Revista Universo IPA 8

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Comparação com outros povos O povo brasileiro é considerado um povo muito acolhedor, já o de outros países é visto como frio e de alguma forma não deixa

C OMP OR TAME NTO

É próprio do brasileiro manter relações cordiais e de proximidade com o outro

qualquer pessoa se aproximar. Mattos comenta que esses outros países, além da cultura diferente, têm uma “combinação de fenômenos que gera um produto que não é intencional e, por isso, podem acabar não sendo cordiais, dependendo de alguns fatores”. Para o professor de Sociologia, João Aço, “cada sociedade tem suas próprias peculiaridades culturais”. As circunstâncias de formação econômico-social capitalista implicaram mudanças e adaptações muito próprias e peculiares em cada povo. “Sob o aspecto da miscigenação de povos e trocas culturais, o Brasil é a expressão criativa da miscigenação populacional e tem ‘a cara do futuro’, talvez outras nações possam olhar nossa experiência histórica como um modelo de convivência relacional e tolerância entre diversidades de culturas. Entretanto, os aspectos de nossa histórica desigualdade social e dissimulação dos conflitos sociais precisam ser superados”, afirma Aço.

Nem sempre é assim... A cordialidade do brasileiro pode não ser intencional e sim advir da cultura passada de geração em geração, que influenciou os brasileiros. Sem essa intenção, nem todos se consideram cordiais e nem consideram o povo brasileiro um povo acolhedor. Walter Teixeira Depauli, estudante de Direito do 6° semestre da PUCRS, analisa que para ser uma pessoa cordial é necessário autosatisfação, mas com todas as dificuldades que os brasileiros enfrentam é impossível ser cordial num ambiente em que prevalece a lei do mais forte e do mais esperto, em que os limites entre os agentes da lei e a bandidagem são tênues. Depauli não se considera uma pessoa cordial. “No transcorrer dos dias tento ser o mais cordial possível, entretanto com a falta de educação das pessoas fica difícil manter essa postura”.

Jeitinho brasileiro Outra característica do povo brasileiro é o conhecido ‘jeitinho’, um modo de agir usado para driblar normas e convenções sociais, diferente da cordialidade. Para o professor de sociologia do IPA, ‘jeitinho brasileiro’, a ‘malandragem’, aprofunda aspectos da dualidade entre o mundo da Rua e o mundo da Casa”. O estudante Mattos complementa falando que o “jeitinho” brasileiro vem justamente das leis que não são cumpridas. O sociólogo Aço diz que “formalmente aceitamos e criamos leis que dizem que todos são

iguais perante a elas mas, na prática, quando assumimos certas posições de mando, fazemos juízos de valor baseados em critérios afetivos e às vezes familiares”. “As leis são fracas porque não são cumpridas”, comenta o estudante. Aço também concorda com a ideia de que o jeitinho brasileiro é fruto de impunição: “É uma forma criativa de justificarmos nossas pequenas transgressões ou uma forma de nos esquivarmos da responsabilidade por determinado ato que por princípio está errado”.

Universo IPA | Dezembro 2009

O estudante do 6° semestre de Psicologia da PUCRS, Gustavo Garcia Moll, acredita que o brasileiro é assim devido à cultura de maior proximidade com as pessoas, expressa através de “um certo companheirismo”. “O Brasil é um país de grande miscigenação, devido aos diversos grupos de imigrantes, vindos dos mais variados pontos do mundo, cada um com sua própria bagagem cultural e costumes próprios. Com o correr do tempo, estes povos tiveram que se adaptar uns aos outros, coexistir e, inevitavelmente, se misturar”, analisa. Para Moll, o Brasil ganha com essa característica. As vantagens, segundo ele, estão na“conquista da simpatia do povo de fora, principalmente, aqueles que são originários de países com culturas mais individualistas e menos coletivistas que a nossa. Ganha esse ‘calor’, essa animação que pode ser encontrada em tantos costumes e brilha principalmente durante o mundialmente conhecido Carnaval”. André Luiz Moreno da Silva, que está cursando o 8° semestre de Psicologia na USP, em Ribeirão Preto, concorda que é uma característica que contribui para a nação brasileira, pela junção de várias raízes e culturas diferentes. “Isso facilita a relação com a diversidade”, explica. Porém, do ponto de vista do futuro psicólogo, ser nação com povos tão diferentes pode atrapalhar devido aos vários pontos de vista, o que gera dificuldades na tomada de decisões, já que o Brasil tem muitos interesses que devem ser conciliados. Silva considera a relação cultura-população como dialética e dialógica. “É explícito que existe uma influência no modo de ser do indivíduo brasileiro causada pela cultura. Porém, esse indivíduo também modifica a cultura em que vive, não sendo apenas refém de atos e costumes meramente estabelecidos”, explica.

C OM POR TA M E NTO

Do ponto de vista da psicologia

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