Trabalho individual de Semiologia

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Fotojornalismo Uma perspetiva social

“Aquilo que a Fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez: ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente.” Roland Barthes in A Câmara Clara

UC: Semiologia Docente: Prof.ª Célia Belim Discente: Daniela Costa nº 219796 Ciências da Comunicação 2015/2016


FOTOJORNALISMO: UMA PERSPETIVA SOCIAL

Introdução “Fotojornalismo: uma perspetiva social” surgiu no âmbito da unidade curricular de semiologia, do curso de ciências da comunicação e pretende uma análise mais aprofundada de fotografias com temas impactantes. A razão de existência do fotojornalismo é, precisamente, o jornalismo sendo que Jorge Pedro Sousa define-o como “uma atividade singular que usa a fotografia como um veículo de observação, de informação, de análise e de opinião sobre a vida humana e as consequências que ela traz ao Planeta. A fotografia jornalística mostra, revela, expõe, denuncia e opina”. Assim, uma fotografia jornalística só o é se estiver acompanhada de um tema de relevo. A perspetiva social acarreta só por si um importante fator daquilo que é a transmissão de uma mensagem, causar uma emoção no recetor, não só pela sua componente humana individual, mas também porque cada vez mais nos deparamos com uma multiplicidade de questões que envolvem toda a comunidade, onde o objetivo de desenvolvimento e evolução é comum à maioria. O presente trabalho apresenta uma seleção de fotografias em suporte digital captadas com máquinas fotográficas e smartphones vencedoras do prémio World Press Photo of the year, tal como um trabalho do conceituado fotojornalista do The National Geographic, David Guttenfelder. Mais que a captação da realidade, pretendem abordar temas sociais impactantes e de interesse global, que marcaram várias gerações. Estas imagens são, assim, analisadas de uma perspetiva semiológica, através da aplicação de algumas soluções metodológicas, como a mensagem visual, segundo Martin Joly, mais precisamente a plástica, que nos ajuda a compreender as questões relacionadas com a parte estética da imagem (significantes plásticos); relativamente à mensagem sémica são analisadas as funções da linguagem para uma melhor compreensão da relação do referente, emissor, recetor, mensagem, canal e código; os quatro níveis de transferência/ interpretação e, por último, o studium e puctum segundo Roland Barthes, conhecido semiólogo francês que em muito contribuiu para a análise da imagem e fotografia.

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Apresentação e discussão dos resultados As fotografias analisadas encontram-se anexadas, tal como o autor e respetiva nota biográfica. 1. A primeira fotografia em análise data do ano de 1956, a segunda vez na História que o prémio World Press Photo of the Year foi atribuído. Comecemos pela Mensagem plástica, mais concretamente os significantes plásticos, segundo Martine Joly, podemos reparar que: a moldura física é inexistente pois o nosso campo imaginativo leva-nos a perspetivar uma realidade para além da fotografia, neste caso, uma multidão de pessoas que anseiam os seus familiares e amigos, carregada de emoções; o enquadramento é vertical e estreito o que nos remete para proximidade com os indivíduos da imagem; ponto de vista frontal em que é facultada a sensação de estamos na mesma posição que os restantes indivíduos presentes na imagem; prevê-se a utilização de uma objetiva com maior distância focal pela expressividade dos semblantes em primeiro plano sendo, também, o mais relevante; a construção axial está presente na medida em que o nosso olhar se foca automaticamente no centro da imagem, mais precisamente no olhar emotivo da criança para o seu pai. Tendo em conta que o facto de a imagem se encontrar a preto e banco está relacionado com a época em que foi captada, dificilmente podemos tirar elações sobre a cor. Quanto a análise sémica, com destaque para às funções da linguagem presentes encontramos: função referencial- o facto da fotografia ser a preto e branco e a maneira como as pessoas presentes se encontram vestidas dá-nos a informação da época, o próprio texto jornalístico informa o leitor que se trata do pós-II Guerra Mundial; função emotiva- expressa na figura da criança, desde a sua expressão facial até à delicadeza com que toca no rosto do seu pai; função poética- a afetividade presente neste reencontro, a saudade e a função metalinguística- regresso de um ente querido= afeto + emoção + saudade Ainda de referenciar os 4 (quatro) níveis de interpretação:

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Incidária- Esta fotografia apresenta em destaque uma criança, com um ar emotivo, rodeada por três pessoas que a amparam. O indivíduo que se encontra à frente da criança aparenta ter uma relação próxima com ela pela forma como quase a abraça, o homem que se encontra por trás da criança tem uma boina que aparenta estar relacionada com as forças armadas. Num 2º plano, podemos observar diversas pessoas, maioritariamente de gravata. Cultural- 1956. Passados mais de 10 anos do fim da II Guerra Mundial, o último prisioneiro é libertado e regressa a casa. Na imagem vemos o reencontro com a filha. Icónica- No anexo nº 1, transferência icónica 1.1 é observável algumas semelhanças com a fotografia em análise, tal como, a mão a tocar no rosto, o amor entre pai e filha e, um possível, reencontro. Motivo- Emoção, afeto entre pai e filha, a saudade, retrato do regresso dos soldados prisioneiros durante a II Guerra Mundial. Por

último,

a

análise

do

studium

e

puctum

segundo

Roland

Barthes.

O studium apresenta-se através das roupas que nos são a referência de uma época mais longínqua e menos atual, tal como o preto e branco da fotografia que foi originalmente tirada nesse formato. Já o puctum em que o pressuposto é mais pessoal, considero estar expresso no olhar da criança que me toca particularmente e onde. A emoção expressa na sua cara inocente, o calor da mão no rosto, toda a envolvência de um olhar frágil e esperançoso como se a figura do pai fosse uma miragem e à sua frente tivesse surgido algo que outrora parecesse impossível. 2. A segunda fotografia “Fuga para a Liberdade” é de 1965 e mais uma vez figura no espólio fotográfico do The World Press Photo of the year. Analisemos de novo, os significantes plásticos. Apesar da inexistência de uma moldura física, ou seja, materializada, podemos considerar que as ramagens que envolvem parte da imagem são como que uma moldura que acaba por nos fechar um pouco o espaço imaginativo; quanto ao enquadramento é de proximidade com os sujeitos presentes na imagem e apesar do ponto de vista ser picado; estamos perante uma construção axial, 3


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já que o foco se direciona para o centro da imagem onde se encontra a mãe com os filhos. Novamente a fotografia é, originalmente, a preto e branco dado o seu contexto histórico e a inexistência da fotografia a cores. Passemos às funções da linguagem presentes (análise sémica): função referencial- o preto e branco e a qualidade da imagem dão-nos a indicação de uma fotografia analógica que remota a um outro tempo e uma outra época, tal como os sujeitos presentes que aparentam ser de etnia asiática, derivado ao formato dos olhos. Mais uma vez, a descrição que acompanha a imagem dá a informação de que a fotografia foi captada precisamente no Vietname; função emotiva- visível no rosto da mulher adulta e das crianças. Aparentam precisar de ajuda, de socorro, fogem de algo ou de alguém; função poética- a mãe, protetora, que tenta desesperadamente salvar os filhos da guerra; função fática- o olhar da a criança que figura mais atrás na imagem, diretamente para o recetor da mensagem, como se estivesse a pedir ajuda. Quanto aos 4 (quatro) níveis de interpretação: Incidária- Num primeiro plano, cinco pessoas, mãe e filhos, assustados e uma mulher aparentemente mais velha que está a ajudar. Percorrem um rio. A mãe carrega um bebé ao colo que chora desesperadamente. Todos são de etnia asiática. Algumas ramagens cobrem a lateral da imagem. Cultural- A Guerra do Vietname tinha começado em 1955. Esta fotografia foi captada em 1965, no decorrer dessa mesma guerra, durante a fuga de uma mãe e dos seus filhos para escaparem ao bombardeamento por parte dos EUA à sua aldeia. Icónica- Anexo nº2, transferências icónicas 2.1 e 2.2. O ideal da mãe que protege o filho, presente também nas fotografias anexadas, tiradas durante a mesma guerra. O mesmo sofrimento e, ainda, algumas semelhanças visuais. Motivo- Sofrimento; fuga da guerra. Por

último,

a

análise

do

studium

e

puctum

segundo

Roland

Barthes.

O studium apresenta-se através da imagem dos sujeitos presentes que nos remontam a um qualquer país asiático e, novamente, a qualidade da fotografia que sendo analógica e a preto e branco nos dá a indicação da época, neste caso anos 60 do século XX. 4


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Já o puctum penso estar expresso nos semblantes de todos os sujeitos presentes na imagem. A mãe desesperada e as crianças assustadas. Toca-me, particularmente, o ar de medo do bebé e o aparente pedido de ajuda da criança que figura atrás da mãe. 3. Em terceiro lugar uma imagem de 1993. Passaram-se 10 anos desde que a última fotografia vencedora do World Press Photo of the Year tinha sido captada a preto e branco. Quanto aos significantes plásticos, apesar de não existir uma moldura física estamos perante um plano desértico o que só por si acaba por não permitir uma imaginação muito mais abrangente da imagem, o foco está na mulher que carrega um corpo; o ângulo é frontal, pois a figura feminina aparenta estar à “nossa altura” dado a impressão de realidade; aparentemente estamos perante uma objetiva com distância focal curta, apesar do foco ser a mulher todo o meio envolvente é de uma grande nitidez; a construção é axial, o nosso olhar está focado no centro da imagem que, apesar de ser a preto e branco, a luz é orientada para a figura da mulher com o corpo nos braços. As funções da linguagem presentes são: função referencial- a paisagem desértica, as roupas do sujeito feminino e a cor da sua pele informam-nos de que a fotografia foi captada em África. O texto anexado, confirma essa informação, dado a referência de precisar a Somália como lugar exato da captação da fotografia; função emotivanovamente uma mãe, desta vez, que vai enterrar o seu filho. Apesar do rosto não ser visível existe um cuidado e afeto acrescido na forma como a pega; função poéticareferência aos milhares de pessoas que morreram à fome em várias partes de África, a ideia da mãe cuidadosa; função metalinguística- Somália (África)= cultura muçulmana + guerra civil + fome. Quanto aos 4 (quatro) níveis de interpretação: Incidária- Num primeiro plano, uma figura feminina bastante magra, segura o que aparenta ser um corpo embrulhado em panos. Esta mulher veste roupas típicas africanas. Num segundo plano, um deserto imenso, com algumas plantas, mas ainda assim bastante seco.

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Cultural- Esta imagem é de 1993. Foi captada aquando a guerra civil na Somália e, principalmente por esse motivo, muitos somalis morreram à fome. Aqui vemos a imagem da mulher que, de acordo com os costumes muçulmanos, enterra o seu filho embrulhado num pano branco, numa vala comum. Icónica- Anexo nº 3, transferência icónicas 3.1, 3.2 e 3.2.É clara a semelhança com a famosa escultura Pietá, tal como com uma outra imagem de guerra Motivo-Guerra, sofrimento e fome. Por

último,

a

análise

do

studium

e

puctum

segundo

Roland

Barthes.

O studium está presente nas roupas da mulher e na maneira em como a mesma vai enterrar o filho, típico da cultura muçulmana daquela região de África, a Somália. A figura da mãe que vê um filho morrer antes dela mesma, contrariando a própria “lei da vida” é, na minha opinião, o puctum desta fotografia. 4. A fotografia analisada neste ponto é a vencedora de 2016 do The World Press Photo of the year. “Hope for a new life” é o titulo que a acompanha, juntos, têm percorrido o mundo. Quanto aos significantes plásticos, o arame, tal como as mãos “desconhecidas” são a moldura desta fotografia, que confinam à observação aquilo que vemos na imagem e não nos permitem alargar em muito o nosso espaço imaginativo; o enquadramento é de proximidade; o ângulo normal e, no entanto, ligeiramente contrapicado, dá a perceção de que o fotografo estaria deitado; a construção axial, em que nos focamos na criança; a opção da fotografia a preto e branco numa altura em que o digital e a cor é tão vulgar poderá ter sido uma forma de intensificar a dor ou causar um maior impacto no recetor da mensagem visual; a luz parece incidir sobre o bebé como se de um rasgo de esperança se tratasse. Para as funções da linguagem, destacamos: função referencial- esta imagem tem percorrido o Mundo como símbolo do sofrimento dos refugiados, principalmente desde o fecho das fronteiras por parte da Hungria; função emotiva- o pai que passa o bebé, esperançoso de uma vida melhor e fugindo da guerra; função apelativa- o olhar do

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sujeito masculino; função poética- sinédoque: os braços e mãos que, anonimamente, simbolizam esperança. Quanto aos 4 (quatro) níveis de interpretação: Incidária- Um homem que olha para outro (ao qual não vemos o rosto), recebendo um bebé, através de uma abertura entre uma barreira de arame farpado. A expressão da criança não é visível. Cultural- Estamos no ano de 2016 em que um dos grandes problemas que assola a humanidade é a crise dos refugiados, que fogem da guerra na Síria, procurando oportunidades e fugindo da morte. A Hungria foi tornando a sua postura em relação a este caso cada vez mais dura, criando uma barreira de arame farpado ao longo da sua fronteira com a Sérvia, que já é conhecida como o “muro de Berlim” da atualidade, que impedindo assim a passagem dos refugiados que sonham chegar à Europa. Icónica- No anexo nº 4, transferência icónicas 4.1 e 4.2 observamos outras tentativas de passagem deste mesmo muro por crianças e adultos. Motivo- Esperança; recomeço. O studium é observável através da barreira de arame que, no contexto atual, facilmente é atribuída ao muro entre a Hungria e a Síria. Já o puctum é a criança. A figura de um bebé que é atravessado através de uma barreira de arame farpado é emocionante e ao mesmo tempo mostra o desespero da procura de uma vida melhor. 5. A última fotografia é da autoria de David Guttenfelder, e foi tirada entre as duas Coreias no ano de 2015. É também a única com cor. Simbolicamente, representa a viragem, o fim das atrocidades representadas direta ou indiretamente nas imagens anteriores. Passemos à análise dos significantes plásticos. Novamente é percetível que não existe uma moldura física, no entanto, a figura das várias mulheres acaba por definir um limite que não nos permite imaginar para além da sua figura. Esta moldura acaba por coincidir com os limites do suporte; quanto ao 7


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enquadramento, é largo, porque é percetível o vislumbre de um certo horizonte quando observamos a imagem, apesar de o foco estar essencialmente nas mulheres que se encontram no primeiro plano da imagem; um ângulo frontal ligeiramente picado, apesar de termos a sessão de grande proximidade, existe a ideia de uma certa altura que permitiu também a profundidade que observamos; a objetiva é de maior distância focal; a construção é em perspetiva pois “a essência está integrada num cenário em perspetiva, ocupando a frente da cena, no primeiro plano” in ppt Mensagem Visual; nesta imagem podemos ainda referenciar a cor como significante plástico, onde é visível a presença de cores claras, mais concretamente o branco que significa, segundo o Tratado de Ontologia das Cores de Osny Ramos, unidade, paz ‐ harmonia, pureza essencial, o uno entre outras designações e algumas cores primárias que, de acordo com o mesmo

tratado, significam : verde- harmonia bio cósmica, esperança; amarelo- identidade, sabedoria natural; magenta- essência das coisas. As funções da linguagem presentes são: função apelativa- o olhar destemido, as mãos que se entrelaçam, o formato dos lábios que parecem cantar/gritar palavras de ordem ainda que de forma suave e delicada, a roupa branca, tudo representa a força da união destas mulheres que se juntam para atingir um objetivo: terminar com a guerra; função fática- o plano próximo que nos faz querer que nós mesmos somos parte daquela manifestação; função poética- imponência da figura da mulher, feminista, que não se deixa ficar parada a ser meramente espetadora e luta por uma causa, também a roupa branca, bastante conotada com o valor de paz; função emotiva- o céu que nos faz sonhar e ao mesmo tempo se mistura com a figura agressiva dos arames que remetem para a proibição como se fosse o quebrar desse sonho, ao mesmo tempo, a presença do aglomerado de mulheres determinadas em derrubar o “muro” de arame; função referencial- o formato dos olhos dos sujeitos da imagem mostram a sua origem étnica. Quanto aos 4 (quatro) níveis de interpretação: Incidária- O primeiro plano, quatro figuras femininas, unidas e vestidas de igual com a cor

branca.

Mais

atrás,

um

grupo

mulheres

segue-as.

O céu, ao fundo e do lado direito uma rede que no topo apresenta aquilo que se assemelha a arame farpado.

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Cultural- Um grupo de cerca de 30 mulheres, incluindo a líder feminista Gloria Steinem, atravessam as zonas desmilitarizadas entre as Coreias, numa marcha a favor da paz. Icónica- No anexo nº 5, transferências icónicas 5.1 e 5.2, observamos outras marchas pela paz que decorreram pelo mundo. Motivo- Feminismo; luta pela paz. Por

último,

a

análise

do

studium

e

puctum

segundo

Roland

Barthes.

A indicação de que estamos perante uma marcha que luta pela paz é o mais notório exemplo de studium desta imagem, assim como as referencias culturais. O arame farpado referido anteriormente conjugado com toda a simbologia de esperança e força que a própria fotografia representa é o puctum.

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Conclusões Finais O objetivo inicial deste trabalho era simplesmente a análise de imagens de uma perspetiva semiótica, utilizando apenas as metodologias da Mensagem Visual e Sémica. No entanto, o seu desenrolar levou à necessidade de aplicação de outras metodologias que melhor ajudassem à perceção da essência de cada fotografia. Afinal, os suportes deste trabalho, não se tratam apenas de simples imagens quotidianas, mas sim de exemplos brilhantes de fotojornalismo que retratam a realidade muitas vezes desconhecida pelo espetador. O uso do studium (objetivo) e puctum (subjetivo) revelou-se indispensável, uma vez que, juntos, formam a dualidade que norteia o interesse por uma fotografia. Segundo Barthes, o studium “é o interesse guiado pela consciência, pela ordem natural, que engloba características ligadas ao contexto cultural e técnico da imagem”; já o puctum “tem caráter subjetivo, é um interesse que se impõe a quem olha a fotografia, diz respeito a detalhes que tocam emocionalmente o espectador e variam de pessoa para pessoa, é o que estimula na fotografia, o que fere o apreciador.” Assim, o uso desta metodologia, foi a que mais me enriqueceu em termos de observação de imagens fotográficas. Ao longo das diversas análises foi de fácil perceção encontrar um ponto comum no que se refere aos à composição da imagem, sendo a construção axial (“coloca o cerne no eixo do olhar, em geral exatamente no centro da imagem”) a mais utilizada a nível fotográfico. A função apelativa é, na sua maioria encontrada, como uma forma de captar a atenção do espetador através das emoções, fazendo com que ele próprio se interessasse pela descodificação da imagem. Em suma, “hoje, toda a gente sabe que a fotografia não é uma produção de imagens inocente, casual ou mecânica: não é, como muitos pensaram durante muito tempo, uma simples reprodução da “natureza”, do mundo que nos rodeia, mas antes uma linguagem relativamente estruturada nas suas formas e significados, e “trabalhada” por uma história que se foi progressivamente enriquecendo.” in A Fotografia, História, Estilos, Tendências, Aplicações; página 9. 10


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Bibliografia www.blogs.band.com (visitado a 20 de Maio de 2016) www.bocc.ubi.pt (visitado a 9 de Maio de 2016) www.worldpressphoto.org (visitado entre 9 e 21 de Maio de 2016) www.olhares.sapo.pt (visitado a 13 de Maio de 2016) www.instagram.com/dguttenfelder (visitado a 9 de Maio de 2016) Belim, Célia (2016). Mensagem Visual. Lisboa: ISCSP Belim, Célia (2016). Fotografia. Lisboa: ISCSP Belim, Célia (2016). Fotojornalismo. Lisboa: ISCSP Belim, Célia (2016). 4 níveis de Interpretação. Lisboa: ISCSP Belim, Célia (2016). Análise Sémica. Lisboa: ISCSP Sousa, Jorge Pedro (2002). Fotojornalismo: uma introdução à História, às técnicas e à linguagem da fotografia na imprensa. Porto Barthes, Roland (2008). A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Lisboa: Edições 70 Joly, Martine (2008). Introdução à Análise da Imagem. Lisboa, Edições 70 Bauret, Gabriel (2011). A Fotografia, História, Estilos, Tendências, Aplicações. Lisboa: Edições 70

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Anexos Anexo nº1 Fotografia 1: World Press Photo of the Year, 1956 Localização: Friedland, Alemanha Fotógrafo: Helmuth Pirath (sem dados biográficos conhecidos, nacionalidade alemã)

“Um prisioneiro de guerra alemão encontra-se com a sua filha. A criança não via o seu pai desde que tinha um ano de idade. Este homem foi um dos últimos prisioneiros de guerra a ser libertado pela União Soviética após o final da II Guerra Mundial. A maioria dos prisioneiros de guerra alemães voltaram para casa através do Grenzdurchgangslager Friedland, um “campo-trânsito” para os refugiados, homecomers, soldados e pessoas que tinham sido deslocadas, criado em setembro de 1945 no estado alemão de Niedersachsen, localizado na Alemanha Oriental.”

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Transferência Icónica 1.1:

Anexo nº 2 Fotografia 2: “Fuga para a Liberdade”, World Press Photo of the Year, 1965 Localização: Luc Thuong, Quy Nhon, Binh Dinh, Vietnam Fotógrafo: Kyoichi Sawada (1935-1970; conhecido e premiado fotógrafo de nacionalidade Japonesa que trabalhou para a UPI durante a Guerra do Vietname acabando por ser assassinado durante o exercício das suas funções, no Camboja.) Câmara: Leica (comprimento focal: 105mm)

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“A mãe e filhos atravessam um rio para escapar ao bombardeamento dos EUA. A Força Aérea estado-unidense evacuou a sua aldeia por suspeita de ser o acampamento base de Viet Cong A Força Aérea dos EUA havia evacuado sua aldeia por suspeita de se tratar do acampamento base de Viet Cong. Em setembro de 1965, os fuzileiros navais dos Estados Unidos iniciaram uma operação de “limpeza” na área norte de sua base militar na cidade costeira sul-vietnamita de Quy Nhon. A base estava sob ataque constante de snipers Viet Cong, escondendo-se nas aldeias vizinhas. Para proteger o perímetro em torno da base naval, os fuzileiros navais varreram as aldeias e evacuaram-nas. A Força Aérea bombardeou, através do ar, as aldeias de maneira a atacar as posições dos snipers Viet Cong.” Transferência Icónica 2.1:

Transferência Icónica 2.2:

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Anexo nº 3 Fotografia 3: World Press Photo of the year, 1993 Localização: Bardera, Somália Fotógrafo: James Nachtwey (1948-atualidade; conhecido fotógrafo de guerra norte americano. No ano de 2001, foi lançado o documentário “War Photographer”, nomeado para um Óscar de melhor documentário, que retratava o trabalho de Nachtwey. Fora utilizadas microcâmaras adaptadas à câmara fotográfica de James, proporcionando a possibilidade de acompanhar o fotógrafo em ação nomeadamente durante os conflitos do Kosovo, Palestina e Indonésia.)

“Uma mulher carrega o seu filho morto, envolto num pano branco, de acordo com o costume muçulmano, para uma vala comum para vítimas da fome, fora da cidade de Bardera, Somália. A fome, que custou a vida de mais de 200.000 somalis, foi o resultado da seca regional e guerra civil. Embora uma grande parte da África Oriental sofre-se com a seca neste período, a Somália foi a única região afetada, que também enfrentou uma guerra em curso. Em janeiro de 1991, o governo de Siad Barre, que governava há 21 anos, foi derrubado O Estado somali, centralizado, ruiu e o país mergulhou na anarquia e degradação social. Depois disso, o Estado somali centralizado ruiu e o país mergulhou em um estado de anarquia e desagregação social. As armas das melícias que lutavam pelo poder eram fornecidas pelos EUA e a União Soviética. 15


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Além dos milhares de civis feridos e mortos nos combates, as milícias também saqueavam as reservas de alimentos. Em setembro de 1992, as Nações Unidas estimam que metade da ajuda enviada para a Somália foi roubado. Um terço a metade do total da população da Somália foi internamente deslocada devido a esta combinação de fome e guerra. Muitos correram para a cidade-mercado de Bardera. A 23 de outubro de 1992, o The New York Times relatou que 11.000 mulheres e crianças que se encontravam num campo de refugiados, necessitavam desesperadamente de alimentos. Mas Bardera, uma cidade sem estradas pavimentadas, não estava preparado para o elevado número de refugiados, para além de que, o aeródromo de Bardera, localizado na junção de duas estradas minadas que conduzem aos portos em Mogadíscio e Kismayu, era totalmente de terra-batida e não podia funcionar quando chovia. Milhares de toneladas de ajuda alimentar chegavam por via aérea, no entanto a taxa de mortalidade, em novembro, continuava a aumentar, e as batalhas entre melícias rivais acabavam por suspender os voos.” Transferência Icónica 3.1:

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Transferência Icónica 3.2:

Transferência Icónica 3.3:

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Anexo nº 4 Fotografia 4: “Hope for a new life”, World Press Photo of the year, 2016 Localização: Röszke, Hungria Fotógrafo: Warren Richardson (1968-atualidade; nasceu na Austrália, mas já viveu nos EUA e na Europa. Autodidata, trabalha atualmente na Sérvia e na Hungria, onde retrata a crise dos refugiados em fotografia. O seu próximo projeto será uma viagem pelo Círculo Ártico de maneira a explorar os efeitos da inconsciência humana em relação ao clima. O seu lema de vida é “We have not inherited the land from our fathers, we have borrowed it from our children.") Câmara: Canon EOS 5D Mark II (comprimento focal: 24.0mm; velocidade: 1/5; F: 1.4; ISO: 6400)

“Um bebé é entregue através de um buraco numa barreira de arame farpado, a um refugiado sírio que já conseguiu atravessar a fronteira da Sérvia para a Hungria, perto Röszke. A Hungria foi endurecendo sua postura em relação aos refugiados que tentam entrar no país. Em julho, começou a construção de um “muro” de quatro metros de altura ao longo de todo o comprimento da fronteira com a Sérvia, para fechar as fronteiras. No 18


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entanto, os refugiados tentaram encontrar maneiras de atravessar esta barreira que ficou concluída no dia 14 de setembro de 2015. Este grupo passou quatro horas escondido num pomar durante a noite, contornando a polícia das fronteiras, atacados com spray pimenta, e tentando encontrar uma maneira escapar.” Transferência Icónica 4.1:

Transferência Icónica 4.2:

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Anexo nº5 Fotografia 5: Manifestação pela paz, 2015 Localização: Coreia Fotógrafo: David Guttenfelder (1969-atualidade; é um dos mais conceituados fotojornalistas da atualidade e de sempre, sendo o seu trabalho conhecido por todo o Mundo. Já realizou mais de 40 viagens pela Coreia do Norte, conseguindo trazer alguns retratos do país mais isolado a nível global. Para além de ter sido premiado 8 vezes pela World Press Photo é, desde 2014, júri desta mesma associação.) Fotografia captada a partir de um smartphone

“Um grupo de 30 ativistas da paz do sexo feminino, incluindo a líder feminista Gloria Steinem e duas outras vencedoras do Prémio Nobel da Paz, atravessaram a zona desmilitarizada da Coreia do Norte na Coreia do Sul para pedir o fim da divisão das Coreias, cuja hostilidade sem solução é simbolizada pelas fronteiras fortemente armadas.

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Transferência Icónica 5.1:

Transferência Icónica 5.2:

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