Vida no Campo (amostra)

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A agricultura enquanto economia

A primeira questão da desruralização é a transformação agrícola. Agrícola é uma palavra cuja raiz é essencialmente económica: são agrícolas os produtos, os mercados, os preços, as tecnologias e processos de produção, etc. Hoje, quer a Política Agrícola Comum, PAC, imposta pela União Europeia, quer os acordos mundiais de comércio, fizeram com que a agricultura mercantil – a que não é de auto­ ‑subsistência e/ou de auto­‑consumo familiar – ficasse refém de um mercado que é global e que, apesar dos custos associados ao transporte dos produtos alimentares e bebidas, produz consequências fortíssimas nos preços ao nível local e nacional. Não é um fenómeno novo mas agora generalizou­‑se. Tal como no resto da economia, quer a massificação, a incorporação tecnológica, a organização empresarial e a procura de economias de escala – no leite, por exemplo –, quer as estratégias de concorrência pela qualidade e pela distinção dos produtos – nos produtos de Denominação de Origem Controlada –, implicam uma forte exposição das pequenas ou das grandes empresas aos mecanismos da concorrência e à elevada dependência das redes de distribuição e de comercialização. Os produtos ditos biológicos e tradicionais (os que incorporam pouca ou nenhuma adição de fitossanitários, adubos, pesticidas, etc., ou que não usam espécies transgénicas e culturas forçadas como as estufas) fazem parte, eles próprios, de sub­‑sistemas concorrenciais nos seus mercados específicos, o que, apesar da distinção, da qualidade e do aparente monopólio que os caracteriza, não os resguarda de formas de concorrência muito evidentes. Por serem normalmente produtos de pequena escala de produção (há excepções, como o Vinho do Porto), existe uma desproporção entre a fraDesruralização

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