela internet. Como a rede nivelou todo mundo oferecendo a todos as mesmas dificuldades, foi possível enfrentar concorrentes que não teríamos como competir no modelo anterior dos VHS ou DVDs”. A indústria pornográfica não perdeu força, se transformou. Ainda existem diversas discussões acerca desse tema que a Zion vai discutir, mas conclui-se que: a WEB muda, transforma e cresce todos os nichos.

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CRÔNICA

慢性

· Daniel Sakimoto


O tempo é para todos, a paciência não. É muito ruim ficar sem celular. Já faz um mês que eu quebrei o meu e eu sinto como se tivesse quebrado um braço, pois estou impossibilitado de fazer diversas tarefas. Como que eu acordo de manhã sem celular? Como que eu vou saber as horas? Como eu me comunico com as pessoas? Como que eu vou procurar carona? É feriado e eu preciso voltar pra minha cidade, passar um tempo com o meu pai. Uma vez que não tenho carro e não quero gastar os 100 reais de passagem de ônibus na rodoviária, recorro às caronas - uma ação voluntária onde os motoristas abrem as demais vagas de seu carro para passageiros, em troca de uma ajuda de custo na gasolina e no pedágio. As viagens são organizadas através de grupos específicos em redes sociais, que permitem que os indivíduos marquem seus pontos de partida, de chegada e as suas rotas. Eu sempre fui passageiro, pago 60 reais por percurso, e raramente pego carona com pessoas conhecidas, a maioria das viagens são feitas com pessoas que conheci justamente pela necessidade de se locomover entre uma cidade e outra.E as experiências são diversas, uma vez que as pessoas são diferentes. A viagem é de quase 4 horas, e em algumas vezes eu passei o tempo inteiro conversando com o motorista e os demais passageiros, sobre qualquer coisa que fosse. Mas na maioria das ocasiões eu dormia, eu prefiro dormir e estrada sempre foi o meu ponto fraco do sono.

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Dormir é melhor, o percurso se passa mais rápido e desta vez eu também dormi. Marquei carona às 10 da manhã com uma moça de, mais ou menos, 25 anos. Fui pontual de uma maneira que não estou acostumado a ser - sorte a minha. A mulher estava agitada e às 10 e quatro já tava reclamando do atraso dos demais passageiros: um homem, que chegou um minuto após a objeção, e uma outra garota. A motorista me contou que avisou a esta garota que só iria esperar até às 10 e 10. Meu deus, ela deve estar com muita pressa mesmo - as caronas costumam ser mais pacientes com este tipo de coisa. Pontual, às 10 e 10 a moça virou a chave e acelerou, ignorando a menina que se atrasou e seus 60 reais que ajudariam a pagar a gasolina da viagem. Ligou também o som do carro, que tocava sertanejo de festa. Sem celular - sem música pra ouvir ou mensagem para responder - e já gastas as minhas tentativas de criar uma conversa fiada com o cara e com a motorista apressada, não me restou muito o que fazer se não dormir. Quando acordei eram meio-dia e vinte e o sertanejo ainda tocava. Demorei um tempo pra me recobrar do sono. Pelas minhas contas, faltava mais de uma hora pra chegarmos mas percebi que seria bem menos. A motorista era apressada de verdade. Impaciente, ficava na faixa da esquerda da estrada e estava mais rápida que todos os outros carros. Quando encontrava um carro na sua frente ela colava na traseira e ficava jogando farol alto. Jogava várias vezes, até o motorista da frente dar a seta e mudar para a faixa da direita.

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Um pouco mais perto do nosso destino, a estrada se estreitou e já não havia espaço para os automóveis mudarem de faixa para a apressadinha passar. Mas ela tentou, colou atrás de uma SUV e ficou por uns cinco minutos jogando o farol no retrovisor do cara, que simplesmente a ignorou. Começou então o melhor momento dessa viagem toda. Depois de muito bufar amaldiçoar (com os olhos) o cara da SUV, a nossa motorista começa uma dança esquisita na estrada, mudando de faixa quase que aleatoriamente buscando passagens, buscando ser a mais rápida novamente. Foi da faixa da esquerda para a da direita, depois voltou para a do meio, passou mais um ou outro compacto que atrapalhava - tentando ultrapassar a todos como em uma corrida - voltou para a da esquerda e lá estava a SUV novamente, na sua frente. Costurou os carros e não passou, continuou tentando até a entrada da cidade. A SUV tomou um caminho e o nosso carro tomou outro. Ela teve que diminuir a velocidade conforme o limite estabelecido pelo ex-Prefeito Haddad, e aumentado pelo Dória foi se estreitando. Chegamos seguros, foi perigoso mas valeu mais do que pagar 40 reais mais caro no ônibus, que ia demorar mais de 5 horas para chegar até a rodoviária da Barra Funda. Pessoas são pessoas, pensam diferente, conversam diferente, dirigem diferente. Ela me deixou na entrada do metrô, paguei os sessentinha prometidos e rumei para a estação. No vagão, o celular me fez falta mais uma vez, todos estavam com os seus, mexendo neles em seus caminhos, inteiros. Menos eu, ainda me falta uma parte do corpo.


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