Inbox # Ano 9, edição 10, dezembro de 2014

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Revista Inbox | Centro Universitário Metodista IPA

Ano 9 | #10 | 2014.2

Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns página 4

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Cyberbullying: como acontece e o que fazer



Conselho Superior de Administração - Consad presidente

Stanley da Silva Moraes vice-presidente

Nelson Custódio Fér secretário

Nelson Custódio Fér vogais

Paulo Roberto Lima Bruhn, Augusto Campos de Rezende, Aureo Lidio Moreira Ribeiro, Kátia Santos, Marcos Sptizer, Ademir Aires Clavel e Oscar Francisco Alves suplentes

Regina Magna Araujo e Valdecir Barreros diretor superintendente do cogeime

Wilson Zuccherato

Centro Universitário Metodista IPA reitor

Roberto Pontes da Fonseca Revista elaborada pelos estudantes do 2º semestre do curso de Jornalismo IPA coordenador de curso

Fabio Berti professsores(as)

Letícia Carlan Maria Lúcia Melão diagramação

Turma do 2º semestre noturno do curso de Jornalismo IPA revisão

Editorial

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Revista Inbox está na sua segunda edição e traz os trabalhos realizados pelos alunos do segundo semestre do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Metodista IPA. Nas disciplinas de Projeto Experimental II e de Planejamento e Produção Gráfica e Editorial II, os estudantes foram desafiados a planejar a revista, passando por todas as etapas naturais desse processo, ou seja, tiveram de pensar nas editorias, nas pautas e seus desdobramentos, na produção das matérias e reportagens, bem como elaborar a diagramação dos seus trabalhos. Não foi uma tarefa fácil, especialmente para quem está iniciando o curso. Mas houve o empenho, a dedicação de todos, resultando em um produto de qualidade, o que pode ser observado nas próximas páginas. As editorias presentes nesta edição são: Qualidade de Vida, Tecnologia, Meio Ambiente, Política, Esporte, Economia e Cultura. Na Editoria Qualidade de Vida, o bullying na rede, ou cyberbullying, é discutido por Alina Schmitt e Jéssica Gamarra em Cyberbullying: crime virtual, sentimento real. César Manoel, Letícia Caimi e Rosângela Ludke abordam a importância da relação do ser humano com os animais, em especial com os bichinhos de estimação, em Os benefícios de uma amizade milenar. Uma doença dos tempos atuais e da era dos dispositivos móveis é o foco de Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns, de Juliana Villeroy e Luciana Rabassa. Na editoria Tecnologia, Mariana Mota e

Letícia Carlan Maria Lúcia Melão

Eduarda Kroeff destacam a impressão 3D, e a possibilidade de um acesso fácil por conta de equipamentos mais baratos, em A tecnologia a favor da praticidade. Na editoria Meio Ambiente, o resultado da ideia de 4 amigas que está florindo as ruas de uma comunidade, em Pneus nas paisagens de Itapuã, de Juliana Costa e Sabrina Dias. Na Editoria Política, Moisés Machado e Dilermando Dias, em Horário eleitoral gratuito?, apresentam dados que mostram que esse espaço não é nada gratuito. Bruno Biguá e Fábio Gonçalves, na Editoria Esporte, mostram o futebol americano nos campos de Porto Alegre. Na Editoria Economia, Juliana Pereira e Vivian Leal, em Ficção britânica e realidade argentina, resgatam as crises econômicas pelas quais o país vizinho passou até chegar nos dias atuais. Na editoria Cultura, o universo dos brechós é o foco de Uma alternativa, alternativa, de Joana Troian e João Vieira. O guerreiro do Underground, de Lucas Reis e Mateus Rister, destaca o heavy metal em Porto Alegre e a importância de Flávio Soares no cenário desse gênero musical na capital. Cuba e suas belezas na visão da fotógrafa Lisette Guerra estão em Os encantos de Cuba, de Danglar Duarte e Fabrício Hamester. A história e o pioneirismo de um dos mais importantes grupos da música gaúcha pode ser conhecida em Os Tápes, o elo perdido da música latino americana no sul do Brasil, de Tiago Fernandes. Boa leitura

INSTITUC IONA L

IPA - INSTITUTO PORTO ALEGRE DA IGREJA METODISTA

Letícia Carlan e Maria Lúcia Melão Porto Alegre, dezembro de 2014

foto de capa

edição da foto de capa

Andressa Souza AJor - Agência Experimental de Jornalismo IPA supervisora da ajor

Profa. Lisete Ghiggi arte-final

Carlos Tiburski contato

Rua Dr. Lauro de Oliveira, 71 - Rio Branco - POA/RS 51 3316.1269 | ajor@metodistadosul.edu.br impressão

Gráfica Odisséia (1.000 exemplares) Esta revista foi impressa em papel Reciclato como parte do programa de consumo consciente dos recursos naturais e colabora, assim, com a redução dos danos ambientais.

Sumário

crime virtual, sentimento real ........................... 4 QUALIDADE DE VIDA | Cyberbulling: QUALIDADE DE VIDA | Os benefícios de uma amizade milenar ............................................ 5 QUALIDADE DE VIDA | Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns ........................................... 6 TECNOLOGIA | A tecnologia a favor da praticidade ............................................................................................... 8 alternativa, alternativa ............................................................................................................................................... 9 CULTURA | Uma CULTURA | O guerreiro do underground .................................................................................................................................. 10 CULTURA | Os encatamentos de Cuba ........................................................................................................................................... 12 CULTURA | Os Tápes, o elo perdido da música

latino americana no sul do Brasil ................................................................................................................... 14 nas paisagens de Itapuã ......................................................................................... 16 MEIO AMBIENTE | Pneus eleitoral gratuito? .............................................................................................................................................. 18 POLÍTICA | Horário jardas .................................................................................................................................................................... 20 ESPORTE | Conquistando britânica e realidade argentina ....................................................................................... 22 ECONOMIA | Ficção

Inbox | Dezembro 2014

Vivian Leal

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QUA LIDA D E D E VIDA Inbox | Dezembro 2014

Com a alta VIRALIZAÇÃO na internet, indivíduos têm o propósito de constranger e FERIR outras PESSOAS ALINA SCHMITT E JÉSSICA GAMARRA

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ntigamente, dentro de escolas, nas ruas e até mesmo em condomínios, as crianças e adolescentes implicavam umas com as outras por qualquer motivo. Com o passar dos anos, esse ato passou a ter novos contornos e cresceu em termos de números de ataques e, principalmente, na forma como acontece. Ganhou até um “nome próprio”: bullying (em inglês bully = valentão), que é o ato de agredir verbal ou fisicamente alguém, com muita frequência. Hoje, é possível perceber que essa ação deixou o mundo real e passou também a frequentar o mundo virtual, ou seja, a Internet. Com a criação do acesso ilimitado a qualquer fonte, um indivíduo tem a capacidade de utilizar essa ferramenta, através das redes sociais, para atingir um alvo, uma pessoa. De violência ‘cara a cara’ (bullying), os ataques passaram a ser através de uma máquina. Surge, então, o cyberbullying, que é o bullying através da rede. Esse novo modo de atingir alguém virtualmente é mais preocupante, pois o que é dito (insultos) se multiplica mais rápido. De 2013 para 2014, o número de acessos a aplicativos cresceu, fazendo com que tanto crianças quanto adolescentes tivessem contato com o mundo virtual. Um dos programas mais comentados desse ano virou capa de jornais. Isso porque a ideia original do Secret foi deturpada. De um aplicativo de auto-ajuda, onde se podia contar um segredo sem ser identificado, além de colocar uma imagem como plano de fundo, passou a ser utilizado pelos usuários para divulgar fotos e segredos íntimos de amigos e inimigos. Conectado ao Facebook, o Secret permitia saber quem estava por trás dos relatos, mesmo não conseguindo ver o nome do usuário, o que gerou grande revolta em quem era citado e nem possuía o programa. Segundo o Delegado de Polícia Emerson Wendt, os aplicativos são “ um mero meio

de comunicação, um mensageiro” e por isso podem ser utilizados de forma errada. “O Facebook, o Secret e o Twitter são bastante mencionados como meios de cometimento de crimes relacionados a conteúdo, ou seja, contra a honra, ameaças, racismo e injúria racial, dentre outros”, diz o delegado. Ao navegar pelas redes sociais e aplicativos, é possível acompanhar pessoas que gostam de compartilhar comentários odiosos e de graça. Os ataques acontecem em diversas plataformas na web. O que facilita esses ataques é o pensamento do agressor, de que não será identificado, por isso se sente impune e grandioso. Mas todo aparelho digital tem como ser rastreado através do IP (Protocolo da Internet).“Em regra e em tese, consegue-se chegar à máquina de onde partiu o acesso criminoso, porém, pod e

Alina Schmitt

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Cyberbullying: crime virtual, sentimento real ser difícil identificar o autor quando ele acessa, por exemplo, a internet de um local sem controle na web”, conta o delegado Wendt. Quem faz esse tipo de ação é conhecido como “hater” (em uma tradução mais livre: odiadores). Para a psicóloga Fernanda Soibelman, os haters “são adolescentes sem limites, insensíveis, insensatos, inconsequentes e empáticos”. Na maioria das vezes, os pais não têm noção de que os filhos são alvo dos ataques, ou atacam, pois não contam por medo de serem repreendidos. Segundo o delegado Wendt, a situação piora quando os pais não possuem perfis em redes sociais e não conseguem acompanhar a rotina das crianças “ O ideal é que pelo menos um deles, pai ou mãe, acompanhe a vida digital dos filhos”, destaca. Para a psicóloga Fernanda, os pais devem estabelecer regras, que não podem tirar a privacidade total das crianças. “Elas não podem ser impostas como punições, devem ser inseridas como algo positivo, uma proteção para seu próprio bem”, complementa a psicóloga. Para o delegado Emerson Wendt, os praticantes de Cyberbullyng realizam tal ato por inúmeros motivos. Na maioria dos casos, os agressores são pessoas que também precisam de ajuda, que não possuem o apoio familiar e não têm limites. No entanto, também é possível encontrar aqueles que “ agem somente para serem reconhecidos neste meio virtual, além de possíveis ataques que ocorrem sobre caráter financeiro ou político”, diz ele. Com o aumento deste tipo de delito, foram criadas delegacias especializadas em crimes cibernéticos. Elas têm condições de lidar com situações de maior potencial ofensivo e fazem o acompanhamento de certos casos, antes da denúncia ser efetuada, visto que,em regra, não depende da vontade da vítima para iniciar o procedimento policial, como é o caso da pedofilia.


César Manoel

CÉSAR MANOEL LETICIA CAIMI ROSANGELA LUDKE

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s animais, diferente do ser humano, amam e se doam por completo, sem ligar para aparências e sem pré-julgamentos. Eles só esperam uma retribuição em forma de cuidados e carinho. Isso é consenso para grande parte da sociedade e endossado por especialistas. A médica veterinária Viviane Marques Guyotti, coordenadora do curso de Medicina Veterinária da UniRitter, destaca, ainda, o afeto, o companheirismo, a fidelidade e o amor que o mascote pode dar. Porém, é uma via de duas mãos, pois os bichinhos também precisam receber atenção de seus donos. Entretanto, essa parceria, baseada na troca mútua de favores, não elimina problemas. Os animais estão sujeitos ao estresse, seja por falta de carinho, amizade e companheirismo, seja por conta do excesso de barulho ou por situações fora da normalidade do seu habitat, além, é claro, da falta de comida e água. É nessa hora que o dono, como um líder protetor, deve intervir para que seu amigo de estimação não sinta esses desconfortos. Segundo Viviane, promover o essencial já é um bom começo para uma relação de amizade sadia e duradoura para ambos.

Família Lussani e seus amigos de quatro patas

Quando se estabelece uma relação mínima de convívio, e o próprio bicho de estimação reconhece e começa a obedecer seu dono, o vínculo de amizade entre os dois se fortalece. Todavia, é importante que existam alguns limites nessa relação, pois não faz bem ao dono ser submisso ao seu mascote, seja por ter que estar sempre à disposição do animal e deixar de receber visitas ou de fazer determinados programas. A psicóloga Cristiane Berto Felipe, do Sep (Serviço Escola de Psicologia do Ipa), destaca que “a vida não é compartimentada, cada pessoa é diferente, logo não existe um limite estabelecido, isso é muito pessoal.”O que mais se aproxima de um limite, segundo Cristiane, é a obsessão, pois tudo que nos faz obsessivos, nos causa prejuízos. “Não há problemas em o dono levar seu mascote para dormir com ele. Isso não é algo errado, desde que ele leve também um livro, filme, ou uma pessoa para dormir junto com ele também”, afirma Cristiane. Ela destaca que um tempo mínimo de atenção é exigido para que o animal de estimação seja bem cuidado, mas o mascote não pode virar um transtorno para seu do-

no, privando-o de ter vida social nas diversas atividades do seu dia a dia. “Não podemos esquecer de que animais são animais, e seres humanos são seres humanos: a natureza e o convívio social exigem que alguns hábitos não se misturem e se distinguem entre si”, complementa a veterinária Viviane. José Carlos Lussani e sua família são apaixonados por animais. Em casa, eles têm um cachorro, o Piti, e uma gata, a Nina, que convivem harmoniosamente. Segundo José Carlos, o carinho e a amizade são recíprocos. O cachorro cuida da casa, a gata é carinhosa e a família retribui com os cuidados básicos e muito amor. Entre o dono e seu pet, essa troca de carinho e afeto traz benefícios para ambos. Para o homem, o alívio que a companhia do seu bichinho funciona como uma forma de recuperar as energias perdidas durante o dia a dia, assim como o ajuda a valorizar momentos simples, como o de apreciar estar ao lado do seu fiel companheiro. Ao mesmo tempo, o dono, como recompensa da fidelidade e parceria, deve retribuir o mesmo carinho e atenção para garantir uma vida longa e feliz ao seu parceiro de quatro patas.

Inbox | Dezembro 2014

O dia a dia frenético de um trabalhador, um estudante, de todo cidadão é uma das principais causas dos problemas de saúde da vida moderna. Para evitar que essas dificuldades se agravem e resultem em irreversíveis consequências, toda a ajuda é bem vinda. E ela pode vir por meio de um carinho, uma lambida ou até mesmo de uma massagem de quatro patas bem peludas, isto é, do bichinho de estimação. Essa relação é bem antiga. Há registros desse tipo de amizade desde a pré-história, quando o homem e o animal dividiam a comida em troca de proteção. Atualmente, especialistas reconhecem que essa amizade pode trazer um pouco de leveza ao cotidiano. Para o psicólogo Maurício Pinto Marques, o animal traz diversos benefícios, como auxiliar a pessoa a dar e receber afeto, ser menos egoísta e a ter responsabilidades.

QUA LIDA D E D E VIDA

Os benefícios de uma amizade milenar

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QUA LIDA D E D E VIDA

Nomofobia: mais de 1 milhão de reféns O celular aproximou pessoas que estão a longa distância, colaborou no ofício de diversos profissionais e é uma das ferramentas tecnológicas mais completas atualmente. De acordo com a Agência Nacional de Telefonia (ANATEL), o ano de 2013 terminou com mais de 270 milhões de linhas móveis ativas e, para cada grupo de cem pessoas, o número de acessos é de 136,45, ou seja, alguns indivíduos têm duas ou mais linhas em funcionamento. Segundo pesquisa realizada pelo site G1 em agosto deste ano, só nos primeiros cinco meses de 2014 foram vendidos mais de 28 milhões de celulares, o que representa um aumento de 8% comparado ao mesmo período de 2013.

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Fotos: Juliana Villeroy

JULIANA VILLEROY LUCIANA RABASSA

grande desenvolvimento tecnológico tornou a população mundial dependente de equipamentos, como o aparelho móvel, que oferece inúmeras funções. Tal dependência fez surgir uma nova palavra no jargão da psicologia: adicção psicológica e comportamental, uma espécie de vício, causada, principalmente, pela necessidade de viver em função do celular. Essa submissão exagerada em relação ao dispositivo foi batizada pelos britânicos de Nomofobia (no+mobile+fobia). Apesar de muitas pessoas utilizarem demasiadamente o Smartphone, isso não configura uma doença, uma vez que o nomofóbico possui características específicas e um histórico de problemas psicológicos. “A patologia se revela em pessoas que, quando ficam sem seu celular, acabam apresentando sintomas e alterações comportamentais e/ou emocionais, e os sintomas mais frequentes, são, entre outros, nervosismo, ansiedade, desconforto e angústia”, explica a Psicóloga, Doutora em Saúde Mental e pesquisadora pioneira da Nomofobia no Brasil, Anna Lucia Spear King.

O uso exagerado do celular interferiu no comportamento das pessoas

Ana Carolina Araújo, 20 anos, estudante de Web Design, teve sua vida profundamente atingida pela subordinação ao celular. Com o uso descontrolado do aparelho, ela se sentia independente, mesmo sendo escrava das utilidades da ferramenta.“Eu usava ele o dia todo: na aula, no banheiro, nas refeições e quando estava reunida com a família. Detestava que alguém falasse comigo quando eu estava mexendo no celular. Eu brigava mesmo”, conta a estudante. Segundo a psicóloga Anna Lucia, antes de qualquer tratamento, uma pessoa que usa muito o celular precisa ser analisada para a identificação do eventual distúrbio. “Quando o uso é patológico, o tratamento é realizado com a reunião da terapia cognitivo-comportamental e/ou medicação para orientar o indivíduo com novas formas de uso de tecnologias que não sejam prejudiciais, direcionado para o transtorno primário que foi detectado”. “Meu mundo estava dentro do celular. Podia passar o dia todo somente com o telefone, que eu não me sentia sozinha. Todos

esses medos me fizeram criar um mundo só meu”, relata Ana Carolina. A estudante Ana Carolina procurou um tratamento psicológico e descobriu que o vício pelo Smartphone teve origem nos problemas de relacionamento que ela possui desde a infância. “Sou extremamente tímida, tinha dificuldade de fazer amizade na faculdade e na escola era assim também. Meu mundo estava dentro do celular. Podia passar o dia todo somente com o telefone, que eu não me sentia sozinha. Todos esses medos me fizeram criar um mundo só meu”, relata ela. A jovem fez cinco meses de tratamento e ainda utiliza o celular com frequência, porém, consegue ter controle, pois se relaciona melhor com as pessoas e, agora, tem uma vida fora do aparelho. É comum que o nomofóbico, por não reconhecer o vício, afirme que utiliza o dispositivo móvel de forma saudável. Patrick Paz, 14 anos, estudante e usuário obsessivo das tecnologias, garante que não sofre do problema. Ele conta que começou a utilizar o celular aos sete anos de idade, época em que


QUA LIDA D E D E VIDA ganhou um aparelho do pai, para se distrair e não atrapalhar a rotina doméstica da família. Desde então, o estudante está conectado 24h por dia, e não consegue ficar longe do telefone. “Sou uma pessoa calma, mas se fico sem bateria, sem sinal, ou até mesmo sem o celular, me sinto nu. Não tem nada mais irritante do que isso”, disse o estudante, que completou: “É a pior sensação do mundo”. Patrick destaca que os aparelhos celulares têm cada vez mais funções e que, através deles, pode fazer tudo. “Posso assistir a filmes, ouvir músicas, acessar as redes sociais, comprar produtos, efetuar pagamentos, jogar e outras mil coisas sem precisar levantar do sofá”, complementou. Assim como em outros transtornos psiquiátricos, o portador da Nomofobia busca frequentemente disfarçar o problema. Ao perceber que todos à sua volta já começaram a notar alterações no seu comportamento, o

nomofóbico pode ficar ainda mais ansioso. Para a psicóloga Simone Queli Lima, que trabalha com atendimento online na Psicolink, o comportamento obsessivo não pode ser considerado uma doença e sim uma dependência psicológica ou compulsiva (adicção), tendo como características a perda de controle e de interesse por outras atividades, o uso excessivo do aparelho e a interferência na vida cotidiana. Visto que o tempo de utilização dos celulares não aponta um problema ou vício, é preciso cuidado na hora de um diagnóstico. Ainda segundo Simone, somente casos em que o uso esteja distorcendo objetivos pessoais, familiares e/ ou profissionais é que se deve buscar um tratamento. O celular serve como instrumento facilitador da comunicação, mas o mau uso deste tem causado a dependência de tal tecnologia. De acordo com uma reportagem realizada

pelo site G1, em julho deste ano, psicólogos da Universidade de Gênova, na Itália, pediram formalmente que a Nomofobia fosse incluída como uma patologia no manual de diagnósticos de transtornos mentais DSM-V. Estima-se que 20% da população mundial sofra da doença, a maioria jovens entre 18 e 24 anos. Em situações mais complexas, em que o paciente necessite utilizar medicamentos para o controle da ansiedade, o psicólogo e o psiquiatra devem trabalhar juntos para um tratamento bem sucedido.

Acesse o site www.grupodelete. com e conheça os dez passos para o uso consciente das tecnologias. Para orientação psicológica, contate ajuda através do site www.psicolink.com.br.

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Os nomofóbicos tendem a se isolar e criar um mundo próprio, totalmente online

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A tecnologia a favor da praticidade TEC NOLOGIA

Divulgação/PUCRS

Rodrigo Krug apresenta suas criações

MARIANA MOTA EDUARDA KROEFF

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tecnologia de impressão 3D foi criada por Charles Hull, em 1984. Mas apenas na última década é que as impressoras ficaram mais simples e com preços acessíveis. O mercado de prototipagem rápida é crescente e promissor, já que a tecnologia é ampla e pode ser utilizada em diversas áreas. Um grupo de cinco estudantes Porto Alegrenses se uniu para produzir a impressora 3D com menor custo e de fácil utilização do Brasil. Somente três anos após a ideia é que o projeto foi aprovado, pela Incubadora Raiar (PUCRS), para o início da produção. Um ano e meio depois, em Julho de 2013, mais de 100 unidades já haviam sido vendidas, e os números só aumentaram. A equipe é liderada desde o início por Rodrigo Krug, 27, técnico em mecatrônica. As

expectativas quanto ao uso da CL1, como foi denominada a impressora, são diversas. Com valor abaixo da média, R$ 4.650,00 , o equipamento precisa apenas de um cartão de memória para iniciar a confecção de algum produto, que pode atingir 180mm de altura, largura e profundidade, aproximadamente do tamanho de um tablet de 7 polegadas. E a impressão não é cara, custando R$ 0,14 o centímetro cúbico. Os usos mais comuns têm sido para o estudo de produtos de design e decoração, quando a produção deve ser feita de forma ágil e barata. Peças para aparelhos antigos, ou peças muito pequenas e delicadas também podem ser produzidas com facilidade. Roberto Fontoura, colecionador de jogos e brinquedos antigos, alugou uma máquina de impressão 3D para uma feira de usados que

realizou no início do ano. “Os jogos antigos, por mais bem cuidados que sejam, sempre acabam perdendo algumas peças ao longo dos anos” explica ele, que pode reproduzir peças perdidas, até miniaturas de brinquedos para recordações. Maria de Lourdes, 32 anos, alugou a máquina com o valor que vinha guardando para o aniversário de sete anos de seus filhos. “O aluguel não saiu tão caro quanto imaginava, e pude imprimir miniaturas de desenhos que as crianças fizeram durante a festa. Foi muito divertido e com certeza inesquecível!”, conta ela. Com a constante evolução da tecnologia, logo as impressoras tridimensionais serão item básico na casa dos brasileiros. A facilidade de aprendizado e oportunidades de renda serão incalculáveis. Viva o futuro!


JOÃO VIEIRA JOANA TROIAN

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ncluídos no cotidiano da sociedade, os brechós se constroem a partir do que foi esquecido. Muitos os descrevem como, muitas vezes, local de velharias, colocando em prática um pré-conceito que ainda hoje é bastante comum. Algumas pessoas, quando pensam em brechó, logo veem araras desordenadas, higienização precária, desleixo para com a organização. Um lugar que, sem dúvida, deve ser evitado. No entanto, a pós-modernidade vem revertendo esses antigos padrões, tornando-os novas alternativas de negócio, arrecadação de renda e de benefícios para o consumidor. De forma criativa e com estilo bem diferente daqueles que costumamos encontrar em lojas normais, o brechó Casa da Traça traz uma nova percepção de reaproveitamento da moda. Em uma mistura de moda, música e arte, a Casa da Traça expõe diversas opções de roupas e acessórios retrô, vintage e alternativo. A dona, a empresária de 28 anos, Bárbara Andrade, conta que a ideia partiu de uma necessidade própria, e logo se transformou na oportunidade certa:“Essa necessidade pessoal foi sendo percebida em outras pessoas, e pude ver a existência de um público tão carente quanto eu. Que de cara se identificou com a proposta” contou Bárbara. Para quebrar o tabu que muitas pessoas ainda têm em relação aos brechós, Bárbara explica o processo pelo qual os “modelitos” passam até estarem prontos para a venda, como a higienização, reparos e a etiquetagem dos produtos. A proprietária ainda ressalta a importância de selecionar peças de estilos variados, que sigam um padrão de conservação e pertencimento ao local: “Nosso público é muito abrangente e é imprescindível que as peças estejam em perfeito estado e encaixem-se em algum dos nossos segmentos.”, diz Bárbara. Com a intenção de expor uma ideia prévia do estabelecimento, A Casa da Traça conta com um ambiente que mescla diferentes estilos e épocas, proporcionado ao público uma viagem no tempo. A vitrola de variados hits embala uma temática descolada e repleta de

cores que o local. Partindo desde a casualidade à irreverência que suas peças possuem. Este cuidado, segundo Bárbara, surge a partir de características bastante singulares, pois a empresa “mais do que um negócio, é a representação de um estilo de vida, aqui está tudo que eu, meus amigos e clientes gostamos e buscamos para nossas vidas”, diz Bárbara. Outra opção bastante inovadora é o PinUp Brechó de Griffe. Focado num público moderno e casual, a proprietária Andrea Dias, de 35 anos, está sempre de olho nas tendências da moda. Sempre que viaja, Andrea traz não apenas roupas e acessórios, mas também

muitas ideias para o seu brechó. Com frases temáticas e uma decoração aconchegante, o PinUp Brechó de Griffe recebe suas clientes de forma VIP e acolhedora: “Temos muito cuidado não só com as peças que vendemos, mas principalmente com nosso público. Mimo minhas clientes com cafezinho e bolinhos (Risos).” afirmou a proprietária. Lá as peças estão dividias em duas partes: o “brechó” com os modelos usados, e a parte outlet, que se trata de peças de fábricas passadas diretamente ao brechó. Calvin Klein e Louis Vuitton estão entre as principais marcas que o PinUp Brechó de Griffe trabalha.

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alternativa

Inbox | Dezembro 2014

Uma alternativa,

Antigamente, locais onde encontrar peças interessantes eram bagunçados e sem um conceito específico.”

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C ULTURA

O guerreiro do underground

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LUCAS REIS MATEUS RISTER

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orto Alegre. Início dos anos 80. Brasil pré-Rock in Rio e da ditadura. O Heavy Metal ainda é desconhecido por aqui. É nesse cenário que Flávio Soares retorna à capital gaúcha. O adolescente recém-chegado de Taquara, e ainda sem conseguir fazer novas amizades, começa a focar seu tempo e o dinheiro da mesada para conhecer as músicas e as bandas que mudariam a sua vida. O interesse no Heavy Metal fez surgir a banda Leviaethan, umas das mais tradicionais do Brasil e que ainda hoje, 31 anos depois, está em atividade. Foi com o lançamento da primeira demo e com a formação estabilizada, que a banda começou a chamar a atenção. Cantando em inglês, impressionaram os responsáveis pela recém-inaugurada gravadora Rock Brigade Records, que lançou os dois primeiros, e únicos, discos da Leviaethan: “Smile”, de 1989, e “Disturbed Mind”, de 1992. A morte do guitarrista Alexandre Colletti em um acidente de carro, a saída do baterista Danilo Pizzato, além das mudanças de mercado, fizeram a banda encerrar as atividades, mesmo com material pronto para a gravação do terceiro álbum. Flávio Soares não iria desistir facilmente da música. Para sobreviver na cena do metal, jogou todas as suas energias na loja de discos e artigos de Metal, a Madhouse, que montou um pouco antes do lançamento do segundo disco e que marcou presença no cenário musical porto alegrense até 2002. Esse ano também foi importante para o Flávio, pois marca a volta da banda Leviaethan. Mergulhando de vez no backstage, organiza a primeira edição de próprio festival, o True Metal Fest, e começa a articular a criação da sua produtora. Nasce, assim, a True Metal Press & Management, que está há quase dez anos no mercado e conta com várias bandas no seu cast. Com toda a sua experiência, Flávio Soares encontrou caminhos para tornar menos tortuoso o inicio de novos grupos. Através da True Metal, consegue oportunidades antes impensáveis para jovens bandas da cena metálica nacional: lança, por aqui e no velho continente, material dos no-

vatos, além de programar turnês pela Europa. Tudo isso acontece graças a uma parceria de pouco mais de 2 anos com a gravadora inglesa Secret Service Records. “O dono da Secret Service é um antigo cliente da loja Madhouse que está morando na Europa há muito tempo”, explica Flávio. Esse parceiro tinha um sonho de lançar bandas brasileiras na Inglaterra, que acabou se tornando realidade com os primeiros lançamentos. Flávio não tem um critério muito particular para escolher as bandas que farão parte do cast da True Metal. “Mesmo bandas que fogem um pouco do conceito de “True Metal”, se eu vejo que a banda trabalha direito e tem interesse em crescer, tem interesse em“pegar”junto”, pode ganhar uma chance na produtora. Acredita que uma banda não pode achar que a gravadora faz milagres, e que não precisa se esforçar. “Não funciona desse jeito, a banda tem que estar consciente de que é um serviço em conjunto”, reforça o músico. Só dessa maneira é que a True Metal tem condições de fazer a sua parte, que é assessorar, permitindo que a banda fique conhecida e possa receber convites. Um baita exemplo do auxilio prestado pela True Metal é a banda carioca Revengin, que voltou há pouco tempo da primeira turnê na Europa, resultado da parceria da True Metal com a Secret Service. Essa excursão serviu como teste para a própria Leviaethan, que terá também seu material lançado na Europa, com projeção de um tour em um futuro próximo. Para Flávio, hoje com 50 anos, a cena atual do Heavy Metal na capital gaúcha enfrenta uma nova baixa de mercado, apesar dos avanços que conquistou. “Está melhor pela facilidade que hoje a gente tem. Tem as dificuldades que são cíclicas, de violência, de falta de grana. Já tínhamos passado por isso com o plano cruzado, ninguém tinha dinheiro”. Para o músico, fatores externos, como as brigas, afastaram o público dos shows. Além disso, segundo ele, outros elementos também colaboram para essa baixa. Uma frequência maior de shows internacionais em Porto Alegre, que faz com que os fãs deixem de comprar ingressos para espetáculos locais. “Quando começamos, não se tinha essa perspectiva de muitos shows aqui,

Discocrafia da Leviaethan Smile -1989

Disturbed Mind - 1992


mas tinha outras tendências, como o Grunge que atrapalhou para caramba, a disco também na época, as casas se fecharam para quem fazia Rock And Roll ou Metal”, explica. Mesmo com a realidade atual, Flávio está otimista, pois novas bandas continuam surgindo. Para ele, isso tem tudo a ver com as novas tecnologias. “Hoje, pela internet, tu tens referências de qualquer tipo de som, coisas que a gente não tinha quando começamos”, conclui. Esses são os meios encontrados por Flávio para renovar o cenário do metal gaúcho e nacional, e também manter vivo o legado de sua própria banda, a mítica e pioneira Leviaethan. O musico pode ser considerado um verdadeiro guerreiro do metal, pois há mais de trinta anos vem fazendo tudo por esse estilo musical, que acabou tornando-se sua vida. Mesmo com todas as dificuldades encontradas pelo caminho, segue em frente, e está cada vez mais forte, com novos recursos e com um exército cada vez maior e mais organizado ao seu lado, como as bandas Netherbound, El Diablo e M19. Assim, os headbangers gaúchos podem ter certeza que a chama do Heavy Metal se manterá acesa em nosso solo. Isso enquanto tivermos guerreiros como Flávio Soares lutando por ela.

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Foto de Aline Jechow

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Cast atual da True Metal

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Os encantamentos de Cuba C ULTURA

André Guimarães Antunes/Divulgação

FABRÍCIO HAMESTER DANGLAR DUARTE

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istórica, hospitaleira, harmoniosa, envolvente, cativante, Cuba possui essas e muitas outras faces. Cobiçado por americanos, o país tem, em sua história, rebeliões e guerras pela mudança no poder. Mas nem só de lutas vive Cuba, que carrega em suas raízes influência espanhola, expressada em seus prédios históricos, principalmente na capital, Havana, e nas crenças trazidas pelos africanos. Prédios arquitetônicos e belíssimas praias compõem a paisagem cubana. Dessas praias, Varadero é a mais famosa, por possuir uma grande extensão de areia fina e branca, banhada por um calmo mar azul turquesa. Todas essas peculiaridades transformam o país em um dos lugares mais desejados por turistas que buscam novas culturas e, também, festas badaladas. A fotógrafa Lisette Guerra, que foi mais de uma vez à ilha, é uma dessas turistas que literalmente se encantaram com a beleza

cubana. Lisette conta que foi a Cuba pela primeira vez para dançar salsa e ficou maravilhada com o País. Segundo ela, estar em Cuba é estar dentro de um filme que não precisa de nenhuma produção, já está tudo pronto para fotografar.“Então como fotógrafa, você se encanta pela vida cotidiana, pelo povo cubano, que se parece muito com o brasileiro, pelas cores e pela paisagem, foi isso que me encantou” - relata a artista. E, todo esse encantamento causado pelo país fez com que ela o explorasse através da arte que escolheu como profissão: registrou em belas imagens momentos marcantes, mesclados em cores, danças, praias, prédios e carros antigos. Presentes também nos registros da fotógrafa estão os homens e mulheres que vivem na ilha de Fidel de Castro. A artista revela que preferiu não registrar em seu trabalho nada político, mas o contexto social do cotidiano dos cubanos.

“Quis mostrar a musicalidade e a alegria, que, apesar de todas as dificuldades, eles trazem estampada em seus rostos”- complementa a fotógrafa. Os registros realizados no país caribenho entre 2009 e 2013 renderam a Lisette Guerra, que também é formada em jornalismo e publicidade, quatro exposições com o mesmo título: CUBA. O trabalho da artista, que foi apresentado ao público pela primeira vez em 2011, no Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo, também já passou pelo Museu Nacional do Conjunto Cultural da República e Teatro Nacional Cláudio Santoro, em Brasília. Além das exposições, a artista lançou um livro, onde em suas 300 páginas, estão traduzidas as imagens de seu encantamento por Cuba. A obra, que levou quatro anos para ficar pronta, foi vencedora do Décimo Prêmio Gaúcho de Excelências Gráficas, na categoria Livros Culturais e de Arte, em 2014.



C ULTURA

Os Tápes, o elo perdido da música

Contracapa do primeiro disco do grupo lançado pela Marcus Pereira discos e gravado em São Paulo em 1975

TIAGO FERNANDES

A história da música folclórica gaúcha converge com a trajetória de Os Tápes, que figurou no cenário musical regional e nacional entre 1971 e 1982.

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m 1971, na pacata cidade de Tapes, distante 100 km de Porto Alegre, os primos Cláudio Boeira Garcia e José Waldir Garcia, ao lado do amigo José Cláudio Machado, resolveram montar um grupo musical com a ideia de participar da primeira Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana. Este foi o início de Os Tápes, que acabaram não sendo um grupo, mas sim um movimento musical. E foi justamente na 1ª Califórnia da Canção que chamaram a atenção da mídia e do público, ao apresentarem uma música de 25 minutos. Vida, Cisma e Canto de um Farrapo narrava, através de um farrapo fictício, as várias etapas e fatos da Revolução Farroupilha. Pela originalidade da apresentação, Os Tapes receberam o prêmio de Melhor Pesquisa Musical no evento. “Através desse prê-

mio nasceria a mística de que Os Tápes era um grupo de pesquisa musical. Na verdade, a nossa pesquisa era o nosso saber, o nosso conhecimento coletivo. Não era propriamente uma pesquisa”, afirma o fundador do grupo, Cláudio Boeira Garcia, que hoje é professor universitário em Ijuí. Nos anos subsequentes, o grupo volta a participar da Califórnia. Com nova formação, o conjunto apresentou canções como Gauchê, Funeral guarani e Pedro Guará. Saiu como o grande vencedor da 2ª Califórnia com quatro prêmios: Melhor Conjunto Vocal, Melhor Conjunto Instrumental, Melhor Pesquisa Musical e levou o principal troféu: a Calhandra de Ouro, pela canção Pedro Guará. Também chamaram a atenção por usarem flautas primitivas, confeccionadas pelo grupo. Ao longo de sua trajetória, Os Tápes criou espetáculos musicais para retratar diversos temas. Além de serem itinerantes, os espetáculos funcionavam como uma peça de teatro, ficando em cartaz por um certo tempo em determinados locais. Um ponto importante na trajetória musical do conjunto ocorreu em 1979, com o convite

para participar do festival Horizonte, em Berlim, na Alemanha. O convite partiu da própria organização do evento, que bancou a viagem do grupo, com mediação do Consulado Alemão de Porto Alegre.“Fomos todos no mesmo avião, todos os grupos. O Quinteto Violado era um grupo mais sério, mas conversava bastante conosco. O Gilberto Gil e a banda dele foram proseando com a gente o tempo inteiro, pessoas finíssimas. No meu ver, a viagem para a Europa foi o momento mais inesquecível enquanto estive nos Tápes”, afirmou Garcia. Na década de 1980, Waldir Garcia, Beto Gonçalves, Acy Terres, Tuio Rebelo e Darcy Pacheco deixaram o grupo. Airton Madeira (gaitas, violão e voz), Otacílio Alves, o “Ota” (violão, viola e voz), Bira (percussão) e Pedrinho (percussão) foram alguns dos músicos que integraram o grupo até o final das atividades. A formação durou pouco tempo, logo após o lançamento do seu terceiro disco em 1982, intitulado “Os Tapes”. A obra foi publicada pelo selo Cantares, de Martin Coplas, e figuraram canções como Versos de Itapoã a São José, Um doutor, Zamba sem porto (Cláudio B. Garcia), Olegário (Ota Alves Meireles),


C ULTURA

latino americana no sul do Brasil

Andriano Pinzon/Arquivo Pessoal

Confira alguns dos espetáculos apresentados pelo grupo O primeiro espetáculo foi Canto da Gente, realizado em 1972. Este espetáculo trazia as primeiras composições do grupo, como Pedro Guará, Funeral Guarani e Gauchê. Em 1975 e 1976, apresentaram o elogiado Americanto, que tratava sobre o índio americano chacinado pelos espanhóis e portugueses no século XVIII. Com vestimentas brancas e com a cruz missioneira ao peito, relembrando o traje usado pelos índios durante as Missões Jesuíticas, o espetáculo contava com canções de inspiração indígena, como as de autoria própria do grupo Tema do sabiá, Dança da lagoa do sol, Kaingang, Cheraçar y Apacuy, Funeral Guarani, Continente Americano, entre outras; e músicas de domínio público, como El condor e Virgenes del sol.“O indígena aparece como cristianizado, levando uma cruz no peito, pendurada sobre as vestes brancas. Os pés descalços. A cabeça baixa, sempre pesada sob o peso da reflexão saudosa. Os Tápes consegue transmitir toda uma ideia de índio (entenda-se como povo) dominado e descaracterizado à força”, afirmou. Em 1976, o grupo apresentou o espetáculo

Temas de América Andina e Pampeana, com músicas de inspiração rural e gaúcha, com canções próprias, como Menino de Sacola e Velho Menino Velho. Fruto de uma pesquisa dos Tápes e do antropólogo Norton F. Corrêa, em 1977 nasceu o espetáculo Não tá morto quem peleia. O título é uma alusão à persistência das músicas populares em permanecerem vivas, sem serem influenciadas por culturas industrializadas e/ou estrangeiras. Este espetáculo daria origem, em 1980, ao segundo disco gravado pelo grupo, Não tá morto quem peleia. Em 1978, Os Tápes voltou com novo espetáculo, Chão, Estrada, Canção, que tinha como tema o êxodo rural. Além das canções, a apresentação possuía texto e argumentação de Cláudio Boeira Garcia e do historiador e jornalista Luiz Carlos Golin, o Tau Golin. Cantos e Andanças, de 1979, foi um espetáculo de 26 músicas que comemorava os oito anos de existência do grupo. Todos os espetáculos tinham início com uma temporada no Teatro de Câmara Túlio Piva, em Porto Alegre, e depois passavam por outras cidades do Estado e do País.

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Virgenes del sol (domínio público, popular andina), entre outras. Na metade da década de 1980 o grupo encerrou suas atividades. Segundo Cláudio, o grupo chegou ao fim devido à dificuldade de manter pessoas voltadas para aquilo. “Chega uma hora que a coisa cansa, como eu, por exemplo, que participei do início ao fim. Cansa fisicamente, cansa reconstituir sempre o grupo. Terminou também porque as pessoas tinham que seguir outro caminho” desabafou. Apesar do fim do grupo, Cláudio ressalta que o espírito dos Tápes ainda permanece, pois muitos fizeram da música um caminho, juntando-se a outros grupos, atividades ou carreira solo. A escolha do nome Os Tápes, segundo o fundador do grupo Cláudio Boeira Garcia, remete a uma miscelânea de referências: o nome da cidade natal, os índios Tapes, a Serra dos Tapes, região ao sul do Estado que foi reduto de índios e conflitos entre espanhóis e portugueses na colonização, e por último o barco Tapes pertencente a Coronel Patrício Vieira Rodrigues, charqueador que tinha terras onde hoje está a cidade.

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M EIO A M B IE NTE

Pneus nas paisagens de Itapuã Com suas BELEZAS NATURAIS, praias, morros e lagos, Itapuã, o pequeno distrito de Viamão (RS) vem ganhando um toque especial pelas MÃOS de alguns MORADORES. Sabrina Dias

Alexandra Rocha, José Nues e Lexa Ilha no principal canteiro do projeto

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JULIANA COSTA SABRINA DIAS

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Logo na entrada do distrito é possível saber que se está chegando a Itapuã. As ruas, que antes passavam despercebidas pelos moradores e veranistas, ganharam flores e cores. O projeto Florir Itapuã, que iniciou em dezembro de 2013, foi uma ideia de quatro amigas - Lexa Ilha, Eliane Guimarães, Ivete Zimermman e Adriana Gomes, que se uniram para realizar um sonho: “Entrei nesse projeto Florir porque eu viajava e todo lugar é bem florido e só aqui não tinha. Era meu sonho ver Itapuã florido e hoje estou realizada”, conta Lexa.

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desejo de ver a paisagem do local colorida por flores fez com que Lexa procurasse alternativas na internet. Foi quando descobriu o pneu descartado, um dos maiores poluidores do meio ambiente. O projeto reutiliza pneus velhos doados por Edilberto Sirne, morador mais antigo do local e proprietário da borracharia do Beto, e também pela borracharia do Gordo, de Porto Alegre. Para Edilberto, ou Beto como é conhecido, o projeto foi uma saída para um problema que enfrentava há muitos anos. Ele tinha dificuldade em descartar corretamente os pneus: “Eu chegava a acumular 200 pneus, pois a prefeitura, responsável pela coleta, não buscava”, conta Beto. Mas o sucesso do projeto iria depender da ajuda de voluntários e de mais doações. “Lembro que era um domingo, uma amiga

buscou os pneus na borracharia do Beto, fui pedindo restos de tintas aos vizinhos e, no fim do dia, tínhamos 26 pneus lavados e pintados”, lembra Lexa, que também ganhou materiais, como tintas e mudas de flores, do comércio local. “Cheguei à madeireira e o moço disse que eu podia escolher as cores de tintas, eu nem sabia quais cores escolher (risos)”– conta. Entusiasmada com seu projeto, Lexa Ilha também decidiu colorir sua casa. Logo na entrada, pequenas floreiras chamam a atenção. Mas essa não foi a única área a receber cor. Na rádio Itapuã, onde Lexa trabalha, as flores também embelezam o local. Uma ideia que começou com 4 pessoas agora está maior. Em 2014, novos amigos do verde se juntaram ao Florir, o José Nunes e a Alexandra Rocha, que têm conhecimento em jardinagem. Diariamente, eles formam o time que cuida dos canteiros. São os parceiros


M EIO A M B IE NTE

Você sabia? • Com um crescimento considerável no comércio de pneus, a preocupação com a reciclagem deste material aumentou, já que não há tempo determinado para degradação, e seu descarte incorreto pode virar um local para acúmulo de doenças, como dengue e malária. A reciclagem do pneu pode se transformar em energia, asfalto modificado com borracha e reutilização do aço e decoração. • Um carro para cada 4 habitantes e uma motocicleta para cada 11, são no total 635.588.51 milhões de veículos de passeio no Brasil. E se calcularmos a quantidade de pneus utilizados nesses veículos devido a manutenção, ficaremos um bom tempo tentando assimilar o que é feito com os restos de borrachas que não servem para serem utilizados nas vias públicas. (Dados DENATRAN e IBGE 2013). • Mesmo com a lei 258/99, que exige que a cada pneu vendido um deve ser reciclado, não há uma fiscalização rígida que monitore o descarte correto pois as pequenas borracharias não tem o cuidado e consciência que o meio ambiente necessita nos dias de hoje. • O 7° maior produto do país, o pneu, teve venda de 68,8 milhões no Brasil em 2013, um aumento de 7% na venda em relação ao ano anterior. Segundo a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), a venda de pneus representa 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.

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fiéis de Lexa. Segundo José Nunes, a única decepção que tem é chegar aos canteiros e ver que algumas flores foram roubadas: “Não é preciso roubar, podem pedir muda que nós damos”, comenta ele. O reconhecimento do trabalho do projeto é o que mais motiva o grupo. Em dezembro de 2013, a Câmara de Vereadores de Viamão aprovou, por unanimidade, uma Moção de parabenização aos realizadores do Florir Itapuã. Além disso, recebem muitos elogios no distrito. “Quando estamos nos canteiros são só buzinas. Tem gente do Paraná, que, através do Facebook, conheceu o Florir e pede para enviar mudas das flores”, diz Lexa. Para dar continuidade ao projeto, Lexa quer espalhar o Florir por todo o distrito, e quem sabe expandir para outras cidades. O mais importante de tudo, no entanto, é realizar o sonho de tornar o Florir Itapuã uma ONG.

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Horário eleitoral gratuito? POLÍTICA

Dilermando Dias/Divulgação

Os 11 candidatos presidenciáveis do pleito de 2014, em seus respectivos programas eleitorais na TV

MOISÉS MACHADO DILERMANDO DIAS

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m busca do seu galã favorito, a dona de casa liga seu televisor e, na tela, nem Tony Ramos, nem Rodrigo Lombardi. Lá está Tiririca, apenas um de tantos personagens, alguns sérios, outros nem tanto, substituindo o galã da novela das nove. Em uma novela da vida real, eles são os personagens centrais de uma trama que envolve humor, dramas , promessas de amor e luta, disputando, segundo a segundo , a atenção e a preferência do eleitor. E essa atenção é obrigatória para quem não tem TV a cabo, por exemplo. Desde 1965, existe o Código Eleitoral Brasileiro, que institui o horário eleitoral gratuito. Por conta desse espaço, alianças homéricas e contraditórias são formadas em busca de maior tempo no rádio e na televisão. Isso tem gerado certo coronelismo eletrônico, uma vez que as alianças detentoras do maior número de parlamentares possuem mais tempo de veiculação. Ao todo, a campanha de 2014, apenas no primeiro turno, gerou cerca de 90 horas de candidatos na tela.

País deixa de arrecadar R$ 839 milhões com horário eleitoral Segundo estimativa da Receita Federal, a

União deixou de arrecadar, em 2014, R$ 839 milhões em tributos em função da campanha para presidente, governadores, senadores e deputados. Isso porque as emissoras de rádio e de televisão de sinal aberto têm desconto de impostos por terem sido obrigadas a veicular o horário eleitoral, conforme determina a lei. Prevista no Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa), a renúncia fiscal é tratada como gasto tributário. Já o horário eleitoral é elencado como direito à cidadania, ao lado de fundos como o da Criança e do Adolescente e do Idoso que, juntos, receberam, em 2014, R$ 380 milhões em isenções, anistias, subsídios e benefícios tributários e financeiros.

A lei O horário eleitoral gratuito de rádio e televisão no Brasil completou 52 anos com as eleições de 2014. O espaço para propaganda dos candidatos a cargos legislativos e executivos surgiu com a lei 4.115, de 22 de agosto de 1962, sancionada pelo presidente João Goulart, e que foi aplicada pela primeira vez nas eleições de 7 de outubro daquele ano. O artigo 11, parágrafo 3º, da lei destinava um espaço diário de duas horas à propaganda eleitoral em todas as emissoras de rádio e TV aberta durante os 60 dias anteriores às 48 horas de cada pleito. Essas duas horas eram divididas em quatro blocos de

30 minutos, iniciados às 13h, 18h, 20h e 22h. Desde então, as regras foram alteradas pelas leis 4.737/65, 9.100/95 e, finalmente, pela lei 9.504/97. O período de propaganda eleitoral de rádio e TV foi reduzido para os 45 dias anteriores à antevéspera da eleição de 1º turno e foram incluídas na regra as emissoras de TV por assinatura sob responsabilidade dos poderes legislativos. Também foi modificado o tempo de propaganda eleitoral do 1º turno para dois blocos diários de 50 minutos nas eleições gerais e 30 minutos nas eleições municipais, exceto aos domingos. Em caso de 2º turno, o horário eleitoral só retorna após 48 horas da divulgação oficial dos resultados, com 20 minutos diários para todos os cargos executivos, inclusive aos domingos, cessando na antevéspera da eleição.

Especialistas afirmam que o horário eleitoral é a principal fonte de informação ao eleitor Embora com o avanço da internet e principalmente das redes sociais como fonte de obtenção de informação, o horário eleitoral ainda se mantém como principal meio de divulgação de campanha e fonte de referência para grande parte do eleitorado. É o que garantem especialistas no assunto. “O alcance televisivo e radiofônico é um


diferencial. É ali que as pessoas vão, efetivamente, colher informações específicas sobre seus candidatos”, garante o cientista político Cláudio Gonçalves Couto. Ele ainda define a propaganda em rádio e TV como um momento decisivo. “A eleição começa a se definir a partir do início da propaganda eleitoral gratuita”, afirma. Outro especialista que reforça a tese é o doutor em ciências políticas José Antônio Guimarães Lavareda Filho. Ele reafirma o franco crescimento da internet nos últimos pleitos, em especial os últimos dois, porém ainda longe de atingir o alcance de rádio e TV. “Além do avanço da utilização da internet, hoje há, cada vez mais, a convergência das plataformas, televisão e internet, que se associam. Então, boa parte da informação que os brasileiros recebem sobre política e especialmente sobre a disputa eleitoral ocorre na exposição à televisão”, destaca. Ainda sobre as campanhas, Lavareda observa que, além dos dois blocos diários de propaganda eleitoral, há também as inserções, exibidas nos intervalos comerciais, que acabam por alcançar praticamente toda a audiência da emissora. “Dificilmente outro método de comunicação conseguirá se aproximar do impacto que rádio e TV possuem”, afirma.

Programa para quem ver? No final de agosto de 2014, uma pesquisa do Instituto MDA, a pedido da Confederação Nacional do Transporte (CNT), verificou que apenas 11,5% dos entrevistados afirmaram que a propaganda eleitoral tem alguma influência sobre suas decisões. Já na pesquisa de intenções de voto divulgada em 23 de setembro, o mesmo instituto revelou que 34,4% dos entrevistados nunca assistem ao horário eleitoral, que 32% assistem ou ouvem a propaganda poucas vezes na semana, 18% alguns dias e 15% todos os dias.

POLÍTICA

TSE/Divulgação

O quadro acima mostra como foi feita a divisão de tempo para os presidenciáveis em 2014

Na RedeTV!, o horário eleitoral perde apenas para o TV Fama, que vem imediatamente antes, mas vence os programas que vão ao ar na sequência. Enquanto a propaganda eleitoral marca 1.4 de média na emissora, o RedeTV! News, que vem na sequência, alcança apenas metade, 0.7. A situação do Superpop, que vem logo em seguida, é ainda pior, 0.5. Para o sociólogo João Paulo Aço, rádio e TV, especialmente a televisão, ainda têm a maior força. “Muitas vezes, a média da população tem escolhido o ‘cabeça de chave’, que são Presidente da República, Governador, talvez o Senador, mas esses outros, Deputado Federal, Estadual, muitas vezes é na última hora que acaba decidindo e nisso o rádio e a TV ajudam muito“, diz Aço.

Curiosidades As propagandas eleitorais de Leonel Brizola tinham como trilha sonora, de fundo e de abertura, a Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Louis Moreau Gottschalk (1829-1869). Entre 1976 e 1984, o modo de fazer propaganda eleitoral nas eleições municipais foi modificado pela Lei Falcão (nº 6.339/76), que limitava os candidatos a mencionar legenda, currículo e número de registro. Fonte: Youtube

O horário eleitoral registra índices de audiência maiores que muitos programas de algumas emissoras. Segundo IBOPE, somando todas as cinco emissoras no horário noturno (Globo, SBT, Band, Record e RedeTV!), o horário eleitoral ultrapassa 30 pontos, mais que a novela das 21h da Rede Globo, que, no dia 03/09, registrou 29.7 pontos de audiência e que o Jornal Nacional, no mesmo dia, registrou 20.7 pontos.

Fernando Henrique Cardoso, presidente eleito em 1994 e Lula, presidente eleito em 2002

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Líder de audiência

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Conquistando jardas ESPORTE

Fábio Gonçalves

O percurso dentro de campo é trabalhoso para os garotos gaúchos

BRUNO BIGUÁ FÁBIO GONÇALVES

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uito difícil acreditar que as crianças gaúchas trocariam o futebol brasileiro, o soccer, pelo futebol americano, um dos principais esportes dos Estados Unidos. Mas, hoje, é possível perceber vários garotos se mexendo para tentar espalhar a febre do Super Bowl, a fase final milionária do campeonato norte-americano também aqui no Rio Grande do Sul.

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O jogo

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No futebol americano, a equipe é formada, em média, por 55 jogadores, mas, em campo, só atuam 11 para cada lado, como no futebol jogado com os pés. Já o número de substituições não é igual, pois neste esporte é possível o revezamento de jogadores a qualquer momento. O jogo é muito simples, com os times tentando somar mais pontos do que o adversário. Para isso, a cada jogada, a equipe

que tem a posse da bola tem de atravessar o território inimigo e chegar a end zone, uma área retangular demarcada no fundo campo. A partida começa com um chute inicial, que é dado em direção ao campo adversário. A intenção é chegar até a end zone do time contrário, o mesmo acontecendo com a outra equipe. Até que isso aconteça, o jogo se torna uma verdadeira batalha pela conquista de jardas (uma jarda equivale a 0,9144 metros). Em Porto Alegre, duas equipes conhecem muito bem esse esporte norte-americano.

Como o sonho começou Porto Alegre Pumpkins, pioneiro no futebol americano de Porto Alegre, iniciou com apenas alguns garotos colegas do Colégio Farroupilha. Certo dia, um deles levou uma bola oval para o intervalo da aula e começaram a

tentar jogar futebol americano. Depois desse primeiro encontro, muitos outros vieram e com eles o fascínio que crescia pelo esporte. O passo natural foi criar uma página no antigo Orkut para mostrar a novidade dos guris. Logo, outros garotos queriam participar da equipe porto alegrense, que cresceu bastante, resultando, em 2005, na fundação oficial do Porto Alegre Pumpkins. Nestes nove anos de história, tornou-se a maior equipe de futebol americano do Rio Grande do Sul. São José BULLS foi o segundo time a surgir na capital gaúcha. E a equipe foi criada por conta de divergências no Pumpkins. Em 15 de junho de 2007, apareceu o POA Predadores, que mudou de nome para Bulls, em 2010, e para São José Bulls, em 2014, após parceria com o Esporte Clube São José, de Porto Alegre. Essa associação possibilitou ao Bulls a utilização do estádio e da academia do clube.


Dificuldades, todo esporte tem. Ainego dos atletas.“Infelizmente, o futebol ameri“peneiras”, uma espécie de seleção para desda mais quando se está falando de futebol cano no Brasil tem muito ego. Por exemplo, o cobrir talentos que agreguem mais qualidade americano no Brasil. Há quem diga que é esgaroto entra no time e não consegue se afirmar aos times, fato ainda muito escasso no RS. porte de animais. Outros dizem que não tem como titular, porque tem outro garoto melhor. Para o diretor de comunicação do Porto muita lógica. O país do futebol ainda reluta Então vai para outro time, mesmo que Alegre Pumpkins, a tentativa de popularizaem aceitar esse esporte badalado ção do futebol americano vem Fábio Gonçalves dos EUA, mas muita gente está sendo tratada de forma semiase rendendo aos seus encantos. madora em Porto Alegre. Arthur É um esporte coletivo e de muita Perez entende que algumas emtática. Os jogadores que o digam. presas poderiam entrar com reEsgotam-se nos treinamentos, curso financeiro para alavancar o quase desumanos. É muito áresporte na capital, mas não há duo para quem pratica. A gurimuita procura por parte delas. A zada que quiser jogar em uma equipe já teve patrocínios, que equipe de futebol americano tem não duraram muito tempo. de ralar muito. Dedicação é a alA Lei de Incentivo ao Esma do negócio. Não basta querer, porte é um ponto que deveria tem que poder: “Os garotos vêm ser aproveitado pelos times. O para o esporte achando que é só Pumpkins, por exemplo, tem bater nos outros. Só que violênuma proposta sendo analisada cia e força, sem inteligência, não pelas autoridades competentes. serve para nada. O jogo exige um As marcas de jogo estão expostas no equipamento “Nós temos um projeto de Lei de forte condicionamento físico que Incentivo ao Esporte, que está só quem está acostumando, aguenta”, alega seja um time pior, e lá ele se afirma. Briga com em análise na área administrativa. EsperaPedro Gonzaga Jaime, 32 anos, treinador do o técnico, vai para outro time. Funda um time mos conseguir aprovação [risos]. Sabe como São José Bulls. novo e isso vira uma bola de neve”, diz Pedro é que é né: sem contato político fica difícil”, Outra dificuldade enfrentada pelos organiJaime. As dificuldades são variadas, mas uma ironiza Arthur Perez, diretor de comunicação zadores dessa modalidade de competição é o solução que as equipes encontraram são as do Pumpkins.

ESPORTE

Barreiras a enfrentar

Concentração é tudo dentro das quatro linhas

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Joel Vargas

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EC ONOM IA

Ficção britânica e realidade argentina

Site: http://paulomoreiraleite.com

A tensão aumenta entre Argentina e os credores abutres com a chegada do fim de ano

JULIANA PEREIRA VIVIAN LEAL

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ano é 1949. A insatisfação com a derrocada de um socialismo stalinista e a ascensão do totalitarismo deu a George Orwell inspiração mais do que suficiente para a criação de uma das obras literárias mais pessimistas do período pós-guerra. Em 1984, o mundo retratado é dividido em três superestados. Vez ou outra, unidos por algum tipo de aliança, trazem a tona não o desejo de vencer o inimigo, mas, sim, de manter o poder centralizado em um grupo dominante. Em todos os lugares da cidade, há um cartaz com a imagem do grande irmão e o seguinte dizer: The Big Brother Is Wathing You (Tr. O Grande Irmão Zela Por Ti). Isso, para mostrar aos habitantes que sua onipresença é incontestável e que tudo é de seu conhecimento. Coincidentemente, em 1949, nossos hermanos argentinos passavam por uma reforma constitucional. Esta incorporou direitos

aos trabalhadores, às famílias e aos idosos, o direito de propriedade privada, com uma função social, e do capital a serviço da economia nacional. Tal reforma foi sugerida pelo então presidente Juan Domingo Perón, eleito por sua grande influência sobre as massas e pelo carisma pessoal, após o fim de um regime militar promovido pelos generais Pedro Pablo Ramirez e Edelmiro Farrel. Com novo governo, nova constituição e um longo trajeto pela frente, a Argentina teria tudo para se tornar o país dos sonhos. As propostas eram voltadas para os “descamisados”, como Perón se referia à população. O governo atuava diretamente na economia, monopolizando o comércio exterior e nacionalizando outras áreas. Com o poder de intervenção estatal, aliado ao notável desenvolvimento econômico, um cenário marcado por baixos preços e altos salários se tornou a realidade do povo argentino. A fama do discurso peronista a respeito dessa justiça social acabou dando nome

ao seu estilo de governo, conhecido como justicialista. Os elementos paternalistas e nacionalistas de Juan Perón andavam de mãos dadas com um governo repressor, que não aceitava protestos públicos e aniquilou a oposição política através de um sistema unipartidarista. As festas cívicas, que antes se mostravam espontâneas, passaram a integrar o regime, sendo, então, convocadas com o apoio dos sindicados e dos meios de transportes. Comemoravam o regime e expressavam, teoricamente, a unidade da nação, ao mesmo tempo em que desafiavam uma oligarquia irritada. Uma realidade vivida na ficção. Em 1984, Orwell deixa claro que o objetivo do Partido era suprimir a individualidade, com o propósito de destinar toda a vida dos cidadãos aos interesses do Estado. Então, para manter a população entorpecida e influenciada, os eventos com fachadas políticas e patrióticas eram frequentes. Os “Dois minutos do ódio” era um momento em que todos na cidade


decisão, pois os fundos abutres, assim denominados por sua prática de comprar títulos em calote por preços baixíssimos e depois tentar receber seu valor integral, receberam US$ 1 bilhão entre 2005 e 2010. Porém, tais fundos temiam que os bônus e os juros sobre seus títulos não fossem pagos, caso a decisão fosse revogada. E não foram. Atualmente, a Argentina está sendo processada por 14 credores, que cobram, na Justiça, o pagamento, à vista, de US$ 1,3 bilhão. A suspensão do pagamento está começando a afetar diretamente a vida da população. Cerca de um terço dos argentinos vive em condições vulneráveis (de 1 a 4 dólares por dia) e 11% estão num estado de extrema pobreza. Pobreza essa que não é vista na capital, Buenos Aires, e cidades metropolitanas, mas, sim, no interior do país, onde a situação está um tanto precária. “Quem tem dólar hoje é milionário. As pessoas põem cartazes em estabelecimentos comerciais dizendo que aceitam a moeda. Estamos vivendo na economia do dólar”, garante a brasileira Marília Miñoz, que reside na Argentina há quatro anos. “Nos últimos três anos, passamos por uma mudança brusca. Lembro que, no início, eu comprava duas fatias de pizza e um refrigerante por trinta pesos. Hoje, gasto quase cem na mesma compra. Aqui tudo sobe.”. completa Marília. O economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Pedro César Fonseca, explica: “Existe o dólar oficial, que tem valor estipulado pelo governo, e existe um dólar paralelo, que parte de um câmbio não oficial, o qual é pago pelo mercado. Quanto mais incertezas existirem sobre a economia, mais há diferença entre o valor dos dois. Pois a rigor, num mundo ideal, teria um dólar só, do governo e do mercado. E à medida que o governo argentino intervém nesse mercado, não deixando o dólar subir, mais incertezas surgem e a moeda não oficial acaba tendo valor muito superior ao oficial”.

EC ONOM IA

O professor ainda destaca: “o país precisa de dólar para pagar suas contas, mas como ele não tem, tenta impedir que a moeda saia de seu território. Por isso, são criadas regras para prender a moeda. Esse assunto é discutível em economia, se deve ou não haver alguma dose de controle; às vezes é necessário, mas, às vezes, se torna exagerado”. A inflação, segundo o Índice Congresso, que tem a mesma função do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) brasileiro, mas sem nenhuma ligação com o governo, chegará a 40% neste ano. Segundo o Banco Mundial, um choque econômico agora pode levar 40% dos argentinos à pobreza, por causa de uma economia abalada pela queda nas reservas estatais, que diminuíram de US$ 52 bilhões, em 2011, para os atuais 28 bilhões. No final de julho de 2014, o governo Kirchner teve o pagamento da dívida bloqueado pelo juiz americano Thomas Griesa. Isso aconteceu porque apenas uma parcela da dívida seria quitada, o que foi considerado ilegal, já que o acordo estipulava pagamento integral aos fundos abutres. O resultado foi que o país acabou caindo em um novo default por inadimplência. Em uma atitude desesperada, durante um encontro com o Papa Francisco, Cristina pediu que ele interviesse contra os Fundos. Pois bem. Em 1984, a história permanece e o fim do Grande Irmão é inexistente. O totalitarismo, a manipulação do povo e a predominância de um poder central se faz valer até o fim das 416 páginas do romance. Destino esse que não esperamos que aconteça com a nossa vizinha argentina. A respeito disso, o Professor Pedro César ainda comenta: “A manipulação de dados é algo comentado, pois é difícil provar se existe ou não, por exemplo, se taxa de inflação divulgada pelo governo é realmente a verdadeira taxa de inflação. Então, à medida que a sociedade passa a desconfiar dos índices, acaba prejudicando a economia, que dificulta os investimentos no país e acaba gerando mais incerteza. Incerteza é muito ruim para a economia. As pessoas não sabem qual é a regra do jogo estabelecido”. A situação da Argentina é incomum. Pode ser que fique mais difícil para ela e suas empresas emitirem novas dívidas, já que nenhum credor gosta de negociar com um país em default (calote). Prever como os negócios serão daqui para frente é prever o incerto, mas a expectativa é de que a moratória seja resolvida e nossos hermanos voltem a ter a vida que levavam, com seu tango, seu charme e todo aquele clima de guerra e paz, que só acontece entre grandes irmãos.

Inbox | Dezembro 2014

posicionavam-se diante de Teletelas, que eram utilizadas para exibição de mensagens e músicas em apologia ao Grande Irmão, e extravasavam suas emoções de ódio e fúria. No painel, aparecia a imagem de supostos inimigos do Partido. Essas manifestações faziam as pessoas esquecerem suas vidas e amar apenas ao Grande Irmão. Na vida real, na Argentina de 1949, tudo ia bem até os primeiros sinais da crise começarem a aparecer. Na verdade, ficaram mais evidentes, pois desde o crash de 29, que abalou o mundo economicamente, esse país já carregava resquícios de sérios problemas financeiros. A popularidade de Perón continuou firme, conquistando, inclusive, um segundo mandato, em 1951. Só que a crise econômica desencadeada nesse mesmo ano foi suficiente para romper o vínculo que o ditador mantinha com o povo. Acontece que o papel intervencionista do Estado acabou gerando uma ampla dívida pública, não sobrando recursos para o desenvolvimento da indústria pesada e de bens não-duráveis. O aumento da inflação não demorou muito a aparecer e a estagnação da economia obrigou o governo Perón a tomar medidas impopulares, que regulavam o consumo e congelavam os salários. Período superado, em 1976 a Argentina sofre, novamente, com uma ditadura, chamada de “Processo de Reorganização Nacional” pelos militares. Essa foi uma das maiores tragédias ocorridas no país, que contabilizou cerca de 30 mil desaparecidos. Consequência do golpe de estado que destituiu María Estela Martinez, viúva de Perón, da presidência. Isabelita, como era conhecida, foi a primeira mulher presidente da Argentina, ocupando o cargo após a morte de seu marido. Seguindo este exemplo, a atual presidente do país, Cristina Kirchner, também assumiu o poder, em uma eleição, após seu marido, Néstor Kirchner, vir a falecer em 2007. Quando assumiu a presidência, Cristina carregava em seus ombros uma dívida externa pública que superava US$ 102 bilhões. O débito foi renegociado em 2005, durante o governo de Néstor Kirchner, que acertou o pagamento em 25% dos valores devido aos banqueiros e a fundos internacionais. Em 2010, uma nova renegociação foi proposta, porém, a minoria dos credores, que detinham 8% dos títulos, não aceitou a diminuição do valor integral. Em 2012, o juiz federal norte-americano Thomas Griesa decidiu que a Argentina deveria fazer o pagamento integral dos juros até 15 de dezembro do mesmo ano, num total de US$ 1,3 bilhão, devidos a Fundos de Investimento. A Argentina recorreu da

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